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| descoberta da literatura Is Esta recolha constitu um Contos de aitores contemp: para um piiblico de rivel inter’ Led! para aitodidatas, Wisteria de Bol @ leitura do texto original atr 2 Sintéticas, @ inclu ainda exerci reter 0 neve léxico @ aplicar elene graritica. Pode tambion ser util de sala de aula gragas as penguin Séo do texto 2 aos temas de comensniia «i redagdo propostes. : CONTOS DE Mério-Henrigae Leiria Carvalho *® Olinda Beja ® Joana Bé Pala Maia * José Eduarde Ac Lepes * Claudia Tejes * Mar Altine do Tajal * Daniel Galera * ¥ Toto Miguel Henrigues * Dai Luts Carlos Patraguin * Ls: Fernando Bonassi * Luis Listepad * Dvana Arruda Leite * Historias de bolso 21 contos de autores lusdéfonos anotados para estrangeiros Escolha dos textos, anotagBes e exercicios de Gongalo Duarte Enicio « Dsrmauicho a Projetos de edigdo: eciooesple@idel pt wari pt Lives Av. Praia da Vitéria, 14 A ~ 1000-247 Lisboa Tok +351 219.511 448 * Fax: 4951 219 173 259 Inrariagidel pt Copyright © 2016, Lidl -Eiedes Téericas, Lda. ISBN ecigéo mpressa: 978-980-752-142-3 1.8 ecigo imoressa: feveraro 2016 ‘Goncegao de avout: magnetic Pegragio: Méica Gonaives, Impressdo @ acabamento: Caflesa ~ Sok ~ Vor Paprosia estan lucdes Graticas, Lda. — Venda do Pinheiro Capa: José Manuel Ris Todos o8 rosso fos passa ps vos 3 un goon conte de aad, no erro aconseharos a ja pric J nose sto fn Alp) para coro dovnoad oe eletoas reese No no esponabiarcs por desta , vonficadas @ data de publicagao da mesma. fee oes Heeroeeiespresrtes neta obra, ue fram DICE Introdugao Nota: Acordo Ortografico “Aescolha” « “Taxi” NTRODUCAO Por onde comecar? costumam perguntar os alunos estrangeiros que apren- dem portugués quando ja se sentem capazes de ler textos literarios. Esta recolha constitui um primeiro passo na descoberta da literatura lus6- fona, reunindo 21 contos de autores contemporéneos, anotados para um pu- blico de nivel intermédio ou avangado. Ideal para autodidatas, Histérias de bolso facilita a leitura do texto original através de notas claras e sintéticas, e inclui ainda exercicios que permitem reter 0 novo léxico e aplicar elementos de sintaxe e gramatica. Pode também ser utilizado em contexto de sala de aula gracas as perguntas de compreen- so do texto e aos temas de conversagao e de redago propostos. Cabe 20 professor decidir como melhor aproveitar estas indicagdes, mas sugere-se que os alunos procedam sempre a uma primeira leitura individual dos contos, Com esta obra, pretende-se ainda mostrar que ler textos originais € mais simples do que parece, sobretudo quando ultrapassadas as barreiras iniciais. Os contos sao origindrios de paises onde ¢ falada a lingua portuguesa: Por- tugel, Brasil, Angola, Mocambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, S80 Tomé e Principe e Timor-Leste. Decidiu-se manter a ortografia original de cada texto, de modo a colocar o leitor numa situagdo de leitura auténtica, uma vez que a grande maioria dos livros atualmente disponiveis ainda respeita a antiga ortografia. No caso de palavras, expressdes e particularidades sinté- ticas préprias da norma do Brasil, so indicados os equivalentes correntes em Portugal Este livro sé se tornou possivel gragas 4 generosa colabora¢ao dos autores e editores que aceitaram participar no projeto, e deve também muito a0 con- tributo indispensével de Aldo Caggiano e a ajuda de Catia Sever, Eduardo Simées e Silvia Capanema, Para todos, pois, os meus mais sinceros agrade- cimentos. Histérias de bolso & o resultado do dialogo proveitoso, ao longo dos anos, com amigos e estudantes de varios paises, que tm em comum o interesse pela lingua portuguesa. A todos eles 0 dedico, e em especial a Fabio Vanin, Ana Kuzmanovic, Daniel Calderén, Barbara Bichler e Thomas C: Gongalo Duarte “We NOTA: i ACORDO ORTOGRAFICO Respeitando a decisao de varios autores, foi mantida a grafia original dos contos aqui reunidos. Isto significa que o aluno que jé aprendeu portugués segundo 0 novo acordo ortografico poder encontrar algumas diferencas na leitura destes contos. No entanto, elas so tao pequenas que no prejudicam a leitura. Quando uma palavra do texto surge em nota na barra lateral, é indi- cada a nova grafia, como em a(cito ou exce(p)to. Relembremos algumas regras do novo acordo, que visa unificar as grafias das variedades de Portugal e do Brasil alteragdes que afetam a variedade de Portugal > desaparecimento de consoantes mudas (que nao se pronunciam) acgdo, dptimo - ago, étimo > uso de mindscula nos nomes de meses e estaces Janeiro, Primavera ~ janeiro, primavera alteragSes que afetam a variedade do Brasi > desaparecimento do trema cingilenta -* cinquenta > desaparecimento do acento nas terminacoes -60 e -éia v0, idéia + voo, ideia alteragdes que afetam as duas variedades > desaparecimento do acento nas terminacées verbais -éem véem, créem — veem, creem > desaparecimento do acento na forma verbal “para” (do verbo parar) para para Mantém-se no novo acordo as diferencas de acentuacao nas palavras es- druxulas (isto é, acentuadas na terceira silaba a contar do fim) nas duas va- riedades: académico, fenémeno (Portugal) / académico, fendmeno (Brasi «ve SINAIS E ABREVIATURAS UTILIZADOS NESTE LIVRO % aqui, neste contexto especifico = igual a, o mesmo que * ocontrario de ° introduz um exemplo em itdlico de uma palavra ou expressao -0 do portugues de Angola BR uso especifico do portugues do Brasil (vs. PT de Portugal) CV uso especifico do portugues de Cabo Verde depr. uso depreciativo (a evitar: pode ser considerado ofensivo) enf. 1 (serve para tornar a mensagem mais expressiva) est. ico, proprio de um escritor (mas raro na linguagem comum) fam. i (pressupde um contexto informal) GB ‘0 do portugués da Guiné-Bissau gross. uso grosseiro, vulgar (a evitar: pode ser considerado ofensivo) interj. interjeigao iron. nico (s6 indicado nos casos em que possa surgir a divida) M uso espe pop. uso popular por ex. por exemplo 10 do portugués de Mocambique A viagem, / enfim Mario-Henrique Leiria ‘Autor portugués (Lisboa, 1923 - Cascais, 1980). Obras: Contos do Gin-Tonic (contos, 1973), Novos Contos do Gin (contos, 1974). Este conto integra Contos do Gin-Tonic, Lisboa: Estampa, 1973 (www.estampa.pt). Isto de ter sempre o mesmo sonho todas 25 gperrecido- chao «eat noites torna-se aborrecido. ‘multe ; amos Is en) -varos _Era assim: safa de casa, ia até ao carro e dizia {3 otante no ugor So fa vamos li fazer essa viagem». Primeiro condutor travam a mulher e as duas criangas, depois os © & perigosoquiar um carro. ‘mio no volante pal -sp3G0 havia lugar para os sogros! Era sempre a mesma S26#oe, pals da maet gar para Os sogi P por mais que ~ ainda que coisa, Por mais que em guiam meté-los ld dentro. eras aces ‘Acordava a suar, empurrando ainda qualquer 9 empurrar um carinho de : : Ssupermercado com compras coisa que nao estava I. eee A mulher aconselhou-lhe uns calmantes, para svar - transpirar © suar devido oo calor ver s¢ o sonho se iz ele instalava-se a0 volante e pronto, nao insistissern mui forgar ‘econselhar ~ propor, dar um Mas nada. Lé vinha sempre, todas as noites. E _consetho, uma sugestéo ealmante~ comprimido para scalmer, drmi melhor sea ~ deseperecia verdade que empurrava menos, talvez os calman- tes, mas continuava naquele desespero d conseguir enfiar 0s sogros no carro Os sogros disseram-lhe que nao se interessa- ‘| ee to sonho vam em ir, néo fiziam questio, jd estavam velhos (ere Nesta — querer muito ara viagens. alguma coisa Pr ao © fago questdo de o conhecer Os pais prontificaram-se a ceder os lugares deles. Toda a familia colaborava, mas 0 sonho con- tinuava. hegou a fazer experiéncias, a meter a familia completa no velho Citrogn arrastai i m todos, mais ou m dos mas entravam. Mas no sonho nio. A coisa tornava-se desesperante. — Porque é que nao vais a0 Mora? Ele é psica- ira. E conse- 10s aperta- j@ arreliada, e preocupada também, com aquelas Viagens nocturnas e frustradas em que ele se en- volvia sem culpa. O Mora era amigo de infincia, nem sequer ect eel lel pas caeet en exeaosingicliAs vezes até ia Ié jantar. E respondeu a mulher: — Tens razio, Xuxa, vou mesmo, que isto assim nao pode ser. Tens sempre razio, menina. Deu-lhe um beijo e atirou-se para o consulté- rio do Mora. Contou tudo. © Mora m mai: lou-the contar © passado também que, mesmo sendo s de infancia, 0 passado continua sempre oculto, a0 que disse. Deitado, contou-lhe o que Ihe veio a cabega. E a coisa pareceu esclarecer-se. O que ele precisava era de derivar, sabem, encon- trar qualquer coisa além do carro e da viagem que nao fazia em sonhos. Derivar. Subs carro. Agradeceu ¢ convidou 0 Mora para jan- tar no sibado. O Mora nao podia ¢ deu-lhe uma palmada nas costas. Chegou a casa aliviado e esclareceu a Xuxa: — Vou derivar, menina. a2 ‘conseguiam meter-se apertado ~ sem espaco, ‘comprimido, +4 vontade tira-te isso ~ fa isso desa- parecer ‘rustradas - sem sucesso, {que no iam até 20 fim atirar-se ~ & ir depress se de uma folésia para o mar ‘eonsultério - local privado ‘onde os médicos recebem ® o.consultrio do dentista ‘mesmo sendo ~ embora fassem fo que the veio & cabeca - tudo aquilo em que pensou 9 derivar a conversa para outro assunto além de ~ que néo fosse s6 aliviada - mais sossegade, mais tranquilo ° fomei uma aspirina e a dor de cabego alviou = Deri im, substituir 0 carro € tudo 0 mais, ex- cepto tu, as criangas, os velhos e a casa. Amo-te, ‘mas vou derivar. Xuxa concordou, Desde que derivar resolvesse 0 caso, ele que derivasse quanto fosse preciso. Nessa noite ainda teve 0 sonho e acordou es- tafado de tanto empurrar os sogros. No dia seguinte avisou para o emprego que ia mais tarde, foi ao Banco buscar 0 que sobrava € entregou-se a uma moto, uma Rudge poderosa e ‘em segunda mao. Estava a derivar em cheio. O sonho foi-se diluindo. Cada vez empurrava menos, com grande satisfagao da mulher. Entdo, apés ter passado um fim-de-semana a mexer na maquina para ver se percebia alguma coisa ¢ a dar voltas pela vizinhanga de capacete preto ¢ amarelo enfiado na cabega, deixando 0 carro na garagem, sentiu-se livre. E era verdade. A noite nao sonhou. No dia seguinte a Xuxa disse-the que até parecia dez anos antes. Tudo voltou & normalidade, os sogros d ram de se preocupar com a viagem, as criangas entusiasmaram-se com os estoiros da moto. E 0 carro na garagem. E, de repente, tornou a sonhar. O sonho. Assim: sai de casa, foi até ao carro ¢ milia evamos li fazer essa viagem». A -as entraram, depois os pais, ¢ ele -se ao volante. Endo havia lugar para os sogros! Comegaram a empurrar para os meter Ii dentro, € nada. Entio virou-se para a garagem. Estava um pouco diferente mas a moto continuava li cae dentro. Deixou tudo, montou a moto, pés 0 13 ‘exce(pto ~ salvo, menos 8 alo estéaberta todos os dias, exceto avs dominges concordat - estar de acordo desde que - na condicdo de © podessair desde que ndo voles tarde fle que derivasse ~ podia derivar quanto fosse = % adquirir sem culpa, com prazer moto (ou meta) - veiculo io - completamente diluir ~ficar menos intenso exer na maquina - © expe- Fimentar a mota capacete - pega que protege ‘a cabeca ao andar de mota owviuese um do incéndio ‘montar ~ por-se em cima © montar a cavalo chapéu de palha ¢ avangou pela estrada. Uma chepéu de patha - chepéu O TEXTO estrada larga, muito aberta a tudo. Pareceu-lhe v jaa ter visto alguma vez. Olhou para trds ¢ Id ao Y, EXERCICIOS DE COMPREENSAO. longe, & porta da casa, continuavam a empurrar- local onde ercu- cu -lhe os sogros. Acenou uma despedida, acelerou $jpesqutestrada liga os 1. Verdadeiro ou falso? € continuou, olhando arvores e nuvens. en lteter 2 a) [-] O sonho preocupava nao s6 o homem mas também a sua familia Ainda nao voltou. ae iu b)[_ | Os pais sentiam ciumes do protagonismo dos sogros no sonho. sche @eicom Ay ©)|_] O psicanalista agrediu 0 amigo, batendo-the nas costas. | grees yaa samara |] Ao substituir 0 carro pela mota, ele deixou de ter sempre o | ‘partia no barco mesmo sonho. fcelerar~ic mai depvessa | 2. Qual dos dois? a) O homem que sonhava possuia um carro que era... 1. [)] ..jé bastante velho 2.