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José Alcides Figueiredo Santos Estrutura de Posicdes de Classe no Brasil | Mapeamento, mudangas e efeitos na renda Belo Horizonte Rio de Janeiro Editora UFMG TUPERI Capitulo I - 0 esquema de classes neomarxista de Erik Olin Wright Aaanilise de classes representa para Erik Olin Wright a agenda central da sociologia marsista ¢ do seu projeto de reconstrugio da tradicio marxista de ciéncia social. Desenvolve-se aqui um guacro abrangente do esquema de classes neomarxista que orfentou um esforgo coletivo de pesquisa de Ambito internacional realizado na “kimas duas décadas do século XX! A exposigio realizada destaca a relevincia do empreendimento ¢ apresenta um apanhado da ragbes erticas de naturez: Erik Wright vem empreendendo um esforgo continuo par: cesenvolver um esquema de classes capaz de mapear as constincias eas variagdes n ras de classes das sociedades capitalistas, A formagio do pensamento do autor deu-se em contraponto as insu- ficigneias do pensamento marxista contemporinco para interpretar, ncia de posigdes referidas como de ratura de classes. A biografia do conceito-chave de “localizagSes contraditérias de classe” vinculow-se, igualmente 20 esforco empreendido de construgio de uma tipologia de classes aplicivel A pesquisa empftica elasse 3B ~ esrmuruna oe rosigh A polémica sobre a “classe média” eo primeiro mapa de classes de Wright Quatro estratégias analiticas gerais foram desenvolvidas no Ambizo do marxismo até o final da década de 1970, enfocando a problemética das siuagées de “classe média” na estrutura de classes. Uma primeira escratégia colocava quase todas essas posi classe trabalhadora; @ segunda altemativa optava por agrupar virias categotias de asalariados nfo proletérios soba denominasio de “nova pequena burguesia”; outra opcio fixava os segmentos de assalariados sitwados fora da classe trabalhadora numa nova classe cenominada “Classe Profissional e Gerencial™; a quarea estratégia intcxps essas posicdes nio polares como representatives de “localizagSes contradidrias denteo das relagdes de classe”. Wright fez a defesa de luma versao estrucural dessa ilrima, procedendo a uma anilise de tués dimensdes incer-relacionadas da dominagio ¢ subardinagio enteo da produgio, envalvendo o capital monetiio, consid ‘em termos do fiuxo de investimentos dentro da produc direcdo do processo de acumulagio no seu conjunto; 0.3 ‘0u s¢ja, os meios de produgao efetivos dentro do processo d dugio; ¢ 0 trabalho, envolvendo as atividades rransformativas dos produtores direros dentro da produgio. a relagio de classe funda: ‘mental entre trabalho e capita foi pensada como polarizada eantage- rica a0 longo dessas trés dimensGes. A nio-corzespondéncia entte és dimensoes gera, justamente, as “localizagoes contraditorias dentro das relagdes de classe”: gerentes e supervisores ocupam loca- lrzagio contraditéria entre a classe trabalhiadora ¢ a classe capitalista; pequenos empregadores, entre a pequena burguesia e a classe capi- talista propriamente dita; empregados semi-auténomes, enere a pequena burguesia ¢ a classe trabalhadora, Trata-se de localizagies contraditérias porque elas compartilham, simaltaneamente, caracte risticas relacionais de duas classes distintas.? Utilizando esse esquem: redrico, Wright encabegou a primeira investigagio sistematica da Capitulo T= 39 estrumuta de classes norte-americana baseada em dados colhicios de ‘uma perspectiva explicicam ses de Wright, As concepgées utilizadas no primeiro mapa de: gue valorizavam as nogbes de controle ¢ exploragio dentro das relagdes sociais de produgio, foram posteriormente Em uma inflexo autoeritca, sob a inspiragio da obra do cconomis Jolin Roemer, Wright colocou as relagoes de exploragio, em vez das de dominagio, no cerne dio seu novo mapa de classes, A obra de John Roemer Roemer considera que a teoria econémica marxista pregressa fracassou em estabelecer com precisio as causas da exploragio no capialismo. Ele const a definigio da exploragio em rermos de apropriasio do aabalho io do processo de crabalho no ceneo da arise da explora e das Gases. A teosa da cxploragio do teabatho & considerada incorreta, pois a forga de trabalho nfo € a tiniea mercadoria capaz de produzit mais valor do que incorpora. Roemer contrapée a essa idgia 0 teorema da explo So generalizada da mercadoria.* (© conceita de exploracio surge no enfogue de Roemer “pura- ‘mente definido em termos de relagbes de propriedade”.* Seu objetivo 6 formular uma metateoria da exploragao aplicavel a qualquer modo dle producio, Ela € melhor caracterizada em termos da propriedade de recursos produtivos ¢ a sua condigio necessivia € suificiente distribuigio desigual desses fatores. A propriedade diferencial d icios de produglo € destacada como a causa principal da exporagi0 capitalista. Uma pessoa ou grupo sfo explorados se nfo ‘uma partieipacio justa (eqhitativa) nos ativos produtivos aliensve's da sociedade. © sew empenho baseado em preocupa 40 - EeTRUTURA DE FOSIGDES DE CLASSE NO oRASK. éticas aproxima a nogio de exploragio de uma teoria da justisa baseada na igualdade de recursos.” Rocmer introduz adicionalmente 0 enfogue da jogos” para compatar diferentes sistemas de exploragio. Sugere que tum grupo deva ser visto como explorado easo tenfa “alguma opi saniicionatmente Faccivel de acotdo com a qual seus membros esta- iam melhor” — recorre-se a um Sjogo de retirada” para definir a cxploragio.’ Seus diferentes tipos sio definids através das regras de tetirada que fariam com que os membros de wa coalizo de atores estivessem melhores como resultado da sua revirada da ceonomia, A.adesio 8 metodologia padrio da economia neoctissica, cujo cenfoque requer que 0s elementos exégenos sejam considerados independentes uns dos outros, de modo que as aleeragdes singulares ceteris paribus possam sec estabelecidas ¢ os efeivos causais sobre as variiveis endégenas possam ser isolados, leva Roemer a desconsi derar as interdependéncias reais entre os fenémenos que emergem nas configuragGes historicas, a exemplo do diagndstico de Manx de que a introducio de um mercado de trabalho representou um fator de revolucionamento dos processos de producso. A formulaggo de que a diswibuigio da propriedade ¢ 0 faror determinance da exploragso capitalista, © ndo 0 processo de trabalho capitalise, baseia-se em uma anilise em que 0 processo de trabalho permanece inalreradlo indepen- dente de operar ou no em am modo de produsio capitalista? Ao colocar 0 conceito de exploragio no centro da anilise de classe, Wright acolheu 2 idéia de que a exploragio material é deter minada pelas desigualdades na distribuigio dos ativos produtivos. Entretanto, diferenciando-se de Roemer, defenden a idéia de transfe- réncias cle trabalho excedente que sio explicadas pelas desigualdades de ativos.!