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DEPRESSAO POS-PARTO Uomo nao pode ser deixado para depois Peers Eee Te Noestenescumaise in Pee ere aT Cer ete ices com frequéncia confundida com a re) A tristeza materna, ou blues puer- Peete Cae eee Pee Leno eee) [ene eset Ceca aa uray Renee a erca de 50% das mulheres. *E uma condigao benigna que se inicia nos POR eee) ee Oa ee ea] eee eM Perey eee a eee eae Se oes ecm eet eee ac a ce da Comissao Nacional Especializada NS eee ea et eC aero eT eee ere ce rece Rae SRO SRO el Peta Ree cc reese re ew parto, inclui muitos fatores, entre eles ee eee eee ee ae eam Ce ee eR ee eRe Poet eC eee get Ores eee Tee ence ce eee eee ES) Reet te meee) Ergun eI DEPRESSAO POS-PARTO “Durante o pré-natal, devem ser reforcadas a importancia do diagnéstico ea seguranca de um possivel tratamento para a depressao”, disse 0 Dr. Alberto Trapani Jtinior. com prevaléncia que varia de 7% a 20%, ela nao tem sido cevidamente detectada. “Varios estudos demonstraram ‘que 60% a 80% dos casos de depressio puerperal nao 80 adequadamente diagnosticados. O assunto precisa ser abordado durante o pré-natal, quando devem ser reforcadas a importancia do iagnéstico e a seguranga de um possiveltratamento’,afirmou Trapani. ssa conversa entre o ginecologista e a paciente é ex- tremamente importante, principalmente se analisarmos © problema com um olhar macro. No Brasil, a prevalén- cia da deoressio ao longo da vida é em torno de 15%. Segundo a Organizagao Mundial da Satide (OMS), 10,9 e todas as mulheres atendidas na rede de atencao pri- maria de satide tém algum quadro de depressao asso- ciada a um sintoma fisico. “As vezes, as pessoas vao unidade de sade investigar algum problema e nao en- contram sintomas de uma doenga clinica, mas acabam tendo uma manifestacdo na somatizagao do quadro de~ pressive’, apontou o psiquiatra Joel Renné Jr, um dos. principals estudiosos e conhecedores da saiide mental no Brasil, om €nfase em psiquiatria feminina 0 professor do Departamento de Psiquiatria da Facul- dade de Medicina da Universidade de Sao Paulo (USP) coordenador do Programa Satide Mental da Mulher co Instituto de Psiquiatria da USP Renn6 Jr alerta para uma consequéncia nem sempre evidente para a maioria das pessoas: “A depressio gera perdas de anos de qualidade e vida". Essa afirmacao do Dr. Joel é corroborada pelos ados da OMS, que revela que a depressao aparece, em média, entre as cinco primeiras doencas com maior cau- sa de énus durante a vida e ocupa 0 primeiro lugar se considerarmos a incapacitacao 20 longo da vida. Segundo 0 osiquiatra, a depressao pode ocorrer ces- dea infancia e adotescéncia, sendo mais comum na ter- celra década de vida e com maior incid@ncia na terceira década de vida. Ao comparar o piblico masculino com © feminino, os nimeros s20 taxativos: mulheres sofrem muito mais de depressao do que os homens. Enquanto a prevaléncia da doenga nelas é de cerca de 20%, nos homens gira em tomo de 12%, “Uma em cada cinco m theres tem depresséo em algum periodo de sua vida’ declarou Renné Jr Trazendo para a realidade a gestante, Rennd J. rati ca:a depressdo perinatal é bastante comum, “ao conte 404 [roma zeae rio do que muitas vezes as pessoas ¢ até profissionais de sadde falam, de que a gestacao seria um periodo protetor com menores riscos de depressao” “Atualmen- te, nem usamos mais o termo depressao pés-parto, pois sabemos que cerca de 60% dos quadros de depressao ocorrem no inicio da gestacdo, mas infelizmente muitas vvezes nao sao diagnosticados no pré-natal’, esclareceu © professor da USP. A Dra, Alessandra Cristina Marcolin, professora-asso- ciada do Departamento de Ginecologia e Obstetricia da Faculdade de Medicina de Ribeirdo Preto (FMRP) da USP, argumenta que existem varios fatores que contribuem para a subnotificagao dessa