Você está na página 1de 91
O TAOISMO DO AMOR The T: tc f Love and Sex O EXTASE E A MILENAR SABEDORIA DO AMOR artenova 0 TAOISMO DO AMOR E DO SEXO Longevidide e desempenho sexual, 0 profongamento da virilidade na velhice, a arte de fazer amor como terapia bi- sica nos CAinones médicos taofstas.. . Todos exses tomas, extromamente atuais para nds, ocidentais, so diseutidos, em profundidade, neste primeiro estudo de- tilbado da arte de amar dis escolas mé- dicas tnoistas, a Numa era caractorizada por ump abordagem indevida dos problemas se» suis, em que os jovens se perdem nm busca da beleza ¢ ben velhion se de sintegram por falta do amor fisieo, estes nas se tornam profundamente atuals © inguietantes, Ha mais de dois mil anos atria, ow médicos taoistas chimexes esereveram li: vros honestos, explicitos, sobre amor ¢ sexo, ensinando que fazer amor era par te da ordem natural das coisas, algo me- cessdrio 4 satide fisica e mental de ho- mens e¢ mulheres. Entre os séculos XI © XIV os mon- g6is, que governaram a China por -oj- jenta ¢ cinco anos, extirparam toda a | ae O TAOISMO DO AMOR E DO SEXO O TAOISMO DO AMOR 0 éxtase através dos milenares prinefpios chineses do amor E DO SEXO Introdugdo e pés-escrito de Joseph Needham JOLAN CHANG i a3 fi Copyright da edigtfo em portugués€ 1979 Editora Artenova Ltda. Tradugdo de Jost Eduardo Moretzohn Revisfo de Gilson Vaz Fontes © Jorge Uranga Arte de Sergio Reis Reservados todos os direitos. Reprodupfo proibida, mesmo parcial, sem expressa autorizacfo da Editora Artenova Ltda. editéra artenova kel. rus prelelte allmeie de mello, 1774 tele, pba TH-O885 - 048108 peeps 2364018 sd. wlegifica ANTHOVA "i ered Intradugao de Joseph Needham, F.R.S., F.B.A., Ex-Mestre das Faculdades de Gonville e Caius, Cambridge 11 Prefdcio 13 Capitulo Um: 0 Tao do Amor 17 1, OQuedo Tao? 25 2. A similaridade entre os estuclos sexuais antigos ¢ modernas 26 3. Aojaculapso reconsiderada 28 4. Aharmoniade Yine Yang J2 §. A simileridade entre o antigo ¢ a modemo na teoria da harmonia eds felicidade 33 6. Nei tan (elixir interior) @ wai tan (elixir exterior) 35 Capitulo Dois: Compreandendo o Taodo Amor 37 1, Trés conceites bisicas do Tao 37 2. G papel des mulheres 38 3. Aimporténeis do fazeramor 39 4. Camo observar a satisfapéo feminina 40 5. Falsos conceitas sobre o Tao 42 a) Coitus reservatus 6} Continéncis mascutina c) Karezza d} O misticismo do coitus reservarus e) Artes tintricas ow tantrismo f) Imsdie Capitulo Trés: 0 Controle da Ejaculagio 45 1, A verdadeira alegriade amar 49 2, Ométodo do cadeado ST 3. Omodemo métoda do cadesdo 53 4. A técnica do aperto de Masters e Johnson 54 5. A técnica do aperte dos chineses antigos 55 ‘6. Recomendacdes para hamans mais experientes 55 7. Freqiéneia da ejaculscie 86 . Variagées Individuals 58 9. Ejaculago Insuficiente 58 10, Ejeculapdo prematura? 69 Capitulo Quatro: Mil Estocadasde Amor 611 1, A capacidede maseulina pode ser muito melhoreda 63 2. Tipes de estocedss 64 3. Profundidade das Estocadss 66 4, Seqiidncias de Estocades 68 5. Gingstica Sexual 6 G, Os métodos versdteis do Mestre Sun 69 Capitulo Cinco: PosigSesdo Amor 73 1, Quatre posipdes bdsicas e vinte @ seis variacées 73 2. Determinando as posipdes de cadaum 75 3. Mudando as posigbes 79 Posigio fémea superior 79 i. Vantagens da posipéo fémea superior 80 Variapdes da posipéo fémea superior 80 . Entrada portrés 82 A axperimentagio da chave 82 Capitulo Seis: O Beijo Eréticoeo Tao 83 1. Aesséncia Yin 84 2, Obeljo erdtico eo sexocral 85 2 Vantagens do beija erdtica 85 4. O beijo no bico dos seios 86 §. Aperfeigoando a beijo ardtico 88 Capitulo Sete: Evolugdo e Aviltamento do Tao do Amor 90 1. A énfase na satisfagio dz mulher 90 2. A Dinastia Han 92 2. Da Dinastia Suid Dinastia Ming “94 4, SupersticSes e vampirismo 95 &, Algumas nogées confusas 96 6, De como o Tao do Amor quase desapareceu 99 7, Agra daagoniae frustrapio 99 Capitulo Oito: A Conquista da Impoténcia 102 1, O medo injustificado da impaténeia 103 # Como superar a impoténcia 105 of 0 métoda da entrada mote 106 4, Sogurangas 107 6 Tamanho e forma co fata fe exercicios de desenvolvimento} 108 6. Atitudes modernas 110 7. Omdteda de Wu Hsien 112 Capitulo Nove: A longevidade eo Tao do Amor 115 1, Ofazeramorea longevidade 115 2. Oculto moderno $ juventude 117 3. Aejaculagio na meiaidade 119 4. Controle da ejaculagao @ fongevidade 121 §. Uma jigeira histéria oa fongevidade na China 727 ‘Capitulo Dez: As Relagdes de Maio a Setembro 9126 1. O precanceito da sociedade 126 2. As relapses da mulher jovem edo homem velho 127 3. Relapées de homens velhos e mulheres velhas 128 4. Aatracio ndo é sempre unilateral 129 5. Vantagens das relapdes de uma mulher velha com um homem fovem 130 6. Higiene pessoal 132 7. ConclusGes 132 Capitulo Onze: Respiragao, T’ai Chi Ch'uaneo Tao do Amor 134 1, Aespiragio adequada 134 2. Exercicios respiratérios 134 &. Mefhorando as drgdos | 135 4. T3i Chi Ch'usn 137 5. G Tai Chi Ch’uan como um meio de defess propria ¢ como excelente exercicia 139 6. Regime afimentar 139 Capitulo Doze: Aprendendoo Tao 141 1, Desenvolvimento sensorial 142 2. Aprendendo a comunicar 145 3. O Tao nao serve epenas aos homens 146 4, A importéncia do pareeira corrata 147 5. O orgasme masculine — 4 maneira do Taodo Amor 160 6. Algumas questdes responeidas 150 Aesuma: Algumas Experiéncias Pessosis 156 Pés-Eserito de Joseph Needham: Palesira para a Capela de Caius (Domingo de Pentecastes, 1976) 161 Bibliografig: Textos Chineses 175 Lista das Hustrapdes: Estudando oSfmboto Yin Yang (Museu Britinico) Jovem Nobre montado a Cavalo (Museu BritSnicol rae (Murow Briténice) intura, de uma edria de quatro, am papal poreso ou vogetsl, tal original de uma lanterna depondurada am um dos “Jardins Flowidor” eae perlodo Vian, 1280 — 1267 [Coleg Charles Ratton, Paris) Mais duas pinturas da RermeeiCemas de Jeon Pierre Dubosc, Paris} Jogos amoroscs em um “Jardim Florido" — pinture em seda Yew ies & sécula XVI (Coleio Louis Sata, Paris Dee a mantes lendo um Livro Erdtica — pivture em sede oxt ee cae 1662 — 1722 (Colegio C. T. Loo, Paris) ae trendo a Cordas do Aledide — pintura em secs if pros Each, 1662-1722 (Colegga C.T, Log, ws so liad taque por Tris, ow “O Salto do Tigre Branco” = pintura =a dibum do porfado K'ang-hsi, 1662-1722 (Colegio erie rad a lo Jardim sobre um Banco de Pedra — pintura am soda extrafda de um élbum do perfode K'ang-hai, 1662-1722 (Colecis C, T. Law, Parish Casal de Amantes em um Barco = dibum de pintura chiness 9 cores, sécula XIX ess: ‘editoriais, Roger Peyrefitw; de Erotic Art of the East, Weidenteld & Ni- Sun S‘sb-Mo (ColecSo de Joseph Needham) Homem @ Muther com Alaide (Museu Britdnicol Poucos estudiosos ocidentals chegaram a estudar a sexologia tradicional chinesa. Apesar disso, o tema atrai, necessariamen:. te, 0 interesse de todo ser humane adulto, ¢ a cultura chinesa em particular, com sua sabedoria para combinar racional e romantico, deve ter coisas importantes a dizer sobre ele. Sem contarmos o notével Henri Maspero um desses pou- cos estudiosos, eum dos maiores, fol Robert