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0 poema & impertfeito Crénicas de Biologia, Conservacao da Natureza e seus Herdis te A floresta em pedacos e a floresta vazia | (0 POEMA IMPERFEITO Quando pensamos em ilhas, a primeira imagem que nos vem a mente € uma visio paradisiaca: ondas quebrando-se ‘numa praia de areia branca, muitos coqueiros, péssaros cantando. Esta imagem era provavelmente a mesma que tinham os naturalistas viajantes do século passado ao chegarem as ilhas para explorar e descrever suas naturezas, desconhecidas até entdo pelo homem branco. De fato, eles descobriram paisagens ricas e muitas espécies exdticas, mas também constataram e documentaram cientificamente, pela primeira vez, um dos padrées mais solidos da ecologia e da biogeografia: as ilhas tém muito menos espécies que os continentes, independentemente dea que grupo de animais ou de plantas estejamos nos referindo. Esta pobreza biolégica era especialmente marcante nas ilhas menores. Em meados do século XIX, 0 naturalista britanico Alfred Russell Wallace atravessou meio mundo para encontrar as fabulosas aves do paraiso que Ihe haviam dito que existiam na regitio da Nova Guiné. Aportou na pequena ilha de Dobbo, no arquipélago de Aru, perto da Nova Guing, e teve uma imensa decepeao. ‘Nii havia ave do paraiso nenhuma em Dobbo e, na verdade, bem poucas espécies de aves de qualquer tipo. Para sua alegria, porém, bastou gue Wallace cruzasse um brago demar de menos, decinco quilémetros até a ilha bem maior ‘de Kobroor, no mesmo arquipélago, para que eneontrasse as tdo sonhadas aves do paraiso e muitas outras espécies de aves. Darwin encontrou padres similares nas Malvinas (Falklands) ¢ depois nas Galapagos, € muitos outros: naturalistas em outros arquipélagos. ‘A pobreza bioldgica das ilhas, entZo, ja era bastante evidente em meados do século XIX, embora as causas desse padrio no fossem de maneira alguma claras. Naquela época, de FERNANDO FERNANDEZ 146 Hoje, porém, a situago ¢ muito diferente. A velha questo da pobreza dos arquipélagos tomou-se muito maior e mais premente, saindo do fechado universo académico para tornar-se uma das questées mais fundamentais da conservagio da natureza, 4 explosiva expansdio populacional e econémica da humanidade nos Ultimos séculos transformou o que antes eram grandes areas continuas de florestas em paisagens em mosaico, formadas por manchas remanescentes das florestas originais, cercadas por areas alteradas pelo homem de varias formas: plantagdes, pastagens, assentamentos urbanos. Este processo, ao qual chamamos de fragmentagao florestal, acelerou-se imensamente no século XX. O resultado é que hoje, na maioria das regides do mundo, pobres ricas, temperadas ¢ tropicais, as florestas originais estiio reduzidas auma grande cole¢ao de “ilhas” de mata, cada vez menores e mais isoladas, cercadas por areas abertas. Este tipo de paisagem muito familiar a qualquer um que tenha viajado em alguma autoestrada no Sul ou Sudeste do Brasil, por exemplo. Ainda mais preocupante, a fragmentacao florestal tem se acelerado muito nas ltimas décadas nas grandes areas de florestas tropicais ainda remanescentes no mundo, na Amaz6nia, no oeste da A frica eno sudeste da Asia, Se continuarem as presentes taxas de desmatamento, em poucas décadas essas areas terdio Paisagens bem similares a tragica situago que hoje observamos na Mata Atlantica. Onde tinhamos um mundo de imensas florestas ‘continuas, estamos fazendo um mundo de pequenas ilhas de mata, Quais sdo as consequencias disso para a conservagao dos animais e das plantas? Responder esta pergunta, ou seja, entender as consequéncias da fiagmentagao florestal, hoje é com Jlustga uma das maiores prioridades da biologia da conservagao, E para comegar a procurar uma resposta, convém voltaras ilhas, yr (© POEMA IMPERFEITO ‘Naturalmente, a primeira explicagio formulada para a weapon dash oi amsis Obi tasteram menos espécies por causa de seu isolamento, ou seja, apenas porque poueas espécies chegam até elas para colonizé-las. Esta explicacao é simples e intuitivamente parece correta, mas tem um unico defeito sério: ndo corresponde a realidade. Para pereeber isso, analisemos como sio originadasasilhas. Ha dois tipos basicos de ilhas, de acordo com sua origem: as ilhas ocedincias e as ilhas continentais (ou ilhas de paisagem afogada, ou land bridge islands). Uma ilha ocefnica surge do fundo do mar, geralmente devido a atividades vulednicas. Uma ilha assim, Surtsey, surgiu em poucos meses perto da costa da Islfindia, em 1963, e outra, Anak Krakatau (“filha de Krakatau”) foi formada, em 1930, pelo mesmo vuledo que destruiu