doenca mental durante a gestacao. Um deles, disse a médica, &a cificuldade que a sociedade tem em acreditar ou mesmo aceitar que uma mulher gestante ou que acabou de ter um filho possa estar deprimida. "As pessoas acham que estar gravida & sempre algo maravithoso, Muitas nem im depressao passa acorter durante a gestagai coordenadora do Setor de Medicina Fetal do Hospital das Clinicas da FMRP-USP e vice-presidente da CNE em AS- sisténcia ao Abortamento, Parto e Puergério da Febrasgo, “Tern outro lado que é 0 estigma da doenca mental. ‘As mulheres sentem culpa e vergonha por estarem pas- sando por isso em um momento tao importante na vida delas, mas nao falam sobre 0 que estao sentindo. las omitem os sintomas isso sé aumenta a importancia do nosso papel como profissionais de satide. Todos nés, ginecologistas © obstetras, precisamos prestar atengao nessa mulher que jé tem fatores de risco para depres sa0°, alertou Alessandra. “Em recente revisio sistemética os fatores de risco mais identificados para DPP foram gestacao nao plane- jada, falta de apoio/social/familiar,antecedente pessoal de doenga psiquiatrica (depressio, historia pregressa de comportamento suicida, ou crises de ansiedade), relacionamento ruim com o parceiro, idade menor cue 20 anos e baixe escolaridade. “Identificaram-se ainda como fator de risco a violéncia coméstica © a historia ‘familiar de depressao’, completou ra, Stenia, “Os obstetras e ginecologistas sao, indubitavelmente, os médicos de referéncia e de confianga da mulher. Por essa razio, € importante que fagam o diagnéstico inicial da depressao nas mulheres”, cisse 0 psiquiatra Joel Renné Jr. CAUSAS, MITOS E QUESTOES CONTEMPORANEAS A falta de conhecimento da sociedace sobre o assunto anda de bracos cados com civersos mitos criados em tor no da gestacao, como 0 mito da mae perfeta, “que impae a maternidade uma forte pressao e € responsavel por frus- tragées de expectativas idealzadas e socialmente cobra- das’, como analisou a Dra. Stenia dos Santos Lins, médica aposentaca da Secretaria de Sade Publica do Rio Grande do Norte (SESAP) e da Maternidade Escola januario Cic Co da Universidade do Rio Grande do Norte (MEIC/UFRN), onde coordenou dois programas importantes: um de aten= G0 A satide reprodutiva Ge adolescentes e outro ce aten- G20 & mulher em sitvagao de violéncia sexual. Para a ra, Stenia, a dupla jornaca com a insercio da mulher no mercado de trabalho adicionou a ela uma so- brecarga, além de desfavorecer a aceitacdo das limita- es didrias para o desempenho do seu papel materno, imprimindo-Ine grande dose de sofrimento ¢ culpa" “Ha pressées culturais sobre as mulheres que invari velmente exercem a maternidade, Ha ainda uma visio romanceada e perfeita desse periodo de vida, 0 que é incompativel com as vivencias reais da mulher moder- na. Se @ mulher nao se enquadra nesse padrao e se de- para com sentimentos ambivalentes a0 cumprir 0 seu papel, sentimentos de incapacidade, ansiedade e culpa so inevitéveis, suscitando, dessa maneira, confltos que predisporiam & depressao pés-parto’,refletiu a médica. Ela chamou a atengao para o caso de maes que tive- ram partos de prematuros, bebés malformados ou que no conseguem amamentar. “Essas merecem cuidados puerperais em saiide mental redobrados’,salientou Outro mito ainda bastante persistente refere-se 8 estigmatizagao de pessoas com transtornos psiquicos Segundo a Dra. Stenia, esse estigma inibe a procura por um profissional de satide mental e “tem sido responsé- vel por atraso no diagnéstico, agravamento de sintomas, postergacao de tratamento, automedicacao, e tudo isso 6 ratificado pela propria familia, Ha muita resisténcia em procurar um psicélogo, em aderir a psicoterapias e na utlizagao de psicofarmacos quando necessario, com ajuda de um especialista” “As pessoas acham que estar