van Gulick (cita- do eventualmente nesse livro), a quem fiquei conhecendo em 1942, durante a guerra. Robert estava sendo enviado a Ho- landa como Chargé d’Affairs e eu ia para |4 ocupar meu posto de Conselheiro Cientifico da Embaixada Americana. Algum tempo depois, se nio me falha a maméria, na cerima- nia de seu casamente com a senhorita Shui Ssu Fang, ocorri- da durante a missa para a Cooperagdo da Ciéncia, fiz discur- so de homenagem. Depois, apés a guerra, quando me envolvi com o Taaismo @ com sua busca da longevidade e da imorta- lidade, mantive com ele, durante muito tempo, uma farta cor- respondéncia em que julgo ter conseguido convencé-lo de que nada havia de pervertida ou patoldgico nas técnicas sexuals descritas e prescritas pelos adeptos tao/stas. Isso se ajustou com suas conviegdes, derivadas que eram de seu profundo co- nhecimento de literatura, de que a vida sexual chinesa, atra- vés de séculos, fora extremamente sauddvel, isenta das aber- rages do sadismo e do masoquismo,' e profundamente habi- Com excepto do fatichismo do costume de se atéremn of pés, um costume des- conhecido antes do século X ¢ que, hoje em dia, jd é eolsa do passado. { lidosa por sua alegre variedade e entrega mdtua. Nosso livro aténvse fielmente a essa tradiggo. Meu proprio exemplar da maior colegdo sexoldgica chi- nesa, a Shuang Mei Ching An Ts‘ung Shu, editada por Yeh Té-Hui, fora comprado, lembro-me com mujto prazer, nas mos de uma vendedora de livros, no ano de 1952, no Liu Li ‘Ch’ang em Pequim. Desde entéo dediquei-me novamente ao estudo do tema pois o ne/ tan, ou “elixir interior", essa parte to importante da alquimia chinesa, mantinha uma relagdo muito direta com as técnicas sexuais que, acreditava-se na época, prolongavam a vida @ talvez conduzissem a imortalida- de material. Mas foiem 1972 que um outro astro surgiu nesse firma- mento. Esse astro era Chang Chung-Lan (Jolan Chang) de Es- tocalma, cujo livro sabre sexologia chinesa, ¢ universal, eu Passo a recomendar ao leitor imparcial. Com experiéncia e habilidade notaveis, Chang encontrou as palavras apropriadas para explicar a homens e mulheres do mundo moderno algo da sabedoria da cultura chinesa no que toca aos assuntos do coragéo, no amor é€ no sexo. Embora nosso amigo trate prin- cipalmente de matéria técnica, devemos sempre consideré-la contra o background de uma sapientia mais ampla, ou seja, por mais surpreendente que possa parecer aos ocidentais, de uma convicefo chinesa de que nao hd linha divisdria entre o amor sacro eo amor profano, uma conviccdo de que todos ne- cessitam, sem diivida alguma, em toda parte. 2 Este contideracso estard sondo exposta, em brave, em colaborag¥e com o Dr. Lu Geeei-Djen, no Vol, 5, Parte 5, da Science and Civilization ia China (Cambridge University Press), 12 Prefacio Eles querem se amar, mas néo sabem coma Sander Ferenczi! Em seu livro MEDO DE VOAR,? Erica Jong faz uma reflexdo . . .Mas Oo grande problema era como fazer com que o feminismo se har- monizasse com a fome insacidvel de corpos masculinos. Nao era facil. Ademais, ao passar do tempo mais claro se tornava que os homens, na esséncia, tinham pavor as mulheres. Alguns em sagredo, outros aberta- mente. O que podia ser mais lancinante do que uma mulher libertada, de olho em cacete murcho? As maiores questdes da histaria empalide- cem, em comparagdo com esses dois objetos quintessenciais, a mulher eterna @ 0 cacete murcho eterno, Momentos depois, ela prossegue: “Era essa a desigualda- de basica que nunca poderia ser consertada: nio que o ho- mem fosse dono de uma atracdo maravilhosa a mais, chamada pénis, mas que a mulher era datada de uma pomba maravi- 'hosa, enfrentando qualquer tempo. Nem tempestade, nem fanizo, nem escuridao da noite conseguiram intimidé-la. Es- tava sempre ali, sempre pronta. Coisa das mais apavorantes, quando se pensa bem. Nao admira que os homens odiassem as mulheres. Néo admira que tenham inventado o mito da insuficiéncia feminina. | Extrafdo do Man Against Himssif, da Karl Menninger (Harcourt Brace and World, New York}. Edicfo am partuguds pala Artenava. Concordo plonamente quando ola diz que “As malores questdes da historia empalidecem em comparagiio, . ." Acho apenas que ela abriu mao, muito facilmente, de qualquer es peranga ao dizer que “nunca poderia ser consertada”. Ha mi- Ihares de anos os tao/stas descobriram o modus para essa re- paragado. Os tao/fstas, na verdade, o esto empregando no exa- “to momento em todo o mundo. E pena que esse conhecimen- to jamais tanha sido amplamente disseminado, fato que, espe- ramos, esse livro venha remediar. Esperamos também respon- der, nesse prefacio, a duas perguntas da maior importiincia. (Certa manhé, no inverno passado, em sua linda estancia ao sul da Franca, 0 famoso autor Lawrence Durrell fez questo que eu explicasse a ele como me tornei um taoistae o que me le- vou a escrever esse livro. As palavras que se sequem sao uma explosdo de idealismo inspiradas pela mente de um romancis- ta que jamais se cansa de pesquisar. Uma mae nfo dé apenas 4 luz seus filhos. Dé muito mais que isso. Sua influéncia na formagio do filho é muito poderosa. Ela modela o futuro do filho, quer para o bem, quer para o mal, para um viver alegre ou para a autodestrui- Gao aflitiva. i Nesse aspecto considero-me com muita sorte. Minha mae era uma mulher com grande capacidade de compreensio, entusiasmo @ compaixdo, e, embora eu sé viesse a percebé-lo muitos anos depois, era, por natureza, a taoista mais espon- tanea que jamais conheci. Quanto digo “por natureza quero dizer que, mesmo sem professar o taofsmo @ mesmo sam se conscientizar do fato de ser tao/sta, ela criava um clima, uma atmosfera, em que sempre prevalecia o comportamento taofsta. Fui educa- do nessa atmosfera e, por conseguinte, tornei-me também um taoista “por natureza”. Havia, no entanto, uma Gnica lferereas aos doze anos de idade eu jd me conscientizara do fato. Um taoista contém em si, de um modo geral, um amor ilimitado pelo Universo e por todas as vidas nele contidas. Pa- fa © taofsta, toda forma de desperdicio e destruigdo é& um 14 mal, Deva, portanto, sor evitade, Com umm tal anteoadenta 6 compraensivel quo ou tenha procurada of Melos para rome: dint a violéncia e a destruigdo tio difundidas ¢ os motivos que levaram muitas pessoas de sucesso aparente 4 aniquilaram vo- luntariamente as proprias vidas, como é 0 caso de Ernest Hemingway, George Sanders e Mark Rothko. A lista é inesgo- tavel. E também os motivos que levam milhares de homens e mulheres saudéveis, até mesmo criancas, a destruirem-se len- tamente com o fumo, as drogas, 0 dicool e com a alimentagao e habitas de vida insalubres. E por que milhares de pessoas se ‘odeiam tanto, e odeiam tantas coisas em volta, a ponta de querer — ¢ até de tentar fazé-lo — destruir a tudo e a todos? E, por ditimo, por que a histéria do homem é uma estoria de guerras daveis? Seré pelas glérias da conquista, ou apenas: pela gandncia inating(vel? Ou pelo poder? Pracurel respostas para essas perguntas desde minha ten- ra juventude. E apés anos de viagens a muitos continentes, ‘onde encontrei milhares de pessoas de diferentes nacionalida- des, e onde pude investigar todas as filosofias e religiées im* . portantes do mundo, constatei finalmenté que esses_males tém raiz no fracasso de homens @ mulheres em aleangar a harmonia fundamental de Yin @ Yang, e que no Taoismo se- ria encontrada uma resposta ao mesmo tempo facil e agrada- vel. Por que uma resposta facil? Porque nao hd formalida- de, nem dogma ou igreja. Tudo o que requer do individuo é que ele relaxe, seja natural. E por qua agraddvel? Porque nga exige que ninguém abra mio das alegrias terrenas ¢ celestiais, como, por exem- plo, a misica ou a beleza. Uma filosofia chinesa antiga o exi- gia. Era 0 Molsmo (ndo sa a confunda com Maolsmo), uma filosofia altruista contemporanea do Confucionismo. E tam- bém nio exige que se abra mao de desejas como 9 anseio pela beleza da forma, som, cheiro, paladar, tato e do amor carnal. Quase todas as escolas do Budismo o exigem. 