° Wright aprosimou-se de uma estratégia referida muitas vezes como uma abordagem de direitos de propriedade acerca da exploragio, mas considera que o sex enfoque da questio no presente dlfere significativamente daquele preconizado entéo por Roemer capitulo r= 41 © conceito de classe tradigio marxista 0 conceito de classe apresenta certas pro pricdades essenciais. Trata-se de um conceito relacional, pois as classes so sempre definidss no ambito das relacdes sociais, em patticular nas celagoes das classes entre si; ¢ também sio anragont ticas, pois geram intrinsecamente interesses opostos. As relagées de exploragio, ou seja, 0 vinculo causal entre 0 bemvestar de uma cl ivagio de outra, dao um carscer “objetivo” 2 esse antagonisino, da exploragio, por sta vez, encontra-se nas rodugao. O conceito de class a apenas a exploragio enraizada nas relagGes de prodagio e nfo rodas bes Sociais possi quais ocorre exploragao. A explo ragio bascada na produgio deve ser considerada wna caregoria dlstinta da oo produtiva, por causa do tipo especfico de intexdepen déncia que se cria entre explorado e explorador. Outros mecanismos determinadas relacées de propriedade. Classes dizem respeito a localizagdes estiveise estranuralm minadas na esfera das relagGes sociais de producio; definem-se em termos de relagies de propriedadt, ou seja, dos ativos produrivos controlados, ¢ formam categorias de atores sociais caracterz pelas relagdes de propriedade que geram exploragio. De modo ger pode-se especificar uma série de tipos de relagdes levando-se em conta 05 recursos produtivos que fornecem a base para a exploracio, Classes definem-se em termos de um mapa estruural de fre materiais comuns baseados na exploragao. Devido aos tipos espe ficos de ativos que controlam, as pessoss de uma deverminada chsse ‘enfientam objerivamente as mesmas amplas estruturas de escolhas ¢ tarefas estratégicas quando procuram melhorar seu bem-esta econdmico”."" Interesses de classe comuns significa compartilhar das mesmas estratégias otimizadoras materiais. ente redistributives do excedente eriado dentro de det 42 - esrauruna 03 SS Of CLASSE NO BRASIL Wright vem reconsiderando mais recentemente 0 papel da dominagio na constitnigs se. No seu livro Classes, em que desenvolveu 6 conceito de classe baseaco na conexio ativo-exploragdo, nem por isso deixou de susten de que “dominagio sem apropriagio e apropriagio sem dominagio nto ESTRUTURA De FOSIGDES OF CLASSE NO BRASIL A aplicagio pritica dos critérios para definir a posigio de classe na dimensio de autoridade nao seria rigorosa. As regras e instragoes (0s algoritmos} de classficagao de classe de Wright, na pritica, conteriam critérios muito fracos para distinguir gerentes ¢ supervi- sores de outtos empregados. O individuo entrevistado € considerado _gerente na medida em que participe de qualquer tum dos oitos itens arrolados de tomadas de deciséo, inclusive apenas formulacéo de parecer ow conselho. A categoria de gerentes inclu pessoas que nio ‘ocupam posigdes de gerente na hierarqnia formal da empresa, mas so gerentes pelos critérios de Wright. A elaboragio de critérios inuciosos, apicados porém de forma frouxa, afetariaigualmente a constituigio da categoria de supervisores, que abrange individuos ‘que sio supervisores puramente nominais na organizagio formal da ‘empresa, mas que a propria pes 30 possuarem auto- ridade sobre tarefas © em mat es sobre subordinados. Critica-se também o artficalismo de denominar supervisores iqueles gue estio envolvidos na supervisio limitada de um tinico subordinado, Seriam assinaladas diferentes Jocalizagbes de classe para individuos partilhando ocupagées e situagdes similares de emprego, por causa deal sada diferengas em termos de autonomia ¢ patticipagio em las de decisio. As medidas de controle organizacional nio leva em conta contexto desse controle. A aplicagio frouxa dos critérios de mensuragio de posigio hiersrquica leva a ilar as cate- gorias de gerentes e supervisores.® Marshall e ourros demonstram grande ceticismo acerca da real homogeneidade de determinadas Jocalizagdes contraditérias de Wright, Distorgées acumuladas pro- uzem grande niimero de prolecirios que nfo seriam realmente pro- lerérios, mesmo nos termos de Wright. A aplicagio do seu esquema sugere que a estrurara de classes d Inglaterra estaria em um estado avangado de proletarizagio, o que é contestado pelos autores. Os resultados empiricos derivados da aplicacio do esquema de Wright, particula o & Inglaterra, colocariam sérias d\ividas na utilidade da sua abordagem.”” Breen ¢ Rottman consideram que um esquema de doze local zagées de classe é mais plussvel, em termes, do que Weber descreve Capituto T- 63 ”, ou seja, um arranjo de st :mico-sociaistipicas, em lugar de classes sociais propriamente, isto & agrupamentos de siruagées de classe demograficamente definidos. ‘Tis localizacées de classe do a impzessio de representarem con- 05 fracos para processos de estrururagio de coletividades sociais reais, No plano operacional, segundo 05 autores, o esquema requer oralhes empiticos considerdveis acerca das condigées de emprego para mensurar o grau de posse de um ativo particular, camando-se, inclusive, a distingio mipla que & feita para cada ativo no que s¢ rofere a posiges de classe dominante, contraditéria ¢ subordinadk Savage e outros criticam 0 modelo analitico quantitativo dos Sesquemas de classe” que tratam as posigdes de classe como “va ridveis independence” utilizadas para inferie resultados apurados no plano das “varidveis dependentes”, em que se busca mensurar ‘0 impacto dos fatores determinantes em termos de manifesracBes sociais padronizadas na esfera do individuo (desempenho educa. ional, atitudes, padz6es de woro etc), Essa abordagem seria incapaz de demonstrar os vinculos determinantes causais precisos entre classe social ¢ outros fendmenos sociais. Os autores considera, igual- ence, as implicagies negutivas de se coneeber a estrurura de clases como um conjunto de lugares vazios definidos em termos de posigdes econdmicas, a que 5 a investigacio dos processos «que vineulam as pessoas 2 lugares particulares. O fato de detecmi- nados lugares serem condicionados pelo género do seu ocupante, ‘como alerta a critica feminista, demonstra que os lugates de classe 10 podem ser especificados independentemente das pessoas que os ‘ocupam. Savage et al. defendem um enfogue realista que concebe as classes como entidades com detertninados poderes causais, reve lados através dos seus efeitos. Estes dependem de uma variedade de condigSes conzextuais contingentes ¢ se manifestam notadamente nas situaGbes histéricas decisiva. Privilegjam o estudo do modo como as classes sociais se constituem em coletividades sociais ¢, entio, como podem influenciar 0s processos de mucangz historica, A eseru- tura das posigoes de classe nfo’ pode ser simplesmente considerada como dada; 0s processos que estruturam essas posicées tém que set ‘econé 64 esmUTURA DE Postc objeto de investigagio. O estudo de como as classes se formam como colerividades sociais pode implicar na investigacio de como (08 proptios provessos de formacio de classe afetam a organi desorganizacio ¢ reorganizagio das posicbes de classe.”