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# # 3 — 4 4 3 g 3 9 Artes — Atualidades Ano Bom - Miguel Reale. ti Remington 12 A fama mundial de que gosa a machina de eserever “RE- MINGTON 12” é baseada na sua provada resistencia e capa- cidade de produzir mais trabalho em merios tempo do que em qualquer outra machina do seu typo. Um dos seus principaes attributos € o “toque natural”, que suavisa 0 trabalho, tornando-o por isso ndo 6. agra- dayel, como tambem mais efficiente. Peca demonstragao, sem compromisso de compra, & CASA PRATT Rua do Ouvidor, 123|125 Praca da Sé, 16/18 RIO DE JANEIRO S. PAULO Filiaes ou Agencias em todos os Estados do Brasil i ON Ano | = ac=_ DEZEMBRO DE 19299 => Num. 8 Revista de SdGo Paulo ORGAM DO GREMIO “ALVARES PENTEADO" Publicacdo Mensal Ciencias — Letras — Artes ~ Atualidades DIRETOR: J. BUARQUE DE GUSMAO DICE Ano Bom — Miguel Reale 2 Editorial — Afirmagdes dos novos — J. Buarque de Gusmao 3 Os mestres do Direito — Dr. Waldemar Ferreira 4 Emprestimos por cmissio, ete. — Horatio Berlinck 5 Economia Politica — J. Papaterra Limongi -10 antes cm face da legislagao © Commercio eos commer sovi ica A Crise ¢ a Industria Moderna — Iris Miguel Rotundo 32 “Comicos” — José Rubéns de Macedo Sc Redacéo: Escola de Comercio “Alvares Penteado” - Largo. S. Francisco - Caixa Postal, 2896 - Tel: 2-0954. Administrac&o:, Praca da Sé, 53 (Palacete Santa Helena) - 3° andar - Sala 320 - Telefone: 2.2813. ASSINATURAS (12 NUMEROS) Porte simples . . . . . 20§000 Porte registrado . . . . 30000 Numero avulso . . . . 2§000 Numero atrazado. . . . 3000 ldo. se responsabilica por conceitos emitidos cm Ab" Revista de Si Paul artivos sebscritos pelos sew 08 direitos de reproducdo ou resumo d aborado de acérdo com a tei, ontida em sex tex Quem. foi? Porque meu ser resp das vidas que latejam na materia? Ha um canto pelas nuvens, um suspiro na terra que adormece: “Vem comigo deixar cm cada couza a alegria que enccrras na conciencia, irmanar-te a este mundo de enerjias, sentir agora como em tudo pouza um pouco de descanso e de harmonia. Homem, curva-te © beija a Terra, ¢, beijando-a, procura o céu que a beija eternamente, no horizonte, — marco que especada o poder dos teus sentidos. Alem dele galopa o pensamento, alem dele rutila o teu dezejo! A neblina parcee lamentar a tristeza das formas que findaram: Beija 0 pé... Morrem seres tristemente € da tristeza naseem outros seres. © onyido teu nao ouve toda a angustia desta “noi somente 0 coragao parece ouvir tio longe o grito sofocado das cousas fristes que parccem mortas”. Assim rezou no céx o genio das sombras como préce de mai junto de um berco. Tanjen sinos agora. Apitos que chamaram os escrayos do seculo ao trabalho trilam alegres. Contrigao de sonho acompanha Ano Bom que se aproxima, Aparccem estrelas enfeitando P a Terra — este prezepio enorme de esperanga. Ano Bom! Ano Bom! Rezam os sinos © a criancada martelando os. postes. Oh Cristo! Si este sonho continuase e continuase a dér no esquecimento como, verias toda a humanidade contrita em teu olhar na Iuz dos astros! MIGUEL REALE, a AFIRMACOES © ano de 1929 foi dos mais fecundos em realizacdes felizes no sei dantina de S. Paulo. Nao andaram os estudantes empenhados em descobrir novas americas nem chega- ram 4s altas regides dos sonhos otimistas, das sedugdes utopicas dos romanticos, dos idealistas que se dezapercebem da realidade do tempo e do meio. Limitaram-se ao culto de ideais que ja se integraram na alma da nacionalidade, Batalharam em prél de cau- sas as mais justas, as mais alevantadas e patrioticas. Afastaramese, 0 1 da classe estu- is que puderam, das “grandes possibilidades _ nacion: que constituem a literatura de plataformas, mensagens, banquetes e entrevistas dos nossos geniais homens de governo e dos seus fouvaminheiros incondicionais. EF Mas trabatharam e construiram. Fortale~ ceram uns e crearam outros vinculos de brazilidade pelas capitaes e pelas prin paes cidades do interior do paiz. Em campanhas dessa natureza andaram empenhados estudantes do Brazil inteiro. Em S. Paulo uma bem orientada campa- nha nacionalista dezenvolveu-se pelas esco- las publicas particulares, sob os auspicios do Centro Academico “XI de Agosto", com aprovacéo e aplauzos da Diretoria Gerat da Instrucio Publica. A cultura fizica e os esportes em geral constituiram preocupa- gfo dominante da “egrejia macacada”. Pus gnaram ainda os\estudantes paulistas pela reorganizagaéo da Fe¥eracao Paulista de Es- fiidantes; andaram em numerozas carava- DOS NOVOS J. BUARQUE DE GUSMAO. nas peio interior ¢ por diversos Estados da Trabalharam ¢ estao trabalhando pela Caza do Estudante. Roe Nao vem a propozito fazer um relato mi- nuciozo dessas atividades altamente pro- veitozas da geracaéo que aj vem. Por outro lado somos demaziadamente suspeitos para depor num inquerito dessa natureza, mas a verdade € que j4 nao mais nos acudira agua 4 boca quando as agencias telegraficas no- ticiarem que estudantes de outros paizes fizeram, fazem ou farao dessas coisas E dos mais justos, pois, 0 nosso desvane- cimento, ao recordar as atividades ¢ os es~ forcos altamente meritorios dos prexados colegas, dos jovens que dos bancos’ acade- micos levam esse magnifico treino para as lides da vida pratica. Tudo isso assinala o indicio de uma benefica renovacio mental que