0 Taoismo, a0 contrrio, aconsalha-nos a aprimorar o gosto, o viver sadioea gozar, com mais plenitude, das alegrias terrenas € celestiais. 15 Para o taoista ndo hd linha divis6ria entre essas alegrias terre- nas @ celestiais; ambas se unem no éxtase, pais, na fruigao das coisas naturais e artisticas, o tao/sta esté em comunhao com 0 Universo (sua expressde para designar Deus). Como ja tive oportunidade de experimentar em minha Prépria vida, o Taofsmo nao acredita que haja uma solucdo Para os problemas do mundo sem uma abordagem integral do amor e do S8x0, Quase toda destruigdio a autodestruigdo, qua- Se todo dio e tristeza, quase toda ganancia e possessividade, advém da caréncia de amor e sexo. E a origem, a fonte, do amor @ sexo 6 inexaurivel, tanto quanto o Préprio Universo A idéia no é criapio minha, é uma simples tentativa de revi- ver aquilo que os tao/fstas antigos jé conheciam por milhares de anos: sem a harmonia de Yin e Yang, a nascente da vida e da alegria, a Gnica coisa quenosresta é a mortee a destruigdo. Estocolme 1976 JOLAN CHANG Capitulo | O Tao do Amor Nos assuntas de governo, 0 melhor conselho é ser parcimoniaso. Ser parcimonioso 6 prevenir-se. Pravenirse é estar preparada e-fortalecida. Estar preparado # fortalaciado é obter éxito perene. Obter Sxita perene é possuir capacidade infinite.’ Ha dois mil anos atris, ou talvez bem antes que isso, oS médicos taofstas chineses j4 vinham escrevendo livros hones- tos, explicitos, sobre amor 6 sexo, Esses livras ndo eram li- bidinosos, nem tampouco auto-reflexives pois fazer amor era, para os taoistas, algo necessdrio a satide fisica ¢ mental, e também ao bem-estar de homens e mulheres. E aten- do-se a esta filosofia, muito enfatizavam as habilidades sexuais e tudo faziam para aperfeicoar a maestria sensual do homem. A producdo literdria e artfstica ilustrava técnicas sexuais, Todo marido que conseguisse desfrutar de intercur- sos sexuais freqiientes @ pralongados estaria melhor posi- cionado que um marido apenas jovem e bonito. Para os médicos taoistas, fazer amor era parte da ordem natural das coisas. O sexo era para ser desfrutado, saboreado e, além disso, era considerado salutar, um protetor da vids. Diversos métodos foram formulados no intuito de manter a compe- téncia amorosa das pessoas; pinturas erdticas eram utilizadas para instruir e excitar homens e mulheres. Em seu livro Erotic \ Tuo Té Ching, Capitulo 59. Phyllis @ Eberhard Kronhausan citam um poema de ing Héng, escrito no ano 100 a.C., poema em que vemos noiva valer-se de um manual erdtico para fazer de a noite de ndpcias uma noite memordvel. Fechamos a porta corrediga com teu trinco dourado, E acendamos o candeeire para que, com sua luminosidade, ele preancha nosso apasento, ‘Troco minhas vestes e renovo minha plrtura, meu po-de-arroz. E desanrolo o pergaminho, estendo-o ao lado de travessiro, ‘A Mulher Feia? tomarei como instrutora, Para praticarmos as posi¢Ges mais variegadas, Aquelas que o marido comum teve raras oportunidades de ver. Tais que endinadas por Tion4ao a0 Imperador Amarelo, Nenhuma alegria jamals sa igualaré 4s dellcias dessa primeira noite. ‘ Que jamais sero esquecidas, por mais que envelhecamos,? Adiante os Kronhausens descrevem como a arte erdtica era utilizada na China antiga: Para avaliarmos a utilizagSo dos dlbuns pictéricos, devemos remontar & literatura erdtica chinesa, Em um dos melhores romances erdticos da dinastia Ming, Jow P’u Tuan,* encontramos, por exemplo, relato das aventuras amorosas de um jovem e talentoso estudante, Wie-yang-sheng, que desposa uma linda joven, Yu-Hsiang ("Perfume de Jade"), mova de boa formacdo, cujo Gnico defeito era o triste fato de ser excessivamen- te pudica: apenas concordava com o intercurso sexual realizado no escuro € rejeitava qualquer técnica sexual qua sé dasviassa da rotina. 0 noive consternara-s¢ ainda mais 80 perceber que Perfume de Jade no conseguia aleangar o orgasme durante 6 amor nupeial. 2 Qu seja Su NG, ver adianta, 2 Phyllis e Eberhard Kronhauson, Eravic Art, pag. 24. 4 The Proyarhter of the Fresh, Ainda jovem, para remediar a situapdo, o marida decide comprar um dibum de pinturas erdticas, muito care, através do qual espera educar a esposa a transformar seu comportamento, No inicio, como era de se esperar, Perfume de Jade recusa-se at¢ mesmo a olhar para as pintures, @ muito menos a se deixar influenciar por elas, Ao final, contudo, concorda em estuddfas sob a orlentagdo do marido. “Sua paixdo desperta com bastante intensidade’ e, gradativamente, ela se transforma naquela mulher quente, uma mulher que corresponde inteiramente as expectativas que seu proprio nome evoca.* A atitude que podemos detetar nos ocidentais com rela- Gdo. as fotografias eréticas, ou “pornografia”, coma costu- mam ser chamadas, n3o tinha lugar na China antiga. A China antiga aborda o amor @ o sexo de maneira bastante peculiar, E o que péde observar também R.H. van Gulik, eminente di- plomata de carreira, em seu livra Sexual Life in Ancient Chi- a, onde nos diz: “Foi provavelmente essa atitude mental (a de considerar-se 0 ato sexual como parte da ordem da natu- reza... sem associdéto jamais ao sentimento do pecado ou da culpa moral) que, juntamente com a auséncia quase total de répressdo, fez da vida sexual do chinés antigo no conjunto, uma vida sauddvel, como uma isengao extraordindria de toda anormalidade patolégica e das aberragées encontradas em tantas outras culturas antigas importantes."6 Mas ndo foi apenas a atitude da China antiga com rela- ¢do ao sexo que surpreendeu e interessou a Van Gulik; foi também o conceito de amar dos taofstas antigos, um concai- tO a que chamamos “Tao do Amor”, jamais descrito com Precisdo de detalhe para os leitores ocidentais. Encarando-o de frente, o Tao do Amor representa, ao que parece, uma téc- nica bastante diferente de todas as visdes ocidentais aceitas sobre o sexo eo ato de amar. Rejeité-la no foi dificil para um Ocidente que jd hi muito havia rejeitado a acupuntura, atualmente considerada uma grande técnica analgésica. E InaUsHN, OP, cit, pags. 241 a 