Você está na página 1de 59

O Manual de Um Ano

Doze Passos para a Iluminação


Espiritual

Israel Regardie

Dedicado gratamente a CARR P. COLLINS JR., que sugeriu e


inspirou este livro, e sem o qual nunca teria sido escrito – ou
concluído!
Prefácio
Este livro foi previamente intitulado Doze Passos para a
Iluminação Espiritual. Na medida em que se pretendia ser um
manual delineando um curso prático a ser percorrido por um
período de pelo menos doze meses, esse título parece um pouco
presunçoso. Minha intenção original era chamá-lo de O Manual
de Um Ano. O título descreve a natureza do livro sem pretensões,
suposições ou afirmações exageradas.

Várias experiências se abarrotaram em minha mente, não apenas


sobre o título, mas também pelas referências cristãs que eram
realmente muito diferentes de minha percepção. O primeiro golpe
veio quando uma psicóloga que mora na Flórida se correspondeu
comigo sobre alguns de meus outros livros. Então ela esbarrou
com o Doze Passos para a Iluminação Espiritual. Ele a irritou
tanto que ela me escreveu muito enfaticamente sobre sua
desaprovação. Honestamente, não havia nada que eu pudesse
fazer, a não ser escrever de volta concordando com ela e admitindo
que eu também não tinha grande simpatia por essas referências
cristãs.

Algum tempo depois disso houve um editorial em uma pequena


revista britânica chamada de Agape, com cujo editor
ocasionalmente eu mantinha correspondência. Este editorial foi o
mais crítico tanto sobre mim quanto sobre o livro. Isso me fez
perceber a grandiosidade do meu erro e quão longe eu havia
fugido do que realmente era aceitável para mim.

Houve vários outros que martelaram no mesmo prego.


O erro consistia simplesmente de ser muito suscetível às sugestões
de amigos bem-intencionados. A afirmação deles era de que a
inclusão de alusões thelêmicas, egípcias e outras referências pagãs,
poderiam ser difíceis de ser aceitas por alguns leitores. Hoje me
incomoda um pouco admitir que eu fui influenciado por este
argumento enganador. Também foi sugerido que se itens cristãos
substituíssem os acima, isso asseguraria uma circulação e venda
maior deste livro.

O resultado de tudo isso é a revisão do livro na forma


originalmente pretendida, antes que amigos próximos e queridos
sugerissem modificações de um tipo ou de outro. A maioria do
material é idêntica ao do Doze Passos. No entanto, a inclinação é
totalmente diferente e pode apelar a um grupo diferente de
estudantes. Em sua forma atual ele se aproxima mais de minha
intenção original, e assim está mais ao meu gosto.

Como foi afirmado anteriormente, este manual delineia um curso


prático que deve se estender por um período de pelo menos doze
meses. Teoricamente, ele foi projetado para o estudante ideal. No
entanto, como não há tal “ideal”, cada estudante representa um
problema diferente. Cada um é uma personalidade única com sua
própria estrutura de caráter, suas idiossincrasias próprias e sua
própria maneira de resolver problemas em um determinado
período de tempo. Não existem dois estudantes iguais.

Sob estas circunstâncias, deve ser evidente que, embora projetado


para um período de doze meses, é mais provável que o estudante
possa precisar gastar uns bons cinco anos trabalhando com estes
métodos simples. Alguns exercícios podem ser completados e
dominados no mês prescrito. Outros procedimentos podem exigir
algo entre três meses e um ano antes que qualquer domínio real ou
resultado perceptível seja alcançado. Portanto é importante
estressar a paciência como uma necessidade suprema no que diz
respeito a este curso de estudo. Alguns exercícios têm como um
ganho secundário a aquisição de um maior grau de paciência.

Essas injunções simples exigem pouca elaboração. Não se apressar


seria a máxima ideal para que todos os estudantes adotassem
quando começassem a estudar e praticar este esquema. Isso
pagará ótimos dividendos no final.

Seria de infinito valor se, durante a execução destes exercícios, o


estudante mantivesse o que eu proponho chamar de um Diário.
Em procedimentos contábeis, o Livro Diário é um registro no qual
são lançadas todas as transações do dia, independentemente do
que elas são. Neste Diário, ou Livro de Trabalho, que estamos
considerando, o estudante deve manter um registro detalhado de
todas as práticas com as quais ele se envolve. Imediatamente após
a realização de cada exercício, ele deve gastar alguns minutos de
sua próxima tarefa a fim de escrever os registros neste Diário. Ele
deveria anotar a data e a hora do dia, o exercício em particular que
praticou, quantos minutos foram dedicados a ele, o que ele sentiu
sobre a maneira pela qual ele procedeu, quaisquer experiências
que possam ter ocorrido, e finalmente, a sua avaliação do próprio
período. Pode até ser que valha a pena registrar alguns dados
adicionais, como o tipo de clima predominante, a temperatura
dentro do ambiente em que ele está trabalhando e o estado
emocional geral, etc.

Se este Diário for escrupulosamente mantido, no término de um


ano, independentemente de ele ser visto ou examinado por
qualquer outra pessoa, o estudante eventualmente será capaz de
contemplar seus esforços com razoável objetividade. Pode vir
como uma distinta surpresa ler alguns de seus comentários iniciais
sobre as suas primeiras experiências e esforços. Ele pode até
perceber um padrão psicológico através de todos os seus exercícios
e quaisquer resultados que floresçam a partir deles. Considerável
introspeção pode ser obtida daí. Portanto, a manutenção do Diário
é uma questão de primordial importância. Deve ser dada atenção
meticulosa a ele desde o começo.

O estudante do oculto, no início de seus estudos, é cercada por


centenas de livros que descrevem dezenas de práticas de todo tipo.
Eles prometem, diretamente ou não, conduzi-lo às próprias alturas
da consecução espiritual, não importa como essa consecução é
definida. Mas ele é oprimido pela própria abundância de material.
E no geral o resultado é que ele não faz nada exceto ler. Ler ajuda
muito pouco em trazer-lhe a qualquer tipo de realização de sua
natureza divina.

Neste manual, propõe-se carregar o estudante com muito pouca


teoria, mas também esboçar um curso de procedimentos que, se
feitos com persistência por pelo menos doze meses, lhe conduzirão
a uma boa altura do Caminho. Este curso de procedimentos
descreverá certo número de práticas clássicas que foram
elaboradas para produzir certos tipos de resultados. Não haverá
nenhuma tentativa de deslumbrá-lo com promessas
surpreendentes, mas vagas, com fantasias de grandes realizações,
com alegações enganosas levando a lugar nenhum.

Eu simplesmente sugiro que essa prática ou aquela, quando


fielmente executada, deverá produzir tal e tal resultado. A
velocidade com que tais resultados são obtidos naturalmente deve
variar de acordo com cada estudante. Cada ser humano é
diferente, embora construídos mais ou menos na mesma base
anatômica, fisiológica, psicológica e espiritual. Mas dentro dessas
áreas há espaço para uma variedade de diferenças. Tais diferenças
determinarão se ele consegue trabalhar rapidamente,
concentradamente, dinamicamente, lentamente, metodicamente,
imaginativamente, ou sem qualquer visão real de aonde está indo.
Mas se este programa for seguido, com certeza no final de um ano
ele se achará uma pessoa mudada, com uma perspectiva bastante
alterada sobre a vida, uma melhor percepção de si mesmo, e capaz
de sofrer algum tipo de disciplina interior que em última análise o
levará ao longo da trilha que os antigos gigantes espirituais
trilharam.

Pode ser que quando essa hora chegar, ele possa se achar mais
capaz de apreciar os sistemas de treinamento mais complexos
descritos em duas enciclopédias ocultistas que eu editei. A
primeira, e mais antiga, é A Aurora Dourada(Editora Madras).
Um sistema de treinamento profundo e mais eficaz é descrito em
grandes detalhes. Com a sua sensibilidade e disciplina recém-
descobertas, o estudante pode descobrir que isso não é mais tão
misterioso ou opressivo como uma vez pode ter parecido. A
enciclopédia mais recente é a Gems from the Equinox. Este é
composto por instruções mágicas belamente escritas por Aleister
Crowley para sua própria Ordem ocultista, a A∴A∴. Eu conheci
muitos estudantes ao longo dos anos que, tendo lido estas
instruções, por um ou mais motivos, foram dissuadidos, achando-
as inteiramente e demasiado complicadas ou difíceis ou
ininteligíveis. Acredito que tendo concluído o curso de
treinamento descrito neste manual de um ano, o aluno pode se
achar muito mais preparado para adotar as disciplinas que
Crowley recomendou. Na verdade, eu prefiro imaginar que o
Probacionista da A∴A∴ de Crowley poderia achar que este manual
é da máxima importância para prepará-lo para o avanço ao Grau
de Neófito. Nenhum desses dois Graus deve representar qualquer
grande problema ou dificuldade insuperável para o estudante que
primeiramente dominou as disciplinas mais simples descritas
aqui.

Israel Regardie
As Quatro Adorações
Nas antigas grandes eras, o homem percebia intuitivamente a sua
relação com a natureza e com o universo vivo em que vivia e do
qual era parte. Ele sentia sua unidade com todos os elementos. Na
plenitude de sua vida ele adorava o Sol como um símbolo visível
do Deus desconhecido em quem vivemos, nos movemos e temos
nosso ser. É axiomático que luz é vida, e ambos são dependentes
do Sol — que assim se torna um símbolo vital de Deus.

Em nossa era moderna e científica de invenções e coisas, com o


nosso estilo de vida antinatural divorciado do contato com a raiz
dinâmica das coisas, nós perdemos essa sabedoria essencial. Para
que possamos mais uma vez progredir em direção à plena
consciência da fonte da vida e do amor e da liberdade, fazemos
gestos rituais afirmando uma ligação entre o Sol e nós mesmos.
Sobre a base desses gestos de adoração, todo ato na vida pode ser
dedicado de tal forma que a vida se torna santificada e
transformada.

Apesar de que Deus seja uma unidade, o Sol, como um símbolo de


Deus, aparece de maneiras diferentes em cada uma das suas
quatro estações diárias — o amanhecer, o pôr-do-sol, o meio-dia e
a meia-noite. Portanto, uma adoração é dirigida para o Sol em
cada uma dessas quatro estações.

Ao amanhecer, ou ao levantar, deve-se executar quaisquer


abluções que sejam habituais e, em seguida, voltando-se para o
leste, dizer em voz alta:

Saudações a Ti que és Rá em Teu levante!


Justo a Ti que és Rá em Tua força,
Que viajas acima dos Céus em Tua barca
No Alvorecer do Sol.
Tahuti erguido em Esplendor na proa
E Ra-Hoor permanece no leme.
Saudações a Ti das Moradas da Madrugada!

Grande parte do simbolismo inerente a este ato de adoração


simples pode ser despercebido pelo estudante por um tempo
considerável. Isso ainda não importa. Mas não deveria ser
permitido que isso sirva como um obstáculo à prática diária, nem
para impedi-lo de adorar a Deus na forma do Sol nascente todos
os dias de sua vida.