se opéra de norte a sul do Brazil, ao lado de um preparo tecnico que si muito reprezenta para cada individuo, mais re- prezenta ainda para a nossa Patria, sobre« modo em épocas como a atual, em que um rumor surdo, uma ameaca sombria, uma in- tranquilidade quazi sem precedentes na vida brazileira, pe em cada conciencia escla~ recida um receio justificayel, uma insonia acabrunhadora, quando pensamos, quando sentimos, quando nos apercebemos da sem- pre crecente necessidade de ser uteis, de trabalhar pelo futuro deste paiz cuja intex xridade e cuja felicidade sempre foi, é € sera o mais ardente anhelo, o mais acari- Unio. ciado sonho da mocidade das escolas. | | i | i i i DR. WALDEMAR FERREIRA Professor cathedratico de Direito Commercial da Faculdade de Direito de S, Paulo. Fe aR a | | | | | [ | | f | | | | 4 hc ot th tnt ttt ef EMPRESTIMOS POR EMISSAO DE DEBENTURES (OBRI- GACOES AO PORTADOR) E ESTIMATIVA DO CREDITO DOS DEBENTURISTAS NA FALLENCIA OU LIQUIDACAG DA SOCIEDADE EMISSORA Tit Antes de indicarmos o modo de re- solver a questao principal deste estu- do, isto é, 0 reembolso das debentures no caso de fallencia ou liquidagao da sociedade devedora, facamos a clas- sificagao mathematica dos empres- timos. A nomenclatura respectiva, organi- zada por Leveleye, a que nos parece a mais regular e precisa, encontra-se di- vulgada pela maior parte dos tratados de financas e abrange quinze for- mas de emprestimos: 1.) Divida per- petua; 2°) Divida a prazo fixo, po- rém sem amortizagao prévia; 3.°) Di- vida amortizavel, 4 opcio do devedor, entre duas datas previstas no contra- cto; 4.°) Emprestimos com opgio da- da pelo devedor de permutar as de- bentures por acgdes; 5.°) Emprestimo amortizavel por uma quota annual in- variavel; 6°) Emprestimo resgatavel mediante uma quota annual variavel; 7£) Emprestimo amortizavel ao par, por sorteio, com 0 auxilio de uma do- tacdo determinada, mas® nao constan- te; 8°) terminaveis; 9.°) Emprestimo a juro fixo, emittido e amortizavel ao mes- Emprestimo por annuidades HORACIO BERLINCK. mo prego, por sorteio com o auxilio de uma annuidade constante; 10) Em- prestimo emittido a um prego inferior ao da taxa de resgate; 11.°) Empres- timo de juro fixo, com reembolso cumulativo, a liquidar-se por acquisi ¢6es na Bolsa, quando o titulo esta abaixo do par; 12°) Emprestimo de prazo indeterminado, que se extingue por uma annuidade que abrange o ju- ro e uma quota de amortizagio, com acumulagao dos juros; 13.2) Empres- timos em obrigagdes acumulativas; 14°) Emprestimo em obrigagdes com juros progressivos; 15.°) Emprestimo ‘com sorteio de premios pecuniarios (loteria). Qualquer dos emprestimos desta re- lagio péde ser resgatado pelo proces- so de amortizacdes a prazo fixo, que comporta duas modalidades: a da an- nuidade terminavel e a da annuidade certa, Estes dois modos de resgate fundam- se numa mesma idéa. Annualmente, na vigencia do contracto, o devedor des- tina uma certa importancia ad paga- mento do juro e do resgate do ca- pital. Portanto, consagrada uma som- Revista px SAo Pauto ma fixa ao servico da divida, o res- gate do capital péde fazer-se annual- mente por todos os portadores de ti- tulos do emprestimo, ou por alguns indicados no sorteio. No primeiro ca- 80, 0 resgate é parcial para todos os credores; no segundo, 0 resgate é to- tal para determinados portadores ¢ nullo para os outros. O primeiro processo é o da annui- dade terminavel; 0 segundo é 0 da di- yida resgatavel pela distribuigéo par- cellada do juro e da amortizacio. Para elucidar o primeiro caso, ima- ginemos um emprestimo de dez mil contos de réis, representado por cem mil titulos de 100$000 cada um, resga- tavel em 10 annos ao juro de 8 olo. © devedor obriga-se a pagar an- nualmente, a cada portador, durante dez annos, a annuidade formada dos juros e de uma fracgio do capital. No fim do decimo anno a divida estara liquidada. As annuidades terminaveis, neste caso, serao dez de 1.490:294§900; a annuidade integral a pagar pelo deve- dor no fim de cada anno importa em 1.490 :294$900; e a annuidade a pagar a cada portador de titulo de 100$000, antiualmente, é de 14$900. Percebe-se, facilmente, que quanto mais longo for o prazo de resgate tanto menor sera a annuidade a pagar a cada portador. Por conseguinte, a portancia da annuidade terminavel, recebida pelos portadores de titulos do emprestimo, esta na razio inversa do numero de annuidades previstas. Este desenvolvimento tornou-se in- dispensavel, porque as’ emissbes de debentures podem resultar de empres- timos combinados sob qualquer das formas estudadas. Quanto ao resgate antecipado, por annuidades certas, dos emprestimos e- mittidos a um prego inferior ao par nominal, tal resgate no se tem fir- mado regularmente, porque a juris- prudencia é perturbada pelo texto le- gal e ainda vacillante, e pela ausencia de qualquer concepgio mathematica que, sobre o assumpto, a possa illu- minar. Effectivamente, as solugdes dos ca- sos de resgate antecipado dos empre timos com premio serao regulares s mente quando se fundarem na theoria do resgate, cujo principio se deduz de nogdes mathematicas que foram os primeiros indices das emissGes de ti- tulos ao portador. Com o auxilio dos elementos que taes nogdes nos fornecem, encontra- mos facilmente 0 methodo invariavel de avyaliagao do valor real da