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Senador

Senador José Bento - Uma história mal contada


A arte da escrita sempre é um desafio, pois colo- Fernando Henrique do Vale, possui graduação
camos no papel algo que poderá chegar a inúme- no Curso de Filosofia da Faculdade Católica de
ras pessoas e ser assimilada de diversas formas. Pouso Alegre, em História pela Universidade
Nas últimas décadas, a escrita da biografia ocu- do Vale do Sapucaí e Mestrado em História
pou lugar de destaque na escrita dos historia- Econômica pela Faculdade de Filosofia, Letras

José
dores, estimulados pelas lacunas estabelecidas e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade
durante o passar dos anos. Biografar é um desa- de São Paulo (USP). É membro da Academia
fio ainda maior, pois coloca no historiador e/ou Pouso-alegrense de Letras, ocupando a cadeira
biógrafo diversas questões que se tornam pontos n° 13, cujo patrono é Dom João Baptista Corrêa
de reflexões. Biografar não se trata apenas de Nery, do Instituto Histórico e Geográfico do Sul
enaltecer algum indivíduo, mas sim, entender a de Minas (IHG-SM)- Casa Ouvidor Cypriano
sociedade de uma época e o seu papel exercido Joseph da Rocha, ocupando a cadeira nº44,
naquele momento. Neste sentido, venho a algum cujo o patrono é Amadeu de Queiroz e autor dos
tempo tentando entender a trajetória de um per- seguintes livros: Mercado Municipal de Pouso
sonagem que transitou pelas histórias do Brasil,
Fernando Henrique do Vale Alegre: o cotidiano da cidade (com Ana Eugênia
da Província de Minas Gerais e da Vila de Pouso Nunes de Andrade)- 2014, Pouso Alegre em

Senador
Alegre do Mandú: José Bento Leite Ferreira de Cores (com o artista plástico Henrique Mon-
Mello, Padre José Bento, ou como é popular- teiro)- 2015, Catedral Metropolitana de Pouso

Bento
José Bento
mente conhecido (por ceder nome a principal Alegre: espaço de fé e sociabilidade- 2019,
praça da cidade de Pouso Alegre) Senador José Paróquia Nossa Senhora de Fátima: presença
Bento. Sacerdote, político, homem de discursos, do amor maternal em Pouso Alegre (2020),
enérgico e controverso, Padre Senador foi uma Uma história mal contada Economia de Abastecimento em uma socieda-
pessoa atuante no processo de formação do de exportadora: o município de Pouso Alegre
nascente povoado do Mandu, lugar que escolheu na transição para o século XX (2020- E-book)
para viver e atuar e de momentos decisivos na e Espírito Santo do Dourado: a Praia do Sul de
Província de Minas Gerais e no Brasil. Faça uma Minas- Histórias e Memórias (2021).
boa viagem ao tempo e conheça um pouco sobre

Fernandao Henrique do Vale


a vida deste padre político!

O Autor

Este projeto é patrocinado


pela Lei Municipal
de Incentivo à Cultura

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7 9
Fernando Henrique do Vale

Senador
José Bento
Uma história mal contada

Edital 004/2021
LEI MUNICIPAL DE INCENTIVO À CULTURA: FPC - FUNDO
DE PROJETOS CULTURAIS - EDIÇÃO COMEMORATIVA DE
20 ANOS EM HOMENAGEM A RAFAEL TOLEDO.

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Sumário

Apresentação 05

Introdução 09

I- Trajetória de vida de um Padre Político 13

II- De Padre a político: caminhos paralelos de José Bento 41

Atuação de José Bento na Câmara dos Deputados 43

O Pregoeiro Constitucional e a Constituição de Pouso Alegre 51

A Sedição Militar de 1833 ou “Revolta do ano da fumaça” 69

De Deputado da Província a Senador do Império 83

III- Adversidades políticas:


o assassinato do Cônego Senador José Bento 119

A morte e o processo crime nos jornais do Brasil 124

IV- Documentos Interessantes

A Constituição de Pouso Alegre 157

Resposta dada ao Senado pelo


Senador José Bento Leite Ferreira de Mello 187

Testamento de José Bento Leite Ferreira de Mello 208

2 3
Apresentação

“Descem fantasmas dos morros


Vêm das almas dos cemitérios:
Todos pedem ouro e prata,
E estendem punhos severos,
Mas vão sendo fabricadas
Muitas algemas de ferro”
(Romanceiro da Inconfidência- Cecília Meirelles)

Ao ler “Senador José Bento: uma história mal contada” de Fernando


Do vale, a figura do Senador deixou de ser simples nome de praça para
adquirir um contexto de enredos e desenredos dos meados do século
XIX em que transita uma figura política importantíssima, não só dos
primórdios de Pouso Alegre, com a sua Constituição e com o jornal
“Pregoeiro Constitucional”, mas do Brasil pós-independência.
Em um panorama de Conservadores combatendo Liberais,
provocações, ameaças e vinganças o Cônego Senador encontrou
sua morte aos 55 anos de idade. Era 8 de fevereiro de 1844, quando
quatro assassinos prepararam-lhe cruel emboscada, fazendo uso de
arma de fogo e arma branca. Agonizando, ainda teria dito: “Ah! Meu
pobre país!... Quero confessar-me”.
Perdi horas de sono tentando decifrar as causas da morte.
Ódios políticos? Questões de divisas de terra? Dionísio e Baltha-
zar, os executores, levaram consigo o mistério da existência de um
possível mandante.
Fernando fez pesquisas interessantíssimas que me deixaram intriga-

4 5
da e desejando mais respostas. Senti-me no meio das brumas cons-
piratórias do tempo da Inconfidência Mineira de que nos fala Cecília
Meirelles. O testamento do Senador “aprovado cozido e lacrado com
cinco pontos de retrós em canudo e cinco pontos de lacre encarna-
do...” foi redigido dois anos antes de sua morte. Sentindo a vida amea-
çada por questões políticas, ele chega a declarar os nomes das pessoas
a quem interessaria sua morte por motivo de opinião política.
O livro desatou pontos de costura e lacres encarnados de minha
imaginação fértil. As questões de litígio de terra e desentendimento
por poder continuam emaranhadas em meu cérebro, em meio a mui-
tos elementos probatórios desenterrados pelo autor.
A colina do Carmelo, local da emboscada, ganhou para mim um
significado novo. A cruz de ferro que marcava o local exato do crime
foi retirada por causa do progresso que não sabe reverenciar a me-
mória; mas o fantasma da vítima que virou nome da praça central
da cidade após 20 anos de esquecimento, ainda clama por Justiça.
Seus despojos que, por longa data, não tiveram parada definitiva,
hoje descansam num túmulo sombrio e mal cuidado no Cemitério
Municipal, apesar de a história verdadeira desse crime bárbaro ain-
da continuar cheia de mistérios...

Josy Nery
Cadeira nº20 da Academia Pouso-alegrense de Letras

6
Introdução

A arte da escrita sempre é um desafio, pois colocamos no papel algo que


poderá chegar a inúmeras pessoas e ser assimilada de diversas formas.
A escrita da história nos permite informar, sanar algumas dúvidas e
despertar a curiosidade dos leitores, de um tempo que já se foi, e muitas
vezes se tornou esquecido por falta de pesquisas ou até mesmo de inte-
resse. Contudo, há aqueles que se interessam e trazem a tona memórias
e histórias, traçando panoramas para entender-se a sociedade de on-
tem, de hoje e do amanhã. Nas últimas décadas, a escrita da biografia
ocupou lugar de destaque na escrita dos historiadores, estimulados
pelas lacunas estabelecidas durante o passar dos anos. Biografar é um
desafio ainda maior, pois coloca no historiador e/ou biógrafo diversas
questões que se tornam pontos de reflexões. No entanto, “trata-se de
cultivar um gênero que comporta, em primeiro lugar, a sedução do histo-
riador pelo personagem, por sua vida de alguma maneira considerada ex-
cepcional e digna de ser o centro de um estudo, por revelar aspectos ainda
não abordados pela historiografia voltada para o macro, ou por permitira
visualização da tensão entre indivíduo e sociedade” 1. Biografar, contudo,
não se trata apenas de enaltecer algum indivíduo, mas sim, entender a
sociedade de uma época e o seu papel exercido naquele momento.
Neste sentido, venho a algum tempo tentando entender a tra-
jetória de um personagem que transitou pelas histórias do Brasil,
da Província de Minas Gerais e da Vila de Pouso Alegre do Mandú:
José Bento Leite Ferreira de Mello, Padre José Bento, ou como é po-
pularmente conhecido (por ceder nome a principal praça da cidade
de Pouso Alegre) Senador José Bento. Sacerdote, político, homem de
discursos, enérgico e controverso, Padre Senador foi uma pessoa atu-
ante no processo de formação do nascente povoado do Mandu, lugar
que escolheu para viver e atuar.
Uma das principais motivações para trazer à tona a história de
José Bento é a ausência do estudo de alguns atores sociais no que
tange a história local, regional e nacional. Por muitos anos, a figura

9
do Padre Senador se tornou esquecida, até que, na década de 1930, o José Bento passa por transformações. De Deputado da Província de
literato e memorialista Amadeu de Queiroz se propôs a escrever e pu- Minas passou a ocupar uma cadeira no Senado, na cidade Imperial
blicar uma pesquisa histórica sobre José Bento (uma das principais do Rio de Janeiro. Neste momento, sua vida se torna dividida entre o
fontes para este livro) que se tornou esquecida, desaparecendo das mundo religioso e temporal, a pequena Vila de Pouso Alegre e a capi-
estantes e das discussões históricas. O presente livro, contudo, quer tal do Império. O leitor, neste capítulo, terá a oportunidade de conhe-
ser uma pesquisa mais aprofundada daquilo que Amadeu trouxe para cer um pouco sobre o homem político, algumas de suas idéias e ideais.
época, devido as limitações daquele momento, utilizando de diversas Com o terceiro capítulo, “Adversidades políticas: o assassi-
fontes de pesquisas: documentos pessoais, eclesiásticos, políticos e nato do Cônego Senador José Bento” trazemos a tona os últimos
da imprensa nacional, encontrados nos principais arquivos 2 nas es- momentos de vida do padre político. Um triste assassinato, ocorrida
feras nacionais, estaduais e locais. do Vila de Pouso Alegre, proporcionado por ódio e oposição política,
“Senador José Bento: uma história mal contada” possui quatro interrompeu a trajetória de José Bento em Pouso Alegre e no contexto
capítulos. No primeiro, “Trajetória de vida de um Padre Político” nacional. Trazemos, neste capítulo, as notícias publicadas em peri-
percorremos pelos meandros históricos na transição dos séculos ódicos da época e parte do processo crime instaurado. Uma história
XVIII para o século XIX, desde o seu nascimento, primeiros estudos, controversa, mal contada por alguns: crime político ou disputa por
ingresso para o Seminário Diocesano de São Paulo e seu estabeleci- terras? O ofício de historiador nos chama a atentar para o estudo da
mento no nascente Povoado do Senhor Bom Jesus do Matosinhos do documentação e oferecer ao leitor versões e não verdades impositivas.
Mandu. Aqui, a história de Pouso Alegre e de José Bento se entrecru- No quarto capítulo, trazemos ao leitor, de forma curiosa e para
zam, permitindo o entendimento do processo da formação espacial pesquisas posteriores, a transcrição de alguns documentos impor-
daquele território. Com o passar dos anos, o vigário da Capela do tantes, esquecidos ou até mesmo perdidos com o passar dos tempos:
Mandu passa a se constituir como figura pública e importante repre- “Constituição de Pouso Alegre”, “Resposta dada ao Senado pelo Se-
sentante político da região, sendo um dos principais baluartes dos nador José Bento Leite Ferreira de Mello sobre a pronúncia contra
Liberais na região Sul Mineira. elle feita pelo Juiz Municipal da 2ª Vara Bernardo Augusto Nascentes
No segundo capítulo “De Padre a político: caminhos paralelos de Azambuja, no processo oganisado na Côrte pelos Movimentos de
de José Bento” nos propomos a fazer um estudo da vida política do S. Paulo e Minas” (um texto publicado na época em que José Bento
personagem biografado. De Deputado Provincial à Senador do Im- rebate acusações feitas a sua pessoa, elencando com detalhes mo-
pério Brasileiro, José Bento vivenciou diversos momento históricos, mentos históricos da época) e seu Testamento.
como: a Sedição Militar de 1833 ou “Revolta da Fumaça” , um conflito Que a história de José Bento não seja apagada das memórias da po-
regencial ocorrido em Ouro Preto (na época capital da Província de pulação brasileira, dos rincões mineiros e do município de Pouso Ale-
Minas Gerais) e participação direta no “Golpe da Maioridade” ocor- gre. É como se ouvíssemos o Padre Senador balbuciar em seus últimos
rido na década de 1840. José Bento foi o precursor da imprensa em momentos de vida, Ah! Meo pobre paiz!... quero confessar-me”.
Pouso Alegre, utilizando deste meio para a divulgação e dissemina-
ção das idéias liberais (pós independência do Brasil e preparatórias
para a maioridade de Dom Pedro II). A vida religiosa e política de (O Autor)

10 11
I
Trajetória de vida de um Padre e político

O município de São Gonçalo do Sapucaí, localizado no sul do Estado


de Minas Gerais, possui área territorial de 516,683 km² e população
estimada de 25.561 habitantes 3. Sua história possui o aporte inicial
com a exploração aurífera, minas de ouro que receberam o nome de
Ouro Fala e Sant’Anna do Sapucaí. Os bandeirantes Bento Correia de
Melo, Francisco Bento Lustoza e Dionísio da Fonseca Reis adentra-
ram a região por volta de 1740, na efervescência da busca pelo ouro,
fixando residência naquela região e iniciando, assim, a povoação. Sua
expansão é decorrente do ciclo do ouro, sendo liderados neste local
por companhias francesas e até mesmo por Conde D’Eu 4 e Alvarenga
Peixoto 5, que chegaram a possuir terras de mineração no município.
Com o esgotamento das pedras preciosas, a agropecuária passou a ser
a principal atividade praticada naquela região, tendo como principais
produtos o café e o leite.
No ano de 1743, o povoado de São Gonçalo da Campanha do Rio
Verde foi elevado à categoria de Arraial e somente em 1880, por meio
da Lei nº. 2556 de 03 de janeiro, é que ocorre a elevação para Vila com
a denominação de São Gonçalo do Sapucahy. É neste contexto que se
inicia a história de José Bento Leite Ferreira de Melo, um homem de
muitos ideais, tendo sua memória pouco discutida e lembrada pela
historiografia brasileira.
De origem nobre lusitana, Manoel Leite Ferreira, provindo da
então Vila de Guimarães, em terras brasileiras, fixou sua residência
na Freguesia da Campanha do Rio Verde, na segunda metade do sécu-
lo XVIII. Naquela vila, Manuel conheceu Dona Antônia do Espírito
Santo Gouvêa, natural de Baependi, e estando viúva de seu primeiro
casamento, contraiu suas segundas núpcias em 31 de agosto de 1760.
Desta união matrimonial de 20 anos, tiveram 7 filhos 6, sendo o segun-
do José Joaquim Leite Ferreira. Nascido e batizado na Vila de Cam-
panha em 19 de fevereiro de 1764, possuía terras naquela região e era
benquisto no meio social e na administração pública das Minas Ge-

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rais, recebendo o título e a função de Sargento Mor da Fazenda Real. grande escandallo, (...) que a favor do casamento e juramento, como
Casou-se com sua prima Dona Escolástica Bernardina de Melo (filha neste lugar não tem outra parentealguma senão a da causa do impedi-
de Bento Corrêa de Melo e de Dona Maria da Visitação), por meio de mento, se virá logo a presumir e a conhecer ou perceber o mesmo im-
dispensa de consanguinidade7. O processo de dispensa matrimonial, pedimento não alcance ser esse tam oculto, a viver com seu consorte
datado de maio de 1783, transcorreu para a realização do casamento: em boa paz e este assim inocente. Assim o que posso informar e cuja
verdade juro in fide. Campanha, aos 28 de Setembro de 17838.
(...) José Joaquim Leite Ferreira de Mello e Dona Escolástica Ber-
nardina de Mello, naturaes da Freguesia de Santo Antônio de Val de Tendo transcorrido o processo, após 5 meses de análises pelas autori-
Piedade da Campanha do Rio Verde, deste Bispado, que elles se achão dades clericais e pelo Bispado de Mariana, o casamento se realizou na
contratados para se casarem na forma do Sagrado Concílio Triden- Capela de São Gonçalo. Segundo o registro matrimonial,
tino, e não podem fazer sem que primeiro sejão dispensados por V.
Aos vinte e nove de novembro de mil setecentos e oitenta e três, na
Exc. Revma. no terceiro grao de consanguinidade em que se acham
capela de São Gonsalo, filial desta Matriz, feitas as denunciações
impedidos, por q: (1) P q de Sebastião Ferreira e sua mulher Maria No-
canônicas, sem impedimentos, com provisão do Rev. Dr. Vigário da
gueira de Mello nascerão Anna Maria de Mello e Marianna Nogueira.
Vara José Bernardo da Costa, pelo meio dia, em prezensa do R. Vig.
(2) P q de Anna Maria de Mello nasceo Manoel Leite Ferreira e deste
Bernardo da Silva Lobo, e das testemunhas (...) Osorio e Bento Cor-
o orador José Joaquim Leite Ferreira. (3) P q de Marianna Nogueira
rea de Mello, que estão assinados no livro da Capella, receberam com
nasceo Bento Correa de Mello e deste a oradora Dona Escholastica-
palavras de presente José Joaquim Leite Ferreira, filho legítimo do
Bernardina de Mello, de que bem se conhece haver entre os oradores
Capitão Manoel Leite Ferreira e Dona Antonia do Espirito Santo
parentesco em 3º grao de consanguinidade. (4) P q os oradores são
Gouvea, e Dona Escolástica Bernardina de Mello, filha legítima do
filhos legítimos de Pays nobres, p q Manoel Leite Ferreira foi Capi-
Capitão Bento Correa de Mello e Dona Maria da Visitação, ambos
tam da Cavallaria auxiliar no Arrayal da Campanha, em que também
naturais desta freguesia da Campanha, e logo receberão as bênçãos. O
servio de Juiz Ordinário de todo o districto, e Bento Correa de Mello
Coadjutor Domingos da Silva Lobo9.
foi Capitam de Cavallaria auxiliar, e também Comandante no Arrayal
de S. Gonçallo da dita Freguezia. (5) P q os oradores se tem tratado Desta união nasceram os seguintes filhos: José Bento Leite Ferreira
conservando aquella nobreza de que seus Pays gozarão, sem que até o de Melo (1785, sacerdote da Igreja Católica), Manuel Ferreira de Melo
presente decahissemdella por seus procedimentos. (6) P q ainda sen- (1787, Tenente Coronel) e Joaquim Daniel Leite Ferreira de Melo (Sa-
do deminutas as legítimas que os oradores (...) em por fallecimento de cerdote da Igreja Católica). José Bento, o primogênito, foi batizado na
seus Pays nenhum delles poderá fazer no Pais com igualdade, e casan- Capela de São Gonçalo, como dita o registro:
do hum com o outro juntas as legítimas, podem viver como commu-
José. Aos desesete de Janeiro de mil setecentos e oitenta e cinco, na
mente conforme ao seu citado condição, e muito mais pelo gosto de
Capella de São Gonsalo, filial desta Matriz da Campanha, o R. Ca-
que as Mães dos oradores fazem neste casamento se poderão adian-
pellão José Gonsalves Branco batizou e pos os Santos óleos ao ino-
tar em bens o que não sucederá se não se conseguir a dispensa que
cente José, filho legítimo de José Joaquim Leite Ferreira e de Dona
pretendem. (7) P q a oradora não foi raptada e nem está no poder do
Escolástica Bernardina de Mello. Avós paternos: Capitão Manoel
orador. (...) Ella vive reclusa, e assim ser não casarem logo, (...) de ser

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Leite Ferreira e Dona Antônia do Espírito Santo Gouvea; Maternos:
Imagem 01: Dom Matheus de Abreu Pereira
o Capitão Bento Correa de Mello e Dona Maria da Visitação. Forão
padrinhos Bento Correa de Mello, com procuração de Joaquim
Bernardo da Costa e Dona Maria da Visitação, viúva. O Coadjutor
Domingos da Silva Lobo.

Não se tem muitas notícias da infância de José Bento, intuímos que,


por pertencer a uma família abastada, teve oportunidade de realizar
os primeiros estudos, de latim e português, em uma escola particular
na cidade da Campanha. Inspirado pela instrução recebida e atento ao
chamado para a vida sacerdotal, seguiu para São Paulo, com 22 anos de
idade, no ano de 1807. Naquela cidade pôde realizar os estudos supe-
riores, residindo na casa de Dom Matheus de Abreu Pereira10, prelado
daquela Diocese. É interessante observar que neste período, atribuiu-
-se a esse bispo a presença importante na formação de Padres paulistas
que se destacaram no cenário político nacional no início do século XIX,

(...) em seu tempo e a seus esforços, crearam-se de novo, ou come-


çaram a ser subsidiadas pelo erário, as cadeiras de latim, rhetorica,
philosophia, historia, theologia dogmática, moral e exegética, que
foram todas providas em sujeitos de reconhecido mérito e profundo
saber; (...) [assim] o clero paulopolitanopoude ainda enriquecer-se
de verdadeiras illustrações, taes como entre outras, os finados Diogo
Antônio Feijó, Antônio Maria de Moura, José Bento Leite Ferrei-
ra de Mello, Manoel Joaquim de Amaral Gurgel, Ildefonso Xavier
Ferreira, Miguel Archanjo Ribeiro de Castro Camargo, Vicente
Pires da Motta e D. José Antônio dos Reis, actual bispo de Cuyabá,
únicos que ainda subsistem11.

Inserido neste panorama, o jovem José Bento, no período de três anos


dedicou-se aos estudos voltados para o sacerdócio- curso teológico da
época: filosofia, teologia e moral- com os religiosos do Convento do
Carmo. No decorrer de sua formação, iniciou-se o processo denomi-
nado de generes et moribus, obtendo a ordenação sacerdotal, aos 25
anos de idade, no ano de 1809 em São Paulo. Fonte: Arquidiocese de São Paulo

16 17
Imagem 02: Antigo Convento do Carmo, São Paulo, instituição gleba, tratou de providenciar, junto aos seus vizinhos, a construção de
onde José Bento realizou seus estudos uma pequena ermida, dedicada a princípio à Santa Cruz, localizada
onde atualmente se encontra o Obelisco de Nossa Senhora da Con-
ceição, na Praça Senador José Bento. Esta capela, por alguns anos, foi
atendida pela Paróquia de Sant’Ana do Sapucaí.

Imagem 03: Pintura retratando o antigo Rancho do Mandu, século XVIII

Acervo da Arquidiocese de São Paulo

Há alguns anos, os moradores do povoado do Mandu já se manifesta-


vam pedindo maior assistência no atendimento religioso. O pequeno
lugarejo12, nas últimas décadas do século XVIII, já contava com algu-
mas famílias estabelecidas, muitos atraídos pela ânsia de enriquece-
rem mediante a mineração na região, mas, como eram poucas as minas
de pedras preciosas e com o rápido fim da exploração, tornaram-se
trabalhadores da terra, que dinamizavam a vida e o cotidiano local.
Eram famílias vindas de São Paulo e arredores, do Sul do Brasil e até
mesmo da longínqua Portugal. Alguns registros de terras, certidões de
Sesmarias, apontam-nos a existência de habitantes já no final do século
XVIII13. Em 1785, João da Silva Pereira requereu para si terras entre os
Rios Sapucaí Açú e Sapucaí Mirim14. Assim fizeram também Francisco
Bento de Paula, em 1789, reivindicando terras na Paragem do Itaim, na
estrada que segue para São Paulo e Antônio da Cunha de Carvalho, em
1798, na Paragem de Sant’Ana do Sapucaí ao pé do Rio Mandu.
João Pereira da Silva dedicou-se à lavoura e ao comércio. No final
do século XVIII, pelos idos do ano de 1785, ao se estabelecer em sua Fonte: A História de Pouso Alegre, Octávio Miranda de Gouvêa

18 19
Imagem 04: Ilustração que retrata a primeira Capela do Povoado do Mandu argumentava sobre a importância daquela localidade que contava, na
época, com aproximadamente 200 habitantes, e realizou uma nova
petição que fora enviada à Corte para a decisão do Príncipe Regente.
Para dar andamento ao processo de criação da nova paróquia e fre-
guesia, em 27 de outubro de 1810 foi consultada a mesa de consciência e
ordens. Como resposta da referida mesa, foi enviado uma resolução que
oficializou o desmembramento territorial da Freguesia de Sant’Ana do
Sapucaí, atendendo os pedidos a população da região do Mandu:

Erije em Freguesia a Capella do Bom Jesus de Pouso Alegre do Bis-


pado de São Paulo. Foi ouvida a mesa de consciência e ordens sobre
a creação de uma Freguesia na Capella do Senhor Bom Jesus de
Pouso Alegre. Informou favoravelmente o Revmo. Bispo da Diocese
de São Paulo, e com a sua informação se conformaram com o Procu-
rador Geral das Ordens e o Procurador da Coroa e Fazenda. Parece
à mesa o mesmo que aos Procuradores da Coroa e Fazenda Geral
das Ordens, para consultar Vossa Alteza Real a divisão da Parochia
Fonte: A História de Pouso Alegre, Octávio Miranda de Gouvêa de Sant’Anna de Sapucahy, do Bispado de São Paulo, visto que o Pa-
rocho da matriz, convém, e o Revmo. Bispo a julga necessária; eri-
A primeira missa rezada na Capela foi presidida pelo Padre Francisco jindo da nova Freguesia na Capella do Bom Jesus de Pouso Alegre,
de Andrade Melo, residente e responsável pela Igreja e Freguesia de vulgarmente do Mandu, determinando-se ao mesmo Revmo. Bispo
Sant’Ana do Sapucaí. Com o passar dos anos e o crescimento do povo- que lhe fixe os limites, como lhe parecer próprio. Vossa Alteza Real,
ado do Mandu, os moradores já reivindicavam a criação da Freguesia porém, mandara o que for servido. Rio de Janeiro, 19 de janeiro de
naquele local e consequentemente a elevação à paróquia e a presen- 1810. Como parece. Palácio do Rio de Janeiro, em 27 de outubro de
ça de um vigário no local. Desde os primeiros anos do século XIX, a 1810. Com rubrica de Vossa Alteza Real15.
população local vinha pedindo ao Bispado de São Paulo essa feita,
No dia 06 de novembro de 1810 foi criada a Freguesia do Senhor Bom
desmembrando assim de Sant’Ana do Sapucaí. O jovem José Bento,
Jesus de Pouso Alegre, por meio de um Alvará Régio:
naquele momento ainda estudante e aspirante ao sacerdócio em São
Paulo, ouvindo os pedidos da população da Capela do Mandu, seus Eu o Príncipe Regente de Portugal, como Governador e Perpétuo Ad-
amigos e alguns parentes, incansavelmente manteve diálogo com o ministrador que sou do Mestrado, Cavallaria e Ordem de N. S. Jesus
Bispo Diocesano de São Paulo e seu amigo Dom Matheus e também Christo- Faço saber que representando-me o Rev. Bispo de S. Paulo do
com o Juiz de Fora de Campanha, José Joaquim Carneiro de Mi- meu Conselho, ser necessário estabelecer uma côngrua para um coad-
randa. Mesmo com a relutância do Príncipe Regente, que procurava juctor que ajudasse a parochiar o Vigário da Freguesia de Sant’Anna do
criar uma nova freguesia em outra localidade, o prelado de São Paulo Sapucahy, daquelle Bispado, que pela nímia extensão de seu território

20 21
era impraticável o podel-aparochiar, em ter quem o coadjuvasse, e Grande e dali em linha reta até as terras de Antônio Ribeiro da Silva,
havendo Eu por bem madar informar o mesmo Rvd. Bispo, se era mais ficando este e outros compreendidos na mesma linha fregueses de Pou-
conveniente erigir alguma outra Freguesia em sitio que lhe parecesse so Alegre e os demais como são Joaquim Nunes e Nicolau Rodrigues
conveniente, desmembrando-a daquella, e atendendo a informação de Carvalho fregueses desta Matriz de Itajubá, com declaração de que
do dito Rvd. Bispo, instruída com um requerimento do povo, e repre- Antônio Manoel de Siqueira e sua família por motivos particulares
sentação do Juiz de Fora, que ansiosamente supplicaram a erecção de ficam sendo fregueses de Pouso Alegre, apesar de estarem nos limites
uma nova Freguesia na Capella do Sr. Bom Jesus do Pouso Alegre, de Itajubá não acontecendo assim a respeito dos novos colonos do dito
vulgarmente chamada de Mandu, que se achava erectano sobredito sítio que deverão ser fregueses de Itajubá.
districto da Freguesia de Sant’Anna de Sapucahy: o que tudo visto e Da Paróquia de Ouro Fino com a de Pouso Alegre: o ribeirão
respostas dos Procuradores Geraes das Ordens, e de minha Real Corôa da Borda da Mata, cujo ribeirão descende de uma estrada que vai de
e Fazenda que tudo subiu a minha Real Presença em consulta do meu uma Paróquia passa pelos fundos da morada de Manoel Marquese, e
Tribunal da Mesa da Consciência e Ordens: Hei por bem em nova Fre- descendo por ele abaixa até onde faz barra no Rio Mandu, e daí até o
guesia Collada a Capella do Sr. Bom Jesus do Pouso Alegre, vulgarmen- Servo, ficando servindo de divisa e espigão denominado Boa Divisa,
te chamada do Mandu, desmembrando-a da Freguesia de Sant’Anna que justamente é um que se acha no meio da distância de uma e outra
do Sapucahy em o Bispado de S. Paulo e mando ao Revd. Bispo daquela Matriz, e na estrada para cima seguir-se-á o rumo direito da Borda
Diocese, que fixe os limites a esta nova Freguesia como lhe parecessem do Mato até o morro da Boa Vereda, atendendo sempre ao meio do
próprios. Este se cumprirá como nelle se contém, sendo passado pela caminho de uma outra Paróquia, cujo o rumo vai passar por entre os
Chancellaria da Ordem e registrado nos livros da Câmara de S. Paulo sítios de Antônio Pereira freguês de Ouro Fino e um fulano Bicudo
e no de ambas as mencionadas Freguesias e valerá como Carta posto freguês de Pouso Alegre.
que o seu effeito haja de durar mais de um anno. Rio de Janeiro, 06 de Da Freguesia de Camanducaia com a de Pouso Alegre:
Novembro de 1810. O Príncipe com guarda16. seguindo o rumo direito do morro da Boa Vereda até a estrada de
Camanducaia para Pouso Alegre no lugar onde passa o Ribeirão dos
O primeiro passo tomado após a elevação à Freguesia foi a demarca-
Três Irmãos, e daí descendo pelo Ribeirão abaixo até a sua barra, e
ção e a divisão do território. Neste sentido, Dom Matheus trabalhou
dela seguindo rumo direto ao Ribeirão que faz divisas com as terras
incansavelmente, e delegou Antônio Paes de Camargo, Cônego da Ca-
de João Rodrigues de Almeida, com os Tavares e daí cortando a Serra
tedral de São Paulo, Visitador Ordinário de Igrejas e Comarcas, para
que vai ao Capitão Luis de Figueiredo e seguindo a mesma até Antô-
realizar a designação dos limites da nova Paróquia de Pouso Alegre. A
nio Joaquim Diniz, e daí direto ao Rio Capivari, e por ele acima até
extensão possuía grandes proporções, o que mais uma vez apontava a
suas cabeceiras, ficando todos os moradores de além pertencendo à
presença de um vigário para atender aquela nascente paróquia. Fica-
Freguesia de Pouso Alegre, e os de aquém a esta de Camanducaia.
ram decididos os seguintes limites:
Da Paroquia de Sant’Anna do Sapucahy com a de Pouso
Da Paróquia de Itajubá com a de Pouso Alegre: o termo divi-
Alegre: Pelo Rio do Servo desde as suas cabeceiras até a sua barra, cuja
dente se dá por meio do Rio da Vargem Grande, que fica quase no meio
a divisão foi feita pelo Pároco colado da mesma, João Alveres Botão, e
de ambas as paróquias, principiando desde as suas cabeceiras até as
se acha incerta pela própria Carta do dito Vigário, e por ele assinada na
terras que tem Manoel Antônio de Azevedo, a quem do dito Rio Vargem

22 23
proposta que fez para a criação desta Freguesia 17. Após estabelecidos os Oriente: a Serra Preta, perto da Freguesia de São Bento, em São
território da nova Paróquia criada, percebemos a grande extensão deli- Paulo (atual município de São Bento do Sapucaí), e uma parte deslo-
mitada para ser atendida pelo vigário que assumiria aquela Freguesia. cada da Serra da Mantiqueira, até as nascentes do ribeirão da Vargem
Amadeu de Queiroz nos apresenta uma divisão mais detalhada da Grande, por este abaixo, até desaguar no Rio Sapucaí Grande, o qual
nova Freguesia: faz o limite por espaço de nove léguas até receber o confluente Servo.
Limites de Noroeste: são um ângulo muito agudo, saliente, da Ocidente: as vertentes da Serra do Feijoal, que parte pertence
Serra dos Campos de Caldas (atual região dos Campos pertencente ao aos territórios de São Paulo e parte de Minas Gerais, e que nasce o Rio
município de Espírito Santo do Dourado) estreitando-se até encontrar Servo, descendo estas vertentes até encontrar com o Servo, na estrada
com o Rio Cervo, atravessando a estrada que segue para Sant’Anna de Sant’Anna18.
(atual Silvianópolis) até todo o rumo Noroeste e, pelo rio abaixo, até Percebemos que por meio dessas divisas, as Serras denominadas
desaguar no Rio Sapucahy Grande. de Boa Vereda e dos Campos de Caldas eram as principais divisas da
Limites de Sul e Sudoeste: na vertente da Boa Vereda, nascem os Freguesia de Pouso Alegre com respectivamente os territórios de
Rios dos Três Irmãos e Mogy que correm em direção oposta- o primeiro Camanducaia e Caldas. Os principais rios que banhavam a nova
forma o limite do Sul até se lançar no Rio Itahim que corta na mesma Freguesia eram o Mandu(com nascente à sete léguas- em torno de
direção até o alto da Serrinha, que corta em rumo direto, sobe ao morro 47km- da sede da freguesia); Sapucaí Mirim (nascendo na Serra da
da Samambaia, que cujo alto segue a divisa, às Serras da Mantiqueira, Mantiqueira, na fazenda de Campos do Jordão); Itaim (na região
cujas vertentes, neste ponto vem até o Rio Sapucaí Mirim, que tudo for- de Campo Largo, freguesia de Camanducaia); Capivary(na mesma
ma o limite sul; e partindo do segundo, no Rio Mogi, desde as cabeceiras, região que o Rio Itaim); e o Servo (nas vertentes da Serra do Feijoal,
seguindo o mesmo Rio até encontrar o morro do Torres e do Tripuhy, por Campos de Caldas). Além dessas principais bacias, existiam ainda
cujos cimos vai à divisa; e descendo pelo último até encontrar o Ribeirão pequenos rios como Pantano e Pantaninho, com nascentes na re-
Chavi, que passa em rumo direto, subindo o Morro do Caetê, e descendo o gião de Estiva (Serra da Carapuça) e desaguando no Rio Mandu, já na
mesmo morro, encontra o Rio Eleutério; seguindo este pela estrada velha, Freguesia de Pouso Alegre.
pouco mais de meia légua, onde o rio atravessa a estrada. Neste ponto Com o estabelecimento dos marcos de divisas da nova Paróquia,
forma o limite com São Paulo, em um ângulo muito saliente que faz o um concurso foi aberto para os trabalhos da Igreja local. Como único
extremo sudoeste da freguesia. concorrente a estabelecer-se naquela região, o jovem Padre José Ben-
to se apresentou em fevereiro de 1811. Em 07 maio do mesmo ano, a
carta de apresentação do novo vigário foi feita pelo Príncipe Regente
do Reino do Brasil, Dom João VI.

24 25
Imagem 05: Dom João VI, Príncipe Regente do Brasil coetera (...) Cavallaria e Ordem de Nosso Senhor Jesus Christo. Faço
saber a vos Reverendo Bispo de Sam Paulo de meu Conselho que aten-
dendo (...) no presente em consulta de meu (...) da consciência e ordens
a proposta, que fizestes para o aprovimento da Igreja do Senhor Bom
Jesus de Pouso Alegre desse Bispado na conformidade das faculdades
que para semelhantes propostas fui servido conceder-vos. Hei por bem
(...) apresentar na referida Igreja o Padre José Bento Leite Ferreira de
Mello, com effeito o aprezento e hei apresentado com pençãoannual de
vinte mil réis (20$000) para a Fábrica de Minha Real Capella de Nossa
Senhora do Monte Carmello e com a cláusula de que poderá dividir esta
Igreja, quando julgar necessário sem que elle provido a possa impedir
na forma determinada na Resolução de 10 de agosto de mil setecentos
cincoenta e quatro e servirá como convém ao serviço de Deus e bem das
almas de seus Freguezes e vós encomendo que nella o confirmais e lhe
passeis vossas letras de confirmação na forma costumada, em que esta-
va expreça menção de como nella o confirmastes por isto” 19.
A notícia da elevação da nova Freguesia de Pouso Alegre como
a da posse do jovem Padre José Bento ultrapassaram limites terri-
toriais. O jornal Gazeta do Rio de Janeiro, em 23 de janeiro de 1811,
Acervo da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin
publicou no quadro de avisos na quarta página a seguinte notícia:

A provisão e a nomeação atestava a veracidade do envio do jovem Pa-


Imagem 06: Trecho do periódico Gazeta do Rio de Janeiro, 1811
dre José Bento para trabalhar na Freguesia do Bom Jesus de Pouso
Alegre. Em Dezembro de 1811 é empossado o novo vigário conforme
a documentação enviada: “Dom Matheus de Abreu Pereira por mercê
de Deus, e da Santa Sé Apostólica, Bispo de Sam Paulo, de Conselho da
Sua Altesa Real, o Príncipe Regente, Nosso Senhor, etc. etc. = Aos que
esta nossa Carta de collação virem- Saúde e Bençam em o Senhor faze-
mos saber que pelo Reverendo José Bento Leite Ferreira de Mello,
Presbítero Secular deste Bispado, nos foi apresentada huma carta de
Acervo da Biblioteca Nacional
aprezentação de Sua Altesa Real o Príncipe Regente Nosso Senhor de
theor seguinte- Dom João por graça de Deus, Príncipe Regente de Por- Dando início aos seus trabalhos em Pouso Alegre, José Bento não
tugal e dos Algarves de quem e de (...) Mar em África de Guiné e da Con- se pautou apenas na liderança religiosa local. Além de cuidar das
quista, Navegação, Comércio da Ethiópia, Arábia, Pérsia e da Índia, et almas, exercendo o ofício de pastor, fundou a Irmandade do San-

26 27
tíssimo, movimento que mantinha com fervor a fé das pessoas na Imagem 07: Padre João Dias de Quadros Aranha

Freguesia. Dedicou-se também a cuidar dos aspectos estruturais


daquela localidade. Segundo a tradição oral, o jovem padre dirigiu
pessoalmente na época o primitivo alinhamento das ruas20, a dispo-
sição e o ordenamento das residências, como também os aspectos
de saneamento higiênico e embelezamento local. Com a reconfigu-
ração local e as novas dinâmicas assumidas, algumas famílias foram
se instalando em Pouso Alegre.
Temos notícias que em 1812, vindo do Rio Grande do Sul com sua
família, fixaram residência o Capitão Antônio Barros de Mello, sua
esposa Dona Eufrásia Pereira Escobar e seus filhos Antônio de Barros
Pereira e Mello, Amador de Barros Mello (mais tarde se ordenou sa-
cerdote em 1820), José Pedro de Barros Mello (também ordenou-se
sacerdote em 1828) e mais quatro filhas.
Neste período também chegaram à Freguesia a família de José
Bento, vindos da cidade da Campanha, seu pai o Capitão José Joa-
quim Leite Ferreira de Mello e seus irmãos Coronel Manuel Leite
Ferreira de Mello e Joaquim Daniel Leite Ferreira de Mello (tor-
nou-se sacerdote recebendo a ordenação no ano de 1841). Vindo da
mesma cidade, o lavrador e capitalista Coronel Ignácio João Cobra
estabeleceu vínculos e construiu sua família nas terras do Mandu.
De São Gonçalo do Sapucaí o Coronel Ignácio Gonçalves Lopes; da
cidade de Itu-Sp o Padre João Dias de Quadros Aranha21; de Congo- Acervo do Museu Histórico Municipal Tuany Toledo

nhas do Campo, o farmacêutico e político Modesto Antônio Mayer;


de Cananéa- SP o fazendeiro Antônio de Freitas Lisboa e Maxi- Com o passar dos anos percebeu-se na freguesia grandes extensões
miano José de Britto Lambert, de São João del Rei. Estes foram os de terras devolutas. À partir de 1819, tomamos conhecimento de
precursores de muitas da famílias que até hoje habitam o município pessoas que requereram sesmarias para aquelas terras. Francisco
de Pouso Alegre e região, pessoas que de alguma forma tiveram en- da Costa de Carvalho Bahia, em 1821, adquiriu com a Coroa Real a
volvimento na política local. Outras famílias se originaram de pes- Sesmaria da Paragem do Campo Largo do Itaim. Na localidade do
soas que se instalaram na área rural ou que de alguma forma, com o Pantano, em 1819 e 1822, obtiveram terras respectivamente Luiz
passar dos anos, foram fixando residências na Freguesia de Pouso Lázaro Pontes e Domingos Pereira dos Santos, cuja carta foi docu-
Alegre, e dinamizando os aspectos sociais e econômicos da região. mentada da seguinte forma:

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Ilmo. E Exmo. Sr. Diz Domingos Pereira dos Santos, morador na disseminação de várias ideias, a publicação de periódicos, que propi-
Freguezia de Pouso Alegre, termo da Villa da Campanha da Princesa, ciava a construção de mentalidades, entre outros, como a abertura de
que he senhor e possuidor de huma Fazenda no sítio do Pantano, que teatros, bibliotecas, instituições literárias e científicas, observando
houve por compra e atualmente está cultivando sem perturbação de sempre o crescimento da demanda populacional.
algum intruso; e como está sem título Regio que o posso livrar de qual- Uma das primeiras dificuldades enfrentadas por Dom João VI
quer invasão. Portanto: para a V. Exa. seja servido conceder sua Carta foi a Revolução Pernambucana de 181724 que, entre inúmero ques-
de Sesmaria de huma legoa em quadra para seu legítimo título22. tionamentos, apontavam a presença maciça de portugueses na
liderança do governo e da administração pública. Apresentando
Muitos, neste sentido, pediram a posse legítima à Coroa das terras de-
ideias liberais, mesmo tendo sido derrotada, iniciava-se assim o mo-
volutas que se estendiam na região de Pouso Alegre, e neste sentido, de-
vimento que ganharia força a cunho nacional. Contudo, Dom João,
ram início a inúmeras propriedades localizadas na zona rural local e na
tomava maiores medidas no sentido de integrar ainda mais a nação
região. Diversas culturas eram cultivadas, criações, e modos de se fazer a
Brasileira à Portugal, como partes de um só reino. Em 1815, elevou
partir dos gêneros produzidos, abastecendo o comércio local, provincial
o Brasil à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves, e após
e da corte, alavancando o comércio de abastecimento em Pouso Alegre.
a morte da rainha sua mãe, foi consagrado em terras portuguesas
Como reconhecimento dos trabalhos prestados à Paróquia do Bom
como Rei com o título de Dom João VI.
Jesus e pelas iniciativas tomadas na Freguesia, José Bento foi nomeado
pelas autoridades governamentais e eclesiásticas como Cônego da Sé de
Imagem 08: Benção das bandeiras da Revolução de 1817. Tela de Antônio Parreiras
São Paulo, em 08 de março de 1820, fazendo parte do cabido Diocesano
e das decisões tomadas a nível Diocesano. Mantendo presença em São
Paulo com autoridades politicas e eclesiásticas, estando ao lado de seu
amigo, o Bispo Diocesano Dom Matheus, Cônego José Bento começou
a assimilar ideias políticas, e vislumbrado com o sentimento de patrio-
tismo, assumiu os ideais liberais que se instalavam na mentalidade do
povo. Como arauto dessas ideias, disseminou a doutrina pelos quatro
cantos da Província de Minas Gerais, e nesta mesma década, funda em
Pouso Alegre, onde fixava sua residência, o Partido Liberal, movimento
este que muito influenciou a trajetória política de José Bento.
Para entendermos sobre este movimento político que se insta-
lava no Brasil neste momento, faremos uma viagem pelo tempo de
um país que estava às vésperas de sua independência do Reino de
Portugal. Segundo o historiador Boris Fausto, “a vinda da família real
deslocou definitivamente o eixo da vida administrativa da colônia para
o Rio de Janeiro, mudando também a fisionomia da cidade” 23. A vida
Fonte: Fundação Joaquim Nabuco
cultural carioca se transformou, com maior acesso à literatura, com

30 31
A proposta de Independência do Brasil a cada dia ia ganhando forças, oso sobrado, construído no decorrer da década de 1820. De acordo
e, inúmeros fatores, tanto internos como externos, a influenciaram. com relatos históricos, José Bento introduziu na Freguesia do Bom
Contudo, “foram os ventos trazidos de fora que imprimiram aos acon- Jesus de Pouso Alegre, uma técnica que se remete aos antigos egíp-
tecimentos um rumo imprevisto, pela maioria dos atores envolvidos, em cios, que consistia na fusão de óleo de peixe fervido em tachos de
uma escalada que passou da defesa da autonomia brasileira à ideia de cobre, com a terra vermelha que era socada, servindo de massa con-
independência” 25. Em meados de 1820, em Portugal, já se estabelecia sistente para a sustentação das taipas ou tijolos que eram cozidos.
uma revolução liberal26, partindo em ideias ilustradas, mas que no Esta técnica foi aplicada na construção de sua residência oficial. Em
Brasil tomaria outros rumos. estilo colonial, possuía dois pavimentos com um grande portal de
Neste sentido, os ideais liberais tomam força no Brasil. A corren- entrada, cinco janelas de cada lado, sendo que, na parte superior,
te liberal, ou também “partido brasileiro” 27, era formado por grandes onze janelas em formato de sacadas, que davam vistas para a Rua do
proprietários rurais que se estabeleciam nas capitanias próximas Imperador (atual Avenida Doutor Lisboa)29.
às capitais, burocratas e membros do judiciário naturais do Brasil,
como também portugueses que se vincularam ao Brasil, comercian- Imagem 09: Sobrado de José Bento. Autoria: Jacinto Libânio

tes que viviam do livre comércio que se ligaram por meio de laços
matrimoniais. Defendiam as pautas liberais clássicas, as conquistas
econômicas e não acatavam às ordens vindas da corte. A crise que se
instaurava no governo de Dom João VI fez com que a opção pela inde-
pendência se fortalecesse, e o ponto decisivo foi o retorno do Príncipe
Regente para Portugal. O partido liberal se esforçou ao máximo para
a permanência de Dom Pedro no Brasil, e este dia, 09 de janeiro de
1822, ficou mais conhecido como “dia do fico”. Outros episódios fo-
ram marcantes mediante o apoio dos liberais, como a entronização de
Dom Pedro II ao trono, em 1840, com apenas 15 anos de idade, mais
conhecido como “Golpe de Maioridade” 28. No decorrer das páginas
deste livro, falaremos um pouco mais desses acontecimentos.
O Padre José Bento, há algum tempo trabalhando na Freguesia
de Pouso Alegre, constituiu também um patrimônio em seu nome.
Em 14 de abril de 1819, requereu por meio de Carta de Sesmaria, a
concessão da Fazenda do Campo. Esta propriedade se localizava na Fonte: A História de Pouso Alegre, 1998.
região denominada “Sertão do Ribeirão das Mortes”, mantendo cul-
tivo de diversas espécies e gêneros. Além destas terras, possuía um A freguesia de Pouso Alegre, na década de 1820, contava com um pou-
rancho localizado na região do Rosário (atual Praça João Pinheiro), co mais de 5.000 habitantes. Entre 1818 e 1825, sabe-se da existência
uma casa residencial próxima à Igreja Matriz e um grande e suntu- de aulas da Instrução Pública. Segundo o atestado passado para o

32 33
Professor, Padre João Damaceno, transcrito nas Atas da Câmara Mu- tidiano de Pouso Alegre, e, seus amigos e aliados o auxiliavam nos
nicipal (no ano de 1839), trabalhos locais. Ao mesmo tempo, José Bento fazia com que Pouso
Alegre e região se tornasse ainda mais conhecida, por irradiar com
A Comarca Municipal da Villa de Pouso Alegre atesta que o Rev.
força os ideais do pensamento liberal.
João Damaceno Teixeira, professor da Gramática Latina da Villa
Os trabalhos religiosos na Igreja do Bom Jesus não ficaram aban-
da Campanha se empregou sem interrupção no Magistério da Gra-
donados neste período. O seu coadjutor, Padre Antônio de Pádua
mática Latina e de primeiras letras nesta Villa desde o ano de 1818
Castro31, cuidava dos atendimentos espirituais da Igreja local. Com o
até o de 1825, conservando em todo este tempo o número de 30 a
seu falecimento, assume em seu lugar o Padre João Dias de Quadros
40 alunos, aos quais lecionou com bastante aproveitamento destes,
Aranha, permanecendo até o ano de 1833.
infundindo-lhes sentimentos religiosos e de moralidade pelo que se
Como parte do Governo Provisório de Minas Gerais, em comis-
tornou digno de estima pública e o seu trabalho de grande utilidade
são com Carlos Martins Penna, José Bento se reuniu no Registro de
para seus discípulos30.
Jaguarí, em 1822, com a comissão da Província de São Paulo, para
Pouco se sabe sobre a Freguesia de Pouso Alegre nesta década. Te- regularizar definitivamente os limites entre as duas províncias. No
mos o conhecimento que, em se tratando de Administração Pública, entanto as intenções desta proposta não conseguiram se concretizar
estava subordinada à Câmara Municipal da Vila da Campanha da por motivos de enfermidade que José Bento foi acometido. Já, em
Princesa. No entanto, a trajetória política de José Bento tem seu iní- 1827, por intermédio do padre deputado, o povoado das Formigas
cio nos primeiros anos deste período. Ao fundar o Partido Liberal na (atual Paraisópolis), pertencente à Freguesia de Pouso Alegre, obteve
Freguesia de Pouso Alegre, José Bento começa a destacar no cenário do Governo Imperial, em 26 de setembro de 1827, o alvará de ereção
político local e regional. Defendendo os ideais liberais que percor- da capela de São José, dando mais um passo de independência das
riam o território nacional, nas eleições de 1821 às Cortes Portuguesas, terras do Mandu.
foi nomeado Eleitor da Paróquia de Pouso Alegre, e, posteriormente, Nos últimos anos da década de 1820, a população da Freguesia de
das Comarcas do Rio das Mortes e em São João del Rei. No mesmo Pouso Alegre reivindicava uma autonomia política maior. Os jornais da
ano, em 20 de setembro de 1821, foi eleito membro da Primeira Junta época já faziam alusão à elevação de Vilas na Província de Minas Ge-
do Governo Provisório da Província de Minas Gerais, que manteve rais, com a criação de Câmaras Municipais e todo um aparato político
funcionamento de 21 de setembro de 1821 a 23 de maio de 1822. Foi e administrativo. Contudo, alguns anos mais tarde, em 13 de outubro
também membro do Conselho Geral da Província de Minas Gerais, de 1831, a Freguesia foi elevada à condição de Vila, e sete meses após,
até ser eleito deputado geral em 1826, permanecendo por três legisla- foi instalada a Câmara Municipal e empossados os primeiros represen-
turas até o ano de 1834. tantes políticos locais. O jornal “Astro de Minas” do dia 31 de janeiro de
O envolvimento com os trabalhos políticos fizeram com que José 1832 noticiava o seguinte fato: “A Regência, em nome do Imperador o se-
Bento ficasse constantemente ausente da Freguesia de Pouso Alegre, nhor Dom Pedro II, há por bem sanccionar e mandar que se execute a se-
pois as viagens para o Rio de Janeiro e Ouro Preto, eram tortuosas, guinte Resolução da Assembléa Geral Legislativa, tomada sobre outra do
cansativas e repletas de obstáculos, além de consumir dias em cima Conselho Geral da Província de Minas Geraes as seguintes povoações (...)
de um cavalo. Contudo, estava sempre atento aos negócios e ao co- A povoação de Pouso Alegre, comprehendendo no seo termo as Freguezias

34 35
de Pouso Alegre, Cammandocaia, Ouro Fino e Caldas” 32. Percebemos Vereadores também votaram e executaram ordens para serem retira-
que a grande extensão delimitada da recém criada Vila proporcionava dos imediatamente os paris33 existentes nos Rios Cervo e Pantano, e,
desafios para a nova Câmara administrar todo o território. como consequência aos infratores multas e a proibição desse gênero
A população de Pouso Alegre e redondezas festejou a criação da de pesca. Foram expedidas ordens para a captação de água potável na
nova Vila. O largo da Matriz estava repleto de pessoas e adornado de região denominada “Vendinha” (atual Bairro São João) ou das terras
arcos e bandeiras saudando este ato político. Durante a noite, as casas pertencentes ao Padre Thomaz Pinto Moreira, por meio de um rasgão
estavam todas iluminadas, a banda tocava ao redor da Vila, ao som do direcionado até a região do Rosário (atual Praça João Pinheiro), abas-
pipocar dos fogos de artifício. Bailes e ceias abrilhantaram as festivi- tecendo as casas da Vila. Solicitou também a criação de um correio,
dades. A cerimônia de instalação ocorreu na casa de José Bento, loca- que seguisse para Lorena (pertencente à Província de São Paulo), e de
lizada na Praça da Matriz, e tiveram presentes diversas autoridades e lá, fossem encaminhadas para a Corte.
pessoas de toda região. Durante o primeiro ano da legislatura, os Vereadores determi-
A instalação da Câmara Municipal ocorreu no dia 07 de maio de naram em regime de urgência a abertura de duas grandes valas de
1832, sendo os primeiros ocupantes os seguintes vereadores: Padre drenagem: uma em um pântano entre as Ruas da Prata (atual Adolfo
Mariano Pinto Tavares (Presidente), Padre João Dias de Quadros Olinto) e Boa Vista (Silvestre Ferraz) e uma outra em um pântano que
Aranha, Maximiano José de Brito Lambert (secretário), Emídio de dividia a parte da região do Rosário34. Como medidas de organização
Paiva Bueno, José Francisco Pereira Filho, Manuel Leite Ferreira de da Vila, a Câmara legislou sobre a arrecadação das rendas municipais,
Mello, Joaquim Pio da Silva e Ignácio Gonçalves Lopes. A fiscalização nomeou um alinhador para que fiscalizasse a organização das casas
ficou a cargo de José Borges de Almeida, como procurador Francisco e estabelecimentos, inspetores de caminhos e proibiu que animais
de Paula Pereira e Mello e servindo de porteiro e carcereiro Ignácio ficassem soltos nas ruas e praças. Reivindicou ao Conselho Geral a
Rodrigues da Costa Brandão. Compondo também o corpo adminis- criação de uma Escola de Primeiras Letras para que fossem atendidos
trativo da nova Vila, foram empossados como Primeiro e Segundo os meninos e recomendou a se fazer um orçamento para a construção
Juiz Ordinário o Sr. Thomaz José de Andrade e João Francisco Pe- de um aterro e ponte no Rio Mandu, para facilitar a ligação das estra-
reira Filho; Juiz de Órfãos o Sr. Ignácio João Cobra; Coletor, o Sr. das que seguiam em direção à Província de São Paulo. Foi orçada tam-
Francisco de Barros Pereira e Mello; Escrivão da Coletoria, Ignácio bém uma ponte para o Rio Sapucaí, em um sítio denominado “Barra”.
Brandão de Azevedo e Administrador (para receber pesos e medidas Nas últimas sessões daquele ano entraram em pauta discussões que
e cobrar os impostos) Antônio Diciano da Silva. atenderam a sede como algumas localidades da região. Destacamos a re-
Os primeiros trabalhos realizados na Câmara Municipal de Pou- solução que mandou atombar35 os limites do intramuros da Vila de Pouso
so Alegre foram os seguintes: o Fiscal ficou autorizado a alugar, com Alegre e proibiu qualquer tipo de construção em terrenos que não pos-
certa urgência, uma casa que servisse como cadeia pública. Esta pro- suíssem arruamento. Na região de Caldas, representaram ao Conselho
priedade era localizada na “Rua da Outra Banda” (atual Rua Silvestre do Governo Provincial a necessidade da vinda de um Engenheiro para
Ferraz) no valor mensal de 2$000. Neste lugar permaneceu por mais lá se levantar uma planta de obras relativas a construção e uma fonte
de um ano, quando foi transferida para sede própria, no Largo deno- nas águas de Caldas, para que fosse reconhecida a sua importância não
minado “Ponte Velha”, adquirida do Sr. Antônio da Costa Ferreira. Os somente na Província de Minas Gerais mas também em todo o Império.

36 37
A Câmara Municipal funcionava em casa alugada, cujo o proprietário Imagem 11: Casa da primeira Câmara Municipal de Pouso Alegre

era o Padre José Bento, que recebia como aluguel a quantia de 4$000
(quatro mil réis). Alguns anos mais tarde, a propriedade foi adquirida
pela municipalidade, no valor de 1:500$000, conforme consta no docu-
mento: “Recebi do Ilustríssimo Sr. Francisco de Paula Pereira e Mello,
Procurador da Câmara Municipal da Villa de Pouso Alegre, a quantia
de nove contos e secenta mil réis, restante da quantia de hum conto e
quinhentos mil réis, preço por que vendi a Câmara Municipal da Vila,
humas casas no Largo da Matriz da mesma, para nella fazerem suas
sessões e servir para aula de ensino mutuo, por deliberação da mesma
Câmara de onze de janeiro e onze de fevereiro de mil oitocentos e trinta
e três, conforme a Escriptura Pública que passei a doze do dito mês de
fevereiro, e que se acha a folhas treze verso do livro primeiro de notas do
Juízo daquella Villa, com o qual a quantia fico pago e satisfeito, por já
haver passado um recibo da quantia de quinhentos e quarenta mil réis.
E por ter recebido passo o presente por mim somente assignado. Rio de
Janeiro, 01 de setembro de 1836. José Bento Leite Ferreira de Mello” 36

Acervo do Museu Histórico Municipal Tuany Toledo


Imagem 10: Documento de recibo assinado por José Bento, 1833

Neste Capítulo tivemos a oportunidade de percorrer pelos anos


que fizeram a transição do século XVIII para o século XIX. A tra-
jetória de José Bento, que tem como marco principal sua região
natal, Campanha da Princesa, aos seus estudos em São Paulo e sua
ida estratégica para Pouso Alegre. O seu estabelecimento em terras
manduanas proporcionou ao povoado ganhos em relação ao coti-
diano e à constituição espacial local, como a vinda de famílias que
se estabeleceram a primeiras ações de infraestrutura e a elevação à
condição de Vila, com a instalação da Câmara Municipal, quando o
serviço público se torna mais evidente. Com o passar dos anos, José
Bento, sacerdote da Igreja Católica local, passa a se constituir como
figura pública e representante político da região, sendo o principal
representante dos Liberais no Sul de Minas, como veremos, por
Acervo do Museu Histórico Municipal Tuany Toledo meio de suas ações no próximo capítulo.