[-] ..novinho em folha b) Quando os membros da familia experimentaram realmente entrar no carro... 1.[ ] ..couberam todos 2.[[] ..n&o conseguiram c) Depois de o protagonista comprar a mota, a mulher achou-o... 1.(.] ..ainda mais abatido 2. [] ..com bom ar (. TEMAS DE DISCUSSAO > Que tipo de relago poder ter 0 protagonista deste texto com a far > Arrotina: causas, consequéncias e modos de a quebrar. > Como interpreta 0 conselho do psicanalista? SUGESTOES DE REDACAO > Como justifica 0 titulo do conto: “A viagem, enfim”? > Se pudesse fazer uma viagem qualquer, qual seria 0 seu destino? Por- que? <4 ABs A LINGUA AFINAL E FACIL! Recorde as preposic®es relacionadas com tempo: © em — dia pontual: “tern consulta na quinta-feira” (= nesta quinta) © a~ dias habituais: “tem consulta as quintas” (= todas as quintas) © a~ hora certa: “a sesso comega as seis © por - hora aproximada: “a sesso termina pelas seis e meia” (+ ou -) © desde - limite temporal (passad: © até - limite temporal (futuro): ‘esta la em casa desde as cito” ica até a meia-noite’ % NOTA: advérbios: jd, antes + depois (= apés), cedo + tarde ARETER > até - advérbio, algo inesperado que acontece: “até ia la jantar” > nem sequer ~ (+ até), algo esperado que nao acontece: “nem sequer pagava” > la ~ realca uma acdo: "vamos [a fazer essa viagem’, “té se metiam todos" > cada vez mais/menos - intensidade: “cada vez empurrava menos” > chegar a + aco - ir ao ponto de: “chegou a fazer experiéncias” > r+ gerdndio ~ aco progressiva: “o sonho foi-se diluindo’ EXERCICIOS DE APLICACAO 1. Tiro ao alvo [1] Todas as noites sonhava com 2.[-] Acordava sempre cansado de 3. [|] Por mais que pensasse no pro- blema a) tanto empurrar os sogros. ) era de derivar. c) a mulher estava de acordo. <6> 4,(-] A mulher também andava pre- d) no encontrava uma solu- ocupada ho. 5.[] Afinal, o que ele precisava €) a mesma situagao. 6.[_] Desde que derivar resolvesse _f) com aquele sonho constante. o caso, 2. Arrumar a casa além / exceto / até / nem sequer / ainda a) Estava tao preocupado que meteu a familia no carro. b) O psicanalista _ __aceitou um convite para jantar. c) Tinha de encontrar algum outro interesse, do carro. @) Disse & mulher que ia substituir tudo, a familia, e) Depois da consulta, tes. teve 0 sonho durante algumas noi- 3. 0 rato comeu a) No sonho, ele instalava-se ao v__a_t _, pronto a partir. b) Os pais disseram que no faziam q___t__ de ir na viagem. c) Ele estava a derivar em _h_i_. ) Comprou uma mota em segunda m __. e) Para andar de mota em seguranca, é preciso usar umc_p__e__. 4 Qual dos dois? a) A noite nao dormia o suficiente, por isso passava 0 dia.. estafado 2. ..entusiasmado b) E uma histéria pouco comum, absolutamente... 1.) .wextraordingria 2.0 ©) Quando finalmente deixou de sonhar, sentiu-se.. 1.) -aliviado 2.[] ..arreltiado ) Como queria afastar-se depressa, ele decidiu 1.) empurrar 2.[] acelerar aborrecida amota +t NOTAS (romance, 2002), Reprodugdo (romance, 2013). Este text rénicas jornalisticas 0 mundo fora dos eixos, S80 Paulo: Pi HA duas semanas, uma mulher se sentou ao meu lado num trem entre Téquio e Kyoto. Por alguma razao da qual jé nao me lembro, comega- mos a conversar. Conversar é modo de dizer, jé que nao falo japonés e ela mal compreendia o in- giés. E provavel que tenha se sentido encorajada nesa, 0 monumental “As Inmas Makioka” (“Sa- de Junichiro Tanizaki (1886-1965), que deve sair em breve no Bi Dada a precariedade do cios eram superados por gestos € sorti tentes, até que nos entendemos bem. Entendi que cla dava aulas de canto kabuki e que era esse © motivo da sua ida a Nagéia naquela manha. Bla entendeu que eu estava no Japao fazendo uma pesquisa sobre Tanizaki. i me dive que cu no podia deixar de ir { casa da mulher do escritor. A tinica casa que | eu pretendia vistar (€ que tinha servido de ins- & piragio para 0 cendrio principal de “As Irmas <9 vont «corbin &7 eels ec Snisieasrsnee eee © ache que ele nao gostou do Jantar, mal ecou no prate ‘encorajada - estimulada stir - & ser publicado dada ~ & tendo em conta, considerando 9 dadas as condigdes, £0 ‘melhor que se pode fozer precariedede auséncia de condigdes necessérias um emprego precério ‘superar - ullrapassar Makioka”) ficava em Ashiya, entre Osaka ¢ Kobe. Ela falava de outra, mas no conseguia me fazer entender onde ficava. Antes de descer em Nagéia, perguntou o nome do meu hotel em Té- quio, para onde eu devia voltar em uma semana. Por uma curiosa coincidéncia, o jantar que eu tinha marcado para 0 foi cancelado na guei ao hotel, j4 me esperava um fax do marido da mulher do trem, me convidando para jan- tar naquela noite. Recusar seria jogar fora uma oportunidade tinica. Os japoneses nao costu- mam convidar para jantar em casa, muito menos um estranho encontrado num trem. Se fosse em qualquer outro lugar do mundo, provavelmente ido, mas o Japao ¢ um pais ab- solutamente seguro, ainda mais para um brasi- leiro acostumado & ameaga didria dos assaltos. ‘Tentei sublimar a suspeita de que pudessem ser demasiado excéntricos. De incitado pela curiosidade antropolégica, nem que fosse s6 para conhecer a intimidade de uma fas japonesa. O marido me esperava na estacio de metrd. Era gordinho, simpatico e tinha um libio lepo- rino, O apartamento ficava perto da universi- lado em Toronto, falava inglés. Ao encrar- ipressio de que ele ren- idilha. Nao ram iento, que velas. ccancelar - desmarcar (um fencontro, uma reunis jogar fora (BR) = ~ % desperdigar ‘menos - menos ainda, ainda & mais ditiit ° nao tenho dinkeiro para comprar pao, muito menos para Jantar fora hem que fosse sé - pelo menos com essa motivacao 218 olivro, nem que seja sé para criticares! ‘metrO (BR) = metro (PD) aio leporine - maltocmagse natural (par cima da baca), {que se pode operar ° pintar 0s lébios com baton 0 bebé nasceu com um ldbio leporine e foi operado {20 entrarmos ~ quando entrémos ressBo - sensacao ir numa armaditha ~ ser ima dos planos de alguém {que quer prejudicar eu pus queljo na armadilha ora apanhar 0 rato penumbra - escuriddo velas - objetos de cera que se queimam, para dar luz Para completar, um cartaz na entrada fazia, sc nao me engano, referéncia aos mortos. Enquanto cu tirava os sapatos, disfargando 0 pavor, os dois se entreolhavam. Eu estava perdido. Fui levado & sala de jantar que, ao contririo do que eu imaginava da minha tipica casa japo- nesa, nao tinha tatames nem portas de correr, estava decorada com cristaleiras ¢ espelhos nas paredes. A atmosfera era soturna, entre 0 gético € 0 art nouveau. Enquanto a mulher preparava o jantar, 0 ma- rido conversava comigo. Tinka conhecido um outro Bernardo, também br: , Na universi- dade em Toronto. “Uma histéria triste. Morreu de repente. © enterro foi espetacular.” Eu me senti na pele da vitima inocente de uma cerimé- nia macabra. A mulher da cozinha. “Nao sabiamos qual eta a sua religido, se era mugulmano, entéo achamos que frango era 2”, disse o marido. ‘A tinica coisa que me vinha a cabega era um pe- queno romance de horror, de Ian McEwa Comfort of Strangers” (“Ao Deus-Dard”, em portugués), em que dois jovens ingleses se tor- nam vitimas nas maos de um casal de anfitrides que acabaram de conhecer em Veneza. A stibita suposi¢ao de que pudessem ter me associado as obsessdes sexuais dos livros de Tani- zaki por pouco nao me fez perder 0 controle. Co- mecei a falar pelos cotovelos. Comia 0 minimo. Queria evitar 0 envenenamento. Os dois se treolhavam, como se houvesse um plano secreto, que eu desconhecia. O estranho era que também ssem de liceratura, de cinema (ela gostava de Rohmer e ele, de filmes-catdstrofe). Passavam as cartaz - péster se no me engano ~ tenho a impressio (nao estou certo) Aisfargar ~ fazer de cont, tentar nao mostrar uma coisa nao reconheceu 0 antiga colega, mas disfarcou paver - grande medo ‘entreolhar-se - olhar um para 0 outro evade ~ % conduzido ‘sem que ninguém esperasse fenterro ~ ceriménia er que ‘corpo da morta desce & terra ra pele ~na posicse ele tem mesmo azar...ndo ‘queria estar na sua peel cerimbnia (A= cori @P macabra assustador ‘mugulmano ~ ‘segue os preceitos do Isl80 ‘0 lugar de aragao dos mu- ‘ulmmanos & a mesqui frango - galinha jovem vir a cabega - pensamentos que surgem sem intenao a0 Deus-daré (pop.)- des protegide, sem apoio nas mBos de -scb, a spor de anfitrides - pessoas que ‘ecebem outras em sua casa falar pelos cotovelos - falar muito, sem parar fenvenenamento ~ingestio de subs vyezes fatais © Sdcrates bebeu um veneno (cicuta) para morrer férias em Borgonha. Nao sc encaixavam na ca- ricatura que eu fazia dos membros de uma seica satinica. O matido perguntou se eu era casado e disse que eu precisava arrumar uma mulher japonesa Achei que era piada. Nao era, Em “As Irmas Makioka’, nao ha as obsess6es sexuais que cos- tumam marcar os livros de Tanizaki, Em com- pensagéo, durante mais de 500 paginas, a fam no pensa em outra coisa além de arrumar um marido para uma das irmas encalhada Nem acreditei quando por fim consegui es- capar do apartamento. E provavel que tudo nao tenha passado de um mal-entendido de estere- Stipos: eu estava atrés de uma “tipica casa ja- cles s6 queriam falar inglés, conversar im estrangeiro e resol pé da letra os preceitos de Tanizaki em seu “Elo- gio da Sombra” e me mostrar a quintesséncia do Japao, ao deixar o apartamento nas trevas. Nao sei o que devem ter pensado de mim. Desde que todos os meus sonhos tém sido japoneses. E, de vez em quando, ainda me idade de estar sob 0 efeito de algum tipo de encantamento. <> ‘encaixar-se ~corresponder ‘arrumar (BR) = & arranjar (PD ~ encontrar, conseguir 0 orrumou (BR) /arranjou (PP) um bom trabalho gracas ‘208 seus contactos piada - brincadeira ‘compensacio - por ‘outro lado, em alternative as - © procurar, seauir 20 pe de letra - seguir de forma fil, er atteracoes preceiios- ensinamentos, regras de uma doutrina ‘uintesséncia 0 mais puro, fo essencial ras trevas na escuridso igi ~fcar preocupado, angustiado, om medo 9 a mae cow afta ao saber «ue ofl consumia drogas 0b 0 eeito - dominade por fencantamento ~ magia 9 na Bela Adormecdo, fe cera encanto princesa O TEXTO | exercicios DE COMPREENSAO 1, Verdadeiro ou falso? a) |] O protagonista ia num comboio em direcao a Téquio. b) [| Noutras circunstancias, ele di a jantar a casa de desconhecidos. | Quando ele entrou no apartamento, este estava completamente as escuras. d)[_] Agora ele tem a certeza de que no correu perigo nenhum. 2. Qual dos dois? a) O protagonista acha que, em comparag3o com o Brasil, o Japéo é um pais... nde se correm muitos 2.|_ ...relativamente seguro riscos b) As desconfiangas que ele sentia assentavam, na verdade, em... 1.[)] .-factos bem definidos 2. [_] ...suspeitas vagas ©) Pela descrigao do conto, o casal japonés demonstrava ter. 1 ymacerta abertura —«2.[_] ..vistas estreitas cultural |, TEMAS DE DISCUSSAO > O casal deu motivos para suscitar a desconfianga do protagonista? > A influéncia das obras de ficgao na nossa percegao dos acontecimen- tos. > papel dos preconceitos no estabelecimento de relagdes com outras culturas. /, SUGESTOES DE REDAGAO > Um livro ou filme que me fez olhar para a realidade de outra forma. > E possivel combater os preconceitos? Coma? a1 A LINGUA AFINAL E FACIL! Para escolher entre presente ou pretérito imperfeito do conjuntivo, em oracoes subordinadas: 9 presente - 0 verbo principal (indicativo) esta no presente ex: “espero que os sonhos passem'” (mas “esperava que passassem”) © imperfeito - 0 verbo principal (indicativo) esta no passado ex. “pediu que eu tirasse os sapatos” (mas “pede que eu tire”) % NOTA: o conjuntivo € pedido por certos verbos (pedir, esperar, preferir, duvidar, lamentar, recear, ..); e na forma negativa de verbos de opiniao (nao achar, nao pensar, nao julgar, ..) ARETER > como se + imperfeito do conjuntivo - suposigao incerta ou irreal: “os dois se entreolhavam, como se houvesse um plano secreto” > nem que + conjuntivo ~ motivo minimo: ‘nem que fosse sé para conhe- cer > a0 + infinitive - no momento: “ao entrar no edificio, tive uma impressao” > mal + ago ~ muito pouco: “mal compreendia o inglés" > BR ~ anteposicao dos pronomes: “uma mulher se sentou", “ela me disse” EXERCICIOS DE APLICAGAO 1. Tiro a0 alvo 1. [-] Dadas as limitacdes linguis- ticas, 2.) A mulher no conseguia ex- plicar 3. [[] O casal convi 2) para um jantar. b) ele nao teria aceitado. jouoestrangeiro c) decidiu aceitar o convite. <> 3. 