deben- ture numa data qualquer, valor for- mado da somma recebida pela socie- dade e do “quantum” reservado para reembolso do premio. Assim sendo, na data do reembolso do emprestimo existira uma fraccao desse premio que deve ser considerado como pertencen- te ao. portador da debenture, porque, conforme a natureza financeira do premio, elle resulta da capitalizacio de juros conservados pela sociedade, afim de serem reunidos ao capital na data do reembolso da divida. Ora, como essa divida representa a somma das annuidades futuras, a pa- gar aos portadores de debentures em vencimentos diversos, descontar aquel- la annuidade 4 taxa effectiva do em- prestimo, valor no dia em que se ma- nifesta a fallencia, é determinar a im- portancia exacta da divida represen- tada no conjuncto das debentures em circulagdo. Isto posto, qual sera. a ta- xa effectiva a que nos alludimos? Quando a importancia a pagar aos debenturistas é superior ao prego de emissio, verificam-se, realmente, tres axas de juro differentes. Deste mo- % do, 10.000 debentures de 100$000 de ~ 8 oo emittidas a 90$000. serio amor- tizadas em 10 annos. A annuidade, ju- } ro € amortizagio do nominal é 10000008000 X 0,08 (1,08)10 1490298000 (108)19 — 1 quando o capital é nominal, a a € de 8 ojo; quando se considera é de 89 ojo. a importancia recebida Tendo em consideragio, porem, 0 pre- mio de reembolso, verificamos que 900 0008000, valor actual no inicio do emprestimo, custarao ao devedor 10 annuidades de 149:029$000. Portanto, © servigo annual relativo 4 unidade de capital effective, valor recebido, é 149 029 000. = 0.16559, 900 000 000 annuidade real para a unidade de ca- pital effectivo, correspondente 4 taxa de 10,4 olo exactamente paga pelo de- > vedor. Fixada a taxa, segundo a qual de- vem ser caleulados, em uma data uni- ca, os pagamentos parcellados distri- buidos por varios annos, uma simples operagio de desconto determinara o total do fundo a distribuir pelos por- tadores de debentures. O valor de ca- da uma dellas é um valor medio, isto 6 © quociente daquelle fundo pelo nu- mero de debentures nao amortizadas. Esta patente, portanto, o methodo scientifico de avaliagio do valor das debentures de um emprestimo, cujo servic foi interrompido. O principio é de fornecer a cada um,o seu direito, ilmente conseguido por- que posstimos todos os elementos re- e isto é fa lativos ao calculo desse direito. | sina a mathematica financeira, a so- Effectivamente, segundo o que en- ciedade que emittiu debentures con- trahiu com os debenturistas, seus cre- dores, uma diyida com, annuidades cer- tas. Em qualquer época da vigencia do emprestimo, o valor collectivo dos t tulos é€ o valor das annuidades que a sociedade deve pagar para cumprir as ineluidas no as de- convencgdes primitivas, contracto. Na data da fallenci bentures nao amortizadas tém como yalor collectivo o valor das annuida- des fututas a pagar pela sociedade. O yalor de cada debenture é um va- lor médio determinado pela divisao da importancia total das annuidades, pelo numero total de titulos. Nesta confor- midade, avaliam-se em uma data, uni- ca os pagamentos parcellados distri- buidos por varios annos, pagamentos que marcam o seu valor actual com a taxa eéffectiva, que corresponde ao prego de emissio pago pelos subseri- ptores do emprestimo. Entretanto, a lei brasileira (§ uni- co do art. 6.° do decreto 177-A de 15 de setembro de 1893), fixando em 5 olo a taxa do calculo, além de excluir de- liberadamente a diversidade de condi- des dos emprestimos em relagio ao juro, impde como taxa effectiva dos emprestimos a que fornece aos deben- turistas, na divisio do activo da so- ciedade fallida, importancia superior ao capital que elles despenderam, pois que, no Brasil, as taxas éffectivas de juro, indicadoras do valor actual, so sem- pre superiores a cinco por cento. Finalmente, para tornar mais sen- sivel o resultado deste estudo, faca- mos a demonstracao theorica que elle comporta. As condigées de amortizagao nor- mal dos emprestimos em debentures resgataveis por sorteio, indicam que as amortizagdes se deduzem uma das ou- tras por multiplicagdes indispensavei Assim fazendo, a amortizagio é em progressao geometrica e a ra: da progressao é calculada de modo que os pagamentos annuaes que se compoem: a) dos juros das debentures em cir- culagao; b) das quotas de amortizaga jam constantes. Para que tal condigio se verifique, € indispensavel que a razio da pro- gressio geometrica seja egual a .. (1+r), 2 sendo a taxa de juro nomi- No fim do 1° anno V1 a Be esas 2 po: SB Qe 1 No fim do 10° anno V10 — Aqui, V10 = 0 Como esta notado, percebe-se fa- cilmente que a marcha dos valores a tesgatar depende da taxa effectiva t ¢ da importancia dos pagamentos. Fazendo agora 441 900.000 .000(1-+-t)!