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Miguel da Silva

BREVE HISTORIAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DE ANGOLA1

1. PROCESSO CONSTITUTIVO

A Ordem dos Advogados de Angola foi proclamada aos 20 de Setembro de 1996, no


Palácio dos Congresso em Luanda.

O acto da proclamação foi precedido da aprovação do Estatuto da Ordem dos Advogados


de Angola pelo Decreto n.º28/96, de 13 de Setembro do Conselho de Ministros (Dr.
n.º39, I Série, 1996) e seguido de um acto eleitoral para o provimento dos seus cargos
estatutários.

As eleições do Bastonário, Conselho Nacional e Conselho Provincial de Luanda da Ordem


dos Advogados de Angola para o 1º triénio (1996/1999) realizaram-se no dia 16 de
Novembro de 1996.

Criada em 1926, a Ordem dos Advogados da ex-colónia - Portugal -, nunca se estendeu


ao então "Ultramar", apesar das reivindicações profissionais dos advogados do
território, razão porque a advocacia praticada em Angola no período colonial
caracterizava-se, essencialmente, por:

a) Exercício liberal da profissão;


b) Inscrição dos advogados no Tribunal da Relação de Luanda;
c) Controlo ético-deontológico e competência disciplinar dos Juízes.

No período pós - independência nacional foi publicada a Lei n.º 9 de 1982, de 18 de


Fevereiro, da Comissão Permanente da Assembleia do Povo, que aboliu a advocacia
privada e criou "um novo sistema de advocacia assente no funcionamento de escritórios
colectivos de Advogados" no qual o Advogado se apresenta:

a) Dependente administrativamente do Ministério da Justiça;


b) Sujeito à competência disciplinar, metodológica e técnico - profissional do
Conselho Nacional de Advocacia (órgão insuficientemente representativo dos
Advogados);
c) Independente no exercício da profissão.

Em consequência das reivindicações profissionais dos Advogados de Angola e do novo


quadro jurídico-constitucional gerado pela II República, foi aprovada a Lei n.º 1/95, de 6
de Janeiro, da Assembleia Nacional, que liberalizou a profissão de Advogado e deu nova
composição ao Conselho Nacional de Advocacia, conferindo-lhe mais representatividade
da classe profissional e atribuindo-lhe funções de disciplina da profissão.

Foi o Conselho Nacional de Advocacia o órgão que, no prazo de um ano, conduziu o


processo de institucionalização da Ordem dos Advogados, de que se destacam:
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Extraído do site da Ordem dos Advogados de Angola ou seja do http://www.oaang.org/content/historial-0
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a) a coordenação dos trabalhos de elaboração do ante - projecto de Estatuto;


b) a realização da Assembleia Geral dos Advogados para a discussão do anteprojecto
de Estatuto;
c) a negociação do anteprojecto com o Ministério da Justiça;
d) a apresentação e defesa do projecto em Conselho de Ministros;
e) providências no sentido da promulgação e publicação oficial do Estatuto
aprovado;
f) publicitação do Estatuto mediante a produção de uma brochura;
g) a organização do acto de proclamação da Ordem;
h) a organização do processo eleitoral, v.g.:
i) aprovação de um projecto de regulamento eleitoral em Assembleia Geral de
Advogados;
j) criação de uma comissão eleitoral;
k) realização das eleições.
l) organização do acto de tomada de posse dos membros dos órgãos da Ordem.

2- CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE ADVOCACIA

 A Advocacia, em Angola, é uma "profissão liberal" ou "livre" inserida num sistema


de organização do tipo "europeu continental" em que as funções regulatórias e de
disciplina competem à Ordem dos Advogados de Angola, enquanto corporação
profissional pública.
 Só os advogados e advogados estagiários com inscrição ou registo em vigor na
Ordem dos Advogados podem, em todo o território nacional e perante qualquer
jurisdição, instância, autoridade ou entidade pública ou privada, praticar actos de
consultoria, representação e patrocínio judiciário próprios da profissão.