gravida @ sempre algo maravilhoso, Muitas nem imaginam que a depressdo pode ocorrer durante a gestacao”, analisou a Dra. Alessandra Cristina Marcolin, DEPRESSAO POS-PARTO “Maes que tiveram partos de prematuros, bebés malformados ou que nao conseguem amamentar merecem cuidados redobrados”, alertou a Dra. Stenia dos Santos Lins. E voltamos @ raiz do problema: como methor a acuré- cia diagnéstica da depressao perinatal? Elias Melo Jr € professor de Obstetricia da Universi- dade Federal de Pernambuco (UFPE) e che’e da Unidade de Atencio a Saiide da Mulher do Hospital das Clinicas da UFPF, ¢ fez 0 doutorado em Tocoginecologia, com tese sobre depressio pés-parto. Ele reconhece que 0 assunto “ainda ndo é uma entidade com a qual o mé- dico tocoginecologista tenha muita familiaridade’, mas coloca luz na discussao, ‘NOs temos a tendéncia de subvalorizar a sintoma- tologia, considerar uma simples adaptagéo a um mo- mento de estresse, no maximo uma bives puerperal. £ necessario sensiblizar os colegas para a necessidade de aplicar os questionarios disponiveis, como a Escala de Depressao Pés-Natal de Fdimburgo (EP0SS), em ca- 08 sugestivos, para iniciar a terapia, coma também ter consciéncia da importéncia do trabalho multiiscipli- nar, criando uma cadeia de suporte para a mulher nesse momento tao desafiador da vida, que o puerpério, es- pecialmente 0s dois primeiros meses pés-parto’, decla- Fou 0 Dr. Elias, que também integra a CNE de Assisténcia a0 Parto da Febrasgo. © Dr Renné Jr reforca 0 apelo: “Os colegas obstetras © ginecologistas sao, indubitavelmente, os médicos de referéncia e de confianga da mulher. Por essa razao, é importante que vocés, de alguma forma, fagam esse diagnésticainicial, pois, sem divida algume, o rastrea- mento precoce leva a um bom prognéstico e o trata- mento tende a ser mais efica’. ACOMPANHAMENTO DA MULHER NO PUERPERIO APOS A ALTA HOSPITALAR Com larga experiéncia na rea, a Dra, Stenia destaca a importancia do acompanhamento da mulher no puer- Péria apés a alta hospitalar como uma étima opor- tunidade para o diagnéstico da depressdo pés-parto. Segundo ela, o Ministério da Saude recomenda, pelo Programa Sade da Familia, uma visita nos primeiros 10 dias apés 0 parto come forma de detecgao precace Ge alguns sinais ou sintomas depressivos ou adap- tativos, responsaveis por desencadear a depressao pés-parto, DEPRESSAO POS-PARTO “E preconizado também um retorno & unidade de sa~ de com 30 a 40 dias, Essa consulta nao deve ser restrita 0 exame fisico ou a0 planejamento reprodutivo, Se a paciente ja fazia uso de psicofarmacos, € 0 momento de avaliacdo e ajustes e reavaliagio do quadro depressivo, ‘que pode softer exacerbacao nesse periodo’,esclareceu a médica. Ela reconhece e salienta que nem sempre & facil fa- zer 0 diagnéstico, uma ver que os sintomas podem ser confundidos com exaustao € noites mal dormidas, adap- tacao & nova dinamica familiar © cuidados com o bebié. “Muitas vezes, esses sintomas sio subestimados pela propria puérpera ou sua familia, j& que o quadro clini- co pode variar na agresentacao e intensidade dos sinais Nas primeiras duas semanas pés-parto, podem ocorrer sintomas depressivos em grau mais leve, tais como triste- 7a, maior labilidade emocional,iritabilidade, problemas comm o apetite € o sono, sensagao de cansaco € exaustzo, configurando baby blues’, citou a Dra, Stenia, ratficando © panorama que apresentamos no inicio da reportagem 0 psiquiatra Rennd Ir. esclarece que todo quadro de- pressivo precisa ter um dos sintomas cardinais, que sao humor deprimido ou anedonia (perda da capacidade de senlir prazer ou interesse pelas atividades habiluais). 