38 39
II
De Padre à Político: caminhos paralelos de José Bento

Na medida em que os acontecimentos iam ocorrendo no Brasil, na


primeira metade do século XIX, José Bento, homem político, passou
a dedicar-se cada vez mais às suas convicções e ideias liberais. O Bra-
sil, neste momento, vivenciava o período Imperial, já independente
de Portugal desde o dia 07 de setembro de 1822. A primeira fase do
governo Imperial, denominado como Primeiro Reinado (1822-1831),
foi resultado do processo de Independência, optando-se, no entan-
to, pela instauração da Monarquia37. Podemos dizer que esta opção
se deu por alguns motivos: os idealizadores da nossa independência
temiam que o território brasileiro fosse fragmentado caso instauras-
sem a república no país. A elite brasileira havia sido formada nas tra-
dições monarquistas de Portugal. Esse estilo governamental evitava
que as transformações no status quo ocorressem38.
Em 1823 iniciou-se o processo para a redação da primeira Cons-
tituição Brasileira. Para isso, convocou-se uma Assembleia Consti-
tuinte, no dia 03 de junho de 1822, antes mesmo da proclamação da
independência. Contudo, em termos práticos, o funcionamento só
se consolidou após este evento. O principal objetivo desta assem-
bleia era o de elaborar uma Constituição para o Estado Soberano
que se formava. A ideia inicial partiu de Antônio Carlos de Andrada

40 41
e Silva, e se baseou sobretudo nos interesses da Elite e de Dom Pe- A participação de José Bento, principalmente na defesa dos ideais
dro I. A Carta Constitucional ficou pronta apenas no ano de 1824 liberais, foi de significativa importância para os últimos momentos
e foi outorgada por ordem do Imperador. A Constituição deixava do governo Monárquico de Dom Pedro I. As campanhas e a difusão
claro e reafirmava a condição Monárquica que se instaurou no Bra- das ideias políticas fizeram parte do cotidiano da população nacional
sil e instituiu ao Imperador poderes absolutos sobre a nação. Ficou e local, principalmente com a instalação da imprensa na pequena Vila
também estabelecido o Poder Moderador39representado exclusi- de Pouso Alegre, publicando um periódico de cunho político e impri-
vamente por Dom Pedro I e a imposição do voto censitário, sendo mindo um projeto de constituição que nunca entrou em vigor.
que, somente poderiam votar aqueles que obtivessem renda anual
superior à cem mil réis (100$000).
Com o passar dos anos, Dom Pedro I foi se desgastando40 com Atuação de José Bento na Câmara dos Deputados
grande parte da sociedade, inclusive, com o grupo que constituía
certa elite política e econômica. Diante deste cenário, o Imperador A primeira Constituição, promulgada no Brasil no ano de 1824, pre-
renunciou o trono em favor de seu filho, no ano de 1831. via a instalação e a criação de Conselhos Gerais em cada Província
do Brasil, com o objetivo de permitir que cidadãos indicados pelo
Imagem 12: Dom Pedro I em sua residência Imperador dessem opiniões em relação a negócios locais, sendo su-
bordinados ao Governo Central. Os Deputados Gerais deveriam ser
homens, com idade mínima de 25 anos e fazer parte da elite local.
A Província de Minas Gerais possuía 21 membros que exerciam a
função de conselheiros do governo Provincial. José Bento esteve
à frente como Deputado Geral nos
mandatos de 1826-1829; 1830-1833
e de 1834, quando, por meio de
eleição e indicação foi nomeado
Senador do Império. Sendo assim,
destacaremos em linhas gerais,
algumas das participações com
projetos de José Bento no Conselho
Geral da Província.

Imagem 13: Anaes da Câmara dos Deputados


Arquivo da Biblioteca Nacional
Acervo da Assembleia Legislativa

42 43
Durante o tempo que atuou como Deputado realizou as seguintes “(...) A execução da lei é o primeiro dever de todos os cidadãos (...).
participações: Cumpre agora aos illustres Senadores e Deputados, que houverem
de retirar-se para as differentes províncias do império, que durante
Tabela 01: Participações de José Bento na Câmara dos Deputados e Conselho o intervallo, que há até a abertura da sessão do anno futuro, medi-
tem sobre o modo de fazer prosperar o império, e fação da sua parte,
Trabalhos 1826 1827 1828 1829 1830 1831 1832 1833 1834 quanto puderem, persuadindo aos povos qual deve ser sua obediência
Discursos --- 19 85 28 42 23 24 07 13 ao governo, mostrando-lhes que, quem obedece ao governo, obedece
Emendas --- 05 11 06 12 --- 04 02 01 à lei, tem segura sua honra, vida e propriedade” 41. Encerrando a sua
Apartes --- 02 04 --- 01 --- --- --- --- fala, Dom Pedro I deu posse aos Deputados Provinciais e Senadores
Pareceres 01 07 05 17 28 02 --- 01 06 daquela legislatura.
Aditamentos --- 01 01 03 02 03 --- 02 ---
Antes mesmo da diplomação oficial, os Deputados já haviam rea-
Nomeações 02 02 03 01 --- --- 01 --- ---
lizado reuniões. A participação de José Bento se concentrou mais, na-
Proposições 01 --- --- --- --- --- --- --- ---
quele ano, nas sessões do mês de agosto. Foi nomeado, logo no início
Resoluções --- 01 02 --- --- --- --- --- ---
daquela legislatura, juntamente com o Deputado Luiz Augusto May,
Requerimentos --- 05 07 09 14 06 02 05 02
para a comissão de estatística e diplomática do Parlamento. Esta co-
Projetos --- 01 01 01 03 --- --- --- ---
missão ficou a cargo, naquele período, de se discutir principalmente
Comunicações --- --- --- --- --- --- --- --- 01
as questões de abertura de uma estrada que interligaria o Porto Real
Indicação --- 03 08 --- --- 01 01 --- ---
(na Província de Goiás) à Província do Pará. Em uma de suas propo-
Relatório --- 01 --- --- --- 01 --- --- ---
sições, para aquele ano, José Bento e outros Deputados ressaltaram
Intervenção --- --- 03 02 09 03 02 --- ---
a importância da criação de Paróquias e Vilas, seguindo um plano de
organização geral civil e eclesiástico. Esta seria uma forma de se orga-
Fonte: Anaes da Câmara dos Deputados, 1826-1834. Acervo da Assembleia Legislativa
nizar ainda mais a vida política e religiosa das regiões, tendo em vista,
que as Vilas e Paróquias não davam conta de atender os povoados,
Como podemos observar a tabela 02, José Bento teve grande parti- devido à distância e as dificuldades das estradas.
cipação na Câmara dos Deputados, representando a Província de Em 1827, na sessão do dia 25 de junho, José Bento indicou que
Minas Gerais e o Partido Liberal. Era um homem culto, fazia muitos se houvesse duas sessões extraordinárias toda semana, de duas horas
discursos e por diversas vezes dava os seus pareceres sobre o que era cada uma, pois “tem-se passado dous mezes quasi dos nossos trabalhos,
discutido nas sessões. e talvez que o estado de complicação dos negócios, que se tem apresen-
A nomeação de José Bento para o Parlamento Brasileiro, como tado á consideração desta camara, tenha sido causa de não se alcançar
Deputado, ocorreu oficialmente na sessão de 06 de setembro de o resultado que nós desejamos. Na sessão passada tratou-se de applicar
1826. Neste dia, ao meio dia, foi anunciada a chegada do Imperador, um meio para conseguir mais alguma vantagem, e nada foi decidido,
que foi recebido pelos parlamentares (Senadores e Deputados) e por lhe faltar a legalidade exigida no regimento, como então se disse.
logo conduzido ao trono. Em discurso, Dom Pedro I assim exortou: Estou persuadido que todos os negócios pela gravidade dos objectos, e

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ponderação que exigem, não podem ser expedidos no curto espaço de quadro religioso da sociedade brasileira. Padres como Diogo Antônio
tempo que estamos reunidos, mas também o estou, que todos os nobres Feijó, José Bento, Custódio Dias e Antônio Maria Moura atuaram no
Deputados, que se achão presentes estão possuídos de ardentes dese- meio político nesse período de tempo. Dentre as questões mais discu-
jos pela felicidade da nação; (apoiado geralmente) é este o princípio, tidas por essa comissão estavam o provimento dos benefícios eclesi-
porque me lembrei fazer nova indicação pedindo duas sessões extraor- ásticos pelo Imperador e ações provindas do Papa, como a criação de
dinárias de duas horas cada uma” 42. A fala do Deputado Ferreira de cabidos, quantidade de sacerdotes e fundação de seminários. Foram
Mello foi pertinente, pois diante de muitos trabalhos na Câmara dos debatidos também a presença de Congregações Religiosas no Brasil e
Deputados, e, debates calorosos, havia pouco tempo para discussões a questão da proibição de frades estrangeiros no país e uma possível
de projetos e votações. reforma clerical, com a permissão do casamento de padres e o fim
Naquele mesmo ano se discutiu também sobre a mineração e dos frades e freiras no Brasil. A Comissão de Negócios Eclesiásticos
agricultura, demonstrando a importância das duas formas de traba- publicou parecer contrário sobre essa questão, mesmo sendo o Padre
lho, porém, exortando a redução do quinto do ouro43à 5%, até mesmo Feijó o mentor dessas ideias.
em compensação “deste grande mal do quinto que há tantos annos pesa Padre Antônio Diogo Feijó, grande defensor da política liberal,
sobre a infeliz província de Minas”44. Outra importante questão, le- ficou marcado no tempo em que exerceu a função de Deputado, por
vantada pela comissão eclesiástica da Câmara, foi o reconhecimento defender a extinção do celibato e pela luta contra a intromissão na
e a confirmação do Arcebispo Metropolitano da Baía como Primaz do Igreja Católica em assuntos que competia ao governo civil, defenden-
Brasil45. Na sessão do dia 08 de novembro de 1827, Padre Feijó, Miguel do que o mesmo governo pudesse interferir em questões referentes
Reinaut, José Clemente Pereira e José Bento, aprovaram a seguinte à anulação de casamentos e a submissão dos tribunais eclesiásticos
resolução: “Artigo único. A Bulla Romanorum Pontificum Vigilantia- as organizações temporais. Seu pensamento político não agradava o
pela qual sua Santidade reconhece os direitos do arcebispo da Bahia Papa e a Igreja Católica na época,
como metropolitano do Brazil, e lhe sujeita os dous bispados do Pará e chegando até mesmo a argumen-
Maranhão, é approvada em toda a sua extenção” 46. Esta confirmação tar sobre a criação de uma Igreja
se estende até os nossos dias, tendo em vista que, a primazia da Igreja Nacional, em que se predominasse
Católica no Brasil está na Arquidiocese de Salvador na Baía. a liberdade individual. José Bento
Na primeira sessão do ano de 1828, realizada no dia 07 de maio, era muito próximo de Feijó, amigo
foram eleitos para formar a Comissão Eclesiástica os Deputados pessoal, mas, existia pensamentos
Diogo Antônio Feijó (59 votos), Miguel José Reinaut (32votos), José convergentes entre eles.
Bento Leite Ferreira de Mello (32 votos), José Clemente Pereira (31
votos) e Antônio da Rocha Franco (24 votos). É interessante observar
que, na formação desta comissão temos presença marcante de dois
padres. Para a historiadora Françoise de Souza, a cultura política bra-
sileira pós-independência buscou relacionar o catolicismo aos ideais Imagem 14: Padre Antônio Diogo Feijó
liberalistas, fazendo assim a junção entre um pensamento político ao Fonte: Biblioteca Digital Luso-Brasileira

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Na legislatura de 1828, José Bento se dedicou em temas como a apli- cia com o Rio Grande, continuando por este abauxo. Art. 2º- A Villa
cação de verbas para a educação primária, estimulando a criação de de Baependi ficará anexa à de Campanha, emquantoa jurisdicção do
grupos escolares, o fim das pensões destinadas à Capela Imperial e Juizo de Fora. Art. 3º- A Freguezia de Itajubá ficará limitada pela
questionamentos referentes aos benefícios eclesiásticos, chegando nova diviza da Província de Minas Geraes, e encorporada na Diocese
a afirmar que os Vigários recebiam certos emolumentos mal e inde- de Marianna. Art. 4º- O Districto da Freguezia de Itajubá na margem
vidamente. Em 09 de maio de 1828, o Deputado Ferreira de Mello esquerda do Sapocahi, e o da Villa de Pindamonhangaba acima da
discursa para toda a Câmara e faz uma indicação sobre o serviço de Serra da Mantiqueira, ficarão pertencendo à Freguezia de São Bento
Correios na Província de Minas Gerais. A Província Mineira “tem de Sapocahi-Mirim. Art. 5º- A Freguezia de Pouso Alegre será erec-
correios estabelecidos que chegão até o Rio Itaguari, bem como S. ta em Villa, cujo districto comprehenderá as Freguezias Douradinho,
Paulo os tem até o fim da Villa de Bragança, ficando um intermédio, Caldas, Camanducaia, Ouro Fino e S. Bento de Sapocahi- Merim. Art.
penso que de 5 légoas, que deixa incommunicável um e outro correio, 6º- Todo o território, que fica pertencendo à Província de S. Paulo,
e se em outro tempo era precisa esta communicação, hoje muito mais fará parte da Comarca de S. Paulo. Art. 7º- O Ouvidor de S. Paulo fará
necessária é pelo estabelecimento do curso jurídico que deve merecer effectiva a creação da Villa de Pouso Alegre com os mesmos Impostos
a approvação da Câmara” 47. Na mesma sessão, no entanto, fez a e Empregos Municipaes, que há nas Villas limitrophes da mesma Co-
seguinte indicação: “(...) que se recommende ao governo que mande marca. Art. 8º- Desde o 1º de janeiro futuro toda a Receita, e Despeza
fazer communicável o correio de S. Paulo com o de Minas Geraes na da Fazenda Nacional, ficará a cargo da Fazenda Nacional de S. Pau-
estrada geral de uma para outra província, que passa pelo registro de lo. –N. P. de C. Vergueiro” 49.
Jaguari na província de Minas, e pela Villa de Bragança da Província Para ser ter uma ideia, a discussão teve início em 06 de junho de
de S. Paulo, pois que havendo correios estabelecidos já até os dous lu- 1828, se estendendo para o dia 30 de junho e 07 de julho. Sobre a ins-
gares indicados, que dista um do outro apenas 5 ou 6 léguas, se acha talação de novas Vilas, “Tudo nos induz a reconhecer a necessidade
cortada aquella communicação, por não chegar um dos correios até de crearmos essas villas; vejão-se as felicitações das províncias, e em
qualquer dos lugares referidos. – O Deputado Ferreira de Mello (Foi todas se verá que nos pedem a creação de villas. A Províncias de Minas
aprovada)” 48. Este projeto de José Bento tinha a intenção de se fa- Geraes, a mais populosa de todo o império, tem poucas villas, e só com
cilitar a circulação de periódicos entre as províncias, chegando aos a creação de mais 16 poderão ficar acomodados os seus povos; e não
seus destinatários de forma eficaz e e com baixos custos. há necessidade de crearem-se essas villas? De S. Paulo há as mesmas
A criação de novas Vilas foi uma das indicações mais discutidas e representações, e devemos não attendera tão bem fundadas suppli-
marcantes na legislatura de José Bento em 1828. Esta discussão vinha cas? Eu não digo que se adopte esta ou aquela base; parece-me que
sendo arrastada desde o ano de 1826, quando, se leu naquela ocasião deverião ser chamados á comissão os Srs. Deputados das províncias,
o seguinte projeto: “Projecto- A Assembléa Geral Legislativa decreta: e conforme as suas informações, se adoptaria uma base; mas o pro-
Art. 1º- A diviza entre as Províncias de Minas Geraes e de S. Paulo jecto deve passar, e voto pelo artigo” 50. Nas Sessões seguintes, José
continuará a ser a serra da Mantiqueira desde os limites da Província Bento reafirmava sobre a necessidade de criação de novas Vilas na
do Rio de Janeiro até onde nasce o braço maior do Rio Sapocahi, e Província de Minas Gerais, pedindo urgência na votação do projeto.
seguirá por este Rio abaixo desde a sua nascença até a sua confluên- Contudo, no ano de 1829 que o assunto tomou força e relevância, em

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consonância com a questão fiscal, de interesse do governo central e talvez transtornão os sentidos de outros, não ambiciono pastas por
das províncias. Neste ano foram criadas nove Vilas em Minas Ge- que não estou felizmente em circumstâncias para isto: ao menos, por
rais51, entre elas, a Vila de Pouso Alegre. ventura minha, conheço-me e não me acho possuído dos desejos que su-
A partir de 1830, o Deputado Ferreira de Mello se pautou so- pponho em alguns, os quaes no tempo do antigo governo ambicionavão
bre a criação das guardas nacionais, para que cuidasse com maior pastas e se lançavão a ellas como um faminto tubarão, ao qual se deite
esmero da segurança do país. Enfrentou, por meio de discursos, um pedaço de baeta vermelha (...)” 53. Este foi o período que José Ben-
um parecer que se referia sobre aqueles que denominavam como to permaneceu como Deputado, deixando aquela casa para assumir o
“empregados inimigos encarniçados do Brasil”, antinacionais, cargo de Senador do Império.
antibrasileiros e anticonstitucionais. Neste sentido, Ferreira de
Mello não aprovou o parecer, mas “(...) requeiro que volte a outra
comissão, para se apresentar uma medida pela qual se consiga o que O Pregoeiro Constitucional e a Constituição de Pouso Alegre
se pretende, afim de sahiremtaes empregados e de serem substituídos
por outros dignos da confiança do Brazil” 52. Este discurso de José Em 1830, o povoado de Pouso Alegre era surpreendido com o sur-
Bento foi muito apoiado e aplaudido. gimento de um veículo de comunicação em forma de periódico. O
José Bento trouxe para a discussão, em 1832, a questão do con- “Pregoeiro Constitucional”, com circulação iniciada no dia 07 de se-
trato matrimonial e a vitaliciedade senatorial. Em seu pensamento, tembro daquele ano, teve um papel importante na difusão das ideias
juntamente com a comissão da qual fazia parte, era necessário que o liberais no Brasil e na região sul mineira. Sendo considerado o sexto
Império Brasileiro possuísse uma lei que regulasse o contrato matri- periódico da Província de Minas Gerais e o primeiro do Sul de Minas,
monial, favorecendo certa harmonia entre as famílias dos nubentes. teve como diretor e proprietário o Padre José Bento. Possuía o for-
Sobre as dispensas matrimoniais, era necessária a igualdade, inde- mato de 20×30 infolio, com quatro página impressas (frente e verso),
pendente da condição financeira ou a classe social a que pertencia. publicando-se duas vezes por semana, sendo às quartas-feiras e aos
No mesmo ano, no dia 28 de setembro, depositou seu voto contra a sábados. Não possuía interesses mercantis, pois ao se ater a todas as
permanência vitalícia da cadeira senatorial. edições publicadas, não se encontra nenhum tipo de propaganda. Es-
Em sua trajetória política como Deputado pela Província de Mi- tampada na primeira página, durante o tempo de sua veiculação, vinha
nas Gerais, percebemos que José Bento defendia os sacerdotes cató- inscrita a seguinte frase: “Outragerest d’unfou, flatter est d’unesclave,
licos, em direitos e deveres, atuando com eloquência, ao lado de Feijó, Il fantbannirl’audace, et non la liberte, La balança a lamain, peserla-
na Câmara dos Deputados. Defendia também com unhas e dentes a verité” 54. O seu primeiro número nos traz os objetivos que nortearão
Província de Minas Gerais, nos debates e discussões acaloradas da este periódico: “Idéas geraes sobre política occuparão um distincto lo-
Câmara dos Deputados. A sua passagem pela Assembleia Geral Legis- gar em a nossa folha, e fazendo por accomodal-as sempre aos interesses
lativa ficou marcada pelos seus ideais defendidos e por sua postura, de nossa Pátria, a prosperidade d’esta será constantemente o objecto de
assim como ele mesmo se definiu, “(...) não tenho sido um empregado nosso cuidado. Transcrevendo os trabalhos da Assembléa Lesgislativa,
público, sou lavrador e como tal independente, não ambiciono adular faremos sentir seu préstimo, observaremos sua conducta, e publican-
o governo, e não supponho mesmo que chegue a ir a esses lugares que do em separado suas Leis explicaremos a disposição d’estas a pról do

50 51
rústico, que a não entender. O Poder Executivo occupará não menos O “Pregoeiro Constitucional” não era apenas um mero desejo do
nossa attenção, e seremos a seu respeito tão pródigos em render-lhe Padre José Bento, e sim, de um grupo político que se instaurava na
todo o louvor, quanto severos em censurar seus passos tortuosos (...) A pequena Vila de Pouso Alegre e na região sul mineira, como nos apon-
administração de nossa Província por suas primeiras Auctoridades, e ta a historiadora Françoise Jean de Oliveira Souza, “a existência d’O
por aquellas, que com nosco estão em mais próxima relação, serão tam- Pregoeiro reflete o anseio dos moradores daquela vila por novos canais
bém objecto de nossa attenção, publicaremos seus actos, faremos sérias de atuação política e o desejo de também participar, ainda que indire-
reflexões sobre sua conducta pública, e imparciaes em nosso juízo fare- tamente, dos debates acerca do decadente governo de Sua Majestade
mos reconhecer faremos conhecer, e sentir o bem, ou mal que nos fize- Imperial” 56. No dia 02 de Abril de 1831, antes mesmo do início da pu-
rem recommendando-as à pública opinião, que é sempre quem pune, ou blicação do periódico, instalou-se na Vila de Pouso Alegre a “Socieda-
premeia com justiça igual. Seremos constantes constantes em observar de Defensora da Liberdade e da Independência Nacional”, contando
igualmente e fazer públicos todos os trabalhos da Câmara Municipal a com 108 sócios denominados “Soldados da Pátria”. Nas palavras de
que pertencemos, e possível for appresentaremos mesmo uma resenha Francisco Freire Alemão, “hum número prodigioso de sociedades po-
de todos elles desde sua installação até o presente (...)” 55. Além destes líticas se bem estabelecidos em differentes partes do Brasil depois da
tópicos, o jornal se propunha a apresentar fatos e anedotas da his- nossa ultima revolução, quasi todas professando princípios de ordem
tória, notícias de interesses públicos, nacionais ou internacionais e e de moderação. Este espírito de associação que parece inspirado pelo
correspondências que fossem enviadas à redação. Como percebemos, instincto da própria conservação he de grande utilidade na crise em que
a proposta do periódico era inteiramente de cunho político, sendo um nos achamos, quando um governo sem o apparato da força material,
veículo dedicado totalmente a assuntos do Partido Liberal. nem privilégio, com que imponha a multidão, he a todo o momento
ameaçado, pela turbulência das facções” 57. A Sociedade, no entanto,
Imagem 15: Primeira Edição do Jornal “Pregoeiro Constitucional” capa e folha final se propunha a lutar pela consolidação da ordem social e política, bus-
cando a institucionalização do Estado Brasileiro. Não temos notícias
de como se deu o funcionamento desta sociedade em Pouso Alegre,
apenas, que, instaurou-se este movimento na pequena Vila.
O periódico foi criado, no entanto, com o principal propósito de se
colocar em pauta as ações governamentais de Dom Pedro I, que muito
vinha sendo criticado por colocar em perigo a sua constitucionalida-
de. Trazia em seu corpo editorial todos os acontecimentos políticos
e disputas que se travavam na Corte, no Rio de Janeiro. A luta pelo
sistema constitucional fez com que José Bento utilizasse o periódico
como forma de combate ao fantasma do absolutismo que assom-
brava o Brasil. É interessante observar que José Bento utilizará de
codinomes ao se direcionar aos cidadãos que estariam ameaçando a
Constituição: “ineptos cidadãos; portugueses; corcundas; absolutistas
Acervo da Biblioteca Nacional

52 53
Imagem 16: Constituição de 1824, redigida por Dom Pedro I
e recolonizadores” 58. A forte conotação pela luta em favor da reforma
da Constituição fez com que o “Pregoeiro Constitucional” assumisse
forte posição contrária ao Imperador Dom Pedro I. Na Edição nº 60,
é expresso claramente: “Logo o que desejão os Brasileiros? Reforma
da Constituição. O que pretendem os Brasileiros? Reforma da Consti-
tuição. De que necessitão os Brasileiros? De reforma da Constituição.
O que póde salvar os Brasileiros da oppressão e aviltamento em que ja-
sem, e dos males, de que sobre elles pesão? Reforma da Constituição” 59.
E assim continua: “(...) porque, quando se diz, que é necessário refor-
mar a Constituição, não se quer diser que ella é toda má; pelo contrário
os mesmos que recommendão a reforma, confessão, que a maior parte
d’ella é óptima, que é n’essa parte, que ella tem feito, faz e fará a ventura
do Brasil (...) no entanto, (...) A reforma, pois deve recahir sobre uma
pequena parte do systhema” 60. José Bento, ainda, alertou por meio
das página do periódico sobre um suposto grupo denominado de
Gabinete Secreto (ou também Club do Inferno), pessoas íntimas do
Imperador, que tinham em mente restaurar o absolutismo, ou seja, o Acervo da Biblioteca Nacional
poder concentrado apenas nas mãos de Dom Pedro I: “(...) o Gabinete
Secreto, e o Governo da Boa Vista continuão em suas manobras; se os Outra proposta tratada nas páginas do jornal em relação às reformas
periódicos perderem de vista estes dois inimigos da Liberdade, adeos constitucionais é uma possível implantação de um modelo federativo.
Liberdade” 61, pois o objetivo deste grupo era de “(...) com o fim de faser José Bento, antes mesmo da abdicação de Dom Pedro I, tratava com
retrogradar a causa liberal, a causa da pátria, a causa da América” 62, veemência sobre este tema, o que gerou dúvidas no emprego desta
conceder-se o poder absoluto ao Imperador. palavra aos assinantes do periódico. Um deles, em correspondência,
Dentre as reformas claramente defendidas63 referem-se ao Poder pede esclarecimentos, pois em cada periódico se tratava de um certo
Legislativo da época e como são dimensionadas as sanções do Im- modo. Em carta se expressa: “(...) fallemos com franqueza, V. M. e os
perador. Sobressaia também o desejo de se alterar pontos em que se Redactores das outras folhas Federalistas querem uma República no
referem as atribuições do governante, ou seja, as de exercer o Poder Brasil; mas eu penso, que tal espécie de governo não convém ainda. Se
Executivo e Moderador. O sentido dessas reformas se mostrava cla- não é República o que V.Mces querem, se é antes a mesma Constituição
ramente liberal, no sentido que, se diminuísse a força que se conso- reformada, e se esta reforma é vantajosa ao nosso Brasil, porque rasão
lidava no Poder Executivo e Moderador, até mesmo demonstrando o os outros Periódicos Liberaes, que desejão igualmente o bem do Brasil,
desejo de se extinguir, a ampliar o poder legislativo, ou seja, a Sobera- não subscrevem a mesma doutrina, antes a rebatem?” 64. José Bento
nia Nacional em face à Soberania Monárquica. respondeu a correspondência da seguinte forma: “(...) Confederação

54 55
ou como quiserem, systhema Federativo nada mais é do que uma socie- religião era a favor da vida e o sistema escravocrata era contrário à
dade de muitos Estados, reunidos para a segurança do bem commum. religião, José Bento se manifesta, a partir de uma citação de Bonni
É da essência d’esta sociedade, que os Estados, que a formão conservem (Doctrine Sociale), sobre o direito de propriedade, como “(...) uma
cada um a sua Soberania; alias não passarião de uma sociedade Políti- faculdade que compete a todo cidadão de gosar, e dispor à sua vontade,
ca como aquella que se forma entre os habitantes de qualquer paiz. Em e do modo, que lhe agrada, de seus bens, de suas rendas, e do resultado
consequência de se conservarem soberanos, elles ficão independentes, de seu trabalho, e indústria. A propriedade é um direito sagrado, e in-
e como taes Srs. de se governarem cada um da maneira que quiserem; violável” 67. Contudo, no decorrer das páginas do jornal, torna-se clara
ainda que para mais estreitar-se a Federação seria conveniente, que a pouca explanação sobre esta temática.
todos adoptassem uma só forma de governo, sem que com isto se des- As questões eclesiásticas também foram abordadas nas páginas
truísse a Soberania de cada um. O modo de se constituírem os Estados do Pregoeiro. Para José Bento, e também no pensamento de outros
em uma sociedade Federativa é o mesmo, que se observa na organisação periódicos livres que circulavam no império, os Sacerdotes deve-
de um só Estado. Reunem-se as forças, e vontades, cujo complexo vem a riam, por meio de seus discursos, difundir o pensamento das luzes
ser a Soberania geral dos Estados. Forma-se a Lei, ou Pacto Fundamen- e consequentemente liberais. Pela influência que possuíam, “(...)
tal, onde se marca o modo porque os Estados devem ser governados” 65. Nós fallamos dos pastores Ecclesiásticos, cuja cooperação muito aju-
Temos aqui uma visão de autonomia dos Estados, modelos que não daria a disseminação das luses. (...) convém pois que os ministros da
haviam consenso estre os próprios liberais. Igreja dês-dos prelados até os parochos se approveitem do poderoso
A visão de José Bento sobre o sistema Federalista se completava ascendente, que ainda exercem sobre suas ovelhas, principalmente
com a proposta de democracia, do modo que, cada Província poderia aquellas, que se achão mais apartadas da gente instruída, inspiran-
ter a sua autonomia. Cada uma delas cuidaria de seus próprios inte- do-lhes amor às novas instituições mais pelo exemplo, do que por
resses, sem depender de um corpo que legislasse, ou de um governo palavras (...)68. Na época, o obstáculo que encontravam em disse-
distante, com dificuldades de ter acesso a elas. A justificativa maior minar esses ideias partiam dos prelados, bispos69 que utilizavam do
seria a grande extensão do território brasileiro e as particularidades “abuso igualmente prejudicial ao Estado, e à Religião” 70, assumindo
de cada região, o que se tornaria inviável as ordens expressas de um uma posição mais conservadora, dos bons costumes, da política e da
Imperador que, talvez, não conhecesse o cotidiano local. O Sistema fé católica. Sendo denominado de “inimigos da perfeição social”, o
Federativo também de unir as Províncias, onde uma Província socor- apelo se voltava para os párocos e sacerdotes para que “não esperão
reria a outra, de acordo com suas necessidades, sendo que “(...) essa o exemplo dos prelados para cumprirem os deveres, que lhes impõe o
palavra tão doce = FEDERAÇÃO= ella não offerece mais que a idéa de seu cargo; a elles é que rogamos em nome da sociedade (...) que não se
união e fraternidade entre os Brasileiros, para repellir os embates do esqueção de empregar todos a seu alcance para inspirar nos corações
poder e firmar a segurança da Províncias” 66, sendo a expressão da ne- de seus fregueses o amor à liberdade, a obediência razoável, e todos
cessidade de algumas das reformas que deveriam acontecer, ou seja, os sentimentos do homem livre; então veremos a civilisação brilhar
a salvação do Brasil. em toda a parte (...)” 71. Com esse desfecho, José Bento instrui à sua
Dentre as outras temáticas tratadas no “Pregoeiro Constitucio- classe, o clero, para orientar os fiéis ao pensamento que se instaura-
nal” estava a questão da escravidão. Mesmo tendo em mente que a va naquele momento.

56 57
O Pregoeiro Constitucional teve sua última publicação em um sábado, Imagem 17: Alguns títulos de periódicos Liberais publicados no Brasil

dia 04 de junho de 1830, com a edição de número 72. Nela, José Bento
ressalta a importância do dia 07 de abril72. Ressalta ainda o amor à
liberdade e à nação brasileira. Não faz menção de encerramento ou
despedida, o que nos leva a pensar que José Bento deveria se fazer
mais presente na sede do Império, após a abdicação de Dom Pedro I,
para garantir seus projetos e pensamento político.
Após o dia 07 de abril de 1831, os ideias políticos vencedores
foram os dos Liberais Moderados, e, entre os seus adeptos haviam
partidários oriundos de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo,
tendo presença significativa de alguns padres e pessoas graduadas
em Coimbra. O período subsequente ao encerramento das ativida-
des do Pregoeiro Constitucional deixaram marcas na história do
Brasil. É preciso antes fazer algumas considerações. Mesmo antes
da abdicação de Dom Pedro I, os liberais se dividiam por correntes
de pensamento. Existiam duas linhas políticas entre eles: os Libe-
rais exaltados (ou radicais) que defendiam um modelo político
mais crítico à Monarquia, defendendo abertamente a sua abolição
e a instituição da República, sendo representado por Antônio Bor-
ges da Fonseca73, Francisco das Chagas de Oliveira França e Luís
Augusto May74. Os Liberais Moderados, pessoas que defendiam
Fonte: Biblioteca Nacional
a conservação da monarquia centralizada, embora que em seu en-
tendimento o Poder Legislativo deveria ter um peso maior na vida
política do Império Brasileiro, por estar representando a vontade O projeto de Constituição conhecido como “Constituição de Pouso
da maioria. Deste grupo, destacam-se como representantes o jorna- Alegre” teve sua idealização no chamado Golpe de 30 de julho de
lista Evaristo da Veiga75, João Clemente Vieira Souto76, Bernardo de 1832. Com os trabalhos parlamentares iniciados neste mesmo ano, os
Vasconcellos77 e José Bento Leite Ferreira de Mello78. debates seguiam em torno da reforma constitucional aprovada pela
Câmara dos Deputados. Os Senadores Nicolau Vergueiro e José Iná-
cio Borges compunham o grupo minoritário que apoiava o projeto.
Vergueiro afirmava que a Constituição de 1824 havia sido publicada
e recebida “como uma capitulação depois de uma derrota” 79 sendo ne-
cessária uma revisão para reformulá-la com os ideais liberais. O Sena-
dor Borges, após um discurso de comparação com algumas regiões da

58 59
Europa, afirmava com tamanha clareza que “o systhema unitário não Segundo Otávio Tarqüínio de Sousa, a chamada Constituição de Pou-
pode prevalecer no Brasil” 80, aludindo a maior autonomia às Provín- so Alegre “era a mesma carta de 1824 refundida, corrigida, reformada
cias, batendo no peito e se dirigindo ao Presidente do Senado “são as em determinados pontos” 87. Tal qual o projeto aprovado pela Câmara
reformas que podem nos salvar” 81. dos Deputados, o projeto de constituição elaborado pelos conspira-
A maioria dos Senadores se opunham à estas reformas, como dores trazia diversas reformas, entre elas estavam focadas a questão
João Evangelista, em discurso, afirmou que “o gabado systema de dos poderes , a instituição da regência una, a criação de Assembleias
Federação” 82 tinha provocado guerras civis nos países hispano-a- Provinciais e a extinção do Poder Moderador, do Conselho de Estado
mericanos. Contudo, se a Constituição de 1824 não fosse preserva- e do Senado vitalício:
da, o Brasil estaria seriamente ameaçado: “(...) só podemos ser salvos
da maior tormenta revolucionária, senos abraçarmos com a sagrada
âncora da nossa Constituição” 83. As reformas que estavam sendo
Título III- Dos poderes e representação nacional
discutidas aferiam diretamente a interesses de muitos políticos,
como a extinção do mandato vitalício senatorial. Via-se claramente Art. 10- Os poderes políticos reconhecidos pela constituição
que o Senado se mostrava contrário ao projeto de reforma constitu- do Império são três: o poder legislativo, o poder executivo,
cional sugerido pela Câmara dos Deputados e além disso manteve e o poder judicial.
na condição de tutor de Pedro de Alcântara (ainda menor de idade)
Art. 11- Os representantes da Nação Brasileira são
José Bonifácio de Andrada e Silva, pessoa esta suspeita de ser aliada
o Imperador e a Assembléa Geral.
ao grupo de pessoas que queriam restabelecer o reinado de Dom
(...)
Pedro I. A impressão que permaneceu naquele embate era de que os
restauradores estariam à frente exercendo grande influência.
Título IV- Dos ramos do poder legislativo, e suas atribuições
Temendo tudo isso, alguns políticos liberais moderados, sentin-
(...)
do-se acuados, planejaram um golpe parlamentar com o objetivo de
Capítulo III
impor uma reforma constitucional mesmo que o corpo senatorial não
Do Senado
concordasse. A chamada Revolução dos Padres. A reunião aconteceu na
residência do Deputado José Custódio Dias84, conhecida como Cháca- Art. 40- O senado é composto de membros temporários subs-
ra da Floresta. Os liberais moderados, reunidos em tal chácara, deci- tituídos cada dousannos pela terceira parte; tendo lugar a primeira
diram que os regentes85 pediriam demissão de seus cargos e a Câmara substituição, dousannos depois da primeira reunião, e tirado por sorte
dos Deputados se tornaria uma Assembleia Constituinte. Em sessão o numero, que deve ser substituído nas duas primeiras substituições.
extraordinária, em meio aos debates e discussões, seria aprovada e
Capítulo V- Das AssembléasProvinciaes
aclamada uma nova Constituição. Esta Constituição ficou conhecida
como “Constituição de Pouso Alegre”86, elaborada pelos conspiradores Art. 69- A Constituição reconhece, e garante o direito de intervir
e impressa na Tipografia do Pregoeiro Constitucional, na Vila de Pouso a todo o cidadão nos negócios de sua província, e que são immediata-
Alegre, pelo Deputado Padre José Bento. mente relativos a seus interesses peculiares.

60 61
Art. 70- Este direito será exercitado pela câmaras dos município, e Imagem 19: Constituição de Pouso Alegre
pela Assembléa Provincial, que se deve estabelecer em cada Provín-
cia, inda mesmo naquella em que estiver a capital do Império.
(...)
Do Regente na minoridade ou impedimento do Imperador
Art. 118- O Imperador é menor até a idade de dezoito
annos completos.

Art. 119- Durante a sua minoridade, o Império será governado por


uma regência, a qual pertencerá ao parente mais chegado do Impera-
dor segundo a successão: e que seja maior de vinte e cinco annos.

Art. 120- Se o Imperador não tiver parente algum que reuna estas
qualidades, será o Império governado por um regente, nomeado a
cada quatro annos pela assembléa geral. (...)88

Imagem 18: Antiga Chácara da Fazenda, Morro do Castelo Rio de Janeiro

Fonte: Escriptos Históricos e Literários

Tendo em mãos a cópia impressa da proposta de uma nova Consti-


tuição, os liberais reunidos na chácara discutiram e se deram por
satisfeitos. Aprovar esse documento seria uma forma de apressar a
aprovação de um novo conjunto de leis já desejado pela maioria dos
parlamentares denominados moderados. No dia 30 de julho de 1832,
em uma segunda feira, os chamados “conspiradores da constitui-
ção” colocaram em prática o plano traçado na reunião que tiveram.
Em reunião da Câmara dos Deputados foi lido um ofício em que se
mencionava o pedido de renúncia dos três regentes que exerciam o
cargo, e para isso, foi nomeada uma comissão ad hoc para tratar do
Fonte: http://historiasemonumentos.blogspot.c assunto. Com o parecer em mãos, a comissão propôs que a Câmara

62 63
dos Deputados se tornasse uma “Assembléa Nacional” (Assembleia Neste sentido, a Câmara, em diversas sessões, acirrava os debates.
Constituinte). Percebemos que a estratégia traçada pelos padres reu- Houve receio nesta época de que por meio das ideias dos liberais
nidos na Chácara da Floresta estava sendo executada. exaltados ou até mesmo dos restauradores, pudesse se originar no-
Contudo, os Deputados desconfiados e questionadores iniciaram vas revoltas armadas no Império. O Deputado José Bento, em um de
uma discussão que colocou fim nos planos do projeto de Constitui- seus discursos, chamava a atenção sobre esse fato, de que o Brasil
ção. A transformação da Câmara dos Deputados em uma Assembleia poderia ser envolto pelas “voragens da anarchia” 91ou até mesmo
Constituinte seria de certa forma grande ousadia. Percebemos aqui estar sob os auspícios de um “spectro de ferro da restauração” 92. Ao
que, mesmo entre os liberais, não estava havendo consenso e tão me- continuar o discurso, José Bento se dirige ao Presidente da Câmara
nos com os Deputados. O que acontecia naquela reunião assemelha- em tom de preocupação, “Diz-se que não há perigo, Sr. Presidente,
va-se a revolucionários, exaltados, porém estranho aos moderados. para algumas pessoas é só perigo o imminente, não olhão para as cir-
O Deputado Honório Hermeto Carneiro Leão defendeu com entu- cumstancias que nos rodeão. Eu não me posso capacitar de que não
siasmo a Constituição de 1824, trazendo certo desconforto e de certa haja perigo. Receio muito a repetição das scenas de 17 de Abril, em
forma manipulando aqueles que já estavam dispostos a aclamar a que um Partido Restaurador, de homens fidagaes inimigos do Brazil
denominada “Constituição de Pouso Alegre”. A única tábua da salva- apparecerão armados em campo para destruírem as nossas liberda-
ção, a que Hermeto Leão se dirigiu, é a Constituição de 1824, e em seu des. Homens que forão então apanhados com as armas na mão, e que
discurso se dirigiu a seus pares da seguinte forma: “Senhores, faça-se hoje andam passeando entre nós, rindo e zombando dos brazileiros” 93.
tudo o que exige o bem da nação, mas pelos meios legaes. Tudo se póde Essas discordâncias permaneceram por algum tempo. Os liberais
obter sem ferir a legalidade, sem que sejamos arrastados aos meios que moderados também passaram a não falar a mesma voz. Havia aque-
temos aqui reprovado constantemente” 89. A tentativa de se aprovar a les que apoiavam o Padre Feijó, aceitando a promover uma reforma
chamada “Constituição de Pouso Alegre” apenas deixou mais clara política de descentralização do Império, no intuito de conciliação
a situação política daqueleperíodo, criando ainda mais indiferenças com os exaltados e isolamentos dos restauradores. Outros não con-
entre o grupo dos moderados e o dos restauradores, este último, ain- cordavam com essa aproximação, o que fez com que essas divisões
da manifestavam o desejo da volta de Dom Pedro I. se tornassem cada vez mais latentes.
Em discurso, o Deputado Francisco de Paula Araújo assim se Contudo, a vã tentativa de se aprovar por aclamação a Consti-
expressou: “desenganem-se os inimigos do Brazil, o systemamonarchi- tuição de Pouso Alegre provocou questionamentos, mudanças de
co-constitucional ha de ser sustentado, emquanto houver um coração opiniões e transformações em diversos aspectos no governo. Mesmo
brazileiro, o desposta que por tanto tempo manchou o throno do Brazil, não tendo aprovação, foi apenas uma Carta Simbólica, representando
não ha de mais presidir os destinos na patria, o throno do Sr. D. Pedro II, apenas uma queda das forças dos Liberais, mas nem por isso deu vi-
que tem por base os corações e o amor de todos os brasileiros, não ha de tória aos Restauradores, pois um Ato Adicional reformou a estrutura
ser usurpado, e a marcha da liberdade e da constituição não ha de retro- da Constituição Imperial e os enfraqueceram. Sobre a “Constituição
gradar entre nós” 90. Os Liberais moderados, no entanto, não aceitavam de Pouso Alegre”, afirma-nos o Barão Homem de Mello: A constitui-
a volta de Dom Pedro I, e incomodados com o tom de voz dos restaura- ção nesta occasião redigida, para ser votada na sessão de 30 de julho, é
dores, proferiram sua resposta por meio deste discurso. um documentos histórico de grande valor, por ser como uma profissão

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de fé política desse tempo: ahi estão exarados os princípios e as ideas Este documento nos traz uma análise do perfil populacional do início
do partido Moderado, que esteve senhor dos destinos do Brasil desde da década de 1830. Da população total temos os seguintes dados: a po-
7 de abril até 1835” 94. Ainda faz referência ao ano de 1832 como o pulação não escrava era de 75%, ou seja, 56% eram os denominados
ano de impressão na Vila de Pouso Alegre, “Constituição Política do brancos (15.748), 16% os pardos (4.398) e 3% os chamados na época
Império do Brasil. Reformada segundo os votos e necessidades da na- de pretos (726). Os escravos totalizavam 25%, sendo 3% pardos (833)
ção. Pouso Alegre: Imprensa do Pregoeiro Constituicional. 1832” 95. O e 22% pretos (22%). Os maiores núcleos populacionais se encontra-
Barão Homem de Mello possuía uma cópia que lhe foi oferecida pelo vam na Vila de Pouso Alegre, nos distritos de Caldas, Camandocaia e
Conselheiro Ernesto Ferreira França, o qual recebeu das mãos de São José das Formigas. Pouso Alegre e região se destacavam na pecu-
José Bento, seu colega de Câmara dos Deputados, e que foi guardada ária e principalmente na agricultura, o que constituiu a Vila em um
e republicada. importante centro de abastecimento da região. José Bento introdu-
A Vila de Pouso Alegre nesta época contava com dez distritos e ziu algumas plantas exóticas e árvores frutíferas, como o cinamomo96
sua população era de 27.984 habitantes. A tabela populacional nos e o cedro do Líbano, que ornamentavam as ruas da Vila. Nesta mesma
traz estas informações: época há o início da apicultura e o cultivo do chá da Índia, como as
“(...) consideráveis plantações, na Fazenda- Grande, onde foi plantado
Tabela 02: Mapa da população da Vila de Pouso Alegre, 1833 o maior casal de que se há notícia em Pouso Alegre” 97desenvolvendo a
pequena indústria rural.
DISTRITO BRANCOS PARDOS PRETOS TOTAL No início desta década, em substituição ao periódico “O Prego-
Capivary (Extrema) 708 183 225 1.116 eiro Constitucional”, foi fundado o Jornal “O Recopilador Mineiro”.
Cambohy 1.547 277 680 2.504
Sendo o segundo órgão de comunicação da Vila de Pouso Alegre,
teve como início de publicação a data de 06 de fevereiro de 1833 e
Santa Ritta 1.302 212 208 1.722
o encerramento no ano de 1837. Foram publicadas 373 edições, de
Camandocaia 1.805 659 736 3.200
tamanho e dimensões semelhantes ao do Pregoeiro Constitucional.
Bom Retiro
(Bom Repouso)
353 15 145 513 Era impresso em duas colunas, duas vezes por semana, às quartas-
Antas (Bueno Brandão) 820 380 187 1.387
-feiras e aos sábados, na Tipografia do Pregoeiro, na antiga “Rua Di-
reita” (atual Rua Adolfo Olinto). Era redigido por Modesto Antônio
Ouro Fino 1.719 998 711 3.428
Mayer98, com o auxílio do Cônego João Dias de Quadros Aranha e
Caldas 2.024 881 1.260 4.165
coordenados pelo Padre José Bento. Até o ano de 1835, o periódico
S. José das Formigas
(Paraisópolis)
1.801 517 814 3.132 era transcrito e vendido na casa do Sr. Francisco de Penna Pereira e
Pouso Alegre Mello, quando se transferiu na edição nº217 de 04 de abril de 1835
3.669 1.143 2.005 6.817
(Vila-Sede) para a casa de Modesto Antônio Mayer na Rua de Santa Rita, nº2. A
TOTAL 27.984 edição nº339 do ano de 1836 trazia que o jornal era subscrito e ven-
dido na casa do mesmo Modesto, porém em novo endereço, na Rua
Fonte: Arquivo Público Mineiro da Prata nº19. Trazia na primeira página de cada edição a seguinte

66 67
frase: “Consentir que a perfídia, a traição, e o despotismo offendão a Nos meses em que se iniciou a sua publicação, ocorreu um dos fatos que
Liberdade, é um crime” 99, de cunho liberal. deixaram marcas na Província de Minas Gerais e consequentemente
a Vila de Pouso Alegre. A Sedição Militar de 22 de março de 1833, um
Imagem 20: Edição de O Recopilador Mineiro, 1833 conflito de cunho regencial, ocorrido na cidade de Ouro Preto/MG.

A Sedição Militar de 1833 ou “Revolta do ano da fumaça”

O ano de 1833 teve seu início com um acontecimento que marcou a


vida da Província de Minas Gerais, tal qual a da Vila de Pouso Alegre.
Tal acontecimento abalou a rotina da região mineira, e também nas
terras manduanas, por ser uma das mais fortes representantes do
Partido Liberal no Sul de Minas. Segundo Amadeu de Queiroz, “a
ideia fixa dos nossos liberais era um combate sem tréguas aos restau-
radores, os caramurus, por meio da imprensa e das câmaras muni-
cipais” 100. Torna-se importante entendermos o contexto histórico
desta revolta.
Façamos o retorno para o ano de 1832, mais precisamente, no dia 01
de dezembro daquele ano. Era um sábado, e, ao iniciar os trabalhos do
Conselho Geral da Província de Minas Gerais, o presidente Manuel Ig-
nácio de Melo e Souza101, por meio de um discurso, apresentou a todos os
presentes a situação em que se encontrava a Província Mineira. Diante
da incumbência confiada, Melo e Souza profere: “Sinto o mais vivo pra-
zer em anunciar-vos, Srs., que a Provincia se tem conservado tranquilla, e
que nada tem sido capaz de abalar a firmeza do caracter dos Mineiros”102.
Fonte: Biblioteca Nacional E assim completou: “Nenhuma das facções, que tem perturbado a paz
pública, e feito derramar o sangue Brasileiro em outros pontos do Impé-
Não tendo a mesma importância política que o “Pregoeiro Constitu- rio, pôde ainda vingar no Sollo Mineiro; e eu confio na sisudez dos seus
cional”, na luta e nos discursos liberais, o “Recopilador Mineiro” se habitantes, e do seu respeito às Leis, que sempre assim se conservarão, à
caracterizou mais pelo cunho comercial, transcrições de textos ou despeito de pequenos movimentos, que possão ter lugar n’uma, ou n’ou-
artigos publicados em outros periódicos nacionais, com poucas opi- tra parte, mais por motivos, e interesses particulares, do que por objectos
niões políticas expressas. Além de artigos relacionados à produção e puramente políticos; e quando por desgraça occorrão, o Governo apoiado
cultivo da erva mate, suas páginas foram dedicadas por um período na maioria sente-se com força para sufocar, e destruir” 103. Contudo, a si-
aos ensinamentos agropecuários que prevaleciam na época. tuação no Brasil era completamente diferente.

68 69
Após a abdicação de Dom Pedro I, em 1831, diversas cidades e regiões população dessem início à Sedição Militar de Ouro Preto ou “Revolta
do Brasil entraram em conflito, demonstrando assim as diversas for- do ano da fumaça105”. É interessante observar com minúcias os rela-
mas de pensar, os diferentes interesses e visões políticas existentes tos referentes ao momento que se instaurou.
na época, frente à necessidade ou não de se reformar a Constituição Neste ano de 1833, quem estava à frente da Província de Minas
de 1824. Uma tentativa de golpe ao Senado foi arquitetada, liderada Gerais como Presidente era o Sr. Manoel Ignácio de Mello e Souza.
pelos Deputados Diego Antônio Feijó, José Bento Ferreira de Mello Diante de tantos afazeres e por motivos particulares, precisou se
e José Custódio Dias, que, em comunhão com a regência, preten- retirar para a cidade de Mariana, pretendendo regressar no mesmo
diam aprovar reformas constitucionais, transformando a Câmara de dia à sede do Governo, por isso, nem se preocupou em passar o cargo
Deputados em Assembleia Nacional Constituinte, mas como vimos ao seu Vice-Presidente Bernardo Vasconcellos. Neste mesmo dia,
anteriormente, não houve sucesso. Diante desses acontecimentos, o ao anoitecer, Vasconcellos se dirige ao Palácio de Ouro Preto para
debate de ideias aumentava, questões como a legitimidade da Regên- uma visita ao Deputado José Bento, que naquele dia se hospedava
cia e queda do governo, foram altamente levantadas. nas dependências do Presidente Provincial. Em um instante, o Vice
Em Minas Gerais, era evidente o clima de tensão na passagem de Presidente foi avisado que naquela mesma noite a tropa militar de
1831 para 1832. Teve-se notícia de um movimento liderado por alguns primeira linha, que fazia a guarda cidade de Ouro Preto se levanta-
revoltosos, com a presença de aproximadamente 50 pessoas com ar- ria em protestos e revoltas, e que seria despertada por um tiro dado
mas em punho, espadas e facas, no Arraial de Santa Rita do Turvo, no diretamente do quartel.
termo de Mariana, bradando gritos de “Viva Dom Pedro I” pedindo De imediato, Bernardo de Voasconcellos assumiu a Presidên-
assim o retorno do Imperador104. Nos primeiros meses do ano de 1832, cia, no intuito de segurar as rédeas e dissipar o movimento que se
o Conselho Geral da Província, em meio as suas discussões, procurou levantava. Contudo não houve tempo. O tiro prometido ecoou em
garantir a tranquilidade e o bem estar dos mineiros. Fizeram-se bem toda cidade vindo do quartel. Os presos foram soltos pelos revolto-
claros que eram contra a qualquer tentativa que rompesse a ordem sos que marchavam pela cidade, e, em seguida, foram ocupando os
nacional, procurando manter certo equilíbrio entre os mineiros, pas- espaços de Ouro Preto. Um dos comandantes da tropa militar, José
sando aquele ano sem qualquer revolta que tencionasse a Província. Alexandrino, na tentativa de acalmar os sediciosos, foi preso pelos
Em Pouso Alegre, a Câmara Municipal, que possuía número maior de populares que encabeçavam a sedição. O Vice Presidente ordenou a
partidários liberais, preparava-se os ânimos e até para uma possível Manoel Soares do Couto, tenente coronel da Guarda Nacional, que
luta armada, mantendo a população alerta em relação aos Caramurus formasse o seu corpo de segurança para garantir o governo e a or-
e suas manobras para restaurar Pedro I. dem, o que foi recusado.
Com o alvorecer do ano de 1833, percebeu-se certa tensão que já Os membros do Conselho do Governo foram convocados com
se estabelecia dentro do governo mineiro. As eleições que iriam acon- urgência, porém a tropa dos revoltosos impediu que acontecesse
tecer naquele ano e a vitória de eleitores identificados com a Presi- qualquer tipo de reunião. O Ouvidor da Comarca de Ouro Preto, na in-
dência da Província e com a Regência fizeram com que os ânimos se tenção de pacificar os ânimos dos sediciosos, saiu à praça para tentar
exaltassem. Discussões, manifestações, desconfianças fizeram com estabelecer um diálogo. Contudo, em tom de nervosismo, imediata-
que na noite de 22 de março de 1833, alguns militares com apoio da mente retornou ao palácio com uma espécie de ultimatum feito pelos

70 71
revoltosos: deposição do Presidente da Província Manoel Ignácio; a O Tenente Coronel Soares do Couto se auto declarou o chefe da
demissão e prisão do vice- presidente Bernardo Pereira de Vascon- presidência da Província Mineira, apresentando-se imediatamente
cellos e a prisão do então conselheiro do Governo Padre José Bento perante a tropa, ouvindo-lhes e atendendo as exigências que faziam.
Leite Ferreira de Mello. A não aceitação do ultimato fez com que os No dia seguinte tomou posse, prestou juramento perante à Câmara
ânimos dos revoltosos se exaltassem, e em tom de fúria, ouviam-se e assistiu à solenidade do “Te Deum”. Terminado os compromis-
gritos de ameaças contra o governo e os membros do Conselho, prin- sos, cumpriu o que os sediciosos cobravam: a prisão e deportação
cipalmente Vasconcellos e José Bento. As tentativas do Ouvidor da de Bernardo de Vasconcellos e de José Bento, ambos, sendo entre-
Comarca se repetiram, porém, não foram aceitas pelos sediciosos. gues ao comandante Toledo Ribas. No dia 23 de março, o palácio do
Contudo, o movimento da sedição aclamou como vice-presidente da governo foi invadido por um grupo dos sediciosos, que prenderam
Província o Tenente Coronel Manoel Soares do Couto, que também Vasconcellos e José Bento, os conduzindo em escolta para a casa do
era membro do Conselho do Governo. Coronel Toledo Ribas e de lá para a cidade de Queluz/RJ. Mesmo
sob o novo governo instaurado pelos revoltosos, a situação conflitu-
Imagem 21: Bernardo Pereira de Vasconcellos osa e de pânico se instaurava naquela cidade. Casas eram invadidas
por agentes e partidários do governo, e aqueles que eram contra,
tiveram que se retirar da cidade.
Ao chegar na cidade de Queluz, Bernardo e José Bento foram
bem acolhidos, com manifestações de solidariedade e carinho. A
escolta por bem resolveu deixa-los naquela cidade e retornar para
Ouro Preto. Ao se dirigir para Barbacena, Bernardo de Vascon-
cellos recebeu um ofício da Câmara Municipal de São João Del Rei,
pedindo o seu retorno, para que se estabelecesse naquela cidade,
permanecendo sob a guarda, o Governo Provincial até o retorno do
Presidente legítimo Mello e Souza. Acolhendo esta iniciativa, no dia
05 de abril, Bernardo de Vasconcellos restaurou o governo legal, em
São João Del Rei, e ao se dirigir aos mineiros, comunicou todos os
acontecimentos e pediu a defesa ao governo legítimo. Em perspicaz
prontidão, a Província de Minas se armou. Quase todas as Comar-
cas, Chefes da Guarda Nacional, autoridades, políticos e população
em geral atenderam os clamores do Vice-Presidente, e em favor da
legalidade, formaram forças para defendê-la.
O Governo Regencial condenou a sedição que foi realizada. Neste
sentido, emitia ordens para que os sediciosos obedecessem as leis e
as autoridades competentes. Em nome do governo Imperial, o Sena-
Acervo da Biblioteca Nacional

