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DivEvoPlan - Traqueófitas e Pteridófitas
DivEvoPlan - Traqueófitas e Pteridófitas
TÓPICO
Traqueófitas e “Pteridófitas”
Déborah Yara A. C. dos Santos
Fanly Fungyi Chow Ho
"Briófitas" (avasculares)
Embriófitas
"Pteridófitas" (vasculares sem sementes)
Traqueófitas
"Gimnospermas" (com sementes nuas)
Espermatófitas
A origem das traqueófitas data de cerca de 420 milhões de anos atrás. Os esporófitos dos
ancestrais das traqueófitas possuíam corpo simples, com eixos eretos e ramificados dicotomica-
mente. Diferentemente das “briófitas”, o esporófito ancestral não dependia do gametófito femi-
nino para a nutrição. Esses antepassados não ultrapassavam 50cm de altura, mas sua ramificação
dicotômica tornou possível a existência de corpos mais complexos com múltiplos esporângios
terminais (Figura 4.2). Os ancestrais das plantas vasculares careciam de raízes, adaptação que
veio a evoluir mais tarde na história das plantas. À medida que seus corpos aumentavam em
complexidade, provavelmente, aumentava a competição por espaço e luz, podendo essa compe-
tição ter estimulado ainda mais a evolução das plantas vasculares.
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Figura 4.3: Desenhos esquemáticos de a) protostelo b) sifonostelo sem lacunas foliares c) sifonostelo com lacunas foliares e d) Eustelo.
/ Fonte: Cepa
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limbo ou lâmina possui venação complexa. Salvo poucas exceções, os macrofilos estão associados
a caules que possuem sifonostelo ou eustelo, cujos traços foliares estão associados com lacunas
foliares (Figura 4.4). Representantes com macrofilos são as samambaias e as espermatófitas.
Figura 4.4: Desenho ilustrativo hipotético que explica a origem evolutiva das folhas
(microfila e macrofila). É mostrado também o tipo de eustelo associado a cada tipo
de folha. / Fonte: Cepa
Um marco evolutivo na história das plantas vasculares foi o surgimento de folhas modifica-
das - os esporofilos, onde se formam os esporângios. Os esporofilos são variados. Por exemplo,
em samambaias, os esporofilos produzem agrupamentos de esporângios denominados soros
(Figura 4.5A); em muitas licófitas e na maioria das “gimnospermas”, os esporofilos se agru-
pam formando uma estrutura semelhante a um cone denominada estróbilos (Figura 4.5B).
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As primeiras plantas vasculares produziam apenas um tipo de esporo meiótico; tais plantas
são denominadas homosporadas ou isosporadas (Figura 4.6A). A heterosporia - produção
de dois tipos de esporos em dois esporângios diferentes -, aparentemente, é a condição que
evoluiu da condição ancestral homospórica.
A maioria das traqueófitas sem sementes é homosporada. Exceções são as licófitas Selaginella
e Isoetes, e as monilófitas das ordens Marsileales (ex. trevo de quatro folhas) e Salviniales (ex.
Salvinia e Azolla). Esporos de plantas homospóricas originam gametófitos bissexuados, isto é,
gametófitos que produzem tanto anterídios quanto arquegônios. Nessas plantas homospóricas,
existem mecanismos particulares para evitar a autofecundação, de forma a fecundar gametófitos
vizinhos e beneficiar a variabilidade genética.
Além dos grupos citados acima, que possuem heterosporia, ela é característica de todas as
traqueófitas com sementes. Os dois tipos de esporos produzidos pela planta heterosporada são
chamados micrósporo e megásporo, que são originados em microsporângios e megaspo-
rângios, respectivamente (Figura 4.6B). Ao germinar, o micrósporo originará o gametófito
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Figura 4.6: Fotografias de seção transversal do a) estróbilo homosporado de licopódio, com esporângios iguais, que produzem esporos
de apenas um tipo b) estróbilo heterosporado de Selaginella, com dois tipos diferentes de esporângios: o megasporângio, que produz
megásporos, e o microsporângio, que produz micrósporos. / Fonte: Latinstock
Neste tópico, focaremos nosso estudo nas traqueófitas sem sementes atuais.
Tradicionalmente, essas plantas são ditas “pteridófitas”, mas as evidências atuais
apontam que as traqueófitas sem sementes constituem um grupo parafilético.
A classificação das traqueófitas sem sementes ainda está em discussão, não existindo um con-
senso claro, e vem sofrendo alterações à luz das novas evidências. Uma das hipóteses de classifi-
cação divide as traqueófitas sem sementes em dois clados: as licófitas - Lycophyta, que incluem
os licopódios, Isoetes, selaginelas e espécies relacionadas; e as monilófitas - Monilophyta ou
Monophylophyta, que incluem as samambaias, cavalinhas, Psilotum e espécies afins.
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Muitas licófitas desenvolvem-se sobre árvores como epífitas, ou seja, crescem sobre outras
plantas, mas não como parasitas. Outras espécies crescem sobre o solo de florestas temperadas.