0 espirito animaco que prevalecia no pré-natal cede lugar 4 desmotivacao, incluindo cuidados com a saiide. A mu- ther deixa de se alimentar de forma saudavel, comeca a faltar nas consuitas de pré-natal, pode consumir alcool, tabaco e outras substancias nocivas, além de apresentar Cificuldades no trabalho e viver em constante quadro de insonia ou de sonoléncia excessiva. “Muitas vezes, essa paciente relata desanimo, fadiga, tristeza, crises de choro e comeca a ter uma perspectiva negativa em relacdo ao momenta do parto, julganco-se incapaz de ser uma boa mae. Se esses pensamentos ne- gativos se tornam frequentes e presentes por pelo me- nos duas semanas, o médico precisa fazer o diagnéstico e depressao’,afirmou Renné J Sem divida, uma avaliagao do especialista, no caso 0 psiquiatra, é importante. “Hoje, nés trabalhamos muito com equipe multidisciplinar, mas é fundamental que 0 médico de referéncia da mulher, no caso o obstetra, faa © diagnéstico e, se for 0 caso ¢ ele se sentir seguro, ini- ie o tratamento’ ‘A depressio nao tratada pode levar a puérpera ao li- mite, Se voc8 pensou em suicidio, lamento informar que sim, pode acontecer em casos graves. “A confusao entre a depressdo puerperal e o transtorno bipolar pode levar a um tratamento inefetivo, episédio maniaco-psicético e aumento do risco de suicidio’, alertou Alberto Trapani TRATAMENTO E APOIO FAMILIAR Tao importante quanto diagnosticar bem e precocemen- te,€ iniciar 0 tratamento correto. No artigo de capa des- ta edigio, os autores convidados explicam a abordagem terapéutica para os casos de depressao, mas nunca & 9s roma rosa “E necessario sensibilizar os colegas para anecessidade de aplicar os questionarios disponiveis para rastreamento da depressao pés-parto”, pontuou 0 Dr Elias Melo Jr demasiado dizer que o tratamento deve ser individuali- zado. De acorde com as caracteristicas de cada mulher, pode envolver desde ajustes sociais, terapia cognitivo- -comportamental, terapia interpessoal, medicamentos antidepressivos e, em casos graves, até a indicagao de eletroconvulsoterapia, Outro ponto que vale ressaltar so 0s desafios, mui~ tas vezes invisiveis, que precisam ser superados nessa ‘ase para tratamento eficaz. © medo de ficar dependente do medicamento esta nessa lista. 0 Dr. Renné Jr. confirma que, na area de sal de mental, muitos confundem os tipos de farmacos. No tratamento da depressao pés-parto, a classe de medica- mentos utilizada é a de antidepressivos, sendo os mais Usados os inibidores seletivos da recaptacao da seroto- nina, © ndo existem evidéncias cientificas que mostrem risco de dependéncia, “Ninguém fica dependente de an- tidepressivo’, afirmou o psiquiatra da USP A vice-presidente da CNE de Assisténcia ao Parto, Puerpério © Abortamento da Febrasgo aponta outro de- safio ainda: "Existe o lado da paciente, com seus medos e estigmas, mas ha também 0 lado do profissional da sade, que pode ter receio de usar medicagées durante a gravidez ou na fase da amamentacao’, contrapés Dra Alessandra Marcolin, “Esses antidepressivos podem ser aciministrados por lactantes, porque passam muito pou- co para leite maternat’, esclareceu René Jr A confusao, segundo o psiquiatra, ocorre porque mui ta gente chama os populares ansioliticos, que sa0 dro~ gas usadas para ciminuir a ansiedade e a tensdo, com Um efeito calmante, de antidepressivos, “Ansiolitica € calmante tém potencial de dependéncia quimica, mas & bom esclarecer que eles nao sao antidepressivos. Essa é uma informacdo importante até para 0 médico esclare- cer para a paciente” Por fim, mas ndo menos importante, é fundamental que as mulheres se sintam apoiadas nao s6 pela equipe médica quanto pela familia. Longe de ser um mar de rosas, com ondas calmas e pequenas, a gestacio ¢ a maternidade ja t8m desatios demais para que a socie- dade ainda coloque mais peso e culpa nas costas das mulheres. € tempo de acolhimento, que também nao pode ser deixado para depois,

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