4." Se fosse noutro pais qualquer 5.(_] No entanto, incitado pela curio- sidade, 6.[_] Mas ficou logo com suspeitas 4) 0 didlogo era precério, e) ao entrar no prédio. ) onde ficava a casa. . Arrumar a casa que / da qual / cujo / enquanto / qual ) Comegou a conversa por uma razao qualquer, no se lembra. b) 0 brasileiro viu-se em dificuldades nao falava japonés. ) Era um diélogo contetido era elementar. d) Ela nao sabia __era a religio do estrangeiro. ) A mulher preparava o jantar _0 marido conversava com ele. O rato comeu a) Naquela altura, o bras iro fazia uma p __ q_ _ s _ sobre Tanizaki b) O apartament estava nap __u_b__. c) Ele teve a certeza de ter caido numa ar __d __ __. d) Um c _r__z na entrada fazia referéncia aos mortos. e) 0 casal tinha preparado um jantar a luz de _e__s Qual dos dois? a) Dizer que o brasileiro e a mulher japonesa conversaram era... 1.[] modo de dizer 2.[]] ..jogar fora uma oportuni- dade b) No apartamento do casal, o brasileiro comegou a falar... 1.[-] ..pelos cotovelos 2. ..20 pé da letra c) Quando the sugeriram que casasse com uma japonesa, ele... 1.[D] .achou que era piada —2.[_] ...teve uma impressao 4d) Talvez eles quisessem apenas ... do escritor Tanizaki. 1.) seguir os preceitos 2.[7] vir a cabeca <18 > NOTAS a: Escritor, 2005, “Na sd olhd longo sé fé burro sa fela” “Nao é por ter orelhas compridas que o burro vai 40 mercado” Quando 0 capitio Sousa Gomes, em repre- sentaco do comands, recebeu ordens do Maj “Teixeira para ir festejar 0 10 de Junho aS. Mi franziu de imediato o sobrolho. A severidade ¢ 0 de- sagrado que exprimiu no rosto deu a entender que nio ficou nada satisfeito com tal missio, mas na vida militar ordens de superiores nao se discutem nem se alteram. Cumprem-se e ponto final. E assim foi que, de madrugada, 0 capitao par- ‘iu com os seus homens para 0 sul onde, ao fim de horas de solavancos ¢ encontrées numa estrada intransitavel devido & lama ¢ a buracos infindé- veis, 0 esperavam a fanfarra, os cumprimentos € um palanque improvisado. Af se sentou ladeado pelos que faziam parte do seu séquito. Para que, naquela zona de dificil acesso, 0 10 de Junko fosse sentido ¢ vivido por todos, mas <1 ra santomense (Guadalupe, 1946). Obras: 15 dias de regresso (romance, 1994), do pastor (contos, 2011). Este canto integra Pé-de-perfume (contos, 2004), burro ~ animal domésti mais pequeno do que 0 valo, considerado ‘as sobrancelhas (acima dos ‘lhos) ‘cer do sol ‘solavancos e encontrBes — ‘chogues que resulta dos ‘movimentos do carro lama - terra com agua 0 carro ficou sujo de lama ‘madeira Cacima do solo) para discursos e atuagoes ladeado por -circundado séquito ~ comitivea principalmente pela tropa ali aquartelada, 0 capi- to tinha sido incumbido de explicar no seu dis- curso quem fora Luis de Camées ¢ qual 0 seu contributo & patria lusa. De pé, rosto austero ¢ inflexivel, a voz sonante do capitéo pediu si comecando entio por hoje vivemos porque é 0 dia da pat Portugal, o dia em que morreu 0 mi Letras, 0 poeta que escreveu os Lusiadas, chama sempre acesa dos feitos gloriosos do povo portu- gués. Mas, meus amigos, quem foi Luis de Ca- mées, cuja data da morte hoje aqui recordamos com tanta pompa e dignidade?... Rezam as cr6- nicas que Luis de Camées nasceu na capital do império tendo ido fem para Coimbra onde aprofundou os seus conhecimentos em lite- raruras antigas, poesia culta e popular...” Durante mais de hora e meia 0 capitao nao se limitou apenas a dizer tudo o que tinha escrito sobre o genial poeta mas entendeu por bem citar alguns extractos dos Lusfadas sobretudo aqueles onde a raca lusitana é exaltada: “Que eu canto o peito ilustre lusitano 4 quem Neptuno e Marte obedeceram” ‘De dgua do exquecimento, e ld chegam 0s fortes portugueses que navegam” Sob o sol t6rrido do sul a multido comegou a impacientar-se, alguns soldados a disfarcarem um bocejo e até mesmo na tribuna se notava um pouco de contrariedade. Quando o capitéo che- gou ao diltimo pardgrafo e gritou “Viva Portugal” com a cara rigid, formal sonante - que se ouve bem singular - & especial Os Lusfadas - poeta épico (1578) de Camaes que narra ‘historia de Portugal chama sempre acesa — '% meméria viva © as chamas = 0 fogo feitos ~ acdes, aventuras cuja data da morte - % 2 data da morte de Camdes, ria portuguesa entender por bem ~ decidir tomar uma aca extra(cMto ~ parte de um texto mitolégicos nnavegar ~ viajar por mar Vasco da Gama foi um navegador portugues t6rrido ~ muito quente bocelo - ato de abrir a boca devido a0 sono ou a0 censago tribuna ~ lugar elevado de conde falam os oradoces io ¢ a0 coro unissono dos usos que nao foram de essa falha 0 alferes Magalhies, que tava sentado 20 lado diteito do capitio sussur- rou-lhe: Sabe, meu capitio, a tropa portuguesa per- eu, mas nao acontece 0 mesmo com os ou- Aqui o povo é angolar. Talvez fosse melhor |guém traduzir para a lingua deles. ‘Chamado de imediato um soldado nativo para em pritica a ideia, a lingua portuguesa co- wecou a mudar de tons e de sons até ficar amarga para uns e doce para outros. Alguns minutos de- pois os aplausos e os gritos de satisfagao troaram s céus de S. Miguel até se perderem nas mar- gens do rio Quifa. O jibilo bailava nos olhos de todos € os aplausos foram tio demorados como 0 tempo de traducio. ~ Eu jé traduzi, meu capitéo! A tribuna ficou perplexa. Era impossivel tra- duzir em poucos minutos o que levara hora ¢ meia a dizer! Ninguém acreditava em tal! E 0 que mais tinha intrigado os presentes fora a forca dos aplausos. Fortes, sentidos no peito e nas maos. Indignado, 0 capitio obrigou 0 subalterno, sob pena de forte castigo, a dizer exactamente como traduzira o seu discurso. Sem pestanejar, 0 soldado perfilou-se, fez. continéncia e comego = Meu capitio, eu disse a eles que 0 nosso ca- pitéo disse que neste dia faz anos que morreu em Portugal um pocta téo famoso, téo famoso, que escreveu coisas tio lindas, tao lindas, que por causa dele é que hoje vamos ter rancho melho- rado. Vamos comer feijéo com milho. <1» suspirar de aivio - expelir ar pela boca depois de um esforgo ou por emogao © langou um suspiro de amor coro unissono - todos falam ‘aa mesma tempo _aplauso - ato de bater as maos ° aplaudir num concerto ‘efusivo - expansivo, alegre ‘sussurrar dizer em voz baxa ‘angolar - minorialingustica de S40 Tomé (de um grupo rmudar de tons e de sons ~ “% adaptar-se amarga ¢ doce ‘roar - fazer muit ‘como um trova ‘letrica) numa smargens ~ cad: jdbilo ~ grande contents ‘mento tar-se com vivacidade = espantada, sem ‘saber como reagir fem tal -nisso Intrigar ~ confundir, deixar jar = abrir e fechar os olhos) rancho (pop. ~ comida, uma refeiga ‘no cinema) sao mitho quente O TEXTO _ EXERCICIOS DE COMPREENSAO 1. Verdadeiro ou falso? a)[_] O capita nao tinha margem de manobra para recusar a ordem que recebeu. b)_] 0 discurso do capitao nao era nem simples nem sucinto. ©)[_) Aassisténcia era composta por especialistas na obra camoniana (de Camées). )[-] O tradutor esforgou-se por ser 0 mais fiel possivel & mensagem original. 2. Qual dos dois? a) Apés a intervengao do tradutor, a reacao da assisténcia foi 1.) algo contida 2.(_] --muito efusiva b) A localidade de Sao Miguel situava-se. 1.[)] ...num territério central 2._] ..numa zona recéndita ©) Compreende-se pelas alusdes do texto que a acdo tem lugar... 1. ...durante o periodo colonial 2. [_] ...apés a independéncia TEMAS DE DISCUSSAO > Quais eram as intengdes na celebracao do 10 de junho? > Porque é que a lingua do tradutor era “amarga para uns e doce para outros”? > O contexto pode jus icar uma tradugao infiel. Concorda ou discorda? SUGESTOES DE REDAGAO > Recordacées da melhor festa em que jé participou. > Apresente sucintamente uma personalidade fundamental do seu pais, explicando os motivos da sua importancia. 4205 9M arinat € FAC A LINGUA Os relativos cujo(s)/-a(s) usam-se para evitar uma repeti¢ao, substituindo um complemento iniciado por de: ex: "Camdes é um poeta. A morte de Camdes ¢ celebrada a 10 de junho. “Camdes é um poeta cuja morte é celebrada a 10 de junho.” © este relativo é varidvel: concorda com o nome que se segue ex: “trata-se de um autor cujas obras s80 muito importantes” “Os Lusiadas € um poema cujo significado é complexo” % NOTA: 0 uso de cujo(s)/-a(s) no ¢ raro, mas pertence a um registo de lingua elevado, tanto na linguagem oral como escrita D, areter no... nem ~ como “e... e": “ordens nao se discutem nem se alteram” no + verbo + nada - realca a negacao: “nao ficou nada satisfeito” + adjetivo - indica um resultado: “A multidao ficou perplexa” devido a ~ introduz uma causa; a preposigao @ concorda sempre com o nome que se segue: “a estrada era intransitavel devido a lama’; “abriu a boca devido ao sono” » » » » EXERCICIOS DE APLICAGAO 1. Tiro ao alvo 1. [-] 0 capitéo recebeu ordens 2.[-] Pela sua expresso, deu a en- a) fosse boa ideia traduzir. b) quem fora Camoes. tender 3.[[] Nesse dia, partiu para Sao Mi-_c) para ir festejar o feriado. guel 4.[_] Tinha sido incumbido de ex- d) que nao ficou satisfeito, plicar 42 e) citar versos d’Os Lusfadas. f) onde o esperava a fanfarra, 5. [-] Ele entendeu por bern 6.[_] E umalferes sugeriu que talvez 2. Arrumar a casa sobretudo / até mesmo / ali / sob / cuja a) O capitdo dirigiu-se ao palanque e foi b) Ele falou longamente sobre Camées, celebrava. ©) Também citou versos d’Os Lusiadas, gueses. que discursou. data da morte se sobre os portu- io comecou a impacientar-se © sol térrido. nna tribuna se notava um pouco de contrariedade. 3. 0 rato comeu a) Quando recebeu as ordens, 0 capitéo f__n_i_ 0 sobrolho. b) Mas as ordens c_m _r__-se e ponto final ) O capito nao se |_ _i_o_aler o que tinha escrit 4d) Os _pl__s__nao foram, de modo algum, efusivos, e) Um soldado nativo foi chamado para fazer at__d_¢__. 4, Qual dos dois? a) Alguns soldados disfargaram um. 1.) ..boce| 2.[.] ..aplauso b) Quando 0 capitio chegou a0 fim, todos ... de alivio, 1.) suspiraram 2.[7] sussurraram ©) Atribuna ficou... com a intervengao do tradutor. austera 2.[7] perplexa @) 0 soldado que traduziu respondeu... 