* As classes sociais sio vistas em primeico lugar, esobrenudo, como coletivicaces sociais estveis formadas por pessoas com niveis seme- Ihantes de rend e remuneracio, estilos de vida, culrara e orientag politica, A andlise de classe deve lidar priortariamente com a questio da formagio de classe ¢ nao tanto com esquemas classificatdrios. As classes sociais esto radicadas em processos de exploracio. Dite- rentes tipos de exploragio dio origem a distincos padres causais de entidacles sociais especificas, Entretanto, nfo basta analisar as pro- priedades causais de formas determinadas de exploragio, O vinculo entre tipos de relagées exploradoras ¢ a formagio de coletividades sociais particulares implica 0 exame das condig6es contingenzes que viabilizam ou potencializam o exerc{cio das propriedades causais.* Crom os mapas de classe de Wright ¢ de Goldthorpe, constraidos a partir de tevanramentos de daclos apoi- ados centralmente na ocupacio, como um enfogue de “agregaclos de empregos” & andlise de classe. Essas tentativas sio defeituosas ji ‘que nao & possivel empiricamente estudar as “classes” isoladas de ‘outros fazores que estruuram a divisio do trabalho como um todo. Crompton analisa 0 uso problemstico da variével ocupagio como medida de classe. Posigdes oct Wo incorporam as dife- rentes dimensGes da desigualdade nem capruram adequadamente a realidade das relagies de classe. Além disso, classe tem sido pensada teoricamente como algo mais que simples agregados ocupacionais, Agregados de emprego nio representam “entidades reais com inte- resses identificaveis ¢ capacidacles de agir”.* 1so da estrutura de emprego, adverte Crompron, nfo permite chegar a uma medida “no comtaminada” de classe social, pois ‘outros fatores entram na prdpria estruturacso das relagdes de em: prego. Revela-se extremamente dificil separar o “econémieo” do “social” on “cultural” na andlise de classes. As esteururas de empre- 10, ndo como desconsiderar, sio inevitavelmente condicionadas Capitulo 1 pelo género.” Cabe & posi dentro da divisio social do trabalho, em lugar das caractertsticas individuais, o papel determinante da posi¢io de classe. Entretanto, na medida ém que as posigoes sio, de fro, condicionadas por género— no sentido, por exemplo, de acu “masculinas® ou “femininas” — pode-se dizer, entfo, que o géneto “sobredetermina” a posigio.” A estrurura de classes (empregos) & sobremaneira atravessada pelo faror género, de modo que é ciffcil dlesenredar 0s efeitos de “classe” e “género®.” A divisio do trabalho por género ¢ uma realidade da vida social, proeminente tanto na esfera piiblica quanto na privada. A persisténcia da segregg ‘ocupacional divide a estrerura ocupacional em ocupagdes “feminin: ¢ “masculinas”. O status € as recompensas de cerca dererminadas historicamente pelo fro de serem ovupagbes “femi- rninas”. © “patriarcado”, a dominacao da mulher pelo homem, tem sido um sistema de moidagem classe, sendo que a mulher softe uma dupla desvantagem, decor- rente tanto do seu sexo quanto do seu emprego."* A segregacio ocupacional de géncro esta sendo reproduzida pela Fentes, que sfo 0 produto de convengoes passadas a respeito das relagoes “aprupriadas” entre os sexos, das caracteristcas particulares das economias nacionais cic, assim como esto sendo transformadas por priticas divergentes.” Com justa razdo, os esquemas de classe baseados em emprego caem sob severo julgamento ctitico, como ocorreu no debate em rorno da “questio da mulher”, devido 3 propria extensio das mudangas nas instituigées de emprego e rela Gionadas ao emprego. sociais subjacentes 3 condigio de classe, assim como vinculos entre estramura, consciéncia ¢ acio, nfo podem ser adequa- damente apteendidos por abordagens que “descansam, em tltima anilise, sobre a agregacio de atributos individuais”."' Enrreranco, apesar dos problemas, que no podem ser obscurccidos, medidas baseadas em empregos conservam a sua utilidade enquanto indi- cadores de desigualdades de classe ¢ de “chances de vida”. Afinal, © trabatho permanece como “o mais significative determinante do destino de vida da maioria dos individuos e familias nas sociedades ‘estrutura de emprego similar & 65 66 SSTHUTIRA DE FOSIGDES OF CLASSE NO BRASIL industriais avangadas” * Crompcon acimire que 0 enfogue de “agec ¢gados de empregos” deve continuar a merecer a atengic da sociologia, dada a demonstragio da persisténcia de padres de desigualdade social ce vatiagbes de aticudes associadss a empregos." Consideragées finais ‘Wright defende a existéncia de uma conexio entre propriedade e ativos produtivos, exploragio, dominagio na produgio e diferen- o de classe. Caberia problematizar a possibilidade de geracéo plena de relagies de classe na base da propricciade de ativos de quali- ficagdo. Weight nfo trata os especilistas, por esse ¢ outros motivos, como uma classe enquanto tal. Prefere falar, n0 presente, que 05 especialistas ocupam uma focalizaco privilegindta de apropriagéo nas relagbes de exploragio decorrentes da sua posigio estratégica na organizagio da producto (como controladores de conhecimento} ¢ da sua localizagio estratégica na organizasio dos mercados de trabalho (como controladores de uma forma escassa ¢ trabalho). As relagées de dominagio dentro da produgio (autor dade) foram reintroduzidas no esquema de classes. Nessa nova reinterpretagio o papel da autoridade aparece vinculado 3 idgia de posigio privilegiada de apropriacio nas relagbes de exploragio. Essa reclaboracio teérica da localizasa0 dos gerentes, que enfatiza o enga- jamento em préticas de dominaio na producso ¢ a posicio es gica dentro da organizacio da produgio, nfo sé como nega, implica minimizar o estatuto de “ativo produtivo” do controle organiza- ional. Caracterizar a posicio dos especialistas (€ também dos gerentes), em termos de localizasao privileging de apropriagéo has relagGes de exploracio, representa, pelo menos, uma atemmagi0 redrica da concepeio plena de miltiplas exploracies. Wright consi- dra que os seus tiltimos estudos, tomados em conjunto, apesar das forca de Capituio 1 - 67 anomalias registradas, confirmariam a fecundidade do coneeito de localizagbes contraditorias de classe, Encretanto, reconhece que a nogio de localizagdes contradit6rias perdeu 0 nivel abrangente original de coexéncia re6rica.