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= = ~ Y or al me) WM Fundamental Ensino PRRDRRPDDRPRRRORRLRHRPDHRHKRRAPRERRRRDRRRPRPRSRPRERRELOLSSL Pre ere see ores meneteed aera rene ee ee ae re eee re oe ee ee ee ee ee we Programa n° 10 CULTIVANDO O PRAZER DA LEITURA O prazer de ler desde pequeno LIVRO: a troca “Para mim, 0 livro 6 vide; desde que eu era muito pequena 05 livros me deram casa e comida. Foi assim: eu brincava de construtora, livro era fifo ‘em pé, fazia parede,deitedo, fazia degrau de escoda; inclinado, encostova num outro e fazia telhado. E quando a casinha ficava pronta eu me espremia 16 dentro pra brincar de morar em livro. De casa em caso eu fui descabrindo 0 mundo (de tanto colhar pras paredes). Primeiro, olhando desenhos; depois, decifrando palavras. Fui crescendo; e derrubei telhados com 0 cabecs. ‘Mas fui pegando infimidade com as palavras. E quanto ‘mais intimas a gente ficava, menos eu ia me lembrando de consertar © telhado ov de constuir novas casas. Iniciar nossas aulas lendo um poe- ma, uma histéria aconchegante, con- tos de fadas com principes, princesas e castelos, uma noticia de jornal que Nos apresente um acontecimento “super badalado” que nos deixe a par das informagées, uma trova popular, ‘Série XIl_- Ensino Fundamental Sé6 por causa de uma razéo: 0 livro agora ‘alimentava a minha imaginacéo. Todo dia @ minha imaginagao comia, comia comio; de boriga assim toda cheia, me levava pra morar no ‘mundo inteiro: iglu, cabana, palécio, arranha- cu, era s6 escolher e pronto, o livro me dave. Foi assim que, devagarinho, me habituei com essa troco #60 gostosa que - no meu jeito de ver as coisas € 0 froco da prépria vide; quanto mais eu buscava no livro, mais ele me dava. ‘Mas como gente tem mania de sempre querer mais, eu cismei um dia de alargar @ troca: comecei a fabricar fijolo pra - em algum lugar - uma crianga juntar ‘com outros, e levaniar @ casa onde ela vai moran.” lygio Bojunga um texto engragado, sGo experiéncias inesqueciveis e fundamentais na for- magéo de um leitor. Quando leio para os alunos (sem- pre leio muito para eles), observo que ficam embevecidos. £ isso mesmo: 110 Pee eee eee eee eee eee Ue eee eee Cee eee ee SaaS EEpeemnrmmeemmeeeeeeeeeeeeeeeeeee ee) EMBEVECIDOS! Com os olhos bri- lhando, pensam quando ouvem, néo sei em que. Imagino que 6 o magico, © mistico, a realidade; as projegées e Outros movimentos internos dos quais no temos Controle, gerando desejos e paixdo pela leitura. Acredito que quanto mais opor- tunidades tenham de ouvir, ver e sentir leituras alheias, maior seré o reperté- rio deles, maior serd a sensibilidade para compreenderem o que léem e ouvem. O prazer dos alunos me inspi- ra. A felicidade que sentem quando ouvem as histérias, se transforma em félego para muito mais leituras. Ora leitora, ora contadora de his- tdrias, vou investindo na formacéio de leitores, acreditande que agucando o Boletim - Programa n° 10 “apetite” deles pela leitura, farei com que tenham pressa e gosto por apren- der a ler. E assim, vamos caminhando e gi- rando no fascinante mundo da leitu- ra. E nesse giro, vamos apreciando o universo dos livros e das diferentes possibilidades que ele nos propicia. Possibilidades estas vivenciadas atra- vés das rodas de leitura. “Quando a leitura é uma necessi- dade, um “gosto” apreciade no am- biente em que a crianga vive, se 6 partilhada, usufruida em comum, a crianga desenvolveré, o quanto pu- der, a capacidade de ler, mesmo que ainda nao conhega, nao domi- ne a letra, a palavra escrita.”(Mota, 1994:10) Alfabetizagéo e leiturey “Alfabetizar-se para vir-a-ser leitor, ser leitor para alfabetizar.”(Zacur, Edwiges) ~ Questéio que se impée com urgén- cia em nossas discusses. Para pensar essa questo compar- tilho das idéias de Paulo Freire, quan- do nos coloca que a “leitura de mun- do” antecede & leitura da palavra, o que me faz pensar em: “ser leitor para se alfabetizar.” Os atos de leitura, an- ‘Série XIl_- Ensino Fundomental tecedem 4 leitura das palavras. “Essa concep¢éo de leitura nos in- sere numa abordagem tedrica que tem como pressuposto uma concep- gGo de linguagem enquanto espa- 50 de constituigéo do sujeito, ser histérico-social.”