Ao meio-dia, onde quer que esteja — em casa, no escritório, nas


ruas, ou em uma fábrica — que ele adore a Deus. Ajudará em
alguma medida trazer Deus em sua vida. Vire-se para o sul e diga:

Saudações a Ti que és Hathoor em Teu triunfo,


Justo a Ti que és Ahathoor em Tua beleza,
Que viajas acima dos Céus em Tua barca
No Meio-curso do Sol.
Tahuti erguido em Esplendor na proa,
E Ra-Hoor permanece no leme.
Saudações a Ti das Moradas da Manhã!

Ao entardecer, quando o Sol se põe, que ele se vire para o oeste e


adore o Senhor do Universo com estas palavras:

Saudações a Ti que és Tum em Teu crepúsculo,


Justo a Ti que és Tum em Tua alegria,
Que viajas acima dos Céus em Tua barca
No Pôr do Sol.
Tahuti erguido em Esplendor na proa
E Ra-Hoor permanece no leme
Saudações a Ti das Moradas do Dia!

À meia-noite ou ao ir dormir, vire-se para o norte e diga:

Saudações a Ti que és Khephra em Teu ocultamento,


Justo a Ti que és Khephra em Teu silêncio,
Que viajas acima dos Céus em Tua barca
À Hora da Meia-noite do Sol.
Tahuti erguido em Esplendor na proa
E Ra-Hoor permanece no leme.
Saudações a Ti das Moradas da Noite.

Esta prática específica deveria ser tornada uma parte regular da


vida cotidiana e deveria ser mantida até que ela se torne uma parte
de seu estilo de vida. Os outros exercícios aqui descritos podem ser
realizados por períodos de tempo limitados ou variáveis, mas estas
Adorações Quádruplas em particular devem ser integradas por
todo o tempo no padrão diário de vida.
Passo 1:
Consciência do Corpo
Um dos principais objetivos de qualquer sistema de
autodesenvolvimento ou crescimento espiritual é a aquisição de
sensibilidade ou autoconsciência. Só há uma maneira de adquirir
essa consciência — e essa é: tornar-se consciente.

Sentado confortavelmente em uma cadeira de encosto reto, ou


deitado de costas na cama, meramente tenta-se observar o que
está acontecendo, por assim dizer, “por baixo da pele”. Você
simplesmente observa o seu corpo, suas sensações e sentimentos
aqui e agora. Só isso — e nada mais. Não tente relaxar ou respirar
de alguma forma incomum ou especial, ou tentar controlar os
pensamentos que flutuam pela mente. Todos estes processos e
métodos serão tratados posteriormente. Por enquanto, apenas se
torne consciente de qualquer sensação que surja em qualquer
lugar do corpo.

Eu sugiro que você se mexa por um momento ou dois para


descobrir aquela posição que parece mais confortável. Tendo
encontrado, permaneça nela, e não se mova dela de forma alguma.
Não deve haver absolutamente nenhum movimento muscular
voluntário pelo resto da sessão de prática. Nem mesmo uma
mexida de um dedo do pé, ou da mão. A princípio a sessão não
deve durar mais de dez minutos, mas gradualmente até o final do
mês deverá ser estendido até meia hora. Para muitas pessoas isso
parecerá uma eternidade em que cada instinto chorará por algum
tipo de mexida que alivie a tensão. Isso deveria ser evitado. Outros
estudantes perceberão os dez minutos passando, por assim dizer,
num piscar de olhos.
É importante desenvolver o seu poder de concentração durante a
prática destes exercícios de consciência. Se sua mente divagar,
traga-a gentilmente de volta. Seu poder de concentração
melhorará a cada dia.

Enquanto você se senta ou deita quietamente, você pode tornar-se


consciente de uma coceira do couro cabeludo. Deixe-a em paz.
Não faça nada quanto a ela. Não coce. Apenas observe. Em um
momento ou dois, ela pode diminuir e desaparecer, ou então a sua
atenção vai se distrair com um formigamento em outro lugar.
Agora, você pode tornar-se consciente das costas apoiadas na
cama ou na cadeira. Apenas assista a este processo. Tente apenas
se tornar perfeitamente ciente das sensações do corpo que
acompanha, sem sequer tentar ignorá-las ou alterá-las.

Não faça julgamentos sobre o que você observa. Apenas perceba.


Não critique nem rejeite qualquer uma dessas sensações. Elas
podem ser confortáveis ou desconfortáveis, prazerosas ou não,
mas elas são suas. Aceite-as como elas são. Elas são você!

Sensações em diferentes partes do corpo vêm e vão, sem ritmo ou


razão aparente. Assista-as. Muitas vezes, é uma boa ideia
verbalizar de forma audível exatamente o que você sente. É um
procedimento que muitas vezes eu uso no meu trabalho, onde eu
encorajo o paciente, deitado no divã, a expressar de forma audível
o suficiente para eu ouvir a descrição exata do que ele está
sentindo no momento, e onde.

O resultado disso é que um relaxamento profundo da tensão


nervosa se desenvolve apenas na base da observação. Você não faz
nada senão observar a ascensão e queda das sensações sem tentar
nem sequer modificar qualquer fenômeno que possa ocorrer. Mas
no dia a dia a prática aumentará grandemente esta função que é
chamada de auto recordação, plenitude de atenção,
autoconsciência, e muitos outros nomes. Sem essa
autoconsciência, muito pouco pode ser feito no Caminho. Todos os
outros exercícios e procedimentos complexos realmente começam
a partir desta ampliação da autoconsciência.

Comece agora. Nenhum momento especial precisa ser separado


para este exercício. Você pode segui-lo onde quer que você esteja,
a qualquer momento, em qualquer lugar. Certamente na cama,
quando for dormir à noite, ou quando levantar de manhã, são
períodos de tempo excelentes para praticar esta arte de auto
recordação.

Ao executar as abluções diárias — tomar banho, se lavar, se


depilar, defecar, maquiar-se, vestir-se, etc. — pode-se aguçar a
percepção do que se está fazendo para tornar-se consciente das
mais pequenas e até então insignificantes sensações.

Esta arte pode ser estendida grandemente em uma variedade de


diferentes direções conforme a familiaridade com a prática torná-
lo mais consciente do que está acontecendo lá dentro. Por
exemplo, se a definição de Carl Jung de psicoterapia é que por ela
nos tornamos conscientes do que até então estava inconsciente,
então seguir este método resultará na consciência ampliadade um
grande número de sensações internas de que, anteriormente,
estávamos totalmente inconscientes. E nessa medida, seu
horizonte de seu self se ampliou. O Caminho foi adentrado.

Este exercício deve ser mantido por pelo menos um mês. No


mínimo dois períodos de prática devem ser reservados
diariamente, não mais do que dez minutos de cada vez. Isso
totalmente à parte da cessação momentânea das atividades em
diferentes momentos do dia em que se observa o que está
acontecendo lá dentro.
Passo 2:
Relaxamento
Existem técnicas bem definidas para o desenvolvimento do
processo de relaxamento, e podemos fazer uso dos ganhos obtidos
nos exercícios anteriores. Qualquer posição que tenha sido
empregada anteriormente deveria ser mantida agora. Ou uma
posição de costas ou em pé pode ser usada. Neste último caso,
uma cadeira de encosto firme para apoiar a coluna ereta, sem
dúvida, é melhor. Se deitado no sofá ou na cama, o colchão deve
ser moderadamente firme: mas se não for, a melhor alternativa é
um piso bem acarpetado. A razão para esta última recomendação é
que o chão não vai ceder, então o corpo do praticante que deverá
produzir o relaxamento.

Antes de deitar-se ou sentar-se, há alguns movimentos que eu


recomendo aos pacientes no consultório. Primeiramente, passe
um minuto ou dois pulando corda com uma corda invisível em
uma posição estacionária. Isso não é meramente um exercício para
melhorar a circulação sanguínea e estimular a respiração mais
profunda, mas em virtude da contração e relaxamento alternados
dos músculos, ele avançará no sentido de fornecer a base somática
correta sobre a qual prosseguir com essas técnicas de relaxamento
psicológico.

Após isso, fique de pé, com as pernas cerca de um pé longe uma da


outra, e tendo inspirado, expire todo o ar enquanto se deixa cair
para frente a partir da cintura, mole como uma boneca de pano. É
semelhante a um exercício físico de tentar tocar os dedos dos pés
sem dobrar os joelhos, caindo para frente completamente
relaxado. Estamos nos esforçando para produzir o relaxamento, e
não para fazer exercícios físicos. Deixe o tronco acima da cintura
cair enquanto expira, com os dedos e as mãos balançando perto
dos pés por um segundo ou dois, então, conforme você inspira,
suba lentamente até a posição ereta. Repita este processo uma
dúzia de vezes ou mais. Isso o ajudará a recuperar o fôlego após o
exercício de pular, e também a relaxar muitos dos músculos do
torso. Também dever-se-ia permitir que a cabeça e o pescoço
caíssem ao expirar ao deixar cair a parte superior do corpo acima
da cintura. Isso relaxará a musculatura do pescoço.

Mantenha sua mente em sintonia e concentrada em suas


sensações corporais. Só pense sobre o que você está fazendo.
Observe e concentre-se nas várias sensações do corpo.

Agora você está pronto para começar o exercício de relaxamento


em si. Faça algumas respirações muito profundas e, ao expirar,
solte um suspiro muito profundo. Se o diafragma e os músculos
abdominais relaxarem, a maior parte da musculatura e outros
tecidos supridos pelo sistema nervoso involuntário ou vegetativo
também se soltarão com isso. Deite tranquilamente nesta posição
por alguns segundos, observando-se o tempo todo. Familiarize-se
com o corpo; aprenda a perceber como é a sensação do corpo,
tornando-se ainda mais consciente. Os exercícios anteriores terão
lhe familiarizado com este método e com suas sensações.

A próxima etapa do processo emprega ativamente a imaginação


para estender os limites de sua consciência. Há uma lei fisiológica
bem conhecida de que um aumento do fluxo de sangue para
qualquer parte do corpo pode ser produzido concentrando-se
naquela parte do corpo. Não importa se é apenas tornar-se
consciente do sangue já existente nos vasos, ou se os impulsos
nervosos são transmitidos à parede muscular das artérias e vasos
na área contemplada, assim relaxando essas paredes para permitir
um maior fluxo de sangue; qualquer explicação será o bastante.
Que isso pode ser feito é uma experiência real que você pode
demonstrar por si mesmo.

Ao saber que existem tensões em um determinado membro ou


órgão nós podemos, usando a imaginação, estimular fibras
vasodilatadoras que relaxam os vasos sanguíneos permitindo que
o sangue flua em maiores quantidades. Um excesso de sangue —
uma congestão — causará certo grau de calor que por sua vez
induzirá o relaxamento da fibra muscular e do tecido que
desejarmos. Esta é a teoria; que leva diretamente para a prática.

