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DISTURBIOS DA APRENDIZAGEM SUMARIO INTRODUGAO. 2 CAPITULO 1 - DEFINICOES DESCRITIVAS.. ee 9 a) CAPITULO 2 ~ TEORIAS DE APRENDIZAGEM E AS DIFICULDADES ESCOLARES CAPITULO 3 - OS DISTURBIOS DA LINGUAGEM 8 CAPITULO 4 — DISTURBIOS DE LEITURA E ESCRITA: Dislexia, Disortografia Disgrafia 2 CAPITULO 5 — DISCALCULIA E AS DIFICULDADES COM MATEMATICA. 16 CAPITULO 6 - TRANSTORNO DE DEFICIT DE ATENCAO COM HIPERATIVDADE (TDAH). 19 CAPITULO 7 - TRANSTORNOS QUE INTERFEREM NAS HABILIDADES SOCIAIS (AUTISMO E ASPERGER), 23 CAPITULO 8 — DIFICULDADES ESCOLARES DE ORIGEM COMPORTAMENTAL E EMOCIONAL 28 CAPITULO 9 — INTERVENCOES: NEUROPSICOLOGIA E PSICOPEDAGOGIA .....34 CAPITULO 10 - A ESCOLA E OS DISTURBIOS DE APRENDIZAGEM. .....0.000.038 CONSIDERAGOES FINAIS.....cornninisnsnnnnnnnnmnnnnnnnnnnnnnennnennnl BIBLIOGRAFIA.... 42 INTRODUGAO Desde a publicacao da Lei de Diretrizes e Bases da Educacao de 1996, a escola de ensino regular tem recebido todas as criangas em idade escolar. Com o aumento na quantidade de alunos, aumentou também o grau de diversidade dentro da escola. Além disso, nos tiltimos anos, as novas geragées tém crescido com uma grande quantidade e variedade de informagées, por conta do avango nas tecnologias digitais. Todas essas questées influenciaram o novo contexto escolar, no qual existem alunos com ritmos e formas de aprendizagem diferentes, com interesses diferentes e bagagens cognitivas e culturais também diferentes. Assim, problemas de adaptagao escolar e de aprendizado estéo ganhando fora, na mesma propor¢ao em que os estudos sobre as dificuldades tém crescido e se ampliado, Nesse contexto, o professor acaba por lidar todos os dias com diversos distirbios e dificuldades de aprendizagem. Esse professor, muitas vezes se sente inseguro diante desse quadro, ainda desconhecido, de uma forma geral. Como nao s6 os. distirbios variam em quantidade e intensidade, mas também as suas manifestagées, ensinar diante desse problema ¢ algo delicado e que inspira temor no professor. Atualmente, os educadores tém consciéncia de sua responsabilidade diante desses problemas e também tém o discernimento de saber que suas acdes iro interferir diretamente nesse quadro. Sendo assim, o melhor que educadores e pais devem fazer em relacdo aos disturbios 6 se informar e procurar ajuda de profissionais adequados. Neste estudo, iremos tentar descrever ao maximo as caracteristicas dos principais distiirbios de aprendizagem da escola de ensino regular atual. Descreveremos os sinais de alerta, os profissionais que podem diagnosticar e tratar esses distirrbios e a participagao da familia e da escola nesse tratamento. CAPITULO 1 - DEFINIGOES DESCRITIVAS, Quando pensamos na escola, podemos notar que muitas criancas tém problemas para aprender, para se adaptar, para se sentirem integradas e acolhidas. Na realidade atual, a escola tem tentado ensinar, de modo justo, a todos os alunos que recebe. Porém, com a grande diversidade do seu publico, essa tarefa tem sido bastante trabalhosa, j4 que além de atender muitos alunos, estes também apresentam ritmos de aprendizagem diferenciados. Com a grande quantidade e variedade de alunos que a escola recebe, os educadores comegam a identificar dificuldades e problemas de varios niveis que interferem no progresso de alguns alunos. Antes de se encaminhar para uma intervencdo, 0 educador precisa ter algumas informagdes sobre essas dificuldades, entdo, é importante que diferenciemos os conceitos antes de nos. aprofundarmos mais especificamente nos disturbios. Vamos ver as diferencas conceituais entre dificuldade, disturbio e deficiéncia (BRASIL, 2003): * Dificuldade de aprendizagem: inadequagao de rendimento, sem déficit cogritivo, prejuizo sensorial, mental ou fisico. Geralmente tém problemas de atencdo, baixa autoestima, dificuldades de meméria, problemas linguisticos, atrasos motores; * Distirbio de aprendizagem: sao caracterizados por problemas neurolégicos. O cérebro funciona de um modo que perturba a relagao com a oralidade, a escrita, 0 raciocinio légico ou outros fatores. Exemplos: dislalia, dislexia, disgrafia; * Deficiéncia de aprendizagem: incapacidade intelectual acentuada, geralmente com algum grau de retardo mental e comprometimento cognitive, motor e social; isso causa um atraso no aprendizado e desenvolvimento do aluno. Visto isso, podemos entender que existe problemas que podem ser resolvidos dentro da escola, j4 que estéo ao alcance desta, porém, existem outros que fogem da responsabilidade da escola e precisam de uma intervengdo que envolva nao s6 um diagnéstico, mas o tratamento de uma equipe multidisciplinar. No presente trabalho, iremos enfocar os disturbios e dificuldades de aprendizagem que sao citados nos principais manuais, escritos cientificos e publicagdes que servem de base para programas educativos e de intervengao psicoeducativa, Assim, selecionamos os seguintes tdpicos como os mais ocorrentes e significativos no processo de ensino-aprendizagem atual: * Dificuldades na aprendizagem da leitura e escrita (DALE); * Dificuldades com a Linguagem; * Psicologia e dificuldades de aprendizagem; + TDAH (Transtorno de déficit de atencao com hiperatividade); * Transtornos Neuropsicologicos. Além dessas dificuldades, relacionadas a fatores biolgicos, fisicos e genéticos, incluiremos nos nossos estudos os problemas de aprendizagem relacionados as questdes comportamentais, psicolégicas, as habilidades sociais ou emocionais. Mesmo esses problemas nao sendo encaixados na classificagdo dos disturbios, ainda assim s&o dificuldades, como explicamos acima, e precisam ser abordados, até mesmo para analisarmos todos com mais discerimento e informagdes. Entre estes, podemos citar: + Transtoros de ansiedade; * Depressdo infantil e juvenil; + Traumas emocionais e psicolégicos; * Dificuldades com as habilidades sociais. E fundamental incluir essas questdes dentro do estudo das dificuldades escolares, j& que mesmo que a crianca ou adolescente tenha um disturbio diagnosticado e precise de intervencao em relagao a ele, isso nao signifique que esse distiirbio no venha acompanhado de problemas emocionais e/ou comportamentais. Assim, seguiremos em nossos estudos. CAPITULO 2 - TEORIAS DE APRENDIZAGEM E AS DIFICULDADES ESCOLARES Para comentarmos as dificuldades de aprendizagem é necessério que estudemos as concepgées e modelos que envolvem esse processo. Nem todas as dificuldades ou disturbios de aprendizagem na crianca tém origem genética ou biolégica. Muitos problemas surgem no meio em que a crianga cresce e este meio inclui a familia e a escola. Por isso, qualquer tratamento ou intervengao em relagao a um disttirbio especifico, deve considerar fatores sociais. Sendo assim, os modelos e teorias sobre dificuldades de aprendizagem que descreveremos aqui envolve varios aspectos do desenvolvimento humano: genético, neurolégico, cognitivo, emocional, psiquico, social, entre outros. Mas antes da apresentagdo de qualquer modelo, precisamos entender o que é aprendizagem. Existem diversos conceitos sobre a aprendizagem. Basicamente, aprender é adquirir conhecimento, habilidades, valores, experiéncia em algo. Temos a principio, duas bases de aprendizado: o empirismo e o inatismo. O Empirismo € uma concep¢o na qual o individuo aprende e se desenvolve influenciado pelo meio em que vive e seus estimulos, ou seja, a aprendizagem se da pela experiéncia. A educagao empirista se basela no meio, nos objetos e nas variaveis que esse meio apresenta, A imitagdo também é componente importante desse aprendizado, jé que muitas agdes sdo aprendidas assim (NUNES & SILVEIRA, 2015). Essa concepgao influenciou a Psicologia Comportamental e seus estudiosos, que acreditam que o aprendizado se da pelas respostas do organismo vivo aos. estimulos do meio. O conceito de aprendizagem para essa area da psicologia é, portanto, definido para todos os seres vivos. Para a Psicologia Comportamental, aprendizado é uma mudanga significativa no comportamento do individuo, E quanto ao comportamento, essa teoria o divide em dois tipos: > Comportamentos Reflexos ou Respondentes: séio comportamentos inatos, ou seja, nascemos sabendo como fazer, por exemplo: piscar, salivar, deglutir, chorar, sortir. Esses comportamentos sao involuntarios (a gente nao controla), so comuns a todos na espécie e nao variam de pessoa para pessoa (todos piscamos da mesma forma, por exemplo); > Comportamentos Operantes ou Aprendidos: sdo os comportamentos que precisamos aprender, por exemplo: andar, falar, dancar, digitar. Eles so controlaveis (decidimos quando comegam e terminam), variam de pessoa para pessoa e nem todos aprendem. Para essa teoria, chamada também de Behaviorismo, quanto mais estimulos 0 organismo receber do meio mais ele aprendera. Esse processo, chamado condicionamento, se efetiva através da apresentagdo de estimulos as agées, também chamados de Reforcos. Sdo eles: * Refor¢o positivo (positive no sentido de aumentar a chance de ocorrer 0 operante), 0 comportamento tende a aumentar ou se intensificar com o estimulo apresentado. Por exemplo, quando elogiamos alguém que esta dangando, essa pessoa tende a se motivar e continuar a dancar; * Reforco negativo, por outro lado, o estimulo tende a diminuir ou extinguir © comportamento. Por exemplo, se uma crianga, ao perguntar para o professor alguma questdo ¢ respondida com aspereza ou é ridicularizada, a tendéncia é essa crianga nao repetir ou diminuir suas perguntas. E o Condicionamento Operante, no qual reforgamos ou extinguimos comportamentos através de estimulos (MOREIRA, 2011). Dessa forma, qualquer dificuldade de aprendizagem, no behaviorismo, sera tratada com a apresentago de estimulos adequados e um meio cheio de recursos. Nas concepgdes empiristas, salvo algumas excegdes, os problemas de aprendizagem so originados no meio ¢ devem ser resolvidos por meio dele. Se formos pensar em uma aprendizagem universal, para todos os seres vivos, veremos que os processos mais fundamentais da inteligéncia sao de natureza biolégica, estdo presentes em qualquer ser vivo. Existe uma relacao intima entre 0s fundamentos fisiolégicos e anatémicos e a inteligéncia. A concepgao Inatista considera o fator genético e 0 hereditario como fundamentais para a aprendizagem. Isso significa que uma crianga ja nasce com um tipo de inteligéncia, herdada, e que a mantera por toda a vida. O meio no qual a crianga vive, cresce e se desenvolve tera uma participagdo secundaria