72 73
dor Honório Hermeto enviou uma carta ao Presidente da Província das famílias mais notáveis da Província, comerciantes, lavradores e
Manoel Ignácio: “Ilustríssimo Sr.- Tendo chegado ao conhecimento da industriais caminhavam com armas a punho em direção à capital.
Regência em Nome do Imperador o Senhor D. Pedro 2º o officio que Nos últimos dias do mês de abril, seguindo as estratégias estabeleci-
Vossa Excelência dirigio ao Conselheiro do Governo dessa Província das, dirigiram-se parte dos homens para Caeté e outra parte em gran-
Manoel Soares do Couto, declarando-se coacto e que não exerceria a de número para Ouro Preto. A revolta se travou nas regiões de Santa
jurisdicção que lhe foi conferida em consequência da Sedição Mili- Rita e da Boa Vista, contudo, no dia 09 de maio, no distrito da capital,
tar, que teve lugar na Capital dessa Província, e pela qual foi Vossa instaurou-se o combate de José Corrêa. Muitas pessoas morreram,
Excelência declarado suspenso do exercício de Presidente, não pode a mas a vitória esteve nas mãos dos legalistas, mesmo os revoltosos
mesma Regência deixar de estranhar, que Vossa Excelência a título de possuindo melhores armas, munições e articulação107.
não querer que por seo respeito se derramasse huma só gota de sangue Na manhã do dia 23 de maio de 1833, o exército vitorioso, sob o
Brasileiro deixasse de recorrer aos meios que as leis offerecessem para comando do General Pinto Peixoto, adentrou Ouro Preto desfilando e
fazer punir os sediciosos, e reassumir a sua autoridade tão atrozmente aclamando a vitória. Nesse dia, na Província de Minas Gerais, foi res-
menoscabada deixando assim de annuir aos votos geralmente expres- taurada, a Lei e a Ordem. Foi publicada e lida a seguinte Proclamação:
sados por toda a Província de não reconhecer jamais qualquer governo “Proclamaça’o- Ouro-Preto na Tipografia do Universal, 23 de
illegal, e não attendendo a que se porventura fosse necessário para o maio de 1833. Bravos Guardas Nacionaes Mineiros. Chegasteis ao
restabelecimento da autoridade de Vossa Excelência, o emprego da fim á que vos propozesteis: vossa perseverança, vossa prudencia, e
força, as desgraças que de huma tal medida se podessem seguir não vosso valor voz fizerão ganhar o lugar, que ocupaes. Sim, BRIOZOS
se poderião reputar como sacrifício feito pela pessoa de Vossa Exce- CIDADÃOS, sustentáculos das Liberdades Nacionaes, não coube
lência mais sim pela manutenção das Leis, e da Constituição, Manda em vossos nobres peitos ver com indiferença a Capital da Provincia
recommendar a Vossa Excelência que em conformidade do que se lhe invadida por ephemeras, e burlescas authoridades, filhas do crime e
communicou em aviso datado de hontem, procure por todos os meios de ebrios conventiculos: vos ouvisteis gemer a Constituição, caleada
legaes ao seo alcance reassumir a Presidência da Província, restabele- aos pez por uma completa anarquia, que, alçando o collo na Capital
cer a ordem publica ao Império das Leis até que se tomem novas medi- da Provincia, ameaçava o Império d’uma completa dissolução, e
das; e que estas sejão directamente communicadas a Vossa Excelência. desde então os objectos, que vos são mais caros, espozas, filhos, la-
Deos Guarde a Vossa Excelência. Palácio do Rio de Janeiro em 4 de res em fim forão por vos deixados; compungidos vossos corações pelo
abril de 1833.- Honorio Hermeto Carneiro Leão.- Sr. Manoel Ignacio gemido da Legalidade, vos tornasteis surdos aos dos charosobjectos,
de Mello e Souza” 106. Contudo, os sediciosos não se rebaixaram nem que deixasteis. Cahio em (...) diante de voz esse colosso de argila, e
mesmo às ordens vindas do Império. desappareceo como o Iris: tanto podem aquelles, que só pugnão pela
Partiu do Rio de Janeiro o General Pinto Peixoto e juntamente rasão! Cabe à justiça punir os causadores de tantos malles; não man-
com os contingentes formados da Guarda Nacional, provindos do cheis vossas bem fazejas mãos, tocando taopolutoscriminozos, senão
centro e do sul da província, concentraram-se imediatamente em São em auxilio d’ella. Os loiros de que a historia vos tecerá coroas serão
João Del Rei para receber as ordens e instruções a fim de conter os de indistrintivel duração: ella se encarregará de louvar vossos feitos,
revoltosos. Cerca de seis mil Guardas Nacionais, entre eles membros e não calará, que visteis libertar doze mil Cidadãos, escravisados

74 75
por uma Sedição Militar. Ouro-pretanos, correi á abraçar vossos Viva a Regencia do Império. Viva o Presidente Manoel Ignacio de
irmãos, que vos vierão livrar do ferreo jugo que vos opprimia: já vos Mello e Sousa. Ouro-preto, 23 de maio de 1833. José Maria Pinto Pei-
é livre fazer tudo, que a Lei não prohibe; já podeis ler, ouvir e fallar, xoto, Commandante em Chefe das Forças contra os Sediciosos. OURO
como, quando, e onde vos convier: é só ella quem dirige vossas acções. PRETO NA TIPOGRAFIA DO UNIVERSAL” 108.
Aprendei da voz da Liberdade, que vos-trouxe a Guarda, à conhecer
quaeserão vossos inimigos, que não poderão ser separados de voz, Imagem 22: Carta de Proclamação- Fim da Sedição
sem que sofresseis as mesma privações, além do cativeiro em que vos
tinhão. Os Regulos, que acabais de abandonar nunca deixarão chegar
a vosso conhecimento as Ordens da Regência em Nome do IMPERA-
DOR, nem as do Excelentíssimo Presidente, nem as minhas: tenteis
fazer ve-las chegar por mil maneiras, já dirijindo-me ás authoridades
de elleição popular, já á particulares, já á esses mesmos, que vos do-
minavão: indo foi baldado: aprendei pois á custa de tanto soffrimento,
que muitos dos vossos elegidos foram vossos algozes. Tentei excitar
vossa curiosidade, fazendo vir aqui o Juiz de Paz de Ouro Branco
acclarar vossa rasãoelle se deo por felis de escapar com vida, por que
os vossos Tirannos não quizerão, que ouvísseis a voz da persuasão.
Os Soldados, levados pela obediência á pérfidos, e indignos chefes,
foráo aprender a José Correia quanto pode quem pugna pela Consti-
tuição. Dezesseis deixarão de existir, e muitos gemem ainda seu erro
no Hospital. O Exercito da Legalidade perdeo um Guarda Nacional
em toda esta lucta, e outro sucumbiotrez dias depois, ao ferimento.
Avaliai a differença, e queixai-vos de quem dirigia os illudidos, e dei-
xai á justiça dar-vos a devida satisfação: limitemo-nos á sentir o san-
gue derramado, e vidas perdidas. O Exército da Legalidade não vos
Fonte: Biblioteca Nacional
aggredio, buscou vencer pela reflexão filha do tempo: ellefoiemdous
pontos accometido, e não fez mais do que defender-se; nunca perse-
Na Assembleia Geral Legislativa, em sessão do dia 04 de setembro de
guio seus irmãos em suas debandadas: se o tivesse feito teriamos á
1833, José Bento discursou aos Deputados sobre o que havia acon-
sentir a perda de maior numero de vidas. Mineiros, a justiça vai extre-
tecido na Sedição. Ferreira de Mello tomou a palavra, como vítima
mar de vos os criminozos, e puni-los. Está restabelecida a Ordem na
daquele episódio e se dirigiu a Assembleia: “(...) Sr. Presidente, quem
Província de Minas Geraes. Viva a Religião Catholica, Appostolica
derramou o sangue mineiro forão só os sediciosos do Ouro Preto, que
Romana. Viva a Nação Brasileira. Viva a Constituição do Império.
por duas vezes acommeterão o exército da legalidade, sendo até um
Viva o Imperador Dom Pedro 2º. Viva a Assembléa Geral Legislativa.
desses ataques atraiçoadamente feito. O primeiro ataque foi o que

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fizerão os sediciosos à columna do exército postada em Santa Rita. renço Antônio Monteiro- 82 votos110. O Jornal “Aurora Fluminense”
Então os valorosos guardas nacionaes, depois de aprisionados os as- trazia o resultado parcial das eleições para todas as províncias, e “(...)
saltantes, generosamente lhes concederão liberdade, esperando que Naquellas de que há algumas informações, a direcção dos espíritos era
se convertessem, e reduzissem os seus à obediência da lei, no que com- favorável a causa da liberdade sem violência: sustentar a revolução
pletamente se enganarão. O segundo ataque foi o de José Corrêa, no mantendo a ordem, parecia ser o motto dos eleitores escolhidos” 111. Na
qual encontrando-se a columna do exército commandada pelo bravo Província de Minas Gerais, o resultado final foi divulgado apenas no
Lima, este convencionou, como comandante dos rebeldes, de voltarem dia o seguinte: Bernardo Pereira de Vasconcellos- 1003 votos; José
aos seus anteriores postos, até a decisão do general; porém os sedicio- Bento Leite Ferreira de Mello- 971 votos; Baptista Caetano de Al-
sos, faltando à sua palavra, atraiçoadamente voltarão á acommeter meida- 943 votos; João Dias de Quadros Aranha- 652 votos; e como
a guarda nacional, rompendo o fogo contra ella. Á vista disso, bem suplente Manoel Ignácio de Mello e Souza- 252 votos112. O partido
claro fica, que quem derramou o sangue mineiro forão os sediciosos do liberal estava com expressiva representação no Conselho Provincial
Ouro Preto, e só elles, devem ser os responsáveis pelos males futuros, e em Minas Gerais, e logo após o episódio da sedição, os trabalhos fo-
não o generoso exército da legalidade, que contava sob suas bandeiras ram retomados na Província.
a flôr dos mineiros honrados, grandes proprietários, cidadãos virtu- A Vila de Pouso Alegre, a exemplo de outras vilas e regiões, se
osos, todos empenhados em manter a legalidade e a ordem publica, mobilizou para o combate, tendo em vista que, um de seus habi-
á despeito dos desordeiros e restauradores, que foraão completa- tantes e chefe político, estava envolvido diretamente. José Bento,
mente debandados nestes arrojamentos. Mas alcançada a victoria, liberal moderado, teve naquele fato, ou seja, em sua prisão, a prova
os vencedores, longe de abusarem della, apresentarão a mais heroica de que a sua atuação entre os liberais era de grande importância. A
generosidade. Os sediciosos portanto, e só os sediciosos, devem ser Câmara Municipal de Pouso Alegre teve em pauta, entre os meses
reconhecidos como culpados do sangue que se derramará, e de suas de abril a junto de 1833, a batalha dos sediciosos. Os documentos da
tristes consequências” 109. Neste discurso, José Bento apresentou as Câmara Municipal, que com o tempo desapareceram, foram comen-
razões de questionamentos e de certa mágoa do Deputado Rebouças tados por Amadeu de Queiroz. Relembrando o episódio da Sedição
em relação aos restauradores. de Ouro Preto, os vereadores em sessão, oficiaram a todos os juízes
Neste intervalo de tempo, a Câmara Municipal de Pouso Alegre de paz dos distritos informações enviadas pelo Presidente da Pro-
não paralisou os seus trabalhos. No dia 27 de março de 1833, o Colégio víncia, e, determinou que o Juiz de Paz de Pouso Alegre preparasse
Eleitoral se reuniu na Igreja Matriz do Bom Jesus, em conformidade as forças do 2º e 3º Batalhões da Guarda Nacional para que se reu-
com a Resolução do Conselho Presidencial da Província de Minas Ge- nissem na Vila. Segundo as instruções, “Convoquem todos os fazen-
rais de 24 de dezembro de 1832, para se realizar a eleição dos membros deiros para que tragam os seus mantimentos a vender nas povoações
do Conselho do Governo Provincial. Foram oitenta e dois os eleitores e com especialidade, à Villa, onde existe grande número de guardas
presentes, e a apuração resultou da seguinte forma: José Bento Leite nacionaes já aquartelados; egualmente abram em seus districtos uma
Ferreira de Mello- 82 votos; Manoel Ignacio de Mello e Souza- 82 vo- subscripção para a despesas que occorrerem e, pelos fazendeiros, de
tos; Bernardo Pereira de Vasconcellos- 82 votos; Baptista Caetano de viveres para a sustentação da força que se acha aquartelada na villa
Almeida- 82 votos; Antônio Ribeiro Fernandes Fortes- 82 votos; Lou- (...)” 113. Como a Câmara não possuía recursos para manter os mais

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de dois mil homens que se encontravam reunidos para a defesa da em consideração os factos, lamenta a Camara da Capital, da bella, da
Província, a população da Vila de Pouso Alegre e seus distritos e a rica e prospera província de Minas, se degradasse da sua dignidade
Sociedade Defensora não mediram esforços para contribuir com a ponto de reconhecer um governo intruso e usurpador. Declara por
gêneros de primeira necessidade. fim, solennemente, que só prestará obediência ao legítimo delegado
A falta de arsenal de munição era outro problema que os soldados do Senhor D. Pedro II, como seu presidente, e assevera que estes são
da Guarda Nacional enfrentavam. Tinham em mãos armamentos os intuitos de todos os habitantes do município, muitos dos quaes já
suficientes, porém, o principal estava escasso. A Câmara Municipal, se acham nesta villa, aquartelados, armados e promptosparaaccudir
neste sentido, providenciou a compra de grande quantidade de pól- ao reclamo do governo legal” 115, declararam os vereadores presentes
vora constantes da Vila e seus distritos para a fabricação de balas, em sessão. Foi também instalado um correio, pago pela Sociedade
sendo que, este ofício foi designado aos ferreiros que prontamente Defensora, que transitava de cinco em cinco dias para Santa Rita
exerceram a função gratuitamente. De imediato, os juízes de paz do de Extrema, divisa com a Província de São Paulo, facilitando a co-
termo comunicou à Câmara que os batalhões se encontravam “firme municação entre as duas Províncias, no intuito de receber e enviar
em não obedecerem a qualquer ordem illegal emanadas de auctorida- notícias e documentos importantes.
des incompetentes e promptos e ansiosos para seguir para a lucta” 114 Ao receber um ofício do presidente Manoel Ignácio, no dia 29 de
rumo à Ouro Preto. abril, partiu para Ouro Preto mais de duzentos guardas nacionais.
A Câmara Municipal de Pouso Alegre, incansavelmente, reali- Uma companhia da Vila, foi comandada pelo Capitão José Francisco
zou trabalhos constantes no período de abril até junho daquele ano, Pereira Filho, negociante, fazendeiro, vereador e juiz ordinário da
durante o dia e até mesmo de madrugada: ficaram atentos às ne- Vila de Pouso Alegre. No dia 04 de maio, um novo contingente, for-
cessidades locais, expediam correspondências e ofícios, escreviam mado pela segunda companhia do segundo batalhão de Ouro Fino,
textos e cartas que eram dirigidas à jornais ou a outras Câmaras da sob o comando do Capitão Porfírio Bueno Brandão partiram rumo
Província, mantinham contato com os chefes do movimento, e, até à Ouro Preto, como também um grupo de guardas de Camanducaia.
mesmo, respondia a comunicações enviadas pelo governo intruso. Contudo, em 28 de maio, por meio de um oficio do Presidente da Pro-
Ao governo ilegal de Soares Couto, por ocasião de sua posse, res- víncia, declarou a suspensão do envio de forças, pois os membros da
ponderam os vereadores “não reconhecer um governo intruso e usur- sedição estavam quase vencidos.
pador, organizado por loucos e sediciosos, e que tem tomado as mais Nos primeiros dias do mês de junho, a Câmara Municipal de Pou-
enérgicas providências, até para repellir à força, quando necessário so Alegre, recebeu dois ofícios do governo da Província. O primeiro
for (...) logo que esta Camara teve notícia dos desgraçados aconteci- nomeava o Tenente Coronel Manoel Leite Ferreira de Mello como
mentos que se deram, declarou-se em sessão permanente que se ini- coronel chefe da legião do município e Major o senhor José Antônio
ciou no dia primeiro a horas da noite, e que jamais deixará o seu posto de Freitas Lisboa, “pelos grandes e inestimáveis serviços prestados por
enquanto não estiver restabelecido o socego publico na Provincia e, tão dignos cidadãos, á causa da ordem e da legalidade” 116. Em outro
principalmente, na capital, onde meia dúzia de desordeiros, enthu- ofício, foi comunicada a prisão de Manoel Soares do Couto, e que a
siastas do absolutismo se arvoram em arbitros dos destinos da provín- partir daquele momento, estava restabelecida a ordem na capital da
cia, a despeito de seus honrados habitantes. Que a Camara, tomando Província de Minas Gerais.

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Estes relatos foram apresentados por meio dos trabalhos da Câmara Padre José Bento, e uma outra propriedade para detenção, “(...) uma
Municipal da Vila de Pouso Alegre, que tiveram início à 01 de abril casa próxima à ponte velha, para servir de cadeia” 118, com três enxo-
e encerramento no dia 03 de junho de 1833, representados pelos vias, sala, varanda e um cômodo em que ficasse instalado o carcereiro,
Vereadores João Dias de Quadros Aranha, Manoel José de Oliveira com grades de ferro e encanamento para limpeza da cadeia.
Cordeiro, Manoel Leite Ferreira de Mello, Ignácio Gonçalves Lopes, Neste mesmo ano, a Vila de Pouso Alegre ascendeu nos aspectos
Modesto Antônio Mayer e José Francisco Pereira Filho. econômicos, principalmente na produção rural, lavoura e pecuária.
Em meio às discussões e os trabalhos realizados frente à Sedição O comércio de abastecimento e exportação ganhou impulso, sendo
de Ouro Preto, a Vila de Pouso Alegre não ficou desamparada. No de- que, gêneros da terra, bois, porcos e muares eram comercializados
correr daqueles anos, os Vereadores atuaram na compra de um pré- regionalmente, transportados para São Paulo, Rio de Janeiro e outras
dio para o Paço Municipal, cujo proprietário era José Bento; foram regiões. No território da Vila, não existia mais terras devolutas, per-
tomadas providências para o abastecimento de água na Vila, para que mitindo o aumento de propriedades de moradores.
não acontecesse apenas nas fontes públicas; e autorizou-se a constru- Quanto à vida política local, o Partido Liberal, possuindo gran-
ção de um chafariz no Largo do Rosário. A Câmara Municipal havia de prestígio na região, contava com dois representantes na política
realizado um trabalho de organização da Vila, nos aspectos espaciais, nacional e provincial: o Cônego José Bento, ocupara uma cadeira no
sociais e econômicos. Senado, e o Cônego João Dias de Quadros Aranha, atuou na Câmara
_________________ Municipal da Vila de Pouso Alegre, como Presidente daquela cor-
poração, e reeleito durante alguns mandatos (initerruptamente no
O ano de 1834 se inicia na Vila de Pouso Alegre com a instalação do período de 1841-1847). Neste ano de 1834, Quadros Aranha foi eleito
júri, fato marcante na sociedade local. A primeira sessão se realizou Deputado Geral pela Província de Minas, o que, em virtude dos tra-
na casa da Câmara Municipal no dia 04 de janeiro, às 9 horas da ma- balhos desempenhados, se mantinha distante da função religiosa e
nhã, sendo presidida pelo Dr. Tristão Antônio de Alvarenga, juiz de política local, assim como José Bento.
direito da Comarca. Compondo o corpo dos sessenta jurados sorte-
ados pela câmara, estavam quatro que pertenciam à Vila de Pouso
De Deputado Provincial à Senador do Império
Alegre: Antônio de Barros Pereira e Mello, Francisco de Paula Pereira
e Mello, José Garcia Machado e José Moreira da Costa. Dentre os
O ano de 1834 trouxe para o Deputado e Padre José Bento uma nova
trabalhos realizados pela Câmara Municipal, foram executados os
condecoração e maior participação no governo imperial brasileiro.
seguintes: incentivo e equipagem à Guarda Nacional da Vila de Pou-
As eleições para Senador, na época do Império, eram realizadas de
so Alegre, com armamento e munições, que contava neste período
maneira diferente. Para ser considerado um eleitor apto à votação,
com seiscentos homens prontos para defender qualquer conflito que
o cidadão deveria ter 25 anos completos e ser do sexo masculino.
ocorresse. Nos aspectos espaciais, abertura de uma rua em direção
Essa idade mínima estabelecida poderia variar se, a pessoa votante,
à Rua Cantagalo117 em direção ao Rio Mandu, com a pretensão de se
fosse um homem casado, clérigo, militares ou até mesmo bacharéis
construir uma ponte no aterro da vargem do mesmo rio. Foi adqui-
formados. Fora instituído também, naqueles anos, o chamado voto
rida definitivamente a casa para Câmara Municipal, pertencente ao
censitário, ou seja, o cidadão somente teria o poder de voto caso se

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comprovasse uma renda mínima anual provinda de emprego, co- Imagem 23: Palácio do Conde de Arcos, local onde se instalou a primeira sede do Senado

mércio, indústria, ou até mesmo, de propriedades de terras. Como Imperial Brasileiro- Rio de Janeiro

podemos perceber apenas a elite possuía o poder do voto. As pessoas


pertencentes a uma classe inferior e os escravos, não possuíam voz e
vez na política e em outros aspectos sociais.
Os eleitores, no entanto, não escolhiam diretamente os seus re-
presentantes. Existiam também divisões entre os votantes: os eleito-
res da paróquia e os eleitores da Província. Os eleitores da paróquia
participavam de um sistema de votação para escolher os eleitores da
Província, logo, aqueles que eram eleitos, escolhiam quem deveriam
assumir os cargos de Deputado e Senador. Após o pleito provincial,
era enviada ao Imperador uma lista tríplice, o qual, mediante a sua
autoridade, nomeava um daqueles nomes. Eram analisados ainda
critérios como experiência em funções públicas e nobilitação. Perce-
bemos que, as eleições provinciais eram feitas por votação majoritá-
ria e indireta, e mais uma vez, grande influência da elite na política
Fonte: Biblioteca Nacional
imperial. O cargo senatorial possuía grande representatividade, a
que distinguia a pessoa que era indicada a ocupar aquele posto. Eram
considerados como “Augustos e Digníssimos Senhores Representan- A Província de Minas Gerais precisava eleger algum cidadão para
tes da Nação”, ou seja, ocupava um posto importante na constituição ocupar a cadeira do Senador Jacinto Furtado de Mendonça, faleci-
imperial, sendo eleitos vitaliciamente. do no dia 02 de janeiro de 1834. No entanto as votações foram re-
alizadas nos meses de maio, junho e julho daquele ano. Na Vila de
Pouso Alegre, estiveram presentes 69 eleitores, sendo 18 da Sede,
e das seguintes freguesias: 14 de Ouro Fino, 03 de Santa Catharina,
03 de Itajubá, 09 de Caldas, 13 de Camandocaiae 09 de Sant’Anna
do Sapucahy. Segundo a ata da Eleição da Vila de Pouso Alegre, a
votação se deu“no dia quatro de maio de mil oitocentos e trinta para
eleger hum Senador em lista tríplice que deve entrar na vaga pelo fa-
lecimento do Doutor Jacintho Furtado de Mendonça que era por esta
Província” 119. Após a votação, realizou-se a contagem de votos, e ti-
veram os seguintes senhores: “O Padre José Custódio Dias, morador
no Rio de Janeiro, actual deputado e maior de quarenta annos, 69 vo-
tos; O Dezembargador Manoel Ignácio de Mello e Souza, morador no

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termo da cidade de Marianna, Proprietário e maior de 40 annos, 69 A tabela acima nos traz os dados das votações realizadas em alguns
votos; O Vigário José Bento Leite Ferreira de Mello, actual Deputado, colégios eleitorais da Província de Minas Gerais para o cargo de Se-
morador nesta Villa, maior de quarenta annos, 65 votos; Custódio nador no ano de 1834. Como percebemos, José Bento foi o candidato
José Dias, morador no termo da Villa de Jacuhy, Proprietário e maior que possuiu o maior número de votos. Na 127ª Reunião do Conselho
de quarenta annos, 03 votos; O Vigário Encomendado João Dias de do Estado, foi abordada a questão da escolha de um Senador para a
Quadros Aranha, morador nesta Villa, actual Deputado, maior de Província de Minas Gerais. Nesta reunião, “(...) o Excelentíssimo
quarenta annos, 01 voto” 120. Os resultados de outros Colégios Elei- Ministro do Império leu na mesma ocasião a proposta feita em Lista
torais foram: Tríplice para Senador pela Província de Minas, que estava vago pelo
falecimento do Doutor Jacinto Furtado de Mendonça, e disse que José
Tabela 03: Obtenção de Votos para Senador em
Bento Ferreira de Mello tivera 690 votos; - o Desembargador Manuel
Colégios Eleitorais da Província de Minas Gerais, 1834
Inácio de Melo e Souza 587 votos; - e o Desembargador Bernardo Perei-
José Bento Manoel Ignácio Bernardo José
ra de Vasconcellos 573 votos 121. Os Conselheiros de Estado Francisco
Colégio Eleitoral Leite Ferreira de de Mello e Pereira de Custódio Outros Vilela Barbosa (Marquês de Paranaguá) e Manoel Jacinto Nogueira
Mello Souza Vasconcellos Dias
de Gama (Marquês de Baependi) emitiram a opinião de que fosse
Ouro Preto 31 Votos 27 Votos 18 Votos 06 Votos 47
escolhido para Senador aquele que recebeu grande quantidade de
Marianna 59 Votos 37 Votos 56 Votos --- 46
votos. Todos os outros conselheiros votaram em favor do Desembar-
S. João d’El-Rei 32 Votos 31 Votos 06 Votos 35 Votos 13
gador Bernardo de Vasconcellos.
São José 10 Votos 14 Votos 04 Votos 08 Votos 24
Sabará 43 Votos 28 Votos 53 Votos 50 Votos 16
Imagens 24 e 25: Marquês de Paranaguá e Marquês de Baependi
Barbacena 32 Votos 33 Votos 32 Votos 01 Voto 01
Pouso Alegre 65 Votos 69 Votos --- 69 Votos 04
Campanha 53 Votos 48 Votos 01 Voto 53 Votos 10
Queluz 34 Votos 02 Votos 35 Votos 01 Voto 36
Baependy 26 Votos 06 Votos 45 Votos 50 Votos 26
Jacuhy 22 Votos 22 Votos --- 22 Votos ---
Alfenas 31 Votos 31 Votos 02 Votos 22 Votos 07
Lavras do Funil 32 Votos 31 Votos --- 29 Votos 07
Tamanduá 20 Votos 16 Votos 25 Votos 29 Votos 21
258
TOTAL 490 Votos 395 Votos 277 Votos 375 Votos
Votos

Fonte: Correio Official, meses de Maio à Julho, Rio de Janeiro.


Acervo da Biblioteca Nacional.

Fonte: Arquivo da Biblioteca Nacional

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As eleições de 1834 para o Senado marcou o rompimento do grupo No dia 13 de agosto, em sessão com a presença de 35 Senadores e pre-
que dominava a política da província mineira. Em alguns Colégios sidida pelo Sr. Bento Barroso Pereira, estando na antecâmara, José
Eleitorais, sobressaíam-se os Srs. José Bento, Manoel Inácio e Ber- Bento Leite Ferreira de Mello foi introduzido com as formalidades do
nardo de Vasconcellos. Em outros, havia uma variação em que um costume e estilo, prestando juramente e tomando assento.
desses nomes era substituído pelo Padre José Custódio Dias ou pelo Com presença marcante e direta na Corte, na cidade Imperial do
Desembargador Antônio Paulino Limpo de Abreu. Bernardo de Vas- Rio de Janeiro, José Bento se ausentou ainda mais da Vila de Pouso
concellos ficou em terceiro lugar na Lista Tríplice, contudo, um outro Alegre. Homens contrários ao Partido Liberal articularam certa re-
empecilho o impedira, possuía nesta época 38 anos de idade. De acor- sistência, iniciando outro partido que fazia oposição, aproveitando
do com Claus Rodarte, existem algumas versões divergentes sobre da imagem do então Senador que já não simpatizava mais em âmbito
as eleições que ocorreram. Em uma delas, os adversários de Vascon- geral. Mesmo não tendo mais popularidade, José Bento não deixou
cellos acusaram-no de querer armar certa confusão na eleição para o suas veias autoritárias, sendo em certos momentos violento em seus
Senado, com a intenção de torna-la nula. Neste sentido, até que outro atos. Alheio à Igreja a qual pertencia e a função a que exercia, se vol-
pleito eleitoral acontecesse, Vasconcellos atingiria a idade legal para tou ainda mais para sua existência particular, representação social e
que pudesse assumir o cargo. Já, o próprio Vasconcellos e seus alia- interesses pessoais. Era certo costume, nesta época, que padres não
dos, lançaram mão de argumentos que apontavam a eleição de José concordassem com certos aspectos determinados pela doutrina da
Bento ser inválida, provinda de uma lista tríplice nula, pois apenas Igreja Católica. A vida íntima de José Bento era como a de qualquer
dois desses candidatos estariam aptos a assumir a cadeira do Senado. cidadão que não tivesse prestado juramento como sacerdote. Sua
Vasconcellos ainda teria apoiado o segundo candidato para assumir casa era muito frequentada, fartos jantares eram servidos, reuniões,
o Senado, porém, no uso das atribuições, Dom Pedro II nomeou José festividades e bailes embalavam a noite, que introduziam na Vila de
Bento Ferreira de Mello como Senador do Império pela Província de Pouso Alegre as etiquetas costumeiras da Corte.
Minas Gerais. Se antes, Vasconcellos e José Bento eram próximos, a O Padre Senador não apresentava nenhuma preocupação, tan-
partir dessas eleições, estabeleceram uma ruptura política. to que, fazia questão da companhia de sua filha legítima Possidônia
Na Sessão das duas Câmaras ocorrida no Rio de Janeiro em 12 de Leite Ferreira de Mello123, não ligando pelo que iriam falar os seus
agosto de 1834, foi lido pelo Sr. José Joaquim Carneiro de Campos desafetos. Não encontramos nenhum registro que mencionasse o
(Marquês de Carvellas), Relator da Comissão de Constituição, o se- nascimento ou até mesmo o batismo de sua filha. Sabemos apenas
guinte parecer: “A Commissão de Constituição á quem foi presente o que Possidônia casou-se no ano de 1835, conforme o registro matri-
diploma do Sr. José Bento Leite Ferreira de Mello, Senador eleito pela monial: “Francisco de Paula Pereira e Mello com D. Possidônia Leite
Província de Minas Geraes pela vaga que teve lugar occasionada pelo Ferreira de Mello- Aos dezessete de Fevereiro de mil oitocentos e trinta
fallecimento do Senador Jacinto Furtado de Mendonça, confrontando e cinco pelas sete horas da noute em presença do Revmo. Coadjutor
com as listas tríplices a geral, a esta com a parcial, não tendo encontra- José Pedro se receberão em matrimônio o Tenente Coronel Francisco
do illegalidade alguma, entende que o mencionado Sr. José Bento Leite de Paula Pereira e Mello, filho legítimo do Capitão Antônio de Barros e
Ferreira de Mello, está legitimamente nomeado Senador do Império, Mello, já falecido, e de Dona Eufrázia Pereira, natural de Porto Alegre,
e por isso deve consequentemente tomar assento no Senado (...)” 122. com Dona Possidônia Leite Ferreira de Mello, filha legítima do Revmo.

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Vigário José Bento Leite Ferreira de Mello, natural desta freguezia, que enfrentou durante o seu mandato senatorial. Era formado por
e receberão benções. Testemunharam o Padre João Dias de Quadros pessoas distintas da Vila de Pouso Alegre, fazendeiros, negociantes e
Aranha e o Coronel Roque de Sousa Magalhães e para constar faço este capitalistas: o Capitão Antônio de Barros Pereira e Mello; Padre José
assento que assino. O Coadjutor José Pedro” 124. Por meio deste regis- Pedro de Barros, coadjutor da paróquia do Bom Jesus; o farmacêutico
tro observamos que não se menciona o registro materno, o que nos Quirino Gonçalves Lopes; João Pedro de Oliveira; José Garcia Ma-
leva a pensar que a mãe poderia ser uma escrava do próprio Senador chado; Ignácio João Cobra e Antônio Diciano da Silva, este, capitão
ou pelo motivo de sua condição sacerdotal. Em 1838 foi realizado um da Guarda Nacional, advogado e Promotor Público. Mesmo com essa
levantamento populacional nas Províncias Brasileiras, e consta no oposição e tantas desavenças, os conflitos entre famílias não aconte-
levantamento populacional da Vila de Pouso Alegre que Francisco ciam em toda sua totalidade, tanto que, a filha de José Bento se uniu
de Paula Pereira Mello, 30 anos, era comerciante e casado com Dona matrimonialmente com Francisco de Paula Pereira e Mello, irmão de
Possidônia e residente naquela Vila em casa própria. Possuía no nú- Antônio de Barros Pereira e Mello e do Padre José Pedro.
cleo residencial dois filhos, João de 22 anos e José de 2 anos, o irmão No ano de 1835, a Vila de Pouso Alegre recebeu a instalação de
do marido, Francisco de Paula Xavier, com 18 anos de idade e um uma Escola Pública de Primeiras Letras de segundo grau para ambos
plantel de 25 escravos, sendo três pardos e vinte e dois africanos. os sexos, sob a direção dos Professores Francisco de Paula Bressane
Em seu mandato de Deputado, José Bento residiu sempre com o e Isabel Maria Bressane, o que contribuiu muito para a educação e
Senador Alencar, e como Senador, adquiriu uma casa própria no Rio de a formação de crianças e jovens naquele momento. Nos anos poste-
Janeiro. Nesta residência aconteciam reuniões com grandes homens riores, na Vila de Pouso Alegre, foi criada, em 1837, uma cadeira de
da época para discutirem política e assuntos literários, em meio a latinidade, dirigida e regida interinamente pelo Professor Eugênio
erudição da época. A sociedade pousoalegrense aos poucos absorviam Farjou, proveniente da França.
esses hábitos, e segundo informações passadas pela oralidade, as famí- O território de Pouso Alegre, segundo informações da Câmara
lias tradicionais possuíam em suas residências mobílias de luxo, jogos Municipal, em 1838, “(...) he composto de quatro Freguesias, dez Dis-
de louça e de jantar, pratarias e ricas toalhas bordadas finamente. Tais trictos e dose Capellas inclusive as quatro Matrises a saber: A Fregue-
famílias possuíam um pagem mais novo, que era encarregado de trans- sia do Senhor Bom Jesus da Villa de Pouso Alegre he dividida em dous
mitir recados, correspondências, entregas de presentes, e até mesmo, districtos, quaes o da Villa, e o da Capella Curada de São José das
para acompanhar as senhoras em passeios longos e nas missas domini- Formigas. A Freguesia de Nossa Senhora do Patrocínio do Rio Verde
cais, portando tapetes para que elas pudessem se ajoelhar. de Caldas, compõem hum só districto. A Freguesia de São Francisco
Segundo Amadeu de Queiroz, “os hábitos de galanteria, um pouco de Paula de Ouro Fino, he dividida em três districtos, o da Freguesia
dos costumes e muito do caráter de José Bento, concorreram enorme- a que está anexa a Capella Curada de Nossa Senhora do Carmo de
mente para gerar a fama que teve de conquistador de mulheres, e a Borda da Matta, as Capellas Curadas do Senhor Bom Jesus das Antas
antipatia de outros homens, os puritanos do lugar que associados aos e de São Sebastião e São Roque do Bom Retiro. A Freguesia de Nossa
ambiciosos e adversários, iam agrupando um elemento hostil que, dia Senhora da Conceição de Camanducaia, he dividida em quatro dis-
a dia, aumentava” 125. Por essa e entre tantas outras desavenças polí- trictos, quaes a da Freguesia que está anexa a Capella não Curada do
ticas, José Bento encontrou em seu caminho um grupo de oposição Espírito Santo de Ribeirão Fundo; as Capellas Curadas de Santa Rita

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do Jaguary, Nossa Senhora do Carmo de Cambuhy e Nossa Senhora A primeira legislatura que José Bento atuou como Senador, percorreu
da Consolação de Capivary” 126. Por meio deste panorama, temos os anos de 1834 a 1837, sendo a terceira do Senado no Império. Esta
a noção da extensão territorial da Vila de Pouso Alegre, que nesta legislatura foi transcorrida normalmente, constando de quatro sessões
época, fazia divisas com a Província de São Paulo. A Câmara Munici- ordinárias iniciadas sempre no dia 03 de maio de cada ano e encerran-
pal, nos anos de 1839 a 1844, realizou as seguintes obras que contri- do no final do mês de outubro, sendo que, durante este período não se
buíram para melhoramentos na Vila de Pouso Alegre:foi autorizada realizaram sessões extraordinárias. Por meio de discussões entre os
pelo Governo Provincial, em 1839, a contrair um empréstimo de Senadores, observou-se grande preocupação com questões internas,
18:000$000 (dezoito contos de réis) para a construção de dois ater- principalmente a que se referia à publicações do “Diário do Senado”.
ros, sendo um na várzea do Rio Mandu e outro no Rio Cervo. Obras Durante esta legislatura, novos Senadores assumem o posto daqueles
de saneamento encanamentos, melhoramentos de estradas foram que faleceram, sendo interessante observar, a influência dos padres
autorizadas pela Câmara Municipal, proporcionando qualidade de católicos no meio político. Foram eles: os padres José Custódio Dias,
vida a toda população. Antônio da Cunha Vasconcellos, Francisco de Brito Guerra e José Bento
Enquanto isso, na cidade Imperial do Rio de Janeiro, a atuação Leite Ferreira de Mello. Mesmo tendo assumido os referidos sacerdotes,
de José Bento no Senado, foi marcada pelas seguintes participações: a participação do clero nesta legislatura foi uma das mais inexpressivas,
devido a ausência dos sacerdotes que mais se projetaram no cenário po-
Tabela 04- Atuação de José Bento no Senado
lítico127. Temas de grande relevância foram discutidos nesta legislatura,
porém, com pouca participação dos sacerdotes, como projetos relacio-
Trabalhos 1834 1835 1836 1837 1838 1839 1840 1841 1842 1843 1844
nados aos escravos e tráficos, apresentados nos anos de 1835 e 1837.
Discursos 02 10 04 --- ---- 130 65 95 ---- 30 ----
José Bento iniciou sua atuação no Senado com um discurso alu-
Emendas 02 10 ---- 03 ---- 14 07 07 ---- 05 ----
dindo a Sedição ocorrida no ano de 1833, pronunciando-se contra a re-
Apartes ---- ---- ---- ---- ---- 34 12 ---- ---- 57 ----
solução que concederia anistia aos cidadãos que foram presos naquela
Pareceres ---- ---- ---- 06 10 02 03 04 ---- ---- ----
ocasião. Tinha em mente, naquele momento, o dever de votar contra a
Aditamentos ---- 02 01 02 ---- 04 02 04 ---- ---- ----
resolução em pauta, pois “não deixava de se considerar amante da huma-
Nomeações ---- 03 01 03 02 02 09 07 ---- 01 ----
nidade, e como tal attencioso aos gritos de seus semelhantes infelizes, aos
Proposições ---- 02 01 ---- ---- ---- 01 ---- ---- ---- ----
quaes jamais deixaria de ser indifferente; que, porém, não podia deixar de
Resoluções ---- ---- ---- 02 08 ---- ---- ---- ---- ---- ----
se considerar como um crime, uma indulgência mal aplicada (...) votava
Requerimen-
tos
---- 02 ---- 02 05 22 08 10 ---- 06 ---- contra a resolução por julgal-a impolítica e de funestas consequências,
Projetos ---- 01 01 05 ---- 01 02 ---- ---- ---- ----
uma vez que passasse; impolítica, por isso mesmo que sendo patente na-
Comunicações ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- 02 ---- ---- ---- quella Província e em grande parte do Império que os movimentos de 22
Intervenção ---- ---- 02 ---- ---- 03 09 21 ---- 07 ---- de Março foram dirigidos a promover a restauração do Ex-Imperador
Questão de (...)” 128. Dando resposta à pauta que havia sido estudada em comentário
---- ---- ---- ---- ---- 04 ---- ---- ---- ---- ----
Ordem já feito pela Assembleia anteriormente, José Bento era considerado
suspeito por comentar, pois havia participado in loco da Sedição. Após
Fonte: Annaes do Senado

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ter sido adiada a discussão, foi retomada na sessão seguinte por meio de votos. José Bento teve apenas 82 votos, concentrados nas Províncias
discussões calorosas com o Senador José da Silva Lisboa (Visconde de de Minas Gerais (79 votos) e São Paulo (3 votos).
Cairu), e mesmo, José Bento, querendo se abster de algumas discussões, A Regência foi assumida pelo Padre Diogo Antônio Feijó, que, no
a resolução foi aprovada, passando-se por uma última discussão. entanto, deixou seu cargo de Senador para assumir tal posto, em 12 de
Durante os anos, José Bento atuou em algumas frentes. Em 1835, outubro de 1835. Junto a ele, assumiu os seguintes ministérios: Antô-
foi eleito membro da Comissão de Estatística, Colonização, Cateque- nio Paulino Limpo de Abreu- Império e Justiça; Manuel Alves Branco-
se e Civilização dos Indígenas, a qual fez presença durante a designa- Estrangeiros; Manuel do Nascimento Castro e Silva- Fazenda e Manuel
ção. No mesmo ano, apresentou uma emenda aditiva, em resposta ao da Fonseca de Lima e Silva- Guerra e Marinha. Durante o período em
Artigo 38 do Regimento Comum das Duas Câmaras, em que se tratava que esteve na Regência, foi costumeira a troca de ministros, pois os
da votação na Assembleia Geral. O Senador Paulo e Souza defendia a mesmos, não aturavam as posições que Feijó assumia, sendo que, em
questão da votação nominal. Já, José Bento, apresentou uma emenda, 1836, um novo corpo de ministros foi designado por duas vezes (05 de
no sentido em que “Quando a matéria se referir a interesse individual, fevereiro de 1836 e 01 de novembro do mesmo ano). O último corpo de
a votação será por escrutínio secreto” 129. A emenda sugerida por Fer- ministros formado foi em 16 de maio de 1837, e, diante da situação em
reira de Mello foi apoiada e as sessão foi suspensa, e no dia seguinte, que se encontrava, sendo amplamente criticado por muitos, Feijó ofe-
foi aprovada pelo Senado. Questões como anistia a presos, irmanda- receu sua carta de renúncia em 19 de setembro de 1837.
des religiosas, apuração de atas de colégios eleitorais, governo regen-
cial, reformas constitucionais, foram objetos e defesas e discussões Imagem 26: Padre Feijó deixando o posto de Regente, voltando para São Paulo e deixando
na frente política de José Bento naquela legislatura. Sempre enérgico atrás de si um certo rastro. Caricatura de Manuel de Araújo Porto- Alegre.

e firme em suas decisões, deixava claro nos discursos proferidos com


maestria a posição que tomaria frente às discussões propostas.
Nesta legislatura, no ano de 1835, ocorre a eleição para um novo
Regente do Império Brasileiro. A apuração das eleições ocorreu no
mês de outubro, nas Sessões dos dias 05, 06, 07 e 08 daquele mês. No
dia 09 de outubro, foi dado o resultado final do pleito, sob a presidên-
cia do Senador Bento Barroso Pereira. Foram 11.538 votos válidos em
cada província, sendo: 2.229 de Minas Gerais, 362 de Rio Grande de
Pedro do Sul, 1.024 de São Paulo, 196 de Santa Catarina, 1.153 do Rio
de Janeiro, 251 de Goiás, 124 do Mato Grosso, 124 do Espírito Santo,
624 de Alagoas, 206 do Rio Grande do Norte, 660 do Sergipe 1.793 da
Bahia, 1.143 do Pernambuco, 419 da Paraíba do Norte, 257 do Piauí,
449 do Ceará, 354 do Maranhão e 166 do Pará. Dos 261 candidatos,
os mais votados para o posto de Regente foram: Diogo Antônio Feijó
com 2.830 votos e Antônio Francisco de Paula Cavalcanti com 2.242
Fonte: Biblioteca Nacional

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Com a substituição da Regência por Pedro de Araújo Lima e a organi- estes novos habitantes da Vila filiaram-se ao Partido Conservador,
zação de um novo ministério, foi mudada a situação política. Com essa dando mais força àquele movimento político.
situação, as correntes que dividiam o Partido Liberal, foram se defi- Neste mesmo ano, José Bento atuou intensamente no Senado. Os
nindo, e impulsionadas por certas antipatias, rancores e até mesmo trabalhos incessantes na Comissão de Instrução e Negócios Eclesi-
despeitos, houve uma cisão entre aqueles que lutavam sob a mesma ásticos não impediram que José Bento tivesse participação ativa nos
bandeira. Fundou-se outro partido, denominada de “Conservador”, debates senatoriais. Discursava em favor da Província de Minas Ge-
defendendo principalmente a interpretação do “Ato Adicional”130, rais, muitas das vezes, fazendo altas críticas ao Governo Provincial.
restrição das atribuições das assembleias provinciais, maior obser- Debateu com intensidade acerca de projetos, interpretando alguns
vância dos princípios da constituição e, principalmente, a resistência artigos do Ato Adicional, utilizando de oratória convincente, de-
a inovações políticas que não fossem estudadas de formas profundas monstrando a lealdade de seu patriotismo, o que sempre lhe norteou.
e maduras, reestabelecendo também o Conselho do Estado. Eis algumas de suas falas: “(...) lamento que o senado de hoje não seja
Na Vila de Pouso Alegre, o Partido Conservador foi fundado e o mesmo velho senado, pois, entendo que elle já não conserva aquella
idealizado por pessoas que mantinham certa posição social em tor- antiga serenidade que apresentava em todas as suas discussões e o
no de Antônio de Barros Mello, que desde o início, liderou os ideais respeito com que, ordinariamente, tratava os negócios públicos (...) Os
conservadores e assumiu a posição de líder daquele partido. Muitos nobres Senadores, ainda mesmo quando combatiam idéas contrárias,
sentimentos se afloraram no meio social pouso-alegrense, e a partir respeitavam-se, tratando uns aos outros com urbanidade e civilidade;
da cisão de partidos, se tornaram mais evidentes. De acordo com porém, hoje, já não é assim e com alguma razão se póde dizer que o an-
Amadeu de Queiroz, diante de tal fato, “estacionou o progresso do tigo Senado já não existe (...) Abandonemos essa tendência maligna e
lugar, desaparecendo por sua vez o interesse geral pelas coisas pú- perversa que tem por fim arrastar e conservar perpetuamente a nação
blicas”131. A ausência prolongada dos mentores do Partido Liberal no campo da política. Procuremos dirigil-a e encaminhal-a para o me-
de Pouso Alegre, Padre Quadros Aranha e Padre José Bento, enfra- lhoramento material do paiz (...)”132. Os questionamentos eram feitos à
queceram a composição local do partido, pois muitos daqueles que Senadores que combatiam e iam contra os princípios da Constituição
faziam composição passaram a comungar das ideias dos Conserva- e do Ato Adicional, se estendendo por várias sessões daquele ano. Seu
dores, dirigindo a vida política de Pouso Alegre durante quarenta ideal liberal era expresso em total apoio à Pedro II “Deus faça passar
anos sem interrupção. No ano de 1837, já não se publicava mais o de pressa esse tempo de menoridade que resta e nos traga esse dia ven-
periódico “Recopilador Mineiro”, periódico de cunho liberal, por turoso, vendo assumir as rédeas do governo o nosso querido monarca
falta de redator. Os ideais liberais da localidade já não possuíam brasileiro, o jovem imperador, Senhor Dom Pedro II” 133.
mais forças de atuação. Em outras sessões, José Bento discutiu a resolução da Câmara
No ano de 1839, algumas pessoas resolveram fixar suas residên- que reduzia a dois anos o tempo de residência necessária para a natu-
cias na Vila de Pouso Alegre. Destacam-se entre eles o Bacharel José ralização dos estrangeiros, e, ainda sobre o estado deplorável dos cor-
Inocêncio de Campos, advogado e promotor público; o capitalista José reios no Império. Tendo contato com seus discursos, percebemos por
Theodoro de Sá e Silva, vindo da região de Sabará e Julião Florêncio meio de sua oratória, tons combativos e, ao mesmo tempo, sensíveis,
Meyer, nascido na Bélgica e naturalizado brasileiro em 1834. Todos muitas das vezes desconfiado. Vai ao passado, buscando argumentos

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para combater aqueles que tinha como adversário. Contudo era cor- do povo advogava com calor a medida revolucionária a fim de salvar as
tês, educado e respeitoso, utilizando sabiamente das palavras. Era um instituições; verdadeiro patriota moderava as paixões populares para
tanto prolixo, mas que trazia ideias claras, mostrando habilidades em que o triumpho da ideia liberal não fosse manchada por excesso 136.
qualquer discussão, tratando de diversos assuntos e demonstrando Assim se portou José Bento diante da maioridade de Dom Pedro II.
profundos conhecimentos. O escritor liberal Teophilo Ottoni, testemunha dos aconteci-
_________________ mentos da época, assim relatou: “José Bento (...) ocupava uma das
janellas do Senado, e ahi abraçado com o busto do Imperador exhor-
Na quarta Legislatura (1838-1841), o Senado promoveu diversas ses- tava o povo impaciente pela demora da comissão que se dirigira ao
sões ordinárias, sendo que, na terceira sessão, ocorrida a partir do paço de São Christovam. Parece-me estar vendo ainda aquella phisio-
dia 03 de maio de 1840. Em meio a discussões calorosas, tanto na As- nomia mobil e ardente, em que se reverberavam como em um espelho,
sembleia dos Deputados como no Senado, no dia 23 de julho daquele as nobres paixões de sua alma enthusiástica e patriótica! A commis-
mesmo ano, Dom Pedro aceitou a assumir o trono Brasileiro. Este são volta; a decisão do príncipe que quer governar já é annunciada;
fato ficou conhecido como antecipação ou “Golpe da Maioridade”134. e José Bento delirante de júbilo, congratula-se com todos como por
Desde 1835, a ideia de tornar o jovem Dom Pedro maior de idade uma faustosa victória alcançada para a causa do paiz” 137. E assim se
já se fazia presente no pensamento de alguns políticos da época, jul- sucederam os fatos.
gando incapazes aqueles que estiveram a frente da regência. Contu- A Assembleia Geral publicou o seguinte comunicado: “Brasi-
do, este propósito novamente tomou força nos idos de 1840, quando leiros! A Assembléa geral legislativa do Brasil, reconhecendo o feliz
se fundou uma associação que carregava em seu bojo esses ideais. desenvolvimento intellectual de S. M. I. o senhor Dom Pedro II, com
Um clube foi instituído na casa do Senador Alencar, na cidade do Rio que a Divina Providência favoreceo o império de Santa Cruz; reconhe-
de Janeiro, comparecendo naquela reunião seis senadores e oito de- cendo igualmente os males inherentes a governos excepcionaes, e pre-
putados. Foi discutido com total dedicação o projeto de maioridade, senciando o desejo unanime do povo desta capital; convencida de que
tendo em mente observar a opinião sobre este assunto no meio polí- com este desejo está de acordo o de todo o império, para conferir-se ao
tico e público. O “Clube Maiorista”135 se reunia muitas das vezes nas mesmo Augusto Senhor o exercício dos poderes que pela constituição
casas do Senador Alencar e de José Bento, sendo este, um dos mais lhe competem: houve por bem, por tão ponderosos motivos, declaral-
destemidos membros. -o em maioridade, para o effeito de entrar immediatamente no pleno
A sua participação é demonstrada por Farnese: “Não tendo vinga- exercício d’esses poderes, como imperador constitucional e defensor
do o outro projecto que o finado Senador Antônio Carlos Ribeiro de An- perpétuo do Brasil. O Augusto Monarcha acaba de prestar o juramen-
drada Machado e Silva apresentara no dia 20 de maio na Câmara dos to solemne determinado no artigo 103 da Constituição do Império.
Deputados, por ter sido dissolvida a Câmara no dia 22 pelo ministro do Brasileiros! Estão convertidas em realidades as esperanças da nação;
Império Bernardo Pereira de Vasconcellos, os deputados dirigiram-se huma nova era apontou; seja ella de união e prosperidade. Sejamos
para o senado e com os senadores e povo proclamaram revolucionaria- nós dignos de tão grandioso benefício. Paço da Assemblea Geral, 23 de
mente a maioridade. Nessa memorável sessão, o Senador José Bento julho de 1840. Foi approvada” 138. Com esta proposta aprovada, Dom
elevou-se à toda a altura do seu talento e do seu patriotismo. Tribuno Pedro II, a partir daquele dia assumia o trono Brasileiro.