Ela exige o uso ativo da imaginação. Primeiro de tudo, visualize


seu cérebro. Todo mundo já viu diagramas e desenhos do cérebro
com frequência o suficiente para saber como ele é no geral, sem
nomear os detalhes técnicos neurológicos. É uma massa de
substância branca e cinza, enrolada e retorcida, dividida por uma
fenda longa em dois hemisférios laterais, com uma parte dianteira
e traseira. Imagine-o, como você viu nos desenhos. Retenha
firmemente a imagem em sua mente até que você comece a sentir
uma sensação de calor se espalhando a partir do centro do crânio
para fora. Às vezes pode ser acompanhado de um formigamento
suave, uma sensação de alfinetadas e agulhadas. Facilite este
processo imaginando que os vasos sanguíneos dentro do cérebro
se dilataram o suficiente para reter maiores quantidades de
sangue, tornando o cérebro rosado, e que esse congestionamento
produziu o calor que já foi detectado.

Do cérebro prossiga para os olhos, imaginando que estes são como


duas bolas, cada uma pendurada de quatro pequenas cadeias
musculares. Trabalhe com essa imagem como você fez com a
anterior. Construindo-se a imagem mental, o lúmen dos vasos
sanguíneos nos músculos torna-se alargado e retém mais sangue
que aquece a massa muscular envolvente. Então eles relaxam,
produzindo a sensação de afundamento do globo ocular de volta
para suas bases.
É importante desenvolver o seu poder de concentração durante a
prática destes exercícios de relaxamento. Não permita que sua
mente vague do que você está fazendo, ou mais particularmente,
da área que você está relaxando. Concentre-se. Só pense no que
você está fazendo. Se sua mente divagar, gentilmente traga-a de
volta. Seu poder de concentração melhorará a cada dia.

Siga um procedimento semelhante no que diz respeito ao resto da


cabeça — ou seja, visualize o sangue quente fluindo através dos
vasos sanguíneos alargados até as têmporas, as orelhas, as maçãs
do rosto, depois para o nariz, boca, lábios, língua, maxilares e
queixo. Quase da mesma maneira, depois de ter feito as
construções mentais, você sentirá calor e formigamento se
formando nas áreas imaginadas, com o surgimento gradual da
sensação de relaxamento.

Quando tiver chegado até aqui — e pelo menos 10 minutos


deveriam ter sido gastos nesta ação — a maior parte do corpo
reflexivamente terá passado por um processo de relaxamento. Não
importa o quão relaxado você se sentiu após o primeiro exercício
de simplesmente observar o seu corpo — isso apenas preparou o
caminho. Os atuais exercícios lhe conduzem muito mais longe.

O restante da meia-hora de exercício — e o exercício deste mês não


deveria ocupar um minuto a menos do que isso — deveria ser
dedicado a lidar com todas as partes do corpo praticamente da
mesma maneira conforme descrito acima. O pescoço inteiro deve
ser tratado cuidadosamente. Trabalhe descendo sossegadamente
através dos ombros e dos braços até que a área abdominal seja
atingida. Então trabalhe minuciosamente sobre este. Quanto mais
você relaxar esta área do meio do abdômen, mais provável é que
todo o seu corpo responderá com um enorme “soltar”. Dr. Georg
Groddeck, o pai da medicina psicossomática moderna, chamava
esta área de o “meio-homem” do corpo. Nas belas imagens e
simbolismo psicológico que esse médico empregava, esta parte do
meio do corpo foi concebida para ser dotada de uma espécie de
inteligência da mesma forma que o peito e a cabeça — essa mente
da barriga estando muitas vezes contra as inclinações frias e as
atividades racionais da mente da cabeça. É o assento dos instintos,
sentimentos e paixões, e de todas as forças dinâmicas herdadas do
passado que atribuímos ao Inconsciente.

Finalmente, visualize o fluxo de sangue separando-se da aorta em


duas poderosas correntes arteriais, dois rios de sangue quente
descendo da pélvis para as coxas, pernas e pés. Também esteja
muito atento aqui; visualize todos os músculos das coxas e das
pernas que estão esticados, rígidos e tensos, completamente, a fim
de relaxá-los sob o estímulo da imaginação e do calor do sangue.
Desta maneira, prossiga até que os dedos sejam alcançados. Então
faça uma pausa.

Você completou um grande ciclo no processo de relaxamento.


Faça uma pausa para considerar e observar. Observe como você se
sente. Seu trabalho anterior deve ter aumentado a sua capacidade
de sentir o que está acontecendo somaticamente. Memorize seus
sentimentos. Permita que a sensação de prazer e diversão e
liberdade causem uma impressão indelével em sua mente.

Se a memória dessa experiência for bem-registrada, ela pode ser


evocada a qualquer momento a partir de seu depósito de
memórias. Não importa se você está pegando o metrô ou dirigindo
seu carro, em casa lendo ou ouvindo rádio, você só tem que se
lembrar do prazer do relaxamento e imediatamente a memória é
evocada de sua psique para impactar-se sobre todos os tecidos e
fibras do corpo. Então segue o relaxamento.

É bom aproveitar essa sensação de relaxamento profundo.


Imprima ela completamente em sua mente. Obtenha a sensação
de completo relaxamento tão vividamente e tão fortemente quanto
você possa, porque daí em diante, quando você precisar relaxar,
você pode restaurar este estado de tranquilidade, serenidade e
relaxamento completo apenas por pensar nele.

Na próxima vez em que você quiser relaxar, tudo que você tem que
fazer é inspirar profundamente e, enquanto você expira, pensar na
palavra “relaxar” e recordar esta maravilhosa sensação serena de
relaxamento completo e mais uma vez ele será restaurado
imediatamente para você. Inspire, e ao expirar, mentalmente
ordene-se que você relaxe. Logo este reflexo condicionado será
imediato, automático e completo.

Cerca de meia hora a uma hora deveriam ser gastos com esta
prática. Se você puder, siga o processo duas vezes por dia, de
manhã e de noite. Concentre-se na formação do reflexo
condicionado que então produzirá o estado de relaxamento sem
perda de tempo valioso. Mas deve haver alguma prática
considerável antes do reflexo condicionado poder ser estabelecido.
Uma vez por dia é o suficiente; duas vezes por dia é melhor. Desta
forma, será estabelecida a base para o trabalho mais significativo e
mais espiritual que serão desenvolvidos e trabalhados
posteriormente.

Como um adendo, pode ser digno de nota que este exercício de


uma forma ou de outra agora está sendo utilizado no tratamento
do câncer. No Texas há uma equipe de marido-esposa, médico e
psicóloga, os Drs. Carl Simonton, que ensinam aos seus pacientes
métodos de relaxamento que são parecidos com este. Então os
pacientes adicionam seus próprios floreios pessoais à técnica. Por
exemplo, alguém pode imaginar que o sangue varrendo um
crescimento canceroso está quebrando a malignidade, para varrê-
la para eliminação noutros lugares. Outro pode imaginar um
exército de cavaleiros de armadura brilhante atacando a
malignidade e cortando-a em pedaços. Existem inúmeras
variações a se tocar sobre este tema simples. Como um
complemento ou como um adendo ao tratamento médico
ortodoxo, uma elevada percentagem de “curas” é reivindicada, que
não podem ser obtidas usando-se exclusivamente ou um método
ou outro.

Como outra extensão da técnica descrita aqui, seria bom observar


que todos os experimentos atuais com instrumentos
de feedback biológico corroboram em todo detalhe com a tese
fundamental deste capítulo.
Passo 3:
Respiração Rítmica
Após praticar os exercícios de consciência e relaxamento, a
atenção pode ser voltada à respiração. Primeiramente, pode-se
afirmar dogmaticamente que poucos de nós respiram
adequadamente. O exercício anterior deve ter demonstrado a
existência de tensões massivas no peito inteiro, e nas áreas
diafragmáticas e abdominais do corpo. Essas tensões dificultam o
processo de respiração. Autoconsciência e relaxamento terão
modificado estas tensões, se não inteiramente, pelo menos em
parte.

A auto-observação também terá revelado que muitos de nós


respiramos apenas com a parte superior dos pulmões. Por
exemplo, homens que usam cintos apertados descobrirão que eles
são forçados a respirar com a região superior do peito porque o
diafragma e o abdômen são comprimidos pelo cinto apertado. Por
outro lado, as mulheres que usam sutiãs apertados podem
descobrir que o esforço envolvido em erguer o peito contra a forte
pressão da parte elástica do sutiã é muito grande, de modo que é
mais fácil usar a área do meio ou inferior dos pulmões. Além disso,
aqueles com graves problemas emocionais terão descoberto que
invariavelmente todo o processo de respiração é dificultado pela
enorme tensão muscular, resultando em uma oxigenação muito
pobre — e, portanto, vitalidade muito baixa.

A atenção dada à respiração no Caminho da Iluminação tem como


um de seus objetos a erradicação do máximo de tensão
neuromuscular possível e, portanto, a intensificação da energia e
da vitalidade. É feita uma tentativa para regular o processo de
respiração de uma forma rítmica. Sua necessidade surge a partir
da seguinte noção: se a vida é toda uma, penetrando tudo e
permeando tudo, então o que seria mais razoável do que o próprio
ar que respiramos de um momento a outro ser altamente
carregado de vitalidade? Desta forma nosso processo de respiração
é regulado sobre a base de que a vida é o princípio ativo na
atmosfera, não importa se nós o chamamos de oxigênio, prana ou
qualquer outra coisa.

Durante a prática desta respiração rítmica em períodos fixos do


dia — pelo menos duas vezes por dia, e por não mais que 10
minutos de cada vez — não deve haver nenhum esforço extenuante
da mente, nenhuma sobrecarga da vontade. Todo esforço deve ser
suave e gentil; então a capacidade é obtida. Deixe que o ar flua
para dentro enquanto mentalmente conta muito lentamente... um,
dois, três, quatro. Depois expire contando nesse mesmo ritmo
quádruplo.

É fundamental e importante que o ritmo inicial começado, seja de


contar até quatro ou até dez, ou qualquer outro ritmo conveniente,
seja mantido pelos dez minutos previstos. É o próprio ritmo que é
responsável pela absorção imediata da vitalidade de fora, e pela
aceleração do poder divino de dentro.

Ao trabalhar no desenvolvimento da respiração rítmica, o


estudante não deveria rejeitar a possibilidade de utilização de
dispositivos mecânicos. Nas fases de abertura de autodisciplina, o
estudante precisa de toda ajuda que puder obter. Eu gostaria de
sugerir o uso de um dos metrônomos elétricos modernos ligado a
um temporizador como sendo extremamente útil. A combinação
destes dois instrumentos realizará o seguinte:

1. Estabelecer um limite automático para a sessão de prática.


2. Eliminar a ansiedade quanto à duração da sessão.
3. Permitir um compasso rápido ou lento no metrônomo que se
pode seguir no padrão de respiração.
4. Ele pode ser ajustado para produzir um clique alto ou baixo.
5. Ele fornece um som estranho, mas não supérfluo, no qual é
possível se concentrar ao desenvolver a respiração rítmica.