* Esse reconhecimento implica tam bbém, em rermos reéricos, um enfraquecimnento da idéia de Locali- zagoes contradit6rias no sentido de combinagdes assimeétrica mutuamente neutralizadoras de diferentes formas de exploragio. Wright revém a nogio de localizagées contraditérias no sentido de cessas posigoes de classe média se ligarem de modos privilegiados 03 processos de exploragio ¢ dominagio. Os interesses de classe incorporados nos empregos ce gerentes¢ especialistas combinam os interesses opostos de capital ¢ trabalho." abe considerar, igualmente, os limites de uma abordagem & andlise de classes que, em certa medida, se mostea “eentrada em empregos”. Importantes situagdes out processos quee no se mani- festam adequadamente a nivel da estrumura de emprego escapam ‘anilise. Wright reconhece essa limitagio metodolégica da abor- dagem quantiativa das tipologias de classe. Os levantamentos de dados por amostragem (semple surveys) diffe exploragio analitica dos extremos dentro da est - propriecirios de capital ¢ 0s segmenzos mais marginalizados da populagao. ‘As questdes que recaem sob 0 crivo exitico, virias das quais apontadas ¢ enfientadas pelo proprio Wright, no devem obscurecer ‘os méritos da sua obra. A andlise de classe pode privllegiaranalitiea- mente, como defende Wright, a concep¢io de plano micro de lanl zagdes de classe dentro de relagies de classe macroestrucuras. A nosso de loeatizagto de classe eraduz uma visio de condicionamentos operantes sobre os agentes, a0 fazerem escolhas cagirem no mundo Seu esquema tet apa. de expressar © orientar a abor- agem do papel de posigdes intermedirias de classe na complexifi- cacio da estrutura sotial da sociedade capitalista contemporinea. Alé disso, desenvolve uma nogi se trabalhadora analiticamente 68 = esrauruna 0€ POSICDES DE CLASSE RO. BRASIL marxista, a reelaboragio do conceito de classe preserva as nogées de apropriagio de ativos produtivos ¢ de exploracdo, 0 que, no caranto, info impede Wright de incorporar o papel da dominagio dentro da producio na geragéo de diferenciagées nas localizacoes de classe. ‘Além de desenvolver um agudo senso critico € autocritico, o autor constrdi um instrumental analitico dirigid sistemética, que realimenta 0 seu pensamento ¢ chega mesmo a contribuir para que a sua obra se projete em reelaboracies. Em tum contexto de crise de paradigmas, 2 teoria ¢ a tipologia de classes neomarxista de Wright inscrevern-se em wma obra aberta € em progresso. Capitulo II - Mapa de posigées e segmentos de classe no Brasil de hoje A investigacio aqui desenvolvida envereda por um campo de estuda raramente explorado no Brasil, 20 compor um mapeamento da disposigio estrurural e dos perfis especiticos das posigGes ¢ dos segmentos de classe no Brasil de hoje, recorrendo & base de micro~ dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilios (PNAD). Com essa finalidade, o estudo emprege wna tipologia derivaca, otiginalmente, do esquema de classes neomanxista de Erik Olin Wright, porém, alterada em diversos aspectos em relagko a0 seu ponto de partida, ¢ cajas categorias empiticas foram construldas levando cm consideracio as possibilidades cas limiragbes da base de dads utilizada. O processo de mapeamento de posicdes, realizade 3 luz de um esquema redrico, permite realizar wma aproximagio analf ica ds tragos relevantes da diferenciacio de classes da sociedade brasileira. A configuragio de uma visio de conjunto da eserutura de pibigdes de classe envolve um processo de decomposigio, que vai do todo aos seus elementos constituintes, ¢ de recomposigio, que va dos componentes 20 todo articulado. A consideragio de outros fatores proeminentes ajuda a compor o quadro concreto da estrutura de posigies sociais no Brasil. Esse € 0 caso da distribuigao das posigGes de classe nos macrossetores de atividade econdmnica. A consideragso das grandes regides geogrificas incorpota uma Fonte de diversicade de reconhecida imporeéncia em paises como o Brasil pois reflete os processos de desenvolvimento desigual do capicalisme ¢ exptessa a divisio socioespacial do trabalho. A convocacio das varidveis género ¢ cor ou raga — inclusive a combinagio de ambas — propicia uma arriculagio dos componentes posicionais com os chamados fatores atribuids (asripsine)? 70» esteurune OE POSIGOES DE CLASSE NO SRASIL Desaflos tedrico-metodolégicos & construcdo do mapa de posigées de classe © desenvolvimento de ums estratégia de operacionaliza esquema de classes neomarxista de Erik Wright, com base nos dados da PNAD, envolve algumas dfculdades e opcées. Wright considera que clase € ocupagio possuem diferentes estatucos na teoria marxista Ocupagio corresponde & dimensio das relagdes téenicas de pro- gio, enquanto classe lz respeito a localizagées dentro das relagBes produgio.# Delineia-se, nessa formulacio, um contraponto titico acs esquemas de classes que sc basciam em agregados de categorias ocupacionais. Essa postura teérica nio impede, por outro lado, 0 surgimento de criticas que colocam o autor como represen ante na analise de classes de um enfoque bascado em “agregados de empregos”. Em uma reflexio autocritica, ligada & elaboracio das nodes de localizagbes de classe mediatas e temporais, Wright egou a admitir que 0 seu esquema de classes pecava por trarar as localizagbes de classe como basicamente equivalentes a “empregos” (jobs), ocupados por incividuos, ea estrutura de classes, entéo, como tum mapa relacional da estrutara de empregos.