° = a ———___ t encontra-se, substituindo a por seu va- = 900.000.000 (1+t) — Revista pe SAo Pauto nal do emprestimo por unidade de ca- pital. No emprestimo de dez mil debentu- res de 1008000 a 8 %, antes referido, a razao da progressio geometrico é 1,08 € Qs pagamentos annuaes importam em a 149 :029$000. Segundo este processo de amortiza- sao normal, o numero de debentures a resgatar no fim do quinto anno é de 5,952. Por conseguinte, o emprestimo ent debentures de 100$000 a 8 ¥ tendo sido emittido a 90$000, as importancias pa- gas pelos subscriptores sommam 10000 > 90000 — 900:000$000 . effectiva deste emprestimo deve ser tal que subtraindo, annual- mente, dos resultados da capitalizagao, © total das importancias pagas, 0 de- cimo pagamento reduza o emprestimo a zero. ja t a taxa procurada. Os valores’a resgatar no fim dos an- NOS suecesstvos, sio os seguintes: V1 (14t) — V2 (1-Ft) — Im [> Ie Vo (141) — lor 49:029$000, t — 0,10.4, taxa effe- ctiva ou de capitalizacio ja referida, Da equag’o precedente, dividindo os dois membros por (1,10.4)" encon- tra-se 1 ee, (1,104)° 900000000 — a a 0,104 em que 900.000.000 indicam o valor Revista ‘DE SAo Pauto actual a taxa de 104 ¢ de uma serie de pagamentos eguaes, cada um a... 1490293000. Com 0 auxilio das equagées (A) cal- cula-se o saldo no fim do quinto anno, (1-+t)5 — = 900000000(1-+-t)> — —— X 149,029.00, t resultando, portanto, com a taxa de 0,104 V5 = 5 Esta importancia representa o valor actual, a 10,4 4, dos cinco pagamentos restantes, de 149:029$000 cada um, que faltam para liquidar a divida, normal- mente, Isto posto, sabemos que as 10.000 debentures iniciaes ficaram reduzidas a 5952 no fim do quinto anno. Por consequencia, o valor de cada debenture, que no comeco era de 900000000 corresponderia no fim do quinto anno a 558.579.480 ———. = 93$850, 5952 valor, na fallencia, de cada debenture. te valor progressivo resulta da con- vengao segundo a qual o premio consti- DACTYLOGRAPHIA “ESCOLA REMINGTON” — Rua José Bonifacio n’ 79480 tue uma somma determinada, refeita pela capitalizagao 4 taxa effectiva dos emprestimos. Donde se conelue que a concepgio das emissGes respectivas e sua organizagio financeira dependem de varios calculos tmathematicos, fora de qualquer manifes- taco juridica. Por conseguinte, 0 paragrapho unico do artigo sexto do decreto 177-A de 15 de Setembro de 1893 deve ser redigido assim: Em caso da fallencia, as obrigagdes nao amortizadas admittidas ao passivo por uma somma egual ao ca- pital que se determinar reduzidas a seu valor actual, ¢ taxa effectiva do empres- timo, as annuidades de juro e de amor- tizagho por vencer. serao Cada obrigagio tepresentard impor- tancia egual ao quociente achado na di- vi io desse capital pelo numero de obri- gagdes ainda nfo extinctas Tachygraphia — Correspondencia 3 Contabilidade — Inglez 18-B Revista pE SAo Pauro VUL © PROVEITO Proveito é synonymo de lucro, Ha lu- sempre que, da combinagio produ- ctiva, resulta ima utilidade maior do cro, ‘que a somma dos elementos nella em- pregados. O lucro liquide ¢, evidente- mente, o “produit net” dos physiocra- tas, que sé 0 consideravam possivel na agricultura, parecendo-lhes de todo illu- 08, déliaixe da porta de vista social, os lucros percebidos pelos individuos, nos demais ramos da actividade econo- mica. Os mercantilistas, que, antes del- les, focalizaram o mesmo problema, ti- nham encontrado o conceito de lucro so- cial no saldo da balanca do commercio portanto, des exterior. Os physiocrat locaram o problema, da circulagio para a produccio. Esta nogdo de lucro como phenome- no de producgao (producto liquido), foi aproveitada pela escola classica. E’ muito expressiva e caracteristica a pagina em que Stuart Mill Ihe condensa a doutrina A esse respeito. “Segundo a opiniéo vul- gar, diz elle, o proyeito dependeria dos precos. Pensa-se commummente que sao consequencia-da compra e venda. Racio- cinar assim é enxergar apenas © lado ex- terior do mecanismo economico da so- ciedade. Nao enicontramos um s6 caso em que a moeda que passa de mao em -Economia Peririca J. PAPATERRA LIMONGI. — nifo seja a materia principal de um phe- nomeno economico. Se examinarmos de petto as operagdes do productor, vere- mos que a moeda que elle obtem pela venda de uma mercadoria nao é a causa — do seu proveito, mas o instrumento por meio do qual este Ihe é pago. “Assim, os ‘proveitos’ nascem, nao do jogo’ das trocas, ¢ sim da‘ potencia pro- ductiva do trabalho, Os proveitos¥geraes— de um pais sio sempre o que os faz a potencia pfoductiva do!trabalho dos ha-— Ditantes, quer baja, quer nao haja troca. © Se nao houvesse divisao do trabalho, nao haveria compra nem yenda e, entretanto, haveria proveitos. Se os operarios de um pais, em conjunto, produzirem vinte™ por cento mais do que os seus salarios, os proveitos serfio eguaes a estes yinte: por cento, sejam quaes forem os precos- Os accidentes*dos pregos podem fazer com que, durante certo tempo, determi-_ nado grupo de productores ganhe mais” de vinte por cento e outro ganhe menos, vendendo-se esta mercadoria abaixo € aquella acima do seu valor natural, até que os pregos tenham retomado o equi- librio.” Mas haveria sempre uma somma total de vinte por cento a partilhar.” ‘Tal éa doutrina da escola classica acerea da origem do proveito: este nasce do tra~ balho, da sta potencia productiva (1). ‘Leroy-Beauliea quer que “os benefi-~ cios em geral, salvo a parte accidental (1) “Principios”, I, pags. 478 © 479. | Revista pE SAo PauLo de_certas circunstancias exteriores, pro- venham do. patrio, de suas concepsoes, de suas combinagdes, ¢ nunca dos ope- rarios”. “Nag contestamos que certas circunstancias exteriores, por exemplo a abundancia e a regularidade das cama- das de minerios, tratando-se de uma em- presa de minas, po de beneficios. am constituir causa Entretanto, ainda nesse caso, pode-se affirmar