Portanto uma série de coisas é realizada de uma só vez. Também


pode ser observado que quando o estudante aproxima-se do
desenvolvimento de um mantra de qualquer tipo para
acompanhar a respiração rítmica, achará o metrônomo da máxima
utilidade.

Na verdade, este tópico do mantra poderia muito bem ser tocado


de leve neste momento. Um mantra clássico cristão é o “Senhor
Jesus Cristo, tende piedade de nós”. Não importa se você deseja
que nosso Senhor tenha piedade de você ou não. Nem sequer
importa se você acredita ou não em Jesus. O assunto em questão é
que estas palavras podem ser postas em um tipo de compasso a ser
passeado pelo metrônomo que por sua vez regula o tempo do
ritmo da respiração.

Assim, por exemplo, na inalação em um ritmo de quatro vezes


lento, o estudante que simpatiza com os mitos cristãos pode
silenciosamente entoar “Senhor… Jes… us…Cristo” em um ciclo, e
na expiração “tende… misericórdia… de… nós” como o segundo
ciclo. Só será necessário um pouco de prática para que o mantra
siga. Se for preciso alguma ajuda, o estudante pode bater o dedo
em ritmo com o metrônomo. Ou as duas frases poderiam ser
ditadas em um gravador de voz, que pode ser reproduzido de novo
e de novo, até que o ritmo e o mantra sejam dominados. Isso é
relativamente fácil de adquirir, e os resultados obtidos valem a
pena o pouco tempo e energia que são gastos para seu domínio.
Na tentativa de nos sintonizarmos novamente com a força
inteligente espiritual em toda a natureza, nós tentamos não
cegamente copiar, mas racionalmente adotar, os seus métodos.
Portanto faça a respiração rítmica em determinados momentos
fixos do dia, quando há pouca probabilidade de ser perturbado.

Cultive além de todas as outras coisas, a arte do relaxamento. Uma


grande ênfase será dada neste processo. A prática do método
anterior de auto-observação ajudará em muito a dominar essa
arte. Quando algum grau de relaxamento for alcançado, então você
deve começar o seu exercício de respiração rítmica, lentamente e
sem pressa. Gradualmente, conforme a mente se habitua à ideia,
os pulmões espontaneamente pegam o ritmo. Dentro de alguns
minutos isso se tornará automático. Então todo o processo se
torna extremamente simples e agradável.

Simples como é, o exercício nunca deve ser desprezado por pressa


de começar com procedimentos mais complicados ou avançados.
Grande parte desse sistema de um ano depende do domínio desta
técnica muito fácil. Domine-a primeiro. Assegure-se da
profundeza do seu relaxamento, e então prossiga com a respiração
rítmica.

Seria difícil superestimar sua importância ou eficácia. Conforme


os pulmões pegam o ritmo, automaticamente inalando e exalando
de acordo com determinada batida, assim também eles o
comunicam e o estendem gradualmente a todas as células e
tecidos circundantes do corpo. Assim como uma pedra atirada em
um lago envia ondulações que se expandem largamente e círculos
concêntricos de movimento, o mesmo acontece com o movimento
dos pulmões. Em poucos minutos sentir-se-á todo o corpo vibrar
em harmonia. Logo todo o organismo passa a se sentir como se
fosse uma bateria de armazenamento inesgotável de energia. A
sensação – e deve ser uma sensação, não uma mera fantasia – é
inconfundível.
Uma justificativa para este tipo de respiração pode ser encontrada
nessas teorias:

Primeiro, a absorção de grandes quantidades de oxigênio tem um


efeito distinto sobre as glândulas endócrinas que sofrem um
estímulo enorme. Isto pode ser principalmente devido à maior
circulação de sangue que resulta das excursões rítmicas do
diafragma.

Segundo, em seu livro Raja Yoga, o falecido Swami Vivekananda


forneceu uma explicação admirável do efeito da respiração
regulada, que fortalece e estimula a Vontade numa mais
formidável concentração de poder. Resumidamente, sua teoria é
que fazendo com que todas as células do seu corpo vibrem em
uníssono, como o fazem durante a respiração rítmica, uma
poderosa corrente elétrica de vontade ou energia espiritual é
instituída no corpo e na mente.

Terceiro, a Vontade é submetida a um treinamento sério.


Qualquer indivíduo que tenha tentado exercícios de respiração,
mesmo que por alguns minutos, entenderá o que quero dizer. A
primeira vista é difícil imaginar algo mais tedioso, trabalhoso e
cansativo do que este simples exercício. Ele invoca o empenho de
toda a determinação para continuar. Ao fazê-lo, o indivíduo é
levado abruptamente a encarar a inércia e lassitude pela qual ele
vive, exigindo muita disciplina e auto conquista para persistir
nesta tarefa designada. Isso se torna mais fácil com a maestria e o
surgimento de considerável prazer corporal.

Em todo caso, se o estudante não obtiver nenhum resultado


técnico descrito nos livros, ele terá pelo menos conquistado um
aumento imensurável de força de vontade e propósito indomável
ao ter treinado a si mesmo para superar sua própria preguiça.
“Aprender a auto conquista é, portanto, aprender a viver, e as
austeridades do estoicismo não eram ostentações vãs da liberdade.
Resistir e superar a natureza é conseguir para si uma existência
pessoal e imperecível; é libertar-se das vicissitudes da vida e da
morte”, assim escreveu Eliphas Levi cerca de um século atrás.
Passo 4:
Consciência da Mente
A diferença entre esse exercício e o anterior de consciência é que a
área de atenção é deslocada dos processos do corpo para os da
mente. Na psicanálise, isso é comumente chamado de livre
associação. Simplesmente permite-se que a mente vague conforme
queira, deixando-a ir sem obstáculos para qualquer direção para o
qual seja atraída. O estudante simplesmente observa. Isso, e nada
mais.

É como levar um cavalo ao pasto, sem corda ou sela ou manta, não


há nada para interferir com sua livre circulação. Nesta prática,
logo se prova a si mesmo um dos teoremas básicos da psicanálise,
que todos os pensamentos são estritamente determinados.
Descobre-se logo que se podemos rastrear cada pensamento a uma
cadeia causal que se estende para longe no passado. Você pode
apreciar isso teoricamente; mas permanece para ser descoberto
empiricamente.

“Até que você saiba o que a mente está fazendo você não pode a
controlar”. Assim disse um grande sábio, Vivekananda, há mais de
60 anos. Isso ainda é verdade. Ele prossegue dizendo: “Dê-lhe
toda a corda; muitos pensamentos dos mais hediondos podem
adentrá-la; você ficará surpreso de que foi possível que você
pensasse tais pensamentos. Mas você verificará que a cada dia os
caprichos da mente estão se tornando cada vez menos violentos,
que a cada dia está ficando mais calma. Nos primeiros meses você
verá que a mente terá mil pensamentos, mais tarde você achará
que ela baixou para talvez 700, e depois de mais alguns meses ela
terá cada vez menos, até que finalmente ela estará sob perfeito
controle, mas devemos praticar pacientemente todos os dias.
Assim que o vapor é ligado, o motor deve funcionar, e assim que as
coisas estão diante de nós, devemos perceber; desta forma, o
homem, para provar que ele não é uma máquina, deve demonstrar
que ele não está sob o controle de nada”.

Deve-se determinar de antemão quanto tempo cada sessão de


prática de introspecção deve ter. Se você decidir que será meia
hora, então use um despertador ou um cronômetro para esse
período de tempo. Uma vez que tenha tocado, a prática deve ser
interrompida imediatamente. Desta forma, não se é levado pelo
excesso de entusiasmo por este processo de observar o que está
acontecendo dentro da própria mente.

A posição mais confortável e eficaz para essa prática é sentar em


uma cadeira reta, usando um travesseiro nas costas, cabeça
erguida, olhos fechados, joelhos retos e juntos, as mãos apoiadas
levemente sobre o colo ou sobre os joelhos e as costas retas. A
coisa mais importante para se lembrar é que o corpo deve estar
sempre perfeitamente equilibrado, ereto, confortável e relaxado.
Todo o trabalho anterior deveria ter tornado essa posição
relativamente fácil.

Um de meus artifícios favoritos é utilizar um gravador. Ele deve


ser preparado para funcionar durante uma hora inteira sem a
necessidade da menor atenção. Isso não quer dizer que a sessão de
prática deve durar uma hora. Pelo contrário, trinta minutos é o
bastante, a qualquer momento. O estudante pode praticar duas
vezes, ou até três vezes por dia se ele tiver a oportunidade e
inclinação para isso. Conforme o tempo passa, e conforme a
proficiência for obtida, então o tempo de prática pode ser
estendido consideravelmente. Mas o gravador deve ser capaz de
trabalhar com pelo menos a meia-hora recomendada, e talvez uma
hora inteira, no caso de se deixar levar pelo processo.
Enquanto está sentado e imóvel na posição de meditação,
verbalize para o microfone tranquilamente e de forma audível
quase todo pensamento, memória, ideia ou sentimento que possa
surgir de dentro. Fale ao acaso, sem premeditação.

Normalmente os resultados são esclarecedores – bem como


chocantes. Dará ao estudante uma ideia de que “coisas” estão
ocultas dentro de sua psique. Elas só serão chocantes se tiver sido
completamente honesto em expressar o conteúdo interno da
mente conforme ele surge. O desenvolvimento de alguma
honestidade mental é um ganho enorme.

Uma vez que se tenha realmente tornado consciente do conteúdo


oculto da consciência, e se esforçado para chegar a um acordo
consigo mesmo, os conflitos internos produzidos pela censura do
superego ou consciência são reduzidos consideravelmente.
Também reduzirá o número de “quebras” da concentração
produzidas por pressão desses conteúdos reprimidos ideacionais e
emocionais na psique.

Deve-se seguir a prática da introspecção ou da gravação e


reprodução de livre associação “descontrolada” por algum tempo,
até que o choque e a consternação geralmente experimentados
pela conscientização dos pensamentos horríveis que se é capaz de
pensar, seja dissipado ou reduzido a praticamente zero. Então se
está pronto para atacar diretamente o processo de concentração.

O que é importante além de todas as outras coisas é que no


processo de assistir e observar o fluxo aleatório de pensamentos e
sentimentos não deve haver nenhum julgamento ou crítica ou
autocondenação. “Não julgueis, para que não sejais julgados!”
Uma vez que o choque inicial terminou, é mais do que provável
que o estudante terá as mesmas atitudes confusas com o conteúdo
mental, por assim dizer, como ele fez com suas sensações físicas,
quando apenas observava o seu corpo. Criticar ou condenar a si
mesmo é insensato, é até mesmo infantil. Seus pensamentos
devem ser aceitos como parte de seu equipamento total,
destreinados, sem habilidade e indisciplinados. Com treino e
aplicação, estes elementos infantis da psique podem ser voltados
para outras direções e sua energia latente empregada para fins
mais nobres e mais elevados.