em sua aprendizagem, nessa corrente de pensamento, as dificuldades (no geral) surgem na parte genética e pouco pode ser feito, além de algumas adaptacées (NUNES & SILVEIRA, 2015). © Construtivismo é uma corrente tedrica fundamentada nos estudos do bidlogo suigo Jean Piaget. Essa corrente considera tanto a parte genética, hereditaria, como a influéncia do meio sobre o aprendizado, por isso ¢ colocada como uma teoria Interacionista. Para Piaget, a inteligéncia é uma adaptacdo: herdamos um modo de funcionamento intelectual, que nos permite uma relagzo com 0 meio e amplia nossas estruturas cognitivas, esse processo é constante por toda a vida. Essas estruturas, chamadas Invariantes Funcionais, sao 0 principio da inteligéncia, e nao s&o engessadas, elas trabalham continuamente através dos processos de adaptacao ao conhecimento e organizacao do mesmo em nosso sistema cognitivo (FLAVELL, 1996). Quanto mais estimulos temos no nosso meio, mais as estruturas funcionam e mais aprendemos. Entao, percebe-se que segundo o Construtivismo, o ser humano constréi 0 conhecimento usando suas caracteristicas genéticas universais, biolégicas, ao mesmo tempo que interage com o meio e depende dele para estimular essa parte biolégica e gerar uma adaptacdo. Qualquer intervengdo em relagao as dificuldades de aprendizagem deve focar no individuo ena adaptagdo de materiais, métodos e recursos a este. A importancia do nosso meio ganha maior destaque na Psicologia Histérica- Social. Essa teoria tem como base os estudos do grupo de psicdlogos russos liderados por Lev Vygotsky. A concepgao de Vygotsky para o aprendizado escolar sera baseada em uma interagao constante e intensa com o meio social e cultural (VYGOTSKY, 2002). Além dessas teorias sobre aprendizagem, podemos citar a concepgao inspirada na teoria pedagégica libertadora de Paulo Freire, que afirma que a educacao deve transformar a realidade e ajudar no progresso social, ampliando as oportunidades e as perspectivas dos individuos. O aprendizado, portanto, daria autonomia e opgées ao sujeito (FREIRE, 1996). Assim, podemos entender que 0 aprendizado humano envolve diversas questées: genéticas, cognitivas, sociais e afetivas. Quando pensamos na importancia da afetividade no aprendizado, precisamos citar a teoria de Henri Wallon. Pata Wallon, os aspectos cognitive, motor e emocionall so igualmente importantes no desenvolvimento humanos, e somente esses aspectos em equilibrio resultam em aprendizado real, portanto, nao se pode desconsiderar o desenvolvimento emocional nas questées educacionais (GALVAO, 1995). Para finalizarmos, iremos citar a Aprendizagem Significativa do psicdlogo americano David Ausubel. Ausubel expés suas teorias em um contexto dominado pelo behaviorismo, este, ndo levava em consideragao 0 que os alunos ja sabiam e trabalhava somente o comportamento observavel e mensuravel. Assim, a teoria de Ausubel trouxe uma linha de pensamento oposta: aprender reconfigurando as estruturas mentals A existentes. Levar em conta o conhecimento prévio, a cultura, a bagagem cognitiva que a crianga traz para a escola ¢ trabalhar isso como base para novos aprendizados toma importancia significativa nessa teoria (MOREIRA, 2011). Ao tratarmos, portanto, dos distiirbios de aprendizagem, precisamos levar em conta 0 desenvolvimento cognitivo, os fatores genéticos e hereditarios, o meio social (incluindo familia, escola, grupos sociais), os fatores historicos, culturais e socioeconémicos desse meio, fatores psiquicos e emocionais, pensando sempre que mais de um destes aspectos pode estar presente. CAPITULO 3 - OS DISTURBIOS DA LINGUAGEM A linguagem humana é o principal instrumento usado tanto no ensino, como no aprendizado de conhecimento. Lev Vygostsky, que ja citamos aqui, afirma que é através da linguagem e da comunicagdo que o humano aprende sobre a humanidade, tornando-se assim parte dela. Para ele, a interagao social promove a aquisi¢ao de conhecimento e 0 desenvolvimento humano, e essa interagao depende da linguagem (VYGOTSKY, 2002). Mas a linguagem nao pode ser confundida com lingua. A lingua (portuguesa, inglesa, francesa, etc.) é apenas uma manifestagao (verbal) da linguagem, sendo que existe também a manifestacdo ndo-verbal. A linguagem ndo-verbal abrange cédigos que usam simbolos, gestos, imagens, icones, etc, Por exemplo, temos os sinais de transito, simbolos culturais, lingua de sinais (Libras). Sao sistemas de comunicagao ndo-alfabéticos. Mesmo dentro de uma linguagem alfabética, temos variagées, como alfabeto fonético, cirilico, ideografico. Assim, a linguagem se manifesta de muitas formas e com varios cédigos. Acredita-se que a linguagem humana seja algo natural, enquanto a lingua seja algo aprendido. A linguagem, ou seja, a forma como nos comunicamos, é um instrumento inato. A aquisicéo da linguagem € um bem intelectual, pois impulsiona o desenvolvimento cognitive, e um bem cultural, pois permite a interacéo e a integracdo social do ser humano. Sem poder se expressar, a crianca se isola e se reprime, tendo inclusive seu emocional prejudicado. Desde o nascimento nos comunicamos com o mundo: choramos, reagimos aos sons e as imagens; aos poucos vamos aperfeicoando nossa linguagem através de vocabulario, gestos, expressées. Para que a comunicagao se estabelega, € preciso que a mensagem saia de um emissor, através de um canal de comunicacao ¢ chegue até o receptor, dependendo do foco em um destes, a linguagem pode exercer fungées diferentes, tais como: funcéo emotiva (foco no emissor, quem envia a mensagem), fungao conativa (foco no receptor) ou funcdo fatica (foco no canal usado para enviar a mensagem). Vejamos alguns exemplos: + Fungao Emotiva: os textos poéticos, as cartas, os didrios. Todos eles so marcados pelo uso de sinais de pontuagao, por exemplo, reticéncias, ponto de exclamago, etc.; + Fungao Fatica: A fungao fatica tem como objetivo estabelecer ou interromper a comunicago de modo que o mais importante ¢ a relagao entre o emissor e 0 receptor da mensagem. Aqui, 0 foco reside no canal de comunicagao. Esse tipo de fungo € muito utiizado nos didlogos, por exemplo, nas expressdes de cumprimento, saudagdes, discursos ao telefone, etc.; = Fungdo Conativa: também chamada de apelativa, a fungdo conativa é caracterizada por uma linguagem persuasiva que tem ointuito de convencer 0 leitor. Por isso, 0 grande foco é no receptor da mensagem. Essa funcao é muito utilizada nas propagandas, publicidades e discursos politicos, a fim de influenciar o receptor por meio da mensagem transmitida Além dessas trés fungdes, também temos as fungées: referencial (foco no contexto), poética (foco na mensagem, no contetido) e metalinguistica (foco no. cédigo). Além das suas fungées, a linguagem também precisa de um signo para se coneretizar, chamado Signo Linguistico. Este, foi descrito pelo linguista suigo Ferdinand de Saussure como sendo a jun¢ao de um conceito (significado) com uma imagem sonora (significante). © coneeito, ou significado, ¢ universal, ¢ 0 que a pessoa deseja apreender ou transmitir, enquanto o significante varia, de lingua para lingua. Por exemplo: cadeira (lugar para sentar = significado) chamada de chair (significante em inglés) ou sedia (significante em italiano). Os significantes mudam, pois, os cédigos para nos comunicatmos mudam ao longo do tempo e espaco Quand a crianca nasce, ela recorre a cédigos orais de comunicacao como choro e gemidos, como ja dissemos, conforme ela interage com o meio social, ela aprende, através da imitagéo e de outros recursos, a se comunicar por uma linguagem mais ampla, que engloba a lingua (chamada lingua materna, nao por ser da mae, mas por ser do local de nascimento, a primeira que aprendeu) e outros sinais culturais como expressdes, gestos, sons, etc. Com o desenvolvimento da crianga, alguns problemas de aquisicao de linguagem podem surgir. Os primeiros sinais, s4o notados pela auséncia da fala ‘ou na comunicagao com a mesma, tais como: * Atraso na fala: isso pode ocorrer por problemas fisicos (no aparelho fonolégico), neurais ou sociais, como a falta de estimulo; * Disartria: falta de articulagdo nas silabas e na proniincia das letras, demora para concluir uma palavra ou frase, por problemas na anatomia do aparelho fonolégico, A disartria é uma alteragao na fala originada por um distirbio neurolégico, um AVC, paralisia cerebral, doenca de Parkinson, miastenia gravis, esclerose lateral amiotréfica, entre outros fatores. Ela afeta misculos da boca, da laringe ou as cordas vocais provocando dificuldades na comunicacdo. De acordo com a fonoaudidloga Rosa Maria Rodriguez Anténio (ANTONIO, 2020), conforme a lesdo, a disartria pode sofrer as seguintes variagées: 10 + Disartria flacida: ¢ uma disartria que, geralmente, produz uma voz rouca, com pouca forga, anasalada e com a emissdo imprecisa das consoantes; + Disartria espastica: também costuma provocar uma voz anasalada, com consoantes imprecisas, além de vogais distorcidas, gerando uma voz tensa e "estrangulada"; + Disartria ataxica: esta disartria pode provocar uma voz aspera, com variagdes na entonacao dos acentos, havendo uma fala lentificada e um tremor nos ldbios e lingua: + Disartria hipocinética: ha uma voz rouca, soprosa e trémula, com imprecisdo na articulagao, havendo também alteraco na velocidade da fala e tremor de labio e lingua; = Disartria hipercinética: ocorre uma distorgao na articulago das vogais, provocando uma voz aspera e com interrupcao na articulagéo das palavras; + Disartria mista: apresenta alteragées caracteristicas de mais de um tipo de disartria. Se a crianca tem problema no aparelho fonoldgico, mas nao apresenta comprometimento cognitivo, ela tem dificuldades com a articulago da fala, mas ndo do pensamento. Isso significa que ela compreende o que passa ao seu redor quando falamos com ela, pois seu problema € motor. Porém, se a crianga apresentar comprometimento neurolégico, ela pode ter muitas dificuldades na compreensao da fala dos outros e também de elaborar seu préprio discurso, afetando assim sua interagao social. Antes de qualquer proposta pedagégica, portanto, é fundamental avaliar o estado da crianca e sempre estar atento ao seu grau de compreensao do que se fala com ela (MIRANDA & GOMES, 2004). Continuando, outros problemas na fala podem ser notados em criangas: + Anartria: a crianga nao consegue organizar seu aparelho fonolégico para elaborar a palavra ou frase; * Gagueira: a crianca trava na prontincia das silabas e palavras, por questées psicoldgicas ou fisicas (MIRANDA & GOMES, 2004). * Dislalia: dificuldade em articular palavras. A pessoa troca palavras por outras parecidas, omite ou troca as letras. Se trata de um problema relacionado aos fonemas. 