3. NATUREZA E CARACTERÍSTICAS DA ORDEM

 Dentro da categoria das corporações profissionais, a OAA é uma Associação de


Direito Público (pessoa colectiva pública de base associativa) dotada de
personalidade jurídica e autonomia;
 É uma forma de administração pública autónoma em consequência da
devolução de poderes do Estado;
 A sua criação opera-se por lei num processo de aprovação negociada com a
classe profissional (Estatuto aprovado pelo Decreto n.º 28/96, de 13 de
Setembro, do Conselho de Ministros, publicado no Diário da República n.º 39, I
Série/1996);
 Unicidade: a Ordem é única em todo o espaço territorial angolano para a classe
profissional dos advogados;
 Obrigatoriedade de inscrição: a inscrição constitui requisito do exercício da
profissão e a Ordem tem o controlo legal-deontológico das inscrições (só é
Advogado em Angola quem estiver inscrito na Ordem);
 A Ordem é independente dos órgãos do Estado e goza de autonomia
administrativa, financeira e patrimonial;
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 Instituição Aberta, sem numerus clausus, a todos os profissionais que


preencham os requisitos legais e estatutários.
 Autonomia Regulamentar;
 Autonomia Disciplinar;
 Tem receitas próprias (taxas e quotas livremente fixadas pela Ordem), sem
prejuízo de doações e subsídios de instituições públicas ou privadas;
 Os actos definitivos e executórios praticados pela Ordem no exercício de funções
públicas são actos administrativos de que cabe recurso contencioso
administrativo (de mera legalidade) como os actos da administração do Estado -
art.º 5º n.º 3 do Estatuto;
 Organização desconcentrada com dois níveis: nacional (Assembleia Geral,
Bastonário e Conselho Nacional) e provincial (Conselhos Provinciais e
Delegados), coexistindo competências administrativas e disciplinares (dos
Conselhos Provinciais e Nacional);
 É presidida por um Bastonário, órgão uninominal, eleito pelo conjunto dos
associados em Assembleia Geral.

4 . FUNÇÕES DA ORDEM DOS ADVOGADOS

4. 1. Defesa do Direito e da Justiça

 Defender os valores do Estado Democrático de Direito, os direitos, liberdades e


garantias individuais dos cidadãos;
 Colaborar na administração da Justiça;
 Promover o acesso ao conhecimento e aplicação do direito e contribuir para o
desenvolvimento da cultura jurídica;
 Contribuir para o aperfeiçoamento da elaboração do direito (poder de proposta e
de participação legislativa);
 Desenvolver actividade consultiva perante os órgãos intervenientes nos
processos legislativos "lato sensu", devendo ser obrigatoriamente ouvida em
matérias que interessem ao exercício da advocacia, à aplicação da justiça e ao
patrocínio judiciário em geral;
 Organizar a prestação de Assistência Judiciária aos cidadãos sem possibilidades
económicas para a constituição de advogado.

4.2. Representação e Defesa da Profissão

 Zelar pela função social, dignidade e prestígio da profissão;


 Defender os interesses, direitos, prerrogativas e imunidades dos advogados;
 Reforçar a solidariedade entre os advogados;
 A representação e defesa da profissão face ao exterior é feita por tomadas de
posição públicas, reclamações, exposições, pareceres, consultas, representação
em órgãos públicos e ligação com outras instituições.

4.3. Apoio aos Membros

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 Criação de condições de acesso à informação e cultura jurídica (nomeadamente


através do seu Centro de Documentação e Informação e Biblioteca);
 Formação técnico-profissional e ético deontológica;
 Diversos serviços.

4.4. Regulação da Profissão

4.4.1. Regulação do acesso à profissão

 Regulamentação das inscrições;


 Regulamentação dos estágios;
 Controlo legal-deontológico das inscrições (verificação dos requisitos académicos
e do estágio, controlo das incompatibilidades e apreciação da idoneidade moral);
 Titulação profissional (atribuição de cédulas aos advogados estagiários e
advogados);
 Organização do registo profissional (com funções externas de publicidade e de
protecção da boa fé dos cidadãos quanto à habilitação profissional e efeitos
associativos como a elaboração dos cadernos eleitorais);

4.4.2. Regulação do exercício da profissão

 Estabelecimento de normas de conduta profissional (v.g. regulamento de laudos,


do trajo profissional, normas limitativas da concorrência profissional em matéria
de publicidade);
 Vigilância sobre o exercício profissional;
 Fiscalizar o exercício ilegal da profissão por não inscritos e do exercício da
advocacia por estrangeiros legalmente interditos de exercer a profissão no país;
 Dar laudos sobre honorários.

4.4.3. Disciplina da Profissão

 Elaboração de normas ético-deontológicas;


 Elaboração do Regulamento Disciplinar;
 Exercício da função disciplinar (com aplicação de penas que vão da advertência à
proibição definitiva do exercício da profissão);

4.5. Cooperação internacional

 Adesão a organizações internacionais de Advogados;


 Cooperação com os organismos congéneres estrangeiros, regionais e
internacionais;
 Participação em fóruns internacionais sobre o exercício da profissão, o Direito e a
Justiça.

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