* A noxfo de “posicio na ocupacio” da PNAD, a bem da verdad, no diz respeito propriamente a uma matétia de relagdes téenicas de produgio, Distinguem-se as categorias de posicio na ocupacio de empregado, trabalhador doméstico, conta-prépria, empregadtor € outras. As principais categories dizem respeito as formas histéricas espectficas assumidas pela divisio social do trabalho na sociedade capitalista — em um grau ainda genérico, sendo mesmo “tosco”, representim um corte macrossocial que delimira uma estrurara de posigSes de classe. No empreendimento de operacionalizacio do esquema de classes, 2 dependéncia em relacéo & utliza mente de “agrupamentos ocupacionais” recai mais na categoria de cempregados, 0 que ndo guer dizer que seja um problema localizado «, por isso, menor. Ao contnirio, a complexidade assumida pela Capitulo It cestrutura de classes dos paises capitaliscas contemporincos envolve muito 0 processo de diférenciagio de classe dentro da categoria de assalariados. ‘A.construgio da tipologia de posigies de classe exigiu, além de outros desafios, a resolugso do problema tedrico-merodolégico de como classificae o denominado “Trabalhador ndo remuneratio ‘membro da unidade domiciliae”, que representava quase 9,0% dos individnos com posig6es definidas. A forma como essa ca ¢goria origindria da PNAD se encontra constituida no se sinzoniza com um esquema de andlise de classes, pois o trabalhador nfo rem snerado pode estar “ajudando” um membro do domi gado agricola, conta-prépria ou empregador (posicées distintas de classe). Ao focalizar a anilise apenas na pessoa de referéncia da familia ou do domicilio, seja como faror definidor, indicador ou ‘rosy da posigZo classe do conjunto, o problema se restringe bas (0,2% das pessoas de relexéncia do demictio€0,5% das pessoas de referéncia da fimmiin enquadram-se nessa categoria 2 PNAD de 1996, Esse problema cxige uma resolugio parcicularmente 10 se considerar ot diferentes planos de anslise: a posigio da pessoa de referéncia da familia, a posicio dos individuos ¢ a clasificagio~ ceuzada da posigio da pessoa de referéncia e do conjuge. Em rermos dos efetivos de nao remunerados contabilicads pela PNAD, 73,5% dos trabalhaciores domiciliares no remunerados se encontram inseridos em atividades do setor agricola. A arcegimen- ragio de trabalhadores nio remunerados & mais signficativa entre 0 comta-préprias (22,4%), particularmente os agricolas (49,9%), ¢ 05 pequenos empregedores (19,296). Apenas 8,0% dos trabalh: manuais ageicolas mobilizam ndo remunerados. Considerac rico-metodolégicas fiundamentaram a decisio de atribuir a parte desses trabalhadores nfo remunerados, de modo derivado, a posigio A classe da pessoa de referéncia do domicitio’ Em um estudo sobre 0 srabaihadores da agricultura brasileira, Graziano da Silva (191 agregou de modo semelhance os “dependentes ativos” no mbiro da produgio camponesa (os dados nao cram de PNAD, mas do INCRA, ¢ a referéncia nio cra 0 domicilio). Pode-se considera iclio — empre- IHUTURA OE FOSIGDES OF CLASSE NO BRASIL também que o trabalhador nfo remunerado, “ajudante” de um conta-prépria urbano, compartilha, no nivel da relacio de trabalho familiar, a condligio de auso-emprego urbano, Em um estudo sobre a “queda ¢ 2 ascensio” da pequena burguesia americana, Wright tratou os “membros nio remunerados da fannlia” como parte do “auto-emprego total”. Levou-se em conra a naturgza “familiar” dos empreendimentos, considerando que essas denominagées podem refletir convengGes culturais e relagdes de género, poréma locali- 2agI0 de ase essencial dessas duas categorias € a mesma.* O tratamento foi utilizado, também, para outros trabalhadores nio remunerados em fazendas ou negécios familiares, considerados de pequenos empregadores ou capitalistas, conforme o nimero de cempregacos. Essas situages foram ridas mais como manifestagdes de convengdes culturais ou hierarquias baseadas em idade e género, existentes na unidade familiar, acerca de qual membro da familia € © proprietirio “real”? A solugio de derivacio da posigfo de classe se revela também. adequada para 0 caso dos trabalhadores no remunerados qu ju dam” empregacios agricolas, pois a agregaczo da mio-de-obra de membros da familia pode ser vista como uma forma de superex plocagio do trabalho, vinculada ou nio ao trabalho por “produgio”. O trabalhador “principal” ¢ o “ajudante” sio ambos trabalhadores agricolas. A situagio dos trabathadores no remunerados que “ajudamn” cemptegadores ¢ mais complexa. Entre os membros da familia hum comparzfhamento das vantagens associadas& condigio de classe ainda que nfo haja uma “retirada” individual de renda, No caso da relagio ence a pessoa de referéncla e 0 cOnjuge fd, na maioria das vezes, uma co:propriedade juridica dos ativos de capital. Na medida em que se considere que o foco da anilise no ¢ forma de insercio da atividade individual (comandar o negécio ou “ajudar”), mas a con- digfo familiar abrangence, 2 solucio de estipular a posigio de classe dierivada parece adequada. Capitulo 11 Grau de cobertura e unidade de andlise A definigio do grau de cobertura da anilise de classe possui implicagbes ponderdveis sobre os resultados da investiga senta um problema relativamente cspinhoso. Wright Goldthorpe ‘convergem na escolita mais restrita dos individuos que estio e: fos ina forgs de trabalho ativa. A opefo revelavantagens em rermos pragmaticos de conveniéncia, mas remere para os diferentes signifi- cados socioldgicas que podem ser atrbuldos 2 nogo de atvidade/ inatividade econémica, Além disso, a pesquisa de classé n0 pode ser indiferente 4 implicacio socioligica do crescimento, na sociedade contemporinea, de uma ampla € heterogénea categoria social de economicamente inativos. Cabe ponderar, por outro lado, que todas as familias esto implicadas na estrutura de classe, de modo que ‘movimentos de entrada e saida do mercado de trabalho aio mula 73 auromaticamente a localizagio de classe da fina.’ Marshall etal.“ sustentam que a andlise de classe focaliza os grupos ocupacionais, a localizagio mas hierarguias organizacionais ¢ demais atributos pertencentes d esfera do trabalho. A exclusio da agenda de pesquisa dos aposentados, dependentes do estado, ¢ das dona’ dé cas sido solapa a légica da anilise, visto que fais grupos no revelam earic- teristicas relacionadas 3 classe tio distinta dos ocupados.* Morris ¢ Scott, 20 contritio, apontam as fragilidades das suposigoes subja ences a exclusio daqueles scm ocupagio, nos esquemas em que classe ¢ entendida indevidamente como uma mera matétia de c fcagdo ocupacional. As chances de vida de um aposentado dependem, ponder. da ocupagio em que se aposentou, do fato de possuir ou nao propriedade edo prau de usulTato de pro. visGes estatais de bem-estat A situagio de status do aposentado como cemandante de bem-estar pode compor um aspecto critico das suas chances de vida, Entendidas como os “estratos” concrer que compoem os sistemas de estratificac is 5 08 resultados dos processos derivados tanto de situagées de classe quiito de prerrogativas de status.” 