Krakatau (Krakatoa) anos antes. Ilhas ocednicas, de modo geral, sao situadas fora das plataformas continentais e jamais foram conectadas por terra aos continentes. Jéas ilhas continentais eram parte dos continentes no passado, e se tornaram isoladas por amplas variagbes do nivel do marao longo do tempo geologico. No Sudeste brasileiro, a grande maioria das ilhas proximas & costa, como Grande, Ttacurugé, Jaguanum e Ilha de Cabo Frio, no estado do Rio de Janeiro, ¢Iihabela eIIha do Cardoso, em Sto Paulo, so bons exemplos: eram originalmente topos de morros ou seas, que se tornaram isoladas: ‘quando o mar subiu até setenta metros no final do periodo pleistocénico, hé menos de dez mil anos. Ilhas continentais portanto ja estiveram ligadas ao continente. ‘Se principal fator determinant do mimero deespécies nas ilhas fosse a dificuldade para os animais € as plantas chegarem a elas, entdo se esperariam duas coisas: primeiro, ilhas seofogicamentemaisanis deveriam emai spies ques a FERNANDO FERNANDEZ, 148 mais recentes (pois os animais ¢ plantas teriam tido mais tempo para chegar até as primeiras); segundo, ilhas continentais de qualquer tamanho seriam de modo geral biologicamente menos pobres que ilhas ocednicas de qualquer tamanho. Ora, nenhuma das duas previsdes € verdadeira. Quanto a primeira previsao, ithas geologicamente mais antigas (formadas hé milh6es de anos) no tém mais espécies que ilhas muito mais recentes, com poucos milhares de anos de idade (ilhas extremamente recentes como Surtsey ¢ Anak Krakatau sao, é claro, excegdes). Quanto a segunda, ilhas continentais pequenas, mesmo muito proximas costa, tém muito menos espécies que ilhas oceénicas de érea maior. A conclusio entio era: a area das ilhas é muito mais importante que o seu grau de isolamento para determinar quantas ies elas possuem; quanto menor uma ilha, mais pobre em espécies sfio sua fauna e sua flora. No que diz respeito A riqueza de espécies, tamanho (Area) é documento. No inicio do século XX, este padrao, conhecido em ecologia como relagées espécies-drea, foi estudado em mais detalhe e quantificado. Logo se tomou bastante claro que embora 0 mamero de espécies de animais ou plantas nas ilhas fosse relacionado a area destas, ndo era proporcional a area, ou seja, arelagdo espécies-drea era ndo linear. O nimero de espécies crescia menos que a area; como observado pelo biogedgrafo norte-americano Philip Darlington, um aumento de dez vezes na area das ilhas correspondia aproximadamente a uma duplicagao no namero de espécies observadas. Houve varios modelos para descrever 0 padriio, e um dos primeiros tornou-se o mais popular e acurado até hoje: 0 modelo muito simples proposto pelo boténico sueco Olof Arrehnius, em 1921, chamado modelo de fungo potencial (power fiction model). Uma vez que, como (© POEMA IMPEREEITO dito acima, o niimero de espécies nao ¢ proporcional a drea, é conveniente usar a forma linearizada de modelo de Arrehnivs ouseja, a forma modificada de modo a fomecer uma linha reta Essa forma é a seguinte: Log S=logC+z.logA Onde S (de species) & 0 numero de espécies na ilha; A €a area (expressa em qualquer unidade, Km?, hectares ou qualquer outra, tanto faz); log C e z so constantes (voltaremos a.clas depois). A base dos logaritmos utilizados ndo faz diferenca E facil perceber que este modelo corresponde a uma equacdo de reta, do tipo Y = a1 + b.X, onde o “Y” (variavel sendo explicada) é log S (logaritmo do namero de espécipes),““0" (a intersegao, ou seja, o ponto onde a reta corta 0 eixo vertical) & log C, “b” (constante angular, ou seja, a inclinagdo da reta) &z, e“X” (variavel que explica a outra) é log A (logaritmo da Area). Caso a matemiatica esteja um pouco macante, nao se preocupe, ela acaba aqui, e podemos voltar ao mundo real e a ecologia. Que diabo importam, para nés, para a conservagio, estas constantes que atendem pelos nomes esotéricos de “log C” e aN. ‘Vejamos: Log C tem um significado bioldgico claro mas, & verdade, no nos interessa tanto assim. Esta constante corresponde ao néimero de espécies que seria encontrado na itha de menor dea possivel, ou seja, quando X (a drea) tende a zero. Deixemos, no entanto, esta constante de lado e vamos a “2, que é, a meu ver, a mais importante constante de toda a biologia da conservacio. Matematicamente, vimos acima que 0 “7” representa a inclinagaio da reta. Biologicamente, “2” pode 149 FERNANDO FERNANDEZ 150 ser definido de duas maneiras. A primeira é: 0 quanto o nimero de espécies aumenta com o aumento da drea. A segunda, mais relevante para a conservagio, € quanto o nimero de espécies diminui com a perda da drea. Espero