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Imagem 27: Página do abaixo assinado de Senadores e Deputados em defesa da Maioridade, No dia 15 de setembro de 1840, na sessão imperial de encerramento
consta a assinatura de José Bento Leite Ferreira de Mello, Senador do Império da Assembleia Geral Legislativa, Senado, entrando Sua Majestade
o Imperador Pedro II na sala, sendo recebido pelo Presidente e se-
cretários, assume o assento do trono, e dirige as seguintes palavras:
“Augustos e digníssimos senhores, representantes da Nação. Se para
mim será sempre agradável o achar-me no meio de vós, hoje sinto um
vivo prazer pela oportunidade que tenho de reiterar-vos os meus cor-
diais agradecimentos pelas não equívocas provas de adesão e afeto
que me haveis testemunhado. A resolução por vós tomada, e aplaudida
pelos meus súditos, em todo o Império, de apressar a época da minha
maioridade, confio, Senhores, que produzirás os mais salutares efeitos
para a causa pública. Entrando no exercício dos meus poderes constitu-
cionais, eu folgo de ver que o Império se acha em amizade com todas as
potências estrangeiras; e, se meu coração se magoa com as discórdias
que têm afligido uma parte dos meus queridos súditos, espero da Divina
Providência, do bom sendo Nacional, de vossa coadjuvação e de meus
constantes desvelos pelo bem público, que elas desaparecerão no meu
Acervo da Biblioteca Nacional reinado, e que o País marchará ao grau de prosperidade e grandeza que
lhe compete entre as nações do mundo. Neste intuito, augustos e dig-
níssimos senhores representantes da nação, eu não pouparei esforços,
Imagem 28: Declaração da Maioridade de Pedro II
e sinto-me sustentado pela consciência de minhas sinceras intenções.
Será meu constante cuidado manter a paz, a honra e a dignidade da
nação, fortificar as nossas instituições por meio de discretos melhora-
mentos, sustentar a religião do Estado, proteger as liberdades públicas,
e promover o bem-estar de todas as classes da sociedade. Augustos e
digníssimos representantes da nação, despedindo-me de vós no fim des-
ta importante sessão legislativa, eu vos dou meus agradecimentos pelo
zelo e assiduidade com que vos empregastes nos negócios do País, pelo
suprimento liberal que haveis concedido ao meu governo, atendendo às
necessidades públicas e por aquele com que curastes da sustentação e
decoro da minha imperial casa, e da prosperidade de minha família.
Fonte: Jornal “O Aristarcho”, 14 de maio de 1840. Acervo da Biblioteca Nacional Eu procurarei corresponder a vossa solicitude, fazendo que a despesa

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pública seja administrada em todos os seus ramos com a mais severa A Sagração e Coroação do Imperador Dom Pedro II ocorreu no dia
economia compatível com o serviço. Recolhendo-vos a vossos lares no 18 de julho de 1841. Foram diversas cerimônias com todas as pompas
intervalo da sessão, eu espero, senhores, que empregareis o vosso não que um chefe de estado e imperador possuía direito. Voltemos naque-
desmentido patriotismo em promover melhoramentos ao País, em le tempo e tentemos visualizar a estrutura das festividades. A varanda
acalmar as paixões, e em arreigar no coração de nossos compatriotas imperial que o governo mandou construir para a sagração do Sr. Dom
o amor às instituições nacionais e ao meu imperial trono, fiador de sua Pedro II ocupou uma superfície de quase14.000 palmos quadrados.
estabilidade e da prosperidade pública” 139. Após ter discursado, Pedro Era um monumento diferenciado daqueles que já haviam sido cons-
II recebeu os cumprimentos de todos os presentes e se retirou ao som truídos na época, e inclusive, para a sagração do Imperador Dom João
de vivas e aclamações festivas. VI em 1817. O conjunto era composto de uma Capela, que do seu adro,
Em Pouso Alegre, as atitudes que demonstravam o contenta- se estendia um passadiço que se estendia a uma varanda. Ornada com
mento e felicidade de José Bento, foram sentidas intensamente, esculturas compostas de quatro soberbos leões na escada, o busto do
principalmente pelo Partido Conservador. Mesmo preocupado com Imperador ladeado por duas estatuas grandiosas representando a
toda a situação e os descontentamentos políticos, José Bento promo- Justiça e a Sabedoria, atributos do trono. As armas Imperais traziam
veu alguns melhoramentos na Vila de Pouso Alegre. Manutenção e a seguinte inscrição: “Deos protege o Imperador e o Brazil”. Estátuas
construção de templos católicos, infraestrutura espacial e questões também figuravam os principais rios do Brasil, sendo enriqurcidas
sociais foram algumas das realizações e marcas que pode deixar. por estruturas de ouro e bronze. Era esse um pouco do cenário da
coroação de Dom Pedro II.
Imagem 29: O Jovem Dom Pedro II Segundo o periódico carioca “Jornal do Commercio”, “(...) S. M.
I recebeu, na sala em que estão as insígnias imperiaes, perante toda a
côrte, o commandante superior da guarda nacional, acompanhado dos
commandantes de legião e dos corpos, que tiverão a honra de lhe apre-
sentar a coroa cívica, que S. M se tinha dignado aceitar; e a hum discur-
so recitado pelo commandante superior, S.M respondeu que agradecia
muito o testemunho de fidelidade que lhe dava a guarda nacional do
município da Corte. A coroa foi collocada, por ordem de S. M. entre a
insígnias imperiaes. Passando S. M meia hora depois à sala do throno,
recebeu as felicitações do senado, da câmara dos deputados, do corpo
diplomático, das assembléas legislativas provinciaes, dos presidentes
de província, das academias e sociedades scientíficas, das câmaras
municipaes, dos cabidos, ordens religiosas e outras sociedades, e depois
todos os cidadãos que concorrerão ao paço, cujo número excedeu a 600.
Retirou-se a seus aposentos às 4 horas da tarde, e às 7 ½ honrou com
Fonte: Acervo da Biblioteca Nacional sua presença o Theatro São Pedro de Alcântara” 140. Para participar

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das festividades, o Cabido de São Paulo fez-se presente, representado va o prestígio e a procura de interessados pelo Partido Conservador
pelos Senador Cônego José Bento Leite Ferreira de Mello e Visconde local. Ao se estabelecer na Vila de Pouso Alegre, o jovem advogado e
de Congonhas (Lucas Antônio Monteiro de Barros). professor público João Cassiano de Santiago, natural de Campanha,
manifestou interesse pelo partido. Não foi diferente também a mani-
Imagem 30: Notícias das festividades de Sagração e Coroação festação do Juiz de Direito substituto da Comarca, o Bacharel Bernar-
dino José de Campos, natural da Bahia, além do cargo de juiz, ocupou
outras funções no município, inclusive o de Fiscal da Câmara. Foi um
importante ingresso naquele partido, pois, pouco a pouco, assumiu
a liderança, tornando-se o mentor daquele grupo político. No ano
de 1841, por influência do Partido Conservador, foi nomeado como
vigário encomendado de Pouso Alegre, o Padre José Pedro de Barros
Mello. Ao todo, a Vila possuía cinco sacerdotes: José Bento, João Dias
de Quadros Aranha, José Pedro de barros Mello, Joaquim Daniel e
Thomaz Pinto Moreira. Todos eles exerciam atividades em diver-
sos negócios, lavoura e até mesmo na política, vivendo retirados do
meio eclesial, e, em consequência, “A Igreja frequentemente fechada,
concorriam apenas, aos domingos, moradores da roça e algumas pes-
soas da boa sociedade do lugar. Nem mesmo no sentido de melhorar a
Matriz se fazia alguma coisa. Era ainda a Igreja do antigo povoado do
Mandu, mal acabada e tosca, em cuja nave se enterravam mortos” 141,
o que deixou a desejar nessa época os aspectos religiosos da localidade.
Os primeiros dias do ano de 1842 já vivenciavam as crises e con-
flitos vivenciados pelos Partidos Conservador e Liberal. Prenúncios
de conflitos já eram percebidos nesses dias, o que desenrolou uma
Sedição na Vila de Pouso Alegre. A população dos distritos das Antas
e de Borda da Mata estava amedrontada, pois viam homens armados
perambulando pelos quarteirões. Estes tumultos que se formavam se
deviam a um plano já arquitetado, desde o dia primeiro de janeiro, por
Acervo da Biblioteca Nacional alguns sediciosos unidos ao Juiz de Direito Bernardino de Campos.
Na mesma sessão, o presidente da Câmara João Dias de Quadros Ara-
Ao retornar para a Vila de Pouso Alegre, José Bento se atentava ainda nha faz a leitura de uma carta do seguinte teor: “Tenente Antônio F. da
mais aos interesses do Partido Liberal local. Mal sabia ele os desafios Rocha. Assim que Vossa Senhoria receber esta, em virtude do ofício que
que iria enfrentar daquele momento em diante. A cada dia aumenta- neste instante acabo de receber do Juiz de Direito, vossa mercê avise a

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todas as pessoas que forem do quarteirão, sem reserva de ninguém e que vinha da villa de Camandocaya reforçar os improvisados republicanos.
venham bem armados, até amanhã pelas 8 horas para eu os determinar; Então a agitação foi a seu auge. Para a desgraça de Pouso Alegre alli
esta ordem também é do Sr. Barros e do Padre José Pedro. Exija que não se acha o juiz de direito substituto, digna escolha do Sr. Veiga quando
há de perder hora; não se descuide, pois está tudo em sua figura; esta presidente. Esse especulador, querendo em tudo seguir as ordens da
gente é para fazer corpo na vila, pois assim é preciso, senão ficamos ven- facção, afim de se arranjar, em vez de usar da influência, que lhe dá o
cidos, e vossa mercê também é chamado, não falte nesta occasião!” 142. lugar que occupa; (ainda que indignamente) para acalmar a agitação,
Em seguida, o Presidente da Câmara propôs que por meio de um ofí- chamar à ordem os intrigantes, que assim abusavão da credulidade de
cio se informasse ao Governo Provincial os ocorridos nos Distritos de hum povo simples; he elle mesmo, que, secundado por outro Sr. Bacha-
Borda da Mata e Antas, e, juntamente, uma cópia da carta recebida. rel, cujos conselhos e influencia desvastárao a infelliz Villa de Franca,
O periódico “O Maiorista” publicava em suas páginas um relato se apresenta reforçando o partido dos intrigantes; manda notificar
intitulado “Os acontecimentos de Pouso Alegre”, referindo-se ao o povo, arma-o, e com huma força de cento e tantas pessoas a dispo-
Partido Conservador como uma facção que utilizava da máxima “di- sição, e commando de dous meirinhos percorre as ruas da Villa e leva
vidir para reinar”, por meio de provocações e até mesmo a inserção de o susto ao interior das famílias! Então comecçarão as provocações, e
armas para a população. Os acontecimentos na Vila de Pouso Alegre foi precisa toda prudência da parte dos cidadãos pacíficos, da câmara
“(...) povoação, que até agora fora o assento de paz, e da harmonia, se municipal, e officiaes da Guarda Nacional, para que a Villa de Pouso
vio pelas intrigas de três miseráveis forasteiros surgir hum partido, Alegre não fosse o theatro de huma horrível carnificina. Felizmente a
que levado das mais iniquas sugestões tem ameaçado a tranquilida- parte sensata da população conheceu o laço que se lhe armara, e a pro-
de pública, e talvez mesmo a vida de alguns cidadãos! Quem poderá vocação directamente feita a certos indivíduos, para os comprometer,
acreditar que amigos do governo, os agentes da autoridade pública, ou mesmo assassinar. Até este ponto ainda nenhum governo tinha le-
sejão os que por intrigas mesquinhas perturbão a ordem, e ameação vado a malvadez! Preciso he que estejamos prevenidos contra esse novo
as vidas dos cidadãos pacíficos? Pois he o que acaba de acontecer em meio governamental; he necessário que conheçamos a infernal táctica,
Pouso Alegre! Segundo as instrucções da côrte, onde se acha o club de que lança mão a facção olygarchica; ella quer animar os partidos,
director, da facção olygarchica, hum forasteiro, que se estabelecêra leva-los a braços, para poder afirmar-se no poder. Nós fazemos este
com hum pequeno negócio naquella Villa, começou a espalhar que no aviso aos nossos amigos tanto como aos nossos adversários; contenha-
dia dous de Dezembro, o Sr. Senador José Bento proclamaria huma mo-nos todos dentro do círculo do justo, cada hum pleitêe a sua causa
república, a qual o mesmo Exmo. Senador se coroaria Rei- (que misé- pelas vias constitucionais; respeitemos mutuamente as intenções, e as
rias!), que correria muito sangue, e outras que taes. Assim consegui- pessoas, e mais que tudo repilamos essas infames sugestões, que põe
rão atemorizar huma população simples, deixando de comparecer a em prática os coripheus da facção, por que se a desgraça, (o que Deus
Guarda Nacional, que fora avisada para a parada, e solemnidade do não há-de permittir) nos levasse a huma luta huns contra os outros, as
dia natalício de Sua Majestade o Imperador. Como porém chegado era desgraças serião as mesmas para os vencedores e vencidos; entretanto
o dia, em que o embuste devera ser manifesto, para conservarem a illu- que os ambiciosos, que para sua própria utilidade taes conselhos dão,
são, recorrem à novos tramas. Ora vinha huma força de huma freguesia serão os únicos a gosarem, e mesmo a rirem-se de nossa credulidade” 143.
visinha para atacar os habitantes da villa; ora era hum exercito, que Por meio deste relato, de um periódico liberal, percebemos os atritos

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políticos vivenciados na Vila de Pouso Alegre, o que levará anos mais e amigos. O Partido dos Conservadores cada dia ganhava mais forças,
tarde a um crime sem solução. e a participação na política local se tornava mais intensa. Diversas
Os acontecimentos sediciosos ocorridos em Pouso Alegre tive- modificações aconteceram na esfera pública, muitos funcionários
ram repercussão. Um requerimento do Senador José Bento foi apre- foram substituídos, e, até mesmo, a provisão de vigário encomendado
sentado à Câmara Municipal e lido na Sessão Extraordinária de 21 de dirigida ao Padre Joaquim Daniel não foi confirmada, e sim, a resti-
fevereiro de 1842, contendo o seguinte teor: “Ilustríssimos Senhores tuição da nomeação do Padre João Pedro de Barros. Os Liberais aos
da Câmara Municipal- O Senador do Império José Bento Leite Ferreira poucos iam deixando a política local, e, a Câmara Municipal de Pouso
de Mello, Vigário Collado nesta Freguesia de Pouso Alegre, necessita a Alegre, em meados de 1842, se tornava ainda mais conservadora145.
bem de seu direito e justiça que esta Câmara atteste ao pé desta a que Com o grupo de Conservadores formados, a Câmara incitou em suas
contém os seguintes artigos-. Primeiro= Se o Vigário Encomendado reuniões a vingança e o desejo de intrigas aos vereadores Liberais.
Joaquim Daniel Leite Ferreira de Mello tem servido com geral satisfa- _________________
ção e estima particular de seus fregueses cumprindo exactamente seus
deveres.- Segundo= Se esta Freguesia desde o primeiro dia de Janeiro Após o episódio da antecipação da maioridade do herdeiro do trono
do corrente anno até agora tem estado em contínua agitação e Sedição ainda adolescente, é iniciado um governo marcado por um longo
promovida pelo Juiz de Direito Substituto, sendo um dos principaes período de estabilidade no país. Os liberais assistem sua vitória por
influentes da mesma o Padre José Pedro de Barros Mello repartindo pouco tempo. Em 01 de maio de 1842, o Imperador Dom Pedro II, ce-
este dia claro e sol fora, armas e cartuchos naquelles primeiros dias dendo as pressões dos Conservadores, dissolve a Câmara dos Deputa-
do dito mês, aos incautos e inespertos roceiros os quaes tem procurado dos, cuja maioria era liberal, antes mesmo de ser empossada, pois, em
açular contra as pessoas mais sisudas desta villa as quaes se acham em 1841, houve uma reforma no Código do Processo Criminal e a criação
completa coação.- Terceiro= Se no meio deste terror e coação o mesmo de um conselho de Estado. Indo contra tais medidas, o Partido Libe-
Padre José Pedro de Barros Mello, coadjuvado pelo Juiz de Direito ral, por meio de seus chefes, sustentava a contrariedade desde o dia
Substituto e outros fez assignar huma Representação em pról de si, cujo 07 de abril. Os Senadores Vergueiro, José Bento e Paula Souza nega-
fim ignorarão huns, e outros assignaram, no meio das ameaças de re- ram veementemente por meio de seus votos para que fosse aprovada.
crutamento e perseguição, subtraindo-se, a despeito desse meio, a gente O periódico “Diário do Rio de Janeiro” traz em sua capa um ma-
mais sensata, de uma tal assignatura conseguida pela maneira expen- nifesto feito por membros dos Conservadores falando sobre a atual
dida. Em cujos termos espera o suplicante que Vossas Senhorias em Câmara: “(...) A actual Câmara dos Deputados, Senhor, não tem força
faltar a justiça que lhes assiste e no interesse que devendo tomar pela moral indispensável para acredita seus actos e fortalecer entre nós o
tranquillidade, buscando harmonia do Município que representam, systema representativo (...) A existência d’essa Câmara não é compa-
possam ao pé deste o Attestado sobre os tópicos retro e supra referidos tível com a idea de um governo regular; por n’ella predominão homens,
no que responde a Justiça. O Vigário colado José Bento Leite Ferreira que pondo de parte os meios constitucionaes, não recuão diante de
de Mello” 144. A Câmara, no entanto, atestou ser tudo verdade. outros que subvertem todas as idéas de organização social, invadem,
Os fatos acontecidos na Vila de Pouso Alegre diziam respeito ursupão e tendem a constranger no exercício de suas attribuições os ou-
mais ao Senador José Bento do que aos seus companheiros de partido tros poderes do estado (...) Uma Câmara legislativa descocneituada é a

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maior calamidade que pode affligir a nação”146. Era essa visão passada A figura de José Bento não possuiu grande participação presencial
pelos Conservadores, de uma corporação repleta de vícios e erros. nessas revoltas150. Quando o movimento estava rompendo nas Pro-
Por meio dessas afirmações e acusações, o Ministério do Estado, víncias de Minas Gerais e São Paulo, Tobias de Aguiar, chefe supremo
juntamente com a aprovação do Imperador, estabelece um decreto da Revolta, exigiu que José Bento partisse imediatamente do Rio de
de dissolução da Câmara dos Deputados: “Tomando em consideração Janeiro e se dirigisse para Pouso Alegre, para que, consequentemen-
o que me exposerão os meos ministros e secretários d’estado no rela- te, auxiliasse o movimento em Minas Gerais. Segundo José Antônio
tório d’esta data, e tendo ouvido o meu conselho d’estado; hei por bem Marinho, José Bento, preferiu permanecer na corte, a fim de prevenir
usando das atribuições que a Constituição me confere no artigo 11 §5º, o governo, e adverti-lo a tomar providências enérgicas a respeito de
dissolver a Câmara dos Deputados, e convocar desde já outra que se Minas, enviando mesmo para lá qualquer força, e obstando a alguma
reunirá no dia 1º de novembro do corrente anno. Cândido José de Araú- manifestação no sentido de São Paulo. Permaneceu no Rio de Janei-
jo Vianna, do meu conselho, ministro e secretário d’estado dos negócios ro, para iludir, assim, a precaução do Ministério151.
do Império, e tenha assim entendido e faça executar com os despachos
necessários. Palácio do Rio de Janeiro em 1º de maio de 1842, vigésimo Imagem 31: Revolução Liberal em Sorocaba, 1842, quadro de Ettore Marangoni
primeiro da independência e do Império. Com a rubrica de S.M.I.- Cân-
dido José de Araújo Vianna” 147. Nestas circunstâncias, sobe ao poder
o Partido Conservador.
A Revolução Liberal148 tem início em 17 de maio de 1842, e ocorre ao
mesmo tempo nas Províncias de São Paulo e Minas Gerais, com o obje-
tivo de contestar a elevação do Partido Conservador ao poder, preten-
dendo abalar a posição dos Conservadores frente à política nacional.
Os liberais Padre Antônio Diogo Feijó e Teófilo Benedito Ottoni lide-
ram respectivamente o levante em Sorocoba (SP) e Barbacena (Minas
Gerais), nomeando seus próprios presidentes para estas Províncias.
Com a duração de quase três meses, a Revolução, marcada por conflitos
até mesmo armados, foi contida pelo Brigadeiro Luís Alves de Lima e
Silva, o Barão de Caxias. Na Província de São Paulo, o Barão de Caxias
combateu os revoltosos em julho daquele ano, e no dia 20 de junho,
Padre Feijó, que assumira a “presidência” da Província foi preso. Já em
Minas Gerais149, o levante foi derrubado no dia 20 de agosto, sendo que,
Teófilo Ottoni, Marcelino José Ferreira Armond e Camilo Ferreira Ar-
mond foram enviados para prisão em Ouro Preto e Barbacena. No ano
de 1844, o Imperador Dom Pedro II concedeu anistia aos envolvidos
nas Revoltas, julgando que essas guerras civis foram inequívocas. Fonte: https://www2.jornalcruzeiro.com.br/materia/387804

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Imagem 32: Batalha de Santa Luzia, Revolução Liberal tos e ocorridos no Município durante a rebeliam da Província, querendo
em Minas Gerais, 1842 (Célio Nunes) pontualmente, como julga, de um rigoroso dever, satisfazer as ordens de
Vossa Excellência, e considerando de summa importância essa missam,
encarregou a huma Comissam o trabalho das informações que se preci-
sasse colher, a fim de ser respondida a Portaria a qual tendo servido ofi-
cialmente as Authoridades Civis desta Villa e Comandante Superior da
Guarda Nacional do Município, apresentou seu parecer, que foi aprova-
do; pelo que a mesma Câmara Municipal tem de informar a Vossa Excel-
lência pela ordem daquelles quesitos o seguinte- Em nenhum Districto do
Município foi ao menos perturbada a tranquilidade publica, a rebeliam
não pode achar echo em nenhum, ainda mesmo quando eram quasi todos
ameaçados pela revolta de Sam Paulo, em vista de sua proximidade com
os pontos rebeldes daquella Província, especialmente para o lado de São
José das Formigas, em consequência da contiguidade das Villas do Nor-
te, entre ellas a de Pindamonhangaba, e mais particularmente o Districto
de São Bento, (...) rebeldes tentaram dominar o mesmo Districto de São
José das Formigas, onde se conservam um destacamento de Batalhão (...)
do mando do Capitam Francisco Ignácio Vieira, ao qual com a prestante
Fonte: https://www.luzias.com.br/ e muito imediata coadjuvaçam do Sub-Delegado Manuel Francisco Bar-
bosa Sandoval, foi devida a dispersão dos rebeldes de São Bento, e o não
ser o Districto invadido, nem mesmo por quaesquer grupos de pessoas
A Câmara Municipal da Vila de Pouso Alegre, recebeu do Governo Pro-
depois da marcha das forças do sul daquella Provínciaao mando do bene-
vincial, uma Portaria para que relatasse acerca dos ocorridos no muni-
mérito Barão de Caxias, de que resultou a pacificação das mencionadas
cípio durante a rebelião em 1842. Na Sessão Extraordinária do dia 19 de
villas do norte. Não podia pois ter sido reconhecido o intruso Presidente
setembro de 1842, uma comissão formada elaborou a resposta à Porta-
José Feliciano Pinto Coelho da Cunha em todo o Município, não por que
ria enviada no dia 27 de agosto, requisitando informações sobre “(...) as
isso não tivesse porventura sido tentado, como se deprehende o processo
Authoridades Civis e Militares desta Villa, e que fizeram durante a rebe-
que teve lugar pela Delegacia desta Villa em o mês de junho deste anno
liam, os esclarecimentos a respeito da mesma (...)152. Em resposta, a co-
contra os cidadãos José Antônio de Freitas Lisboa que foi pronunciado
missão da Câmara Municipal de Pouso Alegre, enviou ao Governo
como incurso no artigo oitenta e sete do Código Penal, e absolvido no jury,
Provincial a seguinte argumentação: “Illustríssimo e Excellentíssimo
José Borges de Almeida, Aureliano Baptista Pinto de Almeida e Maxi-
Senhor. A Câmara Municipal da Vila de Pouso Alegre, tanto que lhe foi
miano José de Brito Lambert, os quaes ficaram obrigados e assignarão o
presente a Portaria desse Excellentíssimo Governo, datada de 27 de
Termo de Segurança, a exceção do último, que sahio antes fugitivamente
Agosto próximo pretérito, ordenando-lhe certas e determinadas declara-
desta Villa, e andou como é público entre os rebeldes de Baependy, até que
ções, quaes são as relatadas em três quesitos, tendentes aos acontecimen-

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foi preso, e remetido da cidade de Campanha para o Rio de Janeiro. Vossa te n’aquelle lugar onde o seu serviço não foi, nem menos pesado, nem
Excellência está ao facto das occorrências, que antecedentemente as menos valioso. Pode-se pois dizer que o Districto desta Villa, o de Ouro
duas rebelliões de São Paulo e Minas, se sucederão neste Município, ellas Fino, Antas, e São José das Formigas, prestaram os mais relevantes ser-
contão mesmo das peças officiaes do Juiz de Direito Substituto da Co- viços à causa da Legalidade, sobretudo se se advertir, que os chamados a
marca desde então que pareça, se premeditarão os preparativos do rom- fazel-o, e os voluntários nem hum significaram derão da mais leve repug-
pimento, o qual sem dúvida estará preparado, digo, planejado para todo nância, e sua satisfação, com seu enthusiasmo era geral, a ponto de se
o Brasil, e este município não podia deixar de ser hum dos pontos escolhi- haverem prestado gratuitamente, apesar do encomodo, e mesmo prejuízo
dos para o mesmo rompimento enquanto dominasse a influência do Sena- dos menos abastados. Uma subscrição se abrio nesta Villa para o susten-
dor José Bento Leite Ferreira de Mello, e razão há para crer-se nas to do destacamento aqui postado, e diversos contingentes nas marchas,
tentativas dos revolucionários, que acima se notou. Desde então se distin- mesmo das tropas de Mogi Mirim, Campinas, que tem regressado da
guirão os cidadãos amantes da ordem que poseram carreira ao progresso Campanha, concorrendo para ella muitos lavradores, principalmente
da desordem, e esses mesmos cidadãos, revestidos de authoridade pela mantimentos. Cabe ainda aqui notar a importância dos serviços do Co-
execução da Lei da Reforma, e substituindo as portas dos Officiaes demi- mandante Superior, que carregava com o peso e as encomendas de todos
tidos da Guarda Nacional, com muita honrosa menção ao Comandante os arranjos por mais minuciosos e impostumos que fossem, assim como o
Superior, cuja influência, crédito e outras qualidades cívicas, concorre- fizeram em Ouro Fino o Capitam Luiz Telles de Sousa, o Sub-Delegado
rão sobre tudo para firmar o espírito do povo, e dirigir a Guarda Nacional Francisco de Freitas Bueno, recomendável pela sua retidam e autorida-
até então em completa insubordinação são as que devem ter a glória e o de, e outros mais cidadãos, da mesma maneira que o Sub-Delegado de
dever salvando todo o município da lava revolucionária, já pela vigilante São José das Formigas Manoel Francisco Barbosa Sandoval, e outros
e rigorosa polícia que até agora está estabelecida, já pelo recesso da força d’aquelle districto. A marcha do contingente para a Campanha só por se
armada, por isso que os Guardas Nacionaes atacaram em todos os pontos dá a importância do serviço dos que foram n’ella compreendidos, talvez
limitrophes com a Província de São Paulo, nesta Villa, e aonde era mister fosse assim mesmo preciso anotar alguma distinção entre seus officiaes,
exercer activa polícia, e além d’isso formaram para a cidade da Campa- os quaes são dignos de louvor por se haverem recusado a qualquer grati-
nha, a disposição do Comandante Superior Francisco de Paula Bueno da ficação, mas não se julga a Câmara (...) para entrar em semelhante aná-
Costa um destacamento de mais de 360 praças, muitos dos quaes tiveram lise de forças praticadas fora de suas vistas. Mesmo d’entre imensos
que debater-se com os rebeldes de Bapendy. Os nomes desses cidadãos, sacrifícios em preparação das forças de cada um Cidadão prestante não
com as competentes anotações em relação ao segundo quesito da Porta- é possível descer a todos as minuciosidades entretanto que bastante foi
ria de Vossa Excellência vão na relação junta copiada das que a Comis- dicto em cumprimento às ordens de Vossa Excellência. Pelo que respeita
são deteve das Authoridades a que se dirigio a exceção daquelles dos ao terceiro quisito nada pode a Câmara adiantar, por isso que nenhum
membros da Câmara, que nellas vem mencionados. Todos os Districtos documento referente à rebeliam obteve, eu tenho notícia, para poder re-
forneceram Guardas Nacionaes para o serviço da Polícia, e para a Mar- quisitar, afim de enviá-lo a esse Excellentíssimo Governo. Deos guarde a
cha da Campanha foram chamados desta Villa, Ouro Fino e Antas, e com Vossa Excellência muitos anos. Paço da Câmara Municipal da Villa de
quanto seriam empregassem para isso os Guardas Nacionaes do Bata- Pouso Alegre em Sessão Extraordinária de 19 de setembro de mil oitocen-
lhão de São José das Formigas, foi devido ao perigo que estão era iminen- tos e quarenta e dous 153.Por meio desse relato minucioso, tivemos notí-

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cias de como a Vila de Pouso Alegre e região vivenciou aqueles Após discorrer longos e convincentes apontamentos, José Bento, por
momentos da Revolução Liberal, mesmo que, apresentando uma tona- meio de sua sinceridade, proferiu: “(...) Sim a Nação não de illudirá: ella
lidade crítica aos Liberais, pois, a composição da Câmara naquele mo- sabe, que eu sempre estive no posto dos defensores de sua Independência
mento era em sua maioria do Partido Conservador. e Instituições; sabe que pertenço à opinião política, que promoveo e con-
De José Bento pouco se fala de algum envolvimento direto na seguio, que triumphasse a plenitude dos direitos do Monarcha, com a sua
Revolução. Do processo instaurado, apenas se menciona e torna con- maioridade, contra os esforços da opinião, a que pertence o Ministério
clusivo que, José Bento, estando no Rio de Janeiro, o centro da ação, de 23 de Março e seus partidistas políticos; sabe apenas que esse Minis-
foi apenas um dos propagadores da “Sociedade dos Patriarcas Invisí- tério apenas subio ao Poder, procurou perpetuar-se nelle, arrancando do
veis”154, pois em sua residência, quase que diariamente, se reuniam os Corpo Legislativo, com simulados pretextos de perigo da Monarchia, e da
chefes liberais, pessoas estas que promoveram a rebelião. De outros Sociedade, Leis da maior importância, contra cuja adopção pugnamos,
depoimentos que constaram no processo, nada pode acusar a José eu e meus amigos políticos, por todos os meios legaes (...)” 157. José Bento,
Bento de alguma ação suspeita. leal aos seus correligionários, apenas foi simpático à vitória de seus
Em resposta dada ao Senado à pronuncia feita pelo Juiz da 2ª Vara companheiros, não se envolvendo mais a fundo nestas revoltas.
Bernardo Augusto Nascentes de Azambuja, no processo organizado No decorrer do ano de 1843, nada de expressivo se realizou na
na Corte pelos movimentos de São Paulo e Minas Gerais, José Bento Vila de Pouso Alegre. Como afirma Amadeu de Queiroz, “a Vila de
é direto e enfático, questionando o crime a que era acusado:“Quando Pouso Alegre, apresentava já sinais da decadência moral e material
determinou o senado que eu respondesse ao processo, o meu primeiro em que ia cair”158, sendo que, os conflitos políticos se tornavam cada
pensamento foi dizer: veja o senado o processo e julgue como a sua cons- dia mais intensos. Não se registraram melhoramentos naquele ano,
ciência lhe ditar (...)Onde está porém o corpo de delicto em todo este apenas a construção de duas pontes na região do Rosário. A econo-
processo monstro? Onde está provada a existência dos delictos, indica- mia também ia de mal a pior e as únicas pequenas indústrias daque-
dos nesta lista interminável de crimes políticos por que foi pronunciado, la localidade eram a de aguardente.
ou ao menos de algum delles? 155. José Bento questiona os documentos Neste último ano em que esteve no Senado, José Bento participou
que acompanham o processo, que se referem a um espião posto a lhe com assiduidade nas Sessões, até a última que ocorreu em 24 de outu-
vigiar, e aponta pessoas da amizade do Senador que lhe iam visitar, e até bro de 1843, com a presença do Imperador Dom Pedro II, que ao final se
mesmo da menção de uma Sociedade Secreta, por meio de um estatuto. despede: “agradeço-vos a cooperação eficaz que tem dado ao meu gover-
Esta Sociedade era a mesma que defendia a Independência do Brasil. O no, e espero da vossa lealdade e patriotismo que continuareis a concorrer
espião ainda afirmava que, as deliberações para as revoltas da Provín- comigo para assentarem bases sólidas e duradouras o sistema político
cias foram tomadas em casa do Senador José Bento, sendo que, neste estabelecido pela Constituição do Império” 159. Terminado o discurso, o
período apontado, José Bento esteve em Santos. Imperador se retirou, e em seguida, todos os Senadores e Deputados.
No decorrer da resposta, o acusado afirma: “(...) Quem não vê que o pro- José Bento mal sabia que esta seria a sua última sessão como Senador.
cesso foi hum meio de perseguição concebido pelos homens do Poder, e Mesmo desconfiado de que algum mal iria lhe acontecer, não esperava
executado impudentemente pela Polícia para saciar vinganças, retirar que fosse de tão imediato. O retorno para a Vila de Pouso Alegre seria
da Tribuna Membros da Legislatura que detestavão e temiam (...)” 156. definitivo, fruto do ódio político que se instalara naquelas terras.

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III
Adversidades políticas:
o assassinato do Cônego Senador José Bento

Se antes o que era comum a todos, a busca por uma identidade nacio-
nal, o afastamento de Dom Pedro I do poder, e das ideias restaura-
doras, do Brasil continuar a sendo governado por Portugal, de certa
maneira, o retorno ao passado colonial, os Liberais foram intensos
lutadores para a verdadeira independência do país. No entanto, com
o passar dos anos, conflitos internos e pessoais surgem, divergências
políticas, vaidades, ânsia pelo poder, ambições, levaram a cisão dos
movimentos políticos da época, e o surgimento de uma nova corrente
pensamento, a qual fazia parte a oligarquia, o Partido Conservador.
As intrigas políticas vinham se arrastando desde o ano de 1843,
provocações e vinganças faziam parte do contexto do novo ano que
se iniciava, os conservadores estavam prontos para rebater o que
os liberais haviam feito nos anos anteriores. A Província de Minas
Gerais, no início do ano de 1844, foi marcada por um quadro político
de muito ódio entre os partidos, que procuravam vencer o inimigo,
mesmo que, se fosse preciso, exterminar para sempre. Esta luta
custou cara para José Bento. Os Conservadores procuravam um
homem a quem pudessem destilar toda sua raiva e rancores, alguém

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que fosse responsável por crimes comuns e centralizava, como líder, constar mandei fazer este assento que assigno” 161. Apontam-se como
as nuances do Partido Liberal. José Bento era tido como emissário a mandantes do assassinato de José Bento pessoas que possuíam
quem se atribuía todos os males e se responsabilizava todas as men- destaque na sociedade, prestígio político e seus inimigos. Por meio
tiras, calunias e intrigas direcionadas aos representantes do partido de buscas constantes, passados alguns dias, a pessoa que desferiu
conservador local. Não se rebaixava a ninguém, chegando até mesmo os tiros foi encontrada. Seu nome, Dionísio Tavares da Silva, e teve
a ridicularizar com tom de superioridade os seus oponentes, o que os auxílio de seus irmãos, naquele plano que se consumou. O assassino
deixavam ainda mais irritados 160. foi preso na cidade de Barbacena-MG, cumprindo pena de 30 anos
Com a Câmara Municipal da Vila de Pouso Alegre liderada em em regime fechado.
sua totalidade pelos Conservadores, os Liberais não possuíam mais O periódico “O Brasil”, de cunho conservador, nos traz uma maté-
voz e vez. Enquanto distinguiam-se dos mais altos prestígios sociais, ria (mesmo tendo saído alguns dias após o assassinato) denominada
a veia conservadora se intitulava “donos da Vila de Pouso Alegre”, “Travessuras do Sr. Padre José Bento”. No decorrer do texto, o autor
ainda mais que, José Bento, nesse período, permaneceu no Rio de relata sobre o retorno de José Bento para a Vila de Pouso Alegre. Em
Janeiro dois anos seguidos (1842-1844) devido às necessidades do Se- tom de hironia, assim expressa: “Não tendo este Sr. a influência que
nado que lhe consumia. O seu retorno à Pouso Alegre, nos primeiros outr’ora gozara na sua freguezia, da qual a algum tempo vive retirado,
meses de 1844, não seria o mesmo. O Padre que se tornou Cônego, eis que volve ao Mandu, a fim de ver se alcança por meio de suas tretas
Deputado pela Província de Minas Gerais e Senador pelo Império, foi perturbar o socego, que sem interrupção, tem havido no município de
assassinado no dia 08 de fevereiro de 1844, uma tarde de quinta feira, Pouso Alegre durante a sua ausência (...)” 162. A perturbação, relatada,
quando saía de sua residência na Vila de Pouso Alegre (atualmente se deve a informações recebidas pelo jornal, em que José Bento se
se encontra a Escola Estadual Monsenhor José Paulino) seguindo agitara com o Padre José Pedro de Barros Mello, vigário da vara, no-
para sua propriedade, a Fazenda do Engenho, localizada onde hoje se meado pelo Bispo Diocesano de São Paulo. Nesta época, José Bento
encontra os bairros do Esplanada e Ribeirão das Mortes. Dois tiros era o vigário oficial da Igreja Paroquial de Pouso Alegre, e, ao reassu-
de garrucha tiraram a vida de José Bento, e ao cair do cavalo que o mir suas funções, Padre José Pedro retoma suas atribuições na Vara
conduzia, agonizou nas terras do Mandu. Foi logo socorrido pelo Dr. de Pouso Alegre. Ao terminar a celebração da Missa, o Padre Senador
José Antônio de Freitas Lisboa, médico da Vila de Pouso Alegre, mas realizou uma prática (sermão) em que “insultara gravemente o digno
nada adiantou, de imediato, fechou os olhos e faleceu. vigário da vara, e lançara em rosto a seus freguezes o procedimento que
Nos registros de óbitos da Paróquia do Senhor Bom Jesus de tiveram por motivo da Rebellião de 10 de junho, que alli encontrou a
Pouso Alegre, escrito cinco dias após o falecimento, se encontra o mais louvável e patriótica resistência” 163. Em tom de crítica, faz um se-
seguinte assento: “Aos treze de fevereiro de mil oitocentos e quarenta vero apontamento: “Meu Deus! Em que mundo vivemos! Um Parocho,
e quatro, nesta Villa, falleceo da vida presente, assassinado, sem sa- um ministro do crucificado, que deve empregar os últimos esforços para
cramentos por não dar tempo, o Senador José Bento Leite Ferreira de que suas ovelhas não se manchem no sangue, a quem incumbe o sagrado
Mello, na idade de cincoenta e cinco anos; teve officio de corpo presen- de suas obrigações proclamar paz e concórdia entre os fiéis, obediência
te e missa resada; seu corpo foi envolto em casula preta e sepultado na e respeito às leis e as autoridades é o mesmo, que esquecendo seu santo
catacumba dentro d’esta Matriz, e sua Alma encomendada; que para ministério, se constitue censor austero de acções só dignas de louvor,

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confundindo a sua voz sacerdotal, trocando-a pela voz de tribuno...” 164. se manifestassem ao contrário. Em 20 de janeiro de 1843, Dom Pedro
Ao encerrar a pequena matéria, o jornalista faz um prognóstico críti- II nomeou Honório Hermeto para conduzir um novo gabinete criado,
co da pessoa de José Bento, sendo um homem “cujo gênio atrabiliário uma espécie de “Primeiro Ministro” com autonomia para selecionar
é tão conhecido, é sempre o mesmo homem: no senado ultraja seus colle- os membros que iriam compor este departamento. Para dar continui-
gas, nas praças publicas eleva sua voz como um possesso, na igreja des- dade aos fatos, foi preciso explanar sobre este momento vivenciado
respeita os mais santos objectos, vasa todo o fel de pequenas vinganças, na Província de Minas Gerais e no Império.
paixão que o domina em excesso. E é elle um parocho, um senador!!! Em Com a demissão do Gabinete169, em 02 de fevereiro de 1844, vá-
que paiz vivemos” 165. Pelo tom das palavras expressas no periódico, rias ações foram tomadas, mediante ao crime do assassinato de José
percebemos os ânimos acirrados daqueles que compunham o partido Bento na Vila de Pouso Alegre. “Morto o senador Ferreira de Mello, a
conservador já direcionava para que o pior acontecesse. voz pública apontou como autores mandantes do assassinato, a Antônio
Passados mais de 177 anos, o crime do assassinato não possui res- de Barros e a seu irmão Pedro de Barros, um, comandante superior da
postas concretas. O que realmente teria custado a vida do Padre Se- Guarda Nacional, e outro, vigário encomendado da freguesia, ambos
nador José Bento? Divergências políticas? Posse indevida de terras? inimigos políticos do senador e membros influentes da Oligarquia. Um
Partiremos de notícias de jornais da época, discussões na Câmara dos homem que na Província de Minas valiosos e desinteressados serviços
Deputados e no Senado. Cônego Marinho, observando o contexto prestara à ordem pública, mas que restabelecida esta entendeu que
vivenciado naqueles anos, a respeito de um plano terrível, “cujos pri- não devia concorrer para o extermínio de uma parte tão considerável
meiros traços ensanguentados foram lançados na Vila de Pouso Alegre da população mineira, e que muito menos queria apoiar a política do
com o bárbaro assassinato do Senador José Bento Leite Ferreira de bacamarte, o coronel Julião Florêncio Mayer (Meyer), achava-se no
Mello” 166. A oligarquia estava agitada, em diversas partes do Império, exercício de delegado de polícia, e dando as providências, que tão grave
apresentando-se inflamados, no intuito de provocarem seus oponen- caso exigia, fez ver em seus ofícios dirigidos ao Ministro da Justiça e ao
tes. A ânsia pelo poder os fizeram portar armas, e os que não foram Presidente da Província a fundada persuasão em que estava, de que os
exterminados pela lei eram calados para sempre, e, “(...) nem é somen- Barros haviam diretamente concorrido para o assassinato, lembrando
te o horroroso assassinato perpetrado na pessoa do Senador Ferreira igualmente a impossibilidade em que se achava de os perseguir, aten-
de Mello o fato que demonstra a existência desse diabólico plano” 167, ta a posição dos indiciados, e as providências que haviam eles tomado
como também tantos outros que se manifestavam contrários foram para se oporem a qualquer perseguição judiciária” 170. Mediante essas
ameaçados e assassinados. informações, uma das primeiras decisões do Ministro da Justiça em
O estado em que se encontrava a Província de Minas Gerais nos exercício foi a demissão de Antônio de Barros Pereira e Mello do car-
primeiros meses de 1844 nos direciona para o desenrolar dos fatos. go de Comandante Superior da Guarda Nacional. O chefe da Polícia
Era visivelmente a irritação dos ânimos, e a ânsia pelo extermínio. A interino, Doutor Pantaleão José da Silva, é encaminhado para a Vila
facção oligárquica, dirigida pelos Senadores Honório Hermeto Car- de Pouso Alegre, e, acompanhado de forças, empenhou todas as forças
neiro Leão e Bernardo Pereira de Vasconcellos168, queria a todo custo e meios para capturar os mandantes do assassinato de José Bento. Ao
consolidar o poder, a fim de dominar a política na Província e no País. serem denunciados, os irmãos da família Barros e Bernardino de Cam-
Estando firmada tal influência, tinha chances de dar cabo àqueles que pos são imediatamente presos e assim é iniciado o processo crime.

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A oligarquia ficou consternada ao saber da prisão de tais cidadãos. O Pharol Constitucional, da cidade Imperial do Rio de Janeiro, es-
Durante o processo, pensou-se em tirar o foco do então Chefe de tampou na capa do dia 27 de fevereiro de 1844, quase vinte dias após
Polícia, porém Doutor Pantaleão prosseguiu o processo realizando o ocorrido, a seguinte notícia: “Assassinato do senador José Bento
o inquérito das seis testemunhas. Neste entremeio, Dr. Pantaleão Leite Ferreira de Mello”. O texto inicia com palavras fortes, referin-
recebeu uma ordem do General Andrea171 para que retornasse à Vila do-se ao fato acontecido: “Os dias de luto e de desgraça não terminarão
Rica, e o processo foi passado para o Juiz Municipal José Inocêncio ainda para o malfadado partido nacional! Continuão a derramar-lhe o
de Campos172, na intenção de inocentar aqueles que estavam presos. sangue sem justiça e sem piedade; e agora mesmo o seu terrível marti-
Os planos dos oligarcas, mais uma vez se encaminhavam. Passados rilógio acaba de ser augmentado com a mais interessante victima! Ah!
alguns dias, Bernardino de Campos e os irmãos Barros estavam Podesse ella pela sua mesma importância ser ao menos a derradeira,
soltos, e o juiz declarou em sua sentença em que não se achava um que saciasse de uma vez a sede de extermínio de nossos bárbaros per-
crime com alguma prova consistente para possível condenação. seguidores” 175. Ao noticiar o dia de sua morte, na Vila de Pouso Ale-
Mesmo os queixosos apresentando suas insatisfações, e apelando gre, dirigiu-se aos possíveis mandantes, que cumpriam a sua missão
da sentença emitida pelo Juiz Substituto, nada foi aceito, negando- por meio de “ameaças, que não cessavão ali de dirigir a sua vida os
-lhes todo recurso apresentado. bons amigos, os alliados dignos e fiéis dos Srs. Honório e Paulino” 176.
Não houve uma averiguação com maior consistência, tendo em Honório e Paulino eram Senadores do Império, homens cuja influên-
vista, que na época, crimes como assassinato, eram tratados com cia estava sob a guarda dos Conservadores.
suma importância e sancionadas punições. O único resultado, se- O trajeto seguido por José Bento naquele dia é traçado pelo perió-
gundo Cônego Marinho, foi que, o honrado cidadão de nome Julião dico: “Erão quatro horas da tarde, quando recolhendo-se pacificamente
Florêncio Meyer173, em castigo de sua coragem e moralidade, tives- da villa para sua fasenda, acompanhado por um pagem, o desditoso
se de sofrer uma prisão por virtude de uma falsa denúncia contra senador foi acommetido por quatro assassinos, que o aguardavão de
ele dada pelos irmãos da família Barros, e se visse obrigado com os emboscada e que disparão-lhe duas balas, das quaes uma rompeo-lhe
parentes da vítima e todos os homens honestos daquela vila a aban- o estômago, e o varou até a espinha do dorso, sendo a outra empregada
doná-la para não ter a mesma sorte que vitimou José Bento Leite na região da orelha esquerda. No mesmo instante cahio morimbundo
Ferreira de Mello174. da cavalgadura, e entre os sons confusos, que balbuciou nas ancias da
morte, poude o pagem ouvir estas palavras- Ah! Meo pobre paiz!...
quero confessar-me” 177. O pagem, aquele que o acompanhava, e tes-
A Morte e o processo Crime nos Jornais do Brasil
temunhou todo o ato criminoso, com muito medo fugiu da cena do
crime, e, em direção à Vila, levou a todos a triste notícia.
As notícias do fatídico dia 13 de fevereiro de 1844 corriam pelos
Há algumas semanas atrás, segundo o periódico, quando no fim
quatro cantos do Império Brasileiro. Os principais Jornais da Corte
da última Sessão Legislativa do ano de 1843, José Bento comunicou
e periódicos nacionais estamparam suas páginas o assassinato do
a seus amigos senadores o seu desejo de passar as férias do parla-
Senador José Bento, e, por meio de diversas visões, noticiavam tal
mento na Vila de Pouso Alegre. O mais próximos “à porfia, dissuadi-
crime. Muitos dos periódicos replicavam a notícia, o que nos levou a
rão com força de tal viagem, lembrando-lhe os perigos, que n’aquelles
selecionar alguns para serem guardados na memória.

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lugares remotos correria um homem de sua importância política, a subdelegado requisita do comandante superior da Guarda Nacional
quem a facção tanto odiava (...)” 178, lembrando-lhe que, em outra 6 ou 8 homens para marchar em seguimento dos malfeitores; e este
províncias, diversos crimes de assassinatos haviam acontecidos pedido é recusado sob o fútil e falso pretexto, de só havião soldados
mediante ao ódio político criado pelos conservadores. Contudo, a para a ronda! Quem é esse commandante superior, que assim illude o
saudade falou mais alto, saudades do seu lar, dos amigos, dos afaze- cumprimento de uma das necessidades mais instantes e momentosas do
res cotidiano. E José Bento partiu. serviço, qual a de resalvar a vida do cidadão contra o bacamarte dos
Ao adentrar a Vila de Pouso Alegre, a sua recepção “tinha sido a malfeitores. Quem é? É o próprio assassino, segundo a voz publica; é
mais brilhante e lisongeira; roderarão-o de todas as provas de estima, um dos Barros, a quem a victima acusa na carta, é o chefe da facção
e consideração, que podia desejar um homem, que nunca aspirava Honório d’aquelle ponto da província; é o autor de quantas enormidade
a outro prêmio de seus sacrifícios além do applauso de seus concida- se ha alli commetido em nome da lei...” 181. O Jornal aponta como acu-
dãos” 179. Em meio às festividades que as pessoas simpáticas ao Se- sado dois membros da família Barros, um deles dirigente e expressão
nador faziam, outros não tão próximos, os membros da oligarquia maior da oligarquia em Pouso Alegre.
que faziam oposição à sua política, tramavam uma emboscada, por No decorrer da matéria, o periódico tece comentários sobre
meio de ameaças de morte, que chegavam cotidianamente aos seus a atuação de rivalidade, e até mesmo do uso da violência vindos de
ouvidos. Em uma carta, datada de 25 de janeiro de 1844, dirigida a membros do Partido Conservador em diversas partes do Brasil. En-
um de seus amigos residente na Corte, José Bento expressou a sua fatiza que “Tal é o estado lamentável, a que nos redusio essa facção,
situação e o que estava prevendo na pequena Vila de Pouso Alegre: que se preconisa a reorganizadora do paíz, que cobrio de sangue e
“(...) no dia 06 do corrente (dia de seus annos) fomos passar na fazendo calamidades; a defensora do throno, que incensou hontem, que insulta
do mano Manoel Leite, e sem haver convites, alli se acabarão reunidas hoje, que trahio e aviltou sempre; a mantenedora da ordem, que ella
duzentas pessoas mais ou menos; e esse dia foi empregado com aquelle symbolisa no bacamarte dos assassinos; da ordem, que funda na reac-
prazer, que pode haver em epocha tão desgraçada. Eu continuo a rece- ção, e na discórdia civil!” 182. Mesmo perdendo o poder político, como
ber as mais lisongeiras provas de amizade de todos os homens de bem, no caso do ministério, que caiu em 02 de fevereiro de 1844, o Partido
não só d’este município, mas também dos circumvinzinhos. Porém os Conservador conservou a influência, por meio do uso de ameaças e
esbirros da polícia estão damnados; os processos, os recrutamentos, e violência. E ao encerrar as reflexões feitas no jornal, o emissor deixa
as invenções infernaes se põem em prática por parte da oligarchia, para registrado naquelas linhas um apelo para que se tome providências e
vexar a população. Si eu fosse crédulo, me teria mandado ungir, e pre- sejam feitas as devidas justiças.
parado para morrer, pelas solemnes promessas, que fazem os Barroso
(Barros). Mas Deos é grande; e só morre quem tem seus dias findos...
Porém, como sou dos que estão fora da lei, não me devo contar seguro
(...)” 180. José Bento já pressentia o que iria acontecer, principalmente
com a última expressão escrita naquela carta.
Após o assassinato, o mesmo periódico questiona: “(...) O que
fizerão as authoridades para capturar os assassinos? O supplente do

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Imagem 33: Jornal Pharol Constitucional noticiando o pode algum dia ser responsável um partido? Provae que essa morte foi
assassinato do Senador José Bento em sua capa decretada em algum adjuncto, provae que é um acto de partido e não
o acto de um homem, provae que o partido patrocina esse homem, não
se horrorisa com esse atentado, e o quer impune. Isso é o que todos os
vossos clamores, todas as vossas nênias não hão de conseguir; por que
isso seria uma calumnia tão atroz quão desprezível, e contra a qual
protestam todos os princípios, todo o theor de proceder do Partido da
Ordem. Não, o Partido da Ordem aborrece o emprego de meios violentos
e criminosos; nunca os quiz; não somos nós os que justificamos homi-
cídios, não são nossos co-religionários políticos os que se comprazem
quer no assassinato de indivíduos, quer nos assassinatos em grande,
chamados- rebeliões (...)” 184. Um teor de defesa é colocado no decorrer
do texto, questionado outros periódicos que acusavam um dos seus
correligionários. Quais as provas contra os Barros? Questionava o
periódico veementemente durante outras publicações.
Em uma edição anterior, o mesmo periódico, no dia 20 de feverei-
ro de 1844, noticiou o “Assassinato do Senador José Bento”. Nota-se
já a sua posição a respeito do ocorrido: “Espalhou-se sabbado a tarde
a notícia, vinda por um próprio do Sr. Joaquim Breves, de haver sido
assassinado em Pouso Alegre, ao sahir de sua fazenda, o Senador José
Bento Leite Ferreira de Mello. Bem que a princípio não quizessemos
acreditar em mais esse attentado, vimos espalhar-se rapidamente a
Acervo da Biblioteca Nacional noticia, e ser acceita por amigos tão particulares daquelle Senador, que
força nos foi lastimar mais essa prova do atrazo de nossa civilisação, da
O Jornal “O Brasil”183, periódico que circulava na cidade do Rio de Ja- ferocidade que ainda reina em nossa pátria. Foi assassinado o Sr. Padre
neiro, trouxe em algumas de suas edições, reflexões acerca do assas- José Bento, cidadão proeminente entre seus co-partidários políticos; é
sinato de José Bento. De cunho Conservador, defendia outra versão mui provável que queiram os órgãos de seu partido dal-o como victima
para o crime cometido, tirando o peso que se caía sobre a oligarquia e de ódios políticos; felizmente essa versão não será acceita; o falecido
seus representantes na Vila de Pouso Alegre. Na edição nº 507, de 22 padre José Bento tinha inimigos, tinha contestações e pendências por
de fevereiro de 1844, em uma longa reflexão sobre o ocorrido, os edi- amor de terras, dizem-nos que até em sua própria família: ora sabido é
tores se põem a questionar: “E quando mesmo succumbisse o senador que são esses adversários os que costumam recorrer à chamada justiça
José Bento a vinganças e ódios políticos, o que teria com isso o partido da roça. Os ódios políticos contra o Sr. Padre José Bento já estiveram
da ordem (Partido Conservador)? Pois pelo acto de um indivíduo em maior grau de incandescência do que agora, sem que um só cabello

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lhe cahisse da cabeça. Seja como for, dizem-nos que o pagem que acom- Tabela 05: Periódicos que noticiaram o assassinato de José Bento Leite Ferreira de Mello

panhava o assassinado, bem que de medo deitasse a fugir, teve tempo


Periódico Data Nº/Edição Local Notícia Página
de reconhecer um dos assassinos; fazemos votos aos para que ajudadas
Pouso Alegre- Travessuras
por elle em suas pesquizas possam as autoridades descobrir, possam as O Brasil 17/02/1844 505/V Rio de Janeiro 03
do Sr. Padre José Bento
leis castigar os criminosos.” 185. Sentinella da Monarchia 19/02/1844 453 Rio de Janeiro Notícias 04
Diário do Rio de Janeiro 19/02/1844 6551/XXIII Rio de Janeiro Post-Scriptum 04
Imagem 34 e 35: Jornal “O Brasil” noticiando o assassinato de José Bento O Echo do Rio 21/02/1844 52/I Rio de Janeiro A morte do Sr. José Bento 03-04
Correio Official 21/02/1844 351 Rio de Janeiro Notícias Diversas 03
Pharol Constitucional 23/02/1844 114/3 Rio de Janeiro Resposta do Rio Grandense 03
Ainda o assassinato do
O Brasil 24/02/1844 508/V Rio de Janeiro 02
Senador José Bento
Assassinato do Senador
Pharol Constitucional 27/02/1844 115/3 Rio de Janeiro Capa
José Bento Leite Ferreira de Mello
Sentinella da Monarchia 04/03/1844 458 Rio de Janeiro Moralidade dos Sancta-Luzias 02
Sentinella da Monarchia 04/03/1844 458 Rio de Janeiro Caso Horroroso 04
O Diário Novo 09/03/1844 57/III Rio de Janeiro Interior- Assassinato Capa
Assassinato do Senador
O Diário Novo 11/03/1844 58/III Rio de Janeiro
José Bento Leite Ferreira de Mello
Publicador Maranhense 16/03/1844 167/II Maranhão Notícia 03
O Diário Novo 11/04/1844 80/III Rio de Janeiro A Imprensa do Bacamarte 02

Fonte: Biblioteca Nacional- Hemeroteca Digital

A participação oficial da Polícia da Vila de Pouso Alegre se dá por seu


representante, o Sr. Julião Florêncio Meyer. Em um segundo ofício
enviado para o Governo Provincial e em resposta aos periódicos con-
servadores, apresenta oito afirmações sobre o crime: “1º- Que não
Acervo da Biblioteca Nacional forão motivos particulares, os que armarão os assassinos contra a vida
do senador Ferreira de Mello; 2º- Que os verdadeiros autores d’esse hor-
roroso attentado tem o título de governistas; que os empregos, que se lhes
Inúmeros periódicos circulantes no Império Brasileiro noticiaram
concedeo, forão os meios, de que se servirão para saciar ódios políticos, e
tal crime, cada qual apresentando a sua versão, como esses dois jor-
levar a effeito revoltantes vinganças; 3º- Que o commandante superior
nais que transcrevemos,um de cunho Liberal e outro Conservador. A
da Guarda Nacional e o vigário encommendado, tinhão disposto da força
tabela 02 nos traz os dados dos periódicos, as datas, a localidade e o
pública para affrontar a acção da justiça, e subtrahir-se ao império da
título da notícia apresentada:

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lei, que os tinha de perseguir pelo sangue, que derramarão; 4º- Que esses assassinato comettido na pessoa na pessoa d’aquelle infeliz- victima de
e outros intitulados amigos da ordem só promovião alli discórdia e per- torpes vinganças. – A situação, Ilustríssimo Senhor, em que se achão
turbação; 5º- Que impossível era intentar processo a malfeitores, em cuja collocados os Supplicantes sem o filho, sem o pai, e sem o irmão, que
mãos estava a authoridade e a força pública; por que no meio do geral mais preservão, é medonha, é triste, e é digna da attenção de V. M. I.
terror e consternação, que inspiravão, ninguém ousaria depor contra el- mormente não encontrando elles arrimo para perseguir para perseguir
les; 6º- Que existia provavelmente da parte d’esses governistas um plano os autores de tão infando attentado. Niguém há, Senhor, que ignores
mais vasto de assassinatos, cujo primeiro golpe de ensaio foi desfechado quaes elles sejão, mas desgraçadamente! (ocupando um delles o lugar
sobre a cabeça do illustre senador; 7º- Que tal era a audácia e a prepotên- de Comandante Superior e 1º Substituto do Juiz Municipal e de órfãos),
cia d’essa cabilda de malfeitores condecorados com os bellos nomes de lei falla-se de Antônio de Barros Pereira e Mello, e o outro de 2º Substituto
e de ordem, que até as authoridades policiaes, que ousassem cumprir o do Juiz Municipal e de Órfãos, ( falla-se do 3º José Pedro de Barros
seu dever, não estavão à abrigo do punhal e do bacamarte; 8º- Que a con- Mello), desgraçadamente nenhuma providência se tem podido dar de
tinuação de um tal estado de cousas teria por conseqüência inevitável as conformidade com a lei, nem mesmo aquella por ella aconselhada de
scenas mais afflictivas e desastrosas, si o governo imperial não tratasse formar-se um processo crime contra a atrocidade do facto o primeiro
presurosamente de tomar as providências, que a situação reclama...” 186. no Brasil, e que deverá a leve notícia delle compungir o compassivo co-
Por meio dessa documentação, a afirmação de uma possível culpa pelo ração de V. M. I. e C.
crime é direcionada à oligarquia local, ao partido Conservador187. Pode- Foi assassinado o Senhor José Bento Leite Ferreira de Mello, súbdito
ria tal grupo fantasiar a história, argumentar por um outro lado, como fiel, e adheso a Monarchia Constitucional, e amante decidido do paíz que
fizeram para acobertar o fato acontecido, porém, os indícios levam a o vio nascer, e que nelles via suas esperanças. As 4 e meia horas da tarde
eles, por outros crimes de assassinatos ocorridos no país, também re- do dia 8 do corrente mêz de Fevereiro indo desta Villa para o seu engenho
lacionados a intrigas políticas. de serra, distante delle um meio quarto de légua por caminho de campo,
No dia 14 de fevereiro de 1844 (publicada em periódico somente levando apenas seu escravo, o pagem José de Sousa, ambos indefesos á
em abril daquele ano) uma representação foi dirigida ao Imperador qualquer agressão. Em meio do caminho foi acommetido por 4 assassi-
pelos parentes do Senador José Bento, a qual detalhada nestas pági- nos, bem armados, dos quaes aproximando-se á aquelles dos homens o
nas integralmente: mais infeliz mostrou sua sinistra resolução, quando em resposta á uma
sua innocente, serena, e sincera pergunta- pois vocês me querem matar?-
“Senhor:
disparou um tiro de balla no estômago, que o trespassara, succedendo-o
À Vossa Magestade Imperador e Constitucional se apresentão os infe- um outro no ouvido, que igualmente o trespassara, além de uma facada
lizes, velho octogenário José Joaquim Leite Ferreira de Mello, pai do nas costas; e acudindo o seu escravo e pagem para evitar maos tratos
desgraçado Senador José Bento Leite Ferreira de Mello (de saudosa do cadáver do seu infeliz senhor, eis que por elles foi accometido de um
memória), Dona Possidônia Leite Ferreira de Mello, filha deste, e seos tiro, que desviou a Divina Providência. A intenção de malvadez desses
irmãos Manoel Leite Ferreira de Mello, e o Padre Joaquim Daniel Lei- bárbaros ahi não parou, por que de retirada se dirigirão ao engenho da
te Ferreira de Mello, cobertos de dó, e pungidos de dor, para supplicar serra, disparando um tiro no escravo do Tenente Coronel José Theodoro
à Vossa Magestade o Imperador medidas enérgicas contra o bárbaro de Sá e Silva que ali estava a mandado de seu senhor. A voz medonha, Im-

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perial Senhor, - matarão o Senador José Bento Leite Ferreira de Mello,- esses réprobos cidadãos do emprego que occupão: elle não fazem honra
succedeo o pranto, o desespero e a dor nos habitantes da villa de Pouzo ao serviço de V. M. I. porque são assassinos; e até mesmo porque não ser
Alegre, amantes da ordem e das Leis, correndo pressurosos a ver o resto fará o processo, e então o que restará ao cidadão brasileiro? Fazer justiça
de um homem virtuoso, que só trabalhou para a prosperidade d’elle; alli por suas próprias mãos, o que não querem, não desejão is Supplicantes
o encontrarão morto barbaramente, sim, mas como uma serenidade que no excesso de sua profunda dor. V.M.I confie no Delegado, n’aquelle que é
inculcava a injustiça dos malfeitores, e como que a Divina Providência adhezo à (...) Monarchia e que para isso tem dado provas não equivocas a
pedia vingança. Immediatamente compareceo o incansável e honrado V. M. I. Elle quer a ordem, o império da Lei, e a administração da justiça
cidadão Coronel Julião Florêncio Meyer na qualidade de Delegado da imparcial e recta com os melhores cidadãos do infeliz Pouzo Alegre, ou
polícia, acompanhado de seu Escrivão, e ahi o vio, não podendo deixar antes do Pouzo Triste.
de consternar-se como todos os que ahi comparecerão com a velocidade Há, Imperial Senhor, uma certesa que esses homens, se é assim que
do relâmpago á vista do cadáver. Requisitou esta autoridade com a pru- se possão chamar, forão os authores desse horrendo assassínio. Os factos
dência, que caracterisa seus actos, uma força ao Comandante Superior fallão, e convém expol-os a V.M.I. Aqui chegou o fallecido senador no dia
Antônio de Barros Pereira e Mello, este a negou entretanto que fez reunir 13 de dezembro do anno passado, indo ao seu encontro tão almejado, qua-
em sua casa, e na do seu irmão Padre José Pedro de Barros Mello, e de si 60 pessoas suas amigas. Este facto incommodou a seos inimigos, bem
pessoas de seu pequeno círculo, mais de 100 praças de Guardas Nacio- conhecidos. No dia 6 de janeiro do corrente anno, aniversário delle, con-
naes, que a pé-quedo aqui se conservão armados de reúnas, que por elle correrão á sua casa cerca de 180 pessoas: também não deixou em outro
forão distribuídas, e municiados de pólvora e balla para a guarda sua e facto de incommodal-os. No dia 8 do mesmo mez de janeiro aconselhado
dos seus... O que denotará este facto Imperial Senhor? Cumprimento da o fallecido I.I.C.C de fama nessa corte, mandou arrancar uma roça, que
Lei? Não... inocência delles? Também não... Este facto além de outros, eu havião posto em suas terras, o que se fez, motivando este procedimento
resaltão a vista dos habitantes de Pouzo Alegre, que tremem de iguaes seo, justo e legal, um processo crime, pelo qual se pretendia criminar
ameaças, e que só ouvem fallar em mortes, denuncia que esse pugillo de quasi todo o Pouso Alegre, ou antes todas as pessoas que davão com o
homens foi que assassinou o senador, e que tencionava fazer outro tantos fallecido, lançando-se-lhes no requerimento de queixa impropérios. Mas
aquelles, que fossem buscar na Lei a punição de tamanha atrocidade. felizmente á imparcialidade, rectidão e desinteresse do Dr. José Inno-
Do que serve, Imperial Senhor, a energia do Delegado, quando se lehe cêncio de Campos, Juiz Municipal, Juiz de Órfãos e Delegado, cuja ida a
faz ameaças, e que uma lista existe de assassinos, e que será executada? seos trabalhos á Assembléa Provincial é lamentável, deixou de proceder
Poderá o Delegado instaurar o processo quando é ameaçado de morte, uma tal queixa. Ahi nesse processo o Padre José Pedro de Barros Mello se
e os que não o apoiam de suas mais firmes convicções? Não, Imperial declarou em qualidade de testemunha, como inimigo particular e políti-
Senhor, os assassinos de um prestantíssimo cidadão, qual esse, que se co do falecido. Este deu princípio a diversas causas contra aquelle padre,
perdeu, útil á nação, e útil a seus amigos, são esses 2 indivíduos com mais ajuisando uma escriptura pública de dívida de 4:200$000 (quatro con-
um outro aventureiro; e como se lhe há de formar um processo, sendo el- tos e duzentos mil réis) além do prêmio; requerendo sua filha (um dos
les autoridades dispondo de forças contra a Lei, dando-lhes armamento e suplicantes) na qualidade de seo demente marido, a entrega deste, e de
cartuxame, e prometendo a morte aos que discerem de leve (embora seja) um escravo pertencente a seo casal, obstavão tudo isto as vistas pedidas
que elles forão os autores de um tal assassínio? Imperial Senhor, demitti para embargos, pelo bem conhecido Bernardino José de Campos, que