242, von Gullk, Sexual Life In Ancient China, pig. 61. hoje, séculos depois, os médicos ocidentais estao espantados com o que ela vem conseguindo e estéo até empenhados em ‘aprender seus segredos. O Tao do Amor possui segredos pré- prios a revelar para o Ocidente. Eis a colocagdo de Van Gulik: “(As teorias do Tao do Amor) formaram, através dos tempos, © principio fundamental das relagGes sexuais chinesas. Isto nos leva a uma conclusdo curiosa: por mais de dois mil anos © coitus reservatus (expresso de Gulik para designar 0 Tao do Amor) deve ter sido largamente praticado na China sem, a0 que parece, consequéncias daninhas para a procriacdo ou Para o estado geral de sadde da raga."” Van Gulik tentava, é Gbvio, ser justo. Fora forgada a admitir que os chineses eram um povo resistente e longevo apesar de suas praticas sexuais aparentemente revaluciondrias. O Tao do Amor parece revoluciondrio até mesmo nos dias de hoje. A cada nova descoberta dos sexdlogos e cientis- tas ocidentais, seus preceitos tornam-se cada vez mais aceitd- veils. Os principios basicos do Tao — regulagao da ejaculagao, a importancia da satisfagéo da mulher e a compreensio do fato de que orgasmo masculino e ejaculagio nao sdo necessd- riamente a mesma coisa — transformaram-se em pontos importantes do Movimento de Liberacaéo Feminina e dos estudos cientificos de Kinsey, Masters, Johnson, e do resto. E 4 medida em que essas teorias sao aceitas no Ocidente, 0 con- ceito de amor @ sexo, em vigor na China hd muites anos, com- pletard mais um ciclo. No exato momento em que escrevia seu livro, Van Gulik se surpreendia pois a pesquisa moderna comefava a confirmar os ensinamentos dos mestres do Tao do Amor. Diz ele: Devo chamar a atencSo para o fato de que a descrigao dos “cinco sinais (no que toca a satisfagao da mulher), tal come constatada no / Asin Fang (um livro médi- co do século X, que consiste de extratos de centenas de traba- lhos chineses do perfodo T'ang e anteriores) concorda com cada detalhe da descri¢ao dada por A.C. Kinsey em seu Sexual Behaviour of the Human Female (seco “Fisiologia da reacéo 7 RAH van Gullk, op. eft, nig. 47. sexual e Orgasmo”, pags. 603, 604, 607 e 613). Isso vem acredicar, sem ddvida alguma, os sexélogos chineses anti- gos,” ' da satisfagdo ferminina, aos quais refe- riu-se Van Gulik, apareceram ha cerca de dois mil anos atrés em uma conversa supostamente travada entre o Imperador Huang Ti? e Su Nii, sua principal conselheira feminina: imperador Huang Ti: “Como pode um homem respeitar a satisfacdo de sua mulher?" Su NU: “Hé cinco sinais, cinco desejos e dez indicagdes. Todo homem deve respeitar esses sinais e reogir coerentemente a eles. Os sinais fo: 1) © rosto dela esté vermelho de rubor e os ouvidos est&o quen- ‘tes. Isso indica que pensamentos de fazer amor vagueiam ativamente em seu cérebro. O homem deve, gentilmente, de maneira provocante, iniciar © eoite; deve dar estocadas rasas, deve aguardar e observar as novas reagies, 2) © nariz dela estd suando @ os bicos dos seios endurecem, Isso significa que o fogo do desejo aumentou levernente, A ponta de jade ja pode prosseguir até as profundezas do “Vale Propriomente Dito” (cinco. polegadas), mas nao deve passar dal. Antes de penetrar mais fundo, o homem deve esperar que o desejo dela se intensifique. ] Quando a voz dela abaixar e ela emitir sons como se sua gargenta estivesse seca’ e rouca, o desejo [4 se intensificou. Os olhos se cerram, a Ifngua vem para fora, ouvem-se seus arquejos, E o momento em que a haste de jade masculina pode entrar e sair livremente. A comunhdo jd $0 dirige, gradativamente, a um estdgio extasiante. 4) A "Esfera Vermelha” (vulva) da mulher esté abundantemente lubrificada, 0 fogo do deseja aproxima-se do pico e cada estocada faz com que o lubrificante transborde. A panta de jade masculina toca o Wale dos “Dentes da Castanha d’Agua” tprofundidede: duas polegadas). © homem pode, ento, usar ‘o método de estocar uma d esquerda, uma 4 direita, uma devagar, uma depressa; ou qualquer outre método, |i- ‘wremente. ALM, van Gullk, op, oft, pag. 156. E Incarta a historicidade de Huang Ti. Ax datas em que se costumam locall- zi-lo no Tercsiro Milinio A.C. néo so aceltas hoje em dis, Os textos cltados aqui, entretento, talver sejam da origem Han (206 aC. — 219d.C.), 22 5) Quando © “Loto Dourado" femining (os pés) empinarse parecando abragar o homem, o fogo e o dessjo chegaram ao climax. Ela passa as pernas em volta da cintura dele e, com as duas mfos, segura-lhe ‘o# ombros @ as costas. A lingua permanece para fora. Esses sdo os sinais pars que o homem passe agora a estocar mals fundo até alcangar 0 "Wale da Cimare Profunda” (seis polegadas). Tais estocadas fundas faréo com que a mulher sinta uma satisfagio extasiante em todo seu corpo". Embora, na China Antiga, os estudos fossem redigidos ‘em linguagem floreada e poética, néo clinica, isso nzo signifi- ca qué seus autores no tratassem com seriedade o tema do amor e do sexo. Para esses autores, na verdade, a boa saide (mental e fisica) e a longevidade estavam intimamente ligacas ao fazer amor, motivo pelo qual o amor e o sexo eram consi- derados um ramo importante da Medicina. Os beneficios que realizam nfo sio menores que os prazeres que propiciam. A verdade esté bem distante disso pois, intrinseca ao Tao do Amor, est4 a idéia de que amor e sexo s6 serdo benéficos quando forem inteiramente satisfatorios. 1. Oqueéo Tao? Uma 4rvore imensa nasce de um pequenino broto, Uma torre de nove pavimentos erige-se de um monte de terra, Uma viagem de mil milhas inicia-se com o pé de alguém.*° Para compreendermos o modo de amar dos taofstas antigos devemos ter, inicialmente, uma idéia do Tao — a nas- cente de-onde brota 0 Tao do Amor —, uma filosofia que mui- to serviu aos chineses e, com seus preceitos de prudéncia & programacéio do tempo, fortaleceu-Ihes a resisténcia inata. Segundo o velho dito, “o Confucionismo é a vestimenta exte- rior dos chineses, o Taofsmo é sua alma”. Sem davida, a per- manéncia da civilizegdo chinesa muito deve aos seus ensina- mentos que, em analogia poética, costumavam recomendar paciéncia e harmonia: 10 Fao T8 Ching, Capttulo 64. Estique (um arco) até o fim, E verd, teria sido melhor parar um pouco antes. Amale (uma espada) até seu fio mais fino, E 0 fio no duraré muito tempo."' O Tao é uma ciéncia nativa que teve inicio hé milhares de anos atrds. Quando, exatamente? Nao se sabe. Sabe-se, en- tretanto, que, no século VI a.C., Lao Tzu jé compilava seus preceitos bdsicos em um livro a que chamou Tao Té Ching, um livro de pouco mais de cinco mil palavras que fizeram dele, provavelmente, o livrinho mais importante do mundo. JA foi traduzido para diversas Ifnguas e ha mais de trinta ver- ses em inglés. Cada tradutor compreendeu @ interpretou as palavras de Lao Tzu de maneira um tanto diferente; o que é bésico, porém, na filosofia taoista é a crenca de que energia e momentum so as fontes de toda vida. Dentro do sistema uni- versal das coisas nds, seres humanos, somos criaturas diminu- tas, insignificantes e vulnerdveis. E