que nao ha ex cepgio 4 regra que formulimos, pois fi- cou provada a justeza das concepgies € das previsdes do patrao. Admittindo que, nos acontecimentos a ordem, a maior parte provenha do acaso, uma vez que © capital assume _os riscos, assim tam- bem deve beneficiar das vantagens, quan- do nao se rempera 0 equilibrio dos mo- tivos humanos e dos moveis de accao” (sic) (1) Em vez de dizermos — a potencia productiva “do trabalho, como Stuart Mill, ou — as concepgdes € combinagses do patrio, como Leroy-Beaulieu, diga- mos — a intelligencia, como se exprime Ghino Valenti: “A intelligencia domina a producgao econémica”; “ao de dos tres elementos da producgao objecti- vamente considerados, um elemento ani- mador existe, que ¢ 0 pensamento, a von= tade do homem, de onde parte realmen- @ a accfio, e que podemos condensar em uma sé formula, dizendo — a intelli- gencia operativa" (2). é com a naiuresa nem com a trabalho (muito menos com a capital, accrescentariamos nds), que se expliea a economia publica (1) “Traité”, IT, pags. 516 © 517. (2) “Principii”, TI, pag. 283. de uma nagao, "mas com a intelligencia, que appreende os factos da natureza, que preside ao trabalho, ao consumo, 4 pou- panga;.que os faz ser de um ou de outro modo; que os faz ser ou nao ser. Nada occorre no campo da riqueza, que nao desca da esphera das idéas” (Carlo Cat- taneo (1). Nem basta a intelligencia: sao os bons costume! é a observancia da Justiga, é tado o conjunto de requtisitos da ver- dadeira normalidade economica, que de- termina a efficacia da combinagio pro- ductiva ¢, assim, 0 augmento e a me- Ihoria dos productos. Estes, sua quanti- dade © qualidade, em: relagio , encerram twa de caus veito, nao a unica. Por outras palavras, diremos que ella exprime o grau de observancia da lei da coordenagéo dos factores, e é representada praticamente por um certo custo de producgio. Na phase anterior 4 economia de tro- ca, na “economia domestica” de Bticher, na “economia isolada” de Sombart, essa a é sufficiente para explicar 0 pro- veito, nos termos empregados por Stuart Mill. Em nossos dias, porém, nao o ¢. Cumpre additar-The outra, que sio os caus 0 yulgar, como diz o autor dos ‘‘Princi- pios”. Os compendios de Economia, em geral, ensinam que o proveito é a dif- ferenga entre 0 custo de producgio e 0 prego de venda, Depende egualmente de ambos, que so as suas causas. pregos. Nao se trata de simples opin: ” (1) “Del pensiero come principio deco- nomia publica”, apud G. Valenti, op. cit. 11, pag, 492. 12 Nem sao de pequena monta aquelles “accidentes dos pregos”, de que fala Stuart Mill. Nés, brasileiros, bem os co- nhecemos, tanto no mercado interno co- mo no commercio exterior; e podemos ayaliar 9 quanto concorrem para redu- zir e 4s vezes annullar o proveito dos que trabalham. A RENDA Tanto a propriedade privada da ter- ra, como a posse de um talento raro ¢ a exploracao de qualquer monopolio per- mittem auferir beneficios taes, que ex- cedem os conceitos de salario, de juro e até de proveito normal. Seu caracter especifico. — A renda & a parte gratuita de um rédito qualquer. ’ © lucro devido exclusivamente, quer le- 4 fertilidade do solo, quer a um pi gio natural ou politico, O seu caracter especifico é ser uma dadiva: nao é re- muneragio de trabalho, nem de capital, nem mesmo proveito commum do em- preendedor. Sua importancia. — Por ahi se vé que a renda faz parte do problema central da Economia, a que nos referimos, quan- do lembramos o dizer de Conrcelle-Se- neuil — “estado de riqueza” — e as pa- layras de Loria acerca do proveito. De facto, se o objecto da Economia é a actividade humana applicada 4 riqueza, © seu fim é 0 enriquecimento. Importa verificar se ha neste uma parte gratuita. Historia da doutrina, — Turcor, em 1766, definiu 0 producto liquido como “cette partie indépendante et disponible : Revista pe SAo Pauto que la terre donne en pur don a celui qui la cultive au dela de ses avances et du salaire de ses peines, et c'est la part du propriétaire ou le revenu avec lequel celui-ci peut vivre sans trayail et qu’il porte ott il veut” (1). Apam SmirH (1776) diz que “os pro- prietarios, como todos os homens, gos- tam de colher onde nfo semearam, e pe- dem uma renda até pelo producto na- tural da terra” (2). Anperson (1777) considera a renda como “o prego fixo que se paga pelo privilegio de explorar as terras mais ferteis.” (3). Ricarvo (em 1816) attribue a verda- deira doutrina da renda a West e€ a Matruvs (1815). Sao deste ultimo as (1)_“Réflexions”, in “Les grands éeono- mistes”, de Paul Gemahling, pag. 61. (2) “Rigueza das nagdes", I, pag, 62. Com essas € outras palavras de Smith, pretende Car- los Marx justificar a sua doutrina do “plus valor”, isto é, 0 que elle chama de excedente de trabalho incorporado 4 mercadoria e fur- tado pelo proprietario. Dentre os economistas que trataram da renda, alguns, como ‘Turgot ¢ Smith, usaram de phrases nao de todo exa- ctas ¢ sujeitas a interpretacdes tendenciosas (por exemplo: “os proprietarios podem viver sem trabalho”, “gostam de colher onde nao semearam”), @ outros, como Ricardo, deram do phenomeno uma explicagio falsa, que Stuart Mill, méro recopilador, encampou e exagerou. Péde-se até affirmar que a escola classica ou liberal, com os seus erros ¢ com as suas meias-verdades, forneceu armas ao