Você está na página 1de 1

Far-se-á nesta breve reflexão, tendo por base a manutenção da substância e do conteúdo entre

o texto contido no Novo Testamento e o dogma cristológico da Igreja – ainda que se


encontrem hiatos linguísticos entre os textos – quem é Jesus em si mesmo e em relação a
Deus. A tradição helênica de pensamento oferecia considerável risco de se reduzir a pessoa de
Cristo, mais precisamente podendo sobrevalorizar uma de suas características e omitindo
outras, o que pode se extrair do estudo das heresias cristológicas e trinitárias – como no
docetismo, que entende a existência material de Cristo como mera aparência. Ário, que não
entendia como iguais o Filho de Deus e o Pai, fora respondido pelo Concílio de Niceia (325)
que o Filho é de mesma substância que o pai, gerado (não feito) desde a eternidade. Nestório,
que não coaduna com a encarnação, de forma que a humanidade de Jesus é autêntica e o
Verbo se vê em Jesus, mas não de formas idênticas, motivando a proposta de que Maria se
chamasse “Mãe de Cristo” em vez de “Mãe de Deus, fora respondido no Concílio de Éfeso
(431) sobre a existência da união hipostática (o Verbo assumiu a humanidade genuinamente).
Êutiques, que vê na encarnação um processo no qual a humanidade foi misturada pela
divindade, impossibilitando a ideia de que Cristo seria consubstancial, que fora respondido
sobre Jesus ser verdadeiramente Deus e o genuíno humano desde a encarnação. Há ainda o
monofisismo, noção pela qual se afirma que haveria uma fusão entre o Verbo e a humanidade,
no caso, uma só natureza e pessoa, com o 3º Concílio de Constantinopla respondendo que não
haveria fusão, mas sim uma identidade pela qual duas naturezas se unem, mas preservando a
idiossincrasia humana e divina. O grande ponto de inflexão é a linguagem, isto é, o dogma
não formas verbais estanques, e sim o sentido contido nessas mensagens. A identidade divina
se forma no vínculo pessoal de Filho e Pai, experienciada na vivência humana, exprimindo a
realidade da união hipostática que implica esse elo trinitário: tal relação do filho, Verbo eterno
de Deus, veio a se tornar humano em Jesus, se verificando essa relação em sua vida humana.
Daqui decorre a proximidade entre cristologia e mistério trinitário.

Você também pode gostar