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Análise da cicatriz do escorregamento

da SC-401 em Florianópolis/SC no ano


de 2008

Arthur Muller De Azevedo


Acadêmica de Engenharia Civil no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Santa Catarina - IFSC campus de Florianópolis
arthur.ma00@gmail.com

Igor Mendes Lima


Acadêmico de Engenharia Civil no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Santa Catarina - IFSC campus de Florianópolis
igor.l19@aluno.ifsc.edu.br

Rafaela Campos Ferrarezi


Acadêmica de Engenharia Civil no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
de Santa Catarina - IFSC campus de Florianópolis
rafaela.c02@aluno.ifsc.br

Resumo - Neste artigo serão abordadas análises geológico-geotécnicas e


mapeamento de fatores que contribuíram para o escorregamento de encosta ocorrido
em Florianópolis. No final do ano de 2008, a cidade foi marcada por eventos
pluviométricos de grande escala, caracterizados por decretos de calamidade pública e
a presença de diversos escorregamentos pela ilha, sendo a soma de fatores como
relevo acidentado e solos supersaturados, os principais agentes responsáveis pelo
episódio.

Palavras-Chave: Deslizamento de encostas, Escorregamentos, Cicatrizes.


1 Introdução

O transporte de material, pela força gravitacional, com ou sem ajuda de água


corrente como agente de transporte e podendo ocorrer de maneira lenta ou rápida,
caracteriza o processo exogenético, o qual define os movimentos de massa -
fenômenos recorrentes na paisagem (CROZIER,1986).
As cicatrizes são evidências marcadas na paisagem, deixadas especialmente
pelos escorregamentos, denominados movimentos de massa. Nos locais em que elas
ocorrem, são feitos mapeamentos, integrando o inventário desse fenômeno, no qual é
identificado e localizado os deslizamentos por meio de interpretação de fotografias
aéreas ou imagens de satélites, visitas de campos, dados históricos, entre outros.
(GUZZETTI et al., 2012). Segundo Fernandes e Amaral (1986), os mapeamentos das
cicatrizes são essenciais para os estudos de suscetibilidade, vulnerabilidade, perigo ou
risco do evento.
São fenômenos muito estudados, porém pouco compreendidos no que tange a
sua previsão, tanto temporal quanto espacial. Desencadeados por uma série de
fatores naturais, podem ser potencializados pela ação do homem. Este fato está
atrelado às interações de fatores condicionantes, como os mecanismos de ruptura dos
solos, as características de transporte, características climáticas e a ação antrópica
cada vez mais frequente. (SANT'ANA, W DE O et al., 2022).
O Estado de Santa Catarina tem sido cenário de vários eventos de
escorregamento nas últimas décadas, que causaram perdas econômicas e humanas.
Grandes movimentos de massa que afetaram áreas urbanas e rurais. Estes
deslizamentos mudaram significativamente a morfologia de vales e de encostas em
muitas áreas, afetando seriamente a população local (PELLERIN et al, 1997;
PELLERIN, et al. 2002).
Uma das cidades do Estado, que sofrem anualmente com movimentação de
massa, é a capital Florianópolis, que desde o ano de 2008 já houveram mais de 1278
deslizamentos, conforme dados da Defesa Civil de Florianópolis. Um desses
deslizamentos ocorreu no KM-14 da rodovia SC-401, no dia 23 de novembro de 2008
às 18h30min, o qual provocou um enorme problema de logística para a cidade, visto
que o solo movimentado interditou toda via pública.

2 Objetivos

2.1 Objetivos gerais


Realizar uma análise pós-evento do movimento de massa ocorrido em 2008 na
SC-401 em Florianópolis/SC.

2.2 Objetivos específicos

a) Identificar através da análise geológico-geotécnica os fatores que


contribuíram para o movimento de massa de 2008;
b) Mapear as cicatrizes deixadas pelo movimento de massa;
c) identificar o regime pluviométrico do período que antecedeu o movimento de
massa e correlacionar com o evento.

3 Fundamentação teórica

3.1 Análise geológico-geotécnica

Para compreender o comportamento dos solos e assimilar o escorregamento


ocorrido na região específica, uma análise pós evento é necessária. Segundo Santos
(1997), essa encosta, formada por solo residual de granito, é classificada como um
solo Podzólico Vermelho-Amarelo. Nas figuras a seguir, está representado o local do
evento, as curvas de nível e as altitudes em relação ao nível do mar.
Observa-se, na Figura 1, blocos de granito envoltos na massa de solo durante
o trabalho de remoção do material do escorregamento. Estes blocos apresentam
característica do Granito Ilha como rocha mãe, visto que possuem uma coloração
acinzentada. (OLIVEIRA e col, 2012).

Figura 1 - Trabalhos de remoção do material do escorregamento.


Fonte: Hermínio Nunes, 2008.

3.2 Mapeamento
O escorregamento é um movimento de terra, caracterizado pela rapidez e a
quantidade de energia acumulada que é liberada quando o equilíbrio é rompido.
Na Figura 2 estão representados as curvas de nível referentes ao solo residual
e a rocha presente abaixo dele, os quais foram movidos pelo o deslizamento
(OLIVEIRA e col, 2012). Com base nas curvas de nível disponibilizadas pelo DEINFRA,
o escorregamento apresenta uma superfície ondulada, com inclinações que variam
entre 26º e 45º (Figura 3).