que agora esteja mais clara a razio desse pequeno exercicio numérico. Conhecendo o valor de z, poderiamos prever quantas espécies seriam perdidas com a diminuigao da area de uma ilha. Jé foi dito acima que o numero de espécies aumenta menos que a area (¢ conversamente, também diminui menos que a diminuigao da area). Lendo a observagao de Darlington ao contrario, perder nove décimos. da area equivaleria a perder metade das espécies. Na verdade, nao ha um tinico valor de z no mundo real, mas mesmo assim a intuicdo de Darlington era boa. Centenas de estudos de campo nas décadas seguintes, com os mais variados grupos de plantas ede animais ¢ em arquipélagos a volta do mundo, tém mostrado que o valor de z.quase sempre est entre 0,18 ¢ 0,35. Arelagao proposta por Darlington (que equivaleira a um valor z= 0,301) de fato esta dentro dessa faixa. Até aqui, estamos falando somente de padrdes, e s6 décadas depois surgiu uma explicagao convincente para esses padrdes, a chamada teoria de biogeografia de ilhas, formulada por Robert MacArthur (ver capitulo 2) e Edward O. Wilson em 1963 ¢ 1967. Nao tenho a pretensio de tentar explicar aqui os detalhes dessa obra monumental, mas vou tentar apresentar apenas suas conclusdes basicas. A teoria de biogeografia de ilhas propde que o nlimero de espécies presentes numa ilha é resultado de um equilibrio dindmico entre o ndimero de espécies que se extinguem na ilha ¢ 0 niimero de espécies que chegam a ilha. niimero de espécies permanece mais ou menos constante, mas (© POEMA IMPERFEITO como algumas estao sempre chegando e outras se extinguindo, quais espécies que esto presentes na ilha varia ao longo do tempo. A teoria prevé que o nimero de espécies em uma ilha deve ter uma forte relacio positiva com sua area, porque ilhas maiores teriam taxas de extingzio menores e, além disso, seriam mais facilmente localizadas por ‘colonizadores. Desta forma, a teoria de biogeografia de ilhas forneceu uma explicagiio para as relagdes espécies-area. A teoria de MacArthur & Wilson prevé, também, que 0 ndmero de espécies nas ilhas deve estar inversamente relacionado ao seu isolamento (pois menos espécies devem chegar numa ilha mais distante da costa), mas que essa relagdo negativa com isolamento é mais fraca que a relagao positiva com a Area. Isso explica 0 predominio das relagdes espécies-drea como fator explicador, como discutido acima, € também porque sendo as dreas iguais, ilhas ocednicas geralmente tém menos espécies que ilhas continentais. Neste ponto, podemos voltar a nossa questo central: a fragmentagio florestal. Vamos entdo passar das ilhas geograficas (cercadas de 4gua) para as “ilhas” de floresta ou fragmentos florestais (cercadas por habitats abertos). Quao bem as ligdes aprendidas com as ilhas se aplicam aos fragmentos florestais? A primeira percepgao que teriamos é que um fragmento 6 simplesmente uma amostra da floresta original, ou seja, que a mata pequena seria essencialmente idéntica a grande floresta, apenas menor. Infelizmente, porém, essa é uma expeetativa ingénua.O ProjetoDinimica Biologica de Fragmentos Floresta (PDBFF), um grandioso programa de pesquisa que yeu sendo realizado ao norte de Manaus, vem estudando, hé varias décadas, ‘© que acontece com fragmentos de flor FERNANDO FERNANDEZ 132 10, 100 e 1000 hectares, apés terem sido isolados. Varios dog resultados obtidos tm sidi floresta morre de fora para dentro, vitimada por um conjunto de de borda”. A partir do s conhecidos como “efeitos que uma pequena mata passa a estar cercada por série de alteragoes: microclimaticas comecam periferia do fragmento. Primeiro, mais no interior da floresta fechada, Isso nao $6 j4 faz com que a mata seja mais clara, mas, também, resulta em um aumento da temperatura do solo, o qual por sua aumidade se perde por io inesperados ¢ perturbadores, a process momento em Areas abertas, uma aocorrer em cadeia, na Iuzsolar chega ao solo do qu vez aquece 0 ar. Como ar mais quente, co, tomando-o mais seco. Uma outra alteragao, com eradamente drasticos, ¢ 0 aumento de exposi¢o res no interior da floresta esto protegidas evaporat efeitos inesp ao vento. As arvol contra a forga dos ventos por suas vizinhas: quase nao venta no interior da mata, Ja as arvores da borda estéio completamente expostas. Em arvores da floresta amaz6nica, muito altas, mas com raizes muito superficiais, os efeitos so particularmente desastrosos. A cada ventania as arvores externas tombam em grande quantidade, por sua vez expondo suas vizinhas internas para serem as proximas; a borda vai entrando cada vez mais para dentro da floresta, que vai aos poucos morrendo e se encolhendo. As