1,8 classes soc! ESTRLTURA OF POSICDES DF CLASSE NO BRASIL Edgell demonstra que o esquema conccitual usado, assim como cemnativas Operacionais em termos de unidade de andtise ¢ grau de cobertura,afeta fortemente a dimensio da classe rabathadora ¢ a proporcio dos casos “nio classficados” ¢, por isso, no cabertos divetamente pela andlise. Ao considerar a aplicagio de um esquema conceitual de classe social, tendo o lar como unidade de andlise, a inchusio apenas dos economicamente ativos implica er uma rechigio de 60,0% para 39,0% do tamanho da classe trabalhadora inglesa, alm de deixar 34,0% da populagao adulta como “no classificada’ quer dizer, excluida da cobertura da anilise direta. ‘Wight lamenta a deficiéncia dos levantamentos de dados usuais por amostragem, como os vinculadds 40 projeto Sob sila corde: znagio, na abordagem dos segmentos mais destituidos da populac clos paises capitalists.” Hum comprometimento da investigas quando a mesma fica centrada na forca de trabalho ativa, definids de forma convencional. A presente investigacio utliaa a base de micro- dados da Pesquisa Nacional por Amostra le Domicilios (PNAD), exjos elementos conceituais © operacionais nio sio originalmente conebidos para o propdnitu espeuficy de uma audise de clases. Os dados imprescindiveis & constituigio das categorias empiricas dizem respeito a0 universo de ocupados ¢, particilarmente, & ocups principal da pessoa, Entretanto, cabe registrar que desde 1992.a PNAD norteia'3e por definigdes amplas de “trabalho” e de “ocupagio”. Os cupadios no se circunscrevem aos engajados em trabalho remune- rado e no remunerado, na produgdo de bens ¢ servigos. A definig considcrada inclu as atividades para autoconsumo ¢ autoconstragio pata a esfera do domictlio, realizadas ainda que seja sama hora na semana. Os critérios so tio eldsticos que abarcam, na pritica, “desempregados disfarcados” trabalhando em edificagées © benfei- sorias par uso de algum membro da unidade domiciia. A pesquisa reveli-se razoavelmente flexivel para lidar com a realidade das dite rentes formas de trabalho parcial ¢ precirio existentes no pais, A ntilizagio de tipologias de classe demancia o equacionamento da complexa questio da unidade de assinalamento da posigio case. A escolha da unidade de andlise desperta problemas fundamensais Capitulo IE - 75 concerentes a0 entendimento cos mecanismos através dos quiais a variével clase € explicativa. Uma abordagem aprofuundada dessa problemética demanda uma andlise pormenorizada da camposigio de classe da fimilia e dos efeitos contestusis derivados das relagbes entre os seus membros economicamente ativos. No. trabalho de mapeamento de posigées aqui desenvolvido, serio confroncadas as posig6es dos individuds ¢ das pessoas de referéncia da familia, Entretanto, quando a tipologia for ecuzada com ourras varidveis, apresentam-se as distribuigbes de freqiiéncia, considerando a posigio de todos os membros da familia, A Tabela 2.1 mostra as duas eepresentagées ou imagens da estrutura de posig que surgem a depender da escotha da unidade de porou-se, de forma complementar, nessa tipologia estrit devivada do esquema de classes de Erik Olin Wright, a posigio na cocupagio, no periodo de capracio de 368 diss, para as pessoas inativas ou desocupadss na semana de referencia, na definicio da localizacio do individuo dentro da tipologia, devido particularmence A questio do trabalho sazonal ¢ precio na rea rural.” Exik Weight constréi uma sipologia de classes na sociedade capitalista contemporinea disigida & pesquisa empirica sistemstica, ‘em fungio da apropriagio de ativos em meios de produgio, ativos de qualificagio ou credenciais © dominacio na produgio. Na rpolagia Liisi, essas dimensdes sio dicotomizadas, diferenciando seis | lizagbes dentro das relagbes de classe. Jé a ripolagia seseotvida ‘uma tricotomizagio das dimensoes, dando lugar 2 doze s de classe." A expressio dos fatores diferenciadores de posigSes de classe, na tipologia apresentada neste trabalho, envolve uma combinagio de solugdes metodotdgieas(dicotémicas com trico romicas) e agregagio de posigées. Trata-se de uma opcio perfeia mente compativel com o esquema redrico de classe neomarxista dk Wright. E bom lembrar que o prdprio autor chega ¢ adotac, em vrios estudos, uma tipologia restrita em decorréncia da limiragio da dimensio da amostra, da narareza dos dados dispontveis ¢ do contexco analitio, Em um estudo sobre fronteiras ce classe ¢ mobi lidade recorre-se a uma tipologia muito préxima da solugio aqu 76 + EsTaTURA DE FOSICOES OF CLASSE NO ORASIL oferecida: empregadores, pequena burguesia, gerentes & supervi- sores especialistas, gerentes & supervisores nio-especialistas, profis- sonais, semiprofissionas ¢ rabalhadores. TABELA 2.1 Distribuigio das posigies de classe dos indiviciuos ¢ das pessoas de referencia da familia - Brasil, 1996 Toon | oO de rac Dosigbes de classe eee Regt | Om] Fremutnch | _ Copal aaiace] os] 283483) 07 Peuos eee | nemeos | zara] 35] 16 “9 uroemprgndos [20985570] 300) 11assaxs| 336 sores credenciados| 597.021) 08/86 a Sperone oto | 1755636 25) Lusrado] 34 ersten Espsitior — | La20206 masa] aa Tatahwdons | 5002253] 4a] raozs0r] 4a Tebaltwdors | 3725100] 483| Isso2ees| 488 Emoto | goagas0] 6] 14s2soo] 43 Tora 69356785] 1000] s¢035512] 1000 FONTE - IBGE. PNAD 1996 cm Microdads. Dados exp Capitulo 1 = 77 conjunto de trabalhadores proletarizados ¢ auto-empregados forma, nos dois critérios, perto de $0,0% e constituidas. Os individuos formam um nimero menor de auto empregados, porém maior de trabalhadores proletarizados ¢ espe- cialmente de trabalhadores doméstivos, enguanto as pessoas de referéncia da familia formamn um contingente maior de auto-empre gados, porém menor de trabalhadores proletarizadas¢ trabalhacores domésticas. Akém disso, existe wm maior miimero de pequenios empre- gadores e gerentes/supervisores no credenciados entre as pessoas de ‘eferéncia da fumflia, Parte importante dessa diferenga se prende 20 fato de que a classe dos empregados domésticos, 2 canégoria que possui a maior flurmagio relativa, produzindo parte da flucuagio das demais, é ocupada quase rocalmence por mulheres (93,0%) ¢ repre- senta uma patcela reduzida das pessoas de referéncia da familia com uma posigio de classe assinalada."