se no estivermos em har- monia com aquelas fontes — a forca infinita da natureza — néo podemos esperar uma vida longa. Esse ¢ 0 ponto essencial do Tao Té Ching. O Tao é a propria forea infinita da nature- za. A filosofia do Tao 4 permanecer. E para praticar o Tao, & para nos tornarmos parte dessa fora infinita, devemos se naturais, devemos estar honestamente relaxados. E foi a par- tir dessa filosofia natural de prudéncia, conservagao e flexibi- lidade que o Tao do Amor se desenvolveu. Os fildsofos ocidentais sempre demonstraram interesse pelo Taofsmo que, hoje em dia, jd vem despertando o interes: se de cientistas e médicos. Em 1929, o psiquiatra C.G. Jung ja escrevia uma introdugo para um livro sobre Taofsmo e in- clufa, posteriormente, em uma coletanea de trabalhos seus, um ensaio sobre o Tao. Diz Jung: Parque a3 coisas do mundo interior estdo sempre a influenciar-nos poderosamente rumo 4 inconsciéncia, é essencial a qualquer pessoa que “ 1bid., Capfiulo 8. tenha a intencio de fazer progressos na autoculturs objetivar os efeitos da anima e, depois, tantar compreendar quais so 03 contetidos subja- céntes s cles. E dessa maneira que o individuo se adapta e adquire Prote¢do contra o invisfvel, Nio haverd adaptacdo sem que se facam concessbes 208 dois mundos. Da panderagdo entre 03 reclamos dos mundos interior @ exterior, ou melhor, dos conflitos existentes entre bles, surge o possivel e o necessirio. Nossa mente ocidental, infelizmente, carente que é de qual- quer espécie de cultura a ese respeito, ainda nfo conseguiu idear um. conceite, nem mesma um nome, para a “unide dos opastos em um ca- minho mediano”, esse item mais fundamental da experiéncia interior que bem pade, com todo o respeite, ser justaposto ao conceito chinés do“Tao".!* Jung prossegue dizendo que sua técnica psiquidtrica é semelhante as metas e métodos chineses. O que ele e os taofs- tas buscavam era precisamente um caminho rumo ao viver harménico. E, para tanto, o Tao do Amor é parte vital. 2. A similaridade entre os estudos sexuaisantigos @ modernos Como jd observei antes, os médicos e académicos da China Antiga estudavam e debatiam o sexo, e as praticas sexuais, de uma maneira bastante semelhante 4 que Masters, Johnson e Kinsey o fizeram em nosso dias. E muitas das conclusdes dos chineses antigos vém sendo constantemente reafirmadas pela ciéncia moderna. Masters e Johnson, por exemplo, séo os brimeiros pesquisadores sexuais modernos a aprovar, durante 9 ato sexual, o uso de interrupgdes freqiientes que, por Prolongarem o coito, permitem 4 mulher uma satisfagdo integral @ ao parceiro masculino o aprendizado gradati- vo do controle da ejaculacdo, Isto concorda quase inteiramente com aqueles textos chineses antigos sobre o Tao do Amor que ensinam, de ma- heira efetiva, esse tipo de controle da ejaculacao, Masters e Johnson chegaram a recomendar, em seu relatério, no intuito de auxiliar a todo aquele que sofre de "2 6.G, Jung, Coffected Works, Vol. 3, pg. 203. 26. pjaculagdo prematura, o uso daquilo que chamaram de “'técni- ca doaperto™. A técnica é razoavelmente elaborada: a mulher deve colocar-se na posi¢go superior feminina; assim que o par- ceiro informar ter aleancado o “nivel perigoso”, ela deve levantar-se rapidamente, liberar-lhe o mastro e apertar-Ihe a cabecga do pénis por uns trés a quatro segundos. Isso o fard perder a urgéncia de ejaculagao. A “técnica do aperto” dos chineses antigos é, em teoria, bastante semelhante 4 wersao de Masters e Johnson. Sua prd- tica, entretanto, é muito mais simples. Pode ser utilizada em todas as posi¢des amorosas, pois aqui & o homem quem aperta o proprio membro. Nas paginas 54 e 65, a tecnica esta discutida em maior profundidade. Mais uma vez, Masters @ Johnson s#o os primeiros cien- tistas ocidentais a sancionarem a demora indefinida da ejacula- do masculina. “‘Muitos machos aprendem a conter e delongar a ejaculagdo até que a parceira tenha se saciado. Na mulher, a saciagio pode representar diversos ciclos completos de reagao sexual, exigindo, portanto, a erecio do pénis durante um certa perfodo de tempo. .. assim, o primeiro estagio de invo- lugdo penial que, de um modo geral, é um processo rapido, pode ser estendido indefinidamente; o segundo estagio da in- volugdo penial pode, subseqientemente, ser delangado. N5o hd, no momento, qualquer explicagSo fisiolégica aceitdvel que possamos oferecer para justificar essa observagdo clinica." Se a relacionarmos ao Tao do Amor, veremos que essa abertura difere dele apenas em grau pois, no primeiro, 0 con- trole da ejaculaggo é praticamente impelido aos homens como senda benéfico a ambos 05 sexos. Talvez a conclusio mais surpreendente da pesquisa de Masters e Johnson seja a ndo-necessidade de o homem ejacular toda vez que faz amor, Essa lei torna-se especialmente impor- tante quando o homem chega aos cingiienta anos de idade. Para Masters, esse ponto ¢, por si 6, 9 mais importante de 13 passters @ Johnson, Human Sexual Response, pig. 185. seu segundo livro, Human Sexual Inadequeey. Qualquer ancido que aceite esse conselho, prossegue Masters, ‘é, poten- clalmente, um parceiro sexual da maior eficiéncia’’." O Tao do Amor concorda inteiramente. E desenvolve esse VII, um médico chamado Li Tung Hstian, diretor de uma escola médica em Ch'ang-an, capital imperial, fez a seguinte declaracio em seu livro Tung Hslian Tzu: ‘Todo homem deve cultivar a habilidade de delongar a ejaculagado até que a parceira de amor esteja completamente satisfeita,.. Todo homem deve descobrir e determinar sua frequéncia ejaculaté- tia ideal. E esta no deve ultrapassar a duas ou trés vezes em dez coitos."7* 3. A ejaculagao reconsiderada Ja para Sun S’si Mo, um outro médico do século VI, a idade limite é 40 anos, e néo 50. Alcancado o limite, diz ele, o homem deve ter muito cuidado em nado forgar a ejaculagdo. Quase todo texto antigo do Tao do Amor, de um modo geral, alerta-nos contra isso. Nessa mesma linha, os tao/stas antigos pregavam, ainda, que ejaculacdo e orgasmo masculino ndo sdo a mesma coisa. Ejacular menos nao significa, de maneira alguma, que o homem seja sexualmente incapaz e nem tam- pouco que seu prazer sexual seré menor. Chamar a ejaculagao de “climax de prazer” 6 apenas um habito e, nesse aspecto, um hdbito nocivo. Hd um didlogo entre uma das consultoras de Huang Ti para assuntos do Tao do Amor e um mestre do Tao do Amor que muito poder’ auxiliar-nos a explicar esse ponto. O didlogo aparece em um livro antigo chamado Yir Fang Pi Chiich (ou “Os Segredos da Camara de Jade”). Tsai NO (uma das tés consultoras de Huang Ti para assuntos do Tao): “E ¢renca geral que o homem consague um prazer muito grande na 14 Masters ¢ Johnson, Human Sexual Inocequecy, Capitulo 12. 15 Tung Hitlen Tew, Capiwio 12. 