socialismo. Nos, porém, que nao nos filiamos a nenhuma das duas correntes, tanto consignamos esse fa- cto como repellimos qualquer analogia entre a theoria da renda, tal qual a expomos, ¢ 0 venenoso, sophisma de Carlos Marx, no qual o germen da lucta de classes. zi (3) Apud Mac-Culloch, “Principes”, trad. de Aug. Planche, II, pags. 132 e 133, & = j seguintes palavras: “A primeira e prin- cipal causa da renda é a qualidade. da terra, que produz mais do que o ne cessrio para sustentar, os que a culti- yam” (1). * Finalmente Ricavo propde a formu- "A renda & Ja que se tornou classica: a porgao do producto da terra (earth), que ¢ paga ao proprietario (landlord) pelo uso das faculdades primitivas e in- destructiveis do sélo (soil)” (2) Diferenca entre renda e proveito. Co- mo pédem caber & mesma pessoa, O que teem dé conmuum. — A nogao de pro- veito ou de lucro é mais ample nero, de que a renda éa especie. Ao pa so que o primeiro é a diferenca entre 0 custo de produceao © o prego de venda, a segunda é apenas a sua parte gratuita. Nada impede, entretanto, que, as vezes, caibam 4 mesma pessoa. Na exploracao directa da terra, por exemplo, —e a ob- servacio é de Smith, — quem percebe o proveito percebe a renda tambem; ao passo que, no contracto de arrendamen- to, a um toca 0 proveito, a outro a renda. Obsérvon Stuart Mill que, na indus- tria, sto frequentes os casos de proveito extraordinario, analogo’ (para nds, iden- tico) 4 renda (3). © que teem de commum o proveito e - a renda, é serem lucros. A differenga & que sé a segunda é gratuita. Renda ¢ juro. — Adverte o proprio € 0 ge (1) *Principes”, trad. de Constancio, I, pag. 181. Ahi est refutado pelo proprio Mal- thus o sew famoso principio da populacao. (2) “Principes”, cap. I, in “Les grands économistes”, de Paul Gemibling, pag. 167. (3) “Principios”, 1, pag. 551. Ricardo que, usualmente, se confunde a renda com o juro, pois, na linguagem vulgar, se da o nome de renda a tudo quanto 0 arfendatario paga ao dono da terra. Entretanto, uma cousa é o juro do capital, outra cousa é 0 prego de uso das “faculdades primitivas e indestructiveis do solo”, a que chamaremos renda ricar- diana ou gratuita. ‘raduzindo 0 pensa- mento de Ricardo na linguagem do nos- so Direito, diremos que o aluguer, a ren- da, © foro equivalem 4 somma do juro e da renda ricardiana (1). O juro exor- bitante contém uma parte de renda. Salario, juro ¢ renda, — 'Tambem do salario (em sentido lato, abrangendo ho- norarios e outras formas de remunera- cio do trabalho, especialmente do tra- balho intellectual ¢ artistico), se pode affirmar que, em certos casos, contém boa parte de renda, Que, no salario. do trabalhador qualificado, se inclue 0 juro do capital empregado para a sua habili- tagao profissional, é evidente, Que, além disso, em casos particulares, envolve ren- da, tambem nao se péde contestar. Storch, Arrivabene, Wirth e Schaffle extenderam o nome de renda 4 parte dos salarios ow dos honorarios que ex- io que Roscher e cede do commum, opin Ciccone combatem. Assevera este ultimo io chegar a u’a "monstruo- que, para se sa confusio entre salario, proveito ¢ renda”, seria necessario, adoptada essa , recorrer a norma (ou antes, ao opin (1) Convém notar que 0 objecto do nosso ““imposto sobre a renda” nao é 0 que,em Eco- nomia chamamos “renda ricardiana”: sfio 03 rendimentos (réditos), que a Lei especifica. . 14 Revista pE SAo Pauto exemplo) de Storch, afim de calcular, v. g, a renda de um artista, Diz"mais que Storch principia por fixar um minimo para 0 salario, o proveito e 0 prego, da- hi partindo para determinar o que seja © excedente do minimo. (1). Nao nos parece que tenha razio Cie- cone, Nao se trata de preserever a fi- xagao de um minimo de salario, de pro- veito, de preco; mas, apenas, de avaliar os réditos fora do commum. Para tanto, nao é necessario prefixar © minimo daquellas tres quantidades; basta conhecer a média do proveito, Tambem Walker desenvolveu a mes- ma these de Stuart Mill e de Schaffle, comprovada por Pantaleoni, para quem a reada 6, afinal, um “ soprareddito”, que o homem aufere mercé de certos dons gratuitos; “la rendita € soltanto un soprareddito qualificato ed é dovuta alla rarita qualificata di beni istrumentali su- periori in produttivita ad altri”; praredditi, o analoghi, 0 identici, alla rendita ricardiana, si manifestano anche per effetto di monopolii naturali, consi- “S0- stenti in attitudini particolarmente se- gnalate dell’ingegno, del carattere e del fisico di lavoratori” (2). Quem o ne- garia, por exemplo, em face dos hono- tarios de uma Adelina Patti? Renda e monopolio. A propriedade. — O monopolio, quer natural, quer artifi- cial, isto é, legal ou politico, émbora nao seja.a unica, é uma das causas da renda. Todo privilegio de exclusividade péde ser causa de renda, A historia: da dou- a) “Principii", I, pag, 228. (2) “ Principi trina é elucidativa a esse respeito. O ponto de partida de Ricardo nos revela que a’ fonte de suas observacdes foi o systema do arrendamento, no qual o fa- cto da renda ricardiana se torna patente, pois 0 que o proprietario percebe & mais do que 0 juro do capital porventura in- corporado 4 terra. Semelhante facto crescia de vulto na Inglaterra, nos_ fins do seculo XVII e principios do seculo XIX, devido ao proteccionismo agrario, creado pelo. egois no dos “landlords”, que, apesar da insufficiente produccdo nacional, mantinham a tributagio do ce- real importado, para sustentar o prego alto e, portanto, a renda elevada. Sem duyida, tambem a propriedade da terra é, de certo modo, um monopolio. Nada nos autoriza, entretanto, a condem- nal-a, nem a justificar 0 confiseo da ren- da pelo imposto, em homenagem a uma absurda egualdade. O nosso ponto de vista evidencia que privilegiado nao é apenas o proprietario territorial, podendo sel-o tambem qual- quer individuo dotado de qualidades su- periores ou detentor de um monopolio. A extenséo do conceito de renda. — Os mercantilistas formaram 0 conceito de renda no exame do commercio exte- rior; 08 physiocratas observaram o phe- nomeno, estudando a agricultura; Adam Smith enxergou tambem a renda mine- raria; Stuart Mill pondera que a terra’ nao serve, apenas, para a agricultura, que as areas edificadas pédem propor- cionar a seus donos verdadeira renda (ri- cardiana, gratuita); occupou-se egual- mente da renda nas industrias; Schiiffle, Revista DE SAo Pauro Walker e Pantaleoni extenderam-na aos salarios € honorarios. De facto, em ge- ral, a renda péde ser agraria, minera- ria, edilicia, industrial, etc. Causas da renda, — Ricardo, ao allu- dir 4 renda agraria e, particularmente, 4 das terras de pao, longe de se contentar com © monopolio para a explicar, pro- curot-lhe as causas em circunstancias de successfo ¢ differenca, que pretendia ter observado na exploragio do solo. A these historica. — Segundo a the- se historica, de accérdo com as palavras do proprio Ricardo, a lavoura principia pelas terras mais ferteis e bem: situad Demonstraram Carey e¢ Hippolito Passy que a primeira parte da affirmati- va nem sempre se verifica. Nem nos fal- tam exemplos em nosso pais: basta com- parar a fertilidade do Nordeste 4 da Amazonia e, em Sao Paulo, a do valle do Parahyba 4 da terra roxa. Embora a integra da proposigio ri- cardiana, até certo ponto, neutralize o effeito dessas ponderagées, nao ha ne- gar que os citados autores contribuiram para que se alargasse a these historica, substituindo a nogap méramente agrono- mica de fertilidade pelo complexo de cir- ctmstancias que influem na escolha da terra a cultivar. Essa preliminar errada, conquanto dis- pensayel, contamina, vicia a doutrina de Ricardo, pois, simula uma prova em fa- vor da productividade decrescente, em termos absolutos, quando a verdade é que ella est’ pot demonstrar. A these estatica, — O que Ricardo figura’ na segunda these, onde esta o amago da sua theoria, é que, em dado momiento, se cultivem lotes de desegual fertilidade, produzindo, respectivamente, 100, 90 e 80 medidas de trigo. “Se toda terra tivesse as mesmas propriedades, se fosse illimitada em quantidade e unifor- me em qualidade, nada se poderia exi- gir pelo seu uso, excepto o caso de uma situagao particular. S6é por isso, e por que, com 0 augmento da populagio (1), se recorre a lotes de qualidade inferior ou menos bem situados, ¢ que sempre se paga renda pelo seu uso”, Verdade é que elle ahi se refere tam- bem 4 these historica. Mas, se a dermos como nao provada, nem por isso caira a segunda these, perfeitamente cabivel € conforme 4 realidade. Tenha sido este ow aquelle 0 primeiro lote cultivado, cla- ro esta que o proprietario do lote mais fertil ducgéio. Ora, diz Ricardo, 0 que regula © prego & 0 custo de produccio mais elevado, a saber: o do lote que produz apenas 80 medidas. Logo, 0 primeiro e 0 segundo produzem rendas eguaes a 20 ea 10. Eis ahi o factor prego, um dos que in- fluem na tenda. De facto, nao escapou a Ricardo que o preco é causa, a renda & consequencia. A propria renda jé fora tem a seu favor o custo de pro- definida por elle como um prego: o pre- go de uso das faculdades primitivas € indestructiveis do solo, pago com uma porcdo do seu respective producto ou, na economia monetaria, com uma parte do preco deste producto. Ora, se assim (1) Esta phrase mostra a relagao entre theoria ricardiana e o principio da. populagao. 4 se passam os factos, havemos de reco- nhecer que 0 montante, a propria exis- tencia da renda ricardiana (como do Ptoveito) dependerd deste prego, o qual, segundo vimos, era ¢leyado artificial- mente, no tempo de Ricardo, pelo pro- teccionismo agrario. Observira Adam Smith que “a renda entra na composigao do prego das mer- cadorias, nao como os salarios e 03 pro- itos, porém de mancira inteiramente A taxa dos salarios ¢ dos pro- yeitos € a causa do prego alto ou baixo das mercadorias; a taxa da renda é o effeito do prego”. Falta coerencia a essas palavras. De facto, se a renda en- tra de qualquer modo na composigio do preco, nfo é consequencia deste; se o é, nao faz parte dos seus elementos. Para evitar a contradiccio, attribue-se a Smith, com base nas primeitas palavras citadas, a opiniao de que a renda ¢ parte do custo de produccao. O proprio Ri- ~ cardo escreveu: “Se o elevado prego do trigo fosse o effeito e nfo-a causa da renda, esse prego haveria de oscillar em raztio do accrescimo ou diminuigio da renda, na qual teriamos assim uma par- te constitutiva do mesmo. Mas, o que regula o preco do cereal, é 0 trigo cuja Producgao exigin mais trabalho; ea ren- da nao entra nem péde entrar nos ele- mentos do seu preco. (Estou persuadi- do, accrescenta Ricardo, da grande im- portancia deste