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por seo comportamento faz a desgraça do paiz. Para o dia 9 do corrente resolvido, ou mal contado. A família demonstra certeza, apontando
mêz de fevereiro tinha de se apresentar em audiência, para ser accusada fatos, que levam a indícios daqueles que tentaram contra a vida do Pa-
a citação feita ao reverendo padre José Pedro de Barros Mello, a fim de dre Senador, desafetos, pessoas que não queriam sua presença na Vila
prestar contas da administração da casa, bens e dinheiro de seo irmão de Pouso Alegre e no cenário político daquela época. Logo no final,
demente, o Coronel Francisco de Paula Pereira e Mello, genro do falleci- a família faz uma súplica ao Imperador, mas como a documentação
do, e marido da suplicante, cujo desfalque se computava em 10:000$000 se encontra rasurada (deformada) conseguimos apenas apreender
(dez contos de réis). Para esse mesmo dia a requerimento de exibição parte dela, mas, o que nos leva a crer, é o pedido ao Imperador de que
da doação do uso-fructo do engenho da Serra, que o finado tinha feito a a justiça fosse feita naquela pequena Vila de Pouso Alegre.
Dona Eufrásia Pereira de Escobar, mãe do referido Padre José Pedro de Em 21 de maio de 1844, temos notícias de que foram expedi-
Barros Mello e Antônio de Barros Pereira e Mello. Entretanto no dia 8 das as devidas sentenças. Mesmo, diante dos fatos relatados, de
pelas 4 ½ horas da tarde, foi elle assassinado!!!... Neste dia fatal para testemunhos de familiares e mais próximos de José Bento, e das
Pouso Alegre, o padre José Pedro de Barros Mello, sabendo que o finado movimentações percebidas naqueles anos, a justiça declarou a ino-
tinha vindo á villa, dirigio-se á casa de Bernardino José de Campos, com cência dos irmãos Barros. Contudo, observemos o andamento de
um dos algozes, e ali estiverão de concerto por muito tempo; e no acto do todo o processo realizado.
fllecido montar a cavalo para o seo engenho, esse algoz o acompanhou Em 18 de abril de 1844, uma ordem de prisão foi enviada aos ir-
para assignalar e tocar a victima da inocência. Nesse mesmo dia o que mãos Barros mediante uma simples denúncia feita pelos familiares
cumprirão o mandato de assassínio recolherão-se as terras do Padre José de José Bento. Foram conduzidos à prisão juntamente com o Sr.
Pedro de Barros Mello. Todos estes factos, Imperial Senhor, além dos Dr. Bernardino de Campos, advogado e amigo dos irmãos, também
outros, combinão com a verba do testamento do finado, onde declara ser envolvido na denúncia feita. Apenas o escrivão adentrou a prisão,
authores de sua morte Antônio de Barros Pereira Mello e José Pedro de porém, os amigos dos detidos, ficaram para fora, no sentido de pro-
Barros Mello, por uma revelação que lhe fez, quem para isso tinha sido testo e companhia por aqueles que estavam presos. Permaneceram
convidado em princípios de 1842. Seo testamento foi aprovado em 7 de encarcerados por 15 dias, pelo tempo de ouvir as testemunhas e cor-
fevereiro desse anno, e tendo-se retirado para o rio de Janeiro posterior- rer o processo. As sentenças foram anunciadas no dia 02 de maio de
mente, aqui chegou no dia 13 de dezembro de 1843; e abrindo-se seo tes- 1844, conforme a transcrição:
tamento sendo morto no dia 8 de fevereiro deste anno, ahi se encontrou
a verba que denuncia os authores de seu assassínio (...) É o que pedem, “Vistos e examinados estes autos de summario crime, petição dos
Imperial Senhor, os suplicantes. – E. R. Justiça. Possidônia Ferreira de dennunciantes, Manoel Leite Ferreira de Mello, Padre Joaquim Daniel
Mello. Manoel Leite Ferreira de Mello. O Padre Joaquim Daniel Leite Leite Ferreira de Mello e D. Porcidônia Ferreira de Mello, contra os
Ferreira de Mello, e por si e por seu pai José Joaquim Leite Ferreira de denunciados Antônio de Barros Pereira e Mello, Padre José Pedro de
Mello. Pouso Alegre, 14 de fevereiro de 1844.” 188 Barros Mello, e Dr. Bernardino José de Campos, depoimentos das teste-
munhas inquiridas, interrogatórios, inquirição das testemunhas d’outro
Este longo texto, manifesto feito pelos familiares de José Bento ao primeiro processo por certidão, etc., não de deprehende provas de factos,
Imperador Dom Pedro II, é uma peça importante para um crime mal e nem mesmo de indícios vehementes, que demonstrem, serem os denun-

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ciados mandantes do assassinato do Senador José Bento Leite Ferreira algozes entretinham intima relação com os denunciados, que lhes presta-
de Mello, constante do auto de corpo de delicto por certidão a fl. 8v. Os vam conselhos, dinheiro, e até hoje curam de seus interesses, pois que um
factos narrados na denuncia, e dos quaes se pretende deduzir a culpabi- delles acha-se administrando o sitio dos mesmos.- Esta ligação não está
lidade dos denunciados, quando estivessem todos provados, não são mui- provada: o que algumas testemunhas referem é que houveram por parte
tos sufficientes para convencer da veracidade de semelhante imputação: dos executores do assassinato ostentarem a proteção dos denunciados,
entretanto o maior número delles não está provado, bem como os que po- dizendo de mais positivo a 6ª fls. 31v, que ouvira de um delles, Baltha-
deriam mais directamente concorrer para isso.- Analysemos esses factos, zar- que tinham os acusados padre José Pedro, e Antônio de Barros, que
e as provas.- Allegam os denunciantes: 1º- Que os commetentes do crime os patrocinavam, e que o Dr. Bernardino prometeu de, no primeiro Jury,
sempre foram protegidos pelo fallecido senador, e lhe mereciam tanta livral-os; e a 12ª Firmiano da Fonseca, que diz de ouvir ao mesmo Baltha-
confiança que em 1842 serviram de guardas a sua pessoa.- Esse facto não zar, e a Dionísio- que tinham a proteção dos acusados padre José Pedro e
é referido por testemunha alguma, e quando estivesse provado, nada se Antônio de Barros, que davam dinheiro para comprar fazenda em outra
pode deduzir delle contra os denunciados, constando que os ditos com- qualquer parte, e que o Dr. Bernardino lhes dissera, que se sahissem cri-
metentes do crime depois tiveram motivos particulares de inimizade com minosos, no primeiro jurado os livraria.- Este depoimento é contestado
o fallecido; 2º, que por occasião dos movimentos desta Província foram pelo da testemunha José da Costa Ferreira em seu depoimento a fl. 72,
elles induzidos pelos denunciados, para invadirem as terras do Senador, dizendo que Firmiano lhe contou- ter encontrado com Dionísio e Bal-
etc. Esta allegação também não está provada, não sendo referida por tes- thasar na Taipa, os quaes disseram tratando da demanda, que tinham,
temunha alguma; - 3º, que a morte estava decretada pelos denunciados, e sendo-lhes perguntado porque não se accomodavam, e deixavam a de-
tanto assim que, um delles, o reverendo José Pedro, disse, que quando não manda, que tinham bons patrões, que era o Padre José Pedro, Antônio
houvesse quem se encarregasse della, elle mesmo o faria por seu próprio de Barros e o Doutor Bernardino- perguntando se foi só isso o que lhe
punho.- A este respeito algumas testemunhas referem ameaças, e mesmo disse Firmiano, se não lhe tinha dito também que elles disseram que se
de assassinato, e que tiveram lugar a mais de anno, e dous annos, mais ou sahissem criminosos, que o Doutor Bernardino os livraria, e que o Padre
menos, etc. – 4º. Que o denunciado Antônio de Barros disse que dava um José Pedro e Antônio de Barros lhes davam o dinheiro para comprar fa-
conto de réis a quem matasse o Senador José Bento.- Este facto é referido zenda em outra qualquer parte, respondeu- que o que lhe disse Firmiano
unicamente pela testemunha, Mariano Pereira, a fl. 67v. pela maneira foi unicamente o que já tinha referido.- 7º. O Algoz Balthazar, no dia do
seguinte:- que indo a casa do acusado Antônio de Barros comprar umas assassinato, convidou uma pessoa para matar o senador, oferecendo-lhe
cousas, ouviu ao mesmo dizer que dava um conto de réis a quem lhe desse uma mão cheia de notas, que, quando não bastasse, havia quem desse
notícia da morte do Senador José Bento, e que isto ouviu há dous annos mais: e quem seria?...- Não está provado: unicamente referiam algumas
mais ou menos.- 5º. Que o denunciado Dr. Bernardino José de Campos, testemunhas por ouvir, que havia um moço das partes do Servo, a quem
indo à Villa de Caldas, disse em casa de Manoel Lopes Pinheiro, que a se convidou, fazendo-se promessas, mas procurando-se a origem disto, a
morte do mesmo Senador estava próxima, como referiu o mesmo Lopes ultima testemunha a este respeito referida, Ignácio Mendes, a fl. 69, v.,
ao Capitão Joaquim Pio da Silva, da mesma villa.- Nenhuma testemu- declarou que ouviu de Francisco Leite Ferreira de Mello, que l’ho con-
nha depôs sobre isto, não comparecendo a testemunha Joaquim Pio, cita- tou apaixonadamente.- 8º. O denunciado Antônio de Barros mandou
do por precatória, como consta da mesma precatória a fl. 88. – 6º. Que os recolher o armamento da Guarda Nacional, etc.- Algumas testemunhas

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depõem sobre este facto pouco significativo. 9º. Correu sempre por certo briel Leite de Faria: porquanto dos depoimentos das testemunhas, e
que o assassínio foi mandado fazer de ordem da justiça, ou daquelles que da própria denúncia de fl. 2 se conhece que não houve o- princípio de
tinham a justiça em suas mãos- Algumas testemunhas referem boato execução- indispensável para constituir este crime, embora conste, que
contra os denunciados.- 10º. É certo que no mesmo instante em que foi pelo denunciados foram justos Francisco Jeronymo e Manoel de Goes, e
assassinado o senador José Bento, veio o reverendo José Pedro a casa mesmo haja alguma prova para crêr-se, que foram para fim criminoso;
de seu irmão Antônio de Barros, e disse- morreu o homem- ao que este pois deve ser isto ser unicamente considerado como um acto prepa-
respondeu- foi pena escapar o negro- Isto foi unicamente referido pela ratório, não se podendo julgar como executado por um mandante um
primeira testemunha José Antônio de Freitas Lisboa, que disse ouviu de crime projectado só pelo facto de ter conseguido um executor, ou instru-
differentes pessoas das quaes não se lembra.- Além destes factos alega- mento. E não só não houve princípio de execução, como está provado,
dos, alguns outros referem as testemunhas, mas dos quaes nada se pode e é alegado na denúncia: que os dictos Francisco Jeronymo e Manoel
directamente deduzir contra os denunciados.- Deixando-se pois de parte de Goes, que vinham a esta Villa, voltaram do caminho arrependidos,
dos defeitos das testemunhas, mencionados pelas partes, o que de posi- arrependimento este que não pode deixar de aproveitar aos mandan-
tivo se fica conhecendo da leitura dos autos, são as inimizades e ódios tes, assim como lhes prejudicam a execução do crime. Julgo portanto
existentes, alguns factos e dictos imprudentes, que denotam a irritação improcedente a denúncia, e o escrivão passe ordem de soltura a favor
dos ânimos, e que poderiam indirectamente animar os assassinos, mas dos denunciados, e do preso Manoel de Goes. Entretanto a vista do que
que não podem fazer com que sejam os denunciados considerados como consta dos autos, convido tomar-se alguma medida preventiva, obri-
mandantes do crime. Se algum, ainda poderia o que consta dos autos fa- go os denunciados a assignarem o termo de segurança as pessoas dos
zer alguma impressão no ânimo do juiz, e inclinal-o talvez a pronuncia, denunciantes, sujeitando-se as penas de 30$000rs. (trinta mil réis)
porém no presente caso quando são conhecidos e estão pronunciados os de multa, e de 30 dias de prisão, no caso de contravenção.- Paguem os
autores, ou perpetradores do delicto, quando é notório, e consta dos au- denunciantes as custas. Pouso Alegre, 29 de abril de 1844. José Inno-
tos que em suas dúvidas, demandas com o assassinado, e outros muitos cêncio de Campos”189.
factos, que se seguiram, tiveram motivos particulares, que os moveu ao
crime; e quando do 1º processo nem uma culpa resultou aos denuncia- Por meio dos Autos do Processo, percebemos que a construção deste
dos, torna-se mais necessária alguma prova, que declara e directamente documento foi feita de forma rápida, podendo ser trabalhada com
manifestasse a intenção criminosa dos denunciados e o mandato que se mais profundidade, pois se tratava de um julgamento de um crime,
alega.- Portanto, e pelo mais que dos autos consta, julgo improcedente a um atentado contra a vida. Não sabemos os motivos que levaram a
denúncia de fls. 3. O Escrivão passem ordem de soltura aos denunciados, este julgamento, talvez fosse realmente de cunho político, para con-
e paguem os denunciantes as custas. Pouso Alegre, 02 de maio de 1844. ceder inocência a pessoas ligadas ao mesmo grupo político (conserva-
José Inocêncio de Campos. dores)190. O periódico “O Novo Tempo” em um artigo publicado sobre
-Examinados estes autos, vê-se, que não existe o crime de tentativa o assassinato do Dr. Lacerda191, fez um breve relato questionador
de homicídio, imputado pelos denunciantes Antônio de Barros Pereira sobre o crime cometido:“O que aconteceu com os bárbaros matadores
e Mello, Padre José Pedro de Barros Mello, e Doutor Bernardino José do illustre senador Ferreira de Mello? Todos nós bem sabemos- nada!
de Campos aos denunciados Coronel Julião Florêncio Meyer e Ga- E por que? Por que a oligarchia, então de cima, estendeu o manto de

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sua imoral protecção sobre os que forão pela opinião publica apontados processo, provou-se de tudo, elle confessou em audiência, a vista de
como seus autores; em favor daquelles contra os quaes apparecerão, immensas pessoas, que tinha mandado arrancar o milho, e que havia
senão provas evidentíssimas, ao menos indícios os mais veementes! de continuar todas as vezes que lá plantassem; e que se ia aquelle lugar
Mandou a oligarchia para devassar desse infeliz sucesso um magis- da audiência era muito de sua livre vontade, pois que não conhecia nem
trado que, pelas relações que tinha com os chefes desse partido, dava havia tribunal sobre a terra que lhe tomasse conta, a excpeção de seus
esperanças de protecção aos criminosos: mas assim que o honrado Dr. pares, e antes pelo contrário elle syndicava dos feitos da família impe-
Pantaleão, cunhado do Sr. Honório, em vista de provas já colhidas, rial, era juiz dos ministros e dos diplomatas, que em quanto houvesse
mandou prender os Barros, acusados por todos dessa morte, immedia- constituição e leis que o garantissem, na honrosa corporação do sena-
tamente ordenou-se-lhe que se retirasse para Ouro Preto, e entregasse do, havia de fazer tudo quanto quisesse, sem que ninguém lhe tomasse
o conhecimento e conclusão do processo a outro juiz, amigo íntimo dos conta; e que se voltasse do despotismo, também sabia viver com elle, que
réos, de quem era furibundo correligionário, e acusado até de cumplici- nesse tempo tinha sido mais respeitado.
dade nesse attentado... Os Barros e outros forão soltos, e o crime ficou Ora, a vista deste discurso e de outras muitas cousas que me ocor-
triunfante...!” 192. Um clima de terror, de ódio, de medo, se instalou na rem, qual seria o meu pensar e de outros muitos amigos da ordem, que
Vila de Pouso Alegre, de ambas as partes e partidos. As pessoas não ocularmente observamos semelhantes disparates? Com tudo não desa-
circulavam pelas ruas e praças públicas e a noite um toque de recolher coroçoamos de que os escravos seriam punidos com algum castigo, e a
imaginário era dado. A dúvida permanecia na cabeça dos habitantes pobre viúva por alguma maneira indemnisada do destroço que sofreu,
da Vila de Pouso Alegre, quem realmente matou o vigário e senador além do ultraje feito a mesma e a sua família, pois elle teve a coragem
José Bento? Qual realmente foi o motivo daquele crime? Desavenças de pegar em um filho da mesma viúva e cortal-o de chicote ou relho; foi
políticas? Invasão de terras? a casa da mesma e lhe disse que havia de passar a bacalhau e as suas
Voltemos a alguns meses atrás, quando a notícia do assassinato filhas; parecia estar damnado.
ainda era recente. Podemos observar os argumentos do periódico O que havia de acontecer? O juiz d’ahi a poucos dias deu a sentença,
“O Brasil” de cunho conservador, a tentativa de salvaguardar a ima- aobsolvendo os escravos, e condemnando os autores nas custas, logo no
gem dos irmãos Barros. Este mesmo periódico lançou em diversas dia seguinte foram citados para uma divisão: pois malvado, se as terras
edições textos que criticavam aqueles que apontavam os mandantes são tuas como queres dividir? Não parou por aqui: mandou cital-os
do crime como sendo membros dos Conservadores. Em uma de suas para lhes pagar uns carros de lenha que tinham tirado em sua próprias
colunas, o periódico publicou as seguintes reflexões (a que denomi- terras, mandou cital-os para lavrar termo de segurança com commina-
na de meditações). A primeira carta nos aponta que, “(...) não levou ção de pena de 30 mil réis de multa e 30 dias de cadeia; mandou ajuntar
muitos dias, convidou Lisboa, José Borges, Manoel Leite, e outros, a fim todos os animaes, bois de carro, gado, e égoas, e mandou por fogo no
de lhe prestarem auxílio de escravos, onde reuniu-se, segundo consta, resto da roça que tinha escapado a fúria do arranchamento; e pretende,
uns quarenta e tantos, e mandou esta gente arrancar uma roça de uma segundo dizem, mandar por fogo no arranchão ou morada da pobre
pobre viúva sua visinha, dizendo que as terras eram delle. Deu-se parte viúva e seus filhos” 193.
ao delegado de polícia, este mandou gente ver o destroço, e prenderam- Já na segunda correspondência, o remetente anônimo exorta
-se em flagrante 3 ou 4 escravos, fugindo os mais; fez-se o competente que “(...) depois que lhe comuniquei em carta de 31 de dezembro, a res-

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peito do Senador, aconteceu mandar elle no dia 2 do corrente destruir mudou-se para a Vila de Pouso Alegre, talvez para preservar sua pes-
as plantações dos filhos da viúva, a quem já havia dirigido os insultos soa de possíveis ataques, o que o levou a se dirigir à sua fazenda, em
que ahi mencionei, e que deu lugar a serem presos em flagrante três companhia apenas de um pagem, e não de outras pessoas ou escravos
escravos de seu irmão Manoel Leite, um de Joaquim Daniel, contra para lhe escoltarem? 196
quem se formou a culpa; e bem assim contra Lisboa e José Borges, que No ano de 1853, quase dez anos após o assassinato do Padre Se-
negaram tudo, entretanto que o senador confessou pelo contrário; e nador, em um novo processo contra os assassinos, é que foi realmen-
longe de defender os escravos, por quem compareceu em juízo, tratou te estabelecida a condenação. Neste processo, há um depoimento do
de insultar a quem bem lhe pareceu, apesar de algumas vezes admo- Coronel José Antônio de Freitas Lisboa, médico que tentou socor-
estado pelo doutor juiz municipal, José Innocêncio de Campos. Disse rer José Bento e homem respeitado na Vila de Pouso Alegre, que
que, como Senador, não reconhecia juiz sobre a terra, que era elle sim apresentou diversos detalhes a se levar em consideração. Segundo
juiz da família imperial, dos diplomatas e ministros d’estado; dando a o depoente, “(...) disse que estando em sua casa no dia 08 de fevereiro
entender que comparecia alli como por obséquio ao juiz e assistentes: de 1844, na tarde desse dia, ouvira uns tiros e, poucos minutos depois
cansou-se em demonstrar que a palavra- prestígio- significava feitiço, chegou o Coronel José Thodoro e participou-lhe que, naquele momento,
apresentando o Diccionário de Moraes. Queixou-se de que o Dr. Ber- tinham assassinado o Senador José Bento, na estrada, indo para sua
nardino, advogado dos ofendidos, não lhe desse Ex. quando redigia as Fazenda do Engenho da Serra; notícia que o impeliu imediatamente a
perguntas das testemunhas e outras que taes baboseiras. dirigir-se ao lugar do delito e aí chegando, observou o dito senador mor-
O resultado porém do negócio não correspondeu à expectativa, por que to, atravessado na estrada, com dois tiros, um na boca do estômago, que
foram todos absolvidos, havendo por isso algum descontentamento” 194. mostrava ser feito com bala, varando nas costas em direção a oblíqua,
Já, em uma terceira correspondência, afirmou que “(...) a questão e outro no ouvido, do lado esquerdo que também parecia ser dado de
do senador não parou na destruição das roças, pois no dia 25 deste perto, com projectil de bala bem como alguns bagos de chumbo e que,
( janeiro) mandou cortar e carregar a lenha das mesmas roças, por quando ali chegou, já encontrou algumas pessoas fazendo companhia
seus escravos armados; e porque quatro irmãos, filhos da viúva, ao cadáver, os quais eram: o Padre Joaquim Daniel, irmão; Dona Pos-
procuraram embaraçar isso, foram citados perante o delegado para sidônia, filha do falecido, e outros. Logo ao chegar, mostrou-lhe um dos
assignarem termo de segurança e corre pendente essa questão. En- circunstantes, uma faca de ponta, e perguntando ele, testemunha, de
tretanto o Senador, penso, que para fazer melhor o seu papel, pediu quem era, foi lhe respondido que ela tinha sido achada junto ao corpo
que fosse acautelada a sua pessoa, e quanto não fosse decidida essa do senador, presa em uma incisão da jaqueta e que essa faca era conhe-
questão, e mudou-se da fazenda para a Villa”195. Segundo o periódico, cida como sendo de Antônio Pereira, um dos denunciados. E que sabe,
estas cartas acima transcritas foram escritas antes do assassinato por ouvir, na occasião em que estava junto ao corpo que os autores do
de José Bento e por diversas pessoas. Aqui nos mostra outra possível assassinato foram Balthazar, Dionísio, e seus irmãos Antônio, Joaquim
versão do crime, porém, lançamos as seguintes hipóteses: o que po- e João do Carmo. Saindo de dentro do valo que borda a estrada, Baltha-
deria ter levado os quatro irmãos (segundo consta, afilhados de José zar com uma arma e tomando a dianteira do senador, disparou-lhe um
Bento) a assassinar seu padrinho? Um ódio recente que se estabeleceu tiro na boca do estômago com o qual cahiu do cavalo, e logo chegando
em poucos dias? Seria o motivo de grande fatalidade? Se José Bento do lado de cima da estrada, Dionísio, faz-lhe o segundo tiro no ouvido.

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Constando também a ele testemunha, os irmãos referidos já estavam de Contudo, a versão de crime político vai caindo por terra, e a condena-
emboscada e se achavam no lugar do crime, e que, retirando-se o pagem ção recai sobre os irmãos, movidos pelo ódio em que se estabeleceu
do Senador a toda brida para o engenho, a participar do acontecido, entre eles e a pessoa do Padre Senador José Bento.
deram-lhe um tiro por detraz que não o atingiu” 197. A captura dos assassinos ocorreu no início da década de 1850. O
Ao continuar o depoimento, aludindo que o crime realmente tives- júri ocorrido no dia 23 de agosto de 1853, às 10 horas da manhã, con-
se sido premeditado pelos autores do assassinato, se refere diretamente denou a Balthazar a prisão perpétua, acusado de ter sido assassino do
que“(...) tendo ele testemunha, participação de que Balthazar e Dyonisio Senador José Bento Leite Ferreira de Mello. Neste dia, abriu a sessão
tencionavam cometer esse delito, por isso que tinham com o finado ques- o Sr. Dr. Juiz de Direito José Bernardes de Loyola, juntamente com
tões tendentes a terras e roças, e tomando isso como sério, chamou ao 46 jurados presentes. Na tribuna de acusação estava o Sr. Dr. José An-
seu escritório o acusado Balthazar com quem tinha relações de negócios tônio Pinto Júnior e na defesa o Sr. Dr. Fortunato Raphael Nogueira
e disse-lhe que lhe constava que ele e seu irmão Dyonisio, tencionavam Penido. Os dois réus, Balthazar Pereira da Silva e seu irmão Antônio
matar o senador José Bento por semelhante motivo, e que desistisse disso Pereira de Mello estiveram presentes, e, ambos “mostravam-se alta-
que ele testemunha se obrigava a fazer com que o dito senador lhe pagas- neiros, medião com olhar feroz o tribunal, e os numerosos espectadores
se a roça e comprasse as terras que tinham junto a sua fazenda, ficando que occupavão a galeria do fundo do salão” 200. Voltemos ao passado e
assim acabadas as questões entre eles, conselho que não aceitou Baltha- imaginemos toda a cena, os movimentos, a eloquência dos discursos e
zar respondendo que ‘o que tinha tencionado, tencionado estava e que, a efervescência daquele júri, que perdurou por horas a pino. A Sessão
onde se perdiam as calças perdiam-se também as ceroulas, e que contava se procedeu da seguinte maneira:
com a proteção das autoridades’; ao que respondeu ele testemunha que, “Começando o sorteio, o advogado accusador suscitou algumas
nesse caso, lavava as mãos desse negócio, indo logo, tudo isso comunicar questões incidentes de direito acerca de impedimentos e suspeições
ao senador. Declarou mais que, por causa dessas questões de terras e ro- de alguns jurados, a quaes todas, depois de debatidas, forão pelo Dr.
ças, entre o senador e os acusados, chamou aquele Balthazar e Dyonisio Juiz de Direito resolvidas; e este trabalho terminava meia hora depois
a juízo, e no ato da audiência, observou-se que Dyonisio trazia uma faca do meio dia, occasião em que, pedindo a palavra o advogado da defesa,
no seio, o que foi logo denunciado ao juiz que presidia a audiência, e por suscitou uma questão tendente a demonstrar a incompetência da auto-
esse motivo foi Dyonisio processado, tendo-se, de fato, encontrado a dita ra para acusar nesta cousa com exclusão do promotor público.
faca... Disse por fim que sabe por ouvir dizer que os criminosos davam o O Doutor accusador combateu victoriosa e valentemente as razões
nome de Senador, a arma com que os assassinaram, etc.” 198. produzidas pelo doutor defensor, fazendo sentir que os argumentos
Um outro depoimento dado pelo pagem que acompanhava José apresentados por elle nada mais erão do que a reprodução das fúteis
Bento no dia de sua morte atesta que, “(...) na tarde em que José Bento razões oferecidas na formação de culpa pelo primeiro advogado incubi-
se dirigia para sua fazenda, minutos antes de ser assassinado, passando do da defesa (o Sr. Dr. Alves dos Santos); que todas ellas já haviao sido
por ele, José do Carmo, um dos cumplices que ia espera-lo no caminho, destruídas nessa occasião, e desprezadas pelo juiz por improcedentes,
tirou-lhe cortesmente o chapéu. Mas não sendo correspondido retrucou pedindo ao seu honrado colega que abandonasse as enferrujadas ar-
dizendo em alta voz que tirava o seu chapéu por não ser malcriado e mas que recebeu em legado de seu antecessor; concluindo por dizer que
que ele não o fazia por ter sido insinuado pelo Padre Arruda (...)” 199. sobremaneira se admirava que o illustre advogado da defesa, inteligen-

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te como poderia ser, se declarasse tarde e a mais horas de contestar a O Sr. Juiz de Direito declarou que tomaria em consideração o que
competência da acusação, quando seu antecessor a havia reconhecido, acabava de dizer o advogado accusador.
e elle próprio a tinha sanccionado, não disputado a elle o accusador o Erão nove horas menos vinte minutos da noite, quando tendo
direito de recusações e suspeições, que era sem dúvida um dos pontos de concluído o Sr. Dr. Pinto Júnior o seu discurso sobre o incidente que
mais importância de uma acusação. acabamos de apontar, pediu a palavra o Sr. Dr. Penido, e reproduziu
O Sr. Juiz de direito indeferiu o requerimento da defesa. ainda uma vez as razões para a não admissão do accusador; requeren-
A uma hora e meia da tarde começou o interrogatório ao réo Bal- do que fosse aceito o promotor público, ao menos a declarar por um
thazar, o qual durou até as quatro horas e meia, e deu princípio o do réo termo nos autos que approvava aquelle conselho, e rivalidava quanto
Antônio Pereira de Mello, que terminou as 5 e meia. Estes interrogató- fizesse o accusador admittido.
rios tornarão-se notáveis não só pela insolência com que os réos revol- O Sr. Dr. Pinto Júnior mostrou a inconveniência e illegalidade de
verão as cinzas do Senador assassinado, mostrando uma inqualificável semelhante pretensão, dizendo que estava maravilhado que um advo-
segurança, como pelas manifestas contradições em que cahirão com os gado, em que alías reconhecia talentos e longa prática do fóro, chegasse
interrogatórios a que tinhão respondido em Ouro Preto, perante o chefe a conceber uma tal idéa; fez ver que era incongruente que o órgão do
de polícia o Sr. Dr. Ignácio Francisco Silveira da Motta. ministério público representasse um papel secundário na causa; que o
Findos os interrogatórios, e na occasião em que se ia passar a aviso citado pela defesa era contraproducente, porquanto as mesmas
leitura do processo, o Sr. Dr. Pinto Junior, pedindo a palavra com for- razões ques e davão para que não fosse excluído o órgão do ministério
ça, fez sentir em um vehemente discurso ao Sr. Dr. Juiz de Direito, ao público nas causas começadas ex-offício, procedião para que elle advo-
tribunal e ao público, a inconveniência do procedimento havido pelo gado não pudesse hoje ser excluído da accusação, concluindo (em um
juiz municipal Modesto Antônio Mayer, acerca de um documento of- estylo mordaz) que não sabia mesmo como o advogado defensor con-
ferecido por elle advogado na formação da culpa, e que o mesmo juiz cebia a idéa de dar a direcção da accusação a dous pilotos; que era elle
teve o inaudito arrojo de declarar falso, mandando proceder a exames talve incapaz para dirigir o leme, mas que protestava não admittir a
clandestinos e illegaes, concluindo em sua sentença com a expres- bordo do seu baixel quem quer que fosse que se quizesse arrogar um
são- julgo- não sendo para isso competente, por ser essa discussão o commando no qual estava investido e reconhecido pelo juiz presidente.
exame de todo dependente do tribunal do jury, com prévio exame do O Sr. Dr. Juiz de Direito declarou que já tinha indeferido a preten-
juiz presidente, se por ventura fosse o documento arguido de falso, e ção da defesa por julga-la contrária a direito, e que o advogado não
isto depois de findos os debates, e com as formalidades prescriptas na ignorava quaes os recursos que na lei existião para o seu indeferimento,
lei; que todo esse procedimento monstruoso devera ser desprezado, e concluindo por ordenar a leitura dos autos; a qual terminou às 10 horas
julgado como se jamais houvera existido; concluindo com toda a ener- da noite, occasião em que deu princípio a accusação.
gia por um formal desafio ao advogado defensor a que arguisse o do- O Sr. Dr. Pinto Júnior fallou sem a mínima interrupção até as 5
cumento de falso, que nisso faria um serviço a accusação, porque lhe horas da manhã; e sentindo-se então muito fatigado, pediu licença para
offereceria um ensejo para demonstrar a toda a luz em qual dos dous fallar sentado progredindo na apresentação de vários documentos, e
arraiaes se havia acastellado a falsidade, a fraude, a prevaricação e offerecendo novas testemunhas; deu por concluído o seu discurso às 6
o assassinato! horas da manhã. O discurso deste illustrado orador foi superior a todo o

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elogio; por mais de uma vez nos sentimos arrebatados de enthusiasmo; Tendo o jury porém respondido a cerca do réo Antônio Ferreira de
por mais de uma vez nos achamos commovidos até derramar lágrimas; Mello contraditoriamente ao primeiro quesito sobre o facto criminoso,-
pode descrever a scena em que o orador lançou sobre a mesa do tribunal não por sete votos,- e aos demais das circunstâncias aggravantes que
as vestes ensanguentadas do infeliz senador Ferreira de Mello, acom- acompanharão o delicto,- sim por sete, oito, nove e dez votos- voltarão
panhando das palavras as mais eloquentes, dos pensamentos os mais novamente a sala secreta, sendo a lamentar que não fizessem igualmen-
sublimes e tocantes. E neste acto os jurados todos se erguerão machi- te voltar os cartões das votações, afim de se poder ratificar o engano por
nalmente como em signal de respeito. uma nova votação, apezar de ter sido isso requerido por mais de um
O Advogado defensor jão não se achava na sala por doente: foi cha- dos membros do conselho. Depois de prolongadíssimo debate voltarão
mado, e produziu um discurso que terminou às 7 horas e ¾ da manhã. ás 5 horas da tarde com a cópia da resposta do primeiro quesito, e em
O Sr. Dr. Penido pode ter sido um hábil advogado, porém hoje é ape- consequência foi o réo absolvido, de cuja sentença apellou o advogado
nas uma sombra de intelligência, gravemente doente, cego e sem nexo accusador, tendo já o primeiro réo protestado por novo julgamento” 201.
em suas idéas, torna-se quasi inintelligível em seus discursos; a sua
missão não parecia a de defensor dos réos presentes, mas do Padre José Tendo transcorrido o julgamento, o réu Balthazar foi conduzido ao
Pedro de Barros Mello e seu irmão, de quem o accusador não havia dito presídio sob a condenação de prisão perpétua. Antônio e João do Car-
uma só palavra; repetidas vezes exclamou: ‘Quereis o sangue dos Bar- mo foram absolvidos do crime, e, Dionísio, se encontrava foragido. Bal-
ros; quereis a cabeça do padre José Pedro; pois bem, condemnai estes thazar permaneceu preso até 1864, quando fugiu da penitenciária. O
moços!’ isto dizia o Sr. Dr. Penido em resposta ao advogado accusador, Periódico “Diário de Pernambuco” de 27 de junho de 1876, 12 anos após
que com louvável discrição e prudência havia circumscripto a accusa- a sua fuga, publicou a seguinte nota: “Em uma fazenda da freguesia de
ção aos dous réos Balthazar e seu irmão... São João Baptista das Cachoeiras (Cachoeira de Minas) fora encon-
Sendo novamente concedida a palavra ao advogado accusador, trado morto Balthazar Pereira da Silva, condemnado a galés perpétuas
esse declarou que não se aproveitaria della para replicar na accusação, pelo jury de Pouso Alegre como um dos autores da morte do senador José
porquanto ella se achava em seu inteiro vigor;que o advogado da defesa Bento Leite Ferreira de Mello, e que há anos se havia evadido da cadeia
não respondera a um só dos seus argumentos; que sanccionará com seu de Ouro Preto” 202. Os outros irmãos de Balthazar, absolvidos do crime,
silêncio a validade do documento que debaixo da direcção do seu ante- também não foram felizes nesta vida terrena. Antônio, faleceu depois
cessor fosse arguido do falso; e que nenhuma resposta daria as provo- de ter cometido outro crime e João do Carmo não se teve mais notícias.
cações que o mesmo lhe fizera, e aos insultos que dirigira a memória do Já Dionysio Tavares da Silva foi preso no ano de 1887, sendo “recolhido
senador assassinado e as pessoas de sua família, porquanto reconhecia à cadêa (...) vindo de São Sebastião do Tijuco Preto, onde fora capturado
que o estado morboso e valetudinário do seu illustre collega o tornavão por ser criminoso de morte no termo de Pouso- Alegre da província de Mi-
impertinente e de mao humor. nas, para onde vae ser remetido” 203. Três anos após a sua prisão, faleceu
O sr. Juiz de Direito formulou os quesitos. Recolhendo-se o con- este criminoso, conforme noticia o periódico “Cidade do Turvo”: “Na
selho a sala de conferências, voltou ao meio dia lendo a sentença pela cidade de Pouso Alegre, Minas, falleceu há poucos dias Dyonisio Tavares
qual foi condemnado o réo Balthazar Ferreira da Silva na pena de galés da Silva, com perto do 80 annos. Era o ultimo dos assassinos do finado
perpétuas, gráo médio do art. 192 do Código Penal. senador padre José Bento Leite Ferreira de Mello, morto a 08 de fevereiro

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de 1844, quando d’aquella cidade seguia para sua fazenda, distante pou- acusar os irmãos da Família Barros, seus companheiros no partido
co mais de um kilometro. Logo após o assassinato, Dyonisio refugiou-se Conservador, tratava-se de uma opinião particular, mesmo sem ter
nos sertões de São Paulo, sendo preso há cerca de três anos em São Sebas- provas concretas. Ao citar o nome de Julião no testamento, Amadeu
tião do Tijuco Preto. Era um criminoso célebre, pois além d’esse crime, de Queiroz205 deixa uma análise que vale a pena ser mencionada. José
julgado prescripto, respondeu ultimamente por outro crime de tentativa Bento tinha Meyer como inimigo, capaz até de ocorrer com o crime
de morte, praticado no mesmo dia em que foi assassinado o infeliz sena- de assassinato, como mencionou em um documento tão importan-
dor. Tendo ficado viúvo durante o tempo em que morou no sertão, havia se te como o seu testamento. Esse fato tem um forte argumento para
casado em São Sebastião do Tijuco Preto onde deixou viúva e filhos” 204. questionar o valor histórico do testemunho e depoimento de Julião
E assim se encerrou a ode terrena dos criminosos responsáveis pelo Florêncio Meyer enquanto delegado de polícia na Vila de Pouso Ale-
assassinato do Senador Padre José Bento, naquela vila de Pouso Alegre. gre. O processo em si, não possuiu esmero cuidado, tanto que, um
No meio político, as discussões sobre o crime estiveram presen- novo havia sido instaurado apenas em 1853, quase dez anos após o
tes em diversas reuniões do Senado, sendo cobrada a justiça devida crime. “Quantos interesses opostos, quantos ódios, e que poder ocul-
por seus amigos e correligionários, e criticada por seus opositores, na to ditaram tantas irregularidades”. Os suspeitos, inimigos de José
defesa daqueles que estavam sendo julgados na vila de Pouso Alegre, Bento, aos poucos foram se retraindo. Outros mudaram-se daquela
os membros da oligarquia. Não quisemos, neste livro, apresentar uma Vila, e, o contexto social ficou por vários anos a mercê. Lendas e co-
posição oficial, ou tomar partido de lado algum, apenas apresentamos mentários odiosos sobre a figura do Padre Senador foram espalhadas
as discussões realizadas na época, sendo publicadas em periódicos e por diversas gerações.
documentos oficiais. Em seu testamento, feito quatro dias após o seu A memória de José Bento por muito tempo ficou esquecida
assassinato, José Bento inicia com as seguintes palavras: “(...)estando em Pouso Alegre. Após a sua morte, nas sessões da Câmara Mu-
de saúde e em meu perfeito juízo, mas temendo da morte tanto mais de nicipal de Pouso Alegre, daquele fatídico fevereiro de 1844, não
ser assassinado, por mandado do Padre José Pedro de Barros, seu ir- houve nenhuma menção206 à pessoa de José Bento, tão quanto ao
mão Antonio de Barros Pereira e Melo e Julião Florência Meyer, crime do assassinato. Ao pesquisarmos nas antigas atas da Câmara
que há dias a esta parte procuram mandar tirar-me a vida por causa Municipal de Pouso Alegre, encontramos em seu interior, cartões
de minhas opiniões políticas de que tenho uma quase certeza, por uma com anotações do saudoso Alexandre de Araújo, diretor do Museu
revelação que me foi contada às circunstancias para ser acreditada e Histórico Municipal Tuany Toledo, expressando seu sentimento
que a não refiro por não expor a vida da pessoa que por caridade fez a em relação ao esquecimento desta figura emblemática para Pouso
referida declaração”, fazendo com que se levantasse suspeitos naque- Alegre, Minas Gerais e Brasil. Assim se expressou Araújo: “Inacre-
le momento. O que nos intriga são os velhos questionamentos: aquele ditável! Nenhuma referência ao assassinato do Senador José Bento.
crime foi ocorrido por intenções de rivalidades políticas? Ou apenas Nada consta nas atas. Era a política da época. Sua morte não seria
por questões de demarcações de terras? Somente a justiça celeste que registrada em nenhum documento. Seu nome não constará em nenhu-
julgará conforme os verdadeiros fatos. ma linha para a posteridade. Convenhamos! A ingratidão dos vere-
Não podemos deixar passar alguns fatos que se desenrolaram em adores na época. Foi a vingança a personalidade de José Bento. As
toda essa história. Os atos praticados por Julião Florêncio Meyer, ao folhas 14/15 da Sessãod e 05 de junho de 1844, uma referência ao seu

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nome, referindo-se a eleição de um senador pela vaga do finado Imagem 36: Praça Senador José Bento

Cônego José Bento. Só” 207. É o descontentamento que por muitos


anos prevaleceu nos pensamentos de Alexandre em suas pesquisas
no Museu Histórico de Pouso Alegre.
Tendo passado 38 anos da morte de José Bento, uma homenagem
foi prestada à figura do Senador, em Sessão ordinária do dia 08 de
fevereiro de 1882, realizada na Câmara Municipal de Pouso Alegre.
Neste ato estavam presentes os seguintes vereadores: Urbano Dias
Ferraz da Luz, João José de Barros Cobra Júnior, Caetano da Silva
Lopes, Honório Ferreira dos Santos e Joaquim Augusto Moreira de
Queiroz. O autor da proposta foi o Vereador Moreira Queiroz, colo-
cando a seguinte discussão: “Proponho para que hoje, 38º aniversário
do bárbaro assassinato, nesta cidade, do grande patriota mineiro, o
Senador José Bento Leite Ferreira de Mello, esta illustre Câmara, como
uma homenagem à sua memória, aos serviços que prestou ao paiz e
especialmente a esta cidade que lhe deu grande parte de sua prospe-
ridade, adopte o seguinte: A Praça Municipal desta cidade de hoje em
diante denominar-se-há Praça do Senador José Bento.- O Sr. Procura-
dor fica autorizado a dispender a quantia necessária com a alteração
dos respectivos dísticos. Paço Municipal da cidade de Pouso Alegre, 08
de fevereiro de 1882. Joaquim Augusto de Moreira Queiroz. Em segui-
da pediu a palavra o vereador Capitão Caetano, e offereceu o adictivo
seguinte: Voto pela proposta que acaba de fazer o Illustrado Vereador,
ainda mais quando não temos nesta cidade um só signal de lembran-
ça a memória do Illustre Senador que tantos serviços a sua pátria, e a
quem esta povoação deve a sua fundação. S. R. Paço Municipal, 08 de Que a história de José Bento não seja apagada das memórias da po-
fevereiro de 1882. Lopes” 208. Há exatos 138 anos, o principal logradou- pulação brasileira, dos rincões mineiros e do município de Pouso
ro, berço do nascimento de Pouso Alegre, e que se localiza a Igreja a Alegre. É como se ouvíssemos o Padre Senador balbuciar em seus
qual foi o primeiro Pároco, leva o nome de José Bento Leite Ferreira últimos momentos de vida,
de Mello, merecida homenagem, tardia, mas que o eterniza em solos
pousoalegrenses. Ah! Meo pobre paiz!... quero confessar-me”.

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Documentos Interessantes

1- Constituição de Pouso Alegre 209

Constituição do Império do Brasil Reformada


Segundo os votos e necessidades da Nação
“Em Nome da Santíssima Trindade”

Título I.
Do Império do Brasil, seu Território e Governo, Dynastia e Religião

Art. 1. O Império do Brasíl é a associação de todos os cidadãos brasileiros. Elles


formão uma naçãolivreeindependente, que não admite com qualquer outra laço
algumde união ou federação, que se opponha á sua independência.

Art. 2. O seu território será dividido em tantas províncias


quantas pedir o bem do Estado.

Art. 3. O seu governo é monarchico hereditário, constitucional e representativo.

Art.4. A dynastia imperante é a do Senhor Dom Pedro II


actual Imperador do Brasil.

Art. 5. A religião Catholica, apostólica romana continuará a ser a religião do


Império. Todas as outras religiões serão permittidas com seu culto doméstico ou
particular, em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de templo.

Título II
Dos Cidadãos Brasileiros

Art. 6. São cidadãos brasileiros:


1º. Os que no Brasil tiverem nascido, quer sejão ingenuos ou libertos, ainda que
o pai seja estrangeiro, uma vez que este não resida por serviço de sua nação.

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2º. Os filhos de pai brasileiro, e os illegitimos de mãi brasileira, nascidos em paiz Título IV
estrangeiro, que vierem estabelecer domicilio no Imperio. Do Poder Legislativo
3º. Os filhos ele pai brasileiro, que estivesse em paiz estrangeiro em serviço do
Imperio, embora elles não venhão estabelecerdomicilio no Brasil. CAPÍTULO I
4º. Todos os nascidos em Portugal e suas possessões, quesendo já residentes no Dos ramos do poder legislativo, e suas attribuições
Brasil na época, em que se proclamou a independencia nas províncias,
onde habitavão, adherirão áesta expressa ou tacitamente, pela continuação Art. 13. O poder legislativo é delegado a Assembléa geral, com a sancção do
de sua residencia. Imperador; e as Assembléas Provinciaes com approvação dos presidentes das
5º. Os estrangeiros naturalisados, qualquer que seja a suareligião. Províncias.
A lei determinará as qualidades precisas para se obter a carta de naturalização.
Art. 14. A Assembléa Geral compõe-se de duas câmaras: câmara de deputados, e
câmara de senadores, ou senado.
Art. 7. Perde os direitos de cidadão brasileiro:
1º. O que se naturalisar em paiz estrangeiro. Art. 15. É de attribuição da Assembléa Geral, reunidas ambas as câmaras:
2º. O que sem licença do Imperador aceitar emprego, pensão, ou condecoração 1º. Tomar juramento ao Imperador, ao príncipe Imperial e ao Regente.
de qualquer governo estrangeiro. 2º. Reconhecer o regente, ou nomea-lo.
3º. O que for banido por sentença. 3º. Reconhecer o príncipe Imperial como sucessor do Throno, na primeira
reunião, logo depois dos seu nascimento.
Art. 8. Suspende-se o exercício dos direitos políticos: 4º. Nomear o tutor ao Imperador menor, caso seu pai ou não tenha nomeado em
1º. Por incapacidade physica ou moral. testamento.
2º. Por sentença condemnatoria a prisão, desterro ou degredo, em quanto 5º. Resolver as dúvidas, que occorrerem sobre a successão da coroa.
durarem os seus effeitos. 6º. E em câmaras separadas:
Na morte do Imperador ou vacância do throno, instituir exame da
Título III administração, que acabou, e reformar os abusos n’ella introduzidos.
Dos Poderes e Representação Nacional 7º. Escolher nova dynastia, no caso da extincção da Imperante.
8º. Fazer leis, interpretá-las, suspendê-las e revoga-las.
Art. 9. A divisão, e harmonia dos poderes políticos é o princípio conservador dos 9º. Velar na guarda da constituição, e promover o bem geral da nação.
direitos dos cidadãos, e o mais seguro meio de fazer effectivas as garantias que a 10º. Fixar annualmente, as despezas publicas, e repartir a contribuição directa.
constituição offerece. 11º. Fixar annualmente, sobre informações do governo, as forças de mar e terra
Art. 10. Os poderes políticos reconhecidos pela Constituição do Império são três: ordinárias e extraordinárias.
o poder legislativo, o poder executivo e o poder judicial. 12º. Conceder, ou negar entrada de forças estrangeiras de terra e mar, dentro do
Art. 11. Os representantes da nação brasileira são o Imperador e a Império, ou dos portos delle.
Assembléa Geral. 13º. Authorizar o governo para contrahir empréstimos.
Art. 12. Todos estes poderes no Império do Brasil são delegações da nação. 14º. Estabelecer os meios convenientes para pagamentos da dívida pública.

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15º. Regular a administração dos bens nacionaes, e decretar a sua alienação. Art. 24. As sessões de cada uma das câmaras será públicas, a excepção dos casos,
16º. Crear, ou supprimir empregos públicos: e estabelecer-lhes ordenados. em que o bem do Estado exigir que sejão secretas.
17º. Determinar o peso, valor, inscripção, typo e denominação das moedas,
Art. 25. Os negócios se resolverão pela maioria absoluta
assim como o padrão dos pesos e medidas.
dos votos dos membros presentes.
18º. Estabelecer os impostos convenientes para fazer face as despezas públicas.
19º. Resolver as duvidas, que se suscitarem entre as assembléas provinciaes. Art. 26. Os membros de cada uma das câmaras são invioláveis pelas opiniões,
20º. Cassar as resoluções das assembléas provinciaes, que forem alheias de suas que proferirem no exercícios de suas funcções.
attribuições, ou oppostas ao bem geral do Império.
Art. 27. Nenhum senador ou deputado, pode ser preso por autoridade alguma,
Art. 16. Cada uma das Câmaras terá o tratamento de Augustos e digníssimos Srs. salvo por ordem de sua respectiva câmara, menos em flagrante delicto, em que se
Representantes da Nação. não admitta fiança.

Art. 17. Cada legislatura durará dous annos; a cada sessão annual três mezes, Art. 28. Se algum senador ou deputado for pronunciado, o juiz, suspendendo
e até quatro, se n’isso concordar a maioria de ambas as câmaras. todo o ulterior procedimento, dará conta a sua respectiva câmara, a qual
decidirá, se o processo deva continuar, e os membros ser ou não suspenso no
Art. 18. A sessão Imperial de abertura será todos os annos no dia 3 de maio.
exercício de suas funcções.
Art. 19. Também será Imperial a sessão do encerramento, e tanto esta,
Art. 29. Se for no intervallo das sessões que algum senador ou deputado seja
como a da abertura, se fará em assembléa geral, reunidas ambas as câmaras.
pronunciado por crime em que não se admitta fiança, o juiz dará parte, na
Art. 20. Seu cerimonial, e o da participação ao Imperador, côrte ao governo, e nas províncias aos presidentes, os quaes designarão alguma
será feito na forma do regimento commum. povoação dentro da mesma província em que deva residir, até que se apresente
a sua respectiva câmara, do que se fará sciente ao governo ou presidente; e
Art. 21. A nomeação dos respectivo presidentes, vice-presidentes, e
quando antes de tempo se retire do lugar designado, será posto em custódia, e
secretários das câmaras, verificação dos poderes de seus membros,
della remettido em tempo conveniente a sua câmara com o processo, em que se
juramento, e sua polícia interior, bem como a nomeação dos officiaes de
declare a culpa, e violação da homenagem.
suas secretarias, e mais empregados das câmaras, tudo se fará na forma
de seus respectivos regulamentos. Art. 30. Os senadores e deputados poderão ser nomeados para o cargo de
ministro de estado, e accumularem as duas funcções. Também accumulão
Art. 22. Na reunião das duas câmaras o presidente do senado dirigirá o trabalho:
as duas funcções, se já eram ministros quando forão nomeados
os deputados e senadores tomão lugares indistinctamente.
senadores ou deputados.
Art. 23. Não se poderá celebrar sessão em cada uma das câmaras, sem que esteja
Art. 31. Não se pode ser ao mesmo tempo membro de ambas as câmaras.
reunida a metade e mais um de seus respectivos membros. Menor número,
porém, poder-se-há reunir em sessões preparatórias para fazer verificar o Art. 32. O exercício de qualquer emprego, a excepção do de ministro
número estabelecido. de estado, cessa interinamente em quanto durarem as funcções
de deputado, ou de senador.

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Art. 33. No intervalo das sessões não poderá o Imperador empregar um senador CAPÍTULO III
ou deputado, fora do Império contra sua vontade: nem mesmo irão exercer Do Senado
seus empregos, quando isso os impossibilite para se reunirem no tempo da
Art. 40. O Senado é composto de membros temporários, substituídos cada dous
convocação da assembléa geral ordinária, ou extraordinária.
annos pela terceira parte; tendo lugar a primeira substituição, dous annos depois
Art. 34. Se por algum caso imprevisto, de que dependa a segurança pública, ou
da primeira reunião, e tirado por sorte o numero, que deve ser substituído nas
bem do estado, for indispensável, que algum senador ou deputado saia para outra
duas primeiras substituições.
commissão, a respectiva câmara o poderá determinar.
Art. 41. Cada Província dará tantos senadores, quantas forem metade de seus
CAPÍTULO II respectivos deputados; com a differença, que quando o número dos deputados
Da Câmara dos Deputados da província for ímpar, o número de seus senadores será metade do número
immediatamente menor, de maneira que a Província que houver de dar onze
Art. 35. A câmara dos deputados é electiva e temporária. deputados dará cinco senadores.

Art. 36. É privativa da câmara dos deputados a iniciativa. Art. 42. A Província que tiver um só deputado, elegerá todavia o seu senador, não
1º. Sobre impostos geraes. obstante a regra acima estabelecida.
2º. Sobre recrutamentos.
Art. 43. As eleições serão feitas pela mesma maneira que a dos deputados.
3º. Sobre a escolha de nova dynastia, no caso de extinção da Imperante.
Art. 44. Os lugares de senadores, que vagarem, serão preenchidos pela mesma
Art. 37. Também principiarão na câmara dos deputados.
forma da primeira eleição, pela sua respectiva Província.
1º. O exame da administração passada, e reforma dos abusos nella introduzidos.
2º. A discussão das propostas feitas pelo poder executivo. Art. 45. Para ser Senador requer-se
1°. Que seja cidadão brasileiro, e que esteja no gozo de seus direitos políticos.
Art. 38. É de privativa attribuição da mesma câmara decretar, que tem lugar o
2º. Que tenha a idade de trinta e cinco annos para cima.
accusação dos ministros do estado; poderá igualmente decretar a accusação dos
3º. Que seja pessoa de saber, capacidade e virtudes, com preferência os que
membros do tribunal supremo de justiça; e pela mesma forma e com os mesmos
tiverem feitos serviços a pátria.
effeitos, que tem o decreto da accusação dos ministros de estado; não obstante
4º. Que tenha de rendimento annual por bens, indústria, commercio, ou
poderem ser os mesmos membros do tribunal supremos de justiça; e pela mesma
emprego, a somma de oitocentos mil réis.
forma e com os mesmos effeitos, que tem o decreto da accusação dos ministros
de estado; não obstante poderem ser os mesmos membros do tribunal supremo
Art. 46. Os príncipes da casa Imperial são senadores por direito, e terão assento
de justiça pronunciados pelos senado, e pelas justiças ordinárias.
no senado logo que chegarem a idade de vinte e cinco annos.
Art. 39. Os deputados vencerão, durante as sessões, uma diária taxada no fim
Art. 47. É da attribuição exclusiva do senado
da última sessão da legislatura antecedente. Além disto de lhes arbitrará pelas
1º. Conhecer os delictos commetidos pelos membros da família Imperial,
assembléas provinciaes respectivas uma indemnisação annual para as despezas
ministros de estado, senadores, deputados e membros do tribunal
de ida, e volta quando morem fora da côrte.
supremo de justiça.

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2º. Expedir cartas de convocação da assembléa, caso o Imperador não tenha feito Art. 55. Se a câmara dos deputados adoptar o projecto, o remetterá a dos
dois mezes depois do tempo, que a constituição determina, para o que se reunirá senadores com a seguinte fórmula:- A Câmara dos Deputados envia a Câmara
o senado extraordinariamente. dos Senadores a proposição junta do poder executivo (com emendas, ou sem
3º. Convocar a assembléa na morte do Imperador para a eleição do regente nos ellas) e pensa que ella tem lugar.
casos em que ella tem lugar, caso o regente provisório não a faça.
Art. 56. Se não poder adoptar a proposição, participará ao Imperador por uma
Art. 48. No juízo dos crimes, cuja accusação não pertence a câmara dos deputação de sete membros da maneira seguinte: - A Câmara dos Deputados
deputados, accusará o procurador da corôa, e soberania nacional. testemunha ao Imperador seu reconhecimento pelo zelo, que mostra em vigiar
nos interesses do Império, e lhe supplica respeitosamente se digne tomar em
Art. 49. As sessões do senado começão, e acabão ao mesmo tempo
ulterior consideração a proposta do governo.
que as da Câmara dos Deputados.
Art. 57. Em geral as proposições, que a Câmara dos Deputados admittir e
Art. 50. Á excepção dos casos ordenados pela constituição, toda a reunião do
approvar, serão remettidas a Câmara dos Senadores com a fórmula seguinte:- A
senado fora do tempo das sessões da câmara dos deputados é illicita, e nulla,
Câmara dos Deputados envia ao Senado a proposição junta, e pensa que tem
excpeto para julgar.
lugar pedir-se ao Imperador a sua sancção.
Art. 51. Os senadores vencerão um ordenado annual marcado pela assembléa
Art. 58. Se porém a Câmara dos Senadores não adoptar inteiramente o projecto
geral na última sessão da legislatura antecedente. Aos deputados, por
da Câmara dos Deputados, mas se o tiver alterado ou addicionado, o reenviará
enfermidade ou distância não poderem commodamente voltar para suas
pela maneira seguinte:- O Senado envia a Câmara dos Deputados a sua
províncias, durante a legislatura se arbitrará pela assembléa geral
proposição (tal) com as emendas, ou adicções juntas, e pensa que com ellas tem
também um subsídio annual.
lugar pedir-se ao Imperador a Sancção Imperial.

CAPÍTULO IV Art. 59. Se o Senado depois de ter deliberado julga que não pode admittir a
Da proposição, discussão, sancção e promulgação das leis proposição, ou projecto, dirá nos termos seguintes:- O Senado torna a remetter
a Câmara dos Deputados a proposição (tal), a qual não tem podido dar o seu
Art. 52. A proposição, opposição e approvação dos projectos consentimento.
de lei competem a cada uma das câmaras.
Art. 60. O mesmo praticará a Câmara dos Deputados para com a do Senado,
Art. 53. O poder executivo exerce por qualquer dos ministros de estado a quando neste tiver o projecto a sua origem.
proposição, que lhe compete na formação das leis, só depois de examinada por
Art. 61. Se alguma das Câmaras não adoptar as emendas poderá o projecto ser de
uma comissão da câmara dos deputados, onde deve ter princípio, poderá ser
novo redigido, e emendando tantas vezes, quantas se julgar necessário para obter
convertida em projecto de lei.
approvação.
Art. 54. Os ministros podem assistir e discutir a proposta depois do relatório da
commissão; mas não poderão votar, salvo se forem senadores ou deputados.

