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PROGRAMA 3 A BRINCADEIRA COMO EXPERIENCIA DE CULTURA Angela Meyer Borba’ Sobre sucatas [uJ Isto porque a gente havia que fabricar os nossos brinquedos: eram boizinhos de osso, bolas de meia, automéveis de lata. Também a gente fazia de conta que sapo é boi de sela e vigjava de sapo, Outra era ouvir nas conchas as origens do mundo... (Manoel de Barros) © poeta, em seu livro Memérias Inventadas, fala de sua infancia, colocando em comunhao os universos da erianga, da brincadeira e da arte. Revela como ¢ ver, pensar e sentir 0 mundo do ponto de vista da crianga, Buscando seus achadouros de infiincia, articula as invengSes da crianga e as invengdes das palavras, a peraltagem ¢ a criago, a imaginagdo e 0 conhecimento de sie do mundo, a crianga, a natureza e a cultura, 0 ser erianga e o ser poeta. Suas palavras revelam o brincar como atividade que o ajudou a ver 0 mundo de forma diferente, a criar uma relagdo de intimidade com a natureza e as coisas, a ver a realidade de outros modos, ultrapassando 0 imediato, estabelecendo outras l6gicas, invertendo as relagdes, os significados ¢ a ordem das coi Sapos, ossos, meias ¢ latas transformam-se em brinquedos, personagens, cenéios e historias nas mos e construgdes do menino Manoel de Barros. As memérias do escritor se cruzam e de m com as imagens da nossa propria infin s criangas, de lugares e tempos diferentes, de ontem e de hoje, brincando e ressignificando 0 mundo, com a ajuda de gestos, movimentos, falas, combinagdes, construgdes e imaginago. Sdo imagens de cadeiras virando trem, lapis guerreando, pedagos de tecidos vestindo principes, princesas ¢ fadas, pas ¢ aneinhos atirando, riangas transformando-se em adultos, animais, plantas. © brinear abre para a crianga miltiplas janelas de interpretagdo, compreensio € ago sobre a realidade. Nele, as coisas podem ser outras, 0 mundo vira do avesso, de ponta-cabeca, =~’ UTS Futuro ‘O COTiDIANO Wa EDUCACAO WFANTIL 46. permitindo a crianga se descolar da realidade imediata e transitar por outros tempos e lugares, inventar e realizar a\ es/interagGes com a ajuda de s ¢ palavras, ser autora de stos, expres: suas historias e ser outros, muitos outros: pai, mae, cavaleiro, bruxo, fada, principe, sapo, cachorro, trem, condutor, guerreiro, super-her6i... So tantas possibilidades quanto é permitido que as criangas imaginem ¢ ajam guiadas pela imaginagdo, pelos significados criados, combinados e partilhados com os parceiros de brincadeira, Sendo esses outros, definindo outros tempos, lugares e relagdes, as criangas aprendem a olhar e compreender o mundo e a si mesmas de outras perspectivas, As relagées entre brineadeira e cultura ‘Ao brinear, a crianga ndo apenas expressa e comunica suas experiéneias, mas as reelabora, se reconhecendo como sujeito pertencente a um grupo social e a um contexto cultural, aprendendo sobre si mesma e sobre os homens ¢ suas relagdes no mundo, ¢ também sobre os significados culturais do meio em que esté inserida, O brincar 6, portanto, experiéncia de cultura, através da qual valores, habilidades, conhecimentos ¢ formas de participagao social so constituidos e reinventados pela ago coletiva das criangas. A brincadeira é em si mesma um fendmeno da cultura, uma vez que se configura como um conjunto de priticas, conhecimentos e artefatos construfdos e acumulados pelos sujeitos nos contextos histéricos e sociais em que se inserem, Representa, dessa forma, um acervo comum sobre 0 qual os sujeitos desenvolvem atividades conjuntas, Além disso, 0 brincar é um dos pilares da constituigao das culturas da inffincia, compreendidas como significagdes ¢ formas de agdo social especificas que estruturam as relagSes das criangas entre si, bem como os modos pelos quais interpretam, representam e agem sobre o mundo (Borba, 2006). Essas duas perspectivas configuram o brincar ao mesmo tempo como produto ¢ pritica cultural, ou seja, como patriménio cultural, fruto das agGes humanas transmitidas de modo inter ¢ intrageracional, e como forma de ago que cria ¢ transforma significados sobre o mundo, Brincando com os outros, participando de atividades tidicas, as criangas constroem um repertério de brineadeiras e de referéneias culturais que compe a cultura lidica infantil, ou seja, 0 conjunto de =~’ SATS Futuro ‘ CoTibiaNo Wa EOUCACAG WANTIL. 