1.5] ..com pompa e dignidade 2. [~ sem pestanejar A maquina é de produzir naturezas Joana Bértholo Autora portuguesa (Lisboa, 1982). Obras: Havia (contos, 2012), O lago avesso. mance, 2013). Este conto integra Inventdrio do p6, Lisboa: Carninho, 2015 jw.caminho.leya.com). A autora tem um site (www.unscratchable.in‘o). Quando jé havia uma mquina no mundo produsie~crier, iginar para produzir tudo e, portanto, j4 tudo era feito 0s portugueses produzem por méquinas, deixaram de saber 0 que inven- {yerwn de cavern os tar, Jé se tinha até inventado uma maquina de produzir humanos ¢ uma méquina de produzir invengdes. E uma maquina de produzir maqui- nas, claro esté, essa tinha sido inventada havia imenso tempo. Entediados, tentaram conceber uma maquina capaz de produzir outra coisa que no fosse nem maquina, nem humano. Foi assim, que nasceu a maquina de produzir naturezas. ‘A maquina de produzir naturezas era enorme, ocupava varios armazéns, daqueles que se medem dizendo quantos estadios de futebol podem con- ter. Imensos estadios de futebol, imensos. Consu- mia mais energia que as indiistrias metaliirgicas € ideriirgicas juntas e expelia mais detritos toxicos quea indistria papeleira. Funcionava muito bem € tornou-se um grande sucesso. Foram instaladas maquinas de produzir naturezas um pouco por todo o mundo. pessoas jé no tinham nevas = aborrecido, com cconceber - % dar forma a ‘uma ideia, a um produto © concebeu um webs ‘ocupar - © tomar espaco ‘armazém - depésito onde se ‘guardam mercadorias 0 0 produta nao estd no loa, vou buscé-lo 00 armazém ‘amedide ~ residuos, <2» Recebia todo 0 tipo de matérias-primas tec- nolégicas: televisores, teleméveis, computado- res ¢ até batedeiras eléctricas. Desmantelava-as, rentes componentes aos seus el reduzia os mentos mais bésicos, fundia aqueles materiais que podiam ser fundidos ¢ processava tudo num enorme tambor, que fazia tremer 0 edificio e do qual emanava um cheiro grave a enxofre. Passa- das poucas horas de processamento a fase de pro- ducio chegava ao fim. O produto final, aberta a tampa ao enorme tambor, era todo 0 tipo de naturezas: madeira virgem, veados selvagens, ria- chos cristalinos ¢ passarinhos disto, havia uma equipa especializada de funcio- narios altamente qualificados que se encarregava da distribuicio, plantando florestas, inaugurando cascatas, restituindo espécies ja extintas, ¢ ferti zando 0s solos exauridos pelas monoculturas. Os consumidores gostaram tanto das natu- rezas dispontveis no mercado que comegaram a entregar todas as suas geringongas eléctricas em troca de pedacinhos de naturezas nos seus quin- tais, Para quem vivia na cidade, havia pequenos its que davam para pér na varanda ou no te- thado. Dois ou trés teleméveis e um ipad, ou uma maquina de lavar louga, cram o suficiente para adquirir um destes pequenos kits, mas as pessoas tornaram-se vidas, e entregavam car- 10s, jatos, seméforos urbanos, escadas rolantes, © mecanismo para abrir a porta da garagem, clevadores. Por todo 0 lado, as pessoas ambi- cionavam adquirir muito mais naturezas do que aquelas que eram capazes de consumir, Em pouco tempo toda a populacéo mundial ficou sob 0 efeito daquela febre de adquirir naturezas. 22h faz bolos, por ex.) desmantelar - ceparar 2s pecas de uma maquina fundir - derreter metal tornendo-o processar - gerir dados através de ur programa veado - animal (cervo) Bambi é um veodo riachos cristalinos - rios equenos e muito puros passarinhos siilantes ~ pe- quenas aves que cantarn ‘encarregar-se - ter como = queda de Sgua or ex, descendo rochas) as especificas inossaurosj6 foram a ‘espécie dominante no Terra ‘exaurides - gastos, ‘eringongas (pop. - objetos, ‘aparelhos ‘roca - substituigao vow trocar de camisa qui ande jadi, nor- rmalmente atras das casas vam para - podiam telhado - toto da casa uma porabsica no telhado adquirir ~ comprar ‘vido - com vontade de ter Deixou de haver tecnologias que pudessem ser trocadas por naturezas. Havia s6 naturezas. <2» seméforo - aparetho que ntes - escadas ue sobem e descem auto- rmaticamente febre ~ % mania, obsessto 0 TEXTO v A EXERCICIOS DE COMPREENSAO 1, Verdadeiro ou falso? a) [_] Este texto imagina um futuro hipotético. b)[-] A méquina de produzir naturezas ocupava espaco e era muito poluente. ©)[/] Nao havia necessidade para qualquer intervencao dos homens ‘no proceso. d)[_] A populacao urbana também desejava ter naturezas. 2. Qual dos dois? a) A maquina de produzir naturezas funcionava gracas @ existéncia de. 1.[_] ..0bjetos tecnolégicos 2. [|] ...energias renovaveis, b) Os funcionarios eram qualificados e supde-se que exerciam as suas fungoes... 1.() ..com esmero 2. [7] ..de forma desleixada c) Neste caso, o desejo de consumo das pessoas levava-as a... 1.) ..prescindir dos seus 2. [_] ..aproveitar os saldos, bens TEMAS DE DISCUSSAO > Qual é, na sua opiniao, o alcance metaférico deste conto? > Modos de consumo responsavel nas sociedades contemporaneas. > Os danos provocados pela acao humana sao irreversiveis? @, SUGESTOES DE REDAGAO > Se fosse possivel, que natureza gostaria que a maquina produ: para si? > Ha jovens que praticamente nunca sairam da cidade. Apresente uma ideia que se poderia por em pratica para alterar esta situacao. se 26> A LINGUA WY arinat é FACIL! Os indefinidos tudo e todo(s)/-a(s) usam-se de forma diferente: tudo (+ nada; = todas as coisas) é um advérbio invariavel ex. “j6 havia uma maquina no mundo para produzir tudo” © todo(s)/-a(s) tem valor de adjetivo e concorda com o nome ex.: "a maquina recebia todo o tipo de matérias-primas" “comegaram a entregar todas as suas geringongas” ' NOTA: a forma negativa destes indefinidos forma-se com “nem” ex. "nem tudo corria bem: as vezes as maquinas explodiam” “nem toda a gente podia adquirir uma maquina” MB areter > haver ~ (= existir): “havia uma maquina”; “havia naturezas” (no singular) > deixar de - (+ continuar a): “deixaram de saber o que inventar” > dar para ~ (= ser possivel): “davam para por na varanda” > geriindio - indica o modo: “uma equipa encarregava-se da distribuicao, plantando florestas, inaugurando cascatas, restituindo espécies ja ex- tintas” 1, exercicios pe APLICAGAO 1. Tiro a0 alvo 1.[-] Os humanos ja tinham inven- a) nem méquinas nem homens. tado 2.[7] Queriam uma maquina que ndo _b) aos elementos mais basicos. fizesse 3.[] Foi entao que nasceu a ma- _c) chegava ao fim. quina 4,(-] Esta invengao reduzia os ob- d) todo 0 tipo de maquinas. jetos 5.[_] Tudo era processado fase 2. Arrumar a casa todo / todo o tipo / tudo / toda / por todo a) Naquela altura, ja __ era feito por maquinas. b) As maquinas produziam de coisas. c) Elas tinham sido instaladas 0 mundo. d) A maquina de produzir naturezas funcionava durante © ano. e) E funcionava tao bem que 3. 0 rato comeu a) Uma s6 maquina ocupava varios a_m__ és. b) Quando se abria at __ pa do tambor, viam-se as naturezas. ©) Uma e _ u_ p _ de especial tas ocupava-se da di d) Por exemplo, eles plantavam florestas e inauguravam c__c__a_. e) Ou fertilizavam os s _ _ 0 _ exauridos pela monocultura. 4, Qual dos dois? . [| vidos b) A maquina de produzir naturezas ... muita energia. 1. consumia 2.[7] ocupava ©) A maquina recebia os objetos tecnolégicos e... 1.[.] ...desmantelava-os 2.) .inaugurava-os 4) A populacao mundial .. daquela febre de adquirir naturezas. 1. encarregava-se 2.[] ficou sob o efeito e) num enorme tambor. 6.[_] Sé passadas horas é que esta _f) de produzir naturezas. a gente queria ter uma. no sabiam o que inventar, os humanos sentiram-se.. femitério landestino Quando as sombras acobertam parte do dia € sol recua alguns metros atrés das montanhas, 0s meninos sobem a rua, euféricos. A bola, carregada com orgulho, passa de méo em mao. Todos querem tocé-la, Cada um deles pagou por um pedaco. Foram meses juntando dinheiro aqui e ali, realizando qualquer tipo de servico. A bola havia de ser propria para futebol de campo, assinada por uma marca famosa, coisa profissional. Nos sete dias da semana, os sete meninos se revezam com a bola. Cada um tem um lugar especial para descansé-la. Nos barracos em que moram, em meio a escassez, a poeira e o fedor, a bola € 0 tinico bem material que possuem, a tinica coisa bonita para se admirar em casa. No topo da rua deserta, eles pulam 0 muro de um cemitério clandestino, que para eles ¢ s6 uum terreno com espaco suficiente para jogarem futebol sem serem incomodados. ira (Nova Iguacu, 1977). Obras: A guerra dos bastardos (romance, ), Carvdo animal (romance, 2011), De gados e homens (romance, 2013). Este nto, em versao francesa, integra Je suis toujours favela, Paris: Anacaona, 2014. yutora tem um blogue (www.anapaulemaiaescritora blogspot.com). sombras ~ © escuridso, entre as sombras acobertar ‘00 Evereste &a maior mon- tanha co mundo ‘carregada ~ & levada ‘orgulho - autossatisfarao © ter argulho do seu flho tocar por améo, mexer ‘um pedago - uma hhavia de ser - teria de ser revezar ~ usar 8 vez Auravessam 0 local até a outra margem do muro, em que hé um trecho plano de chao batido ;10 desempenho deles. Demarcam o gol com 0 que encontram pelos cantos, geralmente pedras, as vezes pedagos de ossos ressequidos. A partida comega: vagarosa, com passes sutis € dribles maliciosos. Minutos depois, ouve-se gtitos de desforra, gestos rudes e palavrdes. Ao menos dois dos meninos demonstram talento ec algum futuro no futebol. Mas todos se empe- nham, E,0 momento em que viram idolos imagi- ndrios, em que esquecem da miséria e da violén- cia doméstica. Gostam de estar entre os mortos, Desses mor- tos. Sem nome, idade ou passado que os identifi- quem. Os restos mortais se misturam as pedras € pedacos de madeira. Entre uma pai tra, bebem agua de uma torneira ¢ se refrescam lavando as cabecas. Decidem fazer uma partida de penaults. Dois dos meninos se revezam no gol. E sempre o mo- mento mais tenso do jogo, onde os fracassos € sucessos se evidenciam, quando os talentos se mostram desmascarados, O portao do cemitério éaberto¢ um caminhio pequeno entra. Os meninos param de jogar ¢ vao se sentar num canto, observam a movimentagio. Dois homens descarregam do caminhao sacos de ossos. Suspendem a lona que cobre uma cova e jogam a ossada de varios corpos ali dentro. Com uma p4, cobrem os ossos com pouca terra. Uma chuva haverd de revelar 0 que esté escondido. Retornam ao caminhao e vao embora. Os me- ninos voltam a bater os penaults. A luz do dia esté quase se apagando. trecho - & parte de terreno pelos cantos ~ ® pr (0550 - parte de esqueleto © odo gosta de roer ossos Tessequido ~ seco, desforra - vingenca rudes = gentis,delicados palavroes ~ palavras feias ‘empenhar-se - esforcar-se virar (BR) ~tornar-se restos mortais - partes do Corpo humano apés morte torneira - mecanismo que permite trazer Sgua 8 abrir a tarneia na cozinha penault (BR) = penalty (PT) Fevezar-se - mudar de posi- 580, 8 vez desmascarado ~ visivel, sem méscara que esconda Portio ~ porta de ferro na ‘entrada de um re ‘caminhdo (BR) = camiso (PT) = velculo grande ‘hum canto num lado afastado lona -tecido resistente (por x, para grandes sacos) ‘cova - buraco no cho (PD) instrumento para esca~ var terra (ebrir covas revelar - deixar a vista Um menino, carregando uma sacola, pula 0 muro e cumprimenta os colegas. Caminha pelo local enquanto 0s outros con- cluem a partida de futebol. Espalhados estao al- gumas pequenas cruzes tombadas, crinios par- jos, antebragos, fémur, mandibulas, costelas, tentre outros cacos ¢ lascas de ossos. Ele se abaixa ¢ apanha alguns pedagos e observa-os na tenta- tiva de identificar a parte do corpo. Decide por uma mandibula e a coloca na sacola. O jogo termina e a luz do dia também. Resta apenas o tom cinzento dos vestigios de luminosi- dade que os torna assemelhados a vultos. Descem a rua, satisfeitos com a partida de futebol, comentando os melhores momentos. © menino mostra aos outros a mandibula que encontrou. Riem ¢ 0 chamam de maluco. Ele dé de ombros. Em casa, a bola agora limpa, resplandece numa prateleira, O menino adormece enquanto olha para cla, sonhando com um futuro promis- sor, sonhando com a partida do dia seguinte. Na casa ao lado, a mandibula, ao lado de ou- tros pedacos de oss0s, resplandece numa prateleira. © menino adormece enquanto olha para ela, so- ando com esse pedago de osso. Talvez seja 0 seu pai, talver seja. ‘saco pequeno ‘espalhado = reunido cristdo + ‘a0 chao crdnio ~caixa ossea da cabega femur (BQ = fémur (PD ~ sande 0850 da coxa ‘mandibula - 0:50 do queixo Gentes inferiores) costelas ~ 05505 das costas f lascas ~ pedagos (0 detxou cair uma caneta e ‘baixcu-se para a opanhar colocar - & pér, guardar ‘tom cinzento - cor entre branco e preto ‘vestige - restos, indicios prateleira- tabua na parede para colocar livros ou outros objetos O TEXTO EXERCICIOS DE COMPREENSAO 1. Verdadeiro ou falso? a)[_] Os meninos receberam a bola de futebol como presente. b) [|] Eles nao sabiam que estavam a jogar num cemitério. ©)[_] A partida foi interrompida quando chegou o camiao com sacos de ossos. @)[_] O menino que encontrou 2 mandibula nao estava a jogar com os outros, 2. Qual dos dois? a) Os meninos deste conto vivem num contexto... 1.) -ude privagao 2. [1] ...de abundancia b) Neste cemitério clandestino, os corpos enterrados.. 