* Ao se apresentar na Tabela sigdes de el: 1 o resultado da aplicagio. cstcita do esquema de classes neomarsista, alta 4 vista na distribuigo das posigoes de classe, de modo especial, a hipertrofia da categoria de anra-empregadios, que parece andmala, mesmo levando-se em conta as conhecidas particularidades de paises como o Brasil.” Essa situagio, inclusive, fez.com que se evieasse a teeminologia “pequena bburguesia”, com suas inerentes implicagbes tedricas, j4 que fa visio imarxista essa classe € formada por aqueles que possuem suficiente capital para trabalhar para si mesmos, mas nfo para empregar traba- Inadores assalariados. Optou-se pela denominagio mais genérica de anto-cmpregados. O agrapamento em questio possivelmente revine sicuag6es dispares: pequena burguesia formas de trabalho precitio e assalariados disfargados. As pessoas que dependem de alternativas de sobcevivencia baseadas em trabalho prec: zadas pequeno-burguesas como se possuissem “suficiente capital para trabalhar para si mesmas”. Muitas sio tio destituidas de “ativos capital” quanto os trabalhadores. Revelou-se necessitio, por esse € ‘outros motivos, desagregar ou segmentar a tipologia original, o que leu origem a uma tipologia de posigSes ¢ segmentos de classe 7B - esTRUTIRA DE POSIGDES BE CASSE NO BRASIL A dpologia segmentada foi consteufda para captar diferenciages Jnternas nas posiges de classe de pequenos empregadores, auto empregados c trabalhadores proletatizados. Dentro dos limizes colocados pelos dados disponiveis, ela pretends expressar ¢ os fatores diferenciadores, vinculadas & divisio social e técnica do trabalho, que renham conseqiiéncias em rermos de desigualdades Sociais, O desenvolvimento da divisdo do trabalho gera “fragme tagbes” do capital e do trabatho.§* Processam-se dererminadas “gra- s hierarquizadas” que decompéem as clases em segmentos.” a estratificagio interna, que é caracteristica de todas as classes, das categorias de classe, antes comple: menta a andlise de classes." As diferenciagSes introcuzidas.interna- e nos pequenos empregadOns € atito-empregados urbanios se relacionam com a dimensio de controle de “ativos de capital”. Os trabalhadores proletarizados foram segmentados, considerando-se arele minados fatores associados 20 Tipo € a0 s Into a posigdo de classe quanto a posicia ocupacional as. imporsantes de desigualdade, ean ara entender as Fontes posicianais de recompensss clos empregos. Considerivel parte da desigualdade € produzida pela 0 ocupacional A tipologia segmental corresponde Jireralmente a uma desagregagso interna da tipologia original. Pode- se falar dessa tipologiz segmentada que a sua derivagio tedrica de tama cipologia de classes representa sua especificidade em relagio &s tipologias sécio-ocupacionais. A estratégia analitica considerada se sintoniza com a visio de que a estrutura de classes, nos paises capitalistas, se desenvolveu no final do milénio em uma diregio mais fragmentada ¢ complexa de subdivisdes. A pesquisa empirica de estratificacio de classe, alerta John Score, nfo pode concentrar 0 seu foco apenas nos grandes conjuntos de classes amplamente defi nidos, como a divisio tripartite entre classes privlegiadas, interme- didrias © subordinadas, perdendo de visea as divis6es incernas, em rerimos de relag6es de propriedade ¢ de emprego, que matizam a canfigurasio social monolitiea de classe social.” Capitulo 1 A Tabela 2.2 estampao mapeamento das diferencia prevalecentes no Brasil de hoje, conforme os critérios alzernativas de individuos ¢ pessoas de referencia da familia, A distribuiggo da posiges apresentada incorpora 37,0% de nfo remunerados, q) tiveram a sua posigio derivada da pessoa de referéncia do comicitio {os demais foram exchuidos). Os nio remuneradas que tiveram 2 posicio derivada representam 17,5% dos auzo-empregados agr colas, 10,3% dos pequenos empregadores menos capitalizados, 8,296 dos pequenos empregadores mais capitalizados, 6,0% dos empregados capitalizados, 4,5% dos capitalistas, 3,6%% dos rraba- Ihadores agricolas ¢ 2,0% dos auto-empregados descapitalizados. Os proprietarios de ativos relevantes de capital ‘A classe capitalista mostra-se resistente & investigagao sociol6- sgica através de levantamentos de dados por amostragem centracios no domiciio. Esse problema decorre nao apenas da dlficuldade de investigar o seu “pequeno niimero”, mas guarda relacio com 0 pro- cesso maior de transigdo da propriedade individual pata & propric- dade acionstia institucional do mundo das corporagoes. Em amplos serores da economia capitalist, a propriedade individual foi sobre- pujada pelas estrutaras de poder despersonalizadas, caractersticas do mundo das sociedades anénimas ¢ das grandes corpora iio quer dizer que a presenga das familias tenha desaparecido mundo dos negécios. A importincia da possessio pessoal de agoes pelos individuos e familias depende dos padrées insticucionais de desenvolvimento capiralista € dos mecanismos de mobil capital que prevalecem na economia.2® O presente estudo segue de mado aproximado a “convengio arbieriria” adotada por Wi operacionaliz ‘entre 08 proprietérios de ativos 80 - esramuna bt osigBes OF cuasse esi 1.612.768 | TOTAL tal, que recorre a0 mimero.de.empregados. A PNAD possibilita solugio diferente. Trax <.ador fraco, pois no mensura nem expressa adequecamente a quanti- dade de capital possuida.* Foi utlizada na constituigio da categoria, segiiindo de perto a solugio operscional original de Wright, alint de demarcagio de empreendimentos com 1] empregados ou mai Os detentores da posigio de classe de “eapitalistas” perfizem um contingenteinfimo de 0,5% a 0,7% das posigoes.¥*O resulrado deve ser lido considerando as especifcidades ca extranara socal do pals © 0 Faro da PNAD “ampliae® as nogbes de trabalho ¢ de emprego, que sezvem de base para a atribuigio da posigio de classe, intlando particularmente as earegorias de auto-empregados sem empregados, Reflexo possivelmente de uma rendéncia de profissional administracio do negécio, apenas 6,7% dos capitalistas ocupam trabalhadores no remunerados membros da unidade domicile, ‘© compromerimento com o empreendimento se manifesta no fato 0 se, admire 0 autor, de um indi de somente 8,8% dos capitalistas possuirem dois ou mais trabalhos. ‘Os capitaliseas esto amplamente concentrados em sctores no agri- Ts (94,494) ‘senda qe 40,396 na indileria transformativa, 25,0% nos servigos distributivos ¢ 11,3% em servigos produtivos (ver Tabela 2.3), Ao incorporar A andlise a problematica da disteibuigdo setorial, cabe explicitar particularmente o conteiido dos grandes serores de servicos, j4 que as classificagbes de indiisria extrativa ¢ indlistria teansformativa seguer 0 entendimento estabelecido ** Os setores de setvigos sio classificados de acordo com o destino da sua prestacio € 0 seu caréter colerivo ow individual. Os servigos diseributivos abarcam os processos de distribuicéo dos bens aos consumiddores finais; os servigos prodotivos dizem respeito a0 fornecimento de servigos a Outros produtores, sendo, por maareza, servigos interme- difrios e nio de resultado final; os servigos sociais se dirigem mais As necessidades e demandas coletivas; por fim, 0 servigos pessoais, ‘mais heterogéneos, possuem em comum a orientagio ao consumidor individual tule I~ BL 83 Capitulo 11 OSICEES OF CLASSE NO. ORASIL 82 - esrauruna Zev eve | ) Lasse VION seve ee) ras exe! (on aceswe 0) sr ces acsorz oo) oxoz0e ceo) 8c VISE 84 - eSRUTURA BE SOSIGDES DF CLASSE WO BRASIL No tocante ao setor agrério, cabe observar também que as pesquisas domiciliares, como a PNAD, no permicem abordar a Confotmacio da grande propriedade fundidria, O Censo Agrope- cudrio de 1995/96 revela que, no Brasil, os estabelecimentos com mil hectares ow mais representam 1,0% do total, mas controlam 45,106 das terras.