28 aspecto do tema ainda em maior profundidade. No século- Jagiio. Se ele aprender o Tao, porém, e emitir cada vez menos, stu nao diminuird com isso?” Tsu (principal consultor de Huang Ti para © Tao}: “Muito pelo ntrériol Apés a ejaculaggo o homem fica cansado, 05 ouvides zunem, olhos pesam e elo deseja dormir. Tem sede e os membros ficam ortes e.duros. Na ejaculaco o homem experimenta um segundo répt- de sensagio e, como resulted dela, longas horas de fadiga. E isso Tio se constitui em prazer verdadeiro. Por outre lado, s¢ o homem reduzir @ regular a ejaculagao a0 minimo absalute, o corpo s¢ fortalece- rd, a mente se relaxard e a visio @ a audiggo melhorardo. Embora isso “possa parecer, por vezes, que o homem esteja negando a si proprio a sensagHo ejaculatéria, o amor que sente pela mulher aumentard sobre- mmaneira. E como se ele nunca se cansasso dela. E esse é 0 verdadeiro prazer duradouro, nao & mesmo?" As péssoas costumam me perguntar que prazer eu sinto emitinde apenas uma vez em cada cem cépulas. Minha res- posta ¢ sempre a mesma: “Jamais trocarei minha alegria por seu tipo de prazer. J4 experimentei 12 longos anos desse seu tipo de prazer'® ejaculatério, foram 12 longos anos desperdi- gadost"’ Se quem pergunta édo sexo masculino, nfo duvidara de minha sinceridade, pois minha aparéncia é pacifica, feliz, saudével, e de quem muito gosta de fazer amor. E se for uma parceira feminina que porventura sinta pena de mim no inicio de nossa relagdo, meu entusiasmo em amé-la logo destruiré nela qualquer divida que possa ter a0 fato de eu estar me divertindo a valer com ela. De qualquer modo ela perceberd, em poucas horas, que estd experimentando uma maneira de amar inteiramente nova, e constatard, mui provavelmente, que jamais sentira tanto prazer com o amor. Muitas mulheres, na verdade, foram até muito generosas em me dizer que nao { sabiam que fazer amor poderia ser uma delicia assim tao extasiante. Como 0 adepto do Tao do Amor trata a questao? E como consigo fruir meu amor emitindo tio pouco? 1S War Resumo. 29 Antes de fazé-los compreender tudo isso, devo contar-thes algumas experiéncias pessoais minhas. Nasci em uma das pro- vincias mais romanticas da China; a cidade — a capital da pro- vincia Hangchow — esta indiseutivelmente localizada no mais belo cendrio chinés e, segundo Marco Palo [em cujo livro a cidade se chama Kingsay), é a cidade mais nobre do mundo. © elogio comove até mesmo um habitante da linda Venezal Antiga capital da Dinastia Sung do Sul, uma dinastia das mais artisticas, de seus arredores, ainda hoje, provém uma grande parte dos escritores e poetas chineses. Nos meses de abril e maid, a cidade parece um sonho euforico, Especialmente em volta do lago, cujo nome Shi Shih foi dado em homenagem a Shi Tzu, talvez a mulher mais linda da histéria chinesa, nasci- da do outro lado do rio que atravessa a cidade, hd centenas de anos antes de Cristo. E uma das colinas em valta do lago rece- beu o nome de um famosa taojsta, Ko Hung, a quem faremos eventual menedo nesse liveo, Passei muitos anos de minha intancia nessa cidade, perto desse lindo lago. E qual o resultado? Jé aos sete anos de idade interessaya- me pelas mulheres bonitas. Os sexologistas |hes dirdo que a ptatica da vida amprosa do homem inicia-se com a masturba- ¢do Masturbei-me aos doze ou treze anos de idade, @ nao fi- quet nada satisfeita, Talvez por eu ter sido uma crianga mima- da pelo lindo cendrio natural, pela literatura e pela poesia. Senti que a masturba¢do era um ato muito mecdnico e que nada continha de poesia. Acreditoa que eu seja um dos poucos homens que tenha se masturbado, no mdxima, umas doze vezes em toda a vida. E 4s vezes fico imaginando como é& possivel que os sexdjogos chamem a esse ato tao entediante, tio mondtono, de “uma alegria do sexo’? E ndo é a toa que, dentre os taoistas, a assuntoa ndo seja sequer mencianado. © coito com uma mulher sf ine ocorreu por volta dos dezoito anos. Nido por falta de opurtunidade, e sim porque demorei muito teripo para aprender a tirar proveito delas. E meus primeiros coitos decepcionaram-me tanto quanta minha breve aventura com a masturbagdo. Como jé disse artes, eu ejaculara — ou melhor, me masturbara dentro’ das vayinas 30) enho para mim, hoje, que o que eu fazia era precisamente 830) — por doze anos, sem conseguir muito .prazer com isso. “Eis as razGes: 1) o homem estd sempre ansioso para ejacular; 2) a mulher esté sempre preocupada com a gravidez; 3) e se ela toma pilula, ou se usa um DIU, estd sempre Preocupada com os efeitos colaterais; e se, porventura, usa um outro implemento qualquer, néo pode esquecer-se de colocé-lo a'tempo. Com todas essas preocupagdes, como é possivel a um homem e uma mulher consumarem, de fato, o @xtase poética? Agora, compare essa situag¢do com a de um homem que aprendeu o Tao. Em primeira lugar, tanto ele como a parceira so livres, livres de todas essas preocupagées que acabei de enumerar. Além disso, estdo livres para fazer amor sempre que haja tempo e desejo. Fazer amor, para eles, 6 tio mais du- radouro, tio mais freqiiente, que ambos poderdo fruir e sabo- rear, reciprocamente — e tempo haverd para isso — a textura da pele, as curvas do corpo, 6% aromas sedutores de cada um etc. Ora, se estivermos preocupados, isso torna-se inteiramen- te impossivel. A menos que passe a utilizar-se dos métodas do Tao do Amor, o homem encontrar-se-4 sempre na situacdo daquele glut#o que, embora deseje repetir seu prato predileto por di- ‘versas Vezes, Ndo consegue fazé-lo, infelizmente, pois a capaci- dade do estémago nfo o permite. Os pobres ramanos gosta- vam tanto do que comiam que costumavam voritar para repetir a refeicdo. Em minha maneira de ver, a pratica nao é hem um pouco sauddvel, econdmica, e nem mesmo estética. Jd um casal que tenha aprendido o Tao poderd saborear, sem Parar, seus pratos amorosos prediletos. Sei que nada disso responde 4 pergunta: “Como é fazer sexo semi ejacular?” Em certo sentido, a pergunta é mesmo irrespondivel. Ten- | tar respondé-la seria o mesmo que tentar responder a um cego quando ele nos pergunta: “’O que é 0 azul?” Tudo o que posso aL fazer ¢ langar, em resposta, uma outra pergunta: Como é ejacular?” Estou certo de que a resposta serd que a ejaculagao é um alfvio de tensdo, obtido de modo explosivo. Eo mesmo que um grito de raiva, que a explosio de uma gargalhada etc. Consideremos que isso seja verdade. Direi, entao, que sexo sem ejaculagdo é também um alivio de tensdo, apenas que a explosao inexiste. E um prazer de paz, e nfo de violén- cia, 6 uma fusio de satisfagdo sensual e duradoura em algo maior, em algo que transcende 4 propria pessoa. A sensagao é de integridade, e nfo de separacdo; é um espasmo envolvente, compartilhado, e ndo um espasmo exclusivo, particular e soli- tério. Mais do que isso, ndo hd palavras, 4. A harmonia de Yin,e Yang A é@nfase decisiva sobre a regulagdo da ejaculagdo de acordo com a idade, o estado de satide etc., do homem, nao foi uma ado¢do arbitraria dos mestres do Tao do Amor; ela é fruto de uma conclusdo, alcangada apés centenas de anos de cuida- dasa observagda, de uma conclusfo que veio definir o sé¢men masculine como‘uma esséncia vital e que, come tal, nao deve- ria ser esbanjado de maneira incontrolada. Sun S'sd-Mo, o médico mais proeminente do perfodo T’ang (618-906 a.C.), disse em sua Priceless Recipe |Receita sem Prego"): “Quan- ‘do um homem esbanja’? o proprio sémen, adoece; quando, sem qualquer cuidado, esgota o proprio sémen, morre. E, para um homem, esse 6 0 o ponte mais importante do qual ele tem de se lembrar sempre.” Ao adquirir a capacidade para regular a prépria ejacula- ¢Go, o homem, além de preservar sua esséncia vital, obtém be- neficios muito maiores. Em primeiro lugar, a companheira de amor jamais ficaré insatisfeita. Ele agora, com muito mais confianga em si mesmo, estard apto a fazer amor sempre que 'T “Esbanjar” aqui est§ empregado no sentido de utilizar recurcos aldm das pos- sibilidades humanas. 