(Nery, 1996:6) E através da linguagem que a cri- anga tem acesso aos significados da cultura em que vive, estabelece rela- G6es entre as informagées e constréi eee eee eee eee eee eee eee eee eee eee ee ees sentido para si e para o mundo. A es- cola, um dos lugares de construgao dos saberes sociais, precisa conside- rar a diversidade de significados soci- ais e culturais dos quais as criancas compartilham. Levar em consideragdo os aspec- tos sécio-culturais de nossos alunos é reconhecer 0 repertério de conheci- Mentos que tém construido durante toda a vida. Esse acervo de conheci- mentos vai permitir a compreenséo de cada novo objeto de conhecimento. Essas consideragées se tormam fun- damentais no trabalho com a prética da leitura, na medida em que a apren- dizagem da leitura e da escrita néo é compreendida como uma aquisicao mecdnica, pois quando entendida des- sa forma, acaba por transformé-la num ato de sacrificio, sem desejo e prazer. “Ler deriva-se de legere, que signi- fica no seu sentido préprio colher, recolher”.(Zacur, Edwiges) A autora destaca dois movimen- tos, “do ser que colhe pistas e infor- mag6es que estéo no mundo exterior eas recolhe para si.” Considera que colher e recolher implica busca e bus- ca pressupée riscos e desafios. Portan- to, ler é descobrir caminhos, conhecer reconhecer o mundo a nossa volta. Nesse caminhar, quantos de nos- sos alunos, por medo de errar, se frusiam e negam para si mesmos o que Série XII_- Ensino Fundamental Boletim - Programa n® 10 sabem, reprimindo suas tentativas e suas légicas? Tentativas frustradas de leitura, as vezes ainda acompanhadas de comentérios como: “E para ler, nao para adivinhar”, quando na adivinha- Go a crianga pode “exercitar” a sua capacidade criativa. Vai confrontar o que jd sabe com 0 que lhe falta. Recordo-me do pensador Wgotsky e seu conceito de zona de desenvolvi- mento proximal, que nos apresenta a aprendizagem numa concep¢ao Prospectiva, de futuro. A aprendizagem funde passado e presente a fim de construir 0 futuro. Concordando com os conceitos do autor, reconheco que o papel do adul- to, educador ou de outra crianga que se enconire num nivel mais avangado de desenvolvimento, é de extrema im- Portancia, pois os avangos inerentes Go processo de construgéo de conhe- cimentos dependem muito de nossas intervengées. No caso de leitura, nao basta ofe- recer s criancas livros em quantida- de. Precisam perceber, sentir de ver- dade que a leitura é um elemento es- sencial para a vida. Professores e alu- Nos precisam estar juntos nesse pro- cesso que envolve re-descobertas e indmeras possibilidades. “Ser leitor & sentir-se comprometi- do com seu estar no mundo e com @ tronsformagéo de si, dos outros, das coisas: 6 acreditar que se apren- 12 Cee eee eee eee eee ee de o mundo quando se com- preende o que o faz ser como é."(Foucambert, 1994) Acrescento as idéias de Foucam- Boletim - Programa n° 10 bert: ser leitor é entender, inclusive, Porque alguns tém acesso ao mundo da leitura desde muito cedo e outros, muitos outros, nao. Sugestées de atividades Ler para as criangas, ler junto com as criangas, permitir que todos leiam, que escolham seus livros, seus estilos, que desistam do livro que inicialmente pensaram em ler, que peguem mais de um livro ao mesmo tempo, que comentem espontaneamente sobre o. que leram, que se emocionem, que pecam bis, que leiam em voz alta, que silenciem estabelecendo segredos com © autor, que freqientem bibliotecas, que tenham uma na sala de aula, que valorizem © acervo e busquem mais, pedindo emprestado, trocando e fa- zendo vaquinhas para comprar novos livros, que contem e leiam histérias Série Xil_- Ensino Fundamental para os outros, mais e muito mais. Todas esas atividades envolvem alunos e professores nas fascinantes viagens que o universo da leitura nos propicia. “Aleitura 6, portanto, territério de um sujeito ativo e interativo: um sujeito que agindo, interage e interagindo, vem a conhecer porque é capaz de ler e atribuir sentido. O lugar do lei- tor vem a ser dinémico entre lugar tensionado pelo sentido jé dado eo sentido a ser produzido.”(Zacur, Edwiges) Stella Maris Moura de Macedo 13

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