® Célculos ba medidas distincas de desigualdade mostram que, em vez de uma diminuigio, houve mesmo um certo aumento da desigualdade da distribuigio da posse da terra, nos vinte ¢ cinco anos que separam os Censos Agropecuarios de 1970 ¢ 1995/96. Os dados do ditimo Censo revelam que, enquanto os 5,0% maiores estabelecimentos controiam 68,8% das rerras, 08 50,0% menores apropriam-se apenas de 2,3% das dreas.** Os efetivos de grandes proprietérios fundidrios estdo, na sua grande parte, dijuidos dentro da categoria de capitalistas." A andlise aqui conduzida, baseada nos dados da PNAD, limita-se ao padrio de distribuigio das quantidades de dreas dos empreendimentos entre 0s denominados capitalistas, Leve-se em conta que, conforme os dados da PNAD de 1996, a posse de 90 ha ou mais implica no ingresso no topo dos 10,0% com mais areas controladas. Dados do Censo pecuirio de 1995/96 mostram que as éreas médias ¢ medianas ds erabelecimentos no pale slo, respectivamente, de 73,1 e de 10,1 hectares. Nos empreendimentos do ramo agricola, excl sive servicos auxiliares, 94,29 dos capitalistas sio proprietérios da rerra, Entre os capitalistas agricolas, 97,8% controlam mais de 50 hectares, sendo que 86,796 mais de 100 hectares ¢49,7% acima e 500 hectares. Os dadlos levantados pela PNAD sobre as quanti- dades de dreas dos empreendimentos, cabe registrar, nfo parecem fornecer uma base sélida ¢ represcntativa para abordar a andlise do grau de concentragio da terra entre as categorias de empreen- dimentos agricolas.* Os capitalistas possuem um nivel significativo de integragio com os complexos agroindustrias a jusante. Encre os 95,2% que venderam parte da produgio principal, 66,0% fizeram-no para cmpresas ott cooperativas (Sobre 0 ramo agricola, ver Tabelas 2.9, 2,10¢ 2.11, a0 final). A dinamica da agricuirara, esclatoce Graziano Capitulo 11 = da Silva, é comandada pelos complexos agroiadlustiis constituidos através da integragio intersctorial entre as inchistrias que prodwzem ppara a agricultara, a agricultura propriamence dita ¢ as processadoras. Grande parte das atividedes agricola profundamente na mattiz de relagdes interindustriais dos ramos ¢ sctores que compdem cada complexo agroindustrial. Além da exis téncia de fluxos de transagbes significativos entre os diversos com ponentes, existe uma dindmica articulada entre indistria pars a sgriculturacagricultura-agroindstri.® ‘Os pequenos empregadores foram segmentados, recorrendo-se 08 indicadores disponiveis da dimensio do capital investido 10 negécio. Os pequenos empregadores mais capicalizados repre seritam uma pequena fragio de 1,3 a 1,8% das posigGes. Possuem uum nivel mais pondersvel de console de ativos de capital, pois se compéem deempregadoss nto agri que, comcom empreenidimento do uabalho consistem em loja,oficina, frien ou escritdrio.*” Incluem-se entre os pequenos empregadores 3 colas mais capitalizados aqueles que contrazam de 3a 10 empiegicos petmanentes.** Esse segmento se cestaca pela presenga clevada de s6€f0s Ocupados no trabalho (58,2%), © gue se correlaciona com a maior capitalizagio do negécio e reflete, possivelmente, a agregagio de outros membros da familia ao emprecndimento. Essa situagio de co-propriedade parece nfo aferar negativamente o nivel de ret rada de renda individual. Ao contibuir para a maior capitalizagio do negécio, a co-propriedade pode estar porencializando 0 fluxo de renda do empreendimento € mesmo colocando-o em um patamar supetior & divisio da renda entre os sécios. Os pequenos emprega- ores mais capitalizados tém uma renda média 83,0% maior que 2 clos pequenos empregadores menos capitalizados, ome aincidéncia de s6cios ocupatios no trabalho é menor (37,3%).** Entre os pequenos empregadores mals copies, apenas 7% ttm dois ou mais trabalhos.** De modo semelhante 205 capitalistas, esti em setores nfo agricolas. Distribuem-se de maneira e ros servigos distributivos (31,8%), na indstria transforma (24,09) € nos servigos pessoais (21,9%) (ver Tabela 2.3) 86 - ESTAUTURA DE SOSIGDES DE CLASSE MO BRASIL Nos empreendimentos do ramo agricola, exclusive servigos auxiliares, 89,5% dos pequenos empregadores mais capitalizados sio proprietétios da terra. Em termos de distribuiSo da quantidae de dreas apropriadas, 82,19 controlam mais de 50 hectares — sendo que 544% controlam mais de 200 heceares — e 31,49 possum mais de 300 hectares. De modo semelhante aos capiralistas, os acto com os complexos agroindustriais a jusance, pois, entre 0s 86,6% gue venderam parte da producto principal, 60,1% fizcram-no para empresas ou cooperativas. (Sobre © ramo a, ver Tabelas 2.9, 2.10 e 2.11, a0 final.) Delimitac&o da pequena burguesia urbana e sua diferenciago das formas de trabalho precdrio entre os auto-empregados 05 pequenos empregadores menos capitalizados perfiem um contingente duplamente maior que os pequenos empregadores mais capitalizados, representando 2,4% dos individuos ¢ 4,0 das pes: soas de referéncia da familia. Encamam, no Ambito nfo agricola, os :micronegécios sem instalagbes especificase que mobilizam fozeas de trabalho infimas. Incluem-se, nesse segmento, os empregadores que cocapam de 1 a 2 ciipregados efoti cujo local estabelecido para 0 empreendimento do traballio pode consistir no domicilio em que ‘morava, em domicitio do sécio oa fregués, em local designaco pelo cliente, em vefeuto automoror ou em via ou sea pitblica. No sexor ‘cola, abarcam 0s empregadores com 1, 2 ou nenhum empre- gado permanente (neste caso, empregam apenas emprogados tem- poritios). Aqueles que posstem dois ou mais erabalhos formam apenas 8,3% dos casos. Em terms do corte setorial agricola, 71 Capitulo it sexor agricola.¥ Nos set olas se destacam nos servigos distriburivos (29,03), os servigos pessoais (19,44) ¢ a indstria transformativa (15,3%). Nos empreendimentos do ramo agricola, exclusive servicos ausiliares, 86,7% sio proprietirios da terra. Enere ‘os empregadores agricolas menos capitalizados, 61,2 cancrofam, mais de 25 hectares, porém, 25,5% controlam menos de 10 hectares, sendo que 17,0% possuem apenas 5 hectares ou menos de terra. O _getu de integrasio dos pequenos empregadores menos capitalizados com os complexos agroindustrais a jusante € restrito a 37,9% dos

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