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Art. 62. Se qualquer das duas câmaras, concluída a discussão, adoptar cumprir, e guardar tão inteiramente como nella se contém. O Secretário de
inteiramente o projecto, o que a outra câmara lhe enviou, o reduzirá a decreto, e Estado dos negócios de... (o da repartição competente) faça imprimir,
depois de lido em sessão, dirigirá ao Imperador em dois autographos, assignados publicar e correr.
pelo presidente e os dois primeiros secretários, pedindo-lhe a sua sancção pela
Art. 68. Assignada a Lei pelo Imperador, referendada pelo secretário de estado
fórmula seguinte:- A Assembléa Geral dirige ao Imperador o decreto incluso, que
competente, e sellada com o sello do Império, se guardará o original no archivo
julga vantajoso e útil ao Império, e pede a sua Magestade Imperial se digne
público, e se remetterão os exemplares della impressos a todas as Câmaras do
dar a sua sancção.
Império, tribunaes, e mais lugares aonde convenha fazer-se pública.
Art. 63. Esta remessa será feita por uma deputação de sete membros, enviada
pela Câmara ultimamente deliberante, a qual ao mesmo tempo informará a CAPÍTULO V
outra Câmara, onde o projecto teve origem, que tem adoptado a sua proposição Das Assembleias Provinciaes
relativa a tal objecto, e que dirigio ao Imperador pedindo-lhe a sua sancção.
Art. 69. A Constituição reconhece, e garante o direito de intervir todo o cidadão
Art. 64. Recusando o Imperador prestar o seu consentimento, dentro de um mez
nos negócios de sua província, e que são immediatamente relativos a seus
fará apresentar a Câmara, que lhe enviou o decreto, os motivos, e não o fazendo,
interesses peculiares.
suppõe-se a ei sanccionada.
Art. 70. Este direito será exercitado pelas Câmaras dos municípios, e pela
Art. 65. Se o projecto não sanccionado for proposto na mesma sessão, e vencido
assembléa provincial, que se deve estabelecer em cada Província, inda mesmo
por dois terços em ambas as Câmaras, e de novo apresentado a sancção, entende-
naquella em que estiver a capital do Império.
se que o Imperador o tem sanccionado. O mesmo acontecerá se o decreto lhe for
apresentado nos mesmos termos na sessão do anno seguinte, ainda que então Art. 71. Cada Assembléa Provincial constará de trinta e um membros nas
approvado somente pela maioria de ambas as Câmaras. Províncias do Pará, Maranhão, Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas, S. Paulo, Rio
Grande do Sul, e Rio de Janeiro: e nas outras de vinte e um.
Art. 66. Se o Imperador adoptar o projecto da assembléa geral, se exprimirá
assim:- O Imperador consente- com o que fica sanccionado e nos termos de Art. 72. É da attribuição exclusiva da Assembléa Provincial:
ser promulgado como lei do Império; e um dos dois authographos, depois de 1°.Tomar juramento ao novo presidente da assembléa provincial.
assignados pelo Imperador, será remettido para o Archivo da Câmara, que 2º.Nomear Vice-Presidente.
o enviou, e o outro servirá para por elle se fazer a promulgação da lei, pela 3º.Fazer resoluções relativas as necessidades, e interesses peculiares da
respectiva secretaria do estado, onde será guardado. província, interpretá-las, suspende-las, e revoga-las.
4º. Fixar annualmente a receita, a despeza pública da província.
Art. 67. A formula da promulgação da lei será concebida nos seguintes termos:-
5º. Estabelecer os impostos necessários as despezas públicas da província.
Dom (N) por graça de Deus, e unanime acclamaçao dos povos Imperador
6º. Fixar annualmente sob propostas das Câmaras Municipaes com informação
Constitucional do Brasil; Fazemos saber a todos os nossos súbditos, que a
do Presidente da Província, as guardas municipaes necessárias.
assembléa geral decretou, e nós queremos a lei seguinte (a íntegra da lei nas
7º.Authorizar o presidente da província para contrahir determinado
suas disposições somente). Mandamos portanto a todas as authoridades a quem
empréstimo; dependendo porém a sua execução da approvação da
o conhecimento, a execução da referida lei pertencer, que a cumprão, e fação
Assembléa Geral;

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8º.Regular a administração dos bens provinciaes; mas não poderá Art. 78. Para haver sessão deverá achar-se reunida mais de metade do
authorizar a sua alienação, sem approvação das assembléa geral; número de seus membros.
9º.Crear, e suprimir empregos da província, e alterar sua divisão.
Art. 79. Não podem ser elleitos para membros das assembléas provinciaes o
10º.Velar na guarda da constituição, e promover o bem geral da província.
presidente da província, o commandante das armas e o prelado da diocese.
11º. Resolver a suspensão do presidente da província, quando pronunciado
de crime, em que não se admitta fiança, ou tenha incorrido em crime grave Art. 80. O presidente da província assistirá a installação da assembléa
de responsabilidade; procedendo-se neste caso em tudo, como se procede provincial, e seu encerramento. Aquella terá lugar no dia, que os presidentes
nas accusações dos ministros de estado, remettendo o processo ao tribunal designarem pela primeira vez, e para o futuro as mesmas assembléas marcarão
competente. definitivamente. Terá a direita do presidente da assembléa, e nessa occasião
12º. Resolver que algum dos seus membros continue a ser processado perante o dirigirá a sua falla a mesma, instruindo-a do estado dos negócios públicos, e das
tribunal competente, sem o que não poderá nem ser preso, excepto nos casos, e providencias que a província mais precisar para o seu melhoramento.
pela maneira mencionada nos artigos 27, 28 e 29.
Art. 81. Os negócios que começarem nas câmaras serão remmetidos
13º. Marcar o valor das causas civis, em que tem lugar o pedir revista das
officialmente ao primeiro secretário da assembléa, aonde serão discutidos a
sentenças ao tribunal supremo de justiça.
portas abertas, bem como os que tiverem origem nas mesmas assembléas.
14º. Receber representações, e queixas contra os empregados públicos para
As suas resoluções serão tomadas a pluralidade absoluta de votos dos
promover a responsabilidade dos mesmos.
membros presentes.
Art. 74. A assembléa, onde estiver a côrte, poderá somente accusar os
Art. 82. Não de podem propor nem deliberar nestas assembléas:
ministros de estado, perante o senado, nos casos em que as outras
1º. Sobre interesses geraes da nação.
podem suspender os presidentes.
2º. Sobre quaesquer ajustes de umas com as outras províncias.
Art. 75. Qualquer assembléa provincial do segundo anno da legislatura em diante
Art. 83. As resoluções das assembléas provinciaes serão remettidas por ofício
poderá propor a assembléa geral a creação de uma segunda câmara, e augmento
das mesmas aos presidentes das respectivas províncias para dar-lhes sua
de número de número de deputados a dita assembléa provincial, designando
approvação, seguindo-se neste processo tudo quanto fica disposto a respeito dos
número, qualidade, duração e attribuições dessa segunda câmara, e se for
projectos offerecidos a saudação Imperial, com a única differença de dizer- o
approvada a proposta com alteração, ou sem ella, será logo posta em execução,
presidente approva- em lugar do- Imperador consente.- E a promulgação
não podendo ser mais alterada, senão na forma dos arts. 167, 168, 169 e 170.
será pela maneira seguinte: - F. presidente da província de... Faço saber, que
Art. 76. A reunião das assembléas provinciaes se fará nas capitaes das respectivas a assembléa provincial resolveu e eu approvei a seguinte resolução- Mando
províncias, e na primeira sessão preparatória nomearão presidente, vice- portanto a todas as authoridades a quem o conhecimento e execução da referida
presidente, dois secretários e supplentes, que servirão por todo o tempo da resolução pertencer, que a cumprão e facão cumprir, e guardar tão inteiramente
sessão; examinarão e verificarão a legitimidade da eleição de seus membros. como nella se contém.

Art. 77. Todos os annos haverá sessão, e durará dois mezes, podendo prorogar-se Art. 84. Os deputados das assembléas provinciaes gozarão em todo Império
por mais um mez, se nisso convier a maiorida da assembléa. das mesmas prerogativas e privilégios concedidos aos deputados da nação,
sendo responsabilisados pelos crimes que commeterem durante a legislatura

168 169
perante as mesmas assembléas, naquelles crimes, em que não julgão os jurados, Art. 91. São excluídos de votar nas assembléas parochiaes:
e procedendo o governo e presidentes das respectivas províncias para com os 1º. Os menores de vinte e um annos.
mesmos como no art. 28 e 29, até que sejam julgado pelos jurados. 2º. Os filhos-famílias, que estiverem na companhia de seus pais, salvo se
servirem officios públicos.
Art. 85. Vencerão uma diária durante as sessões marcada pela antecedente
3º. Os criados de servir, em cuja classe não entrão os guarda-livros e primeiros
legislatura provincial, e uma indemnisação annual para vinda e volta, quando
caixeiros das casas de commercio, os criados da casa Imperial, que não forem de
morem fora dos lugares onde se reunirem as assembléas.
galão branco, e os administradores das fazendas ruraes e fabricas.
Art. 86. Para a primeira legislatura o governo designará as diárias aos deputados 4º. Os religiosos, e quesquer que vivão em communidade claustral.
da nação e da província, onde estiver a côrte; e ordenado aos senadores, e as 5º. Os que não tiverem de renda liquida annual cem mil reís por bens de raiz,
respectivas indemnisações de vinda e volta. Os presidentes das províncias farão industria, commercio ou empregos.
o mesmo para com os deputados das assembléas provinciaes.
Art. 92. Os que não podem votar nas assembléas primárias de parochia, não
Art. 87. O methodo de proseguirem as assembléas provinciaes em seus podem ser membros, nem votar na nomeação de alguma authoridade electiva
trabalhos, sua polícia interna e externa, a nomeação e remoção de officiaes de nacional ou local.
suas secretarias, e mais empregados de suas casas, tudo se fará na forma dos
Art. 93. Podem ser eleitores, e votar na eleição dos deputados, senadores e
regimentos, que formarem,independente de approvação dos presidentes das
deputados das assembléas provinciaes, todos que podem votar na assembléa
províncias, servindo interinamente o que lhes for dado pela assembléa geral.
parochial. Exceptuão-se:
Art. 88. De todas as resoluções das assembléas provinciaes será remettida uma 1º. Os que não tiverem renda liquida annual duzentos mil réis, por bens de raiz,
cópia authentica a assembléa geral pelo intermédio do poder executivo para esta industria, commercio ou emprego.
examinar se offendem a constituição e leis geraes do Imperio, em cujo caso serão 2º. Os libertos.
revogadas. 3º. Os criminosos.

Art. 94. Todos os que podem ser eleitores são


CAPÍTULO VI
hábeis para serem nomeados deputados.
Das Eleições
1º. Os que não tiverem quatrocentos mil réis de renda liquida, na forma dos arts.
91 e 93.
Art. 89. As nomeações dos deputados e senadores, para a assembléa geral, e
2º. Os estrangeiros naturalisados.
dos deputados das assembléas provinciaes, serão feitas por eleições indirectas,
3º. Os que não professarem a religião do estado.
elegendo a massa dos cidadãos activos em assembléas parochiaes os eleitores de
província, e estes os representantes da nação e província. Art. 95. Os cidadãos brasileiros em qualquer parte que existão, são elegíveis em
cada districto eleitoral para deputados, ou senadores, ainda que quando ahi não
Art. 90. Tem voto nestas eleições primárias:
sejão nascidos, residentes ou domiciliados.
1º. Os cidadãos brasileiros, que estão no gozo de seus direitos políticos.
2º. Os estrangeiros naturalisados. Art. 96. Uma lei regulamentar marcará o modo pratico das eleições, e o número
dos deputados relativamente a população do Império.

170 171
TÍTULO V 12º. Nomear magistrados.
Do Imperador 13º. Nomear os commandantes da força de terra, e mar, e removel-os quando
CAPÍTULO I assim convenha ao serviço público.
Do Poder Executivo 14º. Conceder licença temporária aos empregados por causa justa.
15º. Dirigir as negociações políticas com as nações estrangeiras.
Art. 97. A pessoa do Imperador é inviolável, e sagrada: elle não está sujeito a 16º. Fazer tratados de alliança offensiva e defensiva: de subsídio e commercio;
responsabilidade alguma. levando-os depois de concluídos, e antes de ratificados ao conhecimento da
assembléa geral quando o interesse e segurança do estado o permittirem, para
Art. 98. Os seus títulos são- Imperador Constitucional do Brasil- e temo
primeiro obter a sua approvação.
tratamento de Magestade Imperial.
17º. Declarar a guerra, e fazer a paz participando a assembléa geral e
Art. 99. O Imperador é o Chefe do Poder Executivo; e o exercita pelos seus communicações, que forem compatíveis com os interesses e segurança dos
ministros do Estado. estado.
São suas attribuições: 18º. Conceder cartas de naturalisação na forma da lei.
1º. Convocar nova assembléa geral ordinária no dia trez de junho do segundo 19º. Conceder mercês, honras e distincções que pela assembléa geral forem
anno da legislatura existente. estabelecidas para recompensa de serviços feitos ao estado; excepto títulos, que
2º. Convocar a assmbléa geral extraordinariamente nos intervallos das sessões, nunca serão criados.
quando assim o pedir o bem do estado. 20º. Expedir os decretos, instrucções e regulamentos adequados a boa execução
3º. Sanccionar os decretos, e resoluções da assembléa geral. das leis, e para firmar a inteligência das mesmas.
4º. Prorrogar, ou adiar a assembléa geral. 21º. Decretar a applicação dos rendimentos destinados pela assembléa geral aos
5º. Nomear, e demmitir livremente os ministros de estado. vários ramos da pública administração.
6º. Suspender os magistrados quando assim convenha a tranquilidade pública 22º. Conceder, ou negar o beneplácito aos decretos dos concílios e letras
e interesse do estado, remettendo os papeis que contenhão os motivos á apostólicas, e quaesquer outras constituições ecclesiásticas, que não se
authoridade competente para os responsabilizar. oppuzerem a constituição; e precendendo a approvação da assembléa, se
7º. Fazer conservar em custodia os membros do tribunal supremo de justiça, que contiverem disposição geral.
forem pronunciados em crime, em que não se admitta fiança arte que se reúna o 23º. Prover a tudo que for concernente a segurança interna e externa do estado,
senado, que os deve julgar. na forma da constituição.
8º. Perdoar, e moderar as penas impostas aos réos condemnados por sentença,
Art. 100. O Imperador antes de ser acclamado prestará nas mãos do presidente
quando a humanidade, ou interesses público o aconselham; mas nos crimes
do senado, reunidas as duas câmaras, o seguinte juramento- Juro manter
políticos dependerá o perdão da approvação da assembléa geral.
a religião Catholica Apostólica Romana, a integridade e indivisibilidade do
9º. Conceder a amnistia em caso urgente, quando a salvação pública, e a
Império; observar, e fazer observar a constituição política da nação brasileira e
humanidade o exigirem.
mais leis do Império, e prover ao bem geral do Brasil quanto em mim couber.
10º. Nomear Bispos.
Art. 101. O Imperador não poderá sahir do Império do Brasil sem o
11º. Prover os empregos políticos, civis, e os ecclesiásticos sob proposta tríplice
consentimento da assembléa geral; e se o fizer se entenderá que abdicou a corôa.
dos prelados.

172 173
Capítulo II pelo Imperador, com quem se poderão tratar as acções activas e passivas,
Da Família Imperial e sua Dotação concernentes aos interesses da Casa Imperial.

Art. 111. A assembléa designará os palácios e terrenos, cujo uso fructo ficará
Art. 102. O herdeiro presumptivo do Império terá o título de “Príncipe Imperial”
pertencendo ao Imperador e seus successores.
e o seu primogênito o de “Príncipe do Grão Pará”; e todos os mais terão o de
“Príncipes”. O tratamento do herdeiro presumptivo será o de “Alteza Imperial” e
Capítulo III
o mesmo será o do Príncipe do Grão Pará: os outros príncipes terão o tratamento
Da Sucessão do Império
de alteza.

Art. 103. O herdeiro presumptivo em completando quatorze annos de idade, Art.112. O Sr. Dom Pedro II, por unanime acclamação dos povos, actual
prestará nas mãos do presidente do senado, reunidas as duas câmaras, o seguinte Imperador Constitucional, imperará sempre no Brasil.
juramento- “Juro manter a religião Catholica Apostólica Romana, observar a
Art.113. Sua descendência legítima succederá no throno segundo a ordem
constituição política da nação brasileira, e ser obediente as leis e ao Imperador”.
regular da primogenitura e representação, preferindo sempre a linha anterior
Art. 104. A assembléa geral, logo que o Imperador succeder no Império, lhe as posteriores: na mesma linha o gráo mais próximo ao mais remoto; no mesmo
assignará, e a Imperatriz sua augusta esposa, uma dotação correspondente ao gráo o sexo masculino ao feminino, no mesmo sexo a pessoa mais
decoro de sua alta dignidade. velha a mais moça.

Art. 105. A assembléa geral assignará também alimentos ao Príncipe Imperial, Art.114. Extinctas as linhas dos descendentes legítimos do Sr. Dom Pedro II,
e aos demais príncipes desde que nascerem. Os alimentos dados aos Príncipes ainda em vida do último descendente, e durante o seu Império, escolherá a
cessarão somente quando elles sahirem para fora do Império. assembléa geral nova dynastia.

Art. 106. Os mestres dos Príncipes serão da escolha e nomeação do Imperador, Art. 115. Nenhum estrangeiro poderá succeder na corôa do Império do Brasil.
e a assembléa lhes designará os ordenamentos, que deverão ser pagos pelo
Art. 116. O casamento da Princeza herdeira presumptiva da corôa será feito a
thesouro nacional.
aprasimento do Imperador; não existindo Imperador ao tempo em que se tratar
Art. 107. Na primeira sessão de cada legislature, a câmara dos deputados exigirá deste consorcio, não poderá elle efectuar-se em approvação da assembléa geral.
dos mestres uma conta do estado do adiantamento dos seus augustos discípulos. Seu marido não terá parte no governo, e somente se chamará Imperador depois
que tiver da Imperatriz filho, ou filha.
Art. 108. Quando a princezas houverem de casar, a assembléa lhes assignará dote,
e com a entrega delle cessarão os alimentos. Art. 117. Acontecendo morrer o Sr. Dom Pedro II sem successão, passará a corôa

Art. 109. Aos Príncipes, que se casarem e forem residir fora do Império, se à Sra. princeza Dona Januária, e a sua descendência legítima: em falta desta e sua
entregará por uma vez somente uma quantia determinada pela assembléa, com descendência, passará a corôa a Sra. princeza Dona Paula, e a sua descendência
que cessarão os alimentos que percebião. legítima: em falta desta e sua descendência, passará a corôa à Sra. Dona
Francisca, e a sua descendência legítima.
Art. 110. A dotação, alimentos e dotes de que fallão os artigos antecedentes,
serão pagos pelo thesouro público, entregues a um mordomo, nomeado

174 175
Capítulo IV quanto não tornar a casar; faltando esta, a assembléa geral nomeará o tutor, com
Do Regente na minoridade ou impedimento do Imperador tanto que nunca poderá ser tutor do Imperador menor aquelle, a quem possa
tocar a successão da corôa na sua falta.
Art. 118. O Imperador é menor até a idade de dezoito annos completos.
CAPÍTULO V
Art. 119. Durante a sua minoridade, o Império será governado por uma regência,
Do Ministério
a qual pertencerá ao parente mais chegado do Imperador segundo a successão: e
que seja maior de vinte e cinco annos.
Art. 128. Haverá differentes secretarias de estado. A lei designará os negócios
Art. 120. Se o Imperador não tiver parente algum que reúna estas qualidades, pertencentes a cada uma, e seu número; as reunirá, ou separará,
será o Império governado por um regente, nomeado cada quatro annos pela como mais convier.
assembléa geral. A regência actual governará, até que a assembléa geral na
Art. 129. Os ministros de estado referendarão, ou assignarão todos os actos do
próxima reunião nomêe o regente.
poder executivo, sem o que não poderão ter execução.
Art. 121. Em quanto se não eleger regente, ou este não tomar posse, ou no seu
Art. 130. Os Ministros de Estado serão responsáveis:
impedimento, bem como no do Imperador, regerá provisoriamente o Ministro
1º. Por traição.
do Império, e na falta deste qualquer dos ministros de estado, que for mais velho
2º. Por peita, suborno, ou concussão.
em idade, até que a assembléa geral dê providências a este respeito.
3º. Por abuso do poder.
Art. 122. No caso de fallecer a Imperatriz imperante, será regente seu marido. 4º. Pela falta de observância da lei.
5º. Pelo que obrarem contra a liberdade, segurança, ou propriedade dos
Art. 123. Se o Imperador por causa phisica, ou moral, evidentemente
cidadãos.
reconhecida pela pluralidade de cada uma das câmaras da assembléa, se
6º. Por qualquer dissipação dos bens públicos.
impossibilitar para governar, em seu lugar governará, como regente, o príncipe
Imperial, se for maior de desoito annos. Art. 131. Uma lei particular especificará a natureza destes delictos, e a maneira de
proceder contra elles.
Art. 124. O regente prestará o juramento mencionado no art. 101, accrescentando
a cláusula de fidelidade ao Imperador, e de lhe entregar o governo, logo que elle Art. 132. Não salva aos ministros da responsabilidade a ordem do Imperador
chegue a maioridade, ou cessar seu impedimento. vocal, ou por escripto.
Art. 125. Os actos do regente serão expedidos em nome do Imperador pela
Art. 133. Os estrangeiros, posto que naturalisados,
fórmula seguinte- “manda o regente em nome do Imperador”- “manda o
não podem ser ministros de estado.
Príncipe Imperial Regente em nome do Imperador”.

Art. 126. O regente não é responsável.

Art. 127. Durante a minoridade do successor da corôa, será seu tutor, quem
seu pai lhe tiver nomeado em testamento; na falta deste, a Imperatriz mãi, em

176 177
CAPÍTULO VI entende, que não possão ser mudados de uns para outros
Da Força Militar lugares pelo tempo, e maneira que a lei designar.

Art. 143. Só por sentença poderão os juizes perpétuos perder os seus lugares.
Art. 134. Todos os brasileiros são obrigados a pegar em armas, para sustentar
a independência e integridade do Império, e defende-lo dos seus inimigos Art. 144. Para julgar as causas em segunda e última instância, haverá nas
externos, ou internos. províncias do Império as relações, que forem necessárias para
commodidade dos povos.
Art. 135. Em quanto a assembléa geral não designar a força militar permanente
de mar e terra, subsistirá a que então houver, até que pela mesma assembléa seja Art. 145. Nas causas crimes a inquirição das testemunhas, e todos os
alterada para mais, ou para menos. mais actos do processo, depois da pronuncia serão públicos desde já.

Art. 136. A força militar é essencialmente obediente; jamais poderá reunir, Art. 146. Nas cíveis, e nas penas civilmente intentadas, poderão as partes
sem que lhe seja ordenado pela authoridade legítima. nomear juízes arbitros. Suas sentenças serão executadas sem recurso,
se assim o convencionarem as mesmas partes.
Art. 137. Ao poder executivo compete privativamente empregar a força
armada de mar e terra, como bem lhe parecer conveniente a Art. 147. Sem se fazer constar, que se tem intentado o meio da reconciliação,
segurança, e defeza do Império. não se começará processo algum.

Art. 138. Os officiaes do exército e armada não podem ser privados das suas Art. 148. Para este fim haverá juízes de paz, os quaes serão electivos pelo
patentes, senão por sentença proferida em juiso competente. mesmo tempo e maneira, por que se elegem os vereadores das câmaras.
Suas attribuições e districtos serão regulados por lei.
Art. 139. Uma ordenança especial regulará a organisação do exército do Brasil,
sua promoções, soldos, e disciplina, assim como da força naval. Art. 149. Na capital do Império, além da relação que deve existir,
assim como nas mais províncias, haverá também um tribunal com
TÍTULO VI a denominação de Supremo Tribunal de Justiça- composto
Do Poder Judicial de juízes letrados tirados das relações por suas antignidades.
Capítulo Único
Art. 150. A este Tribunal compete:
Dos Juízes, e tribunaes de Justiça
1º. Confirmar, revogar, ou alterar as sentenças, que forem pelo
mesmo tribunal julgadas dignas de revista, segundo a lei.
Art. 140. O poder judicial é independente, e será composto de juízes, e jurados,
2º. Julgar os ministros das relações, os empregados no corpo
os quaes terão lugar assim no cível, como no crime nos casos, e pelo modo que os
diplomático, e os presidentes das províncias nos crimes
códigos determinarem.
individuaes e de responsabilidade, que cometterem.
Art. 141. Os jurados pronuncião sobre o facto, e os juízes applicão a lei. 3º. Conhecer, e decidir sobre os conflictos de jurisdição
e competência das relações provinciaes.
Art. 142. Os juizes de primeira instância são amovíveis: os de segunda instância, e
os membros do tribunal supremo de justiça são perpétuos; o que toda via não se

178 179
TÍTULO VII isto mesmo para o Imperador nomear a quem convier.
Da Administração, e economia da Províncias 9º. Enviar acompanhados ao Supremo Tribunal de Justiça os membros das
CAPÍTULO I relações, quando forem pronunciados por crime, que não admitta fiança.
Da Administração 10º. Prover todos os mais empregos da Província, que por lei não
forem da competência de outrem.
Art. 151. Haverá em cada província um presidente nomeado pelo Imperador, 11º. Vigiar na observância da Constituição, Leis e Resoluções,
o qual poderá ser removido, quando o mesmo Imperador entender, que assim fazendo, que os empregados cumprão os seus deveres,
convém ao bom serviço do estado. e sejão responsabilisados quando o mereção.
12º. Conceder licença temporária aos empregados públicos por justo motivo.
Art. 152. O presidente prestará antes de servir juramento perante o presidente
13º. Propor por meio do seu secretário a assembléa provincial as resoluções que
da assembléa provincial, reunida ella, de observar, e fazer observar a
julgar convenientes, a qual as poderá discutir e emendar na forma do regimento.
constituição, as leis e resoluções. Não se achando a esse tempo reunida a
14º. Dirigir o emprego das forças municipaes a bem da tranqüilidade e segurança
assembléa provincial, prestará juramento perante a câmara da capital, enviando
da província. E havendo sedição, rebellião, ou invasão de inimigo, poderá dispor
por cópia authentica a assembléa provincial o termo, logo que reunida for.
da guarda nacional, e da parta da força de mar e terra, que achar-se na província,
Art. 153. O vice- presidente prestará igualmente juramento afim de estar em quanto pelo Imperador não se mandar o contrário.
habilitado para servir na falta, ou impedimento do presidente. Quando aconteça
Art. 155. A força de mar e de terra que achar-se nas províncias
faltar o vice- presidente, ou achar-se impedido de maneira, que não possa tomar
sera subordinada aos presidentes das mesmas naquilo em
posse dentro em oito dias, ou for urgente a substituição, a câmara municipal da
que se não oppuzer as ordens do Imperador.
capital nomeará interinamente quem o substitua.
Art. 156. Os Presidentes terão o tratamento de excellência, e perceberão
Art. 154. Ao presidente compete exclusivamente:
um ordenado marcado pelas respectivas assembléas provinciaes.
1º. Convocar no segundo anno da legislatura, seis mezes antes da futura reunião,
Entretanto vencerão o que está marcado por lei.
a assembléa provincial, determinando a eleição de seus membros na forma da lei.
2º. Convocar a assembléa extraordinária quando a salvação da província o exigir. Art. 157. Haverão em cada província as secretarias necessárias.
3º. Approvar ou reflexionar sobres as resoluções da assembléa provincial. Seu número, empregados e ordenados, e obrigações serão
4º. Dirigir regulamentos e instrucções adequados a boa execução das resoluções, provisoriamente regulados pelos respectivos presidentes,
e para firmar a intelligência das mesmas. até que as assembléas provinciaes resolvão definitivamente.
5º. Prorogar, ou adiar a assembléa provincial.
6º. Suspender os magistrados quando assim convenha a tranquilidade pública, Capítulo II
e interesse da província, remettendo os papéis concernentes a authoridade Das Câmaras
judicial competente para proceder contra os mesmos.
7º. Prover os benefícios ecclesiásticos sob proposta dos prelados na forma da lei. Art. 158. Em todas as cidades e villas ora existentes, e nas mais, que para o
8º. Nomear magistrados, e propor em lista tríplice ao Imperador os que devem futuro se crearem, haverá câmaras, as quaes competem o governo econômico e
servir nas relações: e não havendo sufficientes, ou idôneos na província, declarar municipal das mesmas cidades e villas.

180 181
Art. 159. As câmaras serão electivas e composta do número de vereadores, que a Art. 166. A assembléa geral no princípio de suas sessões examinará se a
lei designar, e o que obtiver maior número de votos será presidente. constituição política do estado tem sido exactamente observada, para prover,
como for justo.
Art. 160. O exercício de suas funcções municipaes, formação das suas posturas
policiaes, applicação das suas rendas, e todas as suas particulares e úteis Art. 167. Quando se conhecer que algum, ou alguns dos artigos da constituição
attribuições, serão decretadas por uma lei regulamentar. merece ser reformado, se fará a proposição por escripto, a qual deve ter origem
na câmara dos deputados, e ser apoiada pela terça parte delles.
Capítulo III
Art. 168. A proposição será lida por três vezes com intervallos de seis dias de
Da Fazenda Nacional
uma a outra leitura; e depois da terceira, deliberará a câmara dos deputados, se
poderá ser admittida a discussão, seguido-se tudo o mais, que é preciso para a
Art. 161. Haverá um tribunal encarregado da administração
formação de uma lei.
da receita e despeza geral do Império.
Art. 169. Admittida a discussão, e vencida a necessidade da reforma do
Art. 162. Haverá em cada província outro encarregado
artigo constitucional, se expedirá lei, que será sanccionada e promulgada
da administração da receita e despeza provincial.
pelo Imperador em forma ordinária; e na qual se ordenará aos eleitores dos
Art. 163. Cada província concorrerá na proporção de suas posses para a deputados para a seguinte legislatura, que nas procurações lhes confirão especial
despeza geral do Império, ficando desde já applicado para esse faculdade para a pretendida alteração, ou reforma; se a reforma versar sobre
fim o rendimento das alfândegas. artigos relativos as províncias, as assembléas provinciaes enviarão suas reflexões
a assembléa geral.
Art. 164. Todas as contribuições directas, a excepção daquellas, que estiverem
applicadas aos juros e amortisação da dívida pública, serão annualmente Art. 170. Na seguinte legislatura, e na primeira sessão, será matéria proposta
estabelecidas pela assembléa geral, mas continuarão, até que se publique a sua e discutida, o que se vencer, prevalecerá para a mudança, ou addicção a lei
derrogação, ou sejão substituídas por outras. fundamental; e juntando-se a constituição, será solmnemente promulgada.

Art. 165. O ministro de estado da fazenda, havendo recebido dos outros ministros Art. 171. A inviolabilidade dos direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros,
os orçamentos relativos as despezas das suas repartições, apresentará na câmara que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida
dos deputados annualmente, logo que esta estiver reunida, um balanço geral da pela constituição do Império, pela maneira seguinte:
receita e da despeza do thesouro nacional do anno antecedente, e igualmente o 1º. Nenhum cidadão pode ser obrigado a fazer, ou deixar
orçamento geral de todas as despezas públicas do anno futuro, e da importância de fazer alguma cousa, senão em virtude da lei.
de todas as contribuições e rendas públicas. 2º. Nenhuma lei será estabelecida sem utilidade pública.
3º. A sua disposição não terá effeito retroactivo.
TÍTULO VIII 4º. Todos podem communicar os seus pensamentos por palavras, escriptos, e
Das disposições geraes e garantias dos Direitos Civis e publicá-los pela imprensa, sem dependência de cesura; com tanto que hajão de
Políticos dos Cidadãos Brasileiros responder pelos abusos, que cometterem no exercício deste direito, nos casos, e
pela forma, qua lei determinar.

182 183
5º. Ninguém pode ser perseguido por motivo de religião, uma vez 15º. Ninguém será isempto de contribuir para as
que respeite a do estado, e não offenda a moral pública. despezas do estado em proporção dos seus haveres.
6º. Qualquer pode conservar-se, ou sahir do Império, como lhe convenha, 16º. Estão abolidos todos os privilégios pessoaes que não são decretados nesta
levando comsigo os seus bens, guardados os regulamentos constituição; e para o futuro só serão concedidos os que forem julgados
policiaes, e salvo o prejuízo de terceiro . essencial e inteiramente ligados aos cargos por utilidade pública.
7º. Todo cidadão tem em sua casa um asylo inviolável. De noite não se poderá 17º. A’ excepção das causas que pro sua natureza pertencem a juízos particulares,
entrar n’ella, senão por consentimento seu, ou para prestar-lhe socorro, ou não foro privilegiado, nem comissões especiaes nas causas cíveis,
a qualquer que n’ella esteja soffrendo violência. De dia será a sua entrada e crimes: excepto o que está marcado na presente constituição.
franqueada nos casos, e pela maneira que a lei determinar. 18º. Organisar-se-há quanto antes um código civil, e criminal,
8º. Ninguém poderá ser preso sem culpa formada, excepto nos casos declarados fundado nas sólidas bases da justiça, e equidade.
na lei, e nestes, dentro de um praso razoável, que a lei marcará, attenta a extensão 19º. Desde já ficão abolidos os açoites, a tortura, a marca
do território; o juiz por uma nota, por elle assignada, fará constar ao réo o motivo de ferro quente, e todas as mais penas cruéis.
da prisão, os nomes do seu accusador, e os das testemunhas, havendo-as. 20º. Nenhuma pena passará da pessoa do delinqüente. Portanto não haverá
9º. Ainda com culpa formada, ninguém será conduzido a prisão, ou n’ella em caso algum confiscação de bens, nem a infâmia do réo se transmittirá aos
conservada estando já preso, se prestar fiança idônea, nos casos que a lei admitte; parentes em qualquer grao que seja.
e em geral nos crimes, que não tiverem maior pena, do que a de seis mezes de 21º. As cadeas serão seguras, limpas, e bem arejadas, havendo diversas casas para
prisão, ou desterro para fora da comarca, o réo livrar-se-há solto. separação dos réos, conforme suas circumstancias, e natureza dos seus crimes.
10º. A’ excepção de flagrante delicto, a prisão não pode ser executada senão por 22º. E’ garantido o direito de propriedade em toda sua plenitude. Se o bem
ordem escripta da authoridade legitima. Se esta for arbitraria, o juiz que a deu, a publico legalmente verificado exigir o uso, e emprego da propriedade do cidadão,
quem tiver requerido, serão punidos com as penas que a lei determinar. será elle idemnisado so valor della. A lei marcará os casos em que terá lugar esta
O que fica disposto acerca da prisão antes da culpa formada, não comprehende as única excepção, e dará as regras para se determinar a indemnisação.
ordenanças militares, estabelecidas como necessárias a disciplina, e recrutamento 23º. Também fica garantida a dívida pública.
do exército, nem os casos que são puramente criminaes, e em que a lei determinar 24º. Nenhum gênero de trabalho, de cultura, industria, ou commércio
todavia a prisão de alguma pessoa, por desobedecer aos mandados da justiça, ou pode ser prohibido, uma vez que não se opponha aos custumes
não cumprir alguma obrigação dentro de determinado praso. públicos, a segurança, a saúde dos cidadãos.
11º. Ninguém será sentenciado senão por authoridade 25º. Ficão abolidas as corporações de officios, seus juízes, escrivães, e mestres.
competente, e em virtude de lei anterior. 26º. Os inventores terão a propriedade das suas descobertas, ou das suas
12º. Será mantida a independência do poder judicial. Nenhuma authoridade producções. A lei lhes assignará um privilégio exclusivo temporário, ou lhes
poderá avocar as causas pendentes, sustal-as, ou fazer reviver os processos findos. remunerará em resarcimento da perda que hajão de soffrer pela vulgarisação.
13º. A lei será igual para todos, que proteja, quer castigue, e recompensará em 27º. O segredo das cartas é inviolável. A administração do correio fica
proporção dos merecimentos de cada um. rigorosamente responsável por qualquer infracção deste artigo.
14º. Todo cidadão pode ser admittido aos cargos públicos civis, políticos, ou 28º. Ficam garantidas as recompensas conferidas pelos serviços feitos ao estado,
militares, sem outra differença, que não seja a dos seus talentos. quer civis, quer militares; assim como direito adquirido a ellas na forma das leis.
29º. Os empregados públicos são strictamente responsáveis pelos abusos e

184 185
omissões praticadas no exercício das suas funcções, e por não
2 - Resposta dada ao Senado pelo Senador
fazerem effectivamente responsáveis aos seus subalternos.
José Bento Leite Ferreira de Mello
30º. Todo cidadão poderá apresentar por escripto ao poder legislativo, e ao
executivo reclamações, queixas, ou petições, e até expor qualquer infracção
da constituição, e requerer perante a competente authoridade e effectiva
responsabilidade dos infractores.
31º. A constituição também garante os socorros públicos.
32º. A instrucção primária é gratuita a todos os cidadãos.
33º. Collegios, e universidades, aonde serão ensinados os
elementos das sciências, bellas letras, e artes.
34º. Ninguém pode suspender artigo algum constitucional, excepto no que
respeita a algumas formalidades, para effeito somente de poder algum ser preso
antes da culpa formada, ou ser removido de um para outro lugar dentro do
Império; ou para dar buscas, e entrar na casa do cidadão; e isto mesmo
só nos casos, e circumstancias especificadas no § seguinte.
35º. Nos casos de rebellião, ou invasão de inimigos, pedindo a segurança do
estado, que se dispensem por termo determinado algumas das formalidades,
que garantem a liberdade individual, poder-se-há fazer por acto especial
do poder legislativo.

Não se achando porém a esse tempo reunida a assembléa, e correndo a pátria


perigo imminente, poderá o governo, e os presidentes da província exercer esta
mesma providência, como medida provisória, e indispensável, suspendendo-a
Resposta dada ao Senado pelo Senador José Bento Leite Ferreira
immediatamente que cesse a necessidade urgente que a motivou; devendo n’um
de Mello sobre a pronúncia contra elle feita pelo Juiz Municipal
e outro caso remetter a assembléa, logo que reunida for, uma relação motivada
da 2ª Vara Bernardo Augusto Nascentes de Azambuja, no processo
das prisões, e d’outras medidas de prevenção tomadas; e quesquer authoridades,
oganisado na Côrte pelos Movimentos de S. Paulo e Minas.
que tiveram mandado proceder a ellas, serão responsáveis pelos abusos, que
tiverem praticado a esse respeito.
Merses profundo, Pulchrior evenit (Horat)
Rio de Janeiro
-FIM-
Na Typographia Nacional- 1843

Pouso Alegre: na Imprensa do Pregoeiro Constitucional, 1832 Augustos e digníssimos Senhores Representantes da Nação.

186 187
Quando o Senado determinou, que eu respondesse sobre a ponúncia que se governem pelos princípios da justiça criminal; porém outras
contra mim proferida no Processo de Crimes Políticos, organisado considerações ainda mais poderosas me levarão a responder.
nesta Côrte pelo Juiz Municipal da 2ª Vara Bernardo Augusto Nas- A recusa de huma defesa explicita e motivada, poderia por alguns
centes de Azambuja, por occasião dos movimentos das províncias de ser attribuida a despeito e a falta de acatamento as determinações do
S. Paulo e Minas, o meu primeiro pensamento foi limitar-me a dizer- Senado, por outros (os meus perseguidores, e seus adherntes), pode-
veja o Senado o Processo, e julgue, como sua consciência lhe dictar. ria ser qualificada como effeito da consciência do crime, e da conclu-
Poderosas razões tinha eu para reduzir a minha resposta a estes dencia das provas, para desse modo continuarem a illaquear a boa fé e
concisos termos: 1º. Que tudo, não havendo ainda Lei, que regule a credulidade da multidão ignorante, fantasiando conspirações contra
marcha do Senado no presente caso, nem mesmo Artigo Regimental, o Throno nos verdadeiros sustentadores do Throno; attribuindo a
minha obediência a intimação para responder será só filha do meu minha absolvição ao favor do Senado para com hum seu Membro,
respeito, e consideração ao mesmo Senado, de que tenho a honra de declamando contra a justiça, denominando-a impunidade; exigindo
ser Membro. Depois o testemunho da minha consciência, e os prece- dos Poderes Políticos novas Leis cada vez mais inconstitucionaes, e
dentes de minha vida publica, que estando em contradicção completa oppressivas, e justificando na opinião illudida as violações da Cons-
com as imputações da pronuncia, de sobejo a refutão sem ser mister tituição já praticadas; e os novos attentados, que premeditão para
a recorrer, a nada mais; mormente quando a mesma enormidade dos aniquilar as Instituições.
crimes imputados, quaes o de conspirar contra o Throno, incríveis Por outra parte recusando-me também a esta defesa perderia eu
em quem antes maculara, revela a sua origem, e aponta a sua inven- esta occasião mais de descortinar aos olhos do Paiz o horror de hum
ção ao espírito de perseguição, e de vingança. Processo aviltante para o Império, e para o século em que vivemos;
Accrescia a absoluta deficiência de provas em cada hum dos pon- deixaria de assignalar aos Brasileiros, presentes e vindouros, o facto
tos de criminalidade imputada, e os crassos erros de jurisprudência altamente demonstrativo, do abuso, que se pode fazer da confiança
criminal, os contracensos e puerilidades, que abundão nos inqualifi- do Monarcha, e das Leis, mesmo em Paiz representativos, quando o
cáveis Officios, (que servem de denuncias) do Chefe de Polícia, assim Poder he entregue a homens só dominados pela sede do mando, e a
como na Sentença da pronuncia, e em todo o Processo. applicação das Leis, confiada a Magistrados creados contra a Cons-
Accrescia, finalmente, a consideração, de que tem de ser decidida tituição, e sem a independência que ella providentemente lhes at-
esta questão pelo Senado do Brasil, pela Corporação a mais respei- tribuio, amovíveis ao arbítrio do Governo, e com acesso igualmente
tável do Império, cujos membros, sejam quaes forem suas opiniões arbitrário, contra a natureza constitucional da ordem judiciária. De-
políticas, como assaz illustrados e justos, não poderão illudir-se a res- terminado pois por estes motivos, cuja verdade não poderá deixar de
peito de hum Processo tão atroz, e absurdo, como evidentemente iní- reconhecer o Senado, entrarei no exame do Processo, considerando
quo, nem prostituir sua dignidade, e sacrificar com tal exemplo a sua cada um dos fundamentos da culpa. Fui eu pronunciado na Sentença
própria segurança, e do Estado; as sugestões hostis as instituições, e a fl. Como R. incurso nos Artigos 87, 95, 96 e 107 do Código Criminal,
ao Throno, que nellas se sustenta. isto he, de nada menos do que- de ter tentado directamente e por
Tudo isto me determinaria a não descer a analyse repugnante factos desthronisar o Imperador, preival-o em todo, ou em parte de
desse composto de iniqüidades, e torpezas sem exemplo em Nações sua authoridade constitucional, ou alterar a ordem de successão- ter-

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-me opposto ao livre exercício dos Poderes Moderador, Executivo e provindo do erro fatalíssimo de omittir-se essa base essencial dos
Judiciário;- ter obstado ou impedido o effeito das determinações dos Processos criminaes. Ainda sob os iníquos preceiros da Ord. do Liv.
Poderes Moderador e Executivo conforme a Constituição e as Leis;- 5º, abolida como filha da ignorância dos verdadeiros princípios do
finalmente ter me concertado com mais de vinte pessoas para praticar Direito Criminal, e só protectora da tyrannia, hostil a toda segurança
qualquer dos crimes do Artigo 66, (tentar directamente e por factos individual e pública, recommendavão energicamente os juriscon-
destruir a Independência e a integridade do Imperio), 85 (tentar di- sultos a necessidade do corpo de delicto, ou a certeza do crime ter
rectamente e por factos destruir a Constituição Política do Império, existido, com mais razão; pois devia essa doutrina ser religiosamente
ou forma de Governo estabelecido), 86 (tentar directamente e por guardada debaixo da legislação actual, das Instituições, que ainda nos
factos destruir algum ou alguns Artigos da Constituição), 87 (tentar governão. Onde está porém o corpo de delicto em todo este Processo
directamente e por factos desthronisar o Imperador, etc), 88 (tentar monstro? Onde está provada a existência dos delictos, indicados nes-
directamente e por factos uma falsa justificação de impossibilidade ta lista interminável de crimes políticos, por que fui pronunciado, ou
physica ou moral do Imperador), 89 (tentar directamente e por factos ao menos de algum delles? Ainda dado todo o elastério ao Artigo 47
contra a Regência ou Regente para prival-os em todo ou em parte de da Lei das Reformas, prevalece a doutrina da absoluta e indispensável
sua authoridade constitucional), 91 (ter-me opposto directamente e necessidade do corpo de delicto. Esse defeito capital e annulatório de
por factos à prompta execução dos Decretos ou Cartas de convocação todo o Processo não foi de maneira alguma supprido, porque nem dos
expedidas pelo Imperador ou pelo Senado nos casos da Constituição chamados documentos enviados pelo Chefe de Polícia, nem de suas
Artigo 47§§ 3º e 4º), 92 (ter-me opposto directamente e por factos á miseráveis inducções, nem das testemunhas quatro vezes inquiridas,
reunião d’Assembléa Geral Legislativa em Sessão ordinária, ou reu- resulta a mínima prova, para qualificar hum corpo de delicto de qual-
nião extraordinária, nos casos do Artigo 47 §§ 3º e 4º). quer desses crimes de que fui pronunciado.
Que á simples vista desta relação de crimes e da notoriedade pú- Os documentos, que acompanharão o 1º Officio, consistem na re-
blica dos factos, não qualificaria logo a pronuncia de absurda, risível, lação de um espião encarregado de me vigiar, que aponta as pessoas
e filha unicamente de hum furor cego e exterminador?! de minha amizade, que me visitavão, e ridiculamente declara, se iao
Examinarei com tudo, se a existência de alguns ao menos desses ellas tristes ou alegres, se andavão depressa, ou devagar; nas attesta-
crimes he demonstrada pelo Processo, ou se pelo menos pode ella ser ções particulares, solicitadas ou compradas pela Polícia, relatando as
presumida a vista delle. pessoas, que entravão em diversas casas, em outra attestação de que
O 1º e mais essencial requisito de hum Processo crime he o cor- hum indivíduo vira dous indivíduos que não conheceo fallando da rua
po de delicto, que assegura da existência do facto criminoso, sobre de tal; em outra de hum filho denunciando seu Pai de sympathisar
que tem de versar a pronuncia. Todos os criminalista, mesmo os dos com a rebellião do Rio Grande, e declarando que hum indivíduo o ha-
Paizes, em que não há Governo Representativo, nem jurisprudência via convidado para se armar, sem dizer para que fim: ultimamente em
criminal protectora da liberdade, e segurança individual e pública, alguns interrogatórios feitos na Província de São Paulo e nesta Côrte,
concordão em que sem o corpo de delicto, que certifique ter o crime que nada dizem dos crimes processados, e especialmente em relação
sido perpretado, não pode haver Processo nem pronuncia; e assigna- à Côrte; antes o mais importante desses depoimentos (segundo o
lão numerosos e horríveis attentados contra a innocência, que tem juízo do Chefe de Polícia), nega que houvesse Sociedade alguma ou

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combinação de pessoas na Côrte com fins hostis a pessoa do Impe- sahidas da barra, publicada pelos jornaes, provão a minha sahida des-
rador, ou para algum outro crime. Os outros documentos, que acom- ta Côrte para Santos em 22 de Novembro de 1841, e a minha chegada
panhárao o 2º Officio do Chefe de Polícia, reduzm-se aos Estatutos outra vez a ella pelo mesmo caminho em 17 de Abril de 1842.
de huma Sociedade Secreta, cujo fim, segundo os mesmos Estatutos, Quem em tudo isto poderá descobrir a menor sombra de prova já
he sustentar e defender a Independência do Brasil, e a Constituição não direi da accumulação dos crimes atrozes, que me são imputados
por elle jurada; há alguns depoimentos de presos na Província de São na pronúncia, mas ainda mesmo dessa sonhada conspiração, dessas
Paulo que apenas de ouvir dizer fallão da existência dessa mesma So- deliberações, dessa direcção dada pelo imaginado conselho patriar-
ciedade na Côrte, e huma presencialmente de ter a direcção do mo- chal da Côrte aos movimentos das duas Províncias. Quem não vê que
vimento de São Paulo partido dos círculos dessa associação naquella o processo foi hum meio de perseguição concebido pelos homens do
Província. Além destes denominados documentos, absolutamente Poder, e executando impudentemente pela Polícia para saciar vin-
destituídos de préstimo, para prova da existência de taes crimes, só ganças, retirar da Tribuna Membros da Legislatura que detestavão,
apparecem mentirosos, e risíveis indícios de huma conspiração na e temião; e justificar attentados contra a Constituição e contra as
Côrte, e inducções absurdas, para merecerem o valor de provas. A Leis? Esta capital e as Províncias estiverão então debaixo do império
entrada de indivíduos em huma loja de papel; a mencionada relação, de terror; a suspensão de garantias deo aso a toda a sorte de atten-
pelo espião Carboni, dos amigos que me visitavão; hum Pasquim, tados contra os domicílios, e contra as pessoas; violou-se sem pudor
provavelmente espalhado por algum Agente da Polícia; a entrada de o segredo das cartas; a seducção e corrupção estiverão na ordem do
duas ou três pessoas em huma casa da Rua das Violas (observada pelo dia; a justiça criminal era hum instrumento da Polícia; e com todos
próprio Chefe da Polícia), algumas visitas feitas a Eliseo de Azeredo estes meios não se pôde produzir hum único documento concluden-
Coutinho, quando chegou preso; a rogativa a hum impressor para pu- te, huma prova qualquer ainda imperfeita dos crimes, que figurão na
blicar hum jornal de opposição; e a sahida precipitada de Membros da pronúncia!!!
Câmara dissolvida e da vitalícia (falsa e calumniosamente afirmada Essa falta completa do fundamento de hum Processo de crimes
pelo Chefe de Polícia, em quanto a Membros da Câmara Vitalícia, políticos na Côrte obrigou ao Chefe Polícia a crial-os nas miseráveis
porque nenhum só sahio então da Côrte); são os famosos e mais con- deducções em que abundão esses dous vergonhosos documentos da
cludentes indícios da conspiração na Côrte. nossa degradação moral e social. Faltão testemunhas, faltão papéis
Das testemunhas da formação da culpa há apenas humas, que que provem huma conspiração na Côrte?
depõem ocularmente da existência de hum conselho de invisíveis na Não importa: manda-se hum espião observar quem entra nes-
Côrte, e de ter esse conselho dado direcção aos movimentos de São ta ou n’aquella casa, faz-se-lhe notar o estado das physionomias, e
Paulo e Minas; mas essa testemunha jura que não pertence á Socieda- acceleração ou vagar, com que andão, e conclue-se dahi, que nessa
de, donde rigorosamente se infere, que depõem o que não sabe, e jura casa se conspira, que dahi sahirão resoluções para os movimentos
tão bem que esse conselho fora installado por mim, e em minha casa das Províncias! Apparecem huns Estatutos de huma Sociedade com
em Dezembro de 1841, reconhecendo depois em huma declaração o fim de sustentar a Independência do Brasil e a Constituição ju-
posterior, que a esse tempo estava eu em Minas, convencendo-se a ai rada, e esses Estatutos nada tem de criminoso? Tão bem isso não
mesma de perjura; o que aliás era desnecessário porque as entradas e importa, os Estatutos não fallão do Imperador; logo essa Sociedade

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na Côrte, e especialmente os Senadores José Bento e Alencar são os garantias individuaes e públicas; se não estivessem ainda na memória
cabeças das Revoltas das Províncias, e estão incursos no Artigo 4º de todas as victimas sacrificadas por causa desses actos obtidos da Le-
do Código Criminal! gislatura, só para assegurar o predomínio de alguns; se não estivessem
O Juiz poderá não achar prova em tudo isto, e não poderá por con- presentes as violências e attentados sem número diariamente prati-
seguinte pronunciar aquelles que o Governo quer exterminar? Isto tão cados pelas novas Autoridades Policiaes, principalmente nessas duas
bem não importa: o Juiz he creatura do Governo, e delle todo depen- infelizes Províncias, este só facto bastaria para justificar as previsões
dente; o Chefe de Polícia pois toma para sobre si qualificar as provas e dos Membros das Câmaras, que combaterão taes Leis, e assignalarão
applical-as aos indivíduos, indicando o Artigo do Código, em que são suas fataes consequências, já realisadas, algumas, e outras que hão de
comprehendidos, como cabeças da rebellião das Províncias; diz ao dó- ainda realisar-se irremissivelmente, se o espírito de perseguição con-
cil Magistrado, que os nomes das pessoas, e a frequência das visitas são tinuar no Governo e seus mandatários, e se o Poder Legislativo não der
provas da conspiração; que os documentos remmetidos pela Polícia quanto antes remédio a tantos males.
são mais que sufficientes para produzir a convicção em hum Juiz recto e O Senado desculpe este apparente desvio de minha defesa, por-
imparcial até a evidência! Assim deposto todo o respeito á independên- que as considerações que tenho feito, concorrem para demonstrar o
cia do Poder Judiciário, e postergando mesmo o pudor e dignidade, que espírito, com que foi promovido este Processo; a immortalidade com
em todos os Governos regular esse costumão guardar nos documentos que foi dirigido; a injustiça atroz, a revoltante com que se perseguem
officiaes, e especialmente nos destas espécie, o Delegado immediato os Membros do Senado, sem a mais pequena sombra de crime!
do Governo previne o juízo de hum Magistrado criminal; intima-lhe O que tenho expendido bastaria para a minha defesa, porque
positivamente, que forme o Processo, e pronuncie como cabeças de não pode haver culpa aonde não há crime legalmente provado, nem
rebellião a taes e taes indivíduos; e o que he mais, o Magistrado obe- accusação possível em hum Processo formado sem corpo de delicto;
dece. As victimas assignaladas são comprehendidas na Sentença de mas para que não pareça, que eu me esquivo á discussão das provas
extermínio! E porque dous Réos interpõem recurso para hum Juiz que me dizem individualmente respeito, occuparei ainda a atenção
incorruptível, faz-se declamar em toda a imprensa ministerial (então do Senado com o exame das testemunhas do Summário, pois que dos
exclusiva pelo terror dominante), contra as mesmas victimas assig- chamados documentos já tenho demonstrado sobejamente o valor.
naladas, procurando aterrar-se esse honrado Magistrado e prevenir a A 1ª e 2ª testemunha nada absolutamente dizem a meu respeito;
opinião contra a prevista justiça de seu julgamento! E ao mesmo tempo e a 3ª que he esse miserável Carboni, espião assalariado da Polícia,
o dócil instrumento da perseguição policial he imprudentissimamente limita-se a affirmar com juramento ( juramento de espião!) essa in-
premiado com o despacho para o Juiz de Direito de huma Comarca, qualificável informação, de que já fallei.
preteridos outros que tinhão melhor direito!!! Se outros innumeros A 4ª, apezar de inquirida quatro vezes, interrogada, e instada
factos não existissem para demonstrar os resultados dessa legislação especialmente ao meu respeito, nada absolutamente disse de minha
(a meu vêr) inconstitucional, legislação arrancada á boa fé do Poder influencia ou acto algum meu como autor ou como complice de algum
Legislativo; se não tivessem ahi as reacções de duas Províncias, em re- dos dilictos imputados, e antes expressamente declarou, que eu não
sistência a essa Lei, que ellas julgarão aniquiladoras da Constituição, tivera parte em sua ida para o Norte de São Paulo, nem disso fôra sa-
da independência do Manarcha, da segurança individual, e de todas as bedor, como se observa em seu depoimento a fl.