1. ...est€o bem identificados 2. [] ...ndo tém lapides ©) Quando os outros 0 chamam de maluco, o menino que procura ossos... 1.) «nao se importa ica abalado 20 TEMAS DE DISCUSSAO > Porque é que o menino procura ossos? > A importancia do futebol para estes meninos. > Aexperiéncia de brincar ao ar livre nas sociedades contemporaneas. SUGESTOES DE REDAGAO > O futebol pode ser um meio de elevacao mas também de alienacao, Comente. > As brincadeiras preferidas da sua infancia, <2» A LINGUA Wrarina E FACIL! Ha varios verbos que indicam acdes com as mdos: © pegar em - tomar com as maos: “peguei na bola” © agarrar ~ pegar com forga: “agarrou o colega e magoou-o" 6 atirar - lancer: “atirei a bola ao Nuno” (na dire¢ao dele) © apanhar ~ (¢ atirar): “o Nuno apanhou a bola” (recebeu-a de mim) © segurar ~ manter um peso: “estava a segurar os sacos de compras © deixar cair - ndo segurar: “deixei cair as mags no chao” apanhar - tirar do chao: “apanhei as macs e pu-las no saco” empurrar ~ fazer pressdo: “empurrei o carro” (para a frente) © puxar ~ (+ empurrar): "puxei a porta” (na minha direcao) » ARETER > a0 menos ~ no minimo: “ao menos dois meninos demonstram talento” > talvez + conjuntivo - “talvez seja 0 seu pi > BR - estar + gerindio (= estar a + infinitivo): "a luz esté se apagando” > BR - anteposicao dos pronomes: “ele se abaixa’, “a coloca na sacola” 7, EXERCICIOS DE APLICACAO 1. Tiro a0 alvo a) por uma parte da bola b) que possuem, ) de mo em mao. 4) foram juntando dinheiro, e) com a bola. f).se admirar em casa, 1. [-] Abole dos meninos passa Cada um deles pagou 3] Os sete meninos revezam-se 4,[-] A bola é 0 Gnico bem material 5. |] E uma coisa bonita para 6. [_] Realizando varios tipos de ser- vigo, <33 2. Arrumar a casa varios / 0s outros / entre / outra / atrés a) O sol esconde-se _ dos morros. b) Os meninos gostam de estar _ 0s mortos. c) Eles atravessam o cemitério até 8 __ margem do muro. d) Os homens do camiao descarregam ossos de e) Um menino procura ossos enquanto jogam futebol. 3. 0 rato comeu a) Os meninos carregam a bola como_g___o. b)A bola é de uma m_ _ ¢ _ famosa, €) Quando jogam, os meninos esquecem-se dam _s_r_a. d) Entre uma p __t_d_e outra, bebem agua da torneira e) Um menino ad __ m _c_ enquanto otha para a bola. 4, Qual dos dois? a) E um terreno com espaco suficiente para jogarem. 1. [] ...sem serem incomodados 2. (_] ..o desempenho deles b) Demarcam a baliza (BR 0 gol) com 0 que encontram... 1.) -.na sacola 2.(-] pelos cantos c) Com ..., 0s homens cobrem os ossos com pouca terra. 1.7] uma pa 2.[_] uma prateleira d) Os meninos chamam o menino que procura ossos de... 1. ..maluco 2.[_] ..desmascarado corpos. Eduardo Agualusa 107 (www.fundacaceugeniodealmeida.pt). policia de fronteiras nao compreendeu logo que tinha morrido, Aconteceu durante 0 sono. Fle sonhava intensamente com qualquer coisa (Charlize ‘Theron, ovos moles de Aveiro, um yeleiro deslizando sobre um mar de esmeralda, pouco importa) quando, de sibito, deu por si numa fila de gente & espera para passar uma fron- teira, Supds sem susto que fosse ainda o mesmo sonho num desdobramento imprevisto. ‘A morte, afinal, é como os sonhos, mas em maior. ‘Ao policia de fronteiras pareceu-lhe natural sonhar com fronteiras. Filas de gente. Passapor- tes. Carimbos. Um sujeito curvo postado numa guarita. Procurou o passaporte. Nao o trazia con- igo. Isso provocou nele uma certa angtistia. “f apenas um sonho”, murmurou para com 0s seus botées. Mau, também nao tinha botées. Bstava nu, ele e a restante escumalha parada na fila. Reparou a seguir que o sujeito na guarita 35> angolano (Huambo, 1960). Obras: A conjura (romance, 1989), Fré 6 (contos, 1999), Barreco tropical (romance, 2009). Este conto integra sgundo ndmero da revista Portefélio, Evora: Fundagao Eugénio de Almeida, de pats ‘ovos moles - doce regional veleiro ~ barco a vela eslizar ~ % navegar dar por si -ver-se numa ‘por-se na fla para pagar supor ~ imaginar ‘sem susto preocupado desdobramento - segunda verso, prolongamento ccarimbe - instrumento que ‘marca com tinta um docu- para com os seus botdes ~ para si mesmo trazia presas As costas um enorme par de asas muito brancas. Todo ele, alids, era de um branco implausivel. Um anjo inato, como os das gravu- ras piedosas da sua velha tia. “Que porra de sonho!”, pensou, e logo se ar- rependeu do palavrio, ao ver que 0 anjo erguia 0 liso rosto transparente, e o fixava franzindo 0 sobrolho, Também a escumalha, & sua frente, 0 olhava num firme rancor, velhos ¢ velhas, ¢ um ou outro jovem com muito mau aspecto. “Havia de ser eu na guarita’, voltou a pensar, “e estes tipos nao se safavam. Repatriava-os a todos.” Fi- nalmente chegou a sua ver. “Os seus sentimentos, por favor...”, requereu © anjo, num olhar distraido, as costas dobradas a0 peso das asas. “Nao é sentimentos, imbecil! E do-cu-men- -tos...” policia de fronteiras irritava-se com faci- lidade. O problema nio era dele, como insistia em explicar aos chefes, de cada vez que algum viajante, ofendido, reclamava, o problema era do figado. Em crianga contraira hepatite por duas vezes ¢ 0 figado nunca mais recuperara, Inclu- sive nos tiltimos dias vinha passando muito mal. Um cansago invencivel, o branco dos olhos nao tao branco assim, como uma camisa encardida, a pele igualmente baca e amarela, a urina espessa Ah! E aquela irritabilidade que Ihe trazia tantos dissabores. O anjo sacudiu as asas num répido agoite, 0 que nele devia ser um sinal de extremo desagrado, “Perdio?” isse aquilo no esplendoroso idioma de que 0s anjos se servem para comunicar com os 436» ‘asas ~ servem para voar 9.0 pissaro abre as asas que porra gross.) - que porcaria pender-se - desejar ndo ito alguma coisa lavrdo - palaveafeia testa, mostrar desagrado rancor - aversao, édio aspe(ento - & aparéncia ia de ser eu - se fosse eu, ‘po pop) pessca uel tipo € tao alto! lar-se ~ enfurecer-se, por x. ficar nervoso e gritar reclamar - queixar-se, mos trar descontentamento figado - 6rga0 do aparetho digestivo que produz bil © € um aleolico e tem uma inrose (problema de fgada) inclusive alas, té vinha passando - estava a passar ‘encardido - muito sujo pele baca sem britho ‘usar cremes para a pele {ficar menos bara lespesso - denso, + fluido dissabor — desgasto secudir ~agitar, mexer © sacudir um pano a janela agoite ~ & movimento | | ! jjentios, mas foi como sc o tivesse dito, em inglés, {um aristocrata inglés da mais alta estirpe beg your pardon? Com mais esplendor, portanto, ¢ ainda mais panache. O policia de fronteiras estremeceu: “Desculpe, foi sem intengao. O meu figado, sofro do figado.” Sofria’, retorquiu 0 anjo impassivel. “Agora nfio sofre mais.” © policia de fronteiras voltou a estremecer. sab Mau, mas que porra de sonho. E escusa voce de franzir o sobrolho, senhor anjo de guarda, € vocés também, maldita escumalha, nfo me as- susta 0 vosso horror. Que porra de sonho, sim, que porta de sonho! Quero acordar e sair daqui Fechou os olhos ¢ beliscou-se, com 0 polegar ¢ 6 indicador da mao direita, no brago esquerdo. Quando abrit os olhos o anjo ainda estava diante dele, mas parecia agora mais concreto, mais vero- simil, do que alguma ver Ihe parecera um policia de fronteiras em qualquer pais. “E entio, posso ver os seus sentimentos?” © policia de fronteiras sentiu uma imensa vontade de chorar. Percebeu, com violenta lu- cidez, que nio acordaria mais ¢ veio-lhe uma saudade funda das longas filas no aeroporto, do cheiro a suor, do medo nos rostos dos pa- rolos, da pancada seca dos carimbos nos pas- saportes. tum bom sistema, 0 vosso”, disse a0 anjo. Nio 0 disse com ironia e nem téo-pouco para li- sonjear 0 outro. Estava a ser sincero: “E, um bom sistema, isto de os passageiros se apresentarem todos nus. “Os seus sentimentos, por favor...” Qualquer uso do poder gera abusos. Concorda ou discorda? > Como harmonizar regras e humanismo? > Casos historicos e recentes de alteragao de fronteiras. WZ; sucestoes DE REDAGAO > Qual é 0 trabalho que nao se consegue imaginar a fazer? > Conte uma histéria de aeroporto que tenha vi «38+ a A LINGUA AFINAL E FACIL! No modo indicativo, ha quatro tempos no passado (pretérito): © pret. perfeito simples - acdo perfeita, concluida ex.: “0 policia morreu” © pret. mais que perfeito - aco anterior a outra a¢ao passada ex.: “compreendeu que tinha morrido” ~ ter (imperfeito) + participio © pret. imperfeito - descrigao / a¢ao habitual no passado ex: “estava nu” / “irritava-se com facilidade” 9 pret. perfeito composto - a¢ao constante / repetida no passado recente ex. “tem sentido dores mais intensas” — ter (presente) + participio % NOTA: com este sentido = “nos uiltimos dias, vinha passando mal’ ARETER > dar por si - ver-se numa situacao inesperada: “deu por si numa > havia de ser ~ suposi¢ao irre ia de ser eu na guarita” > aliés ~ precisao, retificacao: “Trazia asas brancas. Alis, estava todo de branco” > logo = imediatamente: “e logo se arrependeu do palavrao” EXERCICIOS DE APLICACAO. 1. Tiro ao alvo 1. [| Opolicia nao compreendeu —_a) com Charlize Theron logo 2.[_] Aconteceu quando sonhava —_b) estava na guarita. 3. [-] Num primeiro momento, supés _c) os seus sentimentos. 4.[_] Reparou a seguir que um su- d) com fa jeito jade. 40 . Qual dos dois? 5. [-] 0 sujeito era um anjo, que re- _e) que tinha morrido. quereu 6.[_] Opel ia irritava-se ) que ainda fosse um sonho. . Arrumar a casa de cada vez / logo / afinal / a sua vez / & espera a) O policia deu por si numa fila _ para passar a fronteira. b) Ele achava que era um sonho, mas, _, nao era. ) Finalmente chegou ___. d) Se dependesse dele, todas as pessoas era _ das. e) Em vida, culpava o figado repatria~ _ que um viajante reclamava. . 0 rato comeu a) Para ver se era um sonho, o policia b_ _i_c __-se. b) O anjos_c_d__asasas, 0 que devia ser um sinal de desagrado. ¢) Depois, 0 anjo franziuos__r_1__. d) Nervoso, o policia comegou as __F. e) O anjo disse-the que ele teria de ag_a_d__. a) Quando 0 anjo falou com ele pela primeira vez, 0 policia... 1.[] .westremeceu 2.[.] ..ficou impassivel b) "Havia de ser eu”, pensou 0 policia, “e estes tipos ...” 1. -.podiam passar 2. [7] ..ndo se safavam ©) Nao disse aquilo com ironia ... para lisonjear 0 anjo. 1.) nem t&o-pouco 2.[-) nem onde diabo d) O policia ficou ... de chorar. 1.5] com vontade 2.[-] sem intengoes Brother / ‘No emprego da minha mae havia mquinas de escrever. Era o Sr. Vasco quem eu via escrever, & maquina, O emprego da minha mae, quando ha 15 anos, em 1975, cra no Instituto Bo- em Lisboa. Uma maquina de escrever, como uma escada em caracol, um monta-cargas € uma mé- no emprego da minha mie), era, para mim, um objecto sagrado. E eu, é claro, nao sabia escrever ‘A minha mie dizia-me que sabia escrever com dois dedos, mas nao me iniciou. Paraa minha mie, eu devia aprender a escrever & m4quina numa es- cola e devia aprender a escrever com os dedos todos desde 0 comeco, para nao ganhar maus hé- biros. Nunca vi a minha mae a escrever 4 méquina. ‘Aos 15 anos, em 1975, 0 meu pai deu-me um relégio de pulso Omega ea minha mie uma ra portuguesa (Lisboa, 1960). Obras: O decote da dama de espadas (“romances” ‘verso, 1988), Dobra (poesia reunida, 2009), Manha (poesia, 2015). Esta crénica foi licada na revista Pllblica do jornal Pablico de 25/03/2001 (wwrw-publico.p!). ° subir os degraus das esca- ‘das para o 1° andar monta-cargas - elevador viquina de escrever Brother. O reldgio foi com- prado numa ourivesaria da Praca da Figueira. A Brother foi comprada, para ficar mais barato, a uma colega da minha mae. Foram as prendas dos meus pais por eu ter feito 0 5.