modificagdes do microclima e a queda de arvores, por sua vez, vo desencadeando mudangas cada vez mais profundas em toda a estrutura e composigao da mata. Como aumento da insolago eo ressecamento, espécies de plantas helidfilas (que gostam da luz solar) comegam a prosperar desmedidamente, 4 custa de outras plantas adaptadas as condigdes de sombra e umidade. Enquanto o interior de uma ‘O FORMA IMPeRFEITO mata extensa ¢ madura tende a te, paixa altura, onde se anda intransponivel, dominada por espécieg arbustivas, L plantulas as grandes drvores (em geral adapiada cenit s a gem sa sombra simplesmente deixam de ving, ome ej nao podem “es : ‘ai matando, Poucoa pouco, o fragmento vai se tomando uma densa m: lacega de vegetagio arbustiva baixa, com o dossel abe substituir aquelas que o vento Mexoravelmente y; ; ¢ To, ou seja, com uma ou outra drvore alta teimando em persistir no estrato arbéreo superior. Neste estagio, 0 fragmento ja pouco separece com a mata original, lembrando mais uma capoeira, ou seja, uma mata muito danificada,em regeneragdo, Porém, aesperanca da regeneragao € va: com 0 recrutamento praticamente nulo das plntulas das grandes arvores, as que restam no dossel so mortos-vivos, que provavelmente nao serio substituidas, eo fragmento nao tende a se recuperar, mas a permanecer indefinidamente como uma mata desfigurada e empobrecida, Com a mudanga completa da estrutura dos fragmentos, os animais comegam a ser também afetados; a composigio da comunidade animal também muda drasticamente. Muitas espécies de insetos, especialmente de borboletas, sio bem adaptadas is plantas heli6filas e suas abundancias aumentam nos fragmentos. Por outro lado, outras espécies animais adaptadas a plantas do interior da mata comegam a desaparecer. Outras espécies, que dependem de habitats timidos como, por exemplo, sapos ¢ ras que necessitam de pogas d’dgua para sua reprodugao, também sofrem com as mudangas. Efeitos muito mais sutis também ocorrem. Por exemplo, ninhos de varias espécies de passaros pequenos estariam muito seguros no interior 13 peananl 154 1p0 FERN ‘mata grande, mas num fragmento florestal nunca estar jeuma mata grande, : . ‘ ma borda de mata. Aves de rapina das areas ito longe de ut mui Jio agora capazes de localizar abertas, como gavides € faled inhos pelo canto de seus donos e entrar no fragmento para i a ‘om isso, os passaros Menores comegam a ataca-los. desaparecer destes locais. Todo este amplo e variado conjunto de mudangas, que chamamos coletivamente de efeitos de borda, vao entrando até distancias de dezenas ou centenas de metros para dentro do fragmento. Quando estes stio pequenos, de | a 10 hectares (um hectare, 100 x 100 metros, é aproximadamente 0 tamanho de um campo de futebol), os efeitos de borda afetam toda a superficie do fragmento, realizando uma triste faganha: ir de mata acapoeira, sem precisar cortar. Mesmo em fragmentos muito maiores, da ordem de centenas de hectares, a degradagdo causada pelo efeito de borda é bastante perceptivel, e tende a penetrar cada vez mais na mata. Os fragmentos, mesmo os bastante grandes, so muito diferentes da mata original, na estrutura da sua vegetacio, assim como na composigéio de sua fauna e flora, pelo simples fato de serem fragmentos. Ha também uma diferenga fundamental entre as situagdes de ilhas e de fragmentos: o que cerca aquelas e estes, ‘Omara volta das ilhas ¢ uma barreira muito efetiva ao movimento de quase todas as espécies de animais terrestres (assim como a dispersio das sementes de quase todas as plantas), Animais e Plantas podem aleangar e colonizaras ilhas, mas isso sé sedi muito ocasionalmente. J4 a chamada’ “matri: Volta dos fragmentos funciona mais com Permeabilidade seletiva: diferentes especi diferentes maneiras. Em um extremo do: i2” de dreas abertas a 0 uma membrana de ics respondema ela de continuo, temos algumas (0 POEMA IMPERFEITO espécies, bem adaptadas areas um fragmento a outro ¢ diferenciadas, mas conectadas por individuos que se deslocam entre elas. Isto €0 que acontece por exemplo com um pequeno ‘marsupial arboricola a cuica cinza, Micoureus demerarae,em conjuntos de fragmentos de Mata Atlantica no Sudeste do Brasil. Jano segundo extremo do continuo temos espécies bastante restritas ao interior de mata, para as quais a vegetaco aberta pode ser uma barreira tao efetiva quanto a dgua do mar. Por exemplo, numerosos estudos tém demonstrado que varias espécies de pssaros da familia Formicaridae (papa-formigas), seguidoras obrigat6rias de formigas de correigio, passam varios anos sm cruzar uma tinica vez distincias de poucas dezenas de metros de vegetacao