Figura 2 - Representação das curvas de nível da região atingida pelo


escorregamento anterior a sua ocorrência. Fonte: Deinfra, 2008.

Figura 3 - Representação das curvas de nível da região atingida pelo


escorregamento após a sua ocorrência. Fonte: Deinfra, 2008.
A ruptura do talude ocorreu próximo a crista, onde o deslizamento ficou
caracterizado como translacional, sendo sua extensão de aproximadamente 35m de
comprimento e com deslocamento vertical de 45m (SATO, 2008).

Figura 4 - Pontos de instabilidade e superfície de ruptura. Fonte: Rodrigo


Del Olmo Sato, 2008.

Figura 5 - Pontos de ruptura e movimentação de terra. Fonte: Rodrigo Del


Olmo Sato, 2008.

O solo do local em análise é caracterizado por uma decomposição esferoidal


(SATO, 2008), ao qual é originada aos desgastes da rocha por todos os lados ao
mesmo tempo. No escorregamento em questão, criou-se uma zona de fraturas no
momento em que a água foi percolando e expandindo os argilominerais, provocando
assim pontos de fraquezas (SATO, 2008).

3.3 Regime pluviométrico

As chuvas desencadeadas são os geradores mais suscetíveis a deslizamentos,


conforme Polemio e Petrucci (2000), uma vez que as chuvas diminuem a coesividade
dos solos e sucção matricial, aumentando o peso do solo e a pressão da água dos
poros (HUAT et al., 2006; DE BLASIO, 2011).
De acordo com o INMET, entre os dias 18 de novembro de 2008 e 25 de
novembro de 2008 na cidade de Florianópolis ocorreu uma precipitação de 337,4mm
em 7 dias havendo picos que atingiram 125,2mm em 24h (Gráfico 01). Conforme
demonstrado no Gráfico 02, ao longo do período destacado, verificou-se a ocorrência
de chuvas de alta intensidade com pouca duração e chuvas de baixa intensidade com
longa duração, característica essa uma das causadoras de grandes e profundos
deslizamentos (POLEMIO; PETRUCCI, 2000).
Segundo dados distribuídos pelo o Diretor da Defesa Civil de Florianópolis, na
cidade de Florianópolis uma precipitação que ultrapasse 120mm em 24h é o suficiente
para o município decretar estado de calamidade pública, visto que a quantidade de
água apresenta um risco iminente para diversos escorregamentos de massa pela
cidade, uma vez que o solo se encontra supersaturado.

Figura 6 - Precipitação total por dia. Fonte: Inmet, 2008.


Figura 7 - Precipitação total por hora. Fonte: Inmet, 2008.

4 Conclusão

O solo residual e o maciço rochoso de granito foram mobilizados pelo


escorregamento em questão, ocorrido na SC401, em Florianópolis-SC, em 2008.
Pelos dados de estudos retirados em campo e em laboratório, pesquisados como base
para este artigo, foi indicada a possibilidade de uma redução das tensões efetivas no
interior da descontinuidade do maciço de granito. Redução a qual levou ao movimento
da encosta, associada à redução de resistência ao cisalhamento, estando relacionado
às chuvas intensas que ocorreram nos três primeiros meses que antecederam o
deslizamento.
Tendo em vista os estudos utilizados de referência para este artigo em questão,
onde foram mostrados indícios claros de movimentação de massa como fendas de
tração, deslocamento vertical, linhas de drenagem e de vegetação rompidas,
enrugamento de solo e grande saturação do solo, concluiu se que a área apresentava
risco de novos escorregamentos de massa, porém sem previsão de ocorrer em vista
se tratar de evento episódico, cuja gravidade pode ser acelerada com grandes chuvas
e movimentação de maquinário pesado sobre a encosta problemática.
Deste modo, ficou evidente que um dos motivos deste escorregamento foi a
sobrecarga hídrica sobre o solo e que foi um evento o qual gerou grande impacto para
a cidade de Florianópolis.
5 Referências

CROZIER, João; VIEIRA, Bianca Carvalho. Mapeamento de cicatrizes de


escorregamentos utilizando imagem multiespectral. 2015. Disponível em:
https://pdfs.semanticscholar.org/a28b/4bbfbf3eb90890a1f3807efcd02637274d3f.pdf.
Acesso em: 02 jul. 2022.

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Disponível em: https://site.mppr.mp.br/arquivos/File/bacias_hidrograficas/3_Doutrina/
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2022.

FLORES, Juan Antonio Altamirano; PELLERIN, Joel Robert Georges Marcel.


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Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/caminhosdegeografia/article/view/58387.
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Deslizamento de terra interdita sc-401 na capital: Veículos podem estar


soterrados sob monte de terra e pedras de 70 metros de extensão. Santa Catarina,
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https://www.springer.com/journal/10706. Acesso em: 02 jul. 2022

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