° ano. O meu pai deu-me de facto uma prenda. A minha mie néo porque achava que estudar e ter boas notas era 0 ‘meu dever, Alids a minha mae dava-me prendas todos os dias. Fui para a escola Sight and Sound aprender a escrever 4 maquina por método audiovisual. Era suposto sair de ld a escrever a altas velocidades, com os dedos todos ¢ sem olhar para o teclado. Foi uma tortura. Saf de Id sem saber meter uma folha na méquina. Sé passados dez anos me atrevi a olhar para o teclado e a escrever com dois dedos, como a minha mae. Pedi um certificado da escola Sight and Sound a garantir que eu sabia escrever & méquina a x letras por y segundos. Ainda o devo ter, As minhas primas também andaram na es- cola Sight and Sound e uma amiga delas, a Becas, salvo erro, também andou. Ea escola ainda existe, parece-me. Pelo menos o letreiro continua li, Na Duque de Avila, ao lado do restaurante A Colina, Eu ia de téxi da escola Sight and Sound para © Instituto Francés porque nio tinha tempo de ir de autocarro. O Instituto Francés funcionava no Liceu Francés, nas Amoreiras. Pelo caminho pensava que podia comer um Toffee Crispy. Mas na primeira viagem, meti a embalagem vazia do chocolate, depois de bem amarfanhada, no cin- zeito da porta do téxi. O taxista ficou furioso € 86 descansou quando me viu deitar pela janela fora o papel do chocolate. Nunca mais me atrevi a comer nos taxis, ‘ourivesaria ~loja onde se ‘compram joias de valor ‘9 um ane! para o dedo, uma pulseira para 0 puso, um colar para 0 pescoro, brincas para 0s orethas Praca da Figueira - praca na ixa (centro de Lisboa) Drendas - presentes, 5 - & na verdade fra suposto ~ o resultado esperado era teclado - objeto onde esto as leclas com as letras ° 0 teclado do computador ‘ndo tem acentos portugueses {ola - de papel 2 uma folha = duas paginas atrever-se a - ter coragem pa % atestar, ha do tio ‘se ndo me ‘nome do estabelecimento ool taurante vé-se a0 longe “Amoreiras - barrolisboeta tembalagem - inv6luero o chocolate (papel que protege) ‘amarfanhedo « liso, novo inzeiro - espaco pare depo- sitar a cinza do cigarro 86 descansou - & s6 ficou sossegado, tranquilo Na Brother, escrevia cartas para a Meadela, lugarejo ao pé de Viana do Castelo, onde as minhas vizinhas ¢ falsas amigas Botelhos passa- yam o Verio. As Botelhos, calculo eu, deviam rir arbom rir da minha dactilografia. Deviam achar- sme completamente doida ou atrasada mental. cartas a preto a encarnado, aleatoriamente (a fita da méquina era bicolor), invariavelmente s de erros, sempre batidas com 0 maior ner- yosismo, uma letra acima ¢ outra abaixo, mas sempre sem olhar para o teclado. As Borelhos, calculo cu, tinham aprendido a escrever & mé- quina com o pai delas, chefe de repartigio de Finangas e dono de uma maquina de escrever pesada. Mandavam-me cartas de resposta numa dactilografia irrepreensivel como quem diz. “Vé como és burra e nés somos inteligentes” ou antes, “Ve como és burra e nés somos gente” porque as Botelhos eram nazis. ‘A minha mie achava que para tudo na vida era preciso um curso, altas classificagoes ¢ cer- tificados. As Borelhos eram umas espertalhonas. Mais tarde, quando jé tinha passado centenas de poemas na Brother, troquei-a por uma Olym- pia semi-portatil ¢ paguei m: Arrependo-me imenso de o ter seram-me que aquela Brother era uma mq to ma que s6 servia para escrever “uma cartita” € que “agora s6 para pecas”. Achei que era a minha mie que cu estava a entregar para ser desfeita em pecas c refeita em mae Botelho, criatura cheia de jogo. Apta para a vida. Isto é, para a vidinha. O meu pai disse logo A minha mae “Também podias ter comprado uma coisa melhor”. <5 imoginer, supor rir a bom rie — doida - ser jizo, louca 9 oChapelera Louco de Alice thas € doido repartico de Finangas ~ ‘sec¢do local do servico disse, estou arrependida ra pecas - sé se pode desmontar para aproveitar partes ‘ser desfeita /refeita ~ ser desunida, separada / reunida de que podias O outro choque foi quando a minha mae me disse para it a0 Maury, que ela considerava um bom relojociro, substituir a pulseira do Omega que entretanto se tinha rompido. © empregado do Maury olhou com desdém para mim e para © Omega da Praga da Figueira ¢ disse “custou- -lhe menos o relégio do que vai custar a pulseira” € “quando 0 comprou deu por ele 2”. Sendo z ‘uma quantia baixissima. Mas ainda hoje tenho o Omega ¢ continua a regular bem. A minha mae morreu. O Sr. Vasco morreu. O meu pai, gracas a Deus, esté vivo. Das Botelhos tenho as vezes no- ias. Da Brother tenho imensas saudades. Acho que vou comprar uma Brother. 466 relojoeiro - pessoa que conserta relégios pulseira - bracelete fo que {ata 0 rel6gio 20 pulso romper ~ estragar, partir 2 0 atacader do sapato rompeu-se desdém - despre, falta de Tespeito e de simpatia dar por - valor pago por um. determinado produto ° ndo dou mais de cem euros 2 indicor a quantia por extenso no cheque = % funcionar lembrar com nostalgia ee O TEXTO \—& exercicios DE COMPREENSAO 1. Verdadeiro ou falso? a)[_] 0 Sr, Vasco trabalhava na escola de datilografia. b) |] O curso nao deu grandes resultados. ©)[_] O pai considerou que a maquina oferecida pela mae tinha pouca qualidade. [7] 0 relégio oferecido pelo pai deixou logo de funcionar. 2. Qual dos dois? a) A protagonista considerava as aulas de datilografia uma experién- c 1.) .agradével b) Ao ver o que a rapariga fez ao papel do chocolate, o taxista.. 1. ..rathou com ela 2.[-] ..mostrou-se afavel ©) As cartas que ela escrevia as Botelhos eram. 1.) ..impecaveis 2.7] wlastimaveis TEMAS DE DISCUSSAO > Que tipo de relagao imagina que teria @ narradora com as vizinhas Bo- telhos? > Ela sentiu que estava a entregar a mae para ser “desfeita em pecas”. Porqué? > Aimportancia de conservar objetos do pasado. |Z sucestées DE REDAGAO > Descreva um objeto do seu pasado que tem muito valor para si > Hé algum talento que gostaria de ter desenvolvido em crianga? sate A LINGUA icam um nome ("um relégio caro”, “uma maquina pe- sada"); os advérbios explicitam uma situagao (‘rir muito", “escrever de- pressa’): © bom, boa / mau, mé - adjetivos, variéveis (concordam com nome) ex.: “0 relégio ¢ bom / mau”, “os relégios sao bons / maus” 'a escola é boa / ma”, “as escolas sao boas / mas” © bem / mal - advérbios, invariaveis ex.: “regular bem / mal” “estar bem-humorado / mal-disposto” % NOTA: comparativos de superioridade comuns ~ melhor / pior ex.: “este relégio é melhor do que aquele”, “pode regular melhor” ARETER > infinitivo composto - passado: “arrependo-me imenso de o ter feito” > que / quem - relativos: "coisas que existiam no escritério” (o antece- dente é um objeto); “Era o Sr. Vasco quem eu via” (o antecedente 6uma pessoa) > dar por - (= pagar um valor): “quando o comprou deu por ele z” > também - (= na verdade): “também podias ter comprado uma coisa melhor" EXERCICIOS DE APLICAGAO 1. Tiro a0 alvo 1. [] A maquina era, para a menina, 2.[] Ame s6 sabia escrever 3.[_] A Brother foi comprada 4,["] Era uma prenda para a menina a) com dois dedos. b) por ela ter feito 0 5.9 ano, ©) a escrever muito bem. @) um objeto sagrado. es 5. (-] Ela foi para a escola Sight and Sound | Devia sair de té €) aprender a escrever & mé- quina. ) a.uma colega da mae. 2. Arrumar a casa ainda hoje / salvo erro / pelo menos / ao lado de / sem a) Aescala onde a menina andou ficava um restaurante, b) Na mesma escola andaram as primase, também a Becas. ©) Aprendiam a escrever com os dedos todos. era su- posto. d) Na verdade, ela saiu de la ___ saber pér uma folha na ma- quina e) Na altura, pediu um certificado que ___ deve ter. 3. 0 rato comeu a) O pai deu-the uma p _ _ n_a por ter passado de ano. b) Era um _e _ 6 __ o que ele tinha comprado numa ourivesaria, ©) Mais tarde, a p__s__r_rompeu-se. d) Ela foi ao relojoeiro paraas_b_t__u_r. e) Mas 0 empregado olhou-a comd__d_m. 4, Qual dos dois? a) A mae achava que para tudo na vida ... um curso. 1. era suposto 2.[] era preciso b) As Botelhos deviam ... com as cartas da prima. 1.0 rir a bom rir 2.7] ganhar maus habitos c) Amenina ... a olhar para 0 teclado. 1. ni se atrevia 2.7] calculava d) Ela tem hoje ... saudades da maquina. 1. imensas 2.[7] centenas de 49> «50> sexual da mulher feia (romance, 2005), Sangue quente (contos, 201 ia versdo francesa deste conto integra a coleténea Le foot qu Bi res d'une passion, Paris: Anacaona, 2014 (www.anacaona.{r). Um brasileiro nao é considerado um homem se nao gostar de futebol, ¢ vice-versa. E pode sofrer sangSes bastante graves por parte de seus pares se declarar, a quem quiser ouvir, que esti se lixando para a Selegio Brasileira. Porque a coisa funciona assim: até a Selegdo entrar em campo, todo mundo fala mal dela e discursa que é um absurdo um pais com tantos problemas na satide, na educagio e etcetc gastar uma dinheirama com um time que, no fim das contas, nao traz alegrias para 0 povo hé um bom tempo. Mas isso 86 até a Selecdo entrar em campo. Nos noventa minutos do jogo, € nos trinta a mais da prorro- gacdo, e também nos pénaltis, se houver, este sera um pais de quase duzentos milhées de ferrenhos torcedores da camisa verde-e-amarela. Duzentos milhdes menos cu. Eu realmente nao gosto de futebol. De pe- queno, torcia para o time que ganhasse pelo simples prazer de ficar feliz, o que me valeu pelo menos duas surras memordveis do pai fantico. <5ty ‘sangBes ~ costigos, quem quiser ouvir ~ 2 ‘ualuer pessoa fest se ixando (gross) ~ fo quer saber Sela ~equpa nacional verdadeiras: {orcedores (B®) = adeptos (PN) = apoiantes de uma equipa jogador de fu ‘o que me valeu - 0 que teve ‘como consequéncia surre (BR) ~ pancads, sova (hater em alguém) 9 0 rapaz levou uma surra por seer portado mal Ficar feliz com a devia ser, na escal ia do execrado time rival de principios do. meu p: mais grave do que roubar ou usar drogas. wergonhei o velho quando comemorei as vitétias do inimigo sobre 0 time dele na frente de casa, expondo-o ao deboche dos vizinhos que, por muitos anos, falariam naquilo como a tirar € tirar e tirar a casca de uma ferida para que vol- tasse a sangrat. Um sujeito que no dé a minima para o fu tebol é considerado desde sempre um estranho. Dafa ser chamado de veado, é um paso. Ou um passe, para manter o tema. Com este cartao de visitas, cu nao podia me gabar de popularidade entre as meninas, Na adolescéncia, porém, a coisa comegou a melhorar. Enquanto os garotos se matavam no campinho da escola, eu passava os recreios € os perfodos da cducagio de uma me- méria com mais gigabytes do que a minha para lembrar de todas as garoras com quem conversei sobre novelas ¢ vestidos enquanto meus c gastavam sua testosterona na busca de um go ‘Apesar da imensa quantidade de torcedoras que, aos poucos, invadiu o futebol, as que repu- diam a bola seguem em maioria. Nao foi dificil ser 52 ‘envergonhar - causar vergo- ‘nha, comprometer ° tem vergonha do amigo, que come de boca aberta ovelho-& opal \deboche (GR) ~ zombaria, ‘idicularizaca0 ccasca ~ pele que envolve © descascar um fruto ferida ~ marca de um golpe © cortow 0 dedo com a facae ‘fez uma ferida ssangrar ~ deitar sangue tm sujeito - uma pessoa qualquer ‘no der minima ~ nfo veado (BR, depr.) - gay Passe ~ passagem a bola ‘entre jogadores de futebol tdo de visitas - & carac- ica associada se gabar - vanglariar-se, fazer (autodelogio Porém — no entanto ‘aroto - rapaz am - % se esforga- = roupa feminina nna busca de um gol -% tentando marear um gol gol (BR) = golo (PT) {0s poucos - lentamente repudiam a bola - & néo sostam de futebol ‘seguem ~ & continua percebido por essas como uma rara e valorizada i¢ de homem que, de bom grado, trocaria a final de um campeonato por um filme de arte. de bor grad ~ com prazer noivo e naiva- par de na- ‘moradas que tem easamenta smarcado E eu trocava mesmo. 