O estudante também deve ser lembrado da natureza provisória das


atribuições de exercícios a meses. O estudante mais lento, e a
maioria de nós se enquadra nesta categoria, deve usar vários
meses, no mínimo, para lidar adequadamente com este tema de
introspecção. O estudante mais avançado, que foi exposto a tipos
similares de treinamento antes, muito provavelmente pode
navegar através deste conjunto de exercícios facilmente. Essas
pessoas, no entanto, são poucas e distantes entre si. A maioria
deve perceber que vai levar tempo para alcançar habilidade e
maestria nestes métodos.

Deve-se lembrar de que a pressa é o inimigo da perfeição. Eu


ainda gosto da velha máxima – solvitur ambulando. Resolva seus
problemas à medida que avança. Sinta que você não tem que
correr para provar que é brilhante ou muito espiritual.
Passo 5:
Concentração – Uso de
Mantras
Neste momento o estudante deveria estar consideravelmente
familiarizado com suas próprias sensações, sentimentos e
pensamentos. As práticas até então estabelecidas devem ter criado
um alto grau de sensibilidade a essas fases de si mesmo de modo
que com o início dos exercícios de concentração, ele não estará sob
nenhuma ilusão quanto ao que existe no reino interior. Uma vez
que ele começa a praticar a concentração e a meditação, será como
se todas as forças dentro de si mesmo se erguessem em revolta
aberta contra essa disciplina. Memórias antigas e sentimentos
infantis serão ativados pelo exercício e podem perturbá-lo a menos
que ele tenha atingido um elevado grau de autoconsciência. É na
aquisição dessa consciência que grande parte do valor dos
exercícios anteriores reside.

Os exercícios anteriores devem ter resultado na aquisição de


algum grau de paz e tranquilidade. Uma sensação de bem-estar e
segurança interior surgirá de dentro. É na tranquilidade e calma
agora desenvolvidas que é possível, por assim dizer, que a mente
se abra e receba o influxo do Espírito Santo. Mas a prática é
fundamental.

Deve ser mais fácil de estabelecer períodos mais frequentes e


curtos de trabalho mental durante o dia, a fim de treinar a mente
de forma mais eficaz para se concentrar. Esses períodos de
silêncio, calma e reflexão interior, introspecção e concentração,
prepararão o estudante para receber a Luz interior. Mesmo que a
princípio nenhum progresso pareça acontecer, e nenhuma
resposta for sentida, não se deve permitir que o desânimo
amorteça o fervor e nem que provoque uma interrupção do
esforço. No momento, o estudante não tem nenhum meio de
medir seu progresso. Resultados imediatos não são, como regra,
emergentes. Com intenção séria, todo o conceito de esperar que
algo aconteça rapidamente será deixado de lado, com a ênfase
sendo colocada sobre as vantagens de ensinar à mente uma
disciplina importante e extremamente necessária.

No processo de adquirir essa faculdade de concentração, haverá


uma série de efeitos colaterais que são da maior importância. O
primeiro é o desenvolvimento da Vontade, e em segundo lugar, a
faculdade da Imaginação ou de construção de imagens sofrerá
uma grande melhoria. Ambas as faculdades provarão ser
infinitamente valiosas no processo de crescimento e
desenvolvimento interior. Alguns dos resultados dos exercícios a
seguir dependerão do uso dessas faculdades interiores, as
faculdades chamadas de soberanas, a Vontade e a Imaginação.

O estudante já terá descoberto que zoológico que ele tem dentro de


si. As tentativas de observar as sensações do corpo no início deste
trabalho, seguido por assistir o fluxo de pensamentos e ideias sem
interferir com o seu movimento, terão mostrado a ele algo da
natureza de seu mundo interior. Estes não podem ser ignorados,
nem podem ser combatidos e suprimidos. A mera tentativa de
fazer isso aumentará a sua intrusão e lhes dará poder que
normalmente não têm. Mas conforme eles são observados e
assistidos, eles tendem a diminuir em frequência e potência, e
assim criam as condições adequadas para o desenvolvimento da
concentração.

É essa conquista, que prepara o terreno para o início do trabalho


de concentração e, mais tarde, de meditação. Para alcançar esse
poder, alguns preliminares são úteis. É bom lembrar que, embora
nosso objetivo final seja alcançar um estado de calma e
tranquilidade interior, nunca devemos tentar forçar a mente à
quietude, nunca tentar parar de pensar ou deliberadamente limpar
nossos pensamentos. De qualquer modo, é uma meta impossível.
Temos que aprender a ter paciência para conquistar qualquer
sentimento de inquietação. Para adquirir esta paciência, há
métodos que serão utilizados que facilitarão o nosso progresso
para este fim.

A mente é uma criatura de hábitos. Uma autoridade como William


James declarou que velhos hábitos inúteis só podem ser
quebrados no desenvolvimento de novos e construtivos. A mente
tem uma tendência natural de adotar hábitos. Você sabe como
criamos o hábito de fazer as coisas, especialmente hábitos de fazer
as coisas em um determinado momento do dia. Assim criamos o
hábito de acordar em um determinado momento da manhã; tomar
café da manhã, almoçar e jantar em determinados momentos, não
porque estamos realmente com fome, mas porque desenvolvemos
o hábito de comer nessas horas. Uma vez que o padrão seja
definido, normalmente tendemos a acordar ou ir para a cama no
mesmo horário. Com efeito, a prática de qualquer ato, a
persistência de qualquer conjunto de ideias que ocorrem
regularmente em um horário definido do dia, resultam em uma
tendência muito forte para a recorrência dessas ideias, ou para a
prática daquele ato no mesmo tempo todos os dias.

É este fato que nós usamos para nos auxiliar em nossa prática de
concentração. Escolha um determinado momento do dia. Pratique
sempre no mesmo horário, mesmo que seja apenas por dez
minutos, mas sempre exatamente na mesma hora do dia, na
mesma sala, e na mesma cadeira ou postura. Em pouco tempo, o
hábito se estabelecerá como um reflexo condicionado e você
achará muito mais fácil de concentrar a mente neste momento do
que em qualquer outro. Na verdade, se você tentar pular a prática
naquela hora, é provável que você experimente uma sensação de
inquietação ou de ansiedade, que então irá forçá-lo a trabalhar.

Se você tem uma sala específica que pode ser reservada


exclusivamente para as suas práticas, melhor. Queimar uma vareta
de incenso ou acender uma vela pode ajudar provocando um
estado de espírito devocional que pode criar disposição para
trabalhar duro. No entanto, se não há espaço extra e se incenso
não pode ser queimado ou uma vela acesa, não se desespere ou
considere-os como obstáculos ou ache que está condenado. Eles
são apenas conveniências e nada mais.

Outro dispositivo simples e tradicional para desacelerar o rápido


movimento da mente é conhecido como mantra. À parte de mais
considerações técnicas, um mantra é simplesmente uma palavra
ou uma frase, geralmente de natureza religiosa, que se repete
continuamente, seja de forma audível ou subvocal, até que seja
absorvido pela própria mente. Nesse caso, a frase continua a se
repetir automaticamente. Desta forma, um auxílio mecânico para
a concentração é aperfeiçoado, que pode então ser usado para
favorecer os objetivos pré-determinados.

Para aqueles com uma predileção pela oração e simbolismo


cristão, o método descrito anteriormente deve provar-se o ideal.
Para outros, cujos corações podem estar em outro lugar, deixe-me
sugerir o seguinte mantra Hindu. Ele também tem oito sílabas,
que podem ser divididas em duas linhas de quatro compassos
cada:

Om Na Ma Ha
Shi Va Ya Om

Esta invocação deveria ser memorizada, o que é fácil, e então


recitada mentalmente no tempo certo com a respiração. Ao inalar
diga: Om Na Ma Ha e ao expirar: Shi Va Ya Om. Com apenas um
pouco de esforço, o mantra se torna relativamente fácil de recitar,
cronometrado pelo processo de respiração.

Uma vez que ele tenha se tornado relativamente automático, o


estudante pode refletir mais sobre o que significam as frases, e
com que paixão elas são ou podem ser dotadas. É essa força
emocional que direciona a mente incisivamente à manutenção do
mantra até que a concentração seja um fato sempre presente. A
carga de emoção para a repetição mecânica da oração força a
mente recalcitrante a se comportar, induzindo um profundo
estado de concentração. Com alguma prática, a concentração pode
ser ligada e desligada até que se torne uma faculdade que é tão
prontamente disponível como é a corrente elétrica em uma casa
moderna.

Mais uma vez deve ser repetido que, embora teoricamente um mês
seja atribuído a este exercício em particular, pode ser necessário
estender consideravelmente o período de tempo necessário para
obter familiaridade e domínio sobre o método. Se necessitar de
seis meses, então por todos os meios continue a trabalhar
pacientemente no mantra, porque os objetivos que você tem em
mente não se limitam apenas a um período de seis meses. Eles vão
agir sobre e alterar todo o curso da sua vida futura. Portanto, não
há razão para discutir sobre um mês ou doze meses, ou sobre
apressar o processo. Todo o que importa é se esforçar
pacientemente no santo trabalho que nesta fase é a aquisição de
concentração.
Passo 6:
Desenvolvimento da
Vontade
Na sua Introdução aos Yoga Sutras de Patanjali, William Q. Judge
faz a afirmação de que os antigos sábios hindus conheciam o
segredo do desenvolvimento da Vontade, e como aumentar a sua
potência e eficácia. Este segredo das eras, o aprimoramento do
poder da Vontade e da Sabedoria, nunca foi realmente perdido. A
Vontade, para o estudante dos Mistérios, é o principal fator na
produção de quaisquer mudanças espirituais as quais ele se
propõe. Não é nem bom nem ruim em si; é apenas poder e vitaliza
todas as coisas da mesma forma.

O segredo do desenvolvimento da Vontade é a criação de


determinadas metas e se não forem seguidas, privar-se de algo que
dá prazer. Que seja claramente entendido que não há nada bom
nem mau aqui, neste processo. Privar-se, digamos, do café da
manhã como punição por ter perdido o treino da manhã, não o
torna virtuoso ou bom, nem deve resultar na sensação de que ter
desistido de várias centenas de calorias de nutrição tem um ganho
moral em uma perda de peso metabólico. Deve-se perceber desde
o início que este método, que podemos chamar de uma espécie de
ascetismo modificado, não é nem um vício nem virtude, nem bom
nem ruim, assim como a Vontade em si é não tem cor, e não é nem
boa e nem ruim em si.

Surgiu uma variedade de técnicas sobre essa proposição básica e


alguns métodos extremamente eficientes têm evoluído nos últimos
anos – métodos livres de todas as implicações desagradáveis e
tendências morais dos sistemas mais antigos.