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A 8ª e 9ª, e a 10ª nada também absolutamente dizem de mim, como se Joaquim Breves, dirigida ao hum sujeito Lino Coutinho, que elle tes-
vê em seus depoimentos. temunha julgava supposto, recommendando a propagação da Socie-
Restão por tanto a 5ª e a 6ª, a 7ª e 11ª informante, as quaes al- dade dos Invisíveis, e que esta carta fôra levada por hum homem da
gumas imputações me fazem, mas taes que a quem tiver a mínima Campanha, cujo nome ignora. No 2º depoimento nada disse de mim.
ideia dos princípios e disposições legislativas que regulão o valor No 3º, dado nesta Côrte aos instantes interrogatórios especiaes a
das provas, e especialmente em matérias criminaes, hão de parecer meu respeito, declarou que reconhecera aquella carta como de minha
não só insufficientes, mas absolutamente desprezíveis e nullas para letra, bem como hum bilhete, que ia dentro fallando do Cabo Rosas,
justificar a pronuncia. porque tinha visto outras cartas minhas para o mesmo Sr. Breves;
A 5ª, André Cursim de Oliveira e Silva, no seu 1ª depoimento em que o homem da Campanha entregara também ao mesmo Sr. Breves
Arêas, a fls., sem razão alguma de sciência refere o meu nome entre huma proclamação manuscripta do Sr. Raphael Tobias, e isto depois
quasi hum cento dos de pessoas respeitáveis, que assignala como do rompimento de Sorocaba no mez de Junho, e depois de ter vindo
principaes influentes da revolta de São Paulo: no 2º depoimento a o Sr. Eliseo preso de Santos, e ter sido solto nesta Côrte; que o men-
fl. nada diz ao meu respeito; no 3º depoimento a fl. referio-se ao que cionado Sr. Breves escrevia ao Sr. Senador Alencar, ao Sr. Conselheiro
tinha dito; no 4º a fl. dado nesta Côrte perante o Juiz do Processo, na Limpo, e a mim, que estando com Roso (4ª testemunha), na prisão
parte em que falla de mim como influente para a mesma revolta na ouvira deste, que a sua viagem ao Norte de São Paulo fora decidida em
Côrte, refere-se ao dito da testemunha Antônio Nunes Corrêa, e ac- hum jantar em minha casa, achando-se também presentes aquelles
crescenta, que o mesmo Nunes lhe dissera ter sido mandado ao Norte Srs. Senador, e Conselheiro, e o Sr. Cônego Geraldo; e que alli se apre-
de São Paulo por seu compadre Limpo, e que também fôra por mim sentara huma carta vinda de cima, dizendo que estavão promptos mil
enviado; e que a 4ª testemunha, Roso, dava como membros da Socie- homens para virem contra a Côrte.
dade dos Patriarchas Invisíveis da Côrte os mesmos que designara Para demonstrar a nenhuma autoridade deste depoimento, em
aquelle Antônio Nunes Corrêa. todos os factos a que se refere, bastaria qualquer das seguintes obser-
Observa-se pois de tudo isto, que a testemunha, no que affirma a vações: 1ª, que he singular no que diz de própria sciencia; 2ª, que nas
meu respeito, se funda unicamente na referência á 4ª e 7ª, mas a 4ª já imputações, que me faz nos depoimentos, redobrou progressivamente
observei que nada disse contra mim, e que antes me justifica nos de- o nº e a gravidade dos factos, e circunstancias, instado por interroga-
poimentos, e na acareação com a mesma testemunha, de que trato, for- tórios preparados para me involverem e os mencionados Srs. Senador
malmente a desmentio, ficando portanto a referente sem autoridade. e Conselheiro, etc. 3ª, a posição em que se achava, dependendo todo
A respeito da 7ª já também observei, (e melhor demonstrarei, o seu destino dos serviços que prestasse aos meus perseguidores; 4ª,
quando tratar do seu depoimento), que nenhuma fé merece pelo perjú- a coacção em que o havião posto com violentos tratamentos nas di-
rio, de que he convencida, afirmando principalmente factos praticados versas prisões em que estivera e se achava; 5ª, o que resulta dos factos
por mim nesta Côrte, quando eu estava então na Província de Minas. bem significativos, de ter esta testemunha confessado, e terem jurado
A 6ª testemunha, Júlio Augusto de Almeida, no 1º depoimen- outras ocularmente, que tomara parte activa na revolta das Villas do
to que deo em Areias, constante dos autos, limitou-se, em quanto a Norte de São Paulo; que acompanhara armamentos para os subleva-
mim, a dizer que vira uma carta minha entre os papéis do Sr. Coronel dos; que levara, e entregara dinheiro ao Chefe dos revoltosos armados

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em Silveiras e Barreiro; e apezar de todos estes elementos de culpa, autos não está provado, que essa Sociedade existisse na Côrte, e me-
ser, como foi logo, posto em liberdade, e segundo a voz pública, estar nos que daqui influísse para os movimentos de São Paulo e Minas, e
gozando já do prêmio dos serviços prestados nesses depoimentos. menos ainda he provado, ter eu tido parte nas deliberações para esse
Depois destes factos como se duvidará de que a testemunha fim, o que era indispensável para a minha criminalidade, quando mes-
depoz o que lhe foi ordenado para envolver as pessoas que mais de- mo provado estivesse, que eu fazia parte dessa Sociedade, e que ella
sejavao Poder comprometter? Mas prescindindo destas razões, o influiria para a revolução; por que he bem sabido, que os membros
depoimento por si mesmo se destroe. A testemunha miseravelmente de associações não são solidariamente responsáveis pelo que fazem
se contradiz, quando no 1º depoimento dado em Arêas diz, que o Sr. fora dos fins de sua instituição, algumas das reuniões ou círculos, ou
Coronel Breves se correspondia para esta Côrte somente com os Srs. alguns indivíduos, a elles pertencentes.
Senador Alencar, e Conselheiro Limpo, cujas cartas elle testemunha E para de huma vez responder a todas as inducções derivadas
subscriptava; e no depoimento, dado nesta Côrte diz, que também se da existência da Sociedade dos Invisíveis, e de sua influência para a
correspondia comigo, o que confirma a já bem provada seducção para revolta das duas Províncias, observarei neste lugar, que suposto ver-
me envolver na pronúncia. dadeiros fossem esses Estatutos constantes dos autos; e suppondo-se
A história da decisão para a ida de Roso ao Norte de São Paulo, ainda que os círculos da Sociedade em São Paulo planisarão o movi-
tomada em hum jantar em minha casa, he desmentida pelo mesmo mento naquella Província, d’ahi não se pode deduzir a existência dos
Roso na acareação com a mesma testemunha, e he absurda e inveros- crimes comprehendidos na pronúncia, máxime a meu respeito e dos
simel em si mesma, porque objetos de tal natureza não se tratão em outros perseguidos na Côrte: 1º., por que a testemunha 5ª André Cur-
jantares. A correspondência com o Sr. Coronel Breves, quando ver- sim que depôz ocularmente da ingerência da Sociedade dos Invisíveis
dadeira fosse, e não mentirosa como já demonstrei, nada significaria, no Norte de São Paulo, refere-se sempre à circulares vindas da Capi-
porque o corresponder-se hum homem com o outro não he crime, e tal dessa Província, e no que diz respeito ao círculo da Côrte, refere-se
menos crime de natureza dos que me são imputados, salvo se se prova á testemunha 4ª que o desmente, e á 7ª, que também só depõem de
que na nossa correspondência se tratavão esses crimes; e a testemu- ouvir dizer, e he manifestamente perjura, atribuindo-me a fundação
nha nada diz a esse respeito. A outra história da carta a Lino Coitinho, da Sociedade, presente eu nesta Côrte, estando eu aliás a 80 léguas
além de nada concluir para a existência dos crimes imputados, he de distância; 2º, por que he de notoriedade pública e comprovado
desprezível pelo defeito da razão de sciencia, porque a testemunha por todos os documentos dessas revoltas, que nellas ninguém pro-
confessa que nem o bilhete nem a carta ião por mim assignados, e o clamou, nem se rebellou para desthronisar o Imperador, destruir a
que diz de serem escriptos por mim, como amanuense, he tão absurda Independência ou a Integridade do Império, ou para perpretar qual-
que não merece refutação, se se attender a minha posição, e ao rigor quer desses crimes atrozes que figurão na pronúncia; só sim servio á
com que os mesmos Estatutos dessa Sociedade de Invisíveis, que a parte mais importante da população dessas Províncias, em haveres,
testemunha diz, que ia recomendada na carta, ordenão que se evitem em consideração pública, e em moralidade de proceder, armada em
qualquer escriptos, que revelem sua existência. nome da Constituição e do Imperador, que julgava em perigo, e só
Disse eu, que a carta nada concluiria contra, ainda que verdadei- em hostilidade contra actos, que lhe parecião destructivos da Cons-
ramente fosse por mim escripta; e na verdade assim he, porque pelos tituição e do Throno, e tendentes a escravisar o Monarcha, e o Paiz.

198 199
A’ Nação, e á posteridade compete julgar da moralidade desses movi- instaurado por mim em Dezembro de 1841, fazendo eu parte do conse-
mentos, e dos actos que o motivarão: a mim cumpre-me unicamente lho; mas não se lembrou, que eu estava a esse tempo em Pouso Alegre,
notar a falsidade, com que se me attribuem crimes que não existirão e esqueceo-se da máxima vulgar, o mentiroso deve ter boa memória.
nesta Capital, nem mesmo no centro da revolução. Disse também, que a deliberação da revolta das duas Províncias
Tudo mais o que diz a testemunha 6ª, he do mesmo quilate. A fôra tomada definitivamente (formaes palavras) quando nesta Côr-
circunstância da proclamação do Sr. Raphael Tobias, entregue pelo te se achavão os Deputados Provinciaes de São Paulo, para cujo fim
homem sem nome da Campanha, nada absolutamente induz contra reunirão-se em casa do Senador José Bento, e com elles se achavão
mim, já porque a testemunha diz, que esse acontecimento fôra em o Senador Alencar, Francisco de Salles Torres Homem, o Padre Qua-
Junho, depois de ter vindo preso o Sr. Eliseo, e ter sido solto nesta dros Aranha, Montezuma, e outros, achando-se com estes o Gavião, o
Côrte, isto he, quando a proclamação circulava publicamente; já Senador Vergueiro, e Queiroz, Membros da Deputação da Assembléa
porque não diz, que era de minha letra, nem entregue por minha or- de São Paulo; mas a Deputação de São Paulo esteve aqui em Fevereiro
dem, e expressamente declara, que ia fora da célebre carta para Lino de 1842, e eu voltei em 17 de Abril de 1842, tendo estado ausente como
Coitinho. A outra novella do- diz tú e direi eu-, que a testemunha já ponderei desde 22 de Setembro do anno precedente!
refere do jantar do Sr. Coronel Joaquim Breves, entre elle e o Roso, Este depoimento também não faz honra á capacidade de quem
he igualmente desmentida no mesmo depoimento, a acareação: he o dictou!
também inconcludente por singular, e de ouvir dizer, e he altamente He verdade que a testemunha (ou aquelles de quem foi instru-
inverossímil e manifestamente mentirosa, porque ninguém, a não mento) quiz depois reparar estes fataes esquecimentos, requerendo
ser demente, trata semelhantes assumptos em jantares, e na pre- e exagerando huma rectificação do depoimento tomado por termo a
sença de rapazes aventureiros, como he a testemunha, mormente fl. dos autos, na qual declara a testemunha, que a reunião com os De-
durando ainda o conflicto no maior perigo de sua declinação. Esta putados Provinciaes de São Paulo, não podia ter sido feita em casa
coincidência de deliberações de huma revolução em jantares, pro- do Senador José Bento, em companhia deste e do Deputado Quadros
varia a incapacidade (mesmo para ensaiar testemunhas falsas), de Aranha, quando elle declarante está certo, que estes dous sahirão da
quem formulou esses depoimentos, se não se atendesse a que o fu- Côrte para São Paulo em 22 de Novembro p. p. (próximo passado),
ror não raciocina. Resta a 7ª testemunha Antônio Nunes Corrêa, o acompanhando-os elle mesmo declarante ao embarque. Mas tanto a
Achiles das provas arranjadas contra mim; por que a ella se referirão declaração como a coartada que dá a testemunha ao requerimento a
os precedentes em tudo o que disserão a um respeito, e porque na que se refere, que a reunião tivera lugar em casa do Senador e Gene-
verdade affirmou de mim factos, que em parte darião hum pretexto ral Francisco Lima e Silva, nunca poderia reparar a miserável con-
plausível á denúncia da Polícia, se o depoimento não tivesse em si tradicção e mentira patente do depoimento, nem rehabilital-o para
mesmo a prova do perjúrio. ter a mínima autoridade, porque do depoimento foi muito claro, e
Eu já observei, que há nesses depoimento ao meu respeito hum terminante, individuando lugar e pessoas, e até dando-se a testemu-
duplicado alili, que revela da maneira mais revoltante a mentira da nha por encarregado de avisos, em que também devião ir declarados
testemunha, e a sugestão com que foi induzida para depôr. Diz esta os nomes dos indivíduos, e o lugar do juramento; e o depoimento foi
testemunha, que o circulo da Sociedade dos Invisíveis nesta Côrte fora lido perante a testemunha e por ella assignado.

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Mas há ainda huma circunstancia, que anullaria completamente essa sua debilidade pueril; e não fez mais do que referir-se a suppostos
declaração, se em si mesma não fosse ella já digna do ultimo despre- ditos da 4ª testemunha, que o demente em todos os seus depoimen-
zo: a rectificação foi feita quasi hum mez depois da Sentença desse tos, e acareações.
Juiz incorruptível, que despronunciou dous réos, e assignalou aquella Resulta pois destas observações, as quaes o Senado há de achar
contradicção e perjúrio! Se huma tal emenda e em taes circunstancias completamente exactas, que toda a prova contra mim consiste na
se admittisse para illudir hum perjuro tão provado, não haveria mais declaração de um Espião da Polícia, de que eu era visitado por taes
segurança de direitos e de pessoas, tirando-se a innocência calumniada e taes pessoas de minha amizade, de cara triste, ou alegre, de andar
até a possibilidade de convencer testemunhas manifestamente falsas, lento ou accelerado, (documento, que nem a Polícia a mais burlesca
contradictórias, e perjuras! Esta falsidade revoltante do depoimento de que haja memória, teria enviado a um Juízo criminal para funda-
induz rigorosamente a de todos os outros factos affirmados pela tes- mentar hum Processo); em duas testemunhas com referência a outra
temunha, pela máxima de Direito- quis in uno mentituir, in omnibus notoriamente perjura; e accrescendo ainda o escândalo de serem taes
mentire judicatura-; mas he desnecessário recorrer a este princípio, a testemunhas Réos confessos da revolta, e de ter sido huma delas logo
testemunha e seus mentores tomarão a seu cargo tirar ao depoimento posta em liberdade!!! Com tudo he por esta prova que o Senado tem
a mínima sombra de verossimilhança em todas as suas partes. de decidir a questão, porque o Processo não offerece outra: e se o Arti-
Diz a testemunha, que os Estatutos da Sociedade dos Invisíveis go 36 do Código Criminal determina, que nenhuma presumpção por
são verdadeiros, e os círculos organisados segundo elles, e assegura mais vehemente que seja dará motivo para imposição de pena, e isto
que conheceo os membros do Conselho da Côrte, e que erão doze em qualquer crime; como se poderia em vista de semelhante dispo-
(não reflectindo que o artigo 9º dos mesmos Estatutos lhe marca sição decidir, que há lugar ao proseguimento de tal Processo, para se
como máximo o Nº de dez). Diz mais que fôra rogado para entrar na me imporem as enormes penas dos crimes imputados na pronuncia,
Sociedade, mas que recusara, e com tudo assegura, que conhecia os não havendo no Processo nem ao menos indícios remotos de crimi-
membros de cada hum dos círculos até pelos nomes heroicos de que nalidade contra mim? Observarei também neste lugar que os Códigos
usavão, e os lugares que occupavão; que elle mesmo era encarregado Criminal e do Processo, derivados das Instituições representativas,
dos avisos para as reuniões, e informando quasi diariamente das de- por certo não foram feitos com a intenção de nos fazer retrogradar
liberações, esquecendo-se também aqui de attender a que os mesmos a tempos ainda mais tenebrosos do que os da Orden. Do Livro 5º, e
Estatutos ordenão rigorosissimamente, que os membros da Socie- os autores da última reforma também por certo não confesserão esse
dade não sejão conhecidos huns dos outros nos diversos círculos, e proposito; mas todavia pode bem isso deprehender-se da celebre pro-
muito mais de estranhos, e que se empreguem todos os meios para nuncia, que me delcara culpado de tentar directamente e por factos
occultar a existência da Sociedade aos que a ella não pertencerem. desthronisar o Imperador, e dos outros crimes que o espírito de per-
Tal he a única testemunha que depôz directa ou ocularmente seguição houve por bem ordenar, que me fossem imputados.
contra mim? Os commentadores dessa velha Lei, ensinavão, que para haver
A última informante não merece a honra de ser combatida. He pronuncia era necessário cabal informação do crime processado, e
um rapaz de 16 annos, envolvido na revolta, recrutado por essa cau- indícios diversos, sendo cada hum delles provado por depoimentos
sa debaixo de chibata, dominado pelo terror de sua posição, e por contestes de duas testemunhas idôneas; que para pronuncia devia

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haver huma prova capaz de por ella se impor pena; que huma só tes- meira linha até a última só respira o furor, perseguição, e a ignorância
temunha, posto que de vista, não bastava para a pronuncia, se não completa, ou acintosa postergação das Leis, e princípios criminaes.
concorressem outros indícios (Ferreira, Prática Criminal, Tom. 2. O que tenho dito he já de mais para qualquer espírito despreveni-
Trat. 3º Cap. 5º N. 43. Pereira e Sousa, Lin. Crim. §59 not. 140). do, e seria mesmo desnecessário o expendel-o perante o Senado, que
Estava reservado a hum Juiz Municipal, predilecto dos Delegados conhece os motivos do procedimento e absoluta inconcludencia das
da nossa Polícia, a creação immediata da Leid as Reformas, o desmentir provas a todos os respeitos, e contra mim especialmente.
esta doutrina, na Côrte do Brasil, no século XIX; debaixo de Instituições Terminarei por tanto, confiando na sabedoria, e rectidão do Se-
Representativas, e dessa Legislação protectora da segurança individual nado, que tem de decidir a questão.
e pública, pronunciando Senadores do Império, e outros grandes Servi- Sinitros boatos se tem entretanto divulgado contrários a esta mi-
dores do Estado por crimes políticos da maior gravidade, sem huma só nha confiança, já a respeito essa 1ª decisão, já sobre as formalidades
testemunha, mesmo evidentemente perjura, que lhos imputasse, pois essenciaes, e a promptidão com que deves ser feito o julgamento, se
que a testemunha Antônio Nunes Corrêa não falla de desthronisar o houver: e he forçoso reconhecer que alguns factos muito significativos
Imperador, nem dos outros crimes da pronúncia. tem, até hum certo ponto, motivado na opinião pública estas predic-
O Senado não estranhará que eu diga pronunciando Senadores do ções offensivas da dignidade do Senado. Nas questões preliminares, já
Império- Nesta expressão nada há de pessoal: a pronuncia destituída decididas, alguns Membros pugnarão esforçadamente contra a neces-
como é de todo fundamento, seria atroz contra qualquer indivíduo sidade de Lei, que regule as fórmulas do Processo, pelas quaes eu e os
sem qualificação alguma política; mas contra Senadores, contra Mem- outros Senadores sejamos julgados, e nem ao menos quizerão, que se
bros vitalícios de um Corpo co-legislativo, constitue hum precedente, fizesse tal Lei: elles até não tiverão pejo do votar para essa denegação
que faz tremer pelas Instituições do Paiz e pelo Throno que nellas se de todas as fórmulas judiciárias, que se não negão a hum réo do me-
basêa. Admittindo que hum Juiz, penúltima, ou ultima das entidades nor dos delictos, e isto tendo-se declarado meus accusadores; e sendo
na escala judiciária, amovível, Delegado, ou Subdelegado da Polícia, notoriamente meus inimigos, e perseguidores; Hum ministro da Coroa
possa impunemente pronunciar Senadores ou Deputados, e sem pro- também desceo até as declamações mais irritantes, e descomedidas,
vas, qualquer Governo faccioso e audaz teria na sua mão acabar com a de que há exemplo, para excitar no Senado as paixões políticas mais
Representação Nacional, e Constituição, quando lhe aprovesse, sem exageradas, perpetuar a violência, alimentar a irritação dos partidos, e
outro inconveniente mais, do que a eventualidade de huma revolu- extinguir todo o sentimento de justiça. Estes factos, de que desgraçada-
ção, que ou salve as Instituições e o Throno, ou os aniquille! Para isto mente tem sido theatroo augusto recinto desta Câmara, tem dado lugar
não precisava mais do que nomear hum Delegado ou Subdelegado da a presumir-se, que o espírito da perseguição tentará illudir a sabedoria
Polícia apto para o fim, prometter-lhe fazel-o Juiz de Direito; mandar e justiça dos Ançiões da Pátria; que os propugnadores da violência,
ao Chefe de Polícia, que lhe faça formar hum Processo, e lhe intime, conhecendo a impossibilidade de arrastál-os a hum julgamento atroz
que pronuncie nelle quantos Senadores ou Deputados forem neces- contra quatro Collegas seus, sem a mínima, prova de criminalidade, e
sários para aniquillar as Câmaras, ou todos os que não fizerem parte por hum Processo que faz vergonha à Magistratura Brasileira, supren-
da faccção dominante!... Mas para que he insistir na innumeração dos derão a boa fé da Câmara, e conseguirão a decisão de continuarem os
absurdos de huma pronuncia, e de hum Processo, em que desde a pri- Processos, conseguindo assim excluil-os das funcções legislativas,

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e suspender-lhes os outros direitos de Senadores indefinidamente, previamente a Câmara eleita dos Deputados, com infracção manifesta
não lhes dando lugar a rehabilitarem-se por huma defesa regular, e da Constituição, cuja hypothese não se tinha verificado, e que não con-
mostrarem ao Paiz sua innocência, e a immoralidade da perseguição, tente com isto, passou a legislar em matéria política e administrativa a
como já conseguirão mandar-se-nos responder sem Lei, que regule a mais grave, promulgando huma nova forma de eleições, só com o fim
matéria. Apesar porém de tudo isto eu continuarei a confiar na justiça de afastar os seus adversários da Representação Nacional, sabe final-
e sabedoria do Senado, esperando que a despeito dessas machinações mente, que em resistência as essas Leis, e a esses attentados contra a
de indivíduos, que antepõe o sentimento da vingança ao espírito da Constituição, appareceo a revolta em duas Províncias, e que com este
justiça, hei de ter huma decisão justa, e prompta, que o Senado não pretexto se arrogou o Ministério no todo a Dictadura, já antes incetada,
descerá ao valipendio de ser hum instrumento de ódios pessoaes, e violando por muitas vezes, e flagrantemente a Constituição e as Leis, e
vinganças miseráveis. Se todavia (o que julgo impossível) o contrário declarando huma perseguição furibunda, de que não podião deixar de
se realizasse, e as sugestões de meus perseguidores conseguissem, ser victimas quantas se tinhão pronunciado contra essa política fatal,
que a força triumphasse da justiça; tranquillo e resignado me curvaria só tendente a estabelecer o despotismo e provocadora de reacções, com
á minha sorte com a consciência de ter servido desinteressadamente tanto perigo de todo o futuro do Paiz; há de portanto a Nação reconhe-
ao Throno Constitucional e ao Paiz, e de só por isso soffrer, appelaria cer, que só o interesse, e a vingança forão os únicos fins, dessa política
para o juízo da Nação, seguro de que tempo viverá em que ella me faça desastrosa, que se esse Ministério conseguio suffocar as revoltas nas
justiça, e a meus perseguidores. Entretanto quaesquer que sejão os dua Províncias, não fez mais do que destruir a obra das suas próprias
resultados dos meus bem conhecidos esforços pelo bem do meu Paiz, mãos, porque ellas não terião rompido sem essas Leis que tirarão a
não me arrependerei jamais de os ter feito, antes darei graças á Pro- independência constitucional de Poder Judiciário para entrgal-a aos
vindência por ter assim procedido: a perseguição ainda armada com agentes da Polícia, e a do Monarcha, vedando-o de chamar quando
toda a força material do Império, não tem poder contra o sentimento quiser Conselheiros entre os homens incorruptíveis, entre aquelles
profundo e íntimo dos meus deveres para com o meu Paiz, nem contra que lhe sustentarão ao Throno na sua infância, e conservarão inteiro o
a esperança, que deposito na justiça de Deos, e da Nação. Sim, a Nação Império, tendo então, e muitas vezes depois, em seu poder a possibili-
não se illudirá: ella sabe, que eu sempre estive no posto dos defenso- dade de o dissolver, porque em fim essas revoltas não terião apparecido
res de sua Independência e Instituições; sabe que pertenço á opinião sem a série de attentados, que ferirão profundamente a Constituição,
política, que promoveo e conseguio, que triumphasse a plenitude dos e as Leis, e levarão o Império ao miserável estado, em que hoje se acha,
direitos do Monarcha, com a sua maioridade, contra os esforços da e ao vértice interminável das reacções, de que só o poderá salvar hum
opinião, a que pertence o Ministério de 23 de Março, a seus partidistas milagre da Providência: a Nação pois saberá conhecer a origem e fins
políticos; sabe que esse Ministério apenas subio ao Poder, procurou da perseguição, e tarde ou cedo fará justiça a mim e as outras victimas,
perpetuar-se nelle, arrancando do Corpo Legislativo, com simulados bem como aos nossos perseguidores.
pretextos de perigo da Monarchia, e da Sociedade, Leis da maior im- Tenho respondido como me foi ordenado, e submeto-me tran-
portância, contra cuja adopção pugnamos, eu e meus amigos políticos, quilo ao Juízo do Senado.
por todos os meios legaes; sabe igualmente, que temendo esse Minis- Paço do Senado, 24 de Abril de 1843- José Bento Leite Ferreira
tério o combate legal, do qual lhe resultaria a perda do Poder, dissolveo de Mello

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3- Testamento de José Bento Leite Ferreira de Mello meu testamento e dos mais que se acharem por meu falecimento. Dei-
xo o espaço de doze anos para a conta deste meu testamento para que
“Em nome de Deus Amem. Eu José Bento Leite Ferreira de Mello, pá- assim chegue o tempo para a educação de meus netos e casamento
roco colado desta freguesia de Pouso Alegre e senador do Império, fi- de minha neta – minha filha e herdeira neste espaço de tempo gozará
lho legítimo do sargento-mor José Joaquim Leite Ferreira e de Dona do uso de meus bens para por eles ser tratada e alimentada decen-
Escolástica Bernardina de Mello, já falecida, estando de saúde e em temente mas sem fausto; sendo meu testamenteiro o administrador
meu perfeito juízo, mas temendo da morte tanto mais de ser assas- de tudo, e confio na amizade de cada um o bom andamento de tudo
sinado, por mandado do Padre José Pedro de Barros, seu irmão An- – deixo forra a minha escrava Juziana, parda, meus escravos José,
tonio de Barros Pereira e Melo e Julião Florência Meyer, que há dias Joaquim servirão em quanto ela viver e por sua morte serão forros.
a esta parte procuram mandar tirar-me a vida por causa de minhas Estes escravos José, Joaquim são os que mais me servem de pagens.
opiniões políticas de que tenho uma quase certeza, por uma revelação Declaro que de meu genro Francisco de Paula Ferreira unicamente
que me foi contada às circunstancias para ser acreditada e que a não tenho em meu poder por ter minha filha em minha companhia os es-
refiro por não expor a vida da pessoa que por caridade fez a referida cravos Luiz da Costa da África, e José Gamela e uma morada de casas
declaração, faço este meu testamento para declarar minha última ao pé da matriz e nada mais pois que tudo quanto ele tinha e possuía
vontade na forma seguinte: deixo meus testamenteiros em primeiro desgraçadamente na ocasião em que se declarou alienado o padre
lugar a meu irmão padre Joaquim Daniel Leite Ferreira de Melo, em João Pedro com a autoridade de irmão e de moto próprio a título de
segundo lugar a meu amigo o padre João Dias de Quadros Aranha, em cautelar seus bens se apoderou de tudo indo a “logia” sozinho e sem
terceiro lugar o meu mano Manoel Leite Ferreira de Mello, em quarto querer companhia resolvendo tudo, arrecadando dinheiro (..........)
lugar o meu compadre o coronel Ignácio Gonçalves Lopes, em quinto clarezas e sem fazer ao menos um balanço nem para salvar descuria,
lugar o meu compadre o coronel Francisco de Paula Ferreira Lopes vendo ao menos duas testemunhas, embora fossem coniventes com
os quais sucederam uns aos outros na forma que aqui são nomeados ele sem dar parte (..........) da minha filha se empossou de fato de tudo
– declaro que tenho uma filha legítima de nome dona Porcidônia Fer- inclusive a “logia” arrecadando todos os dias o dinheiro que se havia,
reira de Mello – casada com Francisco de Paula Ferreira de Mello que digo que se ia fazendo e proibindo ao caixeiro Francisco de Paula Xa-
há anos se acha alienado, a qual instituo minha universal herdeira do vier de Toledo que fizesse as contas do que se vendia e recebia como
restante de meus bens depois de cumpridas minhas disposições. Meu mui circunstanciadamente me disse o mesmo caixiero e seu irmão
testamento mandará educar a custo de meus bens três netos filhos de Antonio de Barros, que minuciosamente me informou quanto para
minha filha e de meu genro os quais são José, Francisco e Escolástica, meu genro e filha dilapidada pelo dito padre José Pedro e não só o
fazendo todas as despesas - até que os dois varões se formem no ramo dirão a mim mas a muitas pessoas desta vila de sorte que quando quis
das ciências que escolherem e fazendo casar minha neta, para o dote tomar conta de uma casa de negócio que girava com bastante contos
da qual deixo seis contos de reis e seu casamento será o aprazimento de reis que nessa ocasião lhe dei (.........) um conto e tanto como consta
de minha filha de acordo com o meu testamento, se porém ela se casar do balanço que se fez e tenho em meu poder, e isto em retalhos – de-
sem este aprazimento ficará sem nenhum efeito o dote que lhe deixo claro que por maneira alguma meus testamenteiros consentirão que
de seis contos. Meus bens constam de uma lista que fica junto a este o dito padre José Pedro tenha ingerência alguma na administração de

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meus bens (..........) de meus netos, pois sei quanto e o cheiro de cobiça feita saúde e juízo de que tudo dou fé bem como de ser próprio de que
e quanto é rebaixado a consciência, e sem temor a Deus – declaro que trato ai foi dado um papel escrito que quatro laudas inteiras tendo em
tudo quanto deixo referido é a mesma verdade e não há por ódio, nem sua última feito o meu sinal público dizendo me era o seu soberano
vingança, mas comento para acautelar que meus bens sejam dilapida- testamento por ele escrito e assinado, em que era sua disposição de
dos pelo dito padre José Pedro o que muito receio. Declaro que passei última vontade (........) aceitam e aprovam para sua inteira validade o
papéis de doação a dona Eufrázia e suas filhas de algumas escravas qual aceitei e correndo-o com os olhos por lhe não achar (........) borrar
como San Joaquim de nação africana; a dona Brandina, juíza também entrelinha ou coisa que duvido para o qual numerei e rubriquei com
da mesma nação, a dona Joaquina a qual tem dois outros filhos e Joa- a minha rubrica que diz Bressani e o aprovei e hei por aprovado tanto
na Crioula a qual tem um filho e estas doações nem estão insinuadas quanto dessa posso e em razão de me ajudar de me afluir sou obrigado
nem mais nisso convenho pelas ingratidões e insultos que as doas e também pelo testador me for entregue uma relação de bens a qual por
sua família me tem feito com a maior injustiça; antes pela minha par- ele se acha assinada e escrita por Manoel José de (...........) Cordeiro
te e pelo direito que tenho visto que tais doações forma nulas em sua o qual também rubriquei e no fim fiz um sinal público o qual é o que
origem por excesso de valor conforme a Lei e por terem sido “ensinu- adiante vai junto. A tudo foram testemunhas presentes Antonio Bres-
adas” – declaro forros os ditos meus escravos assim referidos, como sane Leite, José Borges de Almeida, Manoel José de Oliveira Cordei-
se tais tivessem nascidos e peço as justiças favoreçam esses infelizes ro, Maximiniano José de Brito Lambert, Caetano Gonçalves Leite.
pagens, digo felizes para que eles e suas famílias entrem no gozo de Todos os moradores desta Vila e de mim também reconhecidos, os
suas liberdades (.........) fiz doação a minha mesma Eufrázia e suas quais assinam com o testador depois de lido por mim Joan Bressane
duas filhas dona Bernardina e Joaquim de uma morada de casas em Leite que o escrevi e assino em público e razo. Em testemunho da ver-
que moram, cuja doação se acha nas mesmas circunstâncias e pelas dade estava o sinal público. O tabelionário Joan Bressani Leite, José
mesmas razões faço delas doações a casa de misericórdia que se tem Bento Leite Ferreira de Mello, Antonio Bressani Leite, José Borges
de estabelecer nesta vila. Tudo o mais que dei as ditas doadas além do de Almeida, Manoel José de Oliveira Cordeiro, Maximiniano José
que fiz acima declarado, quero que fique em vigor, para tudo constar de Brito Lambert, Caetano Gonçalves Leite. Ralação dos bens que ao
faço a presente por mim escrito e assinado. Pouso Alegre, seis de feve- presente possuo para se incorporado no meu testamento e são os se-
reiro de mil oitocentos e quarenta e dois. guintes Trastes de ouro(...) prato mobília (.....) de casas na rua direita
de Pouso Alegre que (...) por um lado com casas de (.....) Mario Manoel
a) José Bento Ferira de Mello, em testemunho da verdade estava Leite o por outro com ditas de Silvério Pereira Lagos. Um terreno na
o “signal” público, o tabelião Joan Bressani Leite. Saibam quanto este dita rua direita que (...) com terras que vendi a Antonio Mendes da
público instrumento de aprovação de testemunho virem que no ano Silva pela rua da Prata e divisa com a travessa que passa junto a casa
do nascimento de nosso senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e qua- do Coronel José Antonio Freitas Lisboa. Um dito no largo do Rozário
renta e dois, aos sete dias do mês de fevereiro do dito ano nesta vila de que parte com o dito largo e casa de Feliciano José de Paiva. Uma fa-
Pouso Alegre, comarca do Sapucaí da Província de Minas Gerais em zenda de cultura e de criar com casas de morada e engenho da serra,
casa de moradia do excelentíssimo senador José Bento Leite Ferreira moinho, monjolo e mais (....) denominada engenho da serra a qual
de Mello onde eu Tabelião a seu chamado foi vindo e sendo aí por ele (....) por título de compras e nele obteve uma sesmaria que a fiz medir
dito senador que se achava bom perfeito, digo, se achava bom e per-

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e demarcar e me acho (....) com meus vizinhos como consta dos títulos do subscrito de que dou fé, de que para constar mandou lavrar este
que tenho. Uma parte na fazenda do Turvo que consta de meu formal termo que assina com o (....) e testemunhas. Eu, Carlos José de Pai-
de partilha. Um terreno na cidade do Rio de Janeiro no lugar do Rio va, escrivão que o escrevi e assino, Mayer Ignácio Gonçalves Lopes;
Comprido, cujos títulos se acham em poder de meu amigo cônego José Antonio de Freitas Lisboa; Romualdo Augusto de Oliveira; José
Geraldo Leite Bastos, os seguintes escravos: Domingos, da costada da Ignácio de Barros Cobra; Antonio Diciano e Silva; Francisco de Pau-
África; Antonio, dito Padeiro, Joaquim Joan Caetano, pardo; José de la Xavier de Toledo; Carlos José de Paiva; cumpra-se-a e registre-se
Souza (.....) Joan Garcia, José Bonquilha; Bento, da Costa da África; Vila de Pouso Alegre, nove de fevereiro de mil oitocentos e quarenta e
Luiz Carapina dito Joan de Oliveira; José Mariano, dito José Con- quatro. Mayer, nada mais se constrata e declaro em o dito testamento
go; Mariana, mulher de Domingos Barbeiro; Maria Roza, mulher de aprovação, relação (...) termo de abertura, cumpra-se de onde para
Antonio Padeiro; Francisco de Oliveira, da Costa da África e mais 20 aqui fiz extrair do (....) a presente publica forma (....) original em po-
escravos. Declaro que tenho uma (....) de gado e éguas e jumento em der do apresentante a quem outorguei e abaixo assinada vai sem coisa
sociedade com meu mano Joaquim Daniel Leite Ferreira de Mello e que servida passa por mim subscrita e assinada em público e razões
se estava (....) conta que ela diz a este respeito. Possuo mais ferramen- nesta cidade da Campanha da Princesa Minas, comarca do Rio Verde,
tas de (.....) carros, carretões, bois de carro e animais que tudo será aos vinte e quatro dias do mês de fevereiro do ano do nascimento do
o que se achar por meu falecimento. O que eu devo e o que me deve Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e quarenta e quatro, eu,
consta de clarezas que tenho em meu poder. Declaro que tudo isso Ignácio Lopes da Silva (...) tabelião que o subscrevi e assino em pu-
quanto devo esta por clareza e continuar a ter o cuidado que todas as blico a rogo: a} Ignácio Lopes da Silva, a) Francisco de Paula F. Lopes.
dívidas que contrair passarei sempre letras crédito, vales ou qualquer
outra clareza. Villa de Pouso Alegre, seis de fevereiro de mil oitocen-
tos e quarenta e dois, José Bento Leite Ferreira de Mello, que escreve
arogo Manoel José Oliveira Cordeiro. Em testemunho da verdade
estava o signal público. O tabelião Joan Bressani Leite. Testamento
solene do excelentíssimo senador José Bento Leite Ferreira de Mello
aprovado, cozido e lacrado com cinco pontos de retrós em canudo e
cinco pingos de lacre encarnado por lauda por mim tabelião abaixo
assinado nesta Vila de Pouso Alegre aos sete de fevereiro de mil oi-
tocentos e quarenta e dois; o tabelião Joan Bressani Leite, aos nove
dias do mês de fevereiro do ano de mil oitocentos e quarenta e quatro,
nesta Vila de Pouso Alegre, Comarca do Sapucay da província de Mi-
nas Gerais em casa do delegado de polícia e (.....) substituto do Juiz
Municipal e de “orphaoens” o coronel Julian Florêncio Meyer (...) eu
escrivão fui servido sendo ai pelo coronel Ignácio Gonçalves Lopes foi
apresentado no dito juiz presente testamento fixado, cozido, lacrado
em presença das testemunhas abaixo assinadas na forma declarada

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MELLO, José Bento Leite Ferreira de. Resposta dada ao Senado pelo Senador José Ben- Ata da Câmara Municipal de Pouso Alegre 1841-1844. Primeira Sessão Ordinária, 07 de
to Leite Ferreira de Mello. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1843.
janeiro de 1841. Acervo do Museu Histórico Municipal Tuany Toledo.
PINTO, Luiz Maria da Silva. Diccionario da Lingua Brasileira. Ouro Preto: Typographia Ata da Câmara Municipal de Pouso Alegre, ano de 1844. Acervo da Câmara Municipal
de Silva, 1832. de Pouso Alegre.
Ata da 5ª Sessão Ordinária de 08 de Fevereiro de 1882, Livro de Atas da Câmara Munici-
QUEIROZ, Amadeu de. Pouso Alegre e a sua imprensa. In: Revista do Instituto Hi-
stórico e Geográfico de São Paulo. Volume XXVIII. São Paulo: 1931. pal de Pouso Alegre 1881-1887, tomo XII. Acervo do Museu Histórico Municipal Tuany
Toledo.
QUEIROZ, Amadeu de. O Senador José Bento- Estudo Histórico. Belo Horizonte: Im- Annaes do Parlamento Brasileiro- Câmara dos Srs. Deputados, Primeiro Anno da Pri-
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ROHAN, Visconde de Beaurepaire. Diccionário dos Vocábulos Brazileiros. Rio de Ja- José Pinto &Cia, 1875.
neiro: Imprensa Nacional, 1889.

214 215
_____________________________. Segundo Anno da Primeira Legislatura, Sessão de 1827, Cópia do Alvará Regio em que se criou a Freguesia de Pouso Alegre. Livro de Visitas
tomo II. Rio de Janeiro: Typographia do Hyppolito José Pinto &Cia, 1875. Pastorais da Paróquia do Bom Jesus- Catedral. Acervo da Cúria Diocesana.
_____________________________. Segundo Anno da Primeira Legislatura, Sessão de 1827, Livro de Matrimônios da Paróquia da Campanha, nº 01. Acervo da Paróquia da cidade
tomo IV. Rio de Janeiro: Typographia do Hyppolito José Pinto &Cia, 1875. de Campanha.
Livro de óbitos da Paróquia do Senhor Bom Jesus, tomo II, 1844. Acervo da Catedral
_____________________________. Segundo Anno da Primeira Legislatura, Sessão de 1827, Metropolitana de Pouso Alegre.
tomo V. Rio de Janeiro: Typographia do Hyppolito José Pinto &Cia, 1875. Livro Primeiro das Actas de Eleições dos Senadores por esta Província de Minas Geraes
_____________________________. Segundo Anno da Primeira Legislatura, Sessão de 1828, por esta Villa de Pouso Alegre. Acervo do MHMTT.
tomoI. Rio de Janeiro: TypographiaParlamentar, 1876. Livro de Visita Pastoral da Paróquia do Bom Jesus- Pouso Alegre, MG. Acervo da Cúria
_____________________________. Segundo Anno da Primeira Legislatura, Sessão de 1828, Metropolitana de Pouso Alegre.
tomoII. Rio de Janeiro: TypographiaParlamentar, 1876. Livro de Registros de Matrimônio da Paróquia do Senhor Bom Jesus, 1832-1856, tomo
_____________________________. Segundo Anno da Primeira Legislatura, Sessão de 1831, II-IV, 1835. Acervo da Catedral Metropolitana de Pouso Alegre.
tomoII. Rio de Janeiro: TypographiaH.J. Pinto, 1878. Manuscrito do artigo sobre a Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacio-
Annaes do Parlamento Brazileiro. Mesa dos Srs. Deputados, Terceiro anno da Segunda nal,1831. Acervo da Biblioteca Nacional.
Legislatura. Sessão de 1832 colligidos por Antônio Pereira Pinto. Tomo II. Rio de Ja- Ofício enviado pela Câmara Municipal da Vila de Pouso Alegre à Presidência da Provínc-
neiro: Typographia do H. J. Pinto, 1879. ia de Minas Gerais, 1838, série Documentos Soltos. Acervo do Museu Histórico Muni-
_____________________________. Segundo Anno da Primeira Legislatura, Sessão de 1833, cipal Tuany Toledo.
tomo II. Rio de Janeiro: Typographia de Viúva Pinto & Filho, 1887, p. 226. Processo de habilitação matrimonial de José Joaquim Leite Ferreira e Escolástica Ber-
Annaes do Senado do Império do Brazil. Livro 01, 1832. Acervo da Assembleia Legisla- nardino de Melo. Maio de 1783.
tiva. Provisão do Reverendo José bento Leite Ferreira de Mello como vigário colado da Fregue-
_____________________________________.Quinta Sessão da Primeira Legislatura, de 09 sia do Senhor Bom Jesus de Pouso Alegre, 1811. Acervo do Museu Histórico Municipal
de Maio a 01 de Outubro. Rio de Janeiro, 1918. Acervo da Assembleia Legislativa. Tuany Toledo.
_____________________________________. Quarta Sessão da Primeira Legislatura de 09 de Recibo de parte do pagamento da venda de casas para a municipalidade, 1833. Acervo do
maio a 01 de outubro. Sessão de 19 de agosto de 1834. Rio de Janeiro, 1918. Acervo da Museu Histórico Municipal Tuany Toledo.
Assembleia Legislativa. Resolução de consulta da Mesa de Consciência e Ordens, 1810. Acervo do Museu Hi-
_____________________________________. 3ª Legislatura, Sessões de Maio a Outubro de stórico Municipal Tuany Toledo.
1835. Sessão de 09 de maio de 1835. Brasília, 1978. Acervo da Assembleia Legislativa.
_____________________________________. Segunda Sessão da Primeira Legislatura de 29
de julho a 06 de setembro de 1839, Tomo III. Rio de Janeiro: 1913. Acervo da Assemble- PERIÓDICOS
ia Legislativa.
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_____________________________________. Assembleia Geral Legislativa, 4ª Legislatura-
Acervo da Biblioteca Nacional.
Sessões de Setembro de 1840. Brasília, 1960. Acervo da Assembleia Legislativa.
Astro de Minas, São João d’El Rei, Terça Feira, 31 de janeiro de 1832, nº653, p. 02. Acer-
_____________________________________. Anais do Senado, anno de 1843, tomo IX.
vo da Biblioteca Nacional.
Brasília: Secretaria Especial de Editoração e Publicações, 2014. Acervo da Assembleia
Astro de Minas, São João d’El Rei, Quinta Feira, 10 de setembro de 1829, nº283. Acervo
Legislativa.
da Biblioteca Nacional.
Carta de Sesmaria requerida por Domingos Pereira dos Santos, 1821. Acervo do Arquivo Astro de Minas, São João d’El Rei , Terça Feira, 23 de abril de 1833, nº 847. Acervo da
Público Mineiro. Biblioteca Nacional.
Catálogo do Cemitério da Consolação, índice de K a Z, jun. 1858 à Dez. 1890, p. 139. Acer- Astro de Minas, São João Del Rei, Edições 838, 839 e 841. Acervo da Biblioteca Nacional.
vo do Cemitério da Consolação/SP.

216 217
Aurora Fluminense, Rio de Janeiro, Segunda Feira, 22 de abril de 1833, vol. 6, nº 760. Pharol Constitucional, Rio de Janeiro, Terça feira, 27 de fevereiro de 1844, ano III,
Acervo da Biblioteca Nacional. nº115. Rio de Janeiro, capa.
Aurora Fluminense, Rio de Janeiro, Quarta Feira, 24 de julho de 1833, vol. 6, nº797. Pharol Constitucional, Rio de Janeiro, Domingo, 03 de março de 1844, nº117. Acervo da
Acervo da Biblioteca Nacional. Biblioteca Nacional.
Correio Mercantil, Rio de Janeiro, Sexta feira 17 de novembro de 1854, ano XI, nº316. O Universal, Ouro Preto, Quarta Feira, 05 de dezembro de 1832, nº 836. Acervo da Bi-
Disponível no Acervo da Biblioteca Nacional. blioteca Nacional.
Correio Official, meses de Maio à Julho, Rio de Janeiro. Acervo da Biblioteca Nacional. O Universal, edição especial, 26 de maio de 1833. Acervo da Biblioteca Nacional.
Correio Paulistano, São Paulo, Sábado, 15 de junho de 1878, ano XXV, nº6478. Acervo Pregoeiro Constitucional, Pouso Alegre, Terça Feira, 07 de setembro de 1830, ano I.
da Biblioteca Nacional. Acervo da Biblioteca Nacional.
Correio Paulistano, São Paulo, Domingo, 16 de junho de 1878, ano XXV, nº6479. Acervo Pregoeiro Constitucional, Pouso Alegrem, Sábado, 20 de novembro de 1830, nº 22.
da Biblioteca Nacional. Acervo da Biblioteca Nacional.
Correio Paulistano, São Paulo, Quinta feira, 24 de novembro de 1887, ano XXXIV, Pregoeiro Constitucional, Pouso Alegre, Quarta Feira, 01 de dezembro de 1830, nº 25.
nº9370. Acervo da Biblioteca Nacional. Acervo da Biblioteca Nacional.
Diário Novo, Rio de Janeiro, segunda feira 15 de abril de 1844, ano III, nº83. Acervo da Pregoeiro Constitucional, Pouso Alegre, Sábado, 15 de janeiro de 1831, nº 35. Acervo da
Biblioteca Nacional. Biblioteca Nacional.
Diário de Pernambuco, Pernambuco terça feira 27 de junho de 1876, ano LII, nº144. Pregoeiro Constitucional, Pouso Alegre, Sábado, 05 de fevereiro de 1831, nº40. Acervo
Acervo da Biblioteca Nacional. da Biblioteca Nacional.
Diário do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Segunda Feira, 02 de maio de 1842, ano XXI, Pregoeiro Constitucional, Pouso Alegre, Segunda Feira, 21 de março de 1831, nº espe-
nº96. Acervo da Biblioteca Nacional. cial. Acervo da Biblioteca Nacional.
Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, Terça Feira, 20 de julho de 1841, ano XVI, nº 182, Pregoeiro Constitucional, 23 de março de 1831, nº52. Acervo da Biblioteca Nacional.
p. 2. Acervo da Biblioteca Nacional. Pregoeiro Constitucional, 30 de março de 1831, nº 54. Acervo da Biblioteca Nacional.
O Brasil, Rio de Janeiro, Sábado, 17 de fevereiro de 1844, vol. V, nº 505. Acervo da Bi- Pregoeiro Constitucional, 20 de abril de 1831, nº60. Acervo da Biblioteca Nacional.
blioteca Nacional.
O Brasil, Rio de Janeiro, Quinta feira 20 de fevereiro de 1844, nº506, vol. V. Acervo da
Biblioteca Nacional.
O Brasil, Rio de Janeiro, Quinta feira 22 de fevereiro de 1844, nº507, vol. V. Acervo da
Biblioteca Nacional.
O Brasil, Rio de Janeiro, Sábado, 24 de fevereiro de 1844, vol. V, nº508. Acervo da Bi-
blioteca Nacional.
O Brasil, Rio de Janeiro, Terça feira 21 de maio de 1844, vol. V, nº540. Acervo da Biblio-
teca Nacional.
O Echo do Rio, Rio de Janeiro, Sábado 07 de outubro de 1843, vol. 1, nº20. Acervo da
Biblioteca Nacional.
O Maiorista, Rio de Janeiro, Sábado, 26 de fevereiro de 1842, nº103. Acervo da Biblio-
teca Nacional.
O Novo Tempo, Rio de Janeiro, Quinta feira 14 de novembro de 1844, nº 71. Acervo da
Biblioteca Nacional.
O Recopilador Mineiro, Pouso Alegre, Sábado, 09 de novembro de 1833, vol. 1, nº78.
Acervo da Biblioteca Nacional.

218 219
NOTAS
1. MALATIAN, Tereza Maria. A Biografia e a História. In: Cadernos CEDEM, v. 1, nº1. naquela Freguesia, e, alegando o grau de nobreza que pertenciam, pediram a dispensa no
Marília/SP: UNESP, 2008, p. 26. impedimento de consanguinidade em 3º grau, que os ligava, vista suas avós paternas (Ana
Maria Nogueira de Mello e Marianna Nogueira de Mello, ambas naturais de Guimarães,
2. Dentre os arquivos pesquisados, fazemos referência: Arquivo Nacional, Biblioteca
Portugal) serem irmãs legítimas.
Nacional, Senado Federal, Arquivo Público Mineiro, Cúria Metropolitana de São Paulo,
Cúria Metropolitana de Pouso Alegre, Paróquia do Senhor Bom Jesus- Catedral Metropoli- 9. Livro de Matrimônios da Paróquia da Campanha, nº 01, p. 33v. Acervo da Paróquia da
tana de Pouso Alegre e Museu Histórico Municipal Tuany Toledo. cidade de Campanha.

3. Dados obtidos por meio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. In: https:// 10. Nascido em 08 de agosto de 1741, na cidade portuguesa de Funchal. Era filho do casal
www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/mg/sao-goncalo-do-sapucai.html. Acesso: 17/09/2020. Antônio de Abreu e Francisca Gonçalves de Andrade. Ordenado sacerdote aos vinte anos,
serviu as igrejas de São João de Almedina e Ventosa, ambas pertencentes a diocese de
4. Luís Filipe Maria Fernando Gastão, nasceu em Neuilly-sur-Seine (França) no dia 28 de
Coimbra. Era clérigo secular do hábito de São Pedro, licenciado em direito canônico, homem
abril de 1842. Neto do Rei Luis Filipe I de França, renunciou aos seus direitos à linha suces-
de espírito liberal, tendo estudado em Paris e Coimbra, onde provavelmente alargou suas
sória do trono francês quando se casou com a última princesa imperial do Brasil, Dona
ideias. Dom Mateus de Abreu Pereira teve sua nomeação decretada pelo regente português
Isabel Cristina Leopoldina Bragança, filha de Dom Pedro II. Faleceu quando retornava ao
dom José I, para ser o quinto bispo da diocese de São Paulo no dia 02 de agosto de 1794. A
Brasil para as festividades do centenário da Independência em 1922, aos 28 dias do mês de
nomeação do bispo, foi confirmada pela bula papal de Pio VI, em 01 de junho de 1795. As difi-
agosto, estando já viúvo.
culdades para formar o clero encontradas por dom Mateus eram inúmeras, inclusive pela
5. Inácio José de Alvarenga Peixoto nasceu na cidade do Rio de Janeiro no ano de 1742. falta de um seminário adequado, já que desde a expulsão dos jesuítas, o antigo colégio-semi-
Advogado e poeta, Alvarenga Peixoto foi um dos protagonistas da denominada Inconfi- nário vinha servindo de residência oficial dos governadores. Não tendo prédio para o semi-
dência Mineira. Deixando a magistratura, passou a se dedicar aos serviços da lavoura e nário, dom Mateus regulamentou os requisitos mínimos de formação para os ordenados:
mineração, fixando-se na região do Sul de Minas, precisamente em São Gonçalo do Sapucaí. ordens menores, subdiaconato, diaconato, presbiterato. Com o fechamento do seminário,
Com o término da Inconfidência, foi julgado e condenado, sendo deportado para África os estudos decaíram, mas o esforço de dom Mateus para dar continuidade à instrução do
(Angola), tendo falecido aos 50 anos em 27 de agosto de 1792, acometido por uma febre clero foi louvável. Provavelmente, um dos motivos para que José Bento morasse com ele foi
tropical, epidemia marcante naquela região. a ausência desta casa de formação. Dom Mateus, por quatro vezes exerceu o cargo de gover-
nador  da  Capitania  de  São Paulo, acumulando as funções de líder civil e religioso. Tendo
6. Da segunda união de Dona Antônia do Espírito Santo Gouvêa com o Capitão Manuel
como inspiração, José Bento seguiu o mesmos rumos de seu amigo Bispo, comungando
Leite Ferreira, tiverem os seguintes filhos: Dona Escolástica Teodora de Jesus (1761),
também das ideias liberais que mais tarde se instalaria no Brasil. Dom Mateus faleceu em
Sargento Mor José Joaquim Leite Ferreira (1764), Dona Mariana Vitória Angélica de
São Paulo em 05 de maio de 1824.
Gouvêa (1765), Manuel (1767), Agostinho (1768), Antônio (1770) e Francisco (1771). Cf:

7. O Concílio de Trento (1545-1563) fez reiterar uma antiga determinação da Igreja Cató- 11. Cf: O Arcipreste da Sé de S. Paulo, Joaquim Anselmo D’Oliveira e o clero do Brasil.
Rio de Janeiro: 1873.
lica (a Bíblia se ocupa do assunto, inclusive) que procurava impedir o casamento entre
parentes dentro do 4º grau de consanguinidade, com o intuito de diminuir o nascimento de 12. Segundo Cônego Augusto José de Carvalho, em seu livro “A Terra do Bom Jesus”,
crianças com problemas hoje denominados genéticos. Era o chamado impedimento consan- torna-se um fato curioso de que o Arraial do Mandu tenha contrariado a dinâmica histórica
guíneo no Direito Canônico e, para se obter licença para o matrimônio, fazia-se necessária de muitos dos povoados que surgiam no Brasil. Era costume em que os lugarejos se constitu-
uma dispensa do Papa. Este regularmente delegava poderes aos bispos para dispensarem íssem em volta de pequeninas capelas ou de Santas Cruzes que demarcavam algum acidente
os casos de parentescos não muito próximos.Cf: BOGACIOVAS, Marcelo Meira Amaral. ou assassinato à beira de velhas estradas. Segundo a tradição, o povoado surgiu diante de
Impedimentos consanguíneos no Direito Canônico. In: http://www.asbrap.org.br/impedi- uma propriedade, denominada Rancho Alegre do Mandu. Era um rancho onde os viajantes
mentos_consanguineos.html. pernoitavam, comiam e bebiam bem, quitutes da terra eram servidos e a famosa cachaça,
ao som da viola cabocla, procurando ânimo e restaurando forças para seguir viagem. Cf:
8. Processo de habilitação matrimonial de José Joaquim Leite Ferreira e Escolástica
CARVALHO, Augusto José de. A Terra do Bom Jesus. Pouso Alegre: Artes Gráficas Irmão
Bernardino de Melo. Maio de 1783. Arquivo da Cúria Diocesana de Campanha. É interes-
Gino, 1982, p. 24.
sante observar que a documentação descreve as funções que os pais dos nubentes exerciam

220 221
13. Segundo Amadeu de Queiroz, em 1757, Antônio de Araújo Lobato e Felix Francisco já 19. Provisão do Reverendo José bento Leite Ferreira de Mello como vigário colado
habitavam as paragens do Rio Mandu. Consultando o índice geral das Cartas de Sesma- da Freguesia do Senhor Bom Jesus de Pouso Alegre, 1811. Acervo do Museu Histórico
rias presentes no Arquivo Público Mineiro, não foi localizado nenhum dos dois nomes. Municipal Tuany Toledo.
Cf: Relação chronológica dos concessionários de sesmarias em Minas Gerais. Vol. 01.
20. Percebemos na estrutura espacial do centro de Pouso Alegre algumas ruas e calçadões
Belo Horizonte: Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1900, p. 317-473. Contudo, Amadeu de
estreitos, como a Rua Monsenhor José Paulino, Rua Dom Nery e a Travessa João da Silva, o
Queiroz traz a transcrição da Carta de Sesmaria de João Pereira da Silva: “Luiz da Cunha
que leva a crer que pertencem ao traçado original da época de José Bento.
Menezes (...) Faço saber aos que esta carta de sesmaria virem que atendo o que me repre-
sentou por sua petição João da Silva Pereira, morador da Freguesia de Sant’Ana do Sapucaí, 21. O Padre João Dias de Quadros Aranha foi velho amigo e servidor incansável de Pouso
em terras que cultiva há mais de trinta anos por compra que então delas fez a Antônio de Alegre, ocupou vários cargos de importância na administração, desde sua mudança para
Araújo Lobato, o primeiro povoador daquele sertão, e outras mais, povoadas e cultivadas ao Pouso Alegre, em 1818, até o ano em que faleceu, em 2 de outubro de 1868, com 84 anos. Vere-
mesmo tempo daquelas por Felix Francisco, cujas terras se verificam entre os rios Sapucaí- ador quando se instalou a Vila e eleito Presidente em 1834, sendo reeleito algumas vezes de
Mirim e Sapucaí- Assú, tanto umas como outras em que se acha atual cultura desde o refe- 1841 a 1847. Eleito Deputado Geral pela Província de Minas Gerais. Braço forte na redação
rido tempo: e porque as quer possuir na forma das Reais Ordens, pedindo-me por fim e do Pregoeiro Constitucional, mantendo e redirigindo esse jornal durante as freqüentes
conclusão de seu requerimento lhe concedesse uma sesmaria de três léguas de comprido e ausências de José Bento. Nasceu o Padre Quadros Aranha, na cidade de Itu-SP, no ano de
uma de largo para poder titular as sobreditas terras compradas por de outra forma o não 1.784, ordenando-se em São Paulo aos 23 anos, em 1807. Residiu em Pouso Alegre desde o
poder fazer por terem extensão grande, sendo a maior parte campos de criar o gado vacum ano de 1818. Nomeado Cônego da Sé de São Paulo em 1834. Grande amigo e leal correligio-
e cavalar com que se acha o suplicante nelas estabelecido, principiando-se a medição no fim nário, de José Bento. Fonte: Acervo do Museu Histórico Municipal Tuany Toledo.
do Espigão donde finda a barra de um e de outro Rio correndo sempre pelo dito Espigão
22. Carta de Sesmaria requerida por Domingos Pereira dos Santos, 1821. Acervo do Arquivo
acima até onde findarem as terras que o suplicante comprou que é o primeiro Ribeirão
Público Mineiro.
acima do córrego chamado dos Macacos, que deságua para o Sapucaí- Mirim e do outro com
um córrego chamado Lagoinha que deságua para o Sapucaí- Assú, fazendo-se o Pião, donde 23. FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2006, p. 125.
mais conveniente for, por ser uma paragem quase sertão inda até o presente, cuja concessão
24. Também conhecida como Revolução dos Padres, foi um movimento de caráter liberal
a requer com preferência a outra qualquer na dita paragem, tudo na forma das Ordens de
e republicano que eclodiu no dia 6 de março de 1817 em Pernambuco, no Brasil. Dentre as
Sua Majestade (...). Cf: QUEIROZ, Amadeu de. Pouso Alegre e a sua imprensa. In: Revista do
suas causas, destacam-se a influência das ideias iluministas propagadas pelas sociedades
Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Volume XXVIII. São Paulo: 1931, p. 181-182.
maçônicas, o absolutismo monárquico português e os enormes gastos da Família Real e seu
14. Segundo a Carta de Sesmaria de João da Silva, a porção de terras que possuía era de três séquito recém-chegados ao Brasil — a Capitania de Pernambuco, então a mais lucrativa da
léguas de comprido (o que equivale em torno de 19.800 metros, ou seja, em torno de 20km) colônia, era obrigada a enviar para o Rio de Janeiro grandes somas de dinheiro para custear
e uma de largo. salários, comidas, roupas e festas da Corte, o que dificultava o enfrentamento de problemas
locais (como a seca ocorrida em 1816) e ocasionava o atraso no pagamento dos soldados,
15. Resolução de consulta da Mesa de Consciência e Ordens, 1810. Acervo do Museu
gerando grande descontentamento no povo pernambucano. Alguns questionamentos
Histórico Municipal Tuany Toledo.
influenciou de certa forma este movimento: Criação de novos impostos por Dom João VI
16. Cópia do Alvará Regio em que se criou a Freguesia de Pouso Alegre. Livro de Visitas provocando a insatisfação da população pernambucana; Grande seca que havia atingido a
Pastorais da Paróquia do Bom Jesus- Catedral. Acervo da Cúria Diocesana. região em 1816 acentuando a fome e a miséria e ocasionando uma queda na produção do
açúcar e do algodão, produtos que eram a base da economia de Pernambuco e que come-
17. Livro de Visita Pastoral da Paróquia do Bom Jesus- Pouso Alegre, MG, p. 54-56. Acervo
çaram a sofrer concorrência do algodão nos Estados Unidos e do açúcar na Jamaica; Influên-
da Cúria Metropolitana de Pouso Alegre. Procurei atualizar a escrita ortográfica para faci-
cias externas com a divulgação das ideias liberais e iluministas, que estimularam as camadas
litar o entendimento do leitor.
populares de Pernambuco na organização do movimento de 1817; A crescente pressão dos
18. Pesquisa histórica realizada por Amadeu de Queiroz. Procurei atualizar a grafia abolicionistas da Europa que vinha criando restrições gradativas ao tráfico de escravos,
para facilitar o entendimento do leitor e os grifos são meus. Acervo do Museu Histórico mão de obra que se tornava cada vez mais cara e que era o motor de toda a economia agrária
Municipal Tuany Toledo. pernambucana; O movimento queria a independência do Brasil sob um regime republicano.
Consulta feita em: www.fundaj.gov.br.