11 A dislalia pode ter causas externas como chupar chupeta ou usar a mamadeira, mas sua origem geralmente 6 anatémica: linguas hipoténicas (flacidas), alteracdes na arcada dentaria, postura e respiragao dificultada. A dislalia pode ser subdividida em quatro tipos (MELDAU, 2020): + Dislalia Evolutiva: normal em criangas pequenas, sendo corrigida gradativamente durante 0 seu desenvolvimento; + Dislalia Funcional: neste caso, ocorre substituigao de letras durante a fala, no pronuncia o som, acrescenta letras na palavra ou distorce o som; * Dislalia Audiégena: ocorre em individuos que sao deficientes auditivos e que ndo reproduzir os sons; = Dislalia Organica: ocorre em casos de leséo no encéfalo, impossibilitando pronuncia correta do som. Também ocorre quando ha alguma alteragao na boca. Uma dislalia leve pode ocorrer até os quatro anos de idade sem despertar temores, porém, aps essa faixa etaria é preciso procurar mais informagées, de preferéncia em um Fonoaudidlogo. Geralmente, esse profissional trata os principais distirbios, sendo que, em muitas vezes, 0 tratamento é feito junto ao Neurologista 12 CAPITULO 4 — DISTURBIOS DE LEITURA E ESCRITA: Dislexia, Disortografia e Disgrafia Entre os desafios do século XXI, um dos mais relevantes se faz no contexto social e também escolar: na aprendizagem da leitura e escrita. Os diferentes disturbios da leitura e escrita tem aparecido com frequéncia no cotidiano escolar levando os educadores a refletirem sobre suas origens e tratamentos. Nesse contexto, devem ser tratados, partindo do pedagégico para o neurolinguistico e neuromotor. Entre os distirbios mais comuns esto os que se relacionam a aquisigao da leitura e da escrita (Distirbios de aquisigao de leitura e escrita — DALE). S40 notados durante a alfabetizagdo e criam muitas dificuldades para aluno e professor. Um dos distirbios mais comuns é a Dislexia, uma inabilidade na leitura e na escrita, de origem neurobiolégica. Entre suas caracteristicas mais comuns esto a dificuldade de identificar e escrever letras, silabas e palavras. O aluno troca as letras ao ler e escrever. Junto com dislexia vem a Disortografia que consiste em cometer erros ortograficos por dificuldades neurolégicas e nao de aprendizado (ALVES, CAPELLINI & MOUSINHO, 2011), E preciso que nao se confunda a disortografia com a disgrafia, que se trata de um problema motor (de coordenacao motora fina), sem base neurolégica, que acarreta dificuldade em fazer o desenho da letra, principalmente a cursiva. * Dislexia Definida como um disturbio ou transtorno de aprendizagem na area da leitura, escrita e soletragdo, a dislexia é 0 distUrbio de maior incidéncia nas salas de aula. Pesquisas realizadas em varios paises mostram que entre 05% e 17% da populagdo mundial é disléxica (ABD, 2020). Ao contrario do senso comum, a dislexia nao ¢ causada por ma vontade, preguica ou desleixo do aluno, tampouco por alfabetizagao falha. Ela é uma dificuldade de origem genética e hereditaria, afetando a parte neurolégica (ALVES, CAPELLINI & MOUSINHO, 2011). Por esses milltiplos fatores 6 que a dislexia deve ser diagnosticada por uma equipe multidisciplinar. Esse tipo de avaliacao da condigées para um acompanhamento mais efetivo das dificuldades apés o diagnéstico, direcionando-o as particularidades de cada individuo, levando a intervencao a resultados mais concretos. O diagnéstico no deve ser fechado antes dos 6 anos de idade, porém, alguns sinais de alerta podem e devem ser investigados antes disso, vejamos (ALVES, CAPELLINI & MOUSINHO, 2011): Y Atraso na aquisigao de linguagem; Y Dispersdo e desatencao; RRR KR RR RRS < 13 Dificuldade em aprender rimas e cangdes; Dificuldade na coordenagaio motora fina e grossa; Dificuldade em copiar de livros e lousa; Desorganizagao geral; Confusao entre esquerda e direita; Dificuldade com dicionatios, listas telefénicas, mapas, etc.; Vocabulario pobre, com sentengas curtas e imaturas; Dificuldade na meméria de curto prazo, instrugées, recados, etc.; Dificuldade em saber sequéncias, como meses do ano, alfabeto, tabuada, etc.; Troca de letras na escrita; Problemas comportamentais como: timidez ou o contra, tentando chamar a atencao; Bom desempenho em provas orais. Precisamos lembrar que esses sintomas servem como alerta, mas nao necessariamente signifiquem que a crianga que os apresenta tem dislexia, Outro detalhe importante 6 que essas nao sao necessariamente e comprovadamente caracteristicas da dislexia, sdo apenas sinais de que possa haver algum tipo de disturbio ou transtorno. O ideal € que, caso seja observado um conjunto de sinais, se procure o pediatra. A principal caracteristica da Dislexia é a dificuldade em ler e escrever as palavras. Algumas caracteristicas comuns ao disléxico sao (ALVES, CAPELLINI & MOUSINHO, 2011): CSR KR ERK Dificuldades nas habilidades linguisticas: Falta de interesse em livros impressos; Dificuldade em seguir a historia: Dificuldade de memoria imediata; Problemas em fazer a relacdo grafema-fonema; Dificuldades com sequéncias, com ordens cronolégicas; Disnomia: dificuldade com a fala e as palavras; Déficit de atengao; Dificuldade na cépia de impressos e lousa. 14 Por isso, a alfabetizacao e o decorrer da vida escolar do aluno disléxico exigirao adaptagées & cuidados especiais. Vejamos algumas dicas para dar aulas a0. aluno com dislexia: Trabalhar todos os sentidos: propor atividades que estimulem nao sé a vVisao, mas a audigao, 0 tato, tentando tirar a pressdo da leitura escrita; Na alfabetizagao: usar materiais variados, como alfabeto mével, figuras geométricas, dominé, quebra-cabeca, etc.; Apoio psicopedagégico: trabalhar com orientagao espacial, imitacao, criagdes expressivas, tarefas em equipe, praticas dos conteddos. © aluno com dislexia precisa de ajuda com a leitura, por isso, em exames (incluindo os oficiais, como o ENEM), este aluno tem direito legal a um ledor. ledor lerd a prova para o aluno que pode respondé-la oralmente. Isso significa que a dificuldade em ler e escrever que o aluno disléxico tem e carregaré por toda a vida, no pode ser um fator prejudicial em sua vida académica. Concursos pblicos também tém providenciado ledores. Algumas criangas com dislexia acabam apresentando comprometimento nas habilidades sociais, como a dificuldade em interagir emocionalmente (muitas vezes por medo de serem alvos dos outros alunos), baixa interagdo social e até recusa em socializar-se. Para essas dificuldades, propomos as seguintes agdes: v v v Propor jogos coletivos e com regras; Iniciar com jogos/brincadeiras conhecidos pela crianga; Inserir novos jogos/brincadeiras Inserir jogos/brincadeiras com regras mais complexas; Jogosibrincadeiras com raciocinio e tempo; Iniciar competigoes (Com igualdade, trabalhando as vitérias e derrotas); Jogos eletrénicos somente depois de treind-la com jogos que precisa de um parceiro ou rival (Fisico); Promover momentos em que sinta o prazer ou a nevessidade de se concentrar para melhorar ou vencer: Incentive que ela jogue com outras criangas e te relate como foi ou se possivel, faca a observacao. 15 Outras dificuldades que podem surgir da dislexia dizem respeito ao senso de dirego: lateralidade, nogées de espago, pontos de referéncia, entre outros Também ocorrem problemas com coordenagao motora ou fina, nao sabemos se isso € uma consequéncia da dislexia, ou do tratamento tardio para a mesma, A crianga disléxica também pode apresentar comprometimento visual, pelo esforo que sempre fez para enxergar as letras ou outras imagens (SHAYWITZ, 2008). Para todas essas dificuldades, a escola pode propor acées, tais como: Y Atividades de motricidade global: jogos de movimento; dentroifora; pequeno/grande; atras/frente; em cima/embaixo; enumere/ordene as cenas; continue a série/sequéncia; pule (corda, obstaculo), ande (linha reta/curva, em cima, embaixo); v Trabalhar primeiro no fisico: em cima do banco, atras da arvore, embaixo da mesa; v Em seguida trabalhar no papel: atividades de associago; iniciando o pontilhado; reconhecimento da figura (Partes/Todo); ligue, recorte e cole; rasgue (revista), recorte (figuras: Variedade de tamanho), modele (massinha, bola de papel). As atividades de coordenagao motora fina (com as méos) iro ajudar também na disortografia, que costuma ser concomitante a dislexia, e na disgrafia. Esses distirbios tém como intervengao principal esse tipo de atividade. No caso da disgrafia, em que nao ha comprometimento neurolégico, o tratamento pode ser todo focado em exercicios de coordenacao motora e de escrita, 16 CAPITULO 5 ~ DISCALCULIA E AS DIFICULDADES COM MATEMATICA Além da dislexia, a discalculia ¢ notada no periodo escolar da alfabetizacao. O professor percebe que o aluno tem dificuldades em aprender conceitos relacionados aos niimeros, operagées légicas e similares. Discalculia é, portanto, um disturbio de aprendizagem relacionado a matematica. Neste capitulo, iremos entender as principais caracteristicas do disturbio e como fazer intervengdes adequadas dentro da sala de aula. A discalculia 6 bastante comum e os estudos sobre ela tém avangado e se ido recentemente. Embora seja notada na escola, ndo restringe a ela. Esse distirbio afeta o aluno em suas atividades cotidianas, principalmente as que envolvem operagdes numéricas como: horatios, tarefas sequenciais, nocdes de espaco, entre outras coisas. Mesmo sendo bastante extenso o comprometimento da rotina, também sao multas as estratégias que podemos ensinar ao aluno com discalculia para superar esses problemas (PIMENTA, 2017). Na pratica diaria de superacdo, a participacdo da familia é muito importante. Ela precisa assumir a condig&o do distiirbio, informar-se sobre ele e ajudar a crianga com as estratégias para lidar com o problema. O disturbio ndo tem uma cura, entao essa crianga ira lidar com ele a vida toda, porém, ela pode viver uma vida funcional se contar com auxilio e tratamento adequados. A discalculia pode aparecer junto com a dislexia, o que reforca ainda mais a necessidade de um diagnéstico adequado e intervengao efetiva. Nao se trata de um simples problema com a matematica, a discalculia vai além disso. Por exemplo, uma crianga com discalculia tem dificuldade de entender que o nimero 1 6 representado pela palavra UM. Esse disturbio afeta também a meméria. O aluno nao consegue lembrar com clareza e coeréncia fatos com caracteristicas numéricas, como datas, horas, cordem de eventos. Eles compreendem a légica por tras da matematica, mas nao conseguem aplicar esse entendimento de forma pratica. Até a idade acaba sendo algo muito dificil de se lembrar ou calcular (PIMENTA, 2017). Assim como em outros disturbios, o grau de comprometimento da discalculia ira variar de aluno para aluno. Como JA dissemos, tudo depende da identificagao precoce e efetiva dos sintomas e das intervengdes adequadas, vejamos quais sdo esses sintomas (PIMENTA, 2017): ¥_ Ignora nimeros e tem dificuldades em contar objetos ¢ estabelecer ordem légica; ¥ Nao conseguem identificar quantidades e dimensdes de objetos; Y Tem dificuldade de reconhecer simbolos numéricos. 