Talvez o método mais eficaz de reforço da resposta condicionada


seja aplicar um leve choque elétrico. Na maioria das lojas de
mágica e de truques você será capaz de encontrar um pequeno
gadget que dará um choque muito leve quando o dispositivo é
puxado do recipiente que o envolve. O choque é leve, mas o valor
da surpresa é considerável. Caso seja utilizado imediatamente
após o voto quebrado ou ação proibida, a associação se fixará e
uma vigilância constante por parte da Vontade será estabelecida.
Por esta razão, é necessário que você carrega o gadget com você o
tempo todo para que o choque possa ser dado imediatamente após
uma violação ocorrer. Desta forma, a ação proibida e o choque
elétrico se combinarão.

De acordo com este sistema, a técnica é organizada de modo a


incluir todo o campo da ação, fala e pensamento humanos, e,
portanto, é aplicável à constituição inteira do homem. Está de
acordo com o conceito geral de disciplina que uma certa ação,
palavra ou pensamento que se tornou habitual e involuntário deve
ser negado ou anulado. Como por exemplo, jurar por um período
provisório de tempo, digamos uma semana, a abster-se de cruzar
as pernas sobre o joelho quando sentado, ou talvez não levantar a
mão esquerda até a cabeça ou o rosto. A grande vantagem é que
não há viés moral nessas sugestões. Não é virtuoso abster-se de
cruzar as pernas ou não tocar o rosto com a mão esquerda. Desta
forma, o estudante se livra da tendência de criar uma virtude tola
em cima de sua disciplina.

É necessário também observar que não há nenhuma sugestão de


aplicar o princípio ascético nesse esquema ao que é comumente
chamado de um mau hábito, como fumar, beber ou falar
palavrões. Fazê-lo seria convidar certos indivíduos com neuroses
compulsivas a considerar sua abstinência como uma virtude a ser
muito elogiada, em vez de perceber que a negação é simplesmente
uma questão de conveniência e de treinamento, uma idiossincrasia
pessoal à qual nem crédito e nem culpa devem atrelados. Uma
atitude completamente impessoal de desapego deve ser mantida.
A aplicação do regime é necessária para as ações, palavras e
pensamentos aos quais seja completamente impossível atribuir
um valor moral. Não é concebível que o aluno inteligente fará uma
virtude religiosa do fato de que ele se abstém de cruzar os joelhos
ou que na ocasião ele não tocar sua cabeça com a mão esquerda.
Ele pode formular outras tarefas para este fim.

Agora, para cada violação deste voto de abstinência de certo curso


de ação, determinada punição deve ser infligida. É desta disciplina
que a Vontade deriva seu treino e sua força. Por exemplo,
suponhamos que o estudante tenha decidido abster-se por um
período de 48 horas de cruzar o joelho direito sobre a perna
esquerda quando estiver sentado. Durante um momento de
esquecimento, e haverá muitos, pode ser que o aluno realize o ato
proibido. Essa violação deve ser punida imediatamente, de modo a
criar uma impressão duradoura na mente, quer por um ato ou
privando-se de algo que normalmente dá prazer.

Poder-se-ia ficar sem o lanche ou a sobremesa depois do jantar, ou


no caso de um fumante, eliminar o cigarro ou cachimbo do meio
da manhã. Eu acho que o choque elétrico é melhor. Dessa forma a
ação proibida se associa com a dor ou uma privação de prazer e
logo se reforça pela repetição em um reflexo condicionado. Isso
logo deve operar automaticamente sem o estudante ter que dar
qualquer atenção consciente à questão. Uma curiosa vigilância é
estabelecida por parte da Vontade, um fluxo livre e inconsciente de
atenção estando sempre presente e pronto para executar os
desejos do estudante. Logo se descobre que quando numa
conversa casual e num estado de total esquecimento do voto,
qualquer tendência automática das pernas, por exemplo, de
repetir sem pensar o hábito que há muito se acostumou, será
imediatamente detectado pela Vontade muito antes de o ato
proibido estar na metade de ser completado, e a tendência será
interrompida em seu início.

A consequência é óbvia. Enquanto o tempo avança, o estudante


realiza duas coisas separadas, ambas sendo os principais aspectos
da Grande Obra. Uma vigilância perpétua aproximando-se de uma
corrente muito poderosa de força de Vontade foi gerada. Isto,
desde o início, tende a trazer as atividades múltiplas da psique
humana sob o controle consciente da Vontade.

Um resultado ainda mais importante, do nosso ponto de vista


atual, é que não só o estudante encontrar-se em posse de uma
forte Vontade, como também a mente gradualmente foi posta sob
controle. A perda do prazer é experimentado quase como se dor
lhe fosse infligida, e todos nós retrocedemos por sua repetição.
Então ao invés de sentir dor ou desprazer, um controle é exercido,
o que resulta em um controle mais fácil da mente, facilitando o
desenvolvimento da concentração.

Como uma observação, pode-se mencionar que o método descrito


tem sua contraparte moderna no que é chamado de modificação
de comportamento ou terapia de aversão. Baseia-se
essencialmente na obra original de Pavlov, décadas atrás, com o
reflexo condicionado. Tem sido usada com considerável sucesso,
mesmo em questões tão prosaicas como o controle do peso e na
erradicação do hábito de fumar. As modificações iniciadas pelo
psicólogo Skinner têm um amplo uso atual, atingindo até mesmo
em vários aspectos de nossas instituições penais e reabilitação de
prisioneiros.
Passo 7:
O Ritual da Rosa-Cruz
Um novo tipo de trabalho será introduzidos a fim de evitar a
possibilidade de tédio ou de cair no maçante hábito da rotina. A
maioria dos trabalhos anteriores foi subjetiva. Agora no presente
trabalho, o estudante fará seu primeiro experimento com a forma
mais simples de um ritual onde as atividades tanto subjetiva
quanto física são combinadas.

Sugiro que o estudante adquira algumas varetas de incenso. O tipo


ou o perfume delas realmente não importam. Poder-se-ia visitar
qualquer uma das lojas locais orientais ou psicodélicas, e
experimentar uma variedade de incensos, finalmente selecionando
aquele que lhe agrada mais.

O próximo passo é praticar com uma vareta de incenso, fazendo


uma forma da cruz com um círculo dentro. A imaginação deve ser
utilizada ao traçar esta cruz que podemos chamar de Rosa-Cruz.
Segure a vara de incenso com a mão direita acima do nível dos
olhos e trace uma linha reta para baixo, parando mais ou menos à
altura dos joelhos. Enquanto traça essa linha vertical, visualize-a
em azul claro não muito diferente da cor produzida ao queimar
álcool. Então traga o braço e a vareta à frente ao ombro esquerdo,
movendo para o ombro direito. Isso também deve ser visualizado
em azul claro, tão claramente quanto possível. Remova a vara de
incenso da barra transversal e aponte-a para a barra vertical, a
cerca de metade do caminho entre a barra transversal e o ponto de
início da barra vertical. A partir deste ponto trace um círculo em
movimento para a direita e para baixo e então para cima e para a
esquerda para terminá-lo. Isso completa a Rosa Cruz. Ela deve
parecer mais ou menos com isso na imaginação:

Dois nomes sagrados devem ser pronunciados ou vibrado no


processo de traçar essa figura. Ambos são de origem cabalística,
datando da Idade Média. Embora ambos sejam variantes do nome
de Jesus na língua hebraica, o significado e o simbolismo exato do
nome não são de nenhum interesse para nós neste momento. Os
nomes são: YEHESHUAH e YEHOVASHAH. O primeiro nome
deve ser vibrado ao traçar a cruz – ou seja, nas linhas retas e
transversais, e o segundo nome deve ser expresso durante a
formação do círculo. Pratique fazer a cruz na maneira descrita
acima e vibrando os dois nomes até que não haja dúvida nem por
um momento quanto a o que você está fazendo. Quando tiver
habilidade, você poderá prosseguir com o ritual completo.

Vire-se para o Leste. Coloque o incenso aceso sobre o altar ou


mesa diante de você. Levante e estenda os seus braços abertos,
formando uma cruz.
1. Entoe a seguinte invocação.

Eu sou Ele! O Espírito Não Nascido! Tendo visão nos pés!

Forte e o Fogo Imortal!

Eu sou Ele! A Verdade!

Eu sou Ele! Que odeia que o mal deva ser lavrado no Mundo!

Eu sou Ele, que relampeia e troveja.

Eu sou Ele, de Quem é o jorrar da Vida da Terra.

Eu sou Ele, Cuja boca sempre flameja:

Eu sou Ele, o Progenitor e Manifestador ante a Luz.

Eu sou Ele, a Graça do Mundo!

“O Coração Cingido com uma Serpente” é o meu nome! Venha e


siga-me, e faça com que todos os espíritos se sujeitem a mim: de
modo que todo espírito do Firmamento e do Éter, sobre a Terra e
sob a Terra; na terra seca ou na Água; do Ar Rodopiante e do
Fogo impetuoso, e todo Encanto e Flagelo de Deus, o Vasto, sejam
obedientes a mim.

Abaixe os braços. Pare e reflita sobre o significado intrínseco à


invocação.

2. Estenda o braço direito para frente e com a vara de incenso


acesa, trace a primeira Rosa-Cruz no Leste. Vibre suavemente,
mas poderosamente, os dois nomes sagrados.
3. Apontando a vareta de incenso para o centro da Cruz, mova-a
para a direita, e de frente para o Sul, trace outra Rosa-Cruz,
vibrando os mesmos nomes.

4. Apontando a vara de incenso para o centro da Cruz, mova-a


para a direita, e de frente para o Oeste, trace outra Rosa-Cruz,
vibrando os mesmos nomes.

5. Apontando a vara de incenso para o centro da Cruz, mova-a


para a direita e de frente para o Norte, trace outra Rosa-Cruz,
vibrando os mesmos nomes.

6. Apontando a vara de incenso para o centro da Cruz, mova-a


para a direita, retornando assim para o Leste, e introduza a vara
de incenso no centro da Rosa-Cruz do Leste que foi traçada antes,
com isso completando o círculo.

7. A partir deste ponto, levante o braço e a vara de incenso para o


teto, movendo-se para o Oeste, mas parando a meio caminho entre
o Oeste e o Leste. Trace em direção ao teto outra Rosa-Cruz,
vibrando os mesmos dois nomes.

8. Prossiga para o Oeste, tocando imaginativamente o centro da


Rosa-Cruz já feita. Em seguida, abaixando o braço e vara de
incenso, volte para o Leste, mas parando no centro, apontando
para o chão, trace outra Rosa-Cruz e vibre os mesmos dois nomes.

9. Avance para o Leste, tocando imaginativamente o centro da


Rosa-Cruz previamente feita.