32 ele ¢ ela desejarem fazé-lo. E, por conseguirem fazér amor com maior freqiiéncia, e de maneira mais prolongada, os par- eeiros beneficiam-se mutuamente, mais integralmente, das essdricias do outro. Ele, da esséncia Yin da companheira; ela, da esséncia Yang do companheiro. O resultado para ambos ¢ uma paz de esp/rito Gnica. Essa tranqiilidade, proveniente desse calor constante e desse amor prazeroso, os chineses antigos a chamavam de “harmonia de Yin e Yang". Para nds, ela é 0 Tao do Amor que, em épocas mais remotas, jd passou pelas sequintes denominagées: “Tao de Yin e Yang’, “Tao da Comunhao” e ’Comunhdo de Yin/Yang". 5. A similaridade entre o antigo e 0 moderno na teoria da harmonia 6 da felicidade Ha cerca de 30 anos atrds, René Spitz, Catedratico da Escola Médica da Universidade de Colorado, descobriu que mais de 30% dos bebés dos orfanatos nfo consequiam sobreviver ao primeiro ano de uma vida institucional impessoal, sem amor. E isso apesar da boa comida, das instalagdes materiais higieni- zadas e do excelente tratamento médico que recebiam. E, em nossos dias, © suico Jean Piaget, notdvel psicéloga infantil, surgiu para enfatizar a impartancia vital do amor/contato & da comunicagdo para o bem-estar e para o crescimento sadio das criangas. Também para os adultos, homens e mulheres, esse amor! contato, essa comunicacao, so igualmente vitais, um canhe- cimento que, no Ocidente, veio a puiblico apenas recentemen- te através de algumas publicagdes, ¢ dentre elas The Pleasure Bond, terceiro livro de Masters e Johnson. Para os dois auto- res, felicidade humana e bem-estar sf0 praticamente inating/- veis sem © amor/contato regular entre homens e mulheres. Estd claro que a proposigo é bastante semelhante 4 harmonia Yin/Yang a que nos referimos nesse livro, com uma. ligeira di- ferenca: os taofstas antigos enfatizam a importancia de o homem adquirir a capacidade de regular a propria emissdo. Essa insistancia do Tao quanto ao controle da ejaculacao tem o objetivo de dotar o homem e a mulher com uma 33 capacidade ¢ oportunidade ilimitadas para tocarem-se e ama- ram-se um ao outro, Seria indtil recomendar a realizagdo de um ato que a grande maioria dos homens considera de dificil execucgo, isto €, o ato de tocar sua mulher com amor sempre que ela, nas horas de lazer, se aproxima dele. Quase todo homem cansado, 6 pensamento geral, por duas razGes muito simples, prefere ndo ser tocado (isso, é claro, se ele ainda ndo aprendeu o Tao) pela mulher. Ou porque tem medo de ndo conseguir satisfazé-la ou simplesmente porque prefere ir dormir sem ser molestado. Porém, quando o homem aprende @ regular a emisséo, livra-se desses temores e pode até, mesmo maquelas horas em que deseja simplesmente dormir, ser toca- do e acariciado precisamente para dormir. Pode até fazer um pouco de amor pois, ao aprender o Tao, o amor deixa de ser um esforgo. Quase toda mulher experiente ressente-se do pouco amor/contato que recebe do companheiro. Nao seria exagero dizermos que essa insatisfagdo tem levado muitas mulheres ao lesbianismo!® e um niimero muito maior delas a transferir seu afeto para os animais domésticos que, segundo a regra geral, reagem com muito calor a todo toque. E comum ouvirmos as mulheres confessarem que se voltaram para o proprio sexo por sentirem que apenas uma outra mulher pode compreen- der em profundidade essa necessidade de carfcias. E dbvio que isso nem sempre é verdadeiro pois, por natureza, o pré- prio homem sente essa mesma necessidade, na mesma intensi- dade, de amor/contato. A grande maioria deles, porém, ja- mais teve uma oportunidade para aprender a enfrentar a si- tua¢do. Esse é 9 problema. Para explicd-lo, hd o exemplo de um homem, Léautaud, a quem faremos mengio nesse livro. 0 exemplo é muito interessante, Ao aprender o Tao, a fruiggo do homem com o amor/contato seré infinitamente maior, pois a fronteira entre “8 Em Anais Nin, Journal, vol, 2, 9 Battia Wyton, The Lesbian Myth, podemos ancontrar provas qua consubstenciam nossa sfirmativa. Em Journal da Nin, hi o dopoimento de uma idsbica em que ole afirma categoricamente que seria preferi: val ser amada © tocads por um homem:; a mulher 6, para ele, sua segunda opeso. 34 &mor/contato e fazer amor 6 muito pequena. O homem, en- tretanto, apenas alcangard a compreensdo completa desse Ponte quando aprengier o Tao, Todo adepto do Tao do Amor, além de fruir muito mais, se beneficiard, tanto quanto a companheira, do amor reciproco, Daqui a pouco, expli- caremas por qué. 6. Nei tan (elixir interior) e wai tan (elixir exterior) Tendo aprendido a relaxar e a estar em paz com seu ambien- te, o tacista goza a vida intensamente, Em consequéncia disso, busca alcangar, mais ativamente, uma vida longa ¢ sauddvel, Nao € 4 toa que os grandes médicos chineses antigos eram taoistas. E ndo nos surpreende a grande quantidade de abor- dagens diferentes 4 longevidade. Afinal, a quantidade de tao/stas, nesses milhares de anos, é imensa, S80 duas as escolas bdsicas: uma delas prega, princi- palmente, o elixir exterior; a outra acredita, principalmente, no elixir interior. Dizemos “principalmente’’ pois a linha divi- sdria entre as duas nSo estd claramente definida. Os tacistas do “elixir exterior” eram alquimistas que tentavam constan- temente descobrir pog&es purificadoras que os levassem & imortalidade. Os elixiristas interiores eram mais realistas e mais prudentes. Acreditavam que o que estd dentro de uma Pessoa, além de oferecer a ela maior seguranga, 4 perfeita- mente suficiente para prolongar-Ihe a vida, Bastante convin- cente ¢ o exemplo de Sun S'sG-Mo, médico famoso que, tendo vivido mais de um século, de 581 a G82 a.C., sempre fora um forte advogado do elixir interior e jamais recorrera a qualquer espécie de remédio sem tentar antes todos os mé- todos naturais. N&o nos aprofundaremos nos detalhes do elixir exte- rior, que estd relacionado a uma puriticagio de misturas € metais em tabletes dourados, Faremos, entretanto, uma in- cursio mais profunda no elixir interior, cuja parte mais importante 6 o Tao do Amor. O elixir interior esté mais voltado para a mente. Por exemplo, é através da mente que conseguimos controlar a 35 ejaculagdo; e@ & também através da mente que podemos aprender a respirar corretamente. Mas, 6 Gbvio, nao é s6 atra- vés da mente, O elixirista interior tenta alcangar, o mais pos- s{vel, uma coordenacao perfeita entre 0 corpo e a mente de uma pessoa. E a conseque através de um regime