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Questões Tutoria DT I (semana de 17.10.

2022)

1. Posição dos usos laborais na hierarquia das fontes e o seu confronto com CIT e
CCT. Os usos laborais prevalecem sempre sobre o CIT por via do art.º 1º, n° 1 CT
mesmo que o CIT tenha uma cláusula expressa que afaste os usos?

A questão dos usos laborais irá depender de qual sua função na relação laboral. Assim,
para uma parte da doutrina, os usos têm um papel meramente integrador do CIT.
Deste modo, não poderá prevalecer caso o CIT possua uma disposição expressa o
afastando. O mesmo se aplica ao IRCT.
Em relação a lei, o uso pode a afastar caso esta seja supletiva. O que não poderá acontecer
no caso de a lei ser imperativa.
Importa ainda ter presente que os usos podem criar direitos nas esferas dos trabalhadores,
pelo que, caso haja um CIT posterior que retire tais direitos, não o sendo legítimo fazer,
terá o trabalhador direito à tutela efetiva nos termos gerais.

Doutrina relevante:
Tiago Cochofel de Azevedo, Da Relevância Jurídica dos Usos Laborais, 1ª edição, UCP
Editora, 2012;
Pedro Romano Martinez, Direito do Trabalho, 9ª edição, Almedina, 2019, pp. 185 e ss.;
M. R. Palma Ramalho, Tratado de Direito do Trabalho, Parte I – Dogmática Geral, 2ª
edição, Almedina, 2009, pp. 232 e ss.

Jurisprudência relevante:
http://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/08a6ab0adc5f30c380
25857b003608fe?OpenDocument
http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182fc732316039802565fa00497eec/9efe08ae8a33daec802
583f3004a56f7?OpenDocument
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/74db46dcd0f86cfb802
5806e005a1efe?OpenDocument
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/b9403106c5a25f1880
2583ca005b72cf?OpenDocument

2. Uma convenção coletiva pode diminuir as condições existentes de um CIT?


Não é, em regra, possível. Apenas deverá ter-se cuidado com o caso, dado este poder ser
de uma matéria que apenas o IRCT pode regular, e já não o CIT. Neste último caso, (i) a
norma do CIT será nula e, num primeiro momento, aplicar-se-á o disposto na lei (art.º
121.º, n.º 2), após que (ii), com a entrada em vigor do CCT, este afastará as normas legais,
sendo aplicável.
OBS: na legislação anterior, era possível afirmar a imperatividade do CCT face ao CIT
(art.º 531º CT2003), pelo que, embora o CIT disponha em sentido mais favorável, caso a
convenção coletiva se assuma como imperativa, será esta a aplicável no caso concreto.
Este requisito foi revogado em 2009, dispondo o atual art.º 476º CT que basta o CIT ser
mais favorável para afastar a aplicação do CCT, recebendo críticas da doutrina (em
especial, Luís Gonçalves da Silva).

Doutrina relevante:
Código do Trabalho Anotado (anotação ao art.º 476º: Luís Gonçalves da Silva).

3. É possível aumentar o salário dos trabalhadores através de um regulamento


interno de empresa?

Sim, é possível. Revela-se, neste caso, a função integradora do regulamento interno da


empresa em relação ao contrato de trabalho.
Segundo o Prof. Romano Martinez, estaremos perante uma proposta de modificação dos
respetivos contratos de trabalho (art.º 104º, n.º 2). Posto isto, caso o trabalhador, no prazo
de 21 dias a contar da aprovação do regulamento, não se pronunciar, por escrito, contra o
referido regulamento, presume-se sua aceitação. Caso haja oposição escrita, o CIT
manter-se-á inalterado.
Por outro lado, é importante destacar que há uma discussão sobre a natureza do
regulamento interno, sendo que alguma doutrina (Palma Ramalho e Menezes Cordeiro)
o aceita como fonte, ao passo que uma outra posição (Romano Martinez) nega tal
natureza.

Doutrina relevante:
Pedro Romano Martinez, Direito do Trabalho, op. cit., pp. 188 e 463 e ss;
M. R. Palma Ramalho, Tratado de Direito do Trabalho, op. cit., pp. 259 e ss.; Tratado de
Direito do Trabalho, Parte II – Situações Laborais Individuais, 7ª edição, Almedina, 2019,
pp. 155 e ss.

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