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RESENHA CRÍTICA

NARRADORES de Javé. Direção de Eliane Caffé. Rio de Janeiro: Bananeira Filmes, 2002.
(100 min.).

Gabriella de Andrade Fernandes Silva 1

1 . APRESENTAÇÃO

O filme se passa na cidade de Javé, os moradores do vilarejo começam a se preocupar quando


surge a notícia da construção de uma usina hidrelétrica, por conta dessa construção a cidade
ficaria submersa. Assim, a população decide escrever um documento para registrar os grandes
acontecimentos da história do vilarejo, porém o único que sabe escrever é Antônio Biá, o
carteiro, que já era mal falado, mas apesar de tudo ele é escolhido para a tarefa de criar um
dossiê, mas no decorrer do processo ele tem dificuldades, pois os moradores não conseguem
chegar a um acordo sobre quais versões correspondem à verdadeira história do lugar.

2 . APRECIAÇÃO CRÍTICA DO RESENHISTA

No início do filme temos a cena em que os moradores estão reunidos discutindo sobre a
polêmica notícia da construção da usina, todos se mostram bastante insatisfeitos, mas não é
para menos, eles estão prestes a perder suas casas e histórias. Nessa cena a fala do
personagem Vado chama atenção, “os ganhos e os progressos que a usina vai trazer, vão ter
que sacrificar ‘uns tantos’ para beneficiar a maioria. A maioria eu não sei quem são, mas nós
somos os tantos do sacrifício”, essa fala contempla muitos aspectos, o primeiro deles é o
econômico, os ganhos são mais importantes do que a vida e as histórias daquela comunidade,
pois bem sabemos que essas usinas muitas vezes beneficiam os interesses privados, o que
também é abordado no filme, quando Gaudé chega na cidade, ele representa o capitalismo e o
lucro, ele torce pela destruição do vilarejo.

1
Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Goiás - Regional Goiás
Outro aspecto contemplado na citação, é o quão sem voz essa população é, suas histórias,
culturas e heranças serão sacrificadas em nome de uma maioria que eles sequer sabem quem
são, eles são apenas os ‘tantos’, os sacrifícios, eles não foram consultados, não foram ouvidos,
não houve conversa, houve uma imposição, eles deveriam sair dali independentemente que
qualquer relação que tenham com aquele lugar, Antônio Biá fala isso ao final do filme, ele diz
que não importa se o dossiê ficou pronto ou não, pois eles seriam arrancados dali de qualquer
maneira. Tantos outros na cena das entrevistas, dizem que não podem deixar aquele local, pois
ali está a sua história, as suas raízes, onde os pais de seus pais viveram e estão enterrados,
onde os seus antepassados fizeram parte da história e deixaram suas marcas, como Maria
Dinda e Indalécio, naquelas terras existem culturas, tradições, procissões, histórias, saberes
populares, como conta Zaqueu sobre a Divisa Cantada, onde só se cantava a terra que
conseguiam cultivar.
O filme aborda diversos assuntos sem que nem percebamos, tudo isso de uma maneira
engraçada, mas que após um momento de reflexão nos mostra o quão profundos e complexos
são, ao começo da trama eu ria, mas já ao final eu chorava em ver que a Vila de Javé havia
afundado.

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