7 Esses sinais aparece antes da idade escolar, percebe-se a dificuldade que a crianga tem em contar, em sequenciar, em organizar por ordem numérica, em entender a idade, em se localizar espacialmente se isso envolver numeros. Conforme essa crianga cresce e aprende, as dificuldades com questées matematicas aumentam. Na escola, ela ira apresentar entdo, problemas que chamardo atengao para uma intervencdo, tais como: ¥ Identificar os numeros e as quantidades que eles representa; v Problemas em entender as quatro operacdes basicas: soma, subtragao, multiplicagao e divisdo; V Apresenta formas de contar rudimentares, como os dedos, enquanto os colegas avangam para as operagdes mentais; v Tem dificuldades com volume, massa, quantidade, grupos e subgrupos, nogées de maior e menor, entre outras operagdes mentais. Conforme avangam na vida escolar, os alunos com discalculia podem apresentar dificuldades com calculos mais complexos como fragdes e medidas. Na parte de educagao fisica, eles tém dificuldades em acompanhar os jogos, em entender regras @ a contagem de pontos. Também aparece a dificuldade com valores financeiros e em lidar com dinheiro. As dificuldades com a matematica financeira acabam por se estender pela vida adulta e 6 preciso que se crie estratégias para lidar com elas. O adulto com discalculia também pode apresentar dificuldade em ler graficos, planilhas, tabelas, calendarios, agendas, cronogramas. Isso pode afetar as tarefas do cotidiano e as relacdes sociais se nao for feita uma intervencao efetiva. Nao se sabe exatamente qual a causa da discaleulia, porém, é de origem neurobiolégica, assim como a dislexia. O funcionamento de uma area do cérebro é diferente, possivelmente a area relacionada aos conceitos matematicos. Existe a hipétese de uma causa genética, ja que existem muitos casos em que pais € filhos manifestam o disturbio. A origem também estar relacionada ao desenvolvimento cerebral. “Estudos de imagem cerebral mostraram algumas diferencas na fungdo e estrutura cerebral de individuos com discalculia. As diferencas estao na area de superficie, espessura e volume de certas partes do cérebro (PIMENTA, 2017) °. Partes do oérebro ligadas & meméria e ao planejamento também parecem ser afetadas. Também existe a possibilidade de influéncia do ambiente. Pode ocorrer em bebés prematuros, que nascem com baixo peso ou com Sindrome do Alcoolismo Fetal (SAF), Lesdes cerebrais também podem resultar em discalculia, havendo a possibilidade entao de ela ser adquirida. O fato é que nao esta ainda concluido nenhum estudo que comprove que esse funcionamento cerebral seja originado na genética ou no ambiente (PIMENTA, 2017). 18 Assim como na dislexia, 0 diagnéstico da discalculia é feito por uma equipe multidisciplinar (pediatra, —neurologista, _psicdlogo, _psicopedagogo, neuropsicélogo), assim como o tratamento e as intervengées. A participagao da escola nesse tratamento é fundamental ja que é no contexto escolar que aparecem as maiores dificuldades de aprendizagem. Com o apoio adequado, o aluno com discalculia pode superar suas dificuldades e ter uma vida escolar plena. Para que 0 aluno possa ser ajudado ¢ preciso que primeiro se conhega as dificuldades mais imediatas, por isso, o professor deve avaliar a condigao real do aluno em relagao a materia. Em seguida, o professor podera tracar metas e estratégias para alcanga-las. Entre as estratégias para lidar com a discalculia podemos citar: ¥- Inserir jogos matematicos nas aulas; Y Permitir uso de calculadora e tabela tabuada; Y Ser paciente e prestar atengo nas dificuldades que 0 aluno apresentar; ¥ Usar materiais como: caderno quadriculado, material dourado, blocos légicos, entre outros; Y Usar materiais concretos para solucionar problemas de matematica; Y Adaptar as provas € outras avaliagdes; Y¥ Usar o maximo que conseguir os recursos tecnolégicos. O mais importante ao ensinar um aluno com disturbios de aprendizagem é a dedicagao a este aluno. O professor precisa conhecer as dificuldades, tracas objetivos praticos e concretos, e estar sempre motivando o aluno a continuar seu caminho de aprendizado. 19 CAPITULO 6 - TRANSTORNO DE DEFICIT DE ATENCAO COM HIPERATIVDADE (TDAH) Um dos problemas de aprendizagem mais frequentes atualmente é o Transtomo de Déficit de Atengo com Hiperatividade, 0 TDAH. Ele é de origem neurobiolégica, com causa genética e que aparece muito cedo na infancia, com mais ocorréncia entre meninos. Seus principais sintomas so a desatengao, a inquietude e os impulsos. Embora muitos educadores e pais ainda sejam céticos em relagao ao TDAH, a Organizagao Mundial de Satide, a OMS, reconhece o transtorno (ABDA, 2020). Neste capitulo, iremos descrevé-lo com mais detalhes. * As causas do TDAH O transtorno de déficit de ateng&o com hiperatividade tem origem neuroldgica, 0 cérebro da pessoa com esse problema tem alteragdes na regido frontal ¢ as conexGes desta com o resto do érgao. Essa regiao é responsavel pelo controle das acdes comportamentais, pela concentracao, a memoria, a organizacao e 0 planejamento. Os neurotransmissores dessa regido, na pessoa que tem TDAH, funcionam de modo diferente. A causa, possivelmente é genética (ABDA, 2020). A hereditariedade € responsavel por uma predisposigao ao TDAH. Como na maioria dos distirbios, néo ha ainda comprovacdo cientifica da determinacao genética, mas sim de sua predisposicgao. Isso porque um transtorno pode envolver varios genes, ¢ ndo um que se possa isolar, o que dificulta um atestado cientifico. Estudos mostram que 0 uso da nicotina e do alcool durante a gravidez pode gerar individuos com TDAH. Também no se descartam os fatores ambientais, mas nenhuma pesquisa ainda provou uma relacdo de causa e efeito de origem ambiental (ABDA, 2020). * Caracteristicas e Diagnéstico Como ja comentamos, as principais caracteristicas deste distirbio sdo a hiperatividade e a desatengdo, porém, ele vem acompanhado de outros sintomas. Utilizaremos aqui os Manuais de Classifica¢o mais comuns para o diagnéstico e classificagao dos sintomas, 0 CID-10 e o DSM. Esses manuais melhoram a comunicagao entre os profissionais de satide quando se veem diante de uma hipstese diagnéstica, reinem definiges e sintomas dos problemas relacionados a satide mental, comportamental e de aprendizagem. Os manuais apresentam a descrigao de doencas, transtornos, desordens, etc. © DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), é 0 Manual de Diagnéstico e Estatistica da Associacao Psiquiatrica Americana. Ja o CID (CID- 10), é um manual para a Classificacdo Internacional de Doencas e Problemas Relacionados a Satide (também conhecida como Classificacao Internacional de 20 Doengas ~ CID 10), e é publicado pela Organizagao Mundial de Satide (OMS). Baseados nesses manuais ¢ que se faz a definicao dos sintomas e o diagnéstico do TDAH. De acordo com 0 DSM-4, o TDAH apresenta os comportamentos que listamos abaixo. Sintomas de Desatencao: v v v KKK KK KK Sintomas de Hiperatividade/Impulsi Nao presta atengo a detalhes e/ou comete erros por omissao ou descuido; Tem dificuldade para manter a atencao em tarefas ou atividades ludicas: Na escola, 0 aluno faz atividade na pagina diferente da solicitada pelo professor; ao fazer calculos, nao percebe o sinal indicative das operagdes: pula questdes; Durante o intervalo nao consegue jogar dama ou xadrez com os colega: Parece no ouvir quando Ihe dirigem a palavra (cabega “no mundo da lua Tem dificuldades em seguir instrugdes e/ou terminar tarefas; Dificuldade para organizar tarefas e atividades; Demonstra ojeriza ou reluta em envolver-se tarefas que exijam esforgo mental continuado; Perde coisas necessarias para as tarefas e atividades; Distrai-se facilmente por estimulos que nao tem nada a ver com o que esta fazendo; Apresenta esquecimento em atividades diarias (PROIS, 2020, p. 15). idade: Imequieto com as mos e com os pés ou se remexe na cadeira: Nao consegue ficar sentado por muito tempo: Corre ou escala em demasia, ou tem uma sensagao de Inquietude (parece estar com 0 “bicho carpinteiro"); Tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer; Esta ‘a mil por hora’, ou age como se estivesse a “a todo vapor’. Fala em demasia; Da respostas precipitadas antes das perguntas terem sido completamente formuladas; Tem dificuldade em esperar a sua vez; Interrompe, intromete-se nas conversas ou jogo dos outros (PROIS, 2020, p. 16), Para efeito diagnéstico, ¢ importante que exista a presenga de seis ou mais sintomas de desatencdo, ou a presenga de seis ou mais sintomas de hiperatividade/impulsividade por mais de seis meses. Também é preciso que exista mais de um sintoma presente antes dos 7 anos de idade. Os sintomas devem se apresentar em mais de um contexto social (escola, casa, clubes, etc.). Antes de se fechar o diagndstico “Deve haver claras evidéncias de comprometimento clinicamente importante no funcionamento social, académico ou ocupacional’ e os sintomas ndo devem ocorrer concomitante a transtornos 21 globais de desenvolvimento, esquizofrenia ou transtorno psicético (PROIS, 2020, p.14). * Vida escolar e papel do professor © apoio de todos os envolvides na vida da pessoa com TDAH ¢ importante para seu desenvolvimento, principalmente dos educadores. Na escola, o ambiente e ‘o material devem estar adaptados ao déficit de atengdo e a escola deve conhecer e elaborar estratégias para lidar com ele e com a hiperatividade. Mas como a escola € 0 professor podem contribuir para o desenvolvimento do aluno com TDAH? Em primeiro lugar, desde 0 planejamento, todos os participantes da vida escolar do aluno devem estar informados sobre o disturbio e j4 nesse planejamento devem ser elaboradas estratégias para