8a el de ovate, ava Nio premeditei nada. Mas ao me dar conta ¢sposo/a- marido e pelo futebol, os homens abandonayam mulher famante - pessoa com quern sevive elaga0 moradas, noivas, esposas ¢ amantes por ma tarde inteira, ou por boa parte da noite, iar 0 tédio delas com a minha idades de relacionamento entre um homem e as mulheres, de passeios no shopping até aquelas que um cavalheiro jamais deve reve- lar, A menos que seja pressionadi Desde a minha adolescéncia ja se passaram in- contaveis campeonatos estaduais, intimeros Bra- Copa (BR) ~ campeonato sileirdes e Copas do Brasil, virias Libertadores (iy Seamer da América, diversas Copas do Mundo. A TV a TV acsbo~ canes elevsi- cabo abriu novos horirios paraa minha atuacio fisrgo mole ao transmitir a Champions League e mais uma série de campeonatos espanhéi ses, alemaes, até mesmo turcos € gregos. Como disse Millér Fernandes, quando a classe média Inventou a poltrona, terminou a aventura hu- mana. O que dizer, entéo, da invengio do con- trole remoto? Tantos anos depois, o Rio de Janeiro parado para assist final de Brasile Espanha pela Copa tse das Confederacoes, evento que testa o pais-sede amarets compartinento da préxima Copa do Mundo para comprovar ara espetaderes © ver televisdo sentodo na poltrona ‘evento ~ acontecimento sta pals-sede - & fun- Maracand - estcio de ute- bot do Ro de ane aria que s6 se manteve aberta durante 0 jogo smontoar pelo despotismo do seu dono. Que, a essa al- “n/usamen'e tura, deve estar em algum camarote do Mara- cana. Os fuun ndrios, desatentos, se amontoam “535 atrds do caixa para espiar a partida no celular de um deles. Nem o seguranga, sempre alinhado em seu terno preto junto & porta, permaneceu no posto. O restaurante esté 4s moscas. Os tes nao passam de cinco ou seis, espalhados pelos dois andares. Espalhadas, melhor dizendo. Nio gosto de futebol, nem torgo pela Sclecao Brasileira. E imagino que as cinco ou que folheiam distraidamente seus livro: nao. E preciso escolher uma, ¢ cu escolho. Um sujeito que nao se pretende previstvel jamais se interessaria pela loira de uma loira € 0 trago que colonizagio. A ruivinha is denuncia a nossa rada, com a raiz es- cura abrindo caminho entre os fios vermelhos, seria uma boa opgao, nao fossem os éculos. Nada contra, a nao sera obviedade deles em uma - As outras duas, estran; curtos, que a minha mic definiria como falsa agra, mas que eu clas olha por acaso na minha irecdo enquanto pega um livro da prateleira. Detesto qualquer jogo. Mas, na vida, minha posicao é a de atacante, — Ja sei. Vocé nao gosta de futebol. —Por qué? — Livraria na hora da final — Eu precisava de um livro. — Qual é seu time? ~ Brasil ou Espanha? —Nio, Time. Clube. — Botafogo. 54 caixa - pessoa que recebe ppagamentos num supermercada ‘espiar ~ observar de modo secreto au furtivo ‘0 James Bond é um espito Ccolular (BR) = telemével (PT) inhado ~ % rigido (BR) = fato (PT) = rou- a formal de homem ermanecer no posto -ficar no local de trabatho raparigas (PT) passer folhas de ‘ou de uma revista +uiva (pintada) - de cabelo vermetho (no natural) raiz = & onde nasce 0 cabelo © araiz de uma drvore estd debatxo da terra obviedade - coisa obvia, tosa (BR, fam.) - mulher ene jar ~ apanhar com a mo teleira~ tdbua na parede segs te (BR) = avangado ‘lube - equipa de futebo! local Botafogo ¢ Flamengo sto lubes do Rio de Janeiro ~— Nao vai perguntar 0 meu? ~ Qual é seu time? — Nao tenho. ~ Nao tem ~ Eu no gosto de futebol. — Nunca vi homem nio gostar de futebol. aqui a prova viva. Ao seu dispor... como é seu nome? Nora. ~ Ao seu dispor, Nora = Ao meu dispor? — Para tomar café. — Nio gosto de café. ~Cerve — Nio gosto de cerveja. ~ Ar? — Disso eu até gostaria. Mas melhor nao. —Tomar ar nao engorda. — Mas ¢ perigoso. — Overdose? ~ Assalto. ~ Até 0 assaltantes estio assistindo 20 jogo. —O Rio é perigoso. — Isso foi antes. Agora tem policia por tudo. ~ Sci. ~A cidade anda bem mais tranquila. = Quem disse? —"Todo mundo sabe. Até parece que vocé nao ‘mora aqui. — Nao moro mesmo. ~Mora onde? — Barcelona. — Vai dizer que é espanhola? —Casada com um. — Casada com um espanhol? <2 fis aqui - scui esté 9.0 empregado do restauran- seu dispor ~ pode c ‘comigo em caso de nect dade spor para mais esclareci- ‘mentas ‘cerveja - bebida alcosli- ca, fermentada, base de 9 beber uma cerveja gelada a ver um jogo de futebol 9.@ sala est abafade, vou omar ar na varanda lengordar = aumentar o peso, = emagrecer eu até gostaria -confesso até 0s assaltantes ~ inclusi- vamente os assaltantes por tudo - & por todo o lado todo mundo (BR) = toda = parece mesmo, realmente parece fo moro mesmo - & verda~ de que no mora — Nao ofende o cara. Catalio. ~Saquei. O catalio esta vendo 0 jogo sentado no Maracana, = Mais que isso. — Ele esté vendo 0 jogo ajoelhado no Mara- cana? — Esta jogando. =O catalao é jogador? = Da Espanha. ~ E vocé nio foi ver 0 seu marido jogar? — Eu nio gosto de futebol. E nao torso pela Selecéo Espanhola. — Vamos tomar esse ar. Enquanto eu descia com ela para a praia ca- ‘inhando do lado de fora da calgada, como o cavalheiro que sou, gritos e fogos vindos de todos 05 lados e de todos os prédios ecoaram na solidao da rua. Estévamos sentados na areia e Nora ainda i as sobre ladroes ¢ quadrilhas facgdes criminosas que volta meia eram assunto nos telejornais da Espan| —Comigo vocé néo precisa ter medo. ~Vocé sabe enfrentar os bandidos, por acaso? — Nao. Mas sei correr mais que eles. E com vocé no colo. la parou de falar e me beijou. Depois, por muito tempo, eu quando a deixei no hotel, soube que o Brasil havia vencido a Espanha. nas n © Claucia Tajes, 2014; copyright da edigéo portuguesa, © Claudia Tajes, 2015 0 cara (BR) - 0 sujeto (80, ’ pessoa de quem se fala 3) ~ compreender ~ apoiado nos 2 ajoelhar-se dante do rei praia - extensio de arcia junto ao mar ° id praia num dia de sol calgada (BR) = passei (PT) - parte da rus destinada a pebes, revestida a pedras ° as carro cireulam na ‘estrada, 0 pedes caminham ‘na calgada (BR) / no passeio en prédios -editicos para 03 irmacs Dalton (de Lucky Luke) sto uma quedrilha e meia ~ regulermente defender-se bandido - 0s bandidos ossaltaram 0 ‘banco e esvaziaram os cofres no colo - ter nos bragos © adormecer o bebé na colo havia vencido = tinh vvenciéo 0 TEXTO WM exercicios pe CoMPREENSAO 1, Verdadeiro ou falso? a)[_] J& quando era pequeno, o protagonista deste conto nao gostava de futebol. b)[] O pai dele nao ficava satisfeito com essa caracteristica. ©)[_] 0 dono da livraria recusou abandonar o local de trabalho para ver 0 jogo. d)[-] A tentativa de seduzir Nora foi bem-sucedida, 2. Qual dos dois? 2) Quando o homem fala com mulheres, o desinteresse pelo futebol é Igo que.. 1.) ..omite regularmente _—2.[_] ...faz questo de divulgar b) As suas aproximacées a mulheres a partir desse tema costumam... 1.[5] ..dar bons frutos 2.) ..sair frustradas c) Ao falar com o brasileiro, Nora demonstrava ser uma mulher... 1.[_] ...que nao teme a violéncia 2. [_] ..com alguns receios TEMAS DE DISCUSSAO > Oprotagonista ¢ mesmo um “cavalheiro", como afirma? ma como a sociedade define interesses de homens e de mulheres. jebol como fenémeno global WZ, sucestoes DE REDAGAO > Ha alguma coisa de que toda a gente gosta que nao tem interesse para si? > Comente a frase de Millor Fernandes: “quando a classe média inventou a poltrona, acabou a aventura humana.” ast G, EXER( A LINGUA AFINAL E FACIL! As oragdes condicionais, muito usuais, exigem tempos do conjuntivo: 9 se + futuro conj. ~ hipdtese real/possivel (presente ou futuro) x: "se houver prolongamento, o jogo demora mais tempo” se + imperfeito conj. ~ hipdtese irreal/impossivel (presente) ex.: “se eu fosse um jogador, ganhava muito dinheiro’ 9 se + mais que perfeito conj. ~ hipstese irreal/impossivel (passado) ex: “se ela tivesse chegado mais cedo, tinha visto 0 jogo” S NOTA: num registo mais formal: “demorara”, “ganharia’, |, A RETER > condicional ~ futuro do passad or Muitos anos, os vizinhos falariam” ‘a menos que (+ presente conj.) - (= exceto): “a menos que seja pres- sionado” do passar de ~ (= ser apenas): “os clientes nao passam de cinco ou seis” > BR - vocé (3 pessoa, informal): “vocé sabe enfrentar os. bandidos?” BR - possessivo por vezes sem artigo: “qual é seu time?” 10S DE APLICAGAO 1 iro ao alvo 1. [) Um brasileiro é considerado a) no gosta de futebol. estranho 2.[[] Mas este homem realmente _b) quando veem os jogos, 3. [] Enquanto os meninos jogavam, _c) ele falava com as meninas. 4.[_] Ele trocaria a final do campe- d) de ir falar com elas nesses onato momentos. 50> 5.[_] Os outros deixam as mulheres _e) se nao gostar de futebol. sozinhas 6.(_] E por isso ele teve a ideia 1 por um filme de arte. 2. Arrumar a casa apesar de / até mesmo / desde / também nao / jamé a) Este homem detest futebol: ele b) Os canais transmitem jogos —_ de paises distantes. c) Ele acredita que as mulheres gostam deste desporto d) Precisa que, __ haver mulheres que gostam, a maioria nao gosta. e) Ele usa a mesma estratégia para seduzi-las jovem, veria um jogo muito 3. 0 rato comeu a) Na Infancia, ele nao podia g __ ar-se de popularidade entre as me- ninas. b) Mas isso comecou a mudar durante a sua_d___s_ c) Ele considera-se unc __v___e_r_. | d) Na livraria, Nora foi buscar um livro ap __t_l__r_ e) Ela considera o Rio de Janeiro_e __.g_s _. 4. Qual dos dois? a) Ele trocava ... um jogo de futebol por um filme de arte. 1.0] de bom grado 2.) de todos os lados b) Havia algumas clientes ... pela livraria. 1.[_] espathadas 2.[-] por acaso c) A livraria encontrava-se 1.[.] ..volta e meia 2.[-] ..88 moscas d) Ele disse a Nora que se encontrava. uf hhado 2. [7] ...0 seu dispor <9» < 60» jineense (Sonaco, 1982). Obras: Fogo facil (con y.kusimon.com). = A minha mae é a melhor coisa que eu tenho. No mundo nao ha ninguém que se lhe compare. ‘Nem os meus amigos, tue a minha mulher juntos tm o valor que ela tem na minha vida — costu- -mava o Zodinio dizer. — Estou muito grato a ela. Penso nas horas intermindveis que ela ficou junto de mim quando eu era crianca, o amor com que cuidou de mim, as noites de sono que perdeu quando eu cra bebé ou quando ficava doente; os sacrificios que fez. para me fazer 0 homem que eu sou; as coisas que deixou por minha causa... enfim, ninguém me amou tanto como a minha mie. E reconhecendo esse amor, deliciando-me nele eu comecei a amé-la mais que tudo na vida. Patche, entretanto, sorria ¢ sorvia calmamente a sua bebida, enquanto Zodinio repetia a sta jé muito usada cantiga. Patche nao achava que a sua mie fosse assim tio valiosa, mas também tinha-a em grande conta. A sua mae néo se tinha sacrificado para ajudé-lo, antes fizera 0 contrario. , 2006). Este conto ‘essa obra, publicada em Bissau, Guiné-Bissau: Ku Si Mon Editora, 2006 11GB = Guiné-Bissau Vv eee Shien eee a s eee areee Sen ti casera Cr eee vie tne enigee Ee sorver = beber devagar © sorver goles de cerveja cantiga - © conversa © estd sempre com a mesma cantiga (a dizer 0 mesmo) valiosa - preciosa ter em conta ~ dar valor antes - & 20 invés, pelo ccontrario Mandara-o para criagao na casa de uns cabuncas € nao se importara mais com ele até ele ter fu- gido, apés nao suportar mais os maus-tratos que recebia nessa casa. Bom, nem mesmo aia sua mae se importou, pois tentou fazé-lo voltar, e se a sua mMestra nao tivesse recusado recebé-lo de vol sua mae esquecer-se-ia dele para sempre. Pois até mesmo confundia o seu nome, chamando-lhe outro. Todavia, Patche estava-lhe agradecido. O desdém, a falta de amor que recebia da mae & que Ihe tinham dado forcas para lutar e triunfar na vida. E estava-lhe também grato por ela o ter dado a ~ E quanto ao teu pai? — perguntou Patche a Zodi Patche nao tinha conhecido o seu pai senio depois de ter voltado dos estudos, A sua mie nunca lhe permitira ir vé-lo, odiava-o como Deus odeia o Diabo (se é que Deus também odeia) O pai conhecera a me numa festa e, muitas bebidas ¢ conversas fiadas depois, foram fabricar Patche. Depois comecaram a andar. A mae estava terrivelmente apaixonada por ele, no entanto a familia da mae nao gostava do pai, e para acabar com essa relagio ameagaram deserdé-la e pé-la fora de casa (era filha tinica, o casal nao tinha |. Essa ameaga sé serviu para aumentar 0 amor que cla si da mae cumpria mesmo a ameaga, abandonou-a, porque estava mai teressado no dinheiro dela no que nela propria. O pai era um pobretao, filho de furadores de vinho, ea mée filha de djintons cabrianos. A mae nessa altura estava gravida de scte meses. Qui ry importar-se - dar atencéo, ‘querer saber de alguém ‘maus-tratos - agressoes mestra ~ educadora e volta - novamente ‘esquecer-se-ia fesquecer-se todavia - no entanto esdém - descaso,atribuie Pouca importancia a alguém dar forcas - encorajar % para seduzir ‘onceber, gerar dar ~ & a namorar, a aixonado - sentir 8 0 patrao ameacau despedir 9 empregado para intimidar deserdar - excluir da heran- abortar, mas achou que o filho era inocente e nao nada a ver com 0s ertos do pai, e ademais ja io podia fazé-lo naquela altura. Depoi 1c talvez conseguisse 0 pai de volta se tivesse 0 filho dele. Voltou para casa a pedir perdio, mas foi perdoada, a familia sentia-se ferida na ra por a filha ter fugido com um pretalhago mais pobre que Job. ‘A mie comecou a odiar 0 pai com a mesma intensidade com que 0 amava antes. Por isso, quando Patche nasceu ( que julgava antes que iria amé-lo, para provar a toda a gente que ainda tinha algo proprio, nao o tivo do seu 6 doné-lo, mas nao era mulher para tanto. Como \4o tinha essa forca, criou-o com desdém. Patche, entretanto, nunca odiou o pai, sendo quando a mae Ihe batia repetindo-lhe essa odienta histéria. Quando voltou dos estudos, uma das primeiras coisas que fez foi procurar 0 pai. Ele ligava as coisas: se 0 pai nao tivesse sido o crapula que fora, a sua mae nao teria sido a megera que tinha sido e ele, talvez, nao teria tido tanta vontade para lutar e singrar na vida. Por- tanto, se reconhecia ajuda nos maus-tratos que a mie lhe dera, devia reconhecé-la também nos actos vis do pai. E depois, ele proprio casara-se por materialismo, casara-se com uma tuga rica, nao porque ela fosse especial, mas simplesmente porque era rica, — O meu pai nao chegava aos calcanhares da minha mae — respondeu Zodinio. — Ele era um cabrio empedernido, enquanto a minha mae foi sempre uma senhora digna, mulher de um +635 ‘ademais - além disso pedir perdao ~ pedir des- culp perdoar - desculpar ferida na honra - humithads, descansiderada a patrdo fer @ honra do ‘empregado ao acusé-lo injus- tamente de roubo pretathago (depr.) ~ ‘Job ~ personagem bi ‘muito pobre algo pro algume coise ‘batew no colega com forea ‘dienta ~ horvivel ligava as coisas - criava légica, estabelecia conexdes ‘crépula - pessoa sem moral megera - mulher cruel singrar na vide - vencer as ficuldades, ter sucesso a(odtos vis - mis acdes 96 um homem vl, com mou cardter ‘mente portugués) rio chegar 20s calcanhares ~ ‘io ce poder comparar, ser do pé) Ccabrdo (gross.) ~ homer ‘mau, vil sem carster ‘empedernido - insensivet digna ~ com honra, com dignidade coracao de ouro e cheio de perdao. Tantas coisas © meu pai fez a ela, mas ela sempre o perdoou. ‘Tinham &s vezes horriveis discussées, € cu, nes- sas circunstancias, sempre tomava o partido da minha mie. Imagina tu que se ndo fosse a minha da minha idade na altura, despendendo dinheiro sem controle. Ouve o que digo, Patche: nao hé sempre lutou para que eu tivesse do bom e do melhor, mesmo depois de o meu pai ter morrido € dea sorte nos ter virado as costas, tornando-nos vida madrasta. Ela preferia ficar com fome para que nés nos alimentéssemos. Patche pensou se alguma vez a sua mée tinha feito uma coisa semelhante, mas nio conseguia lembrar-se de nada; rebuscou nas mais recndi- tas memérias, mas nada aparecia. Decerto que ela nunca fizera algo parecido. Zodinio é um homem de sorte, pensou Patche, e a sua mae tam- bém. Nunca vi tanto apreco por uma mie. ~ Sempre ~ Zodinio ainda falava —, peco a Deus para que me dé uma ocasiéo para mostrar & minha mae o meu aprego, 0 quanto a amo ¢ ¢s- timo, e o que setia capaz de fazer por ela. E certo que vivo com ela, mas isso é minha obrigacio ¢ nao é nenhuma forma de pagamento aos favores que ela me fez. Eu quero algo mais forte... com- preendes? Patche fez que sim, mas néo compreendia. A ica coisa que compreendia era que Zodinio idolatrava a mée e a cada hora do dia falava dela a qualquer alguém. Por exemplo, ele tinha ou- vido essa histéria dele mais de Ges de vezes, ‘coraco de ouro - com esses momentos tomar 0 partido — lado de alguém, defender limagina tu - & ficas a saber, odes acredi Iria para 0 olho da miséria (est. - perderia tudo, ficaria ito pobre (mais comur: ir pera o olho de rua) 9 mandeu a empregada para lho da rua (= despediuna) despender ~ gastar virar as costas ~ abandonar, esquecer Vida madrasta vida muito difcil, sem sorte (madrasta ~ mulher do pai) a madrasta da Branca de ‘Neve tentou maté-la ‘semethante - parecide, do ‘mesmo tipo rebuscar ~ procurar bem = intimas, profun- ‘© quanto ~ em que medida 6 minha obrigagso - é nat ‘que se espera qualquer alguém (est) - 2 ‘qualquer pessoa mais de de vezes - mmuitissimas vezes 9 a Guiné-Bissau fem cerca de 1.6 mithaes de habitantes (a capital Bissau, tem & volta de 400 mil) até que comecou a pensar que a mae de Zodinio ino cra assim téo boa como ele pretendia; que la Ihe tinha feito alguma coisa ma e que foi por {sso que ele andava a contar essa histéria do seu onhecimento por ela, tudo por revida, para he dar uma bofetada sem mio. No entanto, fez algumas investigagdes e descobriu que a histéria fio era nada falsa, que aquela mulher era virtu- ‘sa sim, $6 que néo conseguia compreender por que razio Zodinio tinha esse complexo de mae ‘ou sei-la-como-se-chama. io virou a cara, Sim, clas vinham, as Inés: as respectivas esposas ¢ a mie virtuosa. Le- vyantaram-se ambos ¢ foram ajudar-lhes com os sacos das compras. Tinham ido as compras, en- quanto eles ficaram a tomar uns copos num bar proximo ao mercado. Levaram 0s sacos para 0 carro, entraram tam- bém e partiram. No caminho estavam a falar alegremente; a cassete de Zodinio tocava outra miisica, ele ev tava falar do seu aprego & mae na presenga desta. S6 a mae nunca o ouvira a falar dela. Todos jé 0 tinham ouvido, inclusive a mulher. Andava sem- pre a comparar a mulher 3 mae, até que essa en- ciumada mandou-o juntamente com a virtuosa mie para o diabo ¢ Ihe perguntou por que nfo se tinha casado com a mae em vex dela. A esposa pensava jé que Zodinio nio a amava e que a tini era uma chata dos sabia bem que a mie fai ¢ lamentava, mas desculpava-a perante a mulher “65 reconhecimento - ratidao ppancada com mao na cara) 9 a colega ofendeu-a e ela de-he ume befetade jrtuosa - digna, honrada © uma pessoa com virtudes 36 que - mas {as respetivas esposas ~ ‘as mulheres de cada um sjudar-hes (GB) = ajudé-las en sacos - embalagens, ‘© um saco de plstico do supermercado a cassete de Zodinio tocava foutra misica ~ fade ‘outa coisa na presenca - diante de inclusive a mulher ~ ea mulher também enciumada - com cides 9 0 namorado sorriu para ‘outra e ela ficou enciumada mandar para 0 diabo (pop) ~ ica que se est fart (en) ~ po que ica aborrecment) O ger ests, ten chat doe bos (op) - muito aberreide Gro fme cot, no acorte cede implar com alguém -ar- tates pars dc sem necestdade intigas -istrisfaises uate amertogtes perane dane deface a dizendo que ela estava a ficar velha e necessitava de maior tolerancia. Estavam a galhofar no carro, os dois homens no banco da frente, as mulheres atrés, quando uma vaca atravessou a estrada. Zodinio deu pela vaca muito tarde, rentou uma manobra de desvio da estrada. O carro deu varias cambalho- tas, indo por fim embater contra uma drvore, ¢ ficou parado af, com as rodas para 0 céu. O de- ésito de combustivel ficou roto e gasolina estava entornada no chao. O choque das chapas amol- gadas produziu faiscas e uma delas saltou para a poga no chao, provocando fogo. Era urgente abandonar o carro. As iinicas pessoas com cinto de seguranga cram os dois homens. Zodinio ficou preso pelo volante, mas Patche conseguiu sair, 0 que fez a muito custo. Logo que saitt foi para a janela de tris (0 carro s6 tinha duas portas), partiu os vi- dros e comegou a puxar a sua esposa. Depois de ter conseguido tiré-la e afasté-la do local do aci- dente, voltou e comegou a puxar 0 seu amigo, libertando-o do abrago do volante. Nessa altura o carro j As chamas jd tinham envolvido 0 carro por com- pleto, uma explosio estava iminente. Tendo libertad Zodinio, correram os dois para ajudar as duas mulheres que restavam. A es- posa de Zodinio estava desmaiada, enquanto a ‘mie virtuosa gritava a plenos pulmées: Tirem-me daguil Tirem-me daguil Patche ditigiu-se para a mie virtuosa ¢ Zodinio para a esposa. As duas mulheres estavam presas no banco. O desejo que Zodinio sempre tivera, 0 desejo de encontrar-se numa situagao extrema com a = 66» dizer piadas, © nunca se pode falar a sério, stds sempre na galhofa atravessar - passar de um lado para o outro ° avcrianga atravessou a estrada na passadeira dar por ~ aperceber-se de {entou uma manabra de des- vio ~ quis afastar 0 carro dar cambathotas - rolar sobre si mesmo ‘embater ~ ir contra ‘com as rodas para o céu — Viredo 20 contririo combustivel -% gasolina © opetrdleo e 0 carvdo sa ‘um combustivel fssit Foto ~ corn um b eitar gasoline ° deluz tam num choque © 0 metalrgico protege-se das flecas a0 trabalhar = prestes a / quase = sem sentides se mal edesmaiou (caiu no chao inanimada 2 plenos pulmées ~ com energia, a alta voz ppresas no banco - > sem ‘conseguir sair do carro che- para poder sac ado. Pedira esse ensejo sempre a Deus, ele 0 tinha arendido. No entanto nao da forma como agora tinha que fazer uma es- le pretendia. colha, ou a mae ou a esposa. ~ Patche ~ gritou ele, ~ deixa a minha mae e yem ajudar-me aqui a soltar a Chanda. ~ E para a mie: — Volto ja, mae. «61> ‘ensejo - oportunidede 0 perdeu 0 ensejo de fechar 0 negécio ‘tender ~ satisfazer um \desejo ou pedido © lamentamosinformar que ‘0 seu pedi nao pode ser ‘atendido saltar-libertar © ollar um prisioneiro 0 TEXTO 4 EXERCICIOS DE COMPREENSAO 1. Verdadeiro ou falso? )(_] Zodinio falava constantemente do afeto que tinha pela mae. b)[_| Patche tinha um grande ressentimento pelo que os pais the ti- nham feito. ©)[_] Zodinio queria ter uma oportunidade para demonstrar & mae 0 seu amor. @)[_] Quando essa oportunidade surgiu, mostrou que ela estava em primeiro luger. 2. Qual dos dois? a) Os amigos de Zodinio achavam que ele. 1 inha sempre coma 2. |_| ..era imprevisivel mesma conversa b) A mae de Zodinio tinha com a nora (a mulher do filho) uma relagao de. 1.) -.cumplicidade ([] ..implicancia ©) Na estrada, 0 grupo sofreu um acidente de viacao... 1. [|] «.de pouca monta 2.) ...com gravidade TEMAS DE DISCUSSAO > Concorda com a filosofia de vida de Patche em relaco aos seus pais? > Motivos potenciais para conflitos entre sogro/sogra e genro/nora, > Oapego aos pais (ou de modo geral & familia) difere segundo as culturas? 7, SUGESTOES DE REDACAO > Razdes pera os filhos ainda viverem em casa dos pais quando jé s4o adultos. > Um membro da sua familia (nao nuclear) com quem tenha estabelecido uma relagao préxima, 68> A LINGUA ( AFINAL E FACII Os participios duplos tém uma forma regular e outra irregular: 9 regular - com auxiliar ter (por ex.: pretérito mais que perfeito) ex.: "Zodinio tinha prendido o cinto de seguranca” ¢ irregular ~ com verbo auxiliar ser, estar, ficar ex.: “Zodinio estava preso no carro”, “a mae também ficou presa” % NOTA: outros casos frequentes: entregar (entregado / entregue), aceitar (aceitado / aceite), acender (acendido / aceso), matar (matado / morto), rom- per (rompido / roto), soltar (soltado /solto), secar (secado / seco) | ARETER > colocacao do pronome (registo formal) ~ no futuro (ind.) e no condicio- nal, © pronome surge no interior do verbo: “esquecer-se-a” / “esque- cer-se-ia” > andar a + verbo - fazer sistematicamente: “anda sé a implicar com ela” > nao ... assim tao - forma negativa de “tao”: "nao era assim tao boa” > sendo - (= a nao ser, exceto): “no conheceu o pai, senao depois de ter voltado dos estudos”, “nunca odiou o pai senao quando a mae Ihe batia” 7, EXERCICIOS DE APLICAGAO 1. Tiro ao alvo 1. [] Zodinio costuma dizer quenin- a) que se the compare. guém 2.[-] Ele acha que néo hd ninguém —_b) que ela cuidou del 3. Mostra-se grato pelo amor com _c) ele tivesse tudo. 4,[_] Ele sempre lutou para que d) 0 partido de mae.

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