de exere/cios. 0 segundo fator importante do elixir interior é procurar conservar €.preservar muitas das coisas que as pessoas de men- talidade cientifica costumam tratar com escdrmio. Eu, pessoal- mente, nfo costumo fazer isso pois, 8 medida que o tempo. passa, uma apdés outra, muitas coisas, que pareciam rid{culas na época em que essas mesmas pessoas tentavam realizd-las, acabaram por sensibilizar-me. O sémen masculino é um exemplo interessante. Vamos discutito mais 4 frente. Agora, porém, quero referir-me a um exemplo interessante, também recente: o caso da preservago do suor masculino. Os fisiolo- gistas ocidentais chegaram a advogar, por anos a fio, que exer- citar-se até o suor era algo bastante salutar, Pensaremos duas vezes, contudo, se passarmos os olhos no livro chamado A For- ma Fisica Total,'® de autoria de L. E, Morehouse. Morehouse talvez seja o primeiro fisiologista ocidental a advogar que o homem deve poupar seu suor. Para ele, quando o homem chega a suar, 6 porque ja se excedeu nos exercicios. E a isso qualquer tao(sta ainda acrescentaria que a perspiragdo exces- siva é um sinal evidente de que a pessoa nao aprendeu a rela- xar suficienternente. N3o nos demoraremos no tema dos eli- xires, tanto do exterior quanto do interior. Caso o leitor dese- je uma compreensdo mais profunda do assunto, poderd en- contrar ‘tudo o que quiser saber ho livro de Joseph Needham, Chemistry and Chemical Technology, Volume 5 de Science and Civilization in China, Parte 5; “os Macrobidgenes exterio- res é interiores; o Elixir eo Enquinoma”. 1 Edigdo Artenava. 36 Capitulo I! Compreendendo O Tao do Amor ...ndo bd remédio, alimento ou salvagao espiritual que possa prolongar 8 vida de um homem se efe nfo compreende ¢ nam pratica o Tae do Amar. PENG TSU 1. Trés conceitos bdsicos do Tao Ha trés conceitos bésicos que distinguem o Tao do amor dos demais estudos sexuais. Devem ser bem compreendidos antes que possam ser colocados em pratica. (Esses conceitos serio alvo de debate mais profundo nas paginas 40, 45-60, 90-92). ‘0 primeiro conceito ¢ que o homem deve aprender a descobrir o correto intervale de ejaculac¢do adequado & sua idade e a sua condigao fisica, Isso o fortalecerd tanto que poderd fazer amor sempre que for esse 0 seu desejo e o de sua companheira, e que poderd pralongar o ato do amor pelo tempo necessdrio (ou reduzi-lo, se for o caso) & satisfacdo completa de sua parceira. © segundo conceitd envolve uma revoluggo no pensa- mento sexual do Ocidente. Os chineses antigos acreditavam que a ejaculacdo — especialmente a ejaculagdo descontrolada — ndo era, para o homem, o momento de maior éxtase, A partir do momento em que o homem tome consciéncia disso, descobrird, no sexo, alegrias muito mais prazerosas e vera fa- cilitado, conseqiientemente, o controle da emiss&o do sémen. Esse segundo conceito ¢ uma derivacdo direta do didlago en- tre Tsai Ni e P’éng Tsu citado em Ejaculapdo Reconsiderada. 37 O terceiro conceito é também muito significative, embo- fa sob outro aspecto. Fala da importancia da satisfagio fe- minina jé tao divulgada no Ocidente através do trabalho de Kinsey @ de diversos pesquisadores sexuais ocidentais, uma divulga¢o bastante ampliada, nos Gltimos anos, pelos Movi- mentos Feministas cujas conclusdes hoje jé nda mais est¥o expostas ao mesmo nivel de questionamento anterior, Esses trés conceitos constituem a base real da filosofia do amor dos chineses antigos. Além de levarem homens e mulheres a um ponto préxi- mo ao fazer amor na freqiiéncia e duragdo que desejassem, esses conceitos devem 4 China antiga uma liberdade e uma naturalidade sexuais que muito floresceram durante taco oO tempo em que Tao/smo foi filosofia dominante, os taofstas dispunham que a harmonia sexual colocava o individuo em comunhdo com a natureza, uma natureza que, acreditavam eles, possuia tonalidades sexuais préprias. A Terra, por exem- plo, é a fémea, ou elemento Yin; o Céu era o macho, ou Yang. A intengdo dos dois constitufa o todo. Por extensdo, a unido de homens e mulheres também criava uma unidade. E tanto um quanto o outro eram igualmente importantes, 2. O papel das mulheres Desde os primérdios as mulheres desempenhavam um papel significativo na filosofia do Tao do Amor. Sempre se destaca- vam como mestres @ consultores do Tao do Amor junto ao Imperadar. Foi muito mais tarde na Historia Chinesa, porém, qué esse papel degenerou-se e subordinou-se. Mas a impor- tancia da posiggo da mulher foi amplamente ilustrada nos textos do Tao do Amor, textos esses alguns deles ainda dis- Pontveis €m nossos dias. Muitos deles foram escrites sab a forma de didlogos, e dentre esses encontramos o didlogo do Imperador Huang Ti e sua consultora Su NU, E como jd vimos nos didloges acima, foram escritos em uma linguagem deseri- tiva, encantadora. O ‘phallus’, por exemplo, transforma-se em “haste de jade” (yli héng), ea “‘vulva’’em “portio de jade" (yd mén). Nesse aspecto hd um ponto interessante, Os chine- ses jamais usavam esses termos da maneira pejorativa com que &$ pessoas os tratam hoje em dia. E que sua relagdo aberta e 38 desinibida com 0 sexo os impossibilitavam de pensar nas expressdes sexuals como “'palavrées’. Em nosso livro, por vezes, a titulo de variedade, usamos © termo antigo yu héng em vez de “phallus”. 3.4 importancia do fazer amor O grau de importancia do fazer amor pode ser constatado em um didlogo em Su Nu Ching: Imperador Huang Ti: “Estou fatigado, estou em desarmonia. Estou tris- te e apreensive. O que devo fazer para solucionar isso? - ' Su Wd: Toda debilidade do homem deve ser atribuida as maneiras feitas de amor. A mulher é mais forte que o homem, em sexo € constituigio, @ assim a dgua 6 mais forte que o fogo. Os que conhecem o Tao do Amor sfo. como os bons cozinheiros que sabem misturar os cincos sabo- res e fazer com eles um delicioso prato, Os que conhecem o Tao do Amor ¢ harmonizam o Yin (fémea) e Yang (macho) so capazes de mis- turar as cinco alegrias e obter com eles um prazer celestial; os que ndo conhecem o Tao do Amor morrerdo antes do tempo sem mesmo ter gozada (apreciado) © prazer de amar. Nao seria por isso que sua Majes- tade deveria estar procurando?” No prosseguir ... didlogo, Huang Ti decide testar o con- selho recebido. Volta-se, entdo, para Hsan NU, uma outra conselheira (seus conselheiros so quatro ao todo, um celes é homem): Huang Ti: "Su Ni ensinou-me a aleangar a harmonia de Yin e Yang. Agora desejo ouvir o que voct tem a dizer sobre o assunto para que eu Possa Confirmar o que aprendi.” Asgan Na; "Em nosso Universo, todas as vidas séo erladas através da harmonia de Yin e Yang Quando Yang conseguir a harmonia de Yin todos o$ seus problemas sergo solucionados, e quando Yin conseguir a harmonia de Yang, todos os obstaculos de seu caminho desaparecerdo. Um Yin e um Yeng devem prestar assisténcia constante um ao outro. Assim o homem s sentird firme @ forte. E a mulher estard apta a recebé-lo dentro de si, Os dois, entéo, estariio em comunhio e@ as secregSes de ambos os nutrirdo reciprocamente ...‘"

Você também pode gostar