lidar com as dificuldades desse aluno. Algumas estratégias que podem ser adotadas so (PROIS, 2020): v Identificar as habilidades do aluno e usa-las nas aulas; > Estimule e motive o aluno durante as aulas e as atividades; > Nao coloque muitos estimulos visuais nas paredes da sala de aula para no dispersar a atencdo do aluno; > Tente usar esse aluno como ajudante em suas tarefas e dos outros alunos para que ele use sua energia; > Use a criatividade nas praticas e nas aulas para manter o aluno estimulado; > Compartilhe informagSes com outros colegas e profissionais que atendam & crianga para trocar experiéncias e estratégias; > Seja organizado e mantenha uma rotin: > Ajude o aluno a manter a organizagao do material e de suas tarefas, use bilhetes e anotagdes; > Exponha as regras de forma clara e mantenha-se firme; > Tente manter o aluno focado, chamando sempre sua atengao com gestos, material expressivo e se necessario, chame a atengao verbalmente (com cuidado para nao constranger 0 aluno 22 © material escolar também deve ser escolhido com cuidado. Diga aos pais para evitarem materiais que dispersem o aluno, com muita informagao. O material da aula deve ser claro e objetivo, com enunclados bem explicados. Informagées importantes devem ser destacadas nos textos. Outras agdes podem ser feltas: Néo use praticas e atividades muito longas, fragmente os temas; Y » Incentive o aluno a ler e escrever, a se concentrar nessas tarefas; y Use as tecnologias nas aulas, para captar atengéio e para que o aluno se interesse em realizar tarefas; Utilize formas variadas de avaliado e avalie de forma continua. v O aluno com TDAH precisa de atendimento especializado fora da escola para ajudar em seu desenvolvimento académico. Esse atendimento é feito pelo psicopedagogo que val ajudar esse aluno a criar suas préprias estratégias para melhorar como estudante e facilitar o aprendizado Além desse atendimento, a familia também pode e deve ajudar a crianga a realizar suas tarefas e atividades, assim como manter a escola informada sobre co estado emocional e mental da crianga, que pode ter problemas com autoestima por causa do transtorno. Os pais devem proporcionar atividades fisicas e cognitivas para ajudar a gastar energia e para desenvolver a concentragao. Assim, todos podem tornar a vida de uma crianga com TDAH mais facil, dentro e fora da escola. 23 CAPITULO 7 - TRANSTORNOS QUE INTERFEREM NAS HABILIDADES SOCIAIS (AUTISMO E ASPERGER) Como explicamos no inicio dos nossos estudos, iremos descrever aqui também dificuldades de aprendizagem relacionadas aos aspectos sociais e emocionais. Embora todo e qualquer distirbio de aprendizagem possa causar problemas de socializagéo, de ansiedade, de depressdo e de baixa autoestima, certos transtornos tem mais probabilidade dessas ocorréncias por causarem prejuizo nas habilidades sociais. © Autismo e a Sindrome de Asperger sao dois desses transtornos e sao muito comuns na nossa sociedade. Atualmente, pelo DSM-V, ambos se encontram dentro do espectro do autismo, sendo chamados de Transtornos do Espectro Autista (TEA). Embora tenha uma manifestacdo neurolégica, o TEA tem como uma das principais caracteristicas a dificuldade de interagao social. O Autismo é um transtorno global do desenvolvimento marcado por trés caracteristicas fundamentais (DSM-V): > Dificuldades para interagir socialmente; > Pouca habilidade no dominio da linguagem e da comunicacao; > Padrao de comportamento restritivo e repetitivo. Atualmente, 0 DSM-V considera os seguintes graus para o autismo: autismo leve, moderado e severo. Muitos psiquiatras afirmam a importancia de se distinguir o autismo dos transtornos mentais severos, como a psicose, por exemplo. O DSM-IVIAPA, de 1994, e 0 CID-10/WHO, de 1992, usam trés dominios para seus critérios (triade de prejuizos), observados por Kanner (1943, apud BOSA & CALLIAS, 2000), que sao: > Prejuizo qualitativo na interagao social; > Prejuizo qualitative na comunicacdo verbal e nao-verbal, e no brinquedo imaginativo; > Comportamento e interesses restritivos e repetitivos. Atualmente, pelo DSI-V, temos a definigéio de autismo como uma sindrome comportamental caracterizada por dificuldade de interacdo social, déficit de comunicagao, padrées repetitives e interesses restritos. A sigla, TEA, que ja explicamos, engloba os 3 graus de autismo (leve, moderado e severo), Sindrome de Asperger, Transtorno Desintegrativo da Infancia (TDI) e Transtorno Global de 24 Desenvolvimento (TGD). O diagnéstico do autismo é clinico e deve ser baseado na observago de certos padrées de comportamento, tais como (DSM-V): + Déficits significativos nas interacées sociais; > Dificuldades na comunicacao e expressao; > Padrées de comportamento, interesses e atividades restritos e repetitivos. ‘As causas para o autismo combinam fatores genéticos e ambientais. Ha evidéncias que a manifestago do TEA envolve muitos genes, o que dificulta uma demarcagao. Porém, o ambiente vai ser decisivo no desenvolvimento do TEA, podendo intensificar ou até retardar. + Sindrome de Asperger Como vimos, pelo DSM-V, a Sindrome de Asperger é incluida no TEA. Esses pacientes apresentam diagnéstico mais tardio, pois ndo ha atraso na aquisicao de linguagem e a cognic¢ao é preservada, as dificuldades aparecem mais em contato com o universo Iidico, linguagem figurada e sistemas abstratos (Departamento Cientifico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento - DCPDC, 2019). E um transtorno neurobiolégico e que afeta a percepcao e interagéo dos portadores, porém, nao prejudica o exercicio das fungdes sociais. A crianga com Asperger percebe 0 mundo de um modo singular, ndo esta doente ou incapacitada, nem sequer limitada se tratada de modo correto, porém, assim como qualquer nascido com TEA, nao obtera cura para seu transtorno (MELLO, 2007). O TEA tem a alcunha de espectro porque envolve condicées diferenciadas entre 0s individuos diagnosticados positivos e apresenta também gradagdes; portanto, assim como temos graus e variagdes do autismo, temos tambem de Asperger, sendo esta considerada por si mesma uma variacdo de autismo por alguns te6ricos (MELLO, 2007). © Asperger nao interfere no desenvolvimento mental ou cognitive a priori, inclusive, individuos com essa sindrome costumam ter inteligéncia na média ou acima dela, Nao costumam ter problemas de aprendizagem, mas podem ter de sociabilidade e isso prejudicar o rendimento escolar. A percep¢ao de mundo na crianga ou adulto com Asperger é alterada, ou seja, muitos descrevem o quadro como uma sensibilidade esmagadora. O Asperger vai ser sensivel a alguns sons, imagens, toques, linguagem (MELLO, 2007) 25 A identificagao da condigao de Asperger, assim como qualquer TEA, ¢ feita por uma equipe multidisciplinar: pediatra, fonoaudidlogo, psicélogo e psiquiatra. Como os sintomas e manifestagdes variam muito de pessoa para pessoa, esse diagnéstico pode ser complexo, tardio, 0 que, como ja citamos, pode prejudicar ‘0 desenvolvimento da crianca. Embora o individuo com Asperger seja funcional, ou seja, possa estudar, trabalhar e se relacionar com pessoas sem necessidades especiais e sem manifestar a sua condigao, eventualmente, ele pode ter algum problema em relagdo ao seu meio. Por isso, ¢ muito importante que haja um diagnéstico fechado e que com este, venha uma orientagao de profissionais especializados para lidar com situacdes de tensdo e crises que possam surgir (MELLO, 2007). + AEscolae as Interagdes Sociais Criangas com TEA tém dificuldades em comunicagao oral, em entender simbolos ndo-verbais, gestos, expresses faciais, variagao de tom de voz. A interpretacao do mundo é bem literal, ndo entendendo bem jogos simbdlicos, situagGes lidicas e linguagem figurada. Também tém dificuldades de compreender ironias, sarcasmos e metaforas. Por isso, desde muito cedo suas relagdes sociais sao prejudicadas. A escola precisa elaborar algumas estratégias para que essa crianga se socialize e interaja com outras criangas. As principais queixas dos pais e professores em relagdo ao comportamento social da crianga com TEA sao (MEC, 2003): Gritos constantes; Choros sem causa aparente; Risos e gargalhadas repentinos sem causa aparente; Agressées fisicas ao professor e colegas; Habitos alimentares estranhos, falta de apetite ou compulsao por comida; Recusar-se a ir a escola; Impulsos destrutivos, arremessar objetos. vVvvvvyy Para evitar crises, a rotina diaria é muito importante para essa crianga, ela se sente segura executando as mesmas atividades, por isso, escola e familia precisam preservar essa rotina. As regras precisam ser claras, objetivas e uteis, e desde que a crianga as entenda ela sente segura em pratica-las todos os dias. A mudanga, qualquer que seja, pode ser muito estressante para crianca com TEA e pode engatilhar crises de ansiedade e agressividade (MELLO, 2007). Para evitar esses rompantes, podemos trabalhar da seguinte forma na sala de aula (MEC, 2003): 26 Manter 0 aluno ocupado; Organizar uma rotina previsivel; Organizar atividades compreensiveis e do nivel do aluno; Explicar tudo muito bem ao aluno; Observe o aluno e previna-se contra os impulsos; Incentive a comunicagao de situagdes desconfortaveis. vvvvVY Algumas atividades podem ser desenvolvidas na fase etapa escolar a partir das principais dificuldades do transtorno, vejamos (MEC, 2003): * A questao verbal: pode-se substituir a comunicagdo oral por simbolos em cartées, na lousa, em cartazes, gestos, o que chamar mais a atencao da crianga, ela também pode usar desenhos e cartées para expressar sentimentos, pensamentos e vontades; * Socializagao: evitar contato fisico, estimular a crianga a interagir, mas em seu préprio tempo, com suas maneiras, por exemplo, com uma crianga de cada vez, trocando objetos, cartées; * Meméria e atengao: expor a crianga aos mais diferentes jogos de meméria para que ela se interesse e treine seu cérebro; * Isolamento: estimular sempre a exploragéo do ambiente e a familiarizagao com as pessoas presentes; * Brincadeiras: tentar personalizar_as brincadeiras para atender as necessidades da crianga com TEA e se necessario, desenvolver brincadeiras individualizadas para ela; + Regras: devem ser expostas de forma objetiva e clara, e o professor deve se cettificar de que a crianca as entendeu perfeitamente, antes de sancionar; * Ambiente: ter 0 culdado de organizar a sala sem estimulos visuais sonoros excessivos, que podem iritar a crianga com TEA e ocasionar crises; * Monitorar 0 contato fisico: criangas pequenas costumam abracar e beijar, morder, isso pode causar crises no aluno com TEA, por isso, 0 professor deve sempre estar atento e criar regrinhas para esses contatos; 7 * Contato com os pais: os pais devem sempre estar em contato com a escola eo professor, para se trocar experiéncias e informagées que beneficiem 0 desenvolvimento da crianga. Desde muito jovens, as criangas com Asperger manifestam interesses por certas agées ou por certos objetos e tentara manter esse interesse inalterado ao longo da vida. Por exemplo, musica, computadores, carros. Pode ser um interesse incomum também como colecionar insetos, lampadas e outras coisas. As pessoas que cercam essa crianga, desde que esta nao esteja correndo nenhum risco @ sua seguranga ou saude, devem manter esses interesses dessas criangas para nao causar ansiedade. Esses interesses costumam envolver a crianca por horas e de modo repetitivo, mas isso é parte do espectro (MELLO, 2007). Muito do preconceito com o TEA vem do esterestipo de serem pessoas dificeis de lidar, suscetiveis a crises de agressividade e que ndo gostam de contato social. Esta caracteristica de comportamento social restrito do autista vem sendo pesquisada e atualmente existem muitas estratégias que permitem maior socializagao da crianga autista. O mais importante é nao estigmatizar 0 individuo, no 0 tratar como incapaz, nem olhar com preconceito para sua condigao. 