47 experiéneias que permite as criangas brincarem juntas (Brougére, 2002). Ou seja, a cultura hidica toma a brineadeira possivel, mas & no priprio espago social do brincar que ela também emerge ¢ & cenriquecida. No brinear, as criangas vio também se constituindo como agentes de sua experincia social, organizando com autonomia suas ages interagGes, elaborando planos e formas de es conjuntas, criando regras de convivéncia social e de participagdo nas brincadeitas. Nesse processo, instituem coletivamente uma ordem social que rege as relagdes entre pares ¢ se afirmam como autoras de suas priticas sociais e culturas. A brincadeira ¢ 0 desenvolvimento da crianca numa perspectiva sociocultural Apesar de nao ser uma atividade restrita ao mundo infantil, uma vez que constitui uma dimensdo humana fundamental na formagao dos sujeitos e na vida dos homens em geral, para a crianga o brincar assume uma centralidade como modo de agir sobre a realidade e de se relacionar com outros sujeitos — seus pares ¢ os adultos. Sendo assim, muitos processos de desenvolvimento e aprendizagem da crianga ocorrem e sto provocados nas ¢ pelas atividades de brincadeira, Para Vygotsky, o brinear é fonte de desenvolvimento ¢ de aprendizagem, constituindo uma atividade que impulsiona o desenvolvimento, pois a crianga se comporta de forma mais avangada do que na vida cotidiana, exercendo papéis ¢ desenvolvendo ages que mobilizam novos conhecimentos, habilidades e processos de desenvolvimento e de aprendizagem, O brincar é compreendido pelo autor como uma atividade construida pela crianga nas interagdes que estabelece com outros sujeitos e com os significados culturais do seu meio. Ou seja, a crianga aprende a brincar com a mie, pai, av6, avé, irmfos, primos, educadores, enfim, com criangas ¢ adultos em geral com os quais estabelece interagdes que assumem a dimensao hidica da brincadeira. A partir dos sistemas de referéncia culturalmente construidos, os adultos interpretam certos comportamentos do bebé (movimentos, gestos, manipulagées e agdes com os objetos) como brincadeira, interagindo com ele a partir dessa signifi SATS Futuro ‘ COTibIANO Wa EDUCACAG WFANTIL 48 wo. No seu percurso de crescimento ¢ desenvolvimento, a crianga vai entdo se apropriando dessa forma de agdo social do acervo cultural de brincadeiras constituidas histori mente no seu contexto cultural, incorporando referéncias que a ajudam a participar de brincadeiras e a criar ¢ reinventar novos modos de brincar, Desde pequenas, as criangas desenvolvem situagSes de interagdo com os mais velhos, que constituem formas essenciais da aprendizagem do brincar. As brincadeiras que os adultos fazem de se esconder sob pedagos de pano ou outros anteparos, ¢ a seguir provocar a surpresa dos bebés ao aché-los, so exemplos desse tipo de interagdo lidica. As manifestagdes de contentamento do bebé estimulam a continuidade da brincadeira e, gradativamente, este vai assumindo papel mais ative, ocupando também o papel do adulto, A crianga aprende a reconhecer certas caracteristicas definidoras da brincadeira: 0 aspecto ficticio, pois a pessoa nao desaparece de verdade, trata-se de um faz-de-conta, de um plano diferente da realidade imediata; a repetigio que mostra que se pode sempre voltar ao inicio, sem que a realidade se ‘ros de brincarem juntos ¢ uma auséncia de modifique; a necessidade do acordo entre os par conseqiiéncias ¢ de compromisso com resultados, pois é mais importante 0 modo como se brinea do que aquilo que se busca. Desse modo, s brincadeiras com as criangas, desde bebés, envolvem uma seqiléncia de agGes organizadoras, que concorrem progressivamente para a apropriagdo de esquemas que Ihes permitem iniciar ¢ participar de brincadeiras com outras pessoas — eriangas ¢ adultos — ¢ em outros contextos. Esses esquemas envolvem: formas especificas de se expressar (gestos, falas, balbucios, risos, entonagdes, gestos estereotipados que maream as etapas das brineadeiras, etc.), de convidar o outro para brincar; movimentos sinalizadores da brincadeira; alternancia dos turnos nas ages com 0 outro; vocabuldrios e construgdes verbais especificos. Essas estruturas gerais, aprendidas nas interagdes Iidicas que estabelecem com os outros sujeitos de sua cultura, ampliam as possibilidades de participagdo © de criagdo de brincadeiras pelas criangas, a partir da transposigiio dos esquemas ja incorporados para outros temas, espagos, tempos ¢ referéneias culturais especificas. A variedade ¢ a riqueza de experiéncias lidicas, portanto, é um elemento =~’ SATS Futuro ‘ CoTibiaNo Wa EOUCACAG WFANTIL. 49 fundamental para que a crianga possa se apoderar de forma criativa da cultura em que se inser Outro aspecto constitutivo do brincar e que tem importincia fundamental na formagio dos sujeitos € o processo de imaginagao (Vygotsky, 1987). A brincadeira & uma atividade propicia a0 processo de significago, envolvendo uma flexibilizago na forma de compreender os signos suas relagées. Nos jogos de faz-de-conta, a crianga destaca os objetos de seu significado e fungao presentes, atuando com eles no plano imagindrio como se fossem outros. Dessa forma, liberta do plano imediato de sua percepgdo e agiio, criando um novo plano de ago, com novas fronteiras de significagao, © proceso psicol6gico da imaginagdo se articula com a atividade criadora da crianga, ou seja, de produzir o novo recombinando elementos da realidade. A imaginagao e a fantasia nao se criam do nada, mas sim de elementos tomados da experiéncia presente e passada dos sujeitos. ‘Assim, as criangas se apropriam das referéneias culturais das experiéneias cotidianas familiares e de outros espagos, bem como da midia, hoje to presente em suas vidas, como contetidos de seus processos de imaginagdo ¢ de criago, no apenas reproduzindo-as, mas recriando-as, Ocorre no brincar um processo de reinterpretagdo ativa dessas referéncias, possibilitado por complexos processos de articulago entre o ja dado e o novo, entre a experiéncia, a meméria e a imaginagdo, que implicam novas possibilidades de compreensdo, expresso e ago. Desse televisiva Power modo, as criangas brineam de pique-pega, usando como tema a série Rangers; de casinha, reproduzindo e ressignificando os papéis sociais; assumem personagens de filmes ¢ novelas, de monstros, experimentando sentimentos de medo, tensiio, poder alivio, etc, Enfim, em um espago protegido, que coloca a realidade entre parénteses, ¢ que possui regras arbitrérias proprias, as criangas tm liberdade de experimentar ¢ criar novos mundos e papéis. © brincar de faz-de-conta no €, portanto, uma atividade ausente de regras, porém estas so criadas partilhadas pelos proprios participates, com base na situago ¢ no universo =~’ SATS Futuro ‘ CoTibiaNo Wa EOUCACAS WFANTIL SO simbélico que Ihe serve de referencia, Tal universo funciona, junto com os limites instituidos pelo espago fisico e social em que a brincadeira se desenvolve (casa, praga, playground, escola, casinha de boneca), como um contexto ao mesmo tempo regulador e possibilitador das ages ¢ interagdes das eriangas. A medida que as criangas crescem, ampliam suas formas de brincar, interessando-se e compreendendo cada vez. mais os jogos com regras, que Ihes abrem outras janelas para a experiéneia lidica, as interagdes sociais a construgdo de novos conhecimentos. Aprendem as regras especificas dos jogos ¢ também a tomar decisdes, altemar tumos, controlar emog6: criar estratégias, respeitar os parceiros, se comunicar e negociar. Essa compreensdo dos jogos também € fiuto das interagdes sociais e da aprendizagem com os mais experientes, professores e outras criangas A compreensdo da riqueza do processo de brinear para a formaydo das eriangas, implica concebé- la nas priticas pedagégicas cotidianas dos espagos de Educagdo Infantil como uma dimensio fundamental das interagGes que ali so estabelecidas entre adultos e criangas e criangas entre si, assim como do processo de construgio de conhecimentos e da experiéneia cultural A brincadeira no cotidiano das praticas educativas Muito se tem falado sobre a importancia do brincar na Educagio Infantil, mas ser que temos conseguido incorporar a brincadeira como experiéneia de cultura nas _nossas_priticas pedagégicas? Ou o brincar tem se restringido a uma atividade paralela, de menor valor, de passatempo, liberagao de energias ou relaxamento? Geralmente, a brincadeira é reservada a restritos espagos e tempos organizados na rotina escolar, como o recreio, os cantinhos de faz- de-conta, casinhas de boneca e/ou atividades dirigidas que a utilizam como recurso didatico. Sera que esses espagos e tempos institucionais tém garantido as criangas a possibilidade de imaginar, fantasiar, criar novas ordens, estabelecer lagos de amizade, relagées de sociabilidade e construir suas culturas préprias? Como podemos redimensionar nossas a| a forma como organizamos o trabalho pedagégico nessa perspectiva? =~’ SATS Futuro ‘ CoTibiANO Na EDUCKCAO WFANTIL. ST Uma importante implicagdo pedagégica dessa compreensio do brincar € a necessidade de a escola favorecer a ampliagdo das experiéncias das eriangas, pois “quanto mais [a crianga] vveja, ouga, experimente, quanto mais aprenda e assimile, quanto mais elementos reais [ela] disponha em sua experiencia, tanto mais considervel e produtiva sera (...) a atividade de sua imaginagdo” (Vygotsky, 1987, p.18) Nesse sentido, estaremos potencializando a brincadeira como experiéncia de cultura quando: alimentamos a imaginagdo das criangas através de diferentes formas de expressio artistica, tais como a literatura (poesia, contos tradicionais, lendas, trava-linguas, ete.), 0 teatro, as artes plisticas, a misica, a fotografia, o cinema, etc.; possibilitamos as criangas a apropriagfo de novos conhecimentos sobre 0 mundo; agugamos a sua observagdo sobre a realidade natural e social; resgatamos as brincadeiras tradicionais da nossa cultura, das familias e da comunidade fa que pertencem as criangas. Uma outra esfera de agdo importante nas escolas € organizar seus espagos, de forma a disponibilizar brinquedos ¢ materiais ao acesso das criangas, e que Ihes oferegam diferentes possibilidades de construir com liberdade suas brincadeiras © companheiros com quem brincar. Os espagos devem ser alegres, aconchegantes, acolhedores, desafiadores e flexiveis, de forma a se constituirem como lugares abertos para a experimentagdo ¢ as relagdes soci preciso que acolham e promovam a criagdo de brincadeiras pelas criangas de forma auténoma e espontinea, ‘A observagdo das eriangas & uma ferramenta fundamental do professor para conh compreender melhor as criangas nas suas formas de pensar, de se comunicar, de interpretar € de agir sobre 0 mundo. Nesse sentido, seu olhar pode focalizar algumas questées envolvidas no brincar, tais como: de que as criangas brincam? Que temas e objetos/brinquedos esto envolvidos? Que brincadeiras se repetem cotidianamente? Que regras organizam as brincadeiras? Em que espagos e durante quanto tempo brincam? Como escolhem e distribuem os participantes? Que papéis so assumidos? Como se organizam em grupos? Que eritérios & valores perpassam a escolha dos parceiros (amizade, aliangas, hierarquias, preconceitos, =~’ UTS Futuro ‘ CoTibiaNo Wa EOUCACAS WFANTIL 52. relagées de poder, etc.)? Quais so as regras que regem as relagdes entre pares? Que conhecimentos ¢ habil idades as criangas revelam nas brincadeiras? ss brincando, reunimos muitas informagSes que nos ajudam a organizar ‘0s espagos e tempos escolares, de modo a ampliar e enriquecer suas brincadeiras, estabelecer es mais produtivas com elas e trabalhar com os diferentes conhecimentos e expr. artisticas, O conhecimento do espago do brincar nos ajuda também a encorajar as eriangas a participar das brincadeiras, inseri-las nos grupos, ajudé-las a construir os conhecimentos necessirios a essa participagdo e a estabelecer relagdes democriticas entre pares. Podemos também incorporar a dimensio lidica no trabalho com os conhecimentos das varias reas, objetivando contribuir para que as eriangas estabelegam associagGes ¢ significagdes que potencializem suas possibilidades de apropriagio dos mesmos. Porém, ¢ importante ter 0 cuidado de ndo reduzir a brincadeira ou jogo a mero recurso didatico, pois estaremos destruindo-os como espagos de experiéncia ltidica e de cultura, © trabalho sé assumira uma perspectiva Nidica se tiver como caracteristicas a fiuigdo, a escolha, a auséncia de conseqiiéncias, as descobertas, a possibilidade de decisao, solugdo e iniciativa da crianga. Finalmente, lembramos que a experiéneia de brincar com as criangas, ou seja, de sermos parceiros de suas interagdes lidicas, partilhando com elas decisdes, escolhas, papéis © respeitando suas logicas e formas proprias de organizagao e significago da realidade, cria um espaco de aproximagiio e de relagdes de afeto com elas. Que tal aprender com as criangas a inverter a ordem, a rir, a representar, a sonhar a imaginar? No encontro ¢ no didélogo com elas, incorporando a dimensio humana do brincar, abriremos o caminho para que nés, adultos € eriangas, nos reconhegamos como suj is plenos, fazedores da nossa histéria e do mundo que nos cerca, =~’ SAT Futuro 3 O CTibiaNG Wa EOUCREAG WANTIL 53 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS BORBA, A. M. O brincar como um modo de ser e estar no mundo. In: MEC/SEF. Ensino Fundamental de Nove Anos: orientagées para a inclusio das criangas de seis anos de idade, Brasilia: Ministério da Educagao, 2006. BROUGERE, G. A crianga e a cultura lidica. In: KYSHIMOTO, T. M. (org.). O brincar e suas teorias. Sdo Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. VYGOTSKY, L. S. A formagio social da mente. Sao Paulo: Martins Fontes, 1987. La imaginacion y el arte en la inffineia. México: Hispinicas, 1987. Notw: Professora Adjunta da Faculdade de Educaydo de Universidade Federal Fluminense. EP atu O CTibIANG NA EOUCACAO WRANTIL 54.

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