aberta, separando fragmentos florestais, Aparentemente, ha uma barreira comportamental impedindo que estas aves voem sobre dreas abertas, 0 que as condenaa viver isoladas emum tnico fragmento, O papel da matriz, no entanto, vai além de filtrar que espécies passam ou nao entre os fragmentos. Ha espécies que vivem preferencialmente em areas abertas e, portanto, esto “em. casa” na matriz, mas que podem invadir os fragmentos de mata 185 [FERNANDO FERNANDEZ, a partir de sua periferia, onde 0 efeito de borda produz uma vegetagiio modificada, arbustiva, a qual pode se assemethar, em alguns aspectos, & vegetagio da matriz. Esta similaridade pode favorecer a invasio de espécies de area abertas, Tais invasores, por sua vez, podem ter um grande impacto sobre as espécies residentes nos fragments, podendo mesmo levar a extingdo local de suas populagées. Portanto, enquanto 0 mar tem um papel apenas passivo, a matriz pode ter um papel ativo. Cada vez mais, vem ganhando terreno a percepgio de que entender 0 que ‘ocorre na matriz pode ser uma chave importante para entender o que vai acontecer nos fragmentos. Até que ponto, entdo, as relagdes espécies-area desenvolvidas para ilhas ea teoria de biogeografia de ilhas podem ser liteis para entender 0 que acontece com a biodiversidade nos fragmentos? Depois de um vigoroso entusiasmo inicial na década de 70, a aplicagao direta da biogeografia de ilhas aos fragmentos tem sido bastante criticada, pois de fato a situag3o destes difere das ilhas nos dois pontos importantes mencionados cima: primeiro, fragmentos softem efeitos de borda, degradam- .gundo, fragmentos so separados por uma see diminuem; s matriz que é barreira para uns e nao para outros, podendo ser as sto diferenga is consideraveis e, de até fonte de invasores. fato, para alguns grupos de animais, as relagdes espécies-drea nao se aplicam muito bem. Um exemplo é 0 das borboletas: como jé mencionado acima, muitas espécies se adaptam bem as plantas helidfilas que proliferam em pequenos fragmentos, de modo que estes podem ser tdo ricos em espécies de borboletas quanto as matas muito maiores. Por outro lado, relagdes espécies-drea se aplicam bem a maioria dos grupos importantes de animais ¢ vegetais, tais como mamiferos, aves, anfibios. (© POEMA IMPERFEITO espécies arbéreas de plantas ¢ outros, Nestes casos, o valor do parimetro"2” ¢tipicamente menor que em arquipélagos de illhas ocedinicas (em fragmentos, “2” costuma variar entre 0,12.¢0,17). Isso quer dizer, a curva espécies x drea é menos ingreme, ou seja, uma determinada reduco de area corresponde a uma perda de espécies menor em fragmentos que em ilhas ocednicas. Em outras palavras, o empobrecimento biol6gico em fragmentos & geralmente menor que em ilhas ocefinicas, o que provavelmente pode seratribuido aos primeiros nao estarem tio isolados quanto asiiltimas (afinal de contas, a matriz é semipermeavel). A diferenga entre “2s variando de 0,18 a 0,35 ou de 0,12 a 0,17 pode parecer a mais abstrata das questdes abstratas, mas se vocé se importa com conservagio da natureza, deveria agradecer todo dia depois do café da manhi que isso seja assim, pois se fosse de outra forma a perda de espécies com a fragmentacio seria muito maior do que ja é. De qualquer modo, ainda vai levar um certo tempo até que possamos ter uma pintura completa do que vai acontecer com a diversidade biologica nos fragmentos. A perda da diversidade nos fragmentos se da por dois, processos completamente distintos, que atuam em escalas de tempo diferentes. O primeiro emais evidente éa perda imediata de espécies por uma mera questio de amostragem, Como a ‘rea de mata remanescente ¢ menor que a drea original, é de se esperar que espécies que originalmente habitavam as partes da floresta que foram cortadas possam nao estar presentes nos fragmentos, mesmo imediatamente apés 0 desmatamento. O segundo processo, no entanto, é muito mais sutil eatua em uma escala de tempo muito mais longa. Que uma populagao esteja presente em um fragmento de mata, no momento em que ele é isolado, nao é nenhuma garantia que ela seja capaz de persistir 187 FERNANDO FERNANDEZ 138 ali indefinidamente. Uma populagao pequena cemnais podenao ser vidvel a longo prazo, ou seja, pode: sofrer um risco de extingio muito grande, mesmo que 0 ambiente no seja mais alterado e que nao se faga nada contra ela. a Para alguns, isso pode parecer contraintuitivo, mas um ‘exemplo real talvez ajude a compreender melhor a situagao, David Quammen, em seu magnifico livro The song of the dodo, descreve um estudo da pesquisadora brasileira Eleonore Setz com um grupo de parauacus, grandes macacos amazénicos (Pithecia pithecia). O grupo compunha-se de seis parauacus, que haviam ficado isolados em um fragmento da mata do PDBFF quando a area a volta foi desmatada poucos anos antes, O fragmento estudado por Eleonore, carinhosamente chamado por ela de“matinha”, tinha uma area de 9,2 hectares ¢ era distante apenas umas poucas centenas de metros de uma drea muito maior de mata pres vada. Dia apés dia, os parauacus viviam naquele pequeno mundo isolado, temerosos de se langar na area aberta em busca da floresta que podiam ver li do topo das arvores. Seis macacos. Era isso; as vezes um morria ou um filhote nascia, mas nao havia como sair muito disso, pois o fragmento nao tinha frutos para alimentar mais que isso, nem para comportar 0 territrio de mais que um grupo de parauacus. Agora imaginemos que em uma geragio de filhotes da Populagéo —uns trés ou quatro no maximo —venham a nascer quatro machos, ou quatro fémeas. Nao ¢ dificil que isso venha a acontecer e, na verdade, é quase certo que mais dia menos dia venha a acontecer. Basta que aconteca uma vez para que a Populagdo se extingua, pois quando chegar sua vez os jovens nao poderio se reproduzir e produzir uma nova geragio de filhotes. Um segundo fato que pode acontecer é que © POEMA IMPERFEITO ano ruim, com pouca chuva por um longo periodo, por exemplo (anos assim no so muito raros), que afete a produgao de frutos, fazendo que alguns individuos morram e/ou deixem de se reproduzir. A populacdo pode até sobreviver a um ou outro episodio deste, mas cedo ou tarde nao havera mais saida, Um terceiro fato que deve acontecer é que, como a populacao ¢ muito pequena, os animais tenham que acasalar com parentes proximos, um fendmeno conhecido como endocruzamento. Cruzar com parentes proximos traz problemas genéticos, pois a maioria de nés tem genes deletérios (prejudiciais), que no nos trazem problemas porque nao se expressam quando em dose simples (isto -, quando em heterozigotos), mas apenas quando. em dose dupla (como homozigotos). Quando cruzamos com parentes proximos, tais genes facilmente tomam-se homozigotos nos filhotes, uma vez que ambos os pais os tém. Isso pode trazer problemas sérios ou mesmo a morte (incidentalmente, € por isso que todas as culturas humanas reforcam o imperativo biolégico de evitar endocruzamento, através do tabu do incesto). Novamente, 0 risco de extingao seria grande para uma populagio to pequena. Os bidlogos da conservacdo chamam os trés processos exemplificados acima de aleatoriedade demografica, aleatoriedade ambiental e aleatoriedade genética, respectivamente ~e eles sao as trés razdes principais pelas quais populagdes: pequenas ¢ isoladas nao devem persistir indefinidamente, mesmo que nao as perturbemos mais. Vocé pode achar que um fragmento de 9,2 hectares seja bem pequeno, mas se olhar bem 2 sua volta, vai ver que a maioria dos fragmentos de mata restantes no Brasil nao sio muito maiores que isso, ¢ portanto nao devem servir de muita coisa para uma populagdo de um animal do tamanho de um parauacu 159 160 FERNANDO FERNANDEZ. que esteja isolada neles. Esta certo, ha areas bem maiores, de varios milhares de hectares; por exemplo, o Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, tem pouco mais de 3.000 hectares (30 Km), eo do Iguacu, no Parana, tem uns 185.000 hectares (1.850 km’). Sera que com areas assim nao seriamos capazes de preservar qualquer espécie de animal? A triste resposta é que ndo, Isso foi demonstrado em uum trabalho hoje chissico em biologia da conservagao, realizado por um administrador de parque nacional norte-americano chamado William Newmark, Ele mostrou que nos parques nacionais do oeste dos Estados Unidos haviam sido registradas quarenta e duas extingdes locais de mamiferos, nas poucas décadas desde que os parques haviam sido implantados. Repare que estamos falando de um dos melhores temas de parques nacionais do mundo, areas gigantescas (varias delas muito maiores que o Iguacu) e muito bem protegidas contra qualquer interferéncia humana. Mesmo assim, varias espécies de mamiferos desapareceram em varios dos parques, ea raziio para isso parece bastante clara: as dreas nao eram grandes o suficiente para permitir que essas espécies mantivessem populagdes viaveis Para entender porque, passemos para um exemplo que nos € mais familiar, o da ona pintada (Panthera onca), sem divida um dos mais magnificos animais da fauna brasileira. Ongas sio animais grandes, que se alimentam de presas grandes que por sua vez ja nao so tio comuns assim. Em vista disso, cada onga (ou casal de ongas) necesita de uma area muito extensa para sobreviver, area essa que nio ¢ sobreposta com