Os esporófitos de licófitas - a fase dominante das “pteridófitas” - apresentam caules eretos
com muitas folhas pequenas do tipo microfilas, bem como caules que crescem rentes ao
solo e são dicotomicamente ramificados. Gêneros representantes de licófitas são Lycopodium
(Lycopodiaceae), Selaginella (Selaginellaceae) e Isoetes (Isoetaceae).
O esporófito da maioria dos gêneros de Lycopodiaceae possui um rizoma ramificado do
qual surgem ramos aéreos e raízes. Tanto o caule quanto a raiz são protostélicos. Os microfi-
los são, geralmente, dispostos em espiral, mas podem ser opostos em alguns representantes. As
Lycopodiaceae são homosporadas e os esporângios ocorrem sobre esporofilos não fotossinteti-
zantes que estão agrupados em estróbilos.
Selaginella é o único gênero de Selaginellaceae e possui a maioria das espécies de Lycophyta,
cerca de 750 espécies. Muitas crescem em locais úmidos, pois dependem da água para que os
anterozoides nadem até a oosfera, embora poucas habitem os desertos, tornando-se dormentes
durante as épocas de seca. O esporófito de Selaginella é semelhante ao de Lycopodiaceae, pois
apresenta microfilos e seus esporofilos estão organizados em estróbilos. O caule e a raiz são
protostélicos. Selaginella é heterosporada, com gametófitos unissexuados.
Isoetaceae possui um único gênero - Isoetes. Isoetes é o parente atual mais próximo das anti-
gas licófitas arbóreas do Carbonífero. As espécies de Isoetes vivem em ambientes pantanosos ou
podem crescer em lagos que secam em determinadas estações. O esporófito é formado por um
caule subterrâneo curto e carnoso (cormo), que origina os microfilos. Em Isoetes, cada microfilo
é um potencial esporofilo. Assim como Selaginella, Isoetes é heterosporada.
Uma classificação antiga separava as monilófitas em três filos, Pterophyta (ex. samambaias),
Sphenophyta ou Arthrophyta (ex. equisetos), e Psilophyta (ex. Psilotum). No entanto, à luz das
evidências moleculares e estruturais, atualmente, elas são agrupadas dentro de um único clado,
Monilophyta. Entre as principais classes estão Psilotopsida (ex. Psilotum e Ophioglossum), Equisetopsida
(ex. Equisetum) e Polypodiopsida (ex. Osmunda, Marsilea, Salvinia, Azolla e as samambaias).
Assim como as plantas vasculares ancestrais fósseis, os esporófitos de Psilotum têm caule com
ramificação dicotômica, mas não possuem raízes nem folhas. O caule possui escamas, pequenas
projeções laterais que carecem de tecido vascular. Sobre as escamas desenvolvem-se os esporân-
gios, que estão agrupados em grupos de três e são fundidos, formando o sinângio (Figura 4.7A).
Tmesipteris, gênero estreitamente relacionado com Psilotum, também carece de raízes, mas possui
pequenas estruturas semelhantes a folhas, o que lhe confere aparência de planta trepadeira.
Psilotum e afins são as únicas traqueófitas sem raízes verdadeiras. Possuem notável semelhança
com fósseis dos ancestrais das traqueófitas atuais. Entretanto, as evidências moleculares e es-
truturais indicam que são intimamente aparentados às samambaias. São homosporadas, com
esporos que dão origem a gametófitos bissexuados. Ophioglossum é outra Psilotopsida, mas de
ordem diferente do Psilotum. Diferentemente do Psilotum, Ophioglossum possui esporófito com
caule, raiz e folhas do tipo macrofilo e os esporofilos estão reunidos em espiga (Figura 4.7B).
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Daremos maior atenção às samambaias, pois formam o grupo mais comum de traqueófitas
sem sementes, somando mais de 12.000 espécies. Nos trópicos, elas atingem grande diversidade,
porém, muitas samambaias ocorrem em florestas temperadas e algumas espécies estão adaptadas
a viver em ambientes áridos.
Diferentemente das licófitas, as samambaias possuem macrofilos. Os esporófitos são tipica-
mente caules horizontais, que produzem grandes folhas chamadas frondes, geralmente divididas
em numerosas pinas ou folíolos (Figura 4.9), sendo chamadas de folhas compostas. Algumas
espécies não possuem pinas e sua folha é única, ou seja, folha simples (Figura 4.10).
Figura 4.10: Fotografia de samambaia com folhas simples. / Fonte: Fungyi Chow
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Figura 4.13: Ciclo de vida de samambaia. Clique no ícone ao lado para ver a animação. / Fonte: Cepa
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que formaram esse grande depósito de carvão e que serviram para o esfriamento global da
atmosfera na Terra, hoje, em forma de carvão, contribuem para o aquecimento global.
Considerações finais
Neste tópico, contextualizamos brevemente o histórico evolutivo das traqueó-
fitas e estudamos as principais características de “pteridófitas”, abordando, especial-
mente, a diversidade de alguns dos seus representantes de licófitas e de monilófitas.
Referências Bibliográficas
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