10. A partir daqui, vá para a direita, para o Sul. Levante o braço e a


vara de incenso para o teto, movendo-se para o Norte, mas
parando a meio caminho entre o Sul e o Norte. Trace em direção
ao teto outra Rosa-Cruz, vibrando os mesmos dois nomes.
11. Prossiga para o Norte, tocando imaginativamente o centro da
Rosa-Cruz já feita. Então abaixe o braço e a vara de incenso, volte
para o Sul, mas parando no centro. Apontando para o chão, trace
outra Rosa-Cruz e vibre os dois nomes.

12. Avance para o Sul, tocando imaginativamente o centro da


Rosa-Cruz já feita.

13. Estes gestos terão resultado no traçado do símbolo do Rosa-


Cruz em toda a sua volta, em cada quarto cardinal, acima e abaixo
de você. Do Sul, estenda o braço e a vara de incenso e ande
movendo-se para a direita, de volta para o Leste, completando o
círculo do lugar.

14. Então proceda com a segunda parte da invocação, estendendo


os braços na forma de uma cruz:

À Ti, Único Sábio, Único Poderoso e Único Eterno, seja o Louvor e


a Glória para sempre,

Que me permitiu adentrar até aqui no Santuário de Teus


Mistérios,

Não a mim, mas ao Teu Nome seja a Glória.

Que a influência de Teus Divinos desça sobre minha cabeça e me


ensine o valor do auto sacrifício para que eu não retroceda na
hora do julgamento. Mas que assim o meu nome seja escrito nas
alturas e meu Gênio permaneça na presença do Santo, na hora
em que o Filho do Homem for invocado diante do Senhor dos
Espíritos e Seu Nome na presença do Ancião de Dias.

15. Abaixe os braços, e sente-se calmamente em uma cadeira no


centro do círculo. Alcance o relaxamento e a respiração rítmica
pelo uso do comando de reflexo condicionado. Uma vez que o
relaxamento ocorra, medite sobre o significado do ritual e das
invocações de abertura e de fechamento.

Este Ritual deve ser feito duas vezes por dia durante o mês atual.
Ele nunca deve ser feito às pressas ou superficialmente, mas de
forma lenta, solene e reverente. O estudante deve reservar pelo
menos meia hora para a execução do ritual seguido por sua
meditação relacionada.
Ritual da Rosa-Cruz
Passo 8:
O Ritual do Pilar do Meio
No presente regime de disciplina espiritual, foi feita toda tentativa
de evitar referências a sistemas alheios ou o uso de palavras
estranhas ou nomes com os quais o estudante médio pode não
estar familiarizado. Neste exercício, queremos usar algumas
palavras ou nomes divinos em hebraico. Não há virtude por si
nestas palavras. Elas são tradicionais e emitem um tipo de
vibração sonora que é útil para nós – e isso é tudo. Nenhuma outra
palavra foi encontrada em inglês que sirva mais ou menos à
mesma finalidade. Portanto, o estudante deve entender que não
está envolvido nenhum preconceito religioso na utilização destas
palavras.

O método a ser descrito é chamado de Ritual do Pilar do Meio –


embora não seja um ritual formalizado no sentido empregado do
termo. Ele é derivado de uma filosofia arcaica e mística chamada
Cabala. O esquema central desta filosofia é conhecido como a
Árvore da Vida, que consiste em dez centros dispostos em um
padrão de Três Pilares. Aqui estamos preocupados apenas com o
Pilar do Meio, o Pilar do Equilíbrio situado entre as outras duas
colunas da Severidade e da Misericórdia.

Que o estudante esteja sentado em sua agora habitual posição de


meditação. Comece com a respiração rítmica que deve ser mantida
por alguns minutos até que a agitação no plexo solar comece,
momento no qual o ritmo deve ser automático.

Algumas autoridades afirmaram que o Self espiritual mais alto não


está completamente encarnado no ser humano comum, mas
apenas o ensombra. Grande parte da intenção deste exercício é de
aumentar a consciência dessa sombra divina e permitir uma
permeação mais completa do sistema corpo-mente pelo Self
Superior, ou Sagrado Anjo Guardião, como foi chamado
arcaicamente.

Para facilitar o desenvolvimento do estado de ânimo necessário, o


estudante pode iniciar o Ritual inteiro com uma oração, tal como:

Santo és tu Senhor do Universo, pois a Tua glória flui até os


confins do Universo, regozijando.
Esteja agora comigo nisto, a Grande Obra, que dedico
inteiramente a Ti.
Que a minha mente esteja aberta para o Superior.
Que o meu coração seja um centro da Luz.
Que o meu corpo seja um templo do Espírito Santo.

Mais tarde, quando devem ser gerados o máximo de força e


energia, recomenda-se que a oração ou invocação seja seguido pela
invocação do Espírito Não Nascido do capítulo anterior para
reforço e exaltação adicional.

Visualize uma luz brilhante logo acima da cabeça na forma de uma


esfera ou bola mais ou menos do diâmetro de um pires ou prato de
salada. Concentre-se em seu brilho cintilante, imaginando-a
girando e vibrando, e muito em breve haverá alguma consciência,
alguma sensação ou sentimento de algo sendo ativado acima da
cabeça. Quando sentir isso, vibre a palavra EHEIEH –
pronunciada Ê-hê-iê. (Novamente, deixe-me insistir, o significado
dessas palavras é de pouca importância aqui, apenas o valor de seu
som nos é útil agora.) Essas sílabas são igualmente enfatizadas e
devem ser vibradas lentamente, obtendo o som máximo de cada
sílaba. Com um pouco de prática, a palavra pode ser vibrada de tal
forma a dar a impressão de estar totalmente concentrada naquela
esfera de luz acima da cabeça. Se houver alguma tendência da
mente divagar – embora que uma vez as sensações sejam sentidas,
a mente se concentra quase que automaticamente, como se
fascinada – repita a vibração do nome. Vibre o nome várias vezes,
não há limite estabelecido. A vibração não precisa ser em voz alta,
um murmúrio vigoroso realmente é tudo que é
necessário. Conforme o tempo passar, todo o procedimento
poderá ser realizado mentalmente, com a vibração sendo
executada sub-vocalmente, ou seja, silenciosamente. Mas só
depois de a técnica ter sido dominado oralmente, não antes disso.

Caso experimente alguma dificuldade em sentir onde está este


centro, um pouco de ajuda extra é útil. Obtenha da farmácia local
um medicamento chamado HEET. (Nota do tradutor:
medicamento para artrite, que alivia a dor). A tampa vem
equipada com um pequeno adesivo. Encontre o ponto em cima da
cabeça do qual o cabelo se irradia, e aplique uma pequena
quantidade de HEET. Esfregue-o delicadamente com os dedos até
que você possa sentir o local onde o medicamento está, pois na
verdade este produto meramente é um irritador que estimula a
circulação sanguínea nessa área. Então pare por um momento e
repita as direções acima – que há uma bola de luz girando acima
da sua cabeça.

Depois de ter se concentrado nesta esfera de luz acima da cabeça


por aproximadamente cinco minutos, ou até que a sinta
suficientemente ativada, imagine um feixe de luz que é emitido a
partir dela, descendo através da cabeça para a garganta e o
pescoço. Aqui ela se expande para formar uma outra esfera de luz
que se estende da frente para a trás do pescoço. Formule essa
esfera tão vividamente quanto você puder , usando o nome divino
YHVH ELOHIM. Este é pronunciado como Iê-Hô-vá Ê-lô-Im,
nenhuma sílaba deve ser pronunciada mais forte do que
outra. Vibre o nome várias vezes, concentrando-se dentro desta
segunda esfera, usando um procedimento similar como o de antes,
até que haja uma consciência clara e vívida desta segunda esfera
vibrando no pescoço.

Alguns minutos depois, visualize o eixo descendo do pescoço até o


peito; repousando no plexo solar – em outras palavras, na área do
coração. Aqui ele forma uma terceira esfera de luz brilhante, que
se estende da frente para trás do peito, mais uma vez do tamanho
de um prato de salada. Mantenha a visualização aguçada – ou
melhor ainda, sinta a esfera. O resultado é inconfundível.

É aqui que podemos ver onde alguns dos exercícios anteriores


estão rendendo dividendos elevados, tornando mais fácil
desenvolver a consciência sensorial e sentir essas esferas girando.

Em vez do nome hebraico habitual, que é muito longo e


complicado, um nome divino gnóstico será usado. Ele é mais
curto, vibra muito bem e é muito mais fácil de usar. Este nome é:
IAO – que é pronunciado: i-á-ô. Repita a vibração do nome
quantas vezes lhe for necessário para ajudar a mente a ficar
concentrada no centro. Se necessário, uma pequena quantidade de
HEET no meio do osso do peito vai produzir a sensação na pele
suficiente para ajudá-lo a tornar-se consciente da área a ser
ativada.

Em cerca de cinco minutos, visualize o raio de luz descendo do


peito até a região pélvica, onde uma quarta esfera de luz é formada
em sua imaginação. Vibre o nome SHADDAI EL CHAI – xá-dái-êl-
hái. (O “Ch” hebraico é gutural como na palavra escocesa para lago
“loch”.) Visualize e sinta uma intensa atividade nesta área pélvica,
até que sinta todo o centro como se fosse vivo e pulsando de
energia.

Finalmente, visualize o raio de luz que desce da pélvis para os pés,


formando uma quinta esfera de luz. O nome a ser usado aqui é
ADONAI ha-ARETZ, pronunciado: Á-dô-nái ha-á-réts. Vibre o
nome divino o suficiente para que o sinta nas extremidades
inferiores, atiçando a esfera de luz em vigorosa atividade. Sinta-a
girando e vibrando como uma esfera brilhante de energia de
luz. Mantenha a mente concentrada nela por pelo menos cinco
minutos também.

Uma vasta quantidade de energia espiritual foi assim desperta e


lançada no organismo. Agora lhe resta circular esta energia em
todo o sistema.

Volte na imaginação ao topo da cabeça e, com a exalação do ar, a


energia de luz começa a fluir por todo o lado esquerdo do corpo até
os pés. Conforme você inala, imagine essa energia espiritual
ascender do lado direito até o centro da cabeça. Visualize esta
atividade como uma faixa de energia que se desloca rapidamente,
estendendo-se a alguma distância do corpo. Faça isso várias vezes
até que alcance alguma consciência clara do movimento.

Em seguida, um gesto imaginativo semelhante deve seguir com a


energia fluindo para baixo na frente do corpo até os pés durante a
expiração, e subindo dos pés à cabeça na parte de trás com a
inalação. Isso também deve ser imaginado e sentido ocorrendo
várias vezes até que a percepção do movimento seja clara.

Isso estabelece faixas de energia que circulam dentro e ao redor do


corpo formando um amplo campo eletromagnético ou aura de luz
branca. No entanto, o campo ainda não está completo, requerendo
outro gesto para cercar.