a de outras ‘ongas (ou casais), uma vez que sdo tervitoriais. Traduzindo em nuimeros, no Iguacu tinhamos, até recentemente, cerca de 150 ongas numa area de 1.850 Km’, 0 que dé uma densidade (0 FOEMA IMPERFEITO populacional de aproximadamente uy ma onga por doze quilmetros quadrados (1.200 hectares), Na Floresta da Tijuca, entao, nao poderiam caber os territorios nem mesmo de trés ongas, © na grande maioria dos fragmentos florestais hoje remanescentes no Brasil néo caberia o de uma sequer. Nao é de se estranhar, enti Floresta da Tijuca, © esteja numa situagdo tao critica em nosso pais, A mensagem de tudo isso ¢ bastante clara: ha duas s de se matar uma onga, A primeira, Go, que ndo haja mais ongas na e que aespéci mane ripida e direta, pode ser ou a tiros ou com iscas envenenadas, A segunda, mais, sutil, ¢ destruindo seu habitat de maneiraa Preservar apenas um. remanescente de floresta menor quea area que uma populagao_ de ongas precisa para sobreviver. As duas maneiras sio igualmente eficientes; a segunda & apenas um pouco mais lenta, Analisar a questo do ponto de vista da viabilidade Populacional - ou seja, da capacidade ou nao de cada espécie manter uma populagao vidvel em um fragmento de um dado ‘amanho—é apenas uma outra forma de ver um fendmeno que ja é uma consequéncia esperada das relagdes espécies-drea descritas acima, Uma vez que a area das florestas foi reduzida em relagtio rea original, espera-se que o niimero de especies presentes va cair até se ajustar ao niimero correspondente a nova area. O grande mérito de Newmark foi mostrar isso acontecendo na realidade. Ao fazé-lo, fomeceuum valioso indicio de que a biogeografia de ilhas poderia se aplicar também as “ilhas” de mata, ao mesmo tempo que chamou a atengo para a questo crucial das populagdes nao vidveis a longo prazo. O que nos resta entio? Transformamos 0 mundo em ilhas, ecom isso espalhamos para todo o planeta pobreza biologica dasilhas, apenas um pouquinho menos grave gracasa providencial 161 FERNANDO FERNANDEZ "s (oud permeabilidade da matriz, se voce benevoléncia dos -“s preferir). Perdas de espécies certamente haverdo e nao sero poucas. $6 nos resta lutar para desacelerar a fragmentagao. Uma das coisas mais cruciais a fazer, sem divida, é preservar cada hectare que for possivel de florestas tropicais em areas protegidas (Unidades de Conservagtio). E necessétrio evitar que os fragmentos remanescentes, protegidos ou nao, sejam to pequenos que venham aser devorados pelo efeito de borda. Também poderia ser itil aumentar a passagem de individuos entre as matas através de “corredores” de habitat (extensdes lineares de habitat natural, conectando fragmentos) ou algo parecido. Mesmo com tudo isso, especies certamente serdo perdidas até que os niimeros caiam até (0s valores correspondentes ds novas dreas. Nao é uma perspectiva das mais animadoras, mas sera que pelo menos, se deixarmos os bichos em paz, podemos ter certeza de conservar esta nova natureza empobrecida, sem terainda mais perdas? O problema é que nem sequer os deixamos em paz. Vejamos, por exemplo, o que est acontecendo na Amazonia, De vez em quando aparece alguém dizendo que a situagdo da conservagiio na Amazénia nao esta to ma assim, quase sempre baseando-se em imagens de satélite, que mostram que desmatamento é menor do que se estimava antes ou do que se esperava, Um primeito-ministro britinico do passado, Benjamin Disraeli, disse uma vez: “ha trés tipos de mentiras: mentiras, ‘mentiras malditas, estatisticas.” Se ele conheces ‘se as imagens de satélite, certamente sua lista seria maior, Como qualquer outra tecnologia, as imagens de satélite podem ser bem usadas, no caso para produzir informacdes valiosas e Uteis sobre as alteragdes no uso do solo. E muito facil, porém, interpretar mal 05 seus dados. Mui i reas, que aparecem em levantamentos (O POPMA IMPERFEITO desatélite com ‘mat amazin C2” So dreas — . em regenera¢do; nao sao floresta amazénica em bom ABs 7 estado nem na sua estrutura, nem no seu funcionamento, ne diversidade animal que abrigam—emalegunscasoe eonecrnee simplesmente por ser mata em fiz See men, ragmentos pequenos. Ainda mais sutil ¢ mais dificil de detectar com um satélite, muitas areas, mesmo de floresta alta, jé sofreram extragdo seletiva de madeira, afetando sua diversidade e seus processos biolégicos, Ehé, ainda, reas de floresta estruturalmente intacta ou quase intacta, mas vazia de vida animal e de futuro, Um dos mais violentos choques que ja tive em minha vida foi ler 0 artigo The empty forest (A floresta vazia), publicado por Kent Redford, em 1992. Nasua tabela I, Redford relaciona o numero de