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25. FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2006, p. 129 cerca transversal a corrente do riacho, com uma abertura no meio, a qual se adapta do lado
inferior um extenso cesto. O peixe impelido pela correntesa da água, precipita-se por esta
26. Em Portugal, a Revolução de 1820, de cunho liberal, apresentava aspectos contradi-
abertura e fica em seco no cesto. Fazem-se pescarias imensas por esse modo, tendo porém o
tórios para a nação brasileira. Definida como Liberal, por considerar o Regime Absolutista
inconveniente de apanhar com o peixe grande que se utiliza, grande quantidade do pequeno,
como ultrapassado, ao mesmo tempo pretendia fazer com que o Brasil voltasse a ser subor-
de que ninguém se aproveita. Cf: ROHAN, Visconde de Beaurepaire. Diccionário dos Vocá-
dinado por inteiro ao Reino Português.
bulos Brazileiros. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1889, p. 105.
27. Para o historiador Boris Fausto, o movimento liberal era denominado como “Partido 34. Amadeu de Queiroz faz a seguinte observação: “Quando o Padre José Bento estabe-
Brasileiro”, entre aspas, pois essa expressão não é para designar um partido propriamente
leceu o plano geral da então Freguesia de Pouso Alegre, mandou abrir uma praça no lugar
dito, mas sim, uma corrente de opinião. As articulações políticas se fizeram nesse período,
chamado de Rancho, a que deu o nome de Rosário, com a intenção de ali se construir uma
sobretudo por meio das Lojas Maçônicas, uma instituição que se originou na Europa. Cf:
Capela com esta invocação”. Por muitos anos, a Capela do Rosário foi um espaço de socia-
FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2006, p. 131.
bilidade para a população negra local. Já na década de 1940, a Capela ficou pertencendo ao
28. A Declaração da Maioridade de D. Pedro II, mais conhecida como “Golpe da Maiori- Carmelo que se instalou em casa ao lado. Atualmente, a Igreja é dedicada à São Benedito e é
dade”, ocorreu em 23 de julho de 1840 com o apoio do Partido Liberal e deu encerramento atendida pelo Santuário do Imaculado Coração de Maria.
ao período regencial que se instaurava no Brasil. Os liberais influenciaram a população,
35. Dar tombo. Lançar em tombo terras, propriedades, etc. PINTO, Luiz Maria da Silva.
que pressionou o Senado para declarar o jovem Pedro II maior de idade antes mesmo de
Diccionario da Lingua Brasileira. Ouro Preto: Typographia de Silva, 1832, p. 121.
completar 15 anos de idade.
36. Recibo de parte do pagamento da venda de casas para a municipalidade, 1833. Acervo
29. A porta principal dava entrada a um corredor de três metros de largura, e aí tinha início do Museu Histórico Municipal Tuany Toledo.
uma escada de pedra sabão, que ia dar a um patamar de entrada ou pórtico, onde dois leões
de pedra montavam guarda ao palácio senatorial. Essa escadaria dava acesso a uma área 37. É interessante observar que o Brasil era um caso único na América do Sul a se tornar
alpendrada, no segundo pavimento, que acompanhava toda extensão da fachada posterior. uma Monarquia, tendo em vista que, as colônias espanholas nesta parte do continente já
À direita havia uma sala de recepção e um possível escritório de uso pessoal de José Bento. haviam se tornado Repúblicas. Além do Brasil, apenas o México que se tornou Monarquia,
À esquerda, uma arcada com porta movediça que dava acesso a uma ampla sala de jantar, mantendo-se nesta condição em um curto período de tempo.
onde memoráveis banquetes eram, periodicamente, realizados para comemorar efemé- 38. Cf: SCHWARCZ, Lília Mortiz; STARLING, Heloísa Murgel. Brasil: Uma Biografia. São
rides ou recepcionar hóspedes ilustres. No pavimento superior ficavam quatro dormitórios Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 223.
e uma alcova de José Bento. Já no final do sobrado, para o lado do poente, dispunham-se
em ordem: a cozinha, a dispensa e uma varanda. Todas estas dependências se comunicavam 39. O Poder Moderador é caracterizado como um poder de Estado, que sobrepõe aos
com o alpendre, e por meio deste, com o vasto quintal, onde José Bento cultivava um florido poderes (legislativo, judiciário e executivo), cabendo ao seu detentor equilibrar os demais
jardim e uma grande horta de verduras. Nos fundos, com saída para a rua de trás, localiza- poderes. Idealizado por Benjamin Constant, pregava-se a existência de cinco poderes:
va-se a estrebaria. poder real, poder executivo, poder representativo da continuidade, poder representativo
da opinião e poder judiciário. Foi instituído no Brasil com a Carta Constitucional de 1824,
30. Transcrita da Ata da Câmara Municipal de Pouso Alegre de 09 de abril de 1839. In: e, em Portugal, pela Constituição Portuguesa de 1826, ambas idealizadas por Dom Pedro I.
TOLEDO, Eduardo. Estórias do Mandu. Pouso Alegre: Grafcenter, 1998, p. 16. No Brasil foi abolido com a instalação da República. Para melhor entendermos esta forma
31. Segundo Amadeu de Queiroz, Padre Antônio de Pádua Castro, natural de Campanha, de governar, partimos da seguinte premissa: cabe ao Poder Moderador equilibrar os demais
desempenhou com grande dedicação as tradições religiosas e manteve viva a fé da popu- poderes interferindo em cada um de maneira a não se sobrepor a “vontade popular”. Seu
lação. Contudo, este sacerdote teve um trágico final de vida. Estando em viagem, foi assassi- detentor nomeia ou destitui o chefe do Poder Executivo, no primeiro caso quando seu
nado com um tiro de espingarda vindo de um menino, o qual, encontrando-o no caminho, e partido for majoritário ao Poder Legislativo e no segundo caso quando o Parlamento der
querendo amedrontá-lo, disparou um tiro que ceifou sua vida. voto de desconfiança contra ele. Dissolve o Congresso Nacional, convocando no mesmo ato
novas eleições. E, por fim, nomeia os Ministros do Supremo Tribunal, indicados em lista
32. Jornal Astro de Minas. Terça Feira, 31 de janeiro de 1832, nº653, p. 02. Acervo da Biblio- pelo Poder Judiciário, em geral dentre magistrados de carreira.
teca Nacional.

33. Nome de certa armadilha que fazem nos riachos, para apanhar peixe. Consiste em uma

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40. Podemos elencar alguns fatores que contribuíram diretamente para o enfraqueci- vilas são as seguintes: A povoação de S. Manoel da Pomba, compreendendo o seu termo e
mento do poder do Imperador: a Dissolução da Assembleia, ocasionada principalmente a do Presídio de São Baptista; A povoação do Curvello, comprehendendo no seu Termo
pela “Confederação do Equador”, fruto da insatisfação da elite Pernambucana; a Guerra da a Freguezia do mesmo nome; A povoação de Tejuco, comprehendendo no seo Termo a
Cisplatina, entre os anos de 1825 e 1828, uma luta pela manutenção da Província de Cispla- Freguezia do mesmo nome, a do Rio Preto, e as povoações do Rio Manso, Curimatahi,
tina em territórios Brasileiros; e o conflito entre políticos: o partido brasileiro e o partido Pissarrão, Rabello e Catonio; A Povoação do Rio Pardo, comprehendendo no seo Termo a
português. Freguezia do mesmo nome, e a de S. Miguel do Jequitinhonha; A povoação de S. Romão,
comprehendendo no seo Termo o Julgado do mesmo nome, e a do Salgado; A povoação de
41. Annaes do Parlamento Brasileiro- Câmara dos Srs. Deputados, Primeiro Anno da
S. Domingos do Arachá, comprehendendo no seo Termo o Julgado do mesmo nome, e do
Primeira Legislatura, Sessão de 1826, tomo IV. Rio de Janeiro: Typographia do Hyppolito
Desemboque; A Povoação de Pouso Alegre, comprehendendo no seu Termo as Freguezias
José Pinto &Cia, 1875, p. 367.
de Pouso Alegre, Cammandocaia e Ouro Fino; A população de Lavras do Funil, comprehen-
42. Annaes do Parlamento Brasileiro- Câmara dos Srs. Deputados, Segundo Anno da dendo no seo Termo a Freguezia do mesmo nome, e a das Dores do Pantano, e dividindo com
Primeira Legislatura, Sessão de 1827, tomo II. Rio de Janeiro: Typographia do Hyppolito os Termos das Vilas de S. João d’El Rei pelo Rio Grande, até a Barra do Capivari, e por este
José Pinto &Cia, 1875, p. 141-142. até Carrancas; A povoação de Formigas na Comarca do Serro Frio, comprehendendo no seo
Termo a Capela do mesmo nome, a do Bom Fim, e Contendas, e as Freguesias do Rio das
43. O “Quinto do Ouro” era uma forma de se taxar um imposto cobrado pela Coroa Portu- Velhas e Mourinhos.
guesa e as Casas de Contratações sobre o ouro encontrado em suas colônias. Correspondia
a 20% de todo metal extraído e a forma de cobrança sofreu variações de acordo com a época. 52. Annaes do Parlamento Brasileiro- Câmara dos Srs. Deputados, Segundo Anno da
Primeira Legislatura, Sessão de 1828, tomoI. Rio de Janeiro: TypographiaH.J. Pinto,
44. Annaes do Parlamento Brasileiro- Câmara dos Srs. Deputados, Segundo Anno da
1878,p. 227.
Primeira Legislatura, Sessão de 1827, tomo IV. Rio de Janeiro: Typographia do Hyppolito
José Pinto &Cia, 1875, p. 260. 53. Annaes do Parlamento Brasileiro- Câmara dos Srs. Deputados, Segundo Anno da Primeira
Legislatura, Sessão de 1831, tomoII. Rio de Janeiro: TypographiaH.J. Pinto, 1878,p. 63.
45. Primaz do Brasil é um título honorífico pertencente ao Arcebispo de São Salvador da
Bahia que, deste modo, se designa Arcebispo Primaz do Brasil. Desde 16 de novembro de 54. Frase atribuída ao Cardeal François Jeachim (1715-1794), religioso e político francês,
1676, quando o Papa Inocêncio XI, pela bulaInterPastoralisOfficii Curas elevou à arqui- que interferiu na supressão da Companhia de Jesus em 1773 e se opôs à constituição do
diocese, este título é outorgado ao Prelado de Salvador, por esta ser a Diocese mais antiga clero imposta após a Revolução Francesa. Tradução: “Indignado é um louco, lisonjeiro é um
do Brasil. escravo, Ele fantasia banir a ousadia, e não a liberdade, Balançou-o na mão, pesa a verdade”.

46. Annaes do Parlamento Brasileiro- Câmara dos Srs. Deputados, Segundo Anno da 55. Pregoeiro Constitucional, 07 de setembro de 1830, ano I, p. 03.
Primeira Legislatura, Sessão de 1827, tomo V. Rio de Janeiro: Typographia do Hyppolito
56. SOUZA, Françoise Jean de Oliveira. Discursos impressos de um padre político: análise
José Pinto &Cia, 1875, p. 183.
da breve trajetória d’O Pregoeiro Constitucional. In: Almanack Braziliense, n. 5. São Paulo:
47. Annaes do Parlamento Brasileiro- Câmara dos Srs. Deputados, Segundo Anno da Universidade de São Paulo, 2007, p. 01.
Primeira Legislatura, Sessão de 1828, tomoI. Rio de Janeiro: Typographia Parlamentar,
57. Manuscrito do artigo sobre a Sociedade Defensora da Liberdade e Independência
1876, p. 36.
Nacional,1831. Acervo da Biblioteca Nacional.
48. Idem. 58. Cf: SOUZA, Françoise Jean de Oliveira. Discursos impressos de um padre político:
49. Annaes do Parlamento Brasileiro- Câmara dos Srs. Deputados, Segundo Anno da Primeira análise da breve trajetória d’O Pregoeiro Constitucional. In: Almanack Braziliense, n. 5. São
Legislatura, Sessão de 1828, tomoI. Rio de Janeiro: TypographiaParlamentar, 1876, p. 36. Paulo: Universidade de São Paulo, 2007, p. 89.

50. Annaes do Parlamento Brasileiro- Câmara dos Srs. Deputados, Segundo Anno da 59. Pregoeiro Constitucional, 20 de abril de 1831, nº60, p. 250.
Primeira Legislatura, Sessão de 1828, tomoII. Rio de Janeiro: TypographiaParlamentar,
60. Idem, 05 de fevereiro de 1831, nº40, p. 163.
1876, p. 47.
61. Idem, 30 de março de 1831, nº 54, p. 220.
51. Astro de Minas, 10 de setembro de 1829, nº283. Acervo da Biblioteca Nacional. As nove

226 227
62. Pregoeiro Constitucional, 15 de janeiro de 1831, nº 35, p. 145. aos Prelados que os impendem de disseminar os ideais do pensamento das luzes e conse-
quentemente o pensamento liberal. In: Pregoeiro Constitucional, 01 de dezembro de
63. As reformas propostas, principalmente as que estavam expressas no Pregoeiro Cons- 1830, nº 25, p. 102.
titucional se encontravam nos artigos 13 e 62, principalmente no título 5º da Constituição
de 1824. No corpo da Carta Constitucional destacamos: “Artigo 13: O Poder Legislativo é 70. Pregoeiro Constitucional, 01 de dezembro de 1830, nº 25, p. 102.
delegado à Assembléa Geral com Sancção do Imperador”; Artigo 62: Se qualquer das duas 71. Idem.
Câmaras, concluída a discussão, adoptar inteiramente o Projecto, que a outra Câmara
lhe enviou, o reduzirá do Decreto, e depois de lido em Sessão, o dirigirá ao Imperador em 72. A abdicação do Imperador Dom Pedro I ocorreu no dia 07 de abril de 1831, em favor de
dousautographos, assignados pelo Presidente, e os dous primeiros Secretários, pedindo- seu filho Pedro de Alcântara. Este ato marcou o fim do Primeiro Reinado no Brasil e o início
-lhe a sua Sancção pela formula seguinte- A Assembléa Geral dirige ao Imperador o Decreto do período Regencial.
incluso, que julga vantajoso, e útil ao Império, e pede a Sua Majestade Imperial, Se digne a 73. Nasceu na Paraíba, em 1808, jornalista brasileiro que se destacou nos eventos que
dar a Sua Sancção”; O título 5º se refere inteiramente ao Imperador, e logo de início, já se levaram à abdicação de Dom Pedro I e um dos líderes da Revolução Praieira. Sendo iniciado
refere ao Poder Moderador como “a chave de toda organisação Política, e é delegado privati- no pensamento Iluminista Ibérico, difundia os ideais Liberais nos jornais que possuiu no
vamente ao Imperador como Chefe Supremo da Nação, e seu Primeiro Representante, para Rio de Janeiro, Pernambuco e Paraíba, chegando a ser Presidente do Partido Liberal Brasi-
que incessantemente vele sobre a manutenção da independência, equilíbrio e harmonia leiro. Faleceu na Paraíba, cidade de Nazaré da Mata em 1872.
dos mais Poderes Políticos”. Ao exercer o Poder Moderador, o Imperador poderia nomear
os Senadores, convocar a Assembleia Geral extraordinariamente nos intervalos das sessões, 74. Francisco das Chagas de Oliveira França e Luís Augusto May, dirigiram respectiva-
quando pede o bem do Império; Sancionar decretos, resoluções da Assembleia Geral para mente os periódicos “Tribuna do Povo” e “O Malagueta” defendendo a constituição da
que tivessem força de Lei; Aprovar e suspender as Resoluções dos Conselhos Provinciais; Federação, que na opinião expressa em seus periódicos, daria maior autonomia às Provín-
Prorrogar e adiar a Assembleia Geral, e dissolver a Câmara dos Deputados, nos casos, em cias do Império.
que o exigir a salvação do Estado, convocando imediatamente outra; nomear e demitir 75. Evaristo da Veiga nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1799 e faleceu no ano de 1837.
livremente os Ministros de Estado; Suspender os Magistrados; Perdoar, moderar as penas Em 1814 inaugura uma livraria na Rua da Quitanda, onde publica seus primeiros versos e
impostas aos réus condenados por sentença e conceder anistia em caso urgente (p. 76). Cf: hinos. Entre 1827 e 1835  é editor do jornalA Aurora Fluminense, de oposição ao governo,
SENADO FEDERAL. 1824: Constituições Brasileiras. Vol. 01. 3ª Edição. Brasília: Editora do difusor de ideias constitucionalistas e liberais. De 1830 a 1837 é deputado por Minas Gerais
Senador Federal, 2012, pp. 67,72 e 76. em três mandatos; fez oposição ao governo dos Andradas e apoiou a nomeação de Diogo
64. Pregoeiro Constitucional, 23 de março de 1831, nº52, p. 213. Feijó como ministro da Justiça, indicado pelo Partido Liberal. Membro-fundador da Socie-
dade Defensora da Liberdade e da Independência Nacional, associação política liberal de
65. Idem. forte influência na I Regência, precursora do Partido Moderado. Evaristo da Veiga é um dos
66. Pregoeiro Constitucional, 21 de março de 1831, nº especial, p. 02. primeiros jornalistas brasileiros.

67. Pregoeiro Constitucional, 20 de novembro de 1830, nº 22, p. 90. 76. João Clemente Vieira Souto, responsável pela publicação A Astréia, também compunha
o grupo dos moderados, ligado particularmente aos produtores do interior (Zona da Mata e
68. Pregoeiro Constitucional, 01 de dezembro de 1830, nº 25, p. 101. Sul de Minas). Estes últimos disputavam com os comerciantes portugueses o abastecimento
69. No decorrer do artigo publicado, José Bento faz referências à figura dos bispos na da cidade do Rio de Janeiro.
época: “(...) porque os bispos exceptuados alguns, são os mais inimigos da perfeição social, 77. Bernardo Pereira de Vasconcelos nasceu em Vila Rica (atual Ouro Preto) em 27 de
e por isso bem pouco lhes importa ordenar, e empregar na direcção das almas homens agosto de 1795 e faleceu no Rio de Janeiro em 01 de maio de 1850. Foi político, jornalista,
instruídos, e bem morigerados; uns fazem consistir suas virtudes em uma vida toda ascé- Juiz de Fora e jurista brasileiro no período do Império e constituía a ala moderada dos Libe-
tica; outros só cuidão de arrecadar as grossas, e pingues rendas do bispado, e de augmentar rais.
a pompa de seu tratamento tão incompatível com o Espírito do Evangelho, entre tanto,
que gemem na miséria as orphãas, os presos, etc”. Aqui José Bento faz uma pesada crítica

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78. Cabe aqui notar que durante o período da publicação de O Pregoeiro Constitucional, 95. Idem.
José Bento assume algumas posições ligadas aos Liberais Exaltados. No decorrer dos acon-
96. O cinamomo (nome científico MeliaAzedarach) O cinamomo é uma árvoredecídua,
tecimentos, e logo após a abdicação de Dom Pedro I, o padre político passa a comungar do
florífera e de rápido crescimento, bastante cultivada como ornamental em todo o mundo.
pensamento dos liberais moderados, na intenção de se manter a Monarquia, porém, na lide-
Ela é originária da Ásia e Austrália, mas é possível encontrá-la como subespontânea em
rança de Dom Pedro II.
florestas das Américas, África e Europa. Sua copa é arredondada ou em forma de guarda-
79. Annaes do Senado do Império do Brazil. Livro 01, 1832,p.146. -chuva, de acordo com a variedade. As folhas são aromáticas, alternas, compostas biimpari-
pinadas, com folíolos elípticos, de margens serrilhadas. Inicialmente eles são verde escuros,
80. Annaes do Senado do Império do Brazil. Livro 01, 1832, p. 179.
e pouco antes de caírem, adquirem tonalidade de amarelo. A casca do tronco é marrom aver-
81. Idem. melhada, e adquire fissuras com o passar do tempo. A madeira é de média densidade, cor
castanha clara ao vermelho escuro, com fibras retas e resistente aos cupins, porém é quebra-
82. Idem, 167.
diça e de baixa durabilidade. Ela é comumente utilizada como lenha e na carpintaria leve,
83. Idem. na fabricação de caixotes, cabos de ferramentas, brinquedos, etc. Seu porte médio é de 7 a
12 metros de altura, mas em condições especiais pode alcançar até 45 metros. As flores
84. Foi membro da Assembleia Constituinte de 1823 por Minas Gerais, deputado geral e
surgem em cachos, na primavera e verão, e são pequenas, pentâmeras, de cor lilás, bastante
senador do Império do Brasil em sua primeira legislatura de 1835 a 1838.
fragrantes e atrativas. Os frutos são drupas ovóides, de cor verde a amarela, que se tornam
85. Imóvel localizado no interior carioca, no sopé do Morro do Castelo. esbranquiçados e murchos com o amadurecimento. Eles são consumidos por aves, mas
muito tóxicos para mamíferos. Fonte: www.jardineiro.net.
86. Disponibilizaremos na íntegra o modelo de Constituição feita pelos Liberais conspira-
dores no final deste livro. 97. QUEIROZ, Amadeu de. O Senador José Bento- Estudo Histórico. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1933, p. 40.
87. SOUSA, Otávio Tarqüínio de. Três golpes de Estado. São Paulo: Itatiaia/USP, 1988, p. 99.
98. Modesto Antônio Mayer nasceu na cidade de Congonhas do Campo e passou a
88. MELLO, Francisco I. M. Homem de. EscriptosHistoricos e Litterarios. Rio de Janeiro:
residir no Povoado de Pouso Alegre no ano de 1825, exercendo o seu ofício de Boticário
Eduardo e Henrique Laemmert, 1868, p. 15-47.
(Farmacêutico). Com a elevação à condição de Vila, Mayer exerceu os cargos de vere-
89. Annaes do Parlamento Brazileiro. Mesa dos Srs. Deputados, Terceiro anno da Segunda ador, suplente de Juiz Municipal, Delegado de Polícia, entre outros. Mesmo não tendo
Legislatura. Sessão de 1832 colligidos por Antônio Pereira Pinto. Tomo II. Rio de Janeiro: convicção política firmada, esteve filiado por alguns anos no Partido Liberal, sendo
Typographia do H. J. Pinto, 1879, p. 132. companheiro político de José Bento. Anos mais tarde, filiou-se ao Partido Conservador,
partido oposto ao do Padre e amigo.
90. Annaes do Parlamento Brazileiro. Mesa dos Srs. Deputados, Terceiro anno da Segunda
Legislatura. Sessão de 1832 colligidos por Antônio Pereira Pinto. Tomo II. Rio de Janeiro: 99. O Recopilador Mineiro, 09 de novembro de 1833, vol. 1, nº78, capa. Acervo da Biblioteca
Typographia do H. J. Pinto, 1879, p. 123. Nacional.

91. Idem, p. 131. 100. QUEIROZ, Amadeu. O Senador José Bento- Estudo Histórico. Belo Horizonte: Imprensa
Oficial, 1933. Nesta citação encontramos as expressões “restauradores” e “caramurus”.
92. Idem.
101. Nasceu em Arcos de Valdevez no ano de 1771 e faleceu na cidade mineira de Ponte
93. Annaes do Parlamento Brazileiro. Mesa dos Srs. Deputados, Terceiro anno da Segunda
Nova, em 20 de maio de 1859. Foi Intendente na Freguesia de São João das Duas Barras
Legislatura. Sessão de 1832 colligidos por Antônio Pereira Pinto. Tomo II. Rio de Janeiro:
no período entre 1809 e 1814 e membro da Junta Governativa Mineira (1821-1823). Como
Typographia do H. J. Pinto, 1879, p. 129.
Deputado, exerceu o cargo na Assembleia Legislativa Provincial de Minas Gerais na
94. MELLO, F. I. M. Homem. EscriptosHIstoricos e Litterarios. Rio de Janeiro: Eduardo e primeira legislatura (1835-1837); na segunda (1838-1839) e na quarta (1842-1843). Atuou
Henrique Laemmert, 1868,p. 06. ainda como Deputado Geral, Presidente da Província de Minas Gerais e Senador do Império
entre os anos de 1836-1859.

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102. O Universal, 05 de dezembro de 1832, nº 836, capa. Acervo da Biblioteca Nacional. 118. QUEIROZ, Amadeu de. O Senador José Bento- Estudo Histórico. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1933, p. 76
103. O Universal, 05 de dezembro de 1832, nº 836, capa. Acervo da Biblioteca Nacional.
119. Livro Primeiro das Actas de Eleições dos Senadores por esta Província de Minas
104. Cf: GONÇALVES, Andréa Lisly. Estratificação social e mobilizações políticas no
Geraes por esta Villa de Pouso Alegre. Acervo do MHMTT.
processo de formação do estado nacional brasileiro: Minas Gerais, 1831-1835. São Paulo:
Editora Hucitec, 2008, p. 56-78. 120. Livro Primeiro das Actas de Eleições dos Senadores por esta Província de Minas
Geraes por esta Villa de Pouso Alegre. Acervo do MHMTT.
105. Esta denominação foi dada devido a uma espessa neblina que encobertou a cidade de
Ouro Preto e em quase toda a Província de Minas Gerais naquele ano. 121. Ata da 127ª Sessão do Conselho de Estado, Escolha de Senador pela Província de
Minas Gerais, p. 149.
106. Astro de Minas, 23 de abril de 1833, nº 847, p. 2-3. Acervo da Biblioteca Nacional.
122. Annaes do Senado do Império do Brazil, Quinta Sessão da Primeira Legislatura, de
107. Cf: Astro de Minas. São João Del Reis, Edições 838, 839 e 841. Acervo da Biblioteca
09 de Maio a 01 de Outubro. Rio de Janeiro, 1918, p.196. Acervo da Assembleia Legislativa.
Nacional.
123. Por meio de pesquisas e levantamentos, encontramos o registro de sepultamento de
108. Carta de Proclamação. O Universal, edição especial, 26 de maio de 1833. Acervo da
Dona Possidônia, o que nos trás alguns dados interessantes. Pelos documentos, concluímos
Biblioteca Nacional.
que Possidônia Ferreira de Mello nasceu no ano de 1818, provavelmente na Vila de Pouso
109. Annaes do Parlamento Brasileiro- Câmara dos Srs. Deputados, Segundo Anno da Alegre. Casou-se com 17 anos na mesma Vila. Após a morte de seu pai, o Padre Senador
Primeira Legislatura, Sessão de 1833, tomo II. Rio de Janeiro: Typographia de Viúva Pinto José Bento, anos mais tarde, mudou-se para a cidade de São Paulo. A documentação, do
& Filho, 1887, p. 226. Cemitério Municipal de São Paulo (atual Cemitério da Consolação) nos traz as seguintes
informações: Número do enterramento- 12.761; Número da Sepultura- 16J; Data do enter-
110. Ata das Eleições para Conselho da Presidência da Província, 1833. Acervo do Museu
ramento: 15/06/1878; Nome: Dona Possidônia Ferreira de Mello; Filiação e Nacionalidade-
Histórico Municipal Tuany Toledo.
não constam; Idade: 60 anos; Estado: Viúva; Causa do Falecimento: Exaurimento Nervoso;
111. Aurora Fluminense, 22 de abril de 1833, vol. 6, nº 760, p. 3239. Acervo da Biblioteca Condição e nome do senhor do Escravo- Não constam. In: Catálogo do Cemitério da Conso-
Nacional. lação, índice de K a Z, jun. 1858 à Dez. 1890, p. 139. Acervo do Cemitério da Consolação/SP.
O Jornal “Correio Paulistano” nos traz a seguinte nota: “Óbito: Deixou hontem de existir a
112. Aurora Fluminense, 24 de julho de 1833, vol. 6, nº797, p. 3290. Acervo da Biblioteca
sra. D. Possidônia Ferreira de Mello. A respeitável sra. era filha do finado Senador por Minas
Nacional.
Geraes José Bento Leite Ferreira de Mello, e sogra do sr. Major Henrique Luiz de Azevedo
113. Documentos da Câmara Municipal de Pouso Alegre. Transcritos em: QUEIROZ, Marques. O sahimento fúnebre dar-se-há as 10 horas da manhã, da Travessa do Quartel n.
Amadeu de. O Senador José Bento- Estudo Histórico. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 9- ao Cemitério Municipal”. In: Correio Paulistano, 15 de junho de 1878, ano XXV, nº6478,
1933, p. 50. p. 02. Acervo da Biblioteca Nacional. No domingo, dia 16 de junho de 1878, uma outra nota
foi publicada no Correio Paulistano: “Acto digno de louvor- Por occasião do fallecimento
114. Documentos da Câmara Municipal de Pouso Alegre. Transcritos em: QUEIROZ,
de D. Possidônia Ferreira de Mello, sua filhaa exma. Sra. D. Josephina de Mello e Azevedo
Amadeu de. O Senador José Bento- Estudo Histórico. Belo Horizonte: Imprensa Oficial,
Marques, esposa do Sr. Major Henrique Luiz de Azevedo Marques, como prova de reco-
1933, p. 51.
nhecimento pelo zelo, fidelidade e dedicação com que trataram sempre a sua mãe os seus
115. Idem, p. 52-53. escravos Bernardino- 40 annos, alfaiate; Virgínia- 35 annos; Martha- 40 annos; Cezária, de
38 anos; declarou aos mesmos, que cedia em favor de sua libertação a parte que lhe possa
116. Documentos da Câmara Municipal de Pouso Alegre. Transcritos em: QUEIROZ,
tocar, como herdeira de sua mãe. Na mesma occasião, declarou ao escravo Tobias, de 40
Amadeu de. O Senador José Bento- Estudo Histórico. Belo Horizonte: Imprensa Oficial,
annos, que era livre, visto reconhecer não ter sido dado sua matrícula. In: Correio Paulis-
1933, p. 55.
tano, 16 de junho de 1878, ano XXV, nº6479, p. 02. Acervo da Biblioteca Nacional.
117. Atualmente este trecho corresponde ao trecho da Avenida Doutor Lisboa que liga à
124. Livro de Registros de Matrimônio da Paróquia do Senhor Bom Jesus, 1832-1856, tomo
Perimetral e ao bairro São Geraldo.
II-IV, 1835, p.20v. Acervo da Catedral Metropolitana de Pouso Alegre.

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125. QUEIROZ, Amadeu de. O Senador José Bento- Estudo Histórico. Belo Horizonte: Reinado (1822-1831) e se mantendo no Período Regencial (1831-1840). O período regencial
Imprensa Oficial, 1933, p. 80-81. foi marcado por diversas visões políticas, ora sendo representados por Liberais ou Conser-
vadores, que defendiam princípios diferentes. Neste sentido, a disputa pelo poder, resultou
126. Ofício enviado pela Câmara Municipal da Vila de Pouso Alegre à Presidência da
numa série de revoltas, tais como a Guerra dos Farrapos (20 de setembro de 1835 a 01 de
Província de Minas Gerais, 1838, série Documentos Soltos. Acervo do Museu Histórico
março de 1845), Cabanagem (06 de janeiro de 1835 a 23 de agosto de 1840), Balaiada (13 de
Municipal Tuany Toledo.
dezembro de 1838 a meados de 1841) e Sabinada (06 de novembro de 1837 a 16 de março de
127. Fazemos alusão aos seguintes sacerdotes que possuíam certas influências e prestí- 1838). Os motivos que levaram a este processo de golpe de deram a partir de que muitos
gios políticos: o Padre José Martiniano Alencar, passou a maior parte da legislatura em sua acreditavam que a instabilidade vivenciada no Brasil se devia a omissão de uma figura forte
Província do Ceará. O Padre Antônio Diogo Feijó, foi nomeado regente do Império em 1835, que governasse o país. Por outro lado, a Constituição de 1824 previaa maioridade do impe-
permanecendo até o ano de 1837. O Padre Antônio Vieira da Soledade, conforme denúncia rador somente aos 21 anos. Os Liberais expressavam a ideia de que era preciso centralizar
do Conselho Geral da Província do Rio Grande do Sul deixara-se ficar em Porto Alegre como novamente o poder. Sendo assim, apresentaram um projeto que antecipava a maioridade
Vigário daquela Vara. O Padre Antônio da Cunha Vasconcellos, apenas se tem notícias, para ser votada pela Câmara em três ocasiões. Foi criado o “Clube da Maioridade”, dirigido e
mediante um ofício lido na Sessão do dia 23 de maio de 1837, o qual informava sua ausência liderado por Antônio Carlos de Andrada e Silva, cuja estratégia era reduzir a maioridade de
por motivos de saúde, não fazendo nenhuma intervenção e nem participou de nenhuma Dom Pedro II, transmitindo a ideia de unidade nacional, no intuito de assumir a liderança
Comissão. A atuação do Padre José Custódio Dias é discreta e comedida, em contraste com do Brasil. De 23 de julho de 1840 a 15 de novembro de 1889, Pedro II governou o Brasil.
sua grande participação e atuação na Câmara dos Deputados. Nesta legislatura também fale-
135. De acordo com Azevedo, em 15 de abril de 1840, na casa do Senador Alencar, na Rua
ceram três sacerdotes senadores: Padre Francisco dos Santos Pinto, em 03 de abril de 1836;
do Conde (atual Visconde do Rio Branco), no Rio de Janeiro, houve a primeira sessão da
Padre José Caetano Ferreira de Aguiar, em 27 de julho e Padre Antônio Vieira da Soledade,
Sociedade Promotora da Maioridade do Imperador Dom Pedro II. Conhecida pelo nome
em 16 de dezembro do mesmo ano. Cf: SENADO FEDERAL. O Clero no Parlamento Brasi-
de Club da Maioridade foi iniciada pelo senador José Martiniano de Alencar, que redigiu os
leiro, Senado do Império (1826-1840). Tomo I. Rio de Janeiro: Centro Gráfico do Senado
estatutos e convidou alguns senadores e deputados que aderirão a ideia. Aprovados os esta-
Federal, 1982, p. 227.
tutos procurou a sociedade pugnar pela decretação da maioridade do imperador por meio
128. Annaes do Senado do Império do Brazil. Quarta Sessão da Primeira Legislatura de 09 do corpo legislativo. Criou o periódico Maiorista. Foram seus associados que suscitaram
de maio a 01 de outubro. Sessão de 19 de agosto de 1834. Rio de Janeiro, 1918, p. 205. no parlamento a ideia do governo do monarca, e elaboraram o projeto sobre semelhante
assunto lido e rejeitado no Senado por dois votos. Não tinha número limitado de sócios,
129. Anais do Senado do Império do Brasil. 3ª Legislatura, Sessões de Maio a Outubro de obrigando-se os que fossem senadores e deputados a votarem no parlamento pelo governo
1835. Sessão de 09 de maio de 1835. Brasília, 1978, p. 30.
do soberano, e os outros, que não tivessem semelhante categoria, a empregar esforços para
130. O Ato Adicional a que se refere é aquele que alterou a Constituição de 1824 e ampliou a realização dos pensamentos que os congregava. Os confederados eram quatorze pessoas,
a dimensão das reformas liberais até então empreendidas. seis senadores e oito deputados, e, realizaram a sua última sessão em 12 de maio daquele
mesmo ano. Tornando-se pública a ideia da maioridade desde a apresentação do projeto no
131. QUEIROZ, Amadeu de. O Senador José Bento- Estudo Histórico. Belo Horizonte:
senado, deixou de ser questão de sigilo e de conciliábulo, e começaram os propugnadores
Imprensa Oficial, 1933, p. 83.
e adversários do projeto de tornar maior o menino imperador e gladiarem-se no recinto
132. Annaes do Senado do Império do Brazil, Segunda Sessão da Primeira Legislatura de da tribuna e na arena da imprensa. Cf: AZEVEDO, Manuel Duarte Moreira de. Sociedades
29 de julho a 06 de setembro de 1839, Tomo III. Rio de Janeiro: 1913, p. 03- 41. fundadas no Brazil desde os tempos coloniaes até o começo do actual reinado. Memória lida
nas sessões do Instituto Histórico em 1884. In: Revista trimestral do Instituto Histórico,
133. Idem. Geographico e Etnographico do Brazil, tomo XLVIII- Parte II. Rio de Janeiro: Typographia
134. A “Declaração da Maioridade” garantiu a ascensão ao trono de Dom Pedro II ao trono de Laemmert & Cia, 1884, p. 320-321.
brasileiro em 23 de julho de 1840, mesmo possuindo apenas 14 anos de idade, partindo de
136. SISSON, S. A. Galeria dos BrasileiroIllustres. Os Contemporâneos. Vol. II. Rio de
uma estratégia do Partido Liberal para dar fim de uma vez por todas ao período regencial
Janeiro: Lithographia de S. A. Sisson, 1864, p. 102.
(1831-1840), por conta da abdicação de Dom Pedro I como imperador do país, e nesse caso,
Pedro II, seu filho, possuía apenas cinco anos de idade. O objetivo do golpe era restabe- 137. Idem.
lecer a estabilidade política do país, marcado por confrontos políticos e sociais no Primeiro

234 235
138. A Declaração da Maioridade de Sua Magestade Imperial o senhor Dom Pedro II, 150. Amadeu de Queiroz faz uma análise desse movimento, mantendo uma posição impar-
desde o momento em que essa idéa foi aventada no Corpo Legislativo até o Acto de sua reali- cial. “O Movimento de 1842- por mais que se procure- nada se encontra que o possa justi-
sação. Rio de Janeiro: Typographia da Associação do Despertador, 1840, p. 113. ficar. Os liberais procuraram fazê-lo pela necessidade de impedir a execução da Lei de 03
de Dezembro de 1841(Reforma do Código Criminal), até a sua revogação pela Assembleia
139. Anais do Senado do Império do Brasil, Assembleia Geral Legislativa, 4ª Legislatura-
Nacional, mas não foram sinceros e, por esse motivo, iludiram de boa fé os moços que se
Sessões de Setembro de 1840. Brasília, 1960, p. 231.
envolveram na luta seduzidos pelo idealismo, sem suspeitar que sentimentos inconfessáveis
140. Jornal do Commercio, 20 de julho de 1841, ano XVI, nº 182, p. 2. Acervo da Biblioteca se ocultavam em tão vivas manifestações de patriotismo.
Nacional.
151. MARINHO, José Antônio. História da Revolução Liberal de 1842. Coleção Minas de
141. QUEIROZ, Amadeu de. O Senador José Bento- Estudo Histórico. Belo Horizonte: História e Cultura. Belo Horizonte: Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, 2015,
Imprensa Oficial, 1933, p. 100. p. 322.

142. Ata da Câmara Municipal de Pouso Alegre 1841-1844. Primeira Sessão Ordinária, 07 152. Ata da Câmara Municipal de Pouso Alegre, 1841-1844, tomo I, Sessão Extraordinária
de janeiro de 1841, p. 53v. Acervo do Museu Histórico Municipal Tuany Toledo. de 19 de setembro de 1842, p. 128v. Acervo do Museu Histórico Municipal Tuany Toledo.

143. O Maiorista, 26 de fevereiro de 1842, nº103, p.421-422. Acervo da Biblioteca Nacional. 153. Ata da Câmara Municipal de Pouso Alegre, 1841-1844, tomo I, Sessão Extraordi-
Algumas das pessoas citadas neste relato pertenciam ao Partido Conservador de Pouso nária de 19 de setembro de 1842, p. 128v-131v. Acervo do Museu Histórico Municipal Tuany
Alegre: o Juiz Bernardino de Campos, o Belga Julião Florêncio Meyer e o Padre José Pedro Toledo.
de Barros Mello.
154. A sociedade secreta dos Patriarcas Invisíveis surgiu após abdicação de D. Pedro I,
144. Ata da Câmara Municipal de Pouso Alegre, 1841-1844, tomo I, Sessão Extraordinária num período marcado por revoltas, re- voluções e motins. José Martiniano de Alencar foi a-
de 21 de fevereiro de 1842, p. 81v. Acervo do Museu Histórico Municipal Tuany Toledo. pontado como criador dos Invisíveis na cidade do Rio de Janeiro no início de 1840.

145. Segundo Amadeu de Queiroz, na Sessão de Abril de 1842, havendo a falta de número 155. MELLO, José Bento Leite Ferreira de. Resposta dada ao Senado pelo Senador José
de vereadores, foram chamados e tomaram assento, os suplentes Padre José Pedro e Bento Leite Ferreira de Mello. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1843, p. 03-05.
Bernardino José de Campos, elementos dirigentes e indispensáveis à reação por se tratar
156. Idem, p. 07.
de homens violentos, autoritários e destemidos. Na Sessão de Maio, continuando em falta
os liberais, foram chamados outros suplentes de responsabilidade, chegando a vez dois dos 157. MELLO, José Bento Leite Ferreira de. Resposta dada ao Senado pelo Senador José
chefes supremos, Antônio de Barros Mello e Julião Florêncio Meyer. Por fim, tomaram Bento Leite Ferreira de Mello. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1843, p. 19-20.
posse, os novos Conservadores, João Cassiano Santiago, Antônio José Silveira Leite e José
158. Cf: QUEIROZ, Amadeu de. O Senador José Bento- Estudo Histórico. Belo Horizonte:
Innocencio de Campos. Cf: QUEIROZ, Amadeu de. O Senador José Bento- Estudo Histó-
Imprensa Oficial, 1933.
rico. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1933, p. 114.
159. Anais do Senado, anno de 1843, tomo IX. Annaes do Senado do Império do Brazil.
146. Diário do Rio de Janeiro, 02 de maio de 1842, ano XXI, nº96, capa. Acervo da Biblio-
Brasília: Secretaria Especial de Editoração e Publicações, 2014, p. 240.
teca Nacional.
160. Amadeu de Queiroz menciona uma passagem em que deva ter ouvido falar por seus
147. Idem.
antepassados ou pessoas que viveram naquela época. “Conta-se que certo Mathias V. escre-
148. Para aprofundar sobre a história desta Revolução: MARINHO, José Antônio. História vendo a um amigo qualquer de fora, atacava sem rebuços o Senador José Bento, caluniava-o,
da Revolução Liberal de 1842. Coleção Minas de História e Cultura. Belo Horizonte: Assem- atribuindo-lhe trapaças inverossímeis e por fim intrigava-o com meio mundo. Tão preo-
bleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, 2015. cupado estava, de certo, Mathias e por tantas vezes escreveu o nome do senador, que, ao
terminar a carta, destraindo-se desastradamente, lançou um subscrito o nome do próprio
149. Por ser a cidade mineira de Santa Luzia uma das principais protagonistas da Revo-
José Bento e, sem dar pelo engano, lançou a carta no correio. José Bento recebeu, leu, e
lução Liberal, os liberais mineiros ficaram conhecidos como “Luzias”.
subscritando a carta de novo, endereçou-a ao Padre José Pedro de Barros Mello, o seu maior

236 237
inimigo, em Pouso Alegre. Depois, comunicou pessoalmente a Mathias o que tinha feito, 171. O General Francisco José de Sousa Soares de Andrea, militar e político luso-brasileiro,
dizendo-lhe que não incomodasse que a carta fosse endereçada ao seu verdadeiro destino foi presidente da Província de Minas Gerais no período de 1843-1844.
(...)”. Cf: QUEIROZ, Amadeu de. O Senador José Bento- Estudo Histórico. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1933, p. 137. 172. José Inocêncio de Campos foi Juiz de Direito substituto, na Vila de Pouso Alegre, e
pertencente à oligarquia, ao grupo dos Conservadores.
161. Livro de óbitos da Paróquia do Senhor Bom Jesus, tomo II, 1844, p. 138. Acervo da
Catedral Metropolitana de Pouso Alegre.
173. Amadeu de Queiroz expõe em sua obra o teor da participação oficial do assassinato,
feito ao Ministro da Justiça por Julião Florêncio Meyer: Havia eu participado no dia 9 do
162. O Brasil, sábado, 17 de fevereiro de 1844, vol. V, nº 505, Rio de Janeiro, p. 03. corrente ao Exmo. Sr. Ministro dos Negócios da Justiça, o Sr. Honório Hermeto Carneiro

163. O Brasil, sábado, 17 de fevereiro de 1844, vol. V, nº 505, Rio de Janeiro, p. 03. Leão, a infeliz morte do Exmo. Senador José Bento Leite Ferreira de Mello, sobrevindo,
porém, a demissão do ministério de que aquele senhor fazia parte, pode acontecer não ter
164. Idem. chegado às mãos de Vossa Excelência aquele ofício, portanto, tomo a liberdade de dirigir-me

165. Idem. novamente à Vossa Excelência expondo aquele fato com toda nudez da verdade. Por mais
que se queira persuadir que o assassinato fosse perpetrado pelos algozes, por motivos parti-
166. MARINHO, José Antônio. História da Revolução Liberal de 1842. Coleção Minas culares, movidos porquestões de terras que os algozes tinham com o falecido, passo afon-
de História e Cultura. Belo Horizonte: Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, tamente declarar que ele foi premeditado há muito tempo, por pessoas de quem o falecido
2015, p. 459. senador devia receber gratidão pelos imensos benefícios a elas feitos; para se esquivarem
167. Idem. a gratidão, se acobertaram com o nome de governistas, só, para assim, se tornarem seus
inimigos. Incapazes de ter credo político, se dizem contudo devotados por terem obtido
168. Estes dois Senadores, antes apoiados nos princípios Liberais, se tornaram Conser- emprego de que se servem para as suas vinganças e as mais revoltantes injustiças, como tem
vadores, combatendo os projetos e as ideias daqueles que permaneceram no Partido praticado com aqueles que se não prestam a satisfazer seus caprichos. Estando a desolada
Liberal. Antes mesmo de partirem para o Partido Conservador em si, estabeleceu-se certa família e os amigos do dito senador entregues a mais acerba dor, não podem reivindicar seus
oposição conservadora contra Padre Antônio Diogo Feijó e seus aliados. Este grupo era direitos e eu apenas posso fazer o processo contra os assassinos, algozes mas não contra os
constituído por fazendeiros de café e cana, e também mercadores das regiões Sudeste e mandantes... Conhecidos são eles, mas a título de Comandante da Guarda Nacional e Vigário
Nordeste do Império Brasileiro. Possuíam essas pessoas grande influência política, social Encomendado da Igreja, têm-se conservado debaixo da segurança de mais de cem guardas
e econômica, tomando como forte aliado Honório Hermeto e seus ideais, pessoas estas nacionais, tendo além disto o depósito de armas em sua casa torna-se impossível fazer-se
que apoiavam o comércio de escravos e almejavam um estado centralizado e que impunha um processo em que as testemunhas não juram com liberdade, antes muito coactas, por isso
ordem. Na época, Honório Hermeto e Vasconcellos possuíam divergências. Contudo, estas não intentei o processo esperando as medidas que Vossa Excelência julgar profícuas neste
divergências caíram por terra r formaram uma aliança. Esta oposição conservadora teve momento. Permita-me Vossa Excelência, que diga: em tempos excepcionais como era o
sua origem no final de 1834, sendo denominado como “Partido Regressista” (por Feijó e princípio de 1842, lícito era empregar certas pessoas, porém, quando, depois de finda uma
seus aliados). Em 1843 se tornou “Partido da Ordem” e finalmente “Partido Conservador revolução não se quer de propósito a concitar os ânimos... Excelentíssimo Senhor, decla-
em 1853”. Fica claro, então, a forte oposição ao mantida aos Liberais aliados de Feijó, ou rando o fim trágico do falecido senador Ferreira de Mello, sou movido a fazer saber a Vossa
seja, os “Liberais indisciplinados”. Excelência esta verdade embora tenha de entregar o colo aos assassinos, pois corre o boato
169. A recusa do Imperador Dom Pedro II em assinar o decreto da demissão do inspetor que mais mortes seguirão àquela. Concluindo minha exposição, tenho de exigir de Vossa
da Alfândega da Corte, proposto por Honório Hermeto, proporcionou que o “Ministério Excelência, medidas de conformidade com a Lei e com o caso ocorrido considerando-se
Conservador” de 20 de janeiro de 1843, e, Honório, chefe e ministro da justiça, se retirasse que qualquer país, nas circunstâncias deste é digno das atenções do governo para prevenir
do poder. A substituição, por um “Ministério Mixto” ocorreu no dia 02 de fevereiro de 1844, uma anarquia e rompimento infalível, pelo estado de delírio que até agora, á custa de sacri-
adotando uma “política de tolerância e concórdia”. Cf: SANTOS, Benedicto. Dissoluções fícios, tenho sabido evitar, quiçá com iminente perigo de minha vida... É o que tenho o
Parlamentares no Brasil. In: Revista do Instituto do Ceará, ano XXVI, 1912, p. 307. pesar de comunicar à Vossa Excelência a quem Deus guarde por muitos anos. Pouso Alegre,
14 de fevereiro de 1844. Julião Florêncio Meyer- 1º Suplente do delegado de Polícia. In:
170. MARINHO, José Antônio. História da Revolução Liberal de 1842. Coleção Minas de QUEIROZ, Amadeu de. O Senador José Bento- Estudo Histórico. Belo Horizonte: Imprensa
História e Cultura. Belo Horizonte: Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, 2015, Oficial, 1933, p. 139-140.
p. 486.

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174. Cf: MARINHO, José Antônio. História da Revolução Liberal de 1842. Coleção combateram, mas não os princípios por que combateram, são advogados nessa parte, porém
Minas de História e Cultura. Belo Horizonte: Assembleia Legislativa do Estado de Minas não homens políticos. E em vista disso não é possível julgar esses homens na opposição
Gerais, 2015, p. 489. por esse facto. E nem um outro tem havido que os possa caracterisar como taes. Mas votam
contra o Ministério, dirão elles mesmos. Pois bem: são facção, porém não partido: querem
175. Pharol Constitucional. Terça feira, 27 de fevereiro de 1844, ano III, nº115. Rio de
ter o poder, senão para si, para seus amigos; mas não divergem em princípios do gabinete.
Janeiro, capa.
Querem ter o poder, mas não porque entendam, que os princípios do gabinete são errados.
176. Idem. Não devem portanto gozar das honras do partido político, porém apenas ser denominados
facção. E para accomodar a facção conviria uma crise ministerial? Uma crise ministerial é
177. Idem. um mal gravíssimo, e aquelles que a promovem sem urgente necessidade, são criminosos
178. Pharol Constitucional. Terça feira, 27 de fevereiro de 1844, ano III, nº115. Rio de de lesa nação. Cf: O Echo do Rio, Rio de Janeiro, sábado 07 de outubro de 1843, vol. 1, nº20,
Janeiro, capa. p. 04.

179. Idem. 188. Diário Novo, Rio de Janeiro, segunda feira 15 de abril de 1844, ano III, nº83, capa.
Acervo da Biblioteca Nacional.
180. Pharol Constitucional. Terça feira, 27 de fevereiro de 1844, ano III, nº115. Rio de
Janeiro, capa-2. 189. Processo crime do assassinato do Senador José Bento Leite Ferreira de Mello, autos
do processo. In: O Brasil, Rio de Janeiro, terça feira 21 de maio de 1844, vol. V, nº540, p. 04.
181. Idem. Acervo da Biblioteca Nacional. Este periódico que publicou as informações era de tendência
182. Pharol Constitucional. Terça feira, 27 de fevereiro de 1844, ano III, nº115. Rio de Conservadora.
Janeiro, capa.
190. O clima de tensão era vivido na Vila de Pouso Alegre. Antes mesmo dos Autos do
183. O periódico “O Brasil”, foi criado e dirigido por Justiniano José da Rocha e Firmino Processo serem publicados, foi publicado no periódico Diário Novo, uma correspondência
Rodrigues Silva, em 1840, a pedido do então Ministro da Justiça Paulino José Soares de de uma pessoa fidedigna daquela Vila, datada de 22 de fevereiro de 1844, contendo o seguinte
Sousa e de Euzébio de Queiroz Continho Matoso da Câmara, representantes do grupo polí- teor: “(...) O terror continua a reinar em Pouso Alegre, onde deixou de haver segurança para
tico Regressista (Conservadores). Se tornou o periódico oficial do Partido Conservador. os inimigos da oligarchia Honoriana, depois do assassinato do desgraçado senador. Sabe-
se, que várias pessoas estão sentenciadas a ter a mesma sorte; e que a polícia tem recebido
184. O Brasil, quinta feira 22 de fevereiro de 1844, nº507, vol. V, Rio de Janeiro, p. 3. Acervo muitas denúncias de emboscadas, que se preparão ora n’este, ora n’aquelle ponto. Mas o que
da Biblioteca Nacional.
pode a polícia, ou antes mesmo o Julião, apezar de todo o seu zelo e honradez? A força lhe
185. O Brasil, quinta feira 20 de fevereiro de 1844, nº506, vol. V, Rio de Janeiro, p. 2. Acervo he negada para as diligências necessárias; e até a sua própria vida está em perigo, porque
da Biblioteca Nacional. a gente do Honório acha-se em extremos irritada contra elle, e o ameaça como traidor,
em consequência do procedimento que tem mostrado. Antônio de Barros Pereira e Mello,
186. Pharol Constitucional, Rio de Janeiro, Domingo, 03 de março de 1844, nº117, capa. comandante superior dos guardas nacionaes, e o principal autor do assassinato, segundo a
Acervo da Biblioteca Nacional.
voz geral, continua acastellado em sua casa com um destacamento de 100 homens, amea-
187. A ânsia pelo poder era tão grande por parte dos Conservadores, percebida na opinião çando o Céo e a terra; o padre José Pedro, o subdelegado Antônio José da Silveira Leite, e Dr.
colocada no artigo “A Faccção”: “Para que haja opposição é necessário que exista um pensa- Bernardino José de Campos, assessor da facção aqui, tem igualmente as suas casas rodeadas
mento proclamado, que a distingua do lado ministerial. Não basta dizer- sou da opposição- de valentões, gente de ínfima relé, que mandarão vir, para aterrar o Julião, e a todos os que
é preciso dizer por que; e esse por que deve ser um pensamento político, capaz de fazer ousarem depor contra elles... N’estes últimos dias a villa parece despovoada; quase nenhuma
divergir dous homens de juízo. Em nossas Câmaras até hoje não tem apparecido este anno circulação há nas ruas durante o dia; e logo ao anoitecer torna-se de toda erma e solitária;
semelelhante pensamento. Falla-se em economias, como se alguém as não quizesse; falla-se todas as pessoas de certa importância política achão-se escondidas para escapar aos assas-
em constituição, como se o ministério não quizesse constituição. Por algum tempo suppo- sinos... Aguardamos com a mais profunda auxiedade as providencias do ministério, de que
zemos, que no senado havia opposição, cuidando que se queriam defender os homens, que

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é atualmente denominada de Piraju, e está localizada na região sudoeste do estado de São
depende a nossa vida, e a tranquilidade d’este município”. In: Diário Novo, Rio de Janeiro, Paulo, na região do Vale do Paranapanema, próximo a divisa do estado do Paraná.
quinta feira 11 de abril de 1844, ano III, nº80, p. 02. Acervo da Biblioteca Nacional. 204. A Cidade do Turvo, Cidade do Turvo/MG 08 de novembro de 1890, ano I, nº27, p. 02.
191. Doutor Lacerda foi um advogado residente em Ubatuba, brutalmente assassinado Acervo da Biblioteca Nacional.
naqueles mesmo ano, 1844, por opositores políticos. 205. QUEIROZ, Amadeu de. O Senador José Bento- Estudo Histórico. Belo Horizonte:
192. O Novo Tempo, Rio de Janeiro, quinta feira 14 de novembro de 1844, nº 71, p. 04. Imprensa Oficial, 1933.
Acervo da Biblioteca Nacional. 206. Talvez seja pela presença maciça de membros do Partido Conservador, e até mesmo,
193. O Brasil, Rio de Janeiro 24 de fevereiro de 1844, vol. V, nº508, p. 03. Acervo da Biblio- suspeitos pelo crime na época fazerem parte da composição da Câmara naquele ano:
teca Nacional. Modesto Antônio Mayer, João Pedro, Antônio da Silveira Leite, José Pedro de Barros Mello,
Bernardino de Campos, Julião Florêncio Meyer.
194. Idem.
207. Ata da Câmara Municipal de Pouso Alegre, ano de 1844. Acervo da Câmara Municipal
195. O Brasil, Rio de Janeiro 24 de fevereiro de 1844, vol. V, nº508, p. 03. Acervo da Biblio- de Pouso Alegre. Estas anotações se encontram em um cartão no interior da documentação.
teca Nacional.
208. Ata da 5ª Sessão Ordinária de 08 de Fevereiro de 1882, Livro de Atas da Câmara
196. A versão dos fatos relatada acima foi escrita em um romance publicado em 1941 por Municipal de Pouso Alegre 1881-1887, tomo XII. Acervo do Museu Histórico Municipal
Gabriel Amaral Dias, denominado “Baltazar”. No decorrer do livro, o autor insere o leitor Tuany Toledo.
no contexto da história, mudando o nome das personagens e locais em que realmente foram
vivenciadas estas histórias. Ex: Bela Vista (=Pouso Alegre); _____ (=Padre José Bento); 209. Como sugestão de pesquisa e curiosidade, vale a pena comparar este projeto de cons-
_______ (Julião Meyer), entre outros. O livro foi por mim adquirido em um Sebo, sendo que tituição com a carta que estava em vigor na época, datada de 1824. Cf: SENADO FEDERAL,
suas edições se encontram esgotadas. Os antepassados do autor pertenciam à família Barros. Constituição de 1824. Coleção Constituições Brasileiras, 3ª Edição. Brasília: Editora do
Senado Federal, 2012.
197. QUEIROZ, Amadeu de. O Senador José Bento- Estudo Histórico. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1933, p. 148-149.

198. QUEIROZ, Amadeu de. O Senador José Bento- Estudo Histórico. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1933, p. 149-150.

199. Idem, p. 151-152. Segundo Amadeu de Queiroz, Padre Arruda era o nome com que se
costumava a apelidar o Padre José Barros de Mello, inimigo pessoal de José Bento.

200. Correio Mercantil, Rio de Janeiro sexta feira 17 de novembro de 1854, ano XI, nº316,
p. 02. Disponível no Acervo da Biblioteca Nacional.

201. Correio Mercantil, Rio de Janeiro sexta feira 17 de novembro de 1854, ano XI, nº316,
p. 02. Disponível no Acervo da Biblioteca Nacional. No Código Criminal do Império, o tipo
do crime em que o réu foi condenado se localiza no Título II- Dos Crimes contra a segu-
rança individual; Capítulo I- Dos crimes contra a segurança da pessoa e vida. In: TINOCO,
Antônio Luiz Ferreira. Código criminal do Império do Brazil anotado. História do Direito
Brasileiro. Brasília: Editora do Senado Federal, 2003, p. 370.

202. Diário de Pernambuco, Pernambuco terça feira 27 de junho de 1876, ano LII, nº144, p.
02. Acervo da Biblioteca Nacional.

203. Correio Paulistano, São Paulo quinta feira 24 de novembro de 1887, ano XXXIV,
nº9370, p. 02. Acervo da Biblioteca Nacional. A cidade de “São Sebastião do Tijuco Preto”

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Copyright @ 2020 by Fernando Henrique do Vale

Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua


Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

Capa e projeto gráfico


Nícolas Camargo

Fotos no interior do livro


Marc Sallum de Carvalho

Revisão
Josemaire Rosa Nery

Vale, Fernando Henrique do


Paróquia Nossa Senhora de Fátima: -presença do amor maternal
em Pouso Alegre. 1ª Edição.

Livro impresso em São Paulo - SP em 2020.


A família tipográfica utilizada foi a Chronicle.

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