Retorne na imaginação para o centro do pé, e imagine que o Pilar


do Meio atingindo até o centro da cabeça é como um tubo oco. Na
inalação da respiração, é realizada a sucção que trás a energia do
centro do pé através do oco do tubo, e na exalação ela jorra de
cima da cabeça, caindo por todos os lados como uma fonte. Os
jatos de energia em torno das margens externas do campo, caindo
como uma chuva cintilante aos pés, onde mais uma vez se
reunirão no centro do pé. Na inalação, a energia novamente é
trazida pelo Pilar do Meio para jorrar sobre a cabeça durante a
expiração. Este processo deve ser repetido com frequência até que
o resultado seja uma compreensão clara de um campo brilhante e
que vibra, no qual o estudante está fechado e pelo qual é
totalmente permeado.

Neste ponto, ele deve embarcar em uma meditação na qual está


fechado na Luz do Espírito e, portanto, é uno com a Vida Una que
pulsa através do universo e que unifica todos os seres e todas as
coisas. Se isso ajudá-lo a alcançar o grau de exaltação necessário,
pode-se recitar algo inspirador, como uma passagem de “A
Tragédia do Mundo” de Crowley:

Ouvi então! Por Abrasax! A barreira da irremovível estrela


Está quebrada – IO! Asar!
Meu espírito está envolto no vento da luz;
Ele é arrebatado nas asas da noite,
De plumas negras são as maravilhosas asas,
Mas a prata do luar lança-se sutilmente
Para as penas que piscam com o ritmo
Do nosso voo para violar os limites do espaço.
O tempo cai como uma pedra das estrelas:
O espaço é um caos de barreiras quebradas:
O ser é fundido em uma inundação furiosa
Que se enfurece e sibila e espuma no sangue.
Veja! Estou morto! Estou falecido, estou falecido
Fora do mundo sensível, finalmente.
Eu não sou. Todavia, eu sou, como eu nunca fui,
Uma gota na esfera de vidro derretido
Cujo brilho altera e muda e drapeja
A alma infinita em formas finitas.
Há luz, há vida, há amor,
Há sentido
Além da fala, além da canção, além da evidência.
Há intensa maravilha, um sol miraculoso,
Como os muitos são fundidos e misturados em um
Com o calor de sua paixão; o uno invadiu
As alturas de sua alma, e seu riso é trançado
Com cometas cujas plumas são as galáxias
Como ventos sobre os mares inacessíveis da noite

Pode haver uma outra oração significativa ou alguma outra forma


de devoção que poderá se provar extremamente valiosa para si. A
exaltação de sua mente ao pico mais alto da iluminação, torna-se
possível neste momento particular, dependendo de quão
intensamente ele tem trabalhado na formulação da luz branca e
divina do espírito e como ele tem sido movido pela contemplação
do presente hino de louvor divino.

Para fechar o exercício, ele deveria dar graças pela experiência e


gradualmente retirar a esfera branca para dentro de si, para que o
campo coincida com seu próprio corpo. Ele deve respirar fundo e
contrair todos os seus músculos para encerrar o estado e depois
esticar-se vigorosamente antes de se levantar e ir cuidar de seus
afazeres.

Para o fechamento e agradecimento, o seguinte pode ser usado:

A ti, único Sábio, único Eterno e Único Misericordioso seja o


louvor e a glória para sempre, que me tem permitido que agora
permaneça humildemente diante de Ti, para entrar, assim, no
santuário do teu mistério. Não a mim, mas a Teu Nome seja a
Glória. Que a influência dos teus entes divinos desça sobre minha
cabeça e me ensine o valor do auto-sacrifício, de modo que eu não
me encolha na hora do julgamento. Mas que, assim, o meu nome
seja escrito no alto e meu Gênio fique na presença dos Santos na
hora em que o Filho do Homem for invocado diante do Senhor
dos Espíritos e seu nome na presença do Ancião dos Dias. Amém.

Esta técnica do Pilar do Meio é outro daqueles exercícios que


podem demorar muito mais do que um único mês para
dominar. Em todo caso, o estudante pode descobrir que ele deseja
usá-lo mais ou menos de forma intermitente ou contínua durante
todo o curso de sua vida. Ele tem possibilidades infinitas que
somente a prática persistente indicará.
O Pilar do Meio
Passo 9:
Símbolo de Devoção
É axiomático que qualquer emoção sentida fortemente produzirá
como subproduto uma concentração mental intensa. Por exemplo,
se ocorreu algum evento que produziu uma reação de medo, pode
parecer quase impossível para algumas pessoas mudar a mente
para outro estado. A pessoa torna-se consumida, por assim dizer,
pelo medo, concentrada inteiramente sobre ele até a exclusão de
todo o resto, respirando e vivendo essa emoção, não importando o
quanto se possa querer pensar em outra coisa. É por isso que, em
algumas das psiconeuroses, o paciente parece estar totalmente
preocupado com seus sentimentos patológicos e apesar do
estímulo e da confiança, não consegue realmente voltar a sua
mente para outra direção. A emoção induz a concentração.

Um homem ou uma mulher nas primeiras fases da paixão


negligencia todas as outras preocupações, exceto seu amado. Pela
manhã, meio-dia ou à noite, seja comendo, descansando ou
acordado, ele está preocupado somente com suas emoções e as da
pessoa amada. Algumas pessoas falam deste tipo de amor como
sendo louco ou insano. Pode muito bem parecer ser assim, já que a
preocupação ou a concentração são muito desgastantes, mas como
eu estou tentando indicar aqui, qualquer emoção poderosa produz
esse mesmo resultado final.

Uma vez que estamos tentando produzir um estado de


concentração por uma série de meios muito diferentes, cabe a nós
tomar consciência do efeito dinâmico da emoção sobre o
organismo. Todo mundo já teve essa experiência em um momento
ou outro em sua vida e por isso está em condições de falar nos
mesmos termos que estamos discutindo aqui. O que temos de
fazer, portanto, é criar algum método de despertar sentimento o
suficiente ou de estimular uma emoção suficientemente poderosa
que possa ser consciente e deliberadamente empregada como uma
ferramenta a ser usada para voltar a mente totalmente para um
único ponto O fervor e a convicção profunda que são necessárias
aqui, como a direção produtiva e criativa.

Por isso, vamos buscar algo que tenda a despertar uma reação
profundamente comovente. Investigue a sua memória. O que te
move emocionalmente? Uma frase dos Salmos ou Epístolas da
Bíblia? Um crucifixo ou algum outro símbolo religioso? Um
poema? Ou uma memória de um caso de amor excitante de anos
passados – ou mesmo que esteja acontecendo hoje?

Seja o que for, pense nessa ideia. Examine-a de perto e com


cuidado. Imagine-a vivamente. Até mesmo vá longe a ponto de
desenhar ou pintar ou reproduzir de alguma outra forma – algo
que vai servir como um símbolo daquilo que o excita e o emociona,
um símbolo que podemos agora chamar “o amado”. E por apenas
um ligeiro esforço, um trecho muito suave da imaginação, este
símbolo do amado pode ser estendido para incluir ou para se
tornar o objetivo de todo o trabalho anterior em si, que nós
chamamos de a Grande Obra. Isso não é nada mais nada menos do
que a transformação total do homem a partir de uma criatura
orientada aos sentidos para alguém que está consciente do seu ser,
um veículo da Vida Universal Una, um ser humano que é
iluminado pela gnose, o conhecimento de que Deus existe tanto
dentro quanto fora dele. “Porque eu Te encontrei em Mim e em
Ti. No Um e nos Muitos eu Te encontrei, sim, eu Te encontrei”.

Ao formular o símbolo do objetivo da sua devoção, você pode criá-


lo objetivamente como em um desenho ou pintura de algum objeto
que pode ser considerado sagrado, ou mantê-lo abstratamente
como um símbolo dentro da sua própria mente, sem expressá-lo
concretamente de modo algum. Dessa forma, pode ser uma ideia,
ou uma memória de uma pessoa que era amada, ou um verso de
um poema ou uma escritura sagrada. Por exemplo, eu usei
frequentemente o seguinte:

O profeta clamou contra a montanha: vem tu aqui, para que eu


possa falar-te!
A montanha não se moveu. Portanto, foi o profeta até à
montanha, e falou-lhe.
Mas os pés do profeta ficaram cansados, e a montanha não lhe
ouviu a voz.
Mas eu clamei alto por Ti, e eu viajei em busca Tua, e de nada me
valeu.
Eu esperei com paciência, e Tu estavas comigo desde o início. Isso
agora eu sei,
Ó meu amado, e nós estamos deitados à vontade entre as
videiras.
Mas estes Teus profetas; eles deves gritar alto e fustigar-se; eles
devem cruzar desertos virgens e oceanos insondados; esperar
por Ti é o fim, não o princípio.

Há uma pintura de Salvador Dali de uma crucificação, que


também é bem significativa para mim. Esta pintura de Dali toma o
ponto de vista de algum vidente celestial olhando de cima para a
crucificação abaixo – a partir do ponto de vista transcendental,
por assim dizer. É extremamente eficaz, e houve ocasiões em que
eu empreguei como um símbolo para despertar a devoção.

Ao longo dos anos, tenho também vindo a usar um símbolo muito


mais abstrato, a letra hebraica Shin ‫ש‬. Ela tem, cabalisticamente, o
valor numérico de 300, o que também vem a ser a ser o mesmo
valor para uma frase em hebraico que significa “O Espírito do
Deus Vivo”. Deste modo, esta letra/símbolo encarna para mim
uma vasta série de ideias intelectuais e aspirações. Assim ela se
revelou como um símbolo das mais altas aspirações e eu
frequentemente a visualizo ofuscando-me como uma língua de
chama tripla ardente de luz.

Mas qualquer que seja o símbolo, preste muita atenção a ele até
que se torne uma força tão poderosa que apenas ao vê-lo ou
pensar sobre ele, seja o suficiente para despertar um sentimento
intenso de ardor e devoção. Uma vez que este ponto tenha sido
alcançado, então onde quer que se vá, o símbolo também vai, e a
devoção desperta e cresce espontaneamente. Acordado ou
dormindo, comendo ou bebendo, barbeando-se ou vestindo-se,
penteando o cabelo de alguém ou aplicando cosméticos, ela
permanece no fundo da mente da pessoa para representar o
amado sobre o qual se concentra. Com este desenvolvimento,
torna-se simbólico consagrar toda e qualquer atividade ao serviço
do amado. Todo ato é feito para o amado, independentemente de o
que é e não importa o quão ordinário ou banal que possa
parecer. Isso nos leva à dedicação de toda a vida para Deus, a
tornar sagrado todos os atos, até mesmo as ações até então inúteis,
pequenas e superficiais. A vida torna-se consagrada – e todas as
suas energias se concentram automaticamente em um contínuo
ato de devoção ao amado – a Deus, ou aquilo que se escolhe para
chamar de Vida Universal e Eterna que flui através de cada um de
nós, nos unindo em uma síntese maior que é ao mesmo tempo a
multiplicidade da divisão.

Você também pode gostar