28 CAPITULO 8 - DIFICULDADES ESCOLARES DE ORIGEM COMPORTAMENTAL E EMOCIONAL Muitas dificuldades de aprendizagem, de origem neurobiolégica, tém relacdo com questées emocionais e psiquicas, como consequéncia do problema. Porém, existem dificuldades que nao so causadas por aspectos neurolégicos ou cognitives. Podem surgir por fatores externos, como traumas, agressées, violéncia, e também por fatores internos, como ansiedade, medo e depress. Neste capitulo, iremos descrever como problemas de origem emocional ou ‘comportamental afetam o aprendizado e a rotina escolar. v Transtorno Opositivo Desafiador - TOD © transtorno opositive desafiador, TOD, é uma condigéo comportamental que desencadeia padrées de inadaptabilidade e inadequagao em ambientes sociais. As criangas e os adolescentes com esse transtorno costumam manifestar: raiva, hostilidade, teimosia, instabilidade emocional, sentimento de vinganga, indisciplina e agressividade. A crianca com TOD costuma ser chamada “do contra”. E vista como rebelde e problematica por estar sempre desafiando os outros, sempre questionando e contratiando muitas agées e opinides. Sao teimosas e querem sempre fazer prevalecer seu ponto de vista e suas preferéncias, desde muito pequenas. Além de problemas comportamentais, essas criangas costumam ter muitas dificuldades em controlar emogées, pois ndo sabem lidar com o sentimento de frustracdo e as contrariedades. Geralmente sao impulsivas e intempestivas e isso acaba abalando 0 equilibrio psiquico e emocional, principalmente se passarem pela infancia sem serem tratadas por especialistas. © TOD pode surgir em qualquer etapa da vida do individuo, porém, 6 mais comum entre 6 e@ 12 anos. Segundo o Instituto NeuroSaber (httos://institutoneurosaber.com.br/entenda-o-que-e-o-transtomno-opositivo- desafiador-tod/), ele esté associado ao TDAH em 50% dos casos. A falta de limites impostos pelos pais e de autoridade dos mesmos em relagdio a crianga também fortalece o transtorno. A relagao da crianga com TOD e a escola nao é tranquila. Esse aluno nao consegue obedecer as regras, ndo respeita hierarquia, nem os colegas, é indisciplinado e ndo-cooperativo. Na familia, tampouco sera diferente, causando muitos conflitos e isolando-se dos contatos e interagées. © TOD tem tratamento, através de estratégias comportamentais que sao desenvolvidas e dirigidas por um psicoterapeuta, de preferéncia da linha comportamental. Esse tratamento nao se direcionara somente a crianga, mas aos pais e aos educadores escolares. 29 ¥ Bullying Uma das situagées mais antigas e mais problematicas da escola de ensino regular, em todo o mundo, é o bullying. A palavra tem origem na lingua inglesa, do verbo to bully, que significa importunar, assediar, provocar. Dai se origina a expresso bullying que caracteriza uma perseguicao, um assédio sem limites continuo. E usada para o ambiente escolar, ja que na sociedade essa acdo é caracterizada (por lei, inclusive) como assédio. O bullying pode ser feito de forma fisica, moral, psicoldgica e, atualmente, também pela internet: 0 cyberbullying. A pessoa (crianga ou adolescente) vitima de bullying sofre humilhagées didrias: agressées fisicas, morais e psiquicas; intimidagao constante e opressao. A vida na escola se torna insuportavel para a vitima. Mas o bullying ndo ocorre somente na escola, ele pode acontecer na familia, nos contextos esportivos, de lazer, culturais, etc. Se envolve criangas e adolescentes usamos essa denominacdo, mas se envolve adultos, como ja dissemos, ¢ crime, previsto por lei (Lei de Assédio Moral, n° 12.250, de 09 de fevereiro de 2006) Os problemas na escola, causados pelo bullying, so muitos. O aluno que pratica, além de causar tumulto e represséo aos colegas, muitas vezes passa por problemas psiquicos e familiares, e precisa de atendimento. O aluno que sofre o bullying, acaba deprimido, isolado do convivio social e com problemas de aprendizado. Ja presenciamos casos extremos de suicidio de jovens que estavam sofrendo bullying na escola. Portanto, o bullying é um problema grave, que afeta no somente o aprendizado do agressor e da vitima, como causa traumas psiquicos e sociais que podem se estender por toda a vida e até levar 4 morte. Para lidar com o problema, que 6 antigo, a escola tenta manter o didlogo, promover a socializacao, a cooperagao € 0 respeito mituo entre os alunos. Uma das principais ages € focar no respeito a diversidade e as diferengas, desde a Educagao Infantil, para prevenir atitudes de desrespeito e violéncia Tambéem é preciso criar uma rede de confianca e didlogo entre alunos e professores/gestores, para que tanto o agressor quanto a vitima se sintam ‘seguros para compartilhar seus problemas e buscar ajuda. ‘Quem no esta nesses papéis também precisa ajudar a prevenir e auxiliar a escola a identificar o problema. Muitos alunos se calam diante das agressées, por medo, mas principalmente por no saber como agir sem se prejudicar. A escola pode criar redes de dentincias anénimas, virtuais (e-mail, postagem, etc.) ou através de caixa de denuincias. Dentro da sala de aula, 0 professor precisa ficar atento e nao permitir em nenhum nivel, qualquer agao de bullying. Y Tag transtorno de ansiedade generalizada © problema da ansiedade atinge um percentual significativo da populagao mundial na atualidade. Com as criangas e os adolescentes nao tem sido diferente. Depois do TDAH e outros transtornos de conduta, a ansiedade é a 30 principal causa de problemas de aprendizagem relacionada ao aspecto psiquico. Segundo Asbahr (2004), mais de 50% das criangas com ansiedade também enfrentarao problemas de depressdo. Isso afeta imensamente o rendimento escolar e as interagdes sociais do aluno. Exceto em casos em que a ansiedade infantil é gerada por uma causa externa (traumas, eventos, provas, etc.), a maior causa para esse transtorno é a ansiedade dos pais. Assim, como a maior parte das doengas psiquidtricas, os transtomnos ansiosos so considerados como condiges associadas ao neurodesenvolvimento, com _significativa contribuig&o genética. Em criangas, o desenvolvimento emocional influi sobre as causas e a maneira como se manifestam os medos e as preocupagées, sejam normals ou patolégicas. Diferentemente dos adultos, oriangas podem nao Teconhecer seus medos como exagerados ou irracionais, especialmente as menores (ASBAHR, 2004, p. 29). Ansiedade e medo so sentimentos naturais, porém, quando em excesso, prejudicam a vida cotidiana e a escolar, afetando o emocional e 0 psiquico do individuo. Os quadros de ansiedade mais frequentes entre criangas e adolescentes so: transtorno de ansiedade de separagao (TAS), com 4%, o transtorno de ansiedade generalizada (TAG) de 2,7 a 4,6%, e as foblas especificas, de 2,4 a 3,3%. A fobia social (FS) aparece com 1%, a de transtorno de panico (TP), em 0.6% (ASBAHR, 2004) © diagnéstico precoce 6 muito importante, pois ira controlar o transtorno e proporcionar tratamento adequado, o que prevenira que esse transtorno se estenda para a vida adulta, Os sinais mais evidentes de que a crianga ou adolescente esta sofrendo com ansiedade sao: Medos e preocupagées excessivas, na maior parte do tempo; Alteracdes de sono e de apetite; Apatia e isolamento social; Irritagao Instabilidade emocional: Tonturas e/ou taquicardias; Suores noturnos; Enurese noturna. vVvvvvYyyY Ao surgirem dois ou mais sintomas como estes, ou apenas um, mas de forma que prejudique a qualidade de vida, os pais devem procurar o pediatra, que possivelmente fara um encaminhamento ao psiquiatra ou psicdlogo. A psicologia comportamental tem sido bem-sucedida em tratamentos para ansiedade de 31 adultos e criangas. Ela fornece estratégias de conduta que ajudam a relaxer, a dominar os pensamentos obsessivos e a mudar o foco da ansiedade para outros aspectos. Se os sintomas forem muito intensos, o psiquiatra pode aludar, recomendando ansioliticos. Além do Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), existem também outros transtornos gerados pela ansiedade, tais como: ¥ Transtorno de estresse pés-traumatico TEPT: ocorre apés um fato ou evento traumatico na vida da orianga ou do adolescente. Tem sintomas mais intensos, por outro lado, a terapia e a medicacao ajudam muito a superar 0 trauma. Geralmente aparece apés uma separagao familiar agressiva, acidentes, mortes na familia, perda de pets, violéncia fisica, psicolégica ou sexual, mudancas de estilo de vida e de ambiente, entre outros; ¥ Fobias especificas: a crianca desenvolve um medo exagerado de determinades objetos, animais, ambientes e até pessoas. Costuma correr para perto dos pais e gritar. Pode ser efeito de uma exposicao traumatica a esses estimulos, ou fruto da mente fantasiosa da crianga. Por exemplo, ela pode desenvolver fobia de algum animal apés ser atacada, mas também pode desenvolver ao ler uma historia, ver um desenho; Y Transtorno do Panico: caracterizado por um medo excessivo de morrer ou de que algo ruim acontega, vem acompanhado de sintomas fisicos como: sudorese, taquicardia, dor no peito ou estmago, tontura, falta de ar; entre outros; VY Transtorno de ansiedade de separacdo: causado pela separagao dos pais ou da familia, atinge principalmente criancas pequenas, que acabam tendo sintomas como enurese, pesadelos, iritabilidade, choro excessivo, entre outros; ¥ Fobia Social: é um medo excessivo de situages de interagao social. A ansiedade pode causar choro, ataques de raiva, de panico, vontade de sair correndo. Também causa sintomas fisicos como suores, tonturas, falta de ar, vermelhidao. Muito comum se associar a Agorafobia, que é um medo excessivo de aglomeragées sociais. A fobia social também impede 0 individuo de agir em publico, de interagir. Sintomas de ansiedade podem ser tratados com medicacao, através do psiquiatra, e também com psicoterapia. No adulto e adolescente, medicagao e terapia juntos tém tido mais sucesso. Em criangas muito pequenas, porém, seria mais recomendado uma terapia comportamental, sem medicagao. 