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08/04/2013 06h05 - ATUALIZADA EM: 09/04/2013 14h04 - 

por Mariana Sanches (REVISTA MARIE CLAIRE)

São Paulo ocupada: a rotina de


quem vive em moradias irregulares
na cidade
Nossa editora passou quatro dias e duas noites em três ocupações de
trabalhadores sem-teto no centro da cidade. Conviveu com ratos, baratas,
esgoto a céu aberto, fome e escombros. E também com generosidade, boa
vontade, política e regras, muitas regras. Encontrou pessoas que se equilibram
entre a falta de um teto e a gigantesca expansão imobiliária da capital mais rica
do País

UMA DAS OCUPAÇÕES VISITADAS PELA EDITORA DE MARIE CLAIRE, MARIANA


SANCHES (Foto: Manoel Marques)

O interfone toca. A funcionária da portaria checa as imagens produzidas por


câmeras que monitoram a movimentação dentro e fora do edifício. Em seguida,
aciona o mecanismo eletrônico que faz o portão se abrir. As correspondências do
dia formam uma pilha sobre a mesa. São cartas destinadas às 237 famílias que
moram nos seis andares da construção. No pátio interno, meninos se divertem
jogando futebol. Alguém aproveita para ouvir um funk em alto volume, enquanto
o silêncio, obrigatório a partir das 10h da noite, não se impõe. No salão de festas,
uma mesa cuidadosamente decorada com papel crepon azul e bonecos do super-
herói Batman faz saber que um garoto completou 8 anos no domingo anterior.

Tudo lembra um condomínio comum, de qualquer grande cidade do País.


Mas o prédio da rua Mauá, 342 é diferente. Assim como outros 30 prédios
ocupados por trabalhadores sem-teto de São Paulo, o edifício da rua Mauá é palco
do embate entre duas garantias previstas na Constituição: o direito à moradia e o
direito à propriedade. A luta não é nova – movimentos sem-teto surgiram na
década de 70, acompanhando a transformação do Brasil rural em um país urbano.
Mas é cada dia mais urgente, especialmente em São Paulo, onde há 130 mil
famílias sem casa – e 290 mil imóveis não habitados. Ou seja, estatisticamente, o
problema não existe. Mas, socialmente, ele transborda. A maior parte dos
imóveis disponíveis para comprar ou alugar são inacessíveis para a
população de baixa renda – o que explica porque 890 mil famílias moram em
locais inadequados. 

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