principio para a sciencja ~ da Economia Politica). Nao tem razio, portanto, Adam Smith, ao suppér que © principio que, originariamente, regn- lou o valor de troca dos ‘productos, isto Revista pe So Pauto 6, a quantidade comparativa de trabalho que Ihes deu origem, péde ser modifi- cado pela apropriagao das terras e pelo pagamento de uma renda, Os productos naturaes entram na composigio de gran- «de numero de mercadorias, porém 0 va- lor desses productos, como o do trigo, é regulado pela productividade da por- cao do capital empregado na ultima ter- Ta € que nao paga renda; por consequen- cia, a renda nao faz parte do prego das mercadorias” (1). Entende Gide que ess cta no caso da renda differengal, a sa- ber: a que resulta da desegual fertilida- de das terras, quanto ao mesmo produ- cto. “Quando, porém, a renda 6 a con- opiniao é exa- seqitencia de um verdadeiro monopolio, por exemplo para os terrenos e usinas situadas nas cidades ou perto de uma quéda dagua, certamente ella figura no custo de producgaio, ao mesmo titulo que © salario € 0 juro, quer 0 empreendedor seja ou nfo obrigado a pagar aluguer”. Gide claudicou, por nao discriminar hem dois aspectos da questo, Sem du- vida, productores ha que, no calculo do custo de produccao, incluem a propria renda, como se esta, sendo parte do pro- Veito, nao estivesse contida na differenca entre 0 custo e 0 preco da venda. Isso, porém, de nada thes seryird, se os precos nao forem compensadores, por mais im- portante e absoluto que seja o mono- polio. E innegavel que existe uma relacdo (1)__“Principios” in Gemihling, op. cit., pag. 172. Quando Smith e Ricardo falam em prego, referem-se ao custo de produccio. Revista pe Sio Pavro entre custo regimen de gos tendem a adequar-se ao custo de produccao, mais uma certa margem de lucros. Evidentemente, quando o preco da sequer para cobrir as despesas, ninguem persiste em produzir, nem o consegue. O productor tentara reduzir o custo, adequal-o ao preco, e, se isto for impossivel, serA forcado a procurar ou- tro ramo, de produegao e prego: em livre concorrencia, os pre- Mas o preco, por sua’ vez, é que de- terminara 0 montante da renda, a sua propria istencia conforme © caso. Que renda poderia ter um pintor genial, por exemplo, se os seus quadros nfo alcangassem preco, isto é, nfo fossem procurados? Isto depende essencialmente da nattt- reza dos productos. Ha-os necessarios, uteis e voluptuarios. Os generos alimen- ticios, por exemplo, correspondem a ne- cessidades elementares, sao indispensa- veis 4 conservacio da vida, Desses pro- ductos, segundo Smith, “sempre ¢ ne- cessariamente”, deflue uma renda. Esta affirmativa é exagerada. Nao & apenas a taxa da renda, mas tambem a sua propria existencia, que depende do preco, Ora, por mais indispensaveis que sejam os productos alimenticios, nao se pdde consideral-is como geradores au- tomaticos de renda. Pelo menos em nossa economia de troca e monetaria, nenhum ramo de agricultura, industria ou com- mercio esté ao abrigo de todo e qual- quer prejuizo, Como affirmar que este ou aquelle gosara perpetuamente de uma rend , de um proveito gratuite? Quando muito se poderd admittir que os productores dos generos de primeira ne- isto. cessidade © os proprietarios. territotiaes em geral, estarao quas lhor situagao do que o: Nada mais. Al ‘periencia attesta que a terra é hom emprego de capital mas, em sempre em me- outros. a EX certas occasides, outros ha que sao mais proveitosos. Ha na exposigao de Smith um con- ceito que importa salientar entre pa- renthesis. E’ quando elle diz que, “nfo sémente os generos de alimentagio for- mam a principal riqueza do mundo, mas tambem, da sua abundancia, resulta a maior parte do valor de varias outras especies de riqueza”. Esta affirmativa, no fundo, é a mesma que enunciamos ao tratar do objecto da Economia, quan- do eserevemos “Nao € a permutabili- dade em si, 0 que imprime a um servico todo o seu aspecto facto de ser permutav conomico; mas 0 1, afinal, por ob- jectos que constituem os meios de subsis- tencia, no sentido generico da expres- sao”. Perca-se 0 edonismo em suas er- roneas e immoraes divagagées a respeito do desejo; repitam os seus adeptos que “tout désir est besoin”: a experiencia, a Historia, 0 bom senso protestam contra a inverdade. Assim, quando Smith de- clara parecer-Ihe que os generos alimen- ticios sio os unicos productas que, sem- pre e necessariamente, dao origem a uma renda, & porque o homem hao péde vivér sem comer. Reconhece, pois, a jerarchia das necessidades, de onde uma procura 18, Revista pe Sio Pauto mais intensa e constante de certos pro- ductos, 0 seu prego compensador e, por fim, a renda. Mas, para Ricardo, embora elle insis- _ ta no factor prego, o que determina a renda — € aqui esta 0 ponto obscuro — é€ o facto da desegual fertilidade das terras. “Se toda terra tivesse as mesmas propriedades, nao haveria renda (salvo © caso de uma situagio particular)” “Pela terra menos fertil nfo se paga renda”, Elle s6 considera, em summa, a renda differengal. E entende que o pre- go € egual ao custo de produccio mais elevado, ao passo que Smith, occupando- se da renda mineraria, ensina que “o prego da mina mais rica regula o preco do carvao para todas as oitras minas izinhas”’. que the sio v Ricardo nao foi mais feliz do que Smith, e 0 que obscