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MANUEL MORUIS trumento pode ser montado com quatro, cinco, seis ou sete ordens de cordas duplas (ou triplas no séc. XVI), de tripa de camneiro ou de metal, Devido ao bilinguismo praticado na corte portuguesa desde os infcios de Quinhentos, a viola é, ocasionalmente, a partir de meados deste sécu- Jo também chamada guitarra, se bem que o vocdbulo mais usado para a designar continue a ser 0 primeiro, Assim, os termos viola (ou violla) ¢ muito mais raramente guitarra, sio indistintamente empregues para designar 0 mesmo tipo de instrumento mtisico: um cordofone de mao de corda dedilhada (ou eventualmente palhetada) e, como acima jé se refe- riu, de caixa em forma de oito e braco longo, pertencente ao grupo das violas de mao. Em Portugal as mais antigas referéncias conhecidas de cordofones de mao podem encontrar-se em documentos datados de 1442 e 1477. O mais antigo, escrito no reinado de D, Afonso V (1442), determina: [ul que nom leuem dizima de nenhunuas arpas alatides e guitarras que algumas pessoas trouveram para si, e ndo para vender; [.." Uma outra mengio referente a instrumentos de corda dedilhada usa- dos no nosso Pais encontra-se num documento emitido pelo sinodo con- vocado pelo Bispo D. Luis Pires, na cidade de Braga, a 11 de Dezembro de 1477: [.] mandamos e estreitamente defendemos, sub pena descuminhom, assy homens como molheres, eclesiasticos e seculares que por conpriz sua devacon quiserem teer vigilia em alguua egreja ou moesteiro, capela ‘ou irmida, non seja ousado fazer nem conssentir, nem dar lugar que se hy facam jogos, momos, cantigas nem bailhos nem se vistam os homens em vistiduras de molheres nem molheres em vestiduras de homens, nem tangam sinos nem eanpanas nem orgoons nem alaudes, guitarras, violas, pandeiros nem outro nem huum estormento nem facam outras desones- tinades pellas quaaes muitas vezes provocam ¢ fazem vir a ira de Deus sobre sy e sobre a terra, (..]" A primeira mengio isolada da viola aparece numa petigao datada do 12, BarrosH, IV, p, 208; os stlicos sio da nossa responsabilidade 13, Constituigom xvi" Que os que fazer viilis nas egrejas non fagam jogos nem ean. tem nem bailhem. Biblioteca Publica de Braga, Ms. 871, Sinodo de D. Luis Pires, Braga, 11 de Dezembro de 1477, apud Antonio Garcia y Garcia, dir, Synodicon hispanum, If Port tal, Madrid, Biblioteca de Autores Cristianos, 1982, p_ 99. Textos semelhantes no Sinodo de D. Diogo de Sousa, Braga, 15 de Dezembro de 1505, const. 48 (Garcia y Garcia, p. 179) eno Sinodo de D. Diogo de Sousa, Porto, const. 48 (Garcia y Garcis, p. 179) e no Sinodo de D. Diogo de Sousa, Porto, 24 de Agosto de 1496, const. 55 (Garcia y Garcia, pp. 398-399. 396 NASS.XXIT A VIOLA DE Mo EM PORTUGAL ano de 1459, documento esse que foi apresentado nas cortes de Lisboa, onde se pode ler: Ajuntay-se dez homens E leuom hunra violla E tres e quatro estam tam- gendo E camtando E os outros Entom escallam as cassas E Roubant os homens de suas fazemdas, F ...] Em virtude deste desacatos, mandow el- rei que [...] das nove horas da noute até manhaa chaa sol saydo fésse achado com viola ou outro instrumento de tanger pela cidade, vila ou logar, fésse préso e perdesse a viola e as armas ¢ vestidos que trouxesse, La ‘A preponderancia do termo viola sobre 0 vocdbulo guitarra, para designar 0 mesmo tipo de instrumento, é facilmente comprovada, por exemplo, na obra de Gil Vicente (fl, 1502-1536). Este dramaturgo usa 0 termo guitarra uma s6 vez. (mais por necessidade de rima) ao longo da sua vasta obra, enquanto que a viola € citada em nove dos seus autos" Este € 0 instrumento mtisico mais mencionado na obra de Mestre Gil: s6 no auto de Inés Pereira € mencionado sete vezes"” ‘Ainda que no Portugal quinhentista a viola de mdo esteja dispersa por todo 0 pafs, s6 encontramos o instrumento tocado de forma erudita num circulo bastante restrito, ligado quase sempre & corte portuguesa ou a alguma casa senhorial. Tangido pelos seus mtisicos de camara, até por escudeiros e fidalgos, este facto depreende-se, entre outros documentos, do texto de uma das mais célebres farsas de Gil Vicente, Inés Pereira, representada no convento de Tomar, em 1523, perante uma assembleia presidida por D. Joao IIT. O autor diz-nos a certo passo’ 0 marido que quereis de viola e dessa sorte nam no ha senam na corte, {que cd!" nam no achareis. Falamos a Badajoz sico, discreto, solteyro, i) Fomos a villa Castim, 14, AlmeidaHY, vol. I, pp. 302-303, 15. Cf. Juizda Beira, VcenteC, f221v: “eu nam saberei agui ser/doueujé fogoa gui- tarva / quem tinha esta zanguizarra? 16. Cf. Inés Pereira (1523), Inés Pereira (1562), Juiz da Beira, Nau d!Amores, Quem tem. farelos?, Rubens, Serra da Estrela, Velho da Horta, Lusitanea, Nau d Amores, 17. MoraisT, p. 113 18. Isto é, entre 0 povo miudo. NASS.XTT 397 MANUEL MORUIS ¢ falounos em latim, vinde ca dagui a huma hora ce trazeime essa senhora.”" Os dois mtisicos citados neste texto so, respectivamente, Juan de Badajoz ({1.1516-1522)" ,violista espanhol, compositor e mtisico de cama- ra dos reis portugueses D. Manuel I ¢ D. Joao II, ¢ Juan de Villacastim (711516-1548),"' o mestre da capela do “Venturoso”, ‘Varios testemunhos histéricos atestam a preferencia dos portugueses pelos instrumentos de corda dedilhada, muito especialmente pela viola de mao, mas também pela citara, pela harpa ¢ pelo alatide®. Num raro documento datado de 1582, mas de que infelizmente se perdeu o original, Philippe de Caverel, monge de Cister que integrava a embaixada papal que nos visitou em 1582, escreveu a propésito sobre as préiticas musicais que observou no nosso pais: [..-1 Les plus polis se servant de la guitere: le cistre, la harpe, le uth, Yes: pinette et les orgues leurs sont cogneu7, bien que non si communément. Mais de tous lesquelz jouoint admirablements bien certaine religieuse aux Annonciades de Lisbonne, mariant sa voix naturelle, bien organisée et haultaine, avec Yharmonie des instrumens, en Toffice divin des jours plus solemnels, practiquant le commandement de lApostre: Sicut exhi Buistis, membra vestra servire iniquitat, ita, etc, Lon conte, pour mons- wer que les Portugais son trés grands amateurs de leurs guiteres, quil a esté trouvé és despouilles du champ du roy Sébastien, de Portugal, aprés Ja route, en Iaquelle il fut deffait par le roy de Fez et de Maroc, environ, dix mille guiteres, chose incroiable, mais 4 laquelle aucuns donnent cou. leur, parce que les Portugais s‘embarquans jouient ordinairement ce refrain: Los casteillanos mactan los toros, las Portugaios macian los Moros..." 19, VicenteC, £2166 20. Também conhecide por “Badajoz, el mtsico”, para nio se confundir com o poeta Garet Sanchez de Badajoz, cf. ViterboS, pp. 79-81. As suas obras polifénicas encontram-se disperses pelos CMP e CME. 21. Provavelmente oriundo de Vilacastin, lugar situado em Espanha, entre Avila e Segovia, et. ViterboS, p. 579 ViterboM 22, Sobre o alse em Portugal, ef, Morais. 23. CaverelE, pp. 341-342; f. tb RibeitoG, pp. 913. 398, NASS.XXIT A VIOLA DE Mo EM PORTUGAL Descontando o exagerado mimero de violas (“dix mille guiteres” no ms. original) que ficaram no campo de Aleacer Quibir, aquando da funesta batalha onde o monarca portugués D. Sebastigo morreu, este documento dé testemunho, pela pena de um estrangeiro, de quao popu: lar era este instrumento em Portugal no diltimo quartel do século XVI ‘Ainda que Luis de Camées (/1.1535-1580) nao tenha, aparentemente, sido um grande melémano, no seu Auto de Filodemo, publicado em Lis- boa no ano de 1587, cita varias vezes a viola acompanhando o canto: a] a viola sefior vem ‘sem primas, nem derradeyras. ‘mas sabe que Ihe conuem ‘se quere senior tanger bem, a de auer mister terceyras E se estas cantigas vossas nao forem para escutar & quiserdes espirar A mister cordas mais grossas, porque nao podem quebrar* Os portugueses ao descobrirem “[...] novas ilhas, novas terras, novos mares, novos povos [.../, levaram a viola de mao para lugares descon- hecidos como em 1500 para o Brasil (onde ainda hoje se toca uma forma arcaizante deste instrumento -a “viola de cocho"- cuja origem remonta a0s finais do século XV), ou a outros lugares tao distantes como a Pérsia, a China, onde chegémos em 1513 e, por fim, ao Japao, em 1543, Para documentar a difusio e pritica da viola e da mtisica portuguesa entre os proprios, escolhemos uma passagem da Peregrinagdo de Femao Mendes Pinto (c.1550-1583), publicada em Lisboa no ano de 1614. 0 Pitoresco episédio que seguidamente copiamos passa-se, segundo o autor, na cidade de Quansy, na China, onde esteve degredado em Janeiro ou Fevereiro de 1554: 24. Esta tersivel batalha foi traveda a 4 de Agosto de 1578, entre o exército portugues, comandado pelo jovem rei de Portugal D. Sebastiso (Lisboa, 207-1354, Alegcer Quibis, 4 VIIL1578) ¢ 0 exército mouro dos xarifes Malet Abde Almélique (o Rei Molweo, das eréni- cas portuguesas) ¢ do destronado Mulei Mohimede. Sobre esta batalha Miguel Leitso de Andrade escreveu um longo romance a ués vozes, inttulado "Puestos estin frente a frente’, ef Morais, pp. exliv-exlit ep, 87,1" 72 25, CambesF,f. 145v, CE. th, BrancoM 26. NunesT, p. 176 NASS.XTT 399) MANUEL MORUIS Lud E eabendo-me a mim um dia ir ao mato em companhia de um Gas- par de Meireles, nos levantimos pela manha, e nos saimos de casa a fazer © nosso offcio. E como este Gaspar de Meirelez era misico, e tangia numa viola e cantava muito arrezoadamente, que sio partes muito agra: daveis a esta gente, porque o mais do tempo gastam em banquetes ¢ deli- cias da came, gostavam ali muito dele e era muitas vezes chamado para estas cousas, das quais sempre trazia uma esmola com que o mais do tempo nos remedisvamos. E indo nés, como digo, ele ¢ eu para o mato, como nos era mandado, acertémos de encontrar numa Tua, antes que saissemos da cidade, uma grande soma de gente, que com grande regozijo e festa, levavam a ente- Har um morto, com muitas insignias de pompa fiinebre, no meio da qual ia uma grande misica de muitos que cantavam e tangiam os seus estru- mentos. E conhecendo um daqueles, que como maioral ou mestre da maisica governa os outros, o Gaspar de Meirelez, langou mao por ele para tanger, e metendo-lhe na mao uma viola, Ihe disse: — Rogo-te que cantes o mais alto que puderes, por que te ouga este defun- to que aqui levamos. Porque te afirmo que vai muito triste pela saudade que leva de sua molher e de seus filhos, a que em estremos era aleigoa: do. © Gaspar de Meirelez, se Ihe escusou com algumas razies que para isso Ihe deu. Porém o mestre da misica Ihas ndo aceitou, mas antes ja com. célera Ihe respondeu: Se tu nao aproveitares a este defunto com esta graga de tanger ¢ cantar que Deus te deu, nao direi de ti que és homem santo, como até agora todos cuidémos, mas que a exceléncia desta fala que tens é dos habita- dores da Casa do Fumo, cuja propriedade e natureza primeira foi tam- bem cantar com vozes suaves, inda que agora chorem e gemam no Lago da Noite, como cdes esfaimados que rangem os dentes; e ensopados na baba do ddio dos homens, se Ihe enxerga a escuma de suas maldades nas ofensas que fazem Ao que vive no mais alto dos Céos. Apés isto, pegaram dez ou doze no Gaspar de Meirelez. o fizeram quasi por forga tanger, ¢ o levaram consigo até o lugar onde haviam de quci- mar o defunto, conforme ao uso de suas gentilicas seitas” A estes testemunhos se poderiam ainda juntar outros, comprovando entre nés uma prética muito alargada da viola de mao, tanto no século XVI como no XVII. Contudo gostarfamos de acrescentar mais um docu- mento, este dos finais de seiscentos, onde o uso do instrumento aparece 27. PintoP, cap. ex, vol. I, p. 8. Por questées de terminologia copiamos parte deste texto na traducdo de Bernard Figuier,publicada em Paris em 1626, p. 384: "T..] Gaspar de Meyrelesestoit fort bom Musicien, qui iouoit dune guitterre quill accordait Sa voix, | 400 NASS.XXIT A VIOLA DE Mo EM PORTUGAL nas maos do povo. Trata-se das Posturas da Notavel Serpa, de 1686, onde, a par da danga, a viola é tangida pelos taberneiros para abrilhantar a pro- cissdo do Corpus Christi Lul.os taverneiros com huma dansa de seis pessoas bem vestidas com violla e tocador della e as padeiras com hunra dansa de seis mossas bem. vistidas com violla e tocados della [..}"* Para rematar esta questo adicionamos a descrigao mais antiga e per- menorizada que conhecemos deste instrumento e que se deve A pena do padre Raphael Bluteau (fl. 1638-1734), inserida no seu Vocabulario Por- tuguez & Latino Vila, Instrumento Musico de cordas, Tem corpo concavo, costas, tampo, brago, espelho, cavalete para prender as cordas, & pestana para as divi- dir, & para as p rem proporgao igual; tem onze trastos, para se dividi- rem as vores. & para se formarem as consonancias. Tem cinco [ordens de] cordas, a saber, a primeira, a segunda, & corda prima, a contraprima 0 bordao. Ha violas de cinco requintadas, violas de cinco sem requinte, violas de arco, &c. Chamaolhe commummente Cithara, posto que o ins- trumento, a que os Latinos chamarao Cithara, podia ser muito diverso do que chamamos Viola” para um instrumento com as caracteristicas morfol6gicas descritas nesta fonte que em Portugal sobreviveu um imenso repertério de mais de quatro centenas de pecas (mais precisamente 446), de autores portugue- ses ¢ estrangeiros, compiladas em trés cédices que foram, provavelmen- te, copiados entre circa 1700-1750: + Cifras/De Viola/Por varios Autores/Recolhidas/Pelo 4° Joseph Carneyro Tavares Lamacense, P-Cug, cota: MM. 97; + [Cifras de Viola de varias autores. Livro do Conde Redondo para Vila), P- Ln, cota: FCR, ms. Ne I; + [Cifras de Viola de vévios Autores), P-Lfg, Ms. sleota, pertenga do Servigo de Miisica da Fundagio Calouste Gulbenkian” 28. NunesD, p. 21 29, Bluteaul vol VIN, p. 508, 30, Em 1969 fizemos um pequeno relatério sobre o Ms, pertencente &E.C.G, Servigo de Masica, que initulamos Cédice Portugués para Viola do século xV11; uma edigao em notacio moderna deste cédice esteve programada e até anunciada nos eatslogos das publicagtes desta insituigio mas, felizmente, nunca chegou ao prelo. Para os outros eédices, ef, Azeve- doT, BudaseF e PicadoR. Ester tes livros serao brevemente por nés publicadas em facsi- mile, em Franga, pelas Editions JM. Fuzeau S.A (responsivel pela edigéo Jean Saint-Ara- NASS.XTT 401 MANUEL MORUS Na sua grande maioria, as obras coligidas nestes manuscritos foram escritas em cifra (ou tablatura) italiana ¢ destinam-se a uma Viola montada com cinco ordens de cordas duplas, podendo usar-se ~depen- dendo do autor e da origem das composigdes- pelo menos, cinco manei- ras diferentes de a encordoar e afinar (do grave para 0 agudo). 1, Big 18, f 185 16, f- sols / sol, ~ sig / sig ~ mig / mis (reentrant); 2. My 16, /- rey 6 /-soly I Soly~ si sly - mig / mi (eeentrante, com bordio na 4" ordem); 3. lag y= 165 16; J Sol; / sol, ~ si sig- mis / mi (bordao na 4” ¢ 5* ordens); 4016 116 J 16 J 26; 1 Sol; / sol, - si / sip ~ miy / mi, (bordoes na 4* e S* ordens), 5. 16, 1 J = 1/16, /~ sol; / sol; - i; / si - mis / mis (Peentrante, com oitava na 3* ordem) Quase contempordneo destas trés compilagées, é dado & estampa em Lisboa, no ano de 1752, um pequeno método para a Viola de cinco ordens intitulado: Licam Instrumental da Viola portugueza, ou de Ninfas, de cinco ordens, A qual ensina a temperar, e tocar rasgado, como todos as pontos, assim natu: aes, como accidentaes, com hum methodo facil para qualquer curioso aprender os pontos da Viola todos, sem a effectiva assistencia de Mestre [..] Dedicada ao illustre E Excelentissimo Senhor D. Joseph Mascarenhas, Marquez de Gouvea, Conde de Santa Cruz, Mordomo da Augustissima Casa Real Portugueza, Presidente do Supremo Tribunal de Desembargo do zon). Nestes manuseritos encontramos as seguintes abrasiformas:Alanella, Alemarnda Ama- Ble, Amoresa, Arromba, Augusto Principe, Buré, Borea, Bapletto, Bile castelhano, Canario, Consonancias, Céosinho de Cofala, Capona, Capricio, Cassinho, Chacara, Chacoina, Cum banco, Cumbe, Cupidtho, Contradanga, Corrente, Diuina Fills, Entrata, Espanholeta, Espan- hroleva, Estrangeira, Falssas, Faleas, Fantasia, Folias, Fuga, Gaglarda, Gavorta, Gaite de Foles, Gandum, Genoveca, Giga, Guerera laliana, Magan, Manteana, Marcha, Maricotas do Boj, Marisapoles, Matachim, Maya-danca, Meninas de Montemor, Meya danca, Minuete, Minuto, Oitevado, Outavado, Oytevado, Obra, Obra de segundiho, Paco, Passe Palaura, asso de viola, Paracume, atarata, Pavan, Rojdo, Sarabanda, Sarabemgue, Sonata, Tear. tela, Tombo, Trcotte da Allemanda, Vacas e Vildo. 31. No cédice da FCG. existem 28 composigbes para Vola, Bandura, Cravo, anotadas em ‘cifras arimetica”, vide (£ 2-12], nos 1-28; ef th. Budaszl p. 88, 32, Tanto os tangedores antigas como os modemos normalmente usam a prima simples (er nota 58) em virtude da dificuldade de (pelo menos na época) obter duas cordas finas {que nio sejam falsas, Sobre a sfinagso reentrante e as diferentes maneitas de eneordoat a Viola, ef CharnasséA, MurphyT, Boye?, TylerE, pp. 61-62 e Tyler/SparksG, pp. 184-186, Para ascondatura neste Ms. ver BudaszF. pp. 14-16, Sabre as diferentes manciras de encordoar a Viole seiscentisa, veja-se tb. Russell, p. 158. 402 NASS.X0T AVIOLA DE MIO EM PORTUGAL Paco, ¢ do Consetho de Sua Magestade, que Deos guarde, e Deputado da Junta dos Tres Estados &, Lisboa: Francisco Silva, 1752”, 4, REGIMENTO DOS VIOLEIROS PORTUGUESES (E ESPANHOIS) DO SEC. XVI AO XVII Segundo o Regimento de Violeiros (Lisboa, 1572)", no século XVI, em Portugal, construiam-se “violas de seis ordens’ (também designadas neste ms. por “violas de mao") bem como “violas de arco tipre” e “con- trabaxa” ¢ harpas”. Por volta de 1551, a cidade de Lisboa dispunha de 16 violeiros ~para uma populacao de cerca de 100,000 habitantes'*- distri- bufdos por sete “tendas”, bem como varios fabricantes de cordas de viola”, Em comparaao, em Madrid no “tltimo cuarto del siglo XVI [...] 33. F-Mn, M. 595, Fste pequeno opiisculo ¢ a tradugso portuguesa quase literal do eéle bre watado de Joan Carlos Amat (¢. 1572-1642) e euja primeiza edicho, hoje desspateeida, foi publicada em 1596, cf AmatG; Tyler/Spatks, pp.9, 148, 158, 161, 169, 185 216. Desta, ‘obra publicada em Lisboa s6 nos ehegot um exemplar (ef Lipayn); alguns musiedlogos {entre outros, EssesD, vol 1, p.140, nota 120) atribuem erroneamente a sua autoria a Joao Leite Pita de Roche. D. José Maseatenbas (o tradutor deste tratado}teve, entre outros tt los, de 5° Margués de Gouveia, 8° Conde de Santa Cruz e 8° Dugue de Aveiro. Naseew a 2- X1708 e faleceu, eto Belém, a 131-1759, “L..] no pattbulo, por ser sentenciado como um ‘dos principais influentes no erime de conspiracso contra a vida de eli D. Jose I, em 3 de Setembro de 1758.” Era provavelmente um toeador amador de viola, justificando-se deste modo a publicagio deste reduzido manual (de 58 péginas) que, 2 nosso eonhecimento, foi no século XVII © primeiro impresso dedicado a este instramento, 34. Em Espanha usa-se 0 mesmo termo voleiro (violero): "[..] que este fue su nombre Iistérico hasta el siglo XVI, eran loe encargados de construir todo tipo de instrumento de ‘madera com cuerdae de tripa; es dedeir,vibuelas de mano, guitarra, ates, harpas, vihae- las de areo (a familia de ls violas da gamba), violones (la familia de los vioines) [.) Desde principios del siglo XV algunos violeros comezaron a denominaree ‘guitareros’ en faneion de su dedicacién especial a este instrumento y hacia mediados del sigloya aparecen en los documentos indistintamente como vieleros 6 guitarveros.", BordasC, p49. 35. Foi parcialmente publicado por CorreiaR, pp. 138-139. Em Apéndice transereveros todas os documentos referentes ao "Regimento dos Violeiros” e “dos que fazem cordas de Viola”, tanto os do sé. xvt bem como os acrescentamentosfeitos nos sécs. XVI inicios do ‘Xvi, Para tanto desdobraremos as abrevisturas a fim de facltar as litura. 36. Moital,p. 15, Frangal indies, para Lisboa em 1550, uma populagso de e, 80,000. 37. Oliveira, p. 135, indica 15 violeiros ¢ 4 fabricantes de cordas de viola. BrandsoG, pp. 189: “Tem 7 casas em que fazem violas. Bm cada casa duas, rés pestoas. Sto por toda ‘quinze — 15 pas p. 204, "Tem tendas de fazer cordas de viola — 10 pas" Enquanto que em Espanha 0 oficial violeiro construia, além das "vthuelas, aides ¢ har- ‘pas’, também instrumentos de tecla, tis como “clauiorgano, clauizimbalo e monacordio’, fm Portugal este tipo de trabalho era exccutado pelos Carpinteiros de manicérdios e pelos Carpinteiros organistas. Segundo 9 censo de 1551 feito por OliveirsS, p. 130, existigm 4 fabricantes de maniedrdio e 6 3 de drgio. No ms. de BrandsoG este tipo de ofiisis mecs- ‘nicos no sio mencionsdos NASS.XTT 403 MANUEL MORUIS se conocen, al menos, 16 violeros sobre una poblacién que oscila entre 40.000 personas en 1570 y 60,000 6 70,000, a fines del siglo. Para se conhecer alguns elementos sobre a arte de construir as violas de mao no séc. XVI, sera necessario cruzar a informacao que nos é facul- tada pelas varias fontes primédrias disponiveis -tanto portuguesas como espanholas~ muito particularmente nos documentos que codificam as regras para os exames do oficio de violeiro praticados na Peninsula Ibé- rica durante este periodo. Assim, nas Ordenanzas de Sevilha, datadas de 1527, podem saberse, com algum detalhe, as regras estabelecidas para se fazer o exame de vio- leiro, o qual inclui, além da construcao de instrumento de tecla: [J vihuelas de arco, arpa ¢ lat, [2 feitura de] una vihuela grande de piezas con sus atarcies y otras vihuelas que son menos que todo esto [..] y-el mesmo examen que ha de hacer ha de ser de una vihuela grande de piezas como dicho es con un lazo de talla[..] con buenos atarcies y con todas las cosas que le pertenecen para buenas [...P” Nas Ordenanzas de Granada, apregoadas publicamente na “Placa de Viuarrambla” desta cidade a vinte seis de Novembro de 1541, no capitu- lo 10, "Examen de vigoleros, y organistas, y otros oficios de musica”, fica determinado que: [1 el oficial vigoleiro, para ser buen oficial [..] ha de saber hazer ins. trumentos de muchas artes: conviene a saber, que sepa hazer vn clauior- gano, ¥ vn clauizimbalo, y va monacordio, y vn laud, y vna viguela de arco, y vna harpa, y vna viguela grande de piezas con sus tarazeas, y otras, viguelas, que son menos que todo esto: [..]y el mesmo examen ha de ser vna viguela grande de piezas ; como dicho es, con vn lazo de talla, de fencomes, con buenas atarazeas, y con todas las cosas que le pertenece Li Também as Ordenanzas del oficio de Biguelero, compiladas em Toledo no ano de 1617, nos aclaram mais alguns pontos sobre o exame que estes oficiais mecanicos eram obrigados a fazer: 1] Lo primero tres instrumentos que son una biguela Ilana de seis orde- nes com sus tamatios reglas y compases y se entiende que para hacerla A de hacer primero el molde de papel y lo ha de hacer presencia de los behchedores y examinadores para haverlo de hacer no a de tener sino un 38. BordasC, p. SI 39. Ordenancas de Sevilla: Recopilacién de omenancas dela muy nobre e muy lal cibdad de Sevilla, Sevilla: Juan Varela, 1527, £ 14% 40. Ordenancas que los magnificos seflores [de] Granada manda, Granada, 1541, f. 235. 404 NASS.XXIT A VIOLA DE Mo EM PORTUGAL cuchillo delante y compas y regla y un vartabon y no ha de usar de patron, sino y en lo que supiere del dho arte. [..]* Na extensa obra do frade espanhol Juan Bermudo (/1.1510-1565), Declaracién de instrumentos musicales, impressa cm Ossuna no ano de 1555, podemos respigar muita informagao sobre a viola de mao, que poder contribuir, sob varios e deversificados aspectos -morfologia, afi- nacio, diferentes scordature praticadas, terminologia, etc. como com- plemento importante a reconstrucao histérica deste tipo de cordofones de mao na Peninsula Ibérica: Porque ay muchos generos de vihuelas solamente tractare dela que con- minmente es dicha vihuela, de guitarra, v de bandurra, [..] La vihuela comin tiene seys ordenes de cuerdas: las quales Ilaman sexta, guinta, quarta, tercera, segunda, y prima, Esta vihuela en vazio, sin hollar traste alguno tiene desde Ia sexta hasta la prima vna quincena, que son dos diapaones, o dos octavas. [..] Desde la cuerda sexta hasta la guinta ay vn diateSaron, que es vna quarta de dos tonos ¥ uvn semitono, [..] Esta mesma distancia halareys en toda Ia vihuela vna cuerda inferio ala otra mas cercana superior: excepto desde la quarta cuerda ala terce- ra, que ay vn ditono, que es tercera mayor: la qual consonancia tiene qua- tro semitono. [..] Quando digo en la vihuela semitono: no declaro mayor, © menor: incan- table, o cantable: porque todos son cantables en el dicho instrumento segiin la cuenta comiin, y adelante se vera complidamente: el qual primor no tiene otro instrumento de los viejos.(... Este es temple conmun que en Espafia se vsa: pero en cifras de Italia aue- mos visto otzo, Suben la tercera va semitono, guedindose todas las demas en el temple que estavan. [..] Este temple es bueno para el mado gue dicen sexto: porque da muchos golpes en vazio en la dicha tercera, ba En cifras de el notable musico (Luis de] Guzmén* hallareys vna vihuela, siepte ordenes. [..] Estes son los temples de vihuela, que en Espafia auemos visto. Como estos se han vsados: se pueden vsar quantos el curioo tahedor quisiere. (Quantos trastes terna la vihuela: No ay traste determinado para ese ins- trumnto: sino quantos le quisieren poner. [..] Conmunmente suclen poner a este instrmento diez trastes: y es vn medio bueno, y en las vihue- las bien proporcionadas pocas vezes pueden caber mas de onze. La vihuela que pudiere tener doze: ya va fuera de proporcion. [..] Experiencia es de taedor, que si ponen vn pafuzuelo junto ala ponte- zuela, entre as cuerdasy la vibuela: como las cuerdas se suban en el sitio 41. Apud de GonzslenX. 42. Para o seu nome completo, ef, Gallardo I, p. 870. NASS.XTT 405 MANUEL MORUIS y lugar con el dicho pafiezuelo: tambien se suben las cuerdas en entona- cidn. (..] Si puede vn tanedor taiter por vihuela destemplada: Taner vn tafiedo por vihuela destemplada: se puede entender en vna de dos maneras. La pri- mera es abaxanda, o subindo alguna orden de cuerdas. [.] Miguel de fuenllana tafedor de la sefiora marquesa de tarifa vi hazer a mi instan cia excelentemente. [1 La segunda manera de tafier destemplada la vihuela es destemplando la vna cuerda delas dos que estan junctas, queddndose la otra en el temple conmun. [...] Dicen que el studioso musico Guzman tenia la dicha abili- dad. [..] La principal causa porque en algunas vihuelas ay mala musicas: es por los trastes. [..] Pensando he, que si estos trastes fueBen de azero, o se hizieren en palo, fo de hueso: que causarian mejor musica, [..] Estoy persuadido, que siendo los trastes de azero, 0 marfil causarian mejor musica. La humidad del traste (hecho de cuerda de tripal, special- ‘mente en tiempo humido causa gran imperfection en Ia Musica: lo qual seria priuiligiado lo que se tane Be com los sobredichos trastes. [..] Todos los sobreditos trastes, y los que despues dire: se han de poner que pafeen y esten ygales con el trago. Quiero decir, que dadas las dos buel: tas del traste, descubra la sefal, otra coln] del compas a la parte de la puente, y sea tan malaues que apenas se vea: lo qual se haga con compas pequeno, y de puntas subtiles. De la vihtela de siepte ordenes que se tangan todos los semitonos* [..] ‘Tomad en vna regla bien labrada y derecha el tamanho delas cuerdas de vvuestro instrumento, v hazed vna linea derecha sobre la regla: por la qual Ieueys el compas en ios repartimientos ge hizierdes, [..] Es pues la cuer- da desde la b, [pontezuela] hasta lal: [cejuela] la qual dividido en quatro tamadios, y con yno alcanga desde la b, a la: [..] la qual e, es el quinto traste, [4:3] Dividido otra vez desde la J, hasta lac, en otros quatros tamafios: y alean- gara con los tres ala f, y sera decimo traste. [16:9] Si en el instrumento cupteren doze trastes con los quatro primeros com- ppases sacareys el traste dozeno, [2:1] Esto hecho diuido toda la cuerda en nueue tamatios y con ocho allegara ala A, y diuisa otra vez desde la / hasta la A en nueue tamafios, allegara 43, Sobre o tipo de temperamente igual usado por Bermudo, ef, Barbour, pp 164-165 ¢ LindleyT. pp. 27-30. Nos edleulos deste tetrico falta o 11" traste que, segundo BatbousT, 1p 185 seré encontrado na razio de: 218700:115921, Bste temperamento proposto por Ber ‘do esta muito préximo dos 18:17 e 17:16, praticado desde meados do séc. xV1e descrito [por varios tedricos quinhentistas,tais como Nicole Vicentino (1555), Gioseifo Zarlino (1371 £1588), Francisco Salinas (1577) e Vieenzo Galle (1582), ef LidleyE, pp. 19-42 e GainzaA, pp. 53, 58, 113-120, 125-126. Em Portugal desde longa data que se usa o sistema 18:17 para colocar os trastes na viola. sta maneira de dividir os bragos das violas encontre-setardia- ‘mente compilada e foi publicada na obra de VarellaC, pp. 51-53. 406 NASS.XXIT A VIOLA DE Mo EM PORTUGAL con ocho ala b quadrada. [5° traste] Hazed vna diuision desde la /, hasta. hh de cinco tamafos y con quatro allegareys adelante dela b. [quadrada] La distancia que ay desde lab, [quadrada] ala sobredicha sefal es vna conma, In qual se ditida en tres tamafos,y desando los dos ala parte dela in que es la In exjucla de In vibuela: hareys via sedal [.] sera ol quarto waste [1215:964] Se divisa la cucrda desde I, hasta este quarto traste en ocho tamanhos, y donde aleangare con vno hazia la: hareys wna sel, sa vn poco la A-Elspacio que ay entre la dicha seal y laa, se diuida por medio y (J sera el taste segundo. [540-481] Desde est traste segundo se diuida el esto dela cuerda hasta la, en qua tro tamafios ,y en 1 punto primero dela division sera cl traste septimo, (720-881) Hazed otra diuision de quatro desde el quarto traste hasta laf, yen el punto primero dela diuision poned el traste nono. [405.241] Diuida se desde laf, hasta el decimo traste en dos tamatios, y donde alcangare con vno hazia Ia ceja sera cl traste tercevo, [32.27] Eo quatro taroaio se dulda desde el dicho trie hasta la, y enol punto primero dela diuision sera el octauo traste. (128:81] Para sacar el taste primero y el sexto son menester algunas diuisiones perdidas. Sacad vna sesquioctaua desde el traste quarto hasta la ly donde aleansare la sobredita sesquioctaua hazed vna sefal, Lucgo did desde la, hasta cl segundo traste en cinco tamafios, y donde aleangaren los quatro hareys vna sel y sera sm poco adelante dela otra dela ses- aquioctaua hazia la cejuela. Diuisa en tres partes la distancia delas dos Sefiales en Ia. primera cercana al séptimo.traste era el sexto, [164025:115921] Diuidase desde 1, hasta este sexto traste en tres tama: fies, y donde aleasgare con el qtisrto ser ol traste primera [492075:463684] Estes tastes quedan ahora ental disposicién y con tan gran artificio que todas Jas quintas salen perfectas, y todos los semitones se tahera, ¥ todas las terceras, El que deste arificio wuiere de vsar tenga aviso quan- do templare ca vacio Io tteara con In quarta en ln vibuela connate do seys ordenes, que suba la dicha tercera quanto el oydo la pudiere sufie* Mas é sobretudo no Regimento dos Violeiros portugueses, datado em Lisboa no ano de 1572," que se codificam, quanto a nés, as regras mais completas e preciosas sobre a arte da construgao da viola de mao, entre outros instrumentos de corda dedilhada e friccionada, Neste periodo, 0 “44. BermudoD, ff, 28-28y; f,29v-30v; ff, 103v-104; fF, 109-109 45, Nos Apéndices Ie Ia transcrevemas o texto integral do Regimento de Violeras © do Regimento dos que facem cordas de viola, ambos datados de 1572, bem como os respectivos screseentamentos [estos em Lisboa, enire of anos de 1596 ¢ 1711, copiados, respect ‘mente, nos cadices 35 ¢ 36 que se guardam em P-L, Arquivo Histérico da Camara Munici pal de Lisboa, NASS.XTT 407 MANUEL MORUIS oficial mecnico ~cujo oficio estava ligado As agremiacées pertencentes @ Casa dos Vinte ¢ Quatro“ que pretendesse obter a carta de violeiro (ou também a de fabricante “de cordas de viola”) ¢ assim pudesse abrir tenda, tinha de ser examinado no més de Janeiro de cada ano. A actividade dos profissionais destas agremiacdes estava sujeita a regras muito estritas ¢ severas, exaustivamente codificadas nos respectivos Regimentos, nao sendo permitido que estes “oficiais mecanicos” as violassem de nenhum modo ¢ sendo as diversas transgressdes punidas ou com pesadas coimas, ou com 0 encerramento da “tenda” ou até, em casos extremos, com a pena de prisio”. Este controlo de qualidade no fabrico dos cordofones empregues em Portugal neste perfodo era levado a efeito regularmente pelos examinadores, por vezes mrsmo acompanhado de um almotacé. Esta vigilncia quase constante no fabrico destes instrumentos e do mate- rial empregue, era feita, como hoje se diz, em defesa do consumidor. Deste modo se contribuiu para o alto nfvel na feitura das violas de mao portuguesas que se conhecem deste perfodo. Assim, 0 exame de Violeiro, que era extremamente rigoroso, constava da feitura, além da “viola de seis ordens” ou “de mao”, de uma “viola de arco tipre ou contrabaxa”, de uma “arpa do tamanho que quiserem” também de um “taboleiro de xadrez ¢ tavolas acostumadas”. Para avaliar a exigencia dos requisitos pedidos neste exame, transcrevemos do docu- mento original os seguintes itens: L..14. Bo offigial do dito offigio que tenda houver de ter faraa humra viola de seis ordens de costilhas de pao preto ou vermelho laurada de fogo muito bem moldada e laurada tampad e fundo de duas metades-ss- [isto 6] junta pelo meo muito bem feita e marchetada com hwm marchete de ito ¢ outro de quatro muito bem feitos ¢ pelo pescogo arriba leuarad hunt rotulo ou humma trena com humas encaixaduras com seus remates € sera grudada com grude de pexe fundo e tampa6, e sera forrada per den- two com forvas de panno, Item faraa hwn lago de talha fundo ow raso muito bem feito, Item regrara muito bem a dita viola e a limpara e per esta maneira sera acabada, Item encordoara a dita viola muito bem segundo pertenger ao tamanho della, e a apontara, ¢ afinara de maneira que possad nella tanger Item fara hum taboleiro de xadres ¢ tauolas acostumado muito bern desempenado que seia para passar com as casas do taboleiro muito bem, assentadas, 46, Divionario#f, vol. 1, p. 109, 47. Ver 0 Apéndice I, itens no 5-18. 408 NASS.XXIT A VIOLA DE Mo EM PORTUGAL Item faraa hura arpa do tamanho que quiserem bem laurada ¢ bem. junta e bem grudada com grude de pexe e de boom compasso das cordas {que nad vaé huyas mais largas que outras, Item fara huma viola darco tipre ou contrabaxa qual quiserem laurada de {ogo e do tampaé cauado de muito boa grossura toda igoal e da regra que venha conforme ao caualete que nad seia muito alto nem muito aixo. [.] 6, Da qual examinasad 0 offigial que assi examinar pagaraa trezentos reais e sendo estrangeiro seiscentos reis de que sera as duas partes para as despesas do dito ofligio e a terga parte para os examinadores. (..] 12. Ttem mandad que os violeiros que tenda teuerem fagaé as violas de seis ordens de duas costilhas. E seiao forradas com piois ou lengos. E os lagos dellas de talha seiad de folha. E se os quiserem fazer no tampad seiaé forradas de purgaminho. [..1" Pelos acrescentamentos feitos a este Regimento no ano de 1712, mas gue resultam da compilacao de documentos escritos entre 1596 € 1711 podemos completar esta informagao quando anotam que: L.Jem o dito offigio ha huma Madeira por nome til” a qual estaua em conserto e costume antigo [desde finais do séc. XVI] entre offigiais a tal madeira senaé uzasse porque he muito prejudicial ao pouo e emganoza para quem compra a obra que della se faz por quoanto naé gruda e tem roim cheiro e por que hora alguns offigiais usad della e sendo reprehen- didos pelos juizes do offisio respondem que pois o Regimento do dito offigio o nad defende que ande laurar ¢ porque quoando se fez 0 seu Regimento [em 1572] sena6 costumaua laurar antes coria6 os olfigiais, antigos de a tomar na mao pello roim cheiro que tem [..] 48, Liuro do Regimenta dos ofieiaes mecanicos da mu excelente e emp lel Cidade de lisa reformados per orderica do Ilustssima Senado dla pile Lda Drie mez do liam. Ano. MDLaaij, P-isboa, Arquivo Histérico da Cémara Municipal de Lisboa, cod. 35, exp. XL, ff. 157-159. 49. Tl ou til preto (ocotea foctens), ef. Press/ShontF pp. 55. 102. Ainda que estes acres centamentos sejam datados de 1712, cles dizem respeito aos inicios do sée. XW, mais pro- [priamente, segundo se I af, 132: “feito em Lisboa aor vinte e sinco dias do mes de junho dle mil seiscentos e trinta ¢ noe anos’. No entanto o testo Feporta-se a "vinte © quatro de Outubro de mile quinhentos e nouenta ¢ seis", indicando-nos que ers uso fazerem-se ins trumentos com esta madeira, Seré tila madeira empregue na feitura da viola de Belehior Dias, feita em Lisboa em 1581, bem como noutro instrumento, recentemente descoberto, ‘Anénimo (que se guarda no Museu Instrumental de Paris, om a cota E.0748) mas segura. mente de origem portuguess? 0 uso do til ests condicionado pela sua idade, js que esta madeira, pertencente & fami lia das Lauréceas, 56 apresenta a cor preta quando tem, pelo menos, mais de 200 anos, 0 que a torna muito rara. Actualmente o abate desta planta esté projbido na tha da Madeira, tinico loeal onde ainds floresce. NASS.XTT 409 MANUEL MORUIS Satisfazendo ao despacho de vossa senhoria os juizes do offigio dos vio- leiros que elles deraé vista de petigab e despacho aos officiais [..] dizem que nad tem duuida a deixarem de laurara dita madeira de til [..] se na ‘uze della visto ser engano do pouo e receberad justica e merge. [Ll Dizem os juizes do offigio de violeiro © os mais offigiais [..] que em. rezaé de virem quantidades de lampos em caixées de veneza ¢ Amburgo € paos de Prado [...] e porque no dito offigio hi dous homens que por serem ricos de cabedal atravessad toda essa madeira de modo que nad da6 partilha della aos mais offigiais do seu offigio pera reterem em sy € fazem della estanco pero melhor negosiar |." Do ponto de vista organolégico podemos retirar destas fontes primé. rias quinhentistas e seiscentistas as seguintes conclusées: na peninsula ibérica construiam-se violas de mao de varios taman- hos, aliés como fazem prova os rarissimos instrumentos que chezaram até nés, assim como os que sio mencionados em inventérios ¢ tratados deste periodo;* ~ para a sua construgao os violeiros empregavam madeiras finas, como 0 “pao preto ou vermelho” (paw-preto, pau-brasil, pau-ferro, pau- santo, pau-rosa, nomes vulgares de arvores, sobretudo brasileiras, da familia das ebenaceas, das bignonisceas, faseolceas-papiliondceas, das Iaurdceas, etc., bem como, para os tampos, o pinho de Flandres, Veneza ou de Amburgo, nomes genéricos para a epicea excelsa e para a epicea abies); que as bocas (“Iago", “lazo") dos instrumentos eram abertas no tampo, talhando a madeira (laco raso) ou empregando © pergaminho lagos de folha de purgaminho” ou outro material com as mesmas carac- teristicas) para elaborar rosetas fundas™; 50. Livro primeira dos acrecentamentos dos Regimentos dos offiriats mecanicos desta ‘muito sempre nobre e sempre lel cidade de Lisboa tresladedo no anno de 1712, P-Lisboa, ‘Arquivo Historico da Cimara Municipal de Lisbos, cod. 36, cap. 21,f 131 e cap. 22, £2308 Para texto completo ver Apendlice Ia, SI. Aste respeito podemos citar as diferentes violas (de mado, ereio) gue se mencionam rum dos inventérios dos bens pertencentes & Imperatriz D. Isabel, datado de 1539, pouco antes da sua morte: "Cargo de vituclas y clavicordios’[..Juna vihuela grande com un laz0, tasada en tes ducados[..] Outra vikuela mediana, con dos lazos, tasada en cinco dueados [] Otra vihuela mas pequeria que las sisodichas, tasado em tres dueados y meio: [| Una caxa en gue estaban las dichas vihuels, tasada en ducado y meio”, eit. por AnglésM, pp. 54-55. CE. th. BermudoD, libro i, cap. l-xi 8 92-96, 52. "Le plus grand soing gu'ayent les facteurs de guitere, est de faire en sort que la rose soit artistement travallée pour entichir davantage leur besogne’, Tichet, p.136 410 NASS.XXIT A VIOLA DE Mo EM PORTUGAL © fundo da caixa podia ser feito de duas metades ou empregando a técnica das “costilhas”, por exemplo tiras de madeira moldadas em meia- = para colar as diferentes pegas fazia-se uso da “grude de pexe”; ~ estes instrumentos eram muito decorados com embutidos (“mar- chetes de quatro e oito’; “atarcies’, “ataraceas”, etc.) Nestes exames de violeiros podem ainda ser respigadas indicagdes importantes que nos ajudam a reconstituir as técnicas antigas de cons- ‘truco e conhecer os materiais que entao se empregavam. Estas infor- mages interessam sobretudo aos violeiros actuais para se apoiarem ou na feitura de réplicas de instrumentos quinhentistas ou no restauro de violas que tenham sido recentemente identificadas ou que possam entre- tanto vir a ser descobertas”. Como corolario da problemstica da construgao das violas de mo nos séc, XVI ¢ XVII transcrevemos abaixo a informacao enciclopédica compi- ada tardiamente pelo te6rico musical saragocano Frei Pablo Nassare (€.1661-m. Saragoga, 1730). Como complemento e explicagao deste texto copiamos em paralelo as preciosas ¢ inéditas instrugées (que nalgumas passagens so uma traducao literal das regras enunciadas por Nassare) do tratadista portugués Joao Vaz Barradas Muito Pao e Morato (jf. 1689- 1763), reunidas com fins didacticos (“Este livro foi feito somente para o estudo de Matheus Pirson Niheul’) Pablo Nassare (1724) Las Vihuelas sean de siete, seis, cinco ordenes (que es 1a que llaman Guitarra Espanola) no se distin guen en la materia, ni en la forma, ni en las porpociones que se devem guardar en los concavos [corpo ou caixa] , como ni tampoco en la materia de que son las cuerdas Pues en todos estos Instrumentos se practican de nervio, como en el Arpa; y solo se distinguen en dos cosas, una es en ser de magnitude 53. Cf, AbondanceR ¢ Abondancev. NASS.XTT Joio Vaz Barradas Muito Pio ¢ Morato (1762) Factura de viola de ma6 que em Espa- nha chamad Guitarra, Todo o Instrumento deve ser feyto com medida de proporcoens de mayor dezi- gualdade conforme as Regras ja prati cadas na factura dos signos, © asim se fabricaraé as Viola na forma seguinte. Primeyramente se escolheré madeyra forte e liza; 0 tampo sobre que carregad as cordas, ha de ser de madeyra poroza, e segundo a experiencia he melhor a de Pinho avete ou de Flades e que seja del- 4a MANUEL MORUIS el cuerpo de las Viuelas de seis y siete ordenes, que la que Haman Guitarra Espanola, que tiene cinco. [...] Dos son las partes pricipales de cada cuerpo de estes, la una es el concavo, Ia otra el lugar de manipu- Tacion, al que aman vulgarmente rmastil. Las maderas de que se ha de fabricar el concavo, han de ser soli- das y fuertes, (...] La experiencia ensefa, que una de las maderas que es muy al caso es el Nogal, y aunque ay otras mas duras, y fuertes, [se] han fabricado algunos Instrumen- tos de vano, y sobre experimentar- se no ser de los mas sonoros, [..] menos la tapa, que esta siempre ha de ser de Pino avete, [..] La forma de semejantes Instrumentos (como tan vulgares) todos saben, que el extremo baxo esté en forma de semicireulo, y lo mismo el alto, aunque con la diferencia, de que del medio de él arranca el mastil.(..] Las proporciones sonoras, que se deven guarday en semejante fugura, son las siguintes: La mayor latitud del extremo baxo del concavo, ha de estar en proporcion dupla con la longitud, y el extremo superior, q ha de ser de menos latitud, ha de estar en proporcion sexquiquarta , con el inferior ¥ el medio de los dos extre- mos en proporcion, con la longitud de todo el concavo. La profundidad de al ha de estar en dupla sexquial- tera con la latitud de los dos extre mos; y hablando practicamente, buelvo & devir, que la latitud del extremo inferit de Ja longitud de todo el concavo, ha de tener Ia mitad, que es la dupla. ¥ el extremo 412 gada o que puder ser para que seja mais rezonante 0 tom em o Comcava do Corpo; ‘A melhor madeyra para as ilhargas ¢ circunferencias do tampo do fundo he a de Prado, depois a de Cedro a que se segue a de paé preto, e logo a de Nogueira sendo que por branda tem 0 perigo de empanar, como tambem a do Pinho de Flandes [...] bem unidas e del gadas que na6 haja nellas rotura em que possa sahir o ar do Coneavo, [...] sendo as madeyras delgadas e solidas sera cauza de se ouvir mayor som; © a madeyra do tampo ainda que na6 seja ta solida, convem que tambem seja delgada para que com mais facelidade possa entrar o ar que he ferido com a corda por suas partes em o concavo; porem a sua delgadeza seja tal que possa rezistir 4 violencia das cordas. [ud Inquanto ao ser de Nogueira posto que haja outras mais duras e fortes he esta mais ajustada as qualidades sono ras por ser temperadamente calida e humida, e convir com apetencia auditi va, edo ar, que sad quem cauza, e adon- de se forma o som: [-.] Das Proporgoens que se devem guardar na factura das violas de mad, A mayor largura do extremo bayxo do concavo ha de estar em proporgad Dupla, que sa6, com o comprimento, e o extremo superior que ha de ser de menos largu- ra ha de estar em proporgad sexqui- quarta que he duas partes, medidas entre sinco isto he que o de cima tenha hua parte menor que a de bayxo que deve ter quatro partes. O meyo dos dois extremos ha de estar em proporsad do comprimento de todo 0 concavo, e a profundidade della ha de estar em Dupla sexquialtera, Isto praticamente he que a largura do extremo inferior do comprimento ha de ter'a metade que he NASS.XXIT A VIOLA DE Mo EM PORTUGAL de arriba, ha de tener de anchura ‘quatro partes, teniendo cinco el de abaxo, de modo, que tenga una ‘quinta parte menos el de arriba, por el medio de tres partes que tenga de largo, ha de tener una de ancho, que es la tripla. La hondura de cinco partes en que se divida la lati- tud del extremo inferior, ha de tener dos no mas de profundidad, lo mismo ha de ser por el extremo superior, que dividido en cinco par- tes lo ancho, se le dé dos de profun- did, una, y ota son dupla sexquial: tera 5. VIOLAS E VIOLEIROS PORTUGUESES DO DO XVII a Dupla; o extremo de sima ha de ter de Jargura quatro partes, tendo sinco o de baixo, de sorte que tenha hua quinta parte menos o de sima; pello meyo de ies partes que tenha de comprimento hha de ter huma de largura que he a tri pla, Para fundo ou altura de sinco par tes em que se divida o comprimento do extremo inferior ha de ter duas nad mais de profundidade, eo mesmo ha de ser pello extremo superior, que dividido ‘em sinco partes de largo se Ihe de duas de profundidade, que hua e outra, sa0 Dupla sexquialtera; Isto he tudo o que respeila ao concavo. O brago pode ter de comprimento aguillo que baste que a poder formar nelle de 6 he 8 pontos' porem outro Autor com melhor funda mento diz, que deve ter o mesmo com primento que tiver 0 concavo do corpo desde o cavalete he a entrada do braso que faz a proporgad Dula; Como tam- bem he conveniente para as cordas das primas chegarem ao tom natural sem quebrar por que mayor comprimento tiverem, a melhor altura poderaé che. gar sem agitacao ¢ quebra.* A iinica viola portuguesa quinhentista que chegou até nés é a cons- truida por Belchior Dias (1581-1627) em Lisboa no ano de 1581:" “Bel- chior dias a fez em /Ix* no mes de dez!® 158)"; “BCHIOR DIAS LXA” (Fig. 1). Este belissimo e sobrio instrumento, de requintada feitura, faz uso de madeiras finas (“de pao preto”), sendo decorada com marchetos de ébano € marfim, As suas costas, ligeiramente abauladas, sto constituidas por sete “costilhas” de meia-cana, habilmente unidas entre si por fios de mar 54. NassarreE, pp. 450-451 « 461-462, 55. MoratoR, #. $9.91 56. Londres, Royal College of Musica, N’ RCM 171 NASS.XTT 413 MANUEL MORUS Figura 1 fim, A escala, cravelhal em forma de pa, ¢ fundo das ilhargas sto orna- mentados com marchetos entrangados de fios de “pao preto"/ marfim”. Esta viola arma com cinco ordens de cordas duplas; o tiro de corda ¢ de circa de 553 mm, o que faz deste instrumento uma” viola de cinco requin- ta”, segundo a designagao acima mencionada por Bluteau. Ea mais anti- ga viola quinhentista que se encontra datada e a nica montada com 57. Para descri¢so mais detalhadea, ef: MoraisV, bem como uma pequena noticia téeni- ‘2 feita pelo violeiro inglés, Stephen Barber, que me foi oferecida aquando do pedido de Fotografias deste instrumento, Sobre a origem desta viola nada consegui saber: paira Um rmisterio sobre como e quando foi adguitida por este estabelecimento de ensino! 414 NASS.X0T A VIOLA DE Mo EM PORTUGAL cinco ordens de cordas, encontrando-se quase toda em estado original, salvo o tampo e 0 cavalete que parecem ter sido substituidos na primeira metade do séc. XVII Este instrumento é um espléndido exemplo da per- feicao e do alto nivel técnico de construcao a que chegaram os violeiros portugueses quinhentistas, cujas artes de feitura se mantiveram, quase inalteraveis, até aos finais do séc. XVII, como provam as trés violas seten- centistas de que temos conhecimento™ Em Portugal, o nivel da construcao dos instrumentos de corda dedil- hada (sejam eles as tradicionais violas de mao ou a chamada “guitarra portuguesa”®, entre outros) teve, infelizmente, um acentuado decréscimo na sua perfeigao com a decadéncia ¢ posterior extingao, ocorrida depois de 1834, da Casa dos Vinte e Quatro e dos respectivos “grémios dos dife- rentes oficios’. A partir desta data a sobrevivéncia destas agremiagoes foi seriamente abalada, pois elas j4 nao se coadunavam com 0s novos prin- cipios de liberdade econémica outorgados na Carta Constitucional. Belchior Dias é, provavelmente, o mais importante violeiro da familia Dias, “officiaes mecanicos” que estiveram activos na cidade de Lisboa a partir de meados de quinhentos, e da qual se conhecem os seguintes membros: Diogo Dias, morador na cidade de Lisboa, a quem D. Joao III, por alvara de 24 de Margo de 1551, tomou como seu violeiro “[..] 0 qual nao avera mantimento ou ordenado algum com o dito officio, e gozara de todos os previlegios e liberdades de que gozao [...] os meus officiaes mecanicos,"*; 58 Conhecem-se ts violas construfdas em Portugal no dtimo quartel do sé. xv. A mais importante, que se guarda no Ashmolean Musex, Oxford e que provém da “The Till Collection’, €a de "Antonio / des Stos Vieyra /a fez em Lxa", sem data, mas seguramente construida © 1780, ef. BoydenH, n° 42, pp. 4647. Este soberbo instrumento tem um eravel- hal para doze eravelhas, devendo ser montada com cinco ordens de cordss (de tripa ou de metal), sendo as duas itimas tiplas, maneira preconizada por RibeiroV, pp. 5-7 ¢ Estam- paLA segunda pertencia & Dolmetsch Collection mas actualmente encontrs-se n0 The Hor- ‘man Museum & Gardens em Londres. Trata-se de uma viola muito semelhante & anterior, tendo sido construida pelo voleiro Pedro Ferreira Oliveira, Lishoa, 17190?], ef, EvansG., pp 44.45, Também tem cravelhal para doze cravelhas mas, tal como a viola do Santos Vieyra, estio ambas mal montadas. A tltima, de construcao mais simples que as duss anteriores, fruarda-se no Museu de Etnologia, em Lisbos, sendo proveniente de uma coleegio perten cente 4 Fundagio Calouste Gulbenkian mas que foi recolhida por Oliveiral, p-167, tendo sido adguirida por este etnélogo em Arraiolos, Alentejo. Sem qualquer etiqueta, foi sogura- mente construida por volta de 1800. 59. MoraisG, pp. 95-116 60. Foi provavelmente o pai, ou parente muito préximo de Belchior Dias, cf. Viterbor; 276, NASS.XTT 415 MANUEL MORUIS ~ Amaro Dias (fl. 1566-1567); ~ Antonio Dias (7. 1566-1567); Cristovao Dias (fl. 1566-1567). A esta familia de violeiros quinhentistas podemos ainda juntar os nomes de Alvaro Fernandes, Afonso Rodrigues, Antonio Fernandes, Antonio Lopes, Jerénimo Duarte, Joao Tomé e Nicolau Bras, todos eles activos em Lisboa na segunda metade do sée. XVI" J4 no século XVII, ¢ em pleno reinado de Filipe III (IV de Espanha), exercia 0 mester de violeiro, em Lisboa, Francisco Gongalves (fl. 1625) que, segundo alvaré do monarca, ¢ depois de ouvida a agremiacao da Casa dos Vinte e Quatro, ordenou que fosse admitido no dito oficio, por: gue Lu] sendo elle eleito pello seu officio pera ira dita casa seja nella admit- tido visto [..] ser capaz.e de boa fama e nao ter inpedimento que o inha- bilite pera o dito efeito [..1* A viola de seis ordens de cordas duplas recentemente descoberta no Museu Instrumental de Paris, E.0748,"" ainda que nao tenha etiqueta, poder ter sido construfda por um violeiro portugués -por suposicao, algum membro da citada famiflia Dias ja que a sua construgao (fundo de sete “costilhas de meia-cana”), materiais usados (ilhargas e fundo de “pao preto”), a feitura praticada no seu interior, bem como 0 tipo de marche- tos, sao bastante idénticos (senao algumas vezes iguais), entre outros guesitos, aos da supra citada viola de cinco ordens de Belchior Dias. Mui- tas destas questdes poderao ter resposta quando se levar a cabo 0 estudo, detalhado deste importante ¢ singular instrumento. Estamos conscientes de que o acima afirmado, nao passa, por enquanto, de pura especulagao. © cruzamento da informagao trazida por outros estudos no campo da organologia, da metrologia, ou ainda da iconografia, entre outros, apor- ‘tard seguramente dados cientificos mais concretos que possam confirmar ou negar a nossa tese", Esses estudos também terao certamente de ter em conta toda a informagao contida nos exames de violeiros peninsulares. A viola de cinco ordens (c.1590) pertencente a colecgio do alatidista inglés Robert Spencer (1932-1997), actualmente na posse de um colec~ 61. RodriguesD, pp. 26, 45-47 e 50, Lambertinil, p. 6 62. ANT, Chancellaria de D. Filippe 11, Livll, 280. Este documento foi integralmen- te publieado por ViterboR, pp. 276-277 e ViterboS, pp. 265-266 63. CF. Dugot¥, pp. 307-317 e GonzalezN, 64. Seguramente proveniente dos virios especialistas que intervém neste Col6quio, 416 NASS.XXIT A VIOLA DE Mo EM PORTUGAL cionador americano, mostra construcio tipica portuguesa do séc. XVI, sobretudo no uso da ornamentagao e dos embutidos & “maneira de Bel- chior Dias”, Este instrumento, que quando foi adquirido por R. Spencer j4 se encontrava transformado em “chitarra battente”, foi restaurado por Martin Bower, Essex, em 1973, que teve sobretudo como referéncia o ins- trumento quinhentista portugués”. 5.1 Outras violas quinhentistas e seiscentistas ‘Além destas duas violas de mao acima referidas, conhecemos ainda mais dois cordofones montados com seis ordens duplas, © primeiro, e provavelmente o mais antigo, € seguramente de feitura espanhola quinhentista™, marcado a ferro quente no lado esquerdo do cravelhal, onde se Ié a seguinte inscri¢ao: GVADALVPE”. Ainda que sem provas documentais, varios autores tém proposto que esta viola de seis ordens seja proveniente do Mosteiro de Guadalupe, na Estremadura 65, Toda esta informagio foizme facultada pela viva de Robert Spencer, @ Se D. Jill Spencer, & qual expresso agui os meus agradecimentos, Esta Senhora também me fornecet, gentilmente uma descrigso téenica feta por Mike Barilett a pedido de Robert Spencer. £ interessante notar que na recente obra de Tyer/SparksG, p. 11, o alaGdistalmusic6- logo James Tyler atribui inequivocamente este instrumento a Belchior Dias dando como data de construgso © 1590. TylerR, p.37 reprodus. esta mesma viols no Plate 6, onde se Ie ‘Guitar ¢ 1600, in the collection of Robert Spencer 66, Paris, Museu Iacquemart- André Ainda que tenha sido PrynneS o primeiro a deserever com algum detalhe este instru mento, a sua descoberta deve-se a0 Prof. Emilio Pujol (docente de Viola no Conservatério [Nacional de Lishoa, entre os anos de 1943- 1970) nos idos nos de 1936, mais propriamen- terno dia 6 de Janeivo. Este facto, raramente divulgado pela musicologia internacional, enconta-se repistado por PujolA, p.5, nota 5. Ovioleito de Bareelons, Miguel Simplicio fo © primeiro a constrair uma "réplica” deste instrumento tendo-a oferecido ao Mestre Pujel Este eminente concertista, pedagogo e musicélogo, usando esta cépia deu o primeiro reci- tal modemo com misiea original dos violistas espanhis do séc. XV, no dia 7 de Abril de 1936, integrado no III Congresso Internacional de Musicologta, que se realizow em Barcelo za cf RieraP, pp. 49-52 ¢ 138, No dia 17 de Marco de 1947, Emilio Pujol é& um concerto, juntamente com a cantora Maria Adelaide Robert (com quem posteriormente se easou, em Roms, no dia 17 de Agosto de 1963) na Biblioteca do Conservatdrio Nacional, tendo sido interpretado o repertonio dos vilistas espanhéis do sé. XV, para canto einstrumento solo, Deste concerto existem fotografias, uma das quais pode ser vista na Fig. 14 No espélio instrumental do Conservatério Nacional de Lisboa existe uma viola de mio de seis ordens de cordas, copia da "réplica” de Simplicio, mas construida por "G. Yacopi / Luthier /(..] Barcelona”, em 1946 67.0 seu restauro deve-se a Abondante\, NASS.XTT 4alT MANUEL MORUIS espanhola". Recentemente esta hipotese infundada foi desmentida pela descoberta do nome de um tal Johan de Guadalupe, violeiro que se encontrava activo em Toledo, na primeira metade do século Xv1", que, com bastante probabilidade, poders ter sido o artifice deste especial ¢ Gnico instrument, © segundo, possivelmente construido no Novo Mundo por volta do terceiro decénio do séc. XVI pertenceu A santa equatoriana Mariana de Jesus (1618-1645), encontrando-se actualmente na Igreja da Companhia de Jesus, em Quito, no Equador”. Esta viola de seis ordens tem gerado alguma discussao entre os organdlogos, € nao 6, sobretudo por questoes terminolégicas: para uns é uma “vihuela”, para outros uma “guitarra”, Esta falsa questao, vinculada por estrangeiros onde se incluem alguns espanhdis, resulta da incompreensao do uso que se faz deste tipo de cor- dofone de mao, Para um portugués esta contenda nao faz qualquer sen- tido, 4 que, tanto no séc. XVI como actualmente, se designa este instru- mento simplesmente por viola, acrescido, quanto muito, dos determina- tivos “de mao” ou “de seis ordens”- viola de mao, viola de seis ordens. 6. MANUFACTURA DE CORDAS DE VIOLA E SEUS FABRICANTES, (SECS. XVEXVI) No cédice portugués acima citado dos “oficiais mecAnicos da cidade de Lisboa” encontra-se também um capitulo, datado de 1615, dedicado a0 Regimento dos que fazem cordas de viola. Tal como 0s violeiros, estes oficiais tinham de ser examinados para obterem carta e poderem abrir tenda. Neste Regimento encontramos informagao inédita ¢ muito impor- tante sobre a feitura das ditas cordas, que nao sé eram usadas para encor- doar os diferentes instrumentos construidos nesta época -tais como as violas de mao, as violas d'arco contrabaixo e tiple, as harpas- como para fazer os trastes que deles necessitavam: [1 3. E todo 0 offigial que do dito officio de fazer cordas quiser usar saberaa muy bem laurar e cortir em decoadas limpas e bem temperadas de tal maneira que nad sejad tad fortes que as queimem nem tad brandas 68. Ver os recentes artigos de AbondanceV, DugotV ¢ BermudexV. 69. Apud de GonzélezN, cf, Reynaud?, 10, Esta viola de seis ordens (2) foi deseaberta por Oscar Ohlsen, tendo dela sido dada noticia por Poulton. Para mais bibliografia sobre este raro instrumento, ef. BermudezV, pp. 25-47 418, NASS.XXIT A VIOLA DE Mo EM PORTUGAL que apodregad nellas: as quaes decoadas se farad sempre em casa do examinador em cuja casa se faz 0 exame. Item saberaa fazer hum mago de cordas delgadas muito bem cortida em. decoadas muito limpas e bem temperadas de maneira que despois de fei- tas seja6 muito rijas e boas, Item saberaa fazer grosso para tanger assi violas de mad como violas de arco. E arpas em que entrarad quartas de dous fios ate bordad de vinte fios acrescentando na grossura dous fios a cada corda. O qual grosso se trageraa na Toda ate bordad de dous fios que nad tenha noo algun. E. outro se faraa nos cambos de pedagos muito bem feito e toreido de tal maneira que despois de acabado fique muito igual sem lombo nenhumt / nem outro algum defeito como convem para tanger Item saberaa fazer hw bordad para cutelleiro de cem fios de grossura e hud corda para torneiro de cincoenta fios ¢ outra para sombreireiro de dezasseis fis. E estas tres cordas com todas as mais que se feverem nos cambros serad todas feitas de pedagos que os ditos examinadores Ihe apartarad para isso. as quaes serad muito bem lauradas e poidas de maneira que despois de acabadas nad aleuantem ponta algu8 nem ten. had lombo per onde se cortem nem outro algun defeito.[..] 11, E mandaé que nenhum offigial {aga cordas algumas de vista de fios de ouelhas nem de cabras nem de bodes, mas todas as que fezerem assim: delgadas como grossas seiad de fios de carneiro. nem as farad fendidas. E o que o contrario fizer pagaraa mil reais a metade para as obras da idade e a outra para quem o accusar: Bas cordas seraé queimadas como falsas e enganosas. 12. Todalas Cordas que fezerem para tanger assint delgadas como gros- sas andarad tam limpas nas decoadas que despois defeitas nad tenhad cheiro algum mao de mal cortidas ou mal passadas, E serad todas feitas em werdideiras de hum comprimento que tenha cada huma tres varas de comprido, E todas as outras cordas grossas de qualquer maneira que selad que nad forem para tangerem com ellas serad de seis varas de medir de comprido cada huma, e 0 mago das cordas teraa gem trastos cada hun e 0 offigial a que forem achadas de menos comprimento, ou macos de menos trastos pagaraa mil reais a mctade para as obras da cidade e a outra para quem o accusar e perderaa as cordas que se apli- card para a mizericordia [..]" Na segunda metade do século XVI conhecemos o nome de trés fabri- cantes de cordas de viola, todos activos na cidade de Lisboa, nomeada- TI. PAL, Arquivo Histérico da Cémara Municipal de Lishos, cod. 35, ff, 160V-162, Para documento completo vide Apéndice I £190, cap. XLIL A informagio contida neste documento portugués deve ser cruzada com a contida nas ‘ordenzas de los constructores de cuerdas de arpas y guitarras” (Madrid.1679) bem como com a dos fabricantes de cordas de Roma e de Népoles. NASS.XTT 419 MANUEL MORUIS mente, “Bernalldo Domingues que faz cordas de viola” (fl. 1566-1567; “Bens avaliados em 30,000 rs. que pagar 210 rs.”), “Johao Martinz que faz. cordas de violas, morador em casas suas” (j. 1566-1567; "Bens ava- liados em 12.000 rs. de que pagaré 84 rs.”)", e por tiltimo Roberto Roma- no (fl. 1562; provavelmente origindrio de Roma)”. 7 ICONOGRAFIA (SECS. XV AO XVIII) Em Portugal nao é muito abundante a iconografia onde se mostram instrumentos de corda dedilhada dos sécs. XV a0 XVI. No entanto conhecemos alguns exemplos significativos de representagdes destes cor- dofones de mao com caixa em forma de oito, nomeadamente em ilumi- nuras, pinturas, esculturas em pedra, barros, bem como na azulejaria portuguesa dos séc. XVII ¢ XVII. Estas fontes iconograficas podem forne- cernos elementos importantes ¢ sao um complemento precioso para 0 estudo organoldgico deste tipo de instrumento, desde que sejam usadas com bastante cautela em virtude de muitas vezes serem baseadas ou copiadas de estampas estrangeiras (sobretudo holandesas ou francesas, no caso dos aztilejos), sobre as quais os artifices nacionais se inspiravam para criar as suas obras, independentemente delas representarem ou nao a vivencia desses instrumentos ou reproduzirem fielmente uma realidade local. Para além destes suportes iconograficos, sto muito mais impor~ tantes os desenhos e gravuras incluidos nos métodos para a viola dados & estampa em Portugal e em Espanha (no periodo compreendido entre os séc. XVI ¢ XVI), Eles so uma valiosa fonte organolégica e contém infor- magao preciosa ¢ fidvel, pois foram af inseridos por indicagao do autor da obra, de modo a servirem de exemplo fidedigno das regras explicita- das no texto destes tratados. ‘Assim, ¢ evitando sermos prolixros, mencionaremos apenas as fontes portuguesas que achamos mais importantes ¢ representativas das violas de mao desde os séculos XV a0 XVI. Esculturas / Baixo relevos: ~ anjo mtisico tocando viola - arquivolta do portal poente do Mosteiro da Batalha, infcios do sée XV," 72. RodriguesD, p. 58, 73. Lambertinil,p. 6 74. Ainda que esta parte do templo tena sido restaurada no decurso do sée.x0%, cf Ol veiral, p64 #20 NASS.XXIT AVIO‘A DE Mio BM PORTUGAL ~ portal da Igreja do Mosteiro de Alcobaga, anjo tangedor de viola, 6 1415; ~ altar da morte de S. Bernardo, Mosteiro de Alcobaga, anjo tangedor de viola (12 cravelhas, seis cordas?), séc. XVI Damo, Estado da fndia, anjos mtisicos, talha policromada dos prin- eipios do sée. XVI (ver Figs. 2 e 2a). Pintura: ~ Mestre de Abrantes, Natividade, Igreja da Misericordia, Abrantes, ssée. XVI, anjo tangendo uma viola com dez eravelhas e cinco (?) ordens de cordas (ver Fig. 3 ¢ Fig. 3a); ~ Francisco Venegas (fl. 1582-1591), “Sagrada Familia, Santa Ana e Anjos” ou “Fuga para o Egipto" ? (pormenor, anjos miisicos) viola de mao e viola de arco contrabaxa, instrumentos apostos um 20 outro, Lisboa, Igreja da Luz (ver Fig. 4), = Vasco Pires Lusitano, “Coroa¢ao da Virgem” (Sevilha, 1604), éleo sobre madeira, Museu Carlos Machado, Ponta Delgada, Acores. Viola de cinco ordens duplas, dez cravelhas; 75. Oliveira, p. 159. NASS.XTT 421 422 MANUEL MORUS Figura 4 NASS.XXIT AVIOLA DE MIO EM PORTUGAL ~ "Virgem rodeada de anjos com instrumentos miisicos, particular- mente com uma viola de mao”, de Granavelo, ¢. 1690, Acores, Ponta Del- gada, Igreja do Colégio;* Desenhos / Tuminuras = Crénica de D. Afonso Henriques (de Duarte Galvao, ¢.1505; frontes- icio, P-Pm), anjo com viola, cravelhal do tipo do alatide, com cravelhas dorsais (ver Fig. 5); Figura 5 76, OliveiraA, Fig. 2 NASS.XTT 423 MANUEL MORUS — Leitura Nova (1509), anjo tocando viola, cravelhal terminando em voluta sendo visiveis cinco cravelhas dorsais; o tampo mostra dois embu- tidos geométricos (do tipo da viola do Museu Jaquemart-André, Paris, entre outra iconografia espanhola) colocados no topo da caixa bem como floreios com fios; boca com talha (rasa?); 0 brago ¢ dividido por sete tras- tes (duplos?), cravelhal em foice, com cravelhas dorsais (Figs. 6 6a); 424 NASS.X0T AVIOLA DE MIO EM PORTUGAL ~ Tangedor de viola portugnés, Aspao, Pérsia, 1683. Guache sobre papel (Fig. 7) = Japao, Museu Yamto Bunka-Kan, Nara. Viola de caixa com enfran- ques (do mesmo tipo que a de Francisco Venegas), tampo com roseta (rasa), cravelhal com nove cravelhas - uma corda simples mais quatro duplas? (ver Fig. 8).” 77. RUA, Oregon, MAVO, inv 64:20.6, reproduzido em A Arte ¢ a Missionapdo na Rota do Oriente, eatslogo da “XVII Exposigio de Arte, Ciéneia e Cultura, Lishoa, Maio Outubro de 1983, pp, 118-119 178, Sobre a ieonografia dos cordofones com influencia portuguesa no Japs no Final do séc. XVI ver OmataP, pp. 32.47. Neste artigo dedicado violas de quatro e cinco ordens, 0 alatide, as violas da gamba e as harpas, a iconografia representa estes cordofones base- dos (ou copiados de desenhos pré-existentes?) de instrumentos portugueses(levados pelos Jesuitas) e que remontam ao dois primeitos decénios do séc. Xvi A diversificada e impor- tante iconografia mencionada no artigo de Omata encontra-se dispersa por varios museus « colecgdes particulates japoneses. NASS.XTT 425 MANUEL MoRAIS Azuiejaria ~ Palacio Fronteira (Lisboa, sécs. XVII-XVIN), tangedor de viola, caixa com enfranque do tipo da “viola d'arco contrabaixa ou tiple” (muito pare- cida a pintura de Venegas, vide acima), cravelhal em foice, com cravelhas dorsais (Fig. 9); ~ Porto, Sé Catedral, Claustro superior. Painel de azulejos, cena galan- te (séc. Xvi), Homem empunhando uma viola de cinco ordens de cordas - 10 cravelhas dorsais (Fig. 10). 426 NASS.X0T NASS.XTT AVIOLA DE MIO EM PORTUGAL Figura 10 427 MANUEL MORUS Tratados / Métodos: ~Padre Manuel Nunes da Silva, Arte minima, Lisboa, 1685. Na pagina de rosto deste tratado representa-se ainda uma viola com quatro ordens de cordas duplas; ~ RibeiroN, Estampa I, representa-se o cravelhal de forma trapezsidal recortado com doze cravelhas dorsais, brago dividido por 11 trastes de tripa parte da caixa de uma viola tipica da Gitima metade do século XVIII, Este instrumento pode-se montar com tripa ou “[...] Também se péde encordoar a Viola com arame; e esta encordoadura he mais duravel, € se faz com menos despeza” (Regra III, p. 5). Arma-se com trés ordens de cordas duplas mais duas ordens triplicadas (2 bordées fiados singelos +8 cordas de metal): li, 14, / 14, = 1é, /ré, / 1 ~ sol; / sol, sig / siz = mis J mi (ver Fig. 11). Tal como nas modas de vestuario, no tipo de cangées que se interpretavam, etc. também a Viola montada com algumas das suas ordens triplicadas deve ter sido introduzida em Portugal por via ou inluéncia francesa, sendo conhecida, desde 1763, por “guitarres & lo Rodrigo”.” | Dagroee ten Signal dptin 7a ah oop fr pant dan he ifcun te outs Drama ss rates rintpiandere delira ipthan gos prin Mla poe Figura 11 79. Comretod, apud de TylerE, pp. 54-55, 428 NASS.X0T A VIOLA DE Mo EM PORTUGAL 8. TANGEDORES (SECS. XVI-XVIII) © mais antigo tangedor portugués de que temos conhecimento é um alaiidista chamado Lopo da Condeixa, que esteve ao servigo do rei D. Afonso V (1432-1481) entre os anos de 1459 ¢ 1464. 0 seu apelido indica certamente o seu lugar de nascimento, Condeixa, localidade perto de Coimbra, O nosso monarca té-lo-fa por certo em grande estima tendo em conta uma importante mercé que Ihe concedeu a 14 de Junho de 1459. “Dom Affonso &¢ A quantos esta nossa carta virem fazemos saber que [ud Lopo de Comdexa, nosso tangedor dalaude, e querendolhe fazer graga © mercee temos por bem e queremos que elle tenha e aj de nos daqui en diante em sua vida as nossa agenhas que esta em Alpiarca, que de nos aforadas, com toda sua terra, entradas ¢ saidas ¢ chaos [ Outro tangedor foi o acima citado Juan de Badajoz (11516-1522), célebre violista e compositor espanhol que esteve ao servigo, como mtisi co de camara, de dois monareas portugueses, D. Manuel Ie seu filho D. Joao IIL" Ainda do tempo deste tiltimo rei conhece-se o nome de Luis de Vict6- ria (fl. 1536-1550), que foi violista, compositor ¢ mtisico de camara do infante D. Luis (1506-1555), filho de D. Manuel, do qual se contam varias historias pois, segundo reza, era homem de muito humor [...] 0 infante tinha um miisico chamado Lufs de Victoria, que era exce- lente tangedor de viola, 0 qual compés um credo ¢ tanget-o e cantow-o 0 infante, a quem pareceu tio bem que lhe fez. por isso mercé, Ao outro dia, tangendo-Ihe este misico, perguntou ao infante se queria Sua Alte- za que lhe tangesse o credo; eo infante respondeu-lhe que o tangesse para si, porque ele, o que uma vez. cria, nunca mais duvidava, E repli- cowlhe a isto Luis de Vitéria que bem crera ele ontem a mereé que Sua Aalteza Ihe fizera. E 0 infante tornowlhe: ~Pois que quiséreis vés agora, Lufs de Vit6ria? Que erera eu hoje a mereé que vos hei-de fazer?” 80. ViterboS, pp. 136-138. SL. Vide nota 19, 82. AndnimoD, p. 54, Para outros ditos sobre este volista, cf. pp. 381-382 ¢ 408: “Lue de Vitéria, [.-] que no seu tempo foi nico tangedor de viola, indo com um fidalgo seu igo a uina quinta onde, por certo respeito, queria representa um ato, era Taver0 © © dia muito fio. E estandlo Lufs de Vitoria falando com alguns homens dos que Is foram, ‘mou-o 0 fidalgo, que fosse para a outra parte da quinta: e ele disseThe:~ Se Ié faz so, alée mire” NASS.XTT 429 MANUEL MORUIS Do tempo de D. Sebastido conhecem-se varios tangedores, alguns dos quais que estiveram ao seu servigo, tais como: Domingos Madeira (/1.1565-1589). Comecou como “mogo de cama- ra” e mais tarde foi “mtisico de camara”, acompanhou este monarca a Guadalupe em 1576, foi aprisionado pelos mouros na batalha de Alcacer Quibir, tendo-se resgatado a sua custa;"* ~ Alexandre de Aguiar (fl, 1576-1605). Foi “caualeiro fidalgo" ¢ “musi- co da camara” do Mogo rei, do cardeal D. Henrique e de Filipe I (I de Espanha), na qualidade de cantor “contrabaixo” e tangedor de Viola “de sete cordas” (1 simples+3 duplas). Provavelmente nasceu no Porto, em data incerta, tendo falecido a 12 de Dezembro de 1605, “[..] naufragante em huma torrente, que corre entre Telavervella, e Lobom”. Por docu- mentos da chancelaria do cardeal-rei D. Henrique faz-se mercé de “T..] cinco mil reais a seu filho";* = Manuel da Victoria (/l, 1576), Tangedor de viola e mtisico de camara de D. Sebastiao;* = Miguel de Folhana [sic]. Tomou-o D. Sebastido “por misico de camara a 17 de junho de 1574, com sessenta mil reaes de ordenado, além de mais 20 que jé lhe tinha. Em 23 de maio era-lhe feita mercé de mais 20, 0 que perfazia 100 mil reaes. A ajuisar por estas sommas, devia ser homem de merecimento na sua especialidade” de tangedor de viola de Eu el Rei faco saber [...] que avemdo respeito a informagaso que me foy dada por Miguel de Folhana e de sua sufficiencia na arte da musica e de tanger, ey por bem e me praz de o tomar per meu musico da camara com sesenta mil reaes de ordenado em cada hum anno, pagos segundo orde- nanga, ¢ esta merce Ihe fiz aos xb dias do més de maio deste presente anno [1 Por fazer merce a Miguel de Folhana, meu musico de camara, ey por bem ue os vinte mil reaes de que Ihe liz meree cada hum anno pera os auer por tempo de tres annos somente os aja em sua vyda juntamente com os sesenta mil reaes que tem de ordenado por anno de musico da camara, pagos segundo ordenansa [..1!* 83. Cf, Morais), pp. 384-385, nota 23, 84. CE Morais, p. 384, nota 22. 85. CL Morais, p. 384, nota 21 86. ANITT, Chancelaria de D. Sebastdo ¢ de D. Henrique, Doapées, Li. 40, £158, Liv 45, £115 e Liv. 36, 12 Estes documentos foram integralmente publicades por ViterboS, pp. 226-227, 430 NASS.XXIT A VIOLA DE Mo EM PORTUGAL Estes documentos, ainda desconhecidos de grande parte da comuni dade musicolégica internacional, provam que Miguel de Fuenllana, 0 cego tangedor espanhol, continuava vivo ¢ em actividade depois de 1568, término do seu trabalho como “miisico de camara” de Isabel de Valois, terceira mulher de Filipe Il de Espanha. Sendo um dos mais importantes violistas desta época fez publicar uma obra fundamental tanto para 0 repertério como para as técnicas de execucao histérica. Os musicélogos americanos John Ward e Charles Jacobs" desconhecem estes documen- tos, o que obriga a rectificar o artigo sobre este excelente tangedor de viola de mao incluido por este autor no dicionario Grove". Aceste rol de tangedores de viola quinhentistas teremos ainda de jun- tar o nome de Peixoto da Pena (fl.1526-1539), natural de Tras-os-Montes, que foi considerado, além de compositor [10 mais famoso ¢ perito instrumentista que se conhecew no seu secu Jo. Achando-se em Castella na prezenga do Emperador Carlos 5° se admi- rou de que os seus Muzicos para tocar gastassem muito tempo em tem= perar os instrumentos e [elles] por zombaria Ihe derad huma viola des- temperada [para que a tangesse: pegou nella Peixoto,] na qual tal regu: Iowa positura variavel dos dedos, que sobe produzir comsunancias suse- sivas por largo espaso, suspendendo docemente ¢ admirando os ouvin- tes”. Também nao poderemos esquecer Manuel Rodrigues, oriundo da Covilha, no Bispado da Guarda em Portugal, que viveu em Sevilha. Vio- lista reputado, segundo reza Francisco Pacheco na sua curiosa obra Libro de descripcion de verdaderos retratos de illustres y memorables varones (Sevilha, 1599), era também ‘[...] tinico en la doleura de la musica de Harpa e Viguela”, tendo sido disefpulo do afamado tangedor sevilhano Pedro de Mesa, que tocava, como 0 nosso mtsico, numa viola de sete ordens (Fig. 12)” 37. WardV e Jacobs, 88. Grove, vol. VIL, p. 6 89. Esta anedota fo primeiro contada por D, Anténia de Sousa de Macedo (1605-1682), esortor e diplomata portugues, na sua obra Lae Eva, ow Maria Thunfante (1678) e poste ‘ormente reproduzida pelo Padre Joao Baptista de Castro, Mappa de Portugal, vol lp 352, de onde se copiow 0 eitado. Cf tb, VieitaD, p. 158 ¢ MazzaD, p39, 90. Cf. PajalV. NASS.XTT 431 MANUEL MORUS Manuel Rodrigues Cubithao Figura 12 Bartolomé Jose Gallardo, bidgrafo do século XIX, menciona o violista espanhol Hernando de Jaean, “gran miisico de vihuela, y lo fue del rey de Portugal”, provavelmente de D, Joao III, se bem que desconhegamos em que documentos se baseou para emitir esta afirmagao” Para finalizar o rol dos violistas do séc. XVI juntamos 0 acima citado tangedor de viola portugués, Gaspar de Meireles (fl. 1554), que viajou pelo reino da China, tendo-se encontrado com Ferno Mendes Pinto, na cidade de Quansy, a sul de Pequim”, 91. Gallardo, apud de WardV, p. 368. 92. Vide note 25. 432 NASS.X0T A VIOLA DE Mo EM PORTUGAL © mais importante ¢ internacional tangedor (¢ tratadista) portugués de viola de cinco ordens do séc. XVII foi, sem duivida, Nicolao Doizi de Velasco (ou também Nicolao Dias Velasco, fl, 1590-1659). Nas fontes por- tmguesas de finais de sciscentos e nas setecentistas de natureza biblio- grafica podemos respigar elementos importantes sobre a sua vida: Niculao Doizi de Vellasco Portugues Musico da Camera de Phelippe 4 [III de Portugal] e de seu Irmao o Infante Cardeal fes nuevo modo de Cifra p* taner la guitarra com uariedad e perfection y si muestra ser instro- mento perfecto, y abundantissimo Napolles por Aegidio Longo 1640. 4° Nicolao Dias Velasco, Musico da Camara deRey Catholico Filippe IV. e de seu irmaé o Cardeal Alberto, ¢ destrissimo tangedor de viola, de cujo ins- tomento, querendo deixar discipulos perfeitos, escreveo Nuevo modo de cifra para taner la guitarra com variedad, y perfecion, y se muestra ser instru rmiento perfecto, y abundantissimo. Napoles por Egidio Longo. 1640. 4”. Numa terceira fonte, jé dos finais do século XVII e que sintetiza infor- ™mago anterior, o nosso violista é ainda citado nos seguintes termos: Nicolao Dias Velasco, Muzico da Camara de ElRey Catholico Felipe 4; ¢ de seu Irmo Cardeal Alberto; compos huma obra intitulada Nuevo Modo de cifra para tater la guitarra, impressa em Napoles por Egidio Longo 1640 4, foi destrissimo tangedor de viola”. © método mencionado nestes dois ltimos documentos foi o primeiro tratado publicado na Peninsula Ibérica para a viola de cinco ordens (ver Fig. 13). Desta obra sui generis sé nos chegou um exemplar, que se guar da em Madrid, na Biblioteca Nacional (E-Mn, R. 4042, proveniente do fundo de F. Barbieri). Nesta mesma biblioteca conservam-se petigdes ainda inéditas referentes a este tangedor com datas compreendidas entre os anos de 1651 ¢ 1663, uma com a sua assinatura (ver Fig. 13a) ¢ as res- tantes com 0 nome do seu filho Luis Doysi de Velasco (E-Mn, Ms.14027 112-117). 93, NeryB, 231, respectivamente, 94. MazzaD, p37 95. Para mais dados sobre este tangedor cf GroveD, voL¥, p. 525, Ter/SparksG, p. 149 © Budas2¥, pp 33-55. NASS.XTT 433 MANUEL MORUS So7- vs f] N v6 os IDE Cc LF 2 A! -PARA TANER LA GVITARRA con variedad,y perfeccion,y fe mueftra fer in- firumepto perfecto y abundantiffimo - » POR NICOLAO DOIZI DE VELASCO, mufico de camara defn Magefiad,y deladel Seiior Infante Cardenal. ¥ al prefenteen feruicio del FxcellentiffSefior DVQVE DE MEDINA DELAS TORRES rincipe de Stillano, y Sumillerde Ccrps. &c.Virey, Pi GaN y Capitan General delReyno de Napoes, NASS.XXIT 434 AVIOLA DE MIO EM PORTUGAL py = Figura 13a, NASS.XTT 435 MANUEL MORUIS Na transigao do séc. XVII para o XVIII foram copiados em Portugal trés importantes ¢ preciosos manuscritos com obras portuguesas ¢ estrangeiras sobretudo para a viola de cinco ordens ¢ também para a bandurra (P-Cug, MM. 97; P-Ln, FC.R., ms. Ne 1; P-Leg, Servigo de Masica, ms, s/ cota). Nestes trés cédices sobressai o nome do tangedor (e compositor, particularmente de vilancicos) Anténio Marques Lésbio (c.1639-1709) que: L.] no anno de 1698 foi eleito Mestre da Cappela Real. ~ Na Arte da Muzica compondo fez 0s mais raros progressos era chamado por Ante- nomazia, o Mestre da mais rara Armonia. [..] Foi insigne em varios ins trumentos [.)” Anténio Marques Lesbio, natural de Lisboa a quem a natureza liberal- mente omou de subtil engenho, sublime comprehensa6, talento singular para todo o genero de faculdade, a que se applicou. [..] Igual foy a des- teza com que tocot os instrumentos arrebatando com suave violencia os sentidos daguelles que o ouviad’ A par deste tangedor e compositor, que escreveu Fantasias para a viola de cinco ordens, encontramos também os nomes de Denis de Barros, Abreu (Ant6énio?), Monteiro, Silva, Gomes ¢ Frei Joao que se encontram dispersos pelos cédices acima citados. Em Portugal continental, na ilha da Madeira ¢ no arquipélago dos Agores fazem-se ainda hoje uso de violas populares montadas com cor- das duplas ou triplas, que sdo formas cristalizadas de diferentes tipos de cordofones de mao, cuja origem remonta aos séculos XVI, XVII e XVIIL Estes instrumentos sao designados, nomeadamente, por violas braguesa, amarantina, tocira, beiroa (também designada bandurra beiroa) e cam- panica (no continent), Violas de arame ou Violas da terra (Madeira ¢ Ago- res) No belissimo poema que seguidamente copiamos, escrito por um dos mais importantes poetas e novelistas acorianos, Vitorino Nemésio (1901- 1978), ele proprio tocador da Viola da terra, encontra-se plasmada uma terminologia arcaica referente as varias partes que constituem organolo- gicamente o instrumento, que remonta aos séculos XVI, XVII e XVIII, mas que ainda se encontra em uso neste arquipélago (bem como no da Madeira) 96. Sobre estes trés ms, ver BudaszF. 97. MazzaD, p. 16 98. NetyB, pp. 150,151 99. Sobre estes cordofones populares ver Oliveiral, pp. 166-175, Oliveira, ViolasA © Almeida. 436 NASS.XXIT A VIOLA DE Mo EM PORTUGAL Cantigas & minha viola © viola encordoada Com quinze cravos de aposta, Minha péra acinturada, Minha mag de Bemposta Quando te toro nas cordas, A boca do coragio, Vou-me sangrando em satide (Que nem sumo de limao, ens os pontos doiradinhos, Tens os espagos de luto, Cada prima é uma flor, Cada cravelha é um fio, Cada bordao é um zangao, Cada tocira uma abelha, 6 jardim de madrepérola Da minha festa vermelha! Letrinha de 8 somada Pelas tuas seis parcelas Mai-las minhas maos cansadas, Amarelas... amarelas, Pendurada a tiracolo No teu cordao cor de vinho, Es o meu saca de cego, © meu burro ¢ 0 meu moinho. No florao da minha viola Pus uma tira de espelho, Para ver, de quando em quando, Se estou novo, se estou velho, 100. Vitorino Nemésio, Festa Redond, NASS.XTT Na caixa da minha viola Ha um letreiro que dir: \V. DA SILA, VIOLEIRO, ILA TERCEIRA ~ PARIS, ‘Mas um tolo, um engracado, Colou com cuspo uns tarjoes: \V.DA SILVA, CANGALHEIRO DE ALMAS, AZ VIOLAS E CATXOES, Meu amor, deixa falar! Dorme, ndo percas a esperanca! ‘Morta, na minha viola, Serés como uma crianga. ‘Que seis meninas de arame E que te levam a campa, ‘Com seis florinhas de pau Espeladinhas na tampa, E © limao, a violeta, A madrepérola, o espelhinho Hao-de te servir de terra E de mortalha de lino. Minha viola de luxo, Minha enxada de cantar, Meu instrumento de fogo, Caixinha do meu chorar! Viola, bordao de prata, Vida violeta, violeta Prima, coragao me mata, Poetal Poeta! Poeta! Lisboa, 1950, pp. 77-79. 437 MANUEL MORUIS APENDICE 1 Livro dos Regimentos dos officiaes mecanicos da mui excelente ¢ ‘Sempre leal Cidade de lixbonta refromados per ordenanga do Mlustrissimo Senado della pello Licenciado Duarte nunez do liam Anno MDLxxij" [F. 157] CAP, XLI. DO REGIMENTO DOS VIOLEIROS* No mes [de] Janeiro de cada hu anno os offigiaes do offigio dos violei- ros se ajuntarad em huma casa que elles para isso ordenarem. E os juizes do dito offigio que entad acaba6 com seu escriuad presente daraé jura- mento dos sanctos evangelhos a todos os que presentes forem que bem e verdadeiramente sem odio nem affeigad deem cada hum sua voz a dous homens que aquelle anno had de seruir de juizes e examinadores do dito officio. E sendo assi dado juramento aos ditos offigiaes. Os ditos juizes com o escriuaé se apartarad para hum cabo da dita casa onde tera6 posta hwma mesa, ¢ asy perguntaraé a cada hum dos ditos offigiaes per si sob cargo do dito juramento que recebera6 a quem dad sua voz para aquelle anno vindouro seruirem de juizes ¢ examinadores do dito officio. E 0 que cada hum disser en segredo 0 escriuaé o escreueraa. E acabado assi de perguntar os ditos offigiaes elles juizes alimparaé a pauta com o dito escriuad, E em outro papel poerad per letra aquelles dous offigiaes que mais votos teuerem para aquelle anno seruirem de juizes e examinadores do dito officio. 1. E pela mesma maneira ¢ no dito dia que elegerem os ditos juizes ¢ exa- minadores clegera6 outro official do dito offigio por escriuaé para scruir aquelle anno cont os juizes. E depois de os ditos juizes ¢ escriuad assi serem eleitos iraé aa Camara para Ihes ser dado juramento dos sanctos evangelhos que bem ¢ verdadeiramente [f. 157v] siruad seus cargos. E para os assentarem no liuro da Camara como he costume, E aqueles jui- zes examinadores ¢ escriuiad que com esta solenidade nad forem eleitos nad usarad dos ditos cargos sob pena de qualquer que 0 contrario fezer do tronco pagar mil reis a metade para as obras da cidade e a outra para quem 0 accusar 2. Eo offigial que sair por examinador hum anno na6 seruira o mesmo cargo dahi a tres annos contados do dia em que acabar seu anno. E pela 101. P-Lisbos, Arquivo Histérico da Cimara Municipal de Lisbos, cod. 35. 102. A margem: « Hsta conferido este Regimento ¢ 0 seu acrecenftajmento vai no Livro delle fothas 131, D Lima.» 438 NASS.XXIT A VIOLA DE Mo EM PORTUGAL mesma maneira o que sair por escrindo, saluo sena houuer outra pessoa do dito offigio que sayba escreuer porque entad poderaa seruir ate outra eleigad em que 0 aja. 3. E nenhuma pessoa assi natural como estrangeiro que do dito offigio dos violeiros quiser usar ¢ poer tenda o poderaa fazer sem primeiro ser examinado pelos examinadores que para isso saé eleitos. 0 qual exame se fara em casa de hum dos ditos examinadores qual elles entre si ordena- rem a que elles serad presentes para que vejaé se o tal offigial faz obra conueniente per que mereca ser aprouado. 4. E 0 official do dito officio que tenda houver de ter faraa hwma viola de seis ordens de costilhas de pao preto ou vermelho laurada de fogo muito ‘bem moldada e laurada tampaé e fundo de duas metades-ss- [isto é] junta pelo meo muito bem feita e marchetada com hum marchete de oito € outro de quatro muito bem feitos e pelo pescogo arriba leuaraé hum rotu- Jo ou huma trena com humas encaixaduras com seus remates e seraa gru- dada com grude de pexe fundo e tampad, ¢ sera forrada per dentro com forros de panno. Item faraa hum lago de talha fundo ou raso muito bem feito. Item regrara muito bem a dita viola e a limpara e per esta maneira seraa acabada. Item encordoara a dita viola muito bem segundo pertenger ao tamanho della, a apontara, e afinara de maneira que possad nella tanger: [€, 158] Item faraa humm taboleiro de xadres e tauolas acostumado muito bem desempenado que seia para passar cont as casas do taboleiro muito bem assentadas. Item faraa hua arpa do tamanho que quiserem bem laurada e bem junta e bem grudada com grude de pexe e de boont compasso das cordas que naé vaé humas mais largas que outras. Item faraa hua viola darco tipre ou contrabaxa qual quiserem laurada de fogo ¢ do tampaé cauado de muito boa grossura toda igoal e da regra gue venha conforme ao caualete que naé scia muito alto nem muito Baixo. 5. E.a0 que assi for examinado na maneira sobredita ¢ for hauuido por habil e pertengente para poer tenda Ihe passaraé sua carta de examina- a6 assinada pelos cxaminadores ¢ feita pelo escriuad de seu cargo. A gual leuaraé aa Camara para laa ser vista ¢ confirmada ¢ se registrar no Iiuro em que as taes cartas se registra6™. 103. A margem ¢ entrelinhado: «onde o scriuant da Camfara] dara juramento ao dito novo offesial que bem e Verdadeiramente fassa seu officio e sem emgano das partes © do} «qual juramento se fara asento na dita carta asignada pela dito Eserivarn.» NASS.XTT 439 MANUEL MORUIS 6. Da qual examinacad o offigial que assi examinar pagaraa trezenttos reais sendo estrangeiro seiscentos reis de que sera6 as duas partes para as despesas do dito officio e a terga parte para os examinadores 7. E qualquer violeiro que daqui endiante tenda poser sem primeiro ser examinado da maneira sobre dita seraa preso e da cadea onde jaraa quin- ze dias pagaraa dous mil reais a metade para as obras da Cidade e a outra para quem o accusar: Ea mesma pena hauera qualquer official na6 sendo examinado que tomar obra do dito officio para fazer fora da tenda do official examinado. 8. E quando algum official do dito offigio se poser a examinar senad sou- ber fazer as sobreditas pecas os ditos examinadores o nad examinarad € The mandaraé que vaa aprender. E do dia que se poser a atal examinaga6 a seis meses 0 nad tornarad a examinar. E passados os ditos seis meses entad se poderaa poer outra uez. a examinagaé [[. 158v] ¢ sendo apto Ihe passara6 sua carta, E nad o sendo o tornara6 outra vez.a mandar apren- der outros seis meses. E assi o faraé tantas vezes, quantas acharem que nao sabe fazer como deue as pecas de sta examinagad. E os examinado- res que assi nad fezerem e antes do dito tempo o tornarem a examinar pagarad dous mil reais a metade para as obras da cidade ¢ a outra para quem 0s accusar: 9. E sendo caso que os ditos examinadores fauorauclmente, ou por peita, ou por qualquer respeito, ou malicia derem por suffigientes aquelles que onaé forem, ¢ lhes derem lugar que ponhaé tenda da cadea onde estaraé ‘rinta dias pagaraa cada hum quatro mil reais a metade para a Gidade & a outra para quem os accusar: 10. E 0s examinadores do dito olfigio naé examinaraé scus filhos, paren- tes, cunhados, ou criados, e quando qualquer dos sobreditos se quiser examinar fara peti¢ad aa Camara para lhe ser dado hwmn dos juizes do anno passado qual aa cidade bem pareger para o examinarem [no] lugar do examinador suspeito. E qualquer dos examinadores que 0 contrario fezer pagaraa dous mil reis a metade para a cidade e a outra para quem © accusar. E a tal examinaga6 naé seraa valiosa 11. E serad auisados os ditos examinadores que nenhur per si soo exa- mine official algumn senad sendo ambos juntos sob a mesma pena. 12. Item mandaé que os violeiros que tenda teuerem fagad as violas de seis orden de duas costilhas. E seiad forradas com piofis ou lengos. E os lagos dellas de talha seiaé de folha. E se os quiserem fazer no tampad sciad forradas de purgaminko, 440 NASS.XXIT A VIOLA DE Mo EM PORTUGAL 13. Eos juizes do dito offigio tera6 cargo de trinta en trinta dias visitar as tendas dos offigiaes e fazer correigaé com o escriuiaé de seu offigio. E asi todas as mais vezes que necessario Ihes parecer [f. 159] ¢ as obras que acharem que naé sa6 feitas como deuem tomaraé e lenarad aa Camara!™ para se fazer nisso o que for justica e se dar o castigo ao offigial confor- me aa culpa que the for achada. E esta diligengia faraé sem o dia, nem affeigad nem outro algum modo ou especie de maligia. E os juizes que nas ditas obras engano ¢ falsidade acharem e a dissimularem per qual- quer via que seia, ¢ nad fizerem diligengia para fazer a dita execucad con- tra os culpados pagaraé dez.cruzados a metade para as obras da cidade ¢ a outra para quem os accusar: 14, E manda6 aos officiaes do dito offigio que quando quer que os ditos juizes chegarem a suas tendas para Ihas visitarem lhe obede¢ao ¢ lhes mostrem as obras de seu offigio que quiserem para verem se ha algunas mal feitas, e como na6 deuem para se fazer nellas execugaé sob pena de qualquer que desobediente for, a cidade Ihe dar por isso o castigo que Ihe bem parecer. E da desobediencia que o tal official cometter contra os ditos juizes ou cada hum delles o dito escriuaé faraa auto ¢ 0 leuaraa aa Camara para se nella ver e maridar o que for justiga 15. E qualquer official que for chamado por parte dos ditos juizes e exa- minadores para algum ajuntamertto, ou para ver algumas obras sobre que aja differencia e for reuel e nad vier pagaraa duzentos reis para as despe- sas do dito officio em a qual pena os mesmos juizes o condenaraé dan- dolhes fee o escriuaé do dito offigio ou outro qualquer que requereo o tal official sob a dita pena que viesse perante os ditos juizes. Ea mesma pena haueraé os juizes ou cada hwm delles que sendo chamados para algum ajuntamento naé vierem, 16. E nenhum offigial do dito offigio sera tad ousado que tome nem recolha em sua casa aprendiz nem obreiro que esteuer com outro official, emauanto durar 0 tempo que 0 tal obreiro ou aprendiz for [f. 159v] obri- gado a estar com seu amo, nem lhe fallaraa nem mandaraa fallar per outrem sob pena de qualquer que contrario fezer pagar{aa] dous mil reis a metade para as obras da cidade, ¢ a outra para quem o acusar, Eo tal obreiro ou [alprendiz tornara para casa de seu amo. 17. E per este mandaé aos almotacees das execugoes, meirinho da cida- de ¢ alcaides della que hora sa6 ¢ ao diante forem que sendo requeridos pelos ditos juizes por alguma cousa que seia necessaria para compri- 104. Amargem, com chamada ao texto: ve lewarain aos (..] motaceis das [..] eussoens NASS.XTT 441 MANUEL MORUIS mento e execugad do que toca a este regimento Ihe acudaé com dilligen- cia € fagad nosso justia 18. E manda6 outrossi a qualquer porteiro do congelho e homens dos aleaides desta cidade que sendo requeridos pelos ditos examinadores para fazerem algwmra execugad de senca ou mandado dos Almotacces ou qualquer outra cousa que outrosi toque a comprimento e execugad deste regimento o cumpraé ¢ Ihes seiad obedientes, E nad o fazendo assi a cida- de Ihes dara castigo que merecerem. [F. 160] CAP. XLII. DO REGIMENTO DOS QUE FAZEM CORDAS DE, ‘VIOLA No mes de Janeiro de cada hum anno os officiaes de fazer cordas de vio~ las e os violeiros que de as fazer forem examinados, se ajuntarad em hua casa que elles para isso ordenarem e os juizes que entad acabad com seu escriuaé daraé juramento dos sanctos evangelhos a todos os que presente forem que bem ¢ verdadeiramente sem odio nem affeicas dee cada hum sua voz. a dous homens que quelle anno had de seruir de juizes ¢ examinadores do dito officio - ss - hum offigial do dito officio de fazer cordas ¢ a hum violeiro que de as fazer for examinado. E naé hauendo en cada hum dos ditos offigios hum official que seia suffigiente para ser juiz em tal caso se farad ambos os juizes de qualquer banda dos ditos officios ou ambos cordociros, ou ambos violeiros que seiad examinados de fazer cordas. E sendo assi dado juramento aos ditos offigiaes, os ditos juizes com o escriuaé se apartaraé para hum cabo da dita casa onde terad posta hua mesa, ¢ asy perguntaraé a cada hunt dos ditos offigiaes per si sob cargo do dito juramento que regeberad, a quem dad sua voz. E.o que cada hwm disser en segredo o escriuad o escreuera: € acabado assi de pergun- tar os ditos offigiaes elles juizes alimparad a pauta com o dito escriuad ¢ en outro papel poeraé per letra aquelles dous offigiaes que mais votos teuerem para aquelle anno seruirem de juizes ¢ examinadores do dito officio. 1. E no dito dia que clegera6 os ditos juizes elegerad outro offigial por escriuaé para seruir aquelle anno com os juizes. E assi mesmo elegerad hum offigial do mesmo offigio para comprador que compre os fios no 105. A margem: «Nam se obserua 0 gue hoje se uza vai no Livro dos aCrecentamentos dos Regimentos s folhas 155.» 442, NASS.XXIT A VIOLA DE Mo EM PORTUGAL curmal. E os reparta pellos offigiaes. E despois de os ditos offigiacs assi serem cleitos ira6 aa [f. 160v] Camara para Ihe ser dado juramento dos sanctos evangelhos que bem ¢ verdadeiramente siruad seus cargos ¢ para os assentarem no liuro da Camara com he costume. E aguelles juizes ¢ examinadores, comprador e escriuaé que com esta solenidade nad forem eleitos nad usaraé dos ditos cargos sob pena de qualquer que 0 contrario fezer do tronco pagar mil reis a metade para as obras da cidade e a outra para quem o accusar: 2. E nenhuma pessoa assi homem como molher ¢ assi natural como estramgeiro que do dito officio quiser usar o poderaa fazer sem primeiro ser examinado pelos ditos examinadores que para isso sad eleitos. O qual exame se fara em casa de hum dos ditos examinadores que elles entre si ordenarem a que elles seraé presentes, para que veja6 se 0 tal official faz obra conueniente per que mereca ser aprouado. E 0 examinador en cuja casa se fezer o exame dara liuremente toda a louga ¢ aparelho que for negessario para se fazer o dito exame 3. B todo 0 offigial que do dito offigio de fazer cordas quiser usar saberaa muy bem laurar e cortir em decoadas limpas e bem temperadas de tal maneira que naé sejad tad fortes que as queimem nem tad brandas que apodresad nellas: as quaes decoadas se faraé sempre em casa do exami- nador em cuja casa se faz 0 exame. Item saberaa fazer hum mago de cordas delgadas muito bem cortida em decoadas muito limpas e bem temperadas de maneira que despois de fei tas scjad muito rijas ¢ boas. Item saberaa fazer grosso para tanger assi violas de mao como violas de arco. E arpas em que entrarad quartas de dous fios ate bordad de vinte fios acrescentando na grossura dous fios a cada corda. O qual grosso se traceraa na roda ate bordaé de dous fios que naé tenha noo algwm. E outro se faraa nos cambos de pedacos muito bem feito ¢ torcido de tal maneira que despois de acabado fique muito igual sem lombo nenhum nem outro algunt defeito como convem para tanger. [£, 161] Item saberaa fazer hum bordad para cutelleiro de cem fios de grossura ¢ hud corda para torneiro de cincoenta fios e outra para som- breireiro de dezasseis fios. E estas tres cordas com todas as mais que se fezerem nos cambros sera6 todas feitas de pedagos que os ditos exami- nadores lhe apartara6 para isso. as quaes seraé muito bem lauradas e poi- das de maneira que despois de acabadas na6 aleuantem ponta algua nem tenhaé lombo per onde se cortem nem outro algum defeito, NASS.XTT 443 MANUEL MORUIS 4. E aos que as taes cordas souberem fazer perfeitamente lhes passaraé sua carta de examinaca6 assinada pelos examinadores feita pelo escriuiad de seu cargo. A qual leuaraé aa Camara para la ser vista ¢ confirmada ¢ se registrar no Livro em que as tres cartas se registra6, 5. Daqual examinagaé o offigial que se assim examinar pagara a trezen- tos reais e sendo estrangeiro seiscentos reais de que serad as duas partes para as despesas do offigio e a terca parte para os examinadores, 6. E qualquer official que dito offigio usar sem primeiro ser examinado da maneira sobredita seraa preso e da cadea onde jaraa quinze dias pagaraa dous mil reais a metade para as obras da gidade ¢ a outra para quem 0 7. E quando algum official do dito offigio se poser a examinar senad sou- ber fazer o que se conteem em seu exame os ditos examinadores 0 nad examinaraé ¢ Ihe mandaraé que vaa aprender e do dia que se poser aa tal examinacad a dous meses 0 nad tornaraé a examinar ¢ passados os ditos dous meses entaé se poderaa poer outra vez a examinagad e sendo apto Ihe passarad sua carta e na6 o sendo o tomarad outra vez a mandar aprender outros dous meses. E assim o farad tantas vezes quantas acha- rem [f. 161v] que nad sabe fazer como deve 0 que se conteem em seu exame. Eos examinadores que o assirt naé fizerem ¢ antes do dito tempo © tornarem a examminar pagarad dous mil reais a metade para a cidade © a outra para quem os accusar. 8. B sendo caso que os ditos examinadores fauorauelmente ou por peita ou por qualquer respeito ou malicia derem por suffigientes aquelles que nad forem e lhes derem lugar que ponhaé tenda da cadea onde estarad trinta dias pagaraaa quatro mil reis a metade para a cidade e a outra para quem os accusar. 9. E08 examinadores do dito offigio na6 examinaraé seus filhos, paren- tes, cunhados, ou criados. E quando qualquer dos sobreditos se quiser examinar fara petigad aa Camara para lhe ser dado hum dos juizes do anno passado qual aa cidade bem pareger para o examinar em lugar do examinador suspeito. E qualquer dos examinadores que o estrangeiro fezer pagaraa dous mil reais a metade para as obras da cidade e a outra para quent o accusar: E a tal examinagad nao seraa valiosa 10. E serad avisados os ditos examinadores que nenhum per si soo exa mine official algum senaé sendo ambos juntos sob a mesma pena. 11. E mandaé que nenhwn official faca cordas algumas de vista de fios de ouelhas nem de cabras nem de bodes, mas todas as que fezerem assim 444 NASS.XXIT A VIOLA DE Mo EM PORTUGAL delgadas como grossas sciaé de fios de carneiro. nem as faraé fendidas. E 0 que o contrario fizer pagaraa mil reais a metade para as obras da gidade e a outra para quem o accusar. E as cordas seraé queimadas como falsas ¢ enganosas, [£, 162] 12. Todalas Cordas que fezerem para tanger assim delgadas como grossas andara6 tam limpas nas decoadas que despois defeitas nad ten- ha6 cheiro algum mao de mal cortidas ou mal passadas. E sera6 todas fei- tas em verdideiras de hum comprimento que tenha cada huma tres varas de comprido. E todas as outras cordas grossas de qualquer maneira que seiaé que naé forem para tangerem com ellas sera6 de seis varas de medir de comprido cada huma, eo mago das cordas tera gem trastos cada hum © 0 official a que forem achadas de menos comprimento, ou magos de menos trastos pagaraa mil reais a metade para as obras da cidade e a outra para quem o accusar e perderaa as cordas que se aplicaraé para a mizericordia E porque as mais pessoas que o dito offigio usa6 sad molheres ¢ seraa Inconueniente naé se acharem homens que sciaé juizes ¢ examinadores para metter 0 offigio em ordem, manda6 que daqui em diante quando alewra molher casada com violeiro se quiser examinar do dito officio de fazer cordas nad vse delle sem seu marido ser tambem examinado. E a gue 0 contrario fezer pagaraa mil reaes a metade para as obras da Cida- de e a outra para quem a accusar. E todas as mais molheres assim soltei- ras como casadas poderaé ser examinadas ¢ usar do dito offigio liure- mente, ajnda que seus maridos naé seiaé delle examinados, 13. Eos juizes do dito officio teraé cargo de trinta em trinta dias visitar as tendas dos officiais ¢ assim as dos tendeiros que vendem cordas e fazer correigad com o escriuad e assim todas as mais vezes que necessario Ihes parecer ¢ as cordas que acharem que naé sai feitas como devem toma- rad e levarad aos almotacees para se fazer nisso 0 que for justiga. E se dar © castigo ao offigial conforme a culpa que for achada. E esta diligengia farad sem odio nem affeigad nem outro algum modo ou especie de mali- Gia © 0s juizes que nas ditas cordas engano ¢ falsidade acharem ¢ a dessi- mularem per qualquer via que seia e nad fezerem diligengia para se fazer a dita execuga6 contra os culpados pagaraé dez cruzados a metade para a cidade e a outra para quem os accusar. 14. E manda6 aos officiaes do dito officio que quando quer que os ditos juizes chegarem a suas tendas para Ihas visitarem Ihes obedecad ¢ Ihes mostrem as cordas que teuerem para verem se ha algumas malfeitas € como nao deuem para se fazer nellas execucad sob pena de qualquer que NASS.XTT 445 MANUEL MORUIS desobediente for a cidade Ihes dar por isso 0 castigo que Ihe bem parecer € da desobediencia que o tal official commetter contra os ditos juizes ou qualquer delles o dito escrivad faraa auto ¢ o leuaraa aa camara para se nella ver e mandar o que for justica [E. 162v] 15. E para que antre os offigiaes do dito offigio nad aja differen- ga sobre o comprar dos fios no curral. Mandas que o comprador que ele- gerem os reparta entre todos igoalmente, A qual repartigad faraa quatro veres cada dia aas horas que todos assentarem entre si per mancira que aja entre elles aja concordia e qualquer official que leuar os ditos fios sem partilha e sem ligenca do comprador ou der mais por elles aos esfolado- res do que daa o comprador para os leuar sem partilha pagaraa dous mil reais a metade para a cidade e a outra para quem o accusar eo compra- dor que leuar mais fios dos que The couberem em seu quinhao pagaraa a dita pena em dobro 16. E nenhum offigial do dito offigio que nad usar posto que examinado seia poderaa hauer quinhaé das ditas cordas nem trespassalo a outro ¢ 0 que contrario fezer pagaraa a pena acima dita. 17 E porque sad informados que alguns officiaes do dito offigio mandad de noite e de dia ao curral comprar os ditos fios escondidamente ¢ os Jeua6 sem partilha de tal maneira que huns sena6 tudo e outros nada. Mandaé a todos os esfoladores que nenhum venda fios alguns aos ditos officiaes nem a criados seus nem lhos guardem escondidamente para que os leuem sem partir e os dara6 todos ao comprador para que os parta entre todos os offigiaes igoalmente como dito he e qualquer esfolador que os vender a algum dos outros offigiaes pagaraa do tronco dous mil reais a metade para as obras da cidade e a outra para quem 0 accusar: 18. E porque os ditos offigiaes se quexauad que os esfoladores Ihes par- 1a6 08 fios no curral de noite e Ihes fazia6 de cada fio dous ¢ lhes mestu- rauad fios de ovelhas e bodes como os de carneiro ¢ lhos vendiaé todos por de carneiro. Mandaé que nenhum esfolador / seia tam ousado [f. 163] que parta nem mesture fios alguns que os de carneiro ¢ os tire inteiros como sempre se costumou, ¢ qualquer que os partir ou mesturar como dito he do tronco pagaraa dous milreais a metade para as obras da cida- de e a outra para quem o accusar: ¢ a mesma pena haveraé os offigiaes do dito officio triparas esfolladores que tirarem pontas ou as consentirem tirar. 19. E qualquer offigial que for chamado por parte dos ditos juizes para algum ajuntamento ou para ver algumas cordas sobre que aja differenca ¢ for reuel nad vier pagaraa dozentos reais para as despesas do dito offi- 446 NASS.XXIT A VIOLA DE Mo EM PORTUGAL gio em a qual pena os mesmos juizes o condenaraé dando Ihes fee 0 escriuaé do dito offigio, ou outro qualquer que requereo 0 tal official sob a dita pena que viesse perante os ditos juiizes. ¢ a mesma pena haveraé os juizes ou cada hurr delles que sendo chamados para algumt ajuntamento 20. E nenhum offigial do dito offigial sera ta6 ousado que tome nem recolha em sua casa aprendiz nem obreiro que estiuer do outro offigial em quanto durar 0 tempo que o tal obreiro ou aprendiz for obrigado a estar como seu amo, nem Ihe fallara nem mandara fallar per outrem, sob pena de qualguer que 0 contrario fezer pagar dous mil reais a metade para as obras da cidade e a outra para quem 0 accusar, ¢ 0 tal obreiro ou aprendiz, tornaraa para casa de seu amo. 21. E per este mandaé aos almotacees das execugoes meirinho da cidade e alcaides della que hora sa6 ¢ ao diante forem que sendo requeridos pelos ditos juizes por alguna cousas que seia necessaria para compri- mento ¢ execucad do que toca a este regimento thes acudaé com diligen- gia € fagas nisso justica: [f, 163v] 22. E mandad outrosi a qualquer porteiro do congelho € homens / dos alcaides desta cidade que sendo requeridos pelos ditos examinado- res para fazerem alguma execucaé de tenga ou mandado dos almotacees, ou qualquer outra que outro si toque a comprimento ¢ execugad deste regimento o cumpraé e Ihes sera obedientes. ¢ nad o fazendo assi a gida- de Ihes dara por isso 0 castigo que merecerem: Aos vinte ¢ hum dias do mes de maio de mil seiscentos ¢ quinze anos nesta cidade de lisboa na camara da vereaga6 della sendo presentes o pre- sidente vereadores procuradores da cidade, e mesteres della e francisco Rabello juiz do civil, e martim pereira juiz do crime e abaixo asignados por todos foi asentado ¢ fixado taxa ¢ postura que da publicagaé deste em diante nao valha mais cada fio de carneiros. que tres reais ¢ cada fio de cubarros que real e meo de cada fio de cucio dous reais, sob pena de quem 0 contrario fizer e por mores presos vender os ditos fios, pagar da cadea dous cruzados a metade e para as obras da cidade, e a outra para quem os acusar de que os mandou fazer esta postura, ¢ acrescentares este capitad a este regimento dos que fazem cordas de viola para se guardar ¢ cumprir e Iangar esta taxa no livro das posturas e titulo dellas, e esta se apregoara pellos lugares publicos e costumados pera uir a noticia de todos se dara a execucad. fernad borges o screui. [com onze rubrica] NASS.XTT 447 MANUEL MORUIS APRNDICE 1a: Livro primeiro dos acrecentamentos dos Regimentos dos offegiais desta muito nobre e sempre leal Cidade de Lisboa e tresladado no ano de 1712" [E. 131] Acrescentamento do Regimento do offigio de violeiro Petigad dos violeiros ¢ despacho respostas nellas postos Senhores Dizem os Juizes do officio dos violeiros e mais officiais abaixo asignados que em 0 dito offigio ha huma Madeira por nome til a qual estaua em conserto e costume antigo entre offigiais a tal madeira senad uzasse por- que he muito prejudicial ao povo ¢ emganoza para quem compra a obra gue della se fas por quoanto naé gruda e tem roim cheiro e por que hora alguns ofliiais uzaé della ¢ sendo reprehendidos pelos juizes do offigio respondem que pois o Regimento do dito offigio o nad defende que ande laurar e porque quoando se fez 0 seu Regimento senaé costumaua laurar antes corrad os offigiais antigos de a tomar na maé pello roim cheiro que tem., [ ? ] visto esta madeira de til senaé laure no dito officio nem facaé della obra com pena de des cruzados para as obras da cidade e a obra seja que brada ¢ 0 tal mandado de vossas merges seja tresladado em regi- mento no que receberaé justiga e merce. Despacho Respondaé os violeiros que nesta peti¢ad na6 estad asignados a vinte e quatro de Outubro de mil ¢ quinhentos nouenta ¢ seis = 0 Prezidente = Andre Velho = Henrique da Silva = Gregorio de Morais Resposta Satisfazendo ao despacho de vossa senhoria os juizes do offigio dos vio- leiros que elles derad vista da petigad e despacho aos officiais [f. 131v] 106, P-Lisbos, Arquivo Histérico da Cimara Municipal de Lisboa, cod. 36 448, NASS.XXIT

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