32 + Depressao Quando pensamos na Infancia e na adolescéncla, pensamos em transformagao, mudangas, desenvolvimento. A adolescéncia, principalmente, 6 um momento delicado da nossa vida, em que nos questionamos, tentamos nos compreender € nos encaixar socialmente. Cognitivamente, segundo a teoria piagetiana, é a fase em que adquirimos autonomia e entramos no pensamento abstrato, formal. E um periodo em que os horménios regem o desenvolvimento fisico e mental e acabam por influenciar as relages sociais. As frequentes alteragdes hormonais causam, dentre outras coisas, alteragdes de humor. Essa instabilidade emocional é vista como normal, por isso, se 0 adolescente se encontra deprimido acaba no tendo a atengdio necessaria, pois os adultos acreditam ser sé uma fase. Estudos de Goodye & Cooper (1993) revelaram que 40% dos casos de depressao na adolescéncia surgem em comorbidade com outros transtornos como o de ansiedade e de condutas sociais. A depressdo na adolescéncia pode ser desencadeada por diversas situagdes, como por exemplo, uso de drogas e alcool, histérico familiar, pressao dos pais para ter sucesso, disturbios hormonais e alteracdes no corpo. Os fracassos escolares e a dificuldade de se socializar e se adaptar a uma escola também pode desencadear quadros depressivos que podem se agravar se nao forem cuidados. Segundo a Organizagao Mundial de Satide - OMS, um em cada cinco jovens sofrem de algum problema de satide mental e isso comega a se manifestar a partir dos 14 anos. Problemas de satide mental podem causar prejuizos na escola, agressividade e problemas de socializagao. Como a maioria desses problemas ndo é tratada, também pode levar ao suicidio. O OMS aponta que o suicidio é a segunda maior causa de morte de jovens entre 15 e 29 anos. Para que essa situacao se resolva, € importante comegar a dar mais atencao ao comportamento dos adolescentes e @ sua saiide mental. Como é na escola e com a familia que eles passam mais tempo, essas duas instituices devem ficar atentas a alguns sinais de depressdo, ansiedade e outros problemas psicolégicos, como por exemplo: Isolamento; Tristeza e choro frequente; Cansago constante; Falta de motivagao e comprometimento; Alteragdes no apetite: comer muito ou deixar de comer; Desinteresse por tudo; Alteragdes no sono: dormir demais ou ter insénia; Irritabilidade; Instabilidade emocional; Agressividade. VY VV 33 Qualquer comportamento diferente deve ser notado e analisado. E muito importante que a qualquer conjunto de sinais a familia ou a escola procurem a ajuda de um profissional da sade. Depressao tem tratamento e, quanto antes diagnosticada e tratada, menores as chances de prejudicar o rendimento escolar, 34 CAPITULO 9 - INTERVENGOES: NEUROPSICOLOGIA E PSICOPEDAGOGIA Os distirbios de aprendizagem mais comuns na escola tém origem neurobiolégica, como é 0 caso da dislexia, da discalculia, da dislalia e do TDAH. Por outro lado, existem problemas de aprendizagem que so emocionais e/ou comportamentais, como pudemos estudar. Sendo assim, além do apoio da Psicologia, através da psicoterapia, existem duas areas de estudos que podem auxiliar 0 aluno com dificuldades: a Neuropsicologia e a Psicopedagogia. + Neuropsicologia Essa area estuda as fungdes do sistema nervoso e o comportamento humano influenciado por esse sistema. Como a aprendizagem, dentre outras coisas, ¢ definida por uma mudanga significativa no comportamento, a Neuropsicologia estudara também como essa aprendizagem € afetada por aspectos neurais cognitivos. Sabemos que alteragdes nos processos neurais resultam em alguns disturbios, portanto, sera uma das tarefas da neuropsicologia investigar a causa, os sintomas é 0 tratamento. A Neuropsicologia ajudaré no ajustamento desses processos neurais desequilibrados pelos distirbios de aprendizagem. O neuropsicélogo ira contribuir, primeiramente, com o diagnéstico do distirbio de aprendizagem (ja comentamos que este diagnéstico é feito por uma equipe multidisciplinar). Apés © diagnéstico, ele ira trabalhar no contexto das fungdes executivas, ou seja, na relagao entre os disturbios e 0 sistema nervoso central, ajudando a melhorar 0 sistema cognitivo. E preciso que se faga uma avaliagao do quadro geral da crianga, para analisar a evolugao cognitiva e as consequéncias do disturbio e, em seguida, elaborar uma intervencao que ajude a melhorar o funcionamento dos processos neurais. O trabalho do neuropsicélogo sera muito importante para auxiliar 0 psicdlogo e 0 psicopedagogo, ajudando-os a entender as dificuldades cognitivas. Alguns aspectos atendidos pela neuropsicologia e suas intervengées, para auxiliar no tratamento dos disturbios de aprendizagem, sdo: Problemas de meméria; Melhorias na coordenacao motora, fina e grossa; Percepcao sensorial mais efetiva; Desenvolvimento da linguagem e da comunicacao; Treinamento do raciocinio logico. vv Existem outros aspectos que um neuropsicdlogo pode abordar, relacionados as interagdes sociais, aos aspectos psicomotores, ou as habilidades emocionais e 35 sociais. Tudo, dentro de uma perspectiva que melhore o desenvolvimento cognitivo e a aprendizagem escolar, superando as dificuldades do disturbio, * Psicopedagogia A Psicopedagogia é uma area de atuagéio bem recente que pretende fazer uma ponte entre o aluno, seu contexto social, sua familia e a escola, ajudando assim esse aluno a superar possiveis dificuldades de aprendizagem e desenvolver habilidades cognitivas, emocionais e sociais. O foco da atencéo do Psicopedagogo sao os problemas da aprendizagem. Até 0 século XX, muitas criangas com dificuldades simples de aprendizado, acabaram estigmatizadas e ridicularizadas por falta de conhecimento cientifico sobre os disturbios de aprendizagem. A escola era padronizada de tal forma que alunos que ndo se adaptassem aos métodos tradicionais de ensino acabavam reprovados e em algum tempo abandonavam os estudos. A partir de 1980, a Psicopedagogla comega a trabalhar com uma visdo global da aprendizagem e seus decorrentes processos. Atua desde entdo, frente aos casos mais frequentes de problemas de aprendizagem, tais como: disgrafias, discalculias, dislexias, hiperatividades, que sempre causaram estigmas aos estudantes, considerados “incapazes para aprender’ (SOMERA, 2013). Antes de prosseguir, retomemos algumas definiges: > Dificuldade: apuro em situagao dificil; obstaculo, impedimento de ordem pedagégica ou sécio-cultural: > Disturbio: disfuncdo neurolégica que causa uma perturbagdo em certos, aspectos do organismo; > Transtorno: conjunto de sintomas que dificultam 0 aprendizado e outras funcdes; > Disfungao: comportamento que foge ao padrao esperado causado por doengas ou condigées temporarias ou nao; > Inabilidade: caréncia de determinada habilidade ou diferenga significativa da habilidade esperada (SOMERA, 2013). > Sindrome: “conjunto de sinais e sintomas observaveis em varios processos patoldgicos diferentes e sem causa especifica” (dicionario do Google, 2020). Os problemas de aprendizagem englobam disturbios, dificuldades, deficiéncias, transtornos, desordens, qualquer aspecto que afete o desenvolvimento do aluno 36 @ 0 que este aluno aprende. Em alguns casos, a intervengao de um profissional capacitado que auxilie 0 professor a ensinar esse aluno e complemente as aulas regulares 6 obrigatéria. Alunos com Transtomos Globais de Desenvolvimento, por exemplo, tém direito ao atendimento educacional especializado (AEE), no contra turno escolar. Para os distirbios de aprendizagem, o psicopedagogo é 0 profissional que ir atuar mais préximo da escola. A Psicopedagogia 6 0 trabalho com a aprendizagem, com o conhecimento, sua aquisigdo, desenvolvimento distorgdes. Este trabalho é realizado através de processos e estratégias que levam em conta a individualidade de cada aluno, seu ritmo de aprendizagem, stias habilidades, seu contexto social e suas competéncias. O Psicopedagogo deve considerar os seguintes compromissos (SOMERA, 2013) > Conhecimento/aprofundamento de teorias para a_intervengao psicopedagégica (técnicas e estratégias adequadas a cada caso); > Acesso a uma correta instrumentacao de avaliacao; Supervisdo e trabalho pessoal terapéutico; > Manter sigilo, ética, educagao continuada e contribuigao & comunidade com pesquisas. v © Psicopedagogo que tenha uma visdo de pluricausalidade e conviegdo do conhecimento multidiciplinar tem uma ago mais apropriada para sua atuacao técnica. O trabalho da psicopedagogia se desdobra em duas frentes: a clinica e a institucional. © psicopedagogo institucional é o profissional que: > Colabora com a Instituigdo: familiar/escolar/educacional, > Diagnostica e identifica obstaculos do desenvolvimento da aprendizagem através da andlise institucional e pedagégica > Implanta, na instituigdo, recursos preventivos as dificuldades de aprendizagem; > Investiga diferentes metodologias; > Transmite/constréi conhecimentos. Alem dessas responsabilidades, 0 psicopedagogo institucional deve apoiar e orientar 0 professor e a gesto escolar. Coloca-se mais proximo ao estudante, demonstrando um olhar inusitado, uma escuta sensivel, uma fala que remete ao. didlogo e com agdes mais reflexivas. Também deve cooperar com a equipe multiprofissional que visa ajudar a crianga com dificuldades de aprendizagem. Cabe ao Psicopedagogo Institucional ajudar na efetivacao da cultura preventiva aos problemas de aprendizagem, por exemplo, incentivando a equipe da escola para transformar-se e agir com postura mais atuais. Essa postura envolve uma 7 gestdo e uma docéncia mais democraticas, mais foco das habilidades que nas. dificuldades, didlogo