animais e peles de animais de diferentes espécies exportados, legalmente de um iinico porto (Iquitos, um porto fluvial na Amaz6nia peruana) em cinco anos, 1962- 1967. Os niimeros falam por si mesmos: “Macacos vivos, 183.664. Peles: jacarés, Melanosuchus 47.616, Caiman 101.641; mamiferos, capivara (Hydrochaeris) 67.575, lontra (Lutra) 47.851, ariranha (Pteronura) 2.529, jaguatirica (Felis pardalis) 61.499, gato-do-mato (Felis wiedii) 9.565, onga pintada (Panthera) 5.345 [compare com a populago do Iguagu sendo 150 !], cateto (Tayassu tajacu) 690.210, queixada (Tayassu peccari) 239.472, veado (Mazama) 169.775, total 1.626.751 [mais de 1,6 milhao !].” Desculpe-me se aqui perco minha objetividade, mas dé vontade de chorat. 4a éacaga registrada legalmente, enquanto enos duas vezes maior Ehdmais calcula-se que a caga ilegal seja pelom ue isso, 0 que triplicaria os nimeros acima. Alm disso 08 i ial, e ha, també ade niimeros se referem a caga comercial, ea, também, acai " FERNANDO FERNANDEZ subsisténcia. Poderiamos achar que a caca de subsisténcia seja relativamente insignificante em relagdo A escala monstruosa da caga comercial, mas esta seria uma posi¢do ingénua, Na Amazénia, a maior parte da proteina na dieta dos habitantes da mata, de baixo poder aquisitivo, ¢ fornecida pela caga. Macacos so um dos pratos mais apreciados ea caga de subsisténcia é praticada em uma escala assustadora, mesmo por povos que ddizemos conservacionistas¢ amigos da natureza. O primatélogo Carlos Peres morou com uma familia de seringueiros e contou quantos macacos eles matavam e consumiam, sem interferirnos seus habitos. Em um ano e meio foram trezentos e oitenta macacos mortos por aquela tinica familia. Segundo o pesquisador, tratavae sede uma familia tipica, e as familias vizinhas tinham hébitos de consumo similares. Dados estarrecedores como este levaram Redford estimar que 0 volume total de caca de subsisténciana Amazénia deve ser aproximadamente igual ao da caga comercial, o que nos leva a duplicar mais uma vez os niimeros acima, Infelizmente ainda hd mais. Os dados de Iquitos so de 1962-1967, mas que diria Redford se tivesse visto a trégica corrida pela destruicdo de Rondénia, Mato Grosso e o leste do Para nas décadas seguintes? Da década de 60 para cd, intensos fluxos migratérios povoaram vastas regides da Amazéniaea populagao da regio é hoje pelo menos umas cinco vezes maior do que era no periodo ao qual os dados dele se referem, O crescimento populacional aumenta a presso sobre os recursos © agravaa caca como todos os demais problemas ambientais (capitulo 5). Os nimeros atuais sobre a caga, entdo, devem ser ainda muito maiores. Nao € de se estranhar, portanto, que muitas espécies de grandes animais ja estejam escasseando em vastas areas da (© POEMA IMPERFEITO AmazOnia, mesmo onde a fragmentagdo ainda nao esta assim tao avangada. A pesquisadora Louise Emmons avaliou as densidades populacionais de mamiferos em nove localidades nos confins da Amaz6nia brasileira e peruana, e concluiu que em sete delas havia evidéncia de que ja se tratavam de comunidades depauperadas, empobrecidas pela caga. Foram observages como essa que levaram Redford a falar da “floresta vazia” e das “extingdes ecolégicas”. Uma extingdio ecolégica ocorre quando uma espécie, embora ainda sobreviva na regidio, tem densidades populacionais tao baixas, que jé nfio consegue mais exercer os papéis ecolégicos que antes desempenhava no ecossistema, Por exemplo, roedores de grande porte (pacas, cutias, pacaranas € outros) so importantes predadores e dispersores de sementes grandes, mas em vastas areas da Amaz6nia estes animais esto reduzidos a niimeros tio baixos que as sementes grandes chegam. a apodrecer no solo da mata sem serem predadas ou dispersadas. As sementes grandes, por sua vez, sto em grande parte das grandes arvores do dossel, cuja reprodugao fica entdio comprometida, transformando-as em mortos-vivos. Os efeitos disso sobre a mata no faturo so obviamente preocupantes, ¢ 0 que é certo é que nés ficamos com uma floresta cada vez mais alterada, cada vez menos representativa de mata amazOnica, e cada vez mais vazia. Ao contririo do que diz 0 hino nacional de nosso pais, nossos bosques nao tém mais vida, Sinto muito se vocé ficou triste ao ler tudo isso, mas, no € uma tristeza inittil. Quem sabe contribua para que paremos denos negara ver quio grave éa situagao da nossa floresta em pedagos, Como disse uma vez Karl Marx, “A perda das ilusdes a respeito de sua situagdo é a primeira condigao para se sair de uma situagdo na qual se necessite de ilusdes.” 165

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