com os alunos e adogao de pedagogias ativas. © psicopedagogo precisa do acesso aos documentos escolares, para o acompanhamento do programa desenvolvido pelos docentes, tais como: 0 Projeto Politico Pedagégico da Escola; a Matriz Curricular de cada série, aos respectivos Planos de Ensino de cada disciplina/ docente. Para o acompanhamento do rendimento escolar dos estudantes é preciso que haja acesso aos boletins escolares com as notas obtidas em cada bimestre. Assim, 0 profissional pode analisar as faltas X contetido perdido X contetido ministrado; fazer a identificagdo dos alunos que nao conseguiram meédia; fazer um estudo dos casos, e assim planejar reunides com os docentes e coordenadores para estruturacdo de estratégias de recuperacao ou identificagao de dificuldades de aprendizagem a serem trabalhadas na escola, ou para encaminhamento dos casos para os especialistas necessarios. Pode também fazer um estudo do desempenho das séries em termos de rendimento do contetido escolar do bimestre para posteriores estudos e providéncias (SOMERA, 2013). Ja 0 psicopedagogo clinico é 0 profissional que atende um aluno ou grupo de alunos, de forma personalizada e especrfica. Assim, ele pode focar no disturbio do aluno ou grupo de alunos, elaborando estratégias adequadas para aquele problema e para dificuldades individuais. Ele orienta grupos familiares ou docentes em relagdo ao processo de aprendizagem. Também efetua diagnésticos do sintoma de dificuldade de aprendizagem através de técnicas especificas e da integragéo de dados de outros exames: neuroldgicos, escolares, foncaudiolégicos e psicolégicos (SOMERA, 2013). 38 CAPITULO 10 - A ESCOLA E OS DISTURBIOS DE APRENDIZAGEM Para concluirmos nossos estudos, precisamos descrever como a escola tem lidado com os disturbios de aprendizagem atualmente, e quais responsabilidades ela deve assumir diante desse distirbio. Sabemos que geralmente é na fase de alfabetizagao que os disturbios mais comuns sao detectados, por conta da dificuldade em aprender alfabeto e nimeros, mas também sabemos ser possivel um diagnéstico e uma intervengdo precoces. Quanto mais cedo a escola perceber os sinais de um disturbio, sinais estes que ja descrevemos aqui, para cada um deles, mais cedo a crianga pode ser encaminhada para o tratamento. Portanto, é na Educacao Infantil que se identifica alguns desvios dos padrées de desenvolvimento fisico, cognitive e psiquico. Se a escola nao distingue em seus alunos suas dificuldades e o ajuda a superé-las, esse aluno vai se sentir inseguro, ansioso e desmotivado com 0 aprendizado. Por esse motivo, distuirbios de aprendizagem sempre causaram evasdo escolar. O aluno nao se adapta aos modelos engessados e tradicionais, e acaba nao se sentindo adequado ao ambiente e a rotina da escola. Desde a LDB de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educagdo) a escola recebe uma grande quantidade de alunos e muitos so de incluso, por isso, a educacao tem tentado se atualizar e se adaptar a diversidade escolar e também ao ensino de criangas com problemas de aprendizagem. Assim, a escola atual tenta conhecer e se informar sobre os distirbios de aprendizagem, tenta conhecer ao maximo seu publico, com sua cultura, seu grupo social e suas peculiaridades, e tenta adaptar seus métodes a uma nova geracao, que nasceu em meio a tecnologia digital. O papel do professor nesse cendrio é muito importante, pois ¢ ele quem ira ter o primeiro contato com as dificuldades de aprendizagem dos alunos. Ao identificar que 0 aluno tem alguma dificuldade, 0 professor pode informar a gestéo que comunicara aos pais a necessidade de procurar uma avaliagao psicopedagégica. Mas a responsabilidade do professor ndo para por ai, ele precisa adotar algumas estratégias em relacao a esses alunos, tais como: > Prestar atengdo diaria a esses alunos, atentando-se as suas dificuldades, auxiliando-os sempre que possivel; * Adotar um método flexivel de ensino, que valorize as habilidades dos alunos; > Adotar avaliagdes adaptadas aos alunos com distirbios e outras dificuldades; 39 >» Estar sempre atualizado sobre atividades e praticas pedagégicas adequadas para os disturbios de aprendizagem; > No estigmatizar, nem humilhar, nem repreender excessivamente alunos com dificuldades, devemos lembrar que a crianga nao tem culpa do disturbio; > Manter o psicopedagogo e a familia informados sobre o rendimento do aluno; > Acolher e motivar o aluno com dificuldade, mostrando a ele que pode ensina-lo e que ele é capaz de aprender. Ensinar é um desafio, sempre. Nao existe uma Unica sala de aula que tenha alunos totalmente iguais, no mesmo nivel. Toda classe tem alunos com ritmos de desenvolvimento diferentes. A escola atual recebe um piiblico diversificado e precisa estar atenta a essa diversidade. Essa escola, também precisa adotar algumas estratégias para que os disturbios de aprendizagem nao prejudiquem o rendimento de seus alunos, vejamos: > Usar as metodologias ativas: 0 método tradicional de ensino nao da conta de ensinar alunos com problemas de aprendizagem, eles precisam que os conteiidos sejam aplicados de forma ativa, ou seja, com atividades praticas e significativas; > Atentar para o aspecto individual: cada aluno precisa ser acompanhado individualmente, pelo menos nas avaliagdes, com tarefas e provas adaptadas. Por exemplo, o aluno disléxico precisa de um ledor para sua prova, Além disso, 0 progresso avaliado nao deve ser comparado a0 dos outros alunos; > Usar o lUdico: a escola deve contar com as atividades ltidicas para estimular 0 desenvolvimento cognitivo e social dos alunos; > Investir em tecnologias: muitos programas de computador tém sido desenvolvidos para auxiliar pessoas com problemas de aprendizagem. Também ha aplicativos e recursos de tecnologia de assistiva, materiais didaticos adaptados, atividades digitalizadas, entre outros; > Criar uma rede de apoio: através de grupos em redes sociais, a escola pode criar uma rede de troca de informagées e ideias, que envolva pais, professores, psicopedagogos e gestores. 40 As tecnologias digitais muitas vezes vistas como inimigas pela escola, mas 0 fato € que elas podem se tomar uma ferramenta bastante util nas aulas, principalmente auxiliando alunos com dificuldades. Existem muitas formas de 0 aluno aprender através do computador, velamos algumas delas: > Programas tutoriais: existem muitos videos na intemet ensinando a fazer todo tipo de coisas, como cozinhar, consertar objetos, fazer artesanato. Com os contetides académicos nao é diferente, existem muitos tutoriais ensinando as matérias que so aprendidas na escola. A vantagem dos tutoriais é 0 fato de o computador poder apresentar 0 material com outras caracteristicas que nao sao permitidas no papel como a animagao, sons e a possibilidade de interagao; > Programa de exercicio e pratica: os programas de exerciclo e pratica sao utilizados para revisar o material visto em classe principalmente o que envolve memorizagao e repetigdo, como matematica e vocabulario. A vantagem desse tipo de programa é 0 fato do professor dispor de uma infinidade de exercicios que o aprendiz pode resolver de acordo com 0 seu grau de conhecimento e interesse; Jogos educacionais: é um recurso que une o aspecto liidico e a aprendizagem, ou seja, através dos jogos eletrénicos didaticos, 0 aluno aprende e se diverte. Portanto, existem miltiplas possibilidades de a escola e 0 professor diversificarem seus métodos e suas praticas para conseguir ensinar aos alunos que tém problemas de aprendizagem, basta estarem atentos e informados e nao desistir desses alunos. 41 CONSIDERAGOES FINAIS Independentemente de seus alunos terem ou nao disturbios de aprendizagem, toda escola e todo professor precisam ser flexiveis em sua postura didatica, estarem sempre abertos a novos métodos e atualizados quanto aos tratamentos que sao dados as dificuldades escolares. A familia precisa estar sempre informada sobre o rendimento e o progresso de seus filhos, deve ser participativa, pois a escola ndo consegue educar e ensinar um aluno com dificuldades sem uma rede de apoio. Atualmente, a crianga entra na escola cada vez mais cedo e é muito importante que © professor da Educacdo Infantil saiba identificar sinais de disturbios de aprendizagem, para que um diagndstico e um tratamento adequados sejam feitos o mais rapido possivel. As intervencdes precoces irdo ajudar a prevenir 0 fracasso escolar. Nos nossos estudos, pudemos entender as caracteristicas dos distirbios de aprendizagem mais comuns na sala de aula atual, como a dislexia, o TDAH, a discalculia, a dislalia e a disgrafia. Pudemos ver que séo de origem neurobiolégica e acompanhardo o aluno por toda a vida, porém, esse aluno pode conseguir desenvolver habilidades e estratégias para superar as dificuldades que esses disturbios causam, Também citamos o Transtorno do Espectro Autista e a Sindrome de Asperger, que causam dificuldades de linguagem e interacéo social, o que acaba prejudicando o rendimento escolar de quem que os possui se ndo forem tratados de forma adequada. Por fim, exploramos problemas relacionados as questées emocionais e psiquicas como a ansiedade e a depressdo, assim como os problemas ‘comportamentais como o TOD. Em qualquer situagao, o papel da escola e do professor é muito importante. Estes, precisam ser abertos e fiexiveis em relacao aos métodos de ensino, as tecnologias, as novas teorias educacionais e aos recursos didaticos adaptados. Um olhar de atengdio ao aluno, valorizando suas habilidades e auxiliando em suas dificuldades é o grande diferencial ao lidar com qualquer problema de aprendizagem. 42 BIBLIOGRAFIA ABD - Associagéo Brasileira de Dislexia. Disponivel em: https://)www.dislexia.org.br/. Consulta em 08/09/2020. ABDA, Associacao brasileira de déficit de aten¢ao. © que 6 TDAH. Disponivel em: https://tdah.org, br/sobre-tdah/o-que-e-tdah/ . Acesso em 14 de setembro de 2020. ASBAHR, F.R. Transtornos ansiosos na infancia e adolescéncia: aspectos clinicos e neurobiolégicos. Artigo de Revisdo. Jornal de Pediatria. Vol. 80, N°2(Sup!), 2004. ALVES, L. M., CAPELLINI, S. A., MOUSINHO, R. Dislexia: Novos Temas, Novas Perspectivas. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011. ANTONIO, R.M.R. Disartria: 0 que 6, tipos e tratamento. Disponivel em disartria/#:~itext=Al%C3%A9m%20diss0%2C%20a%20disartria%20pode,ou%2 % NS%C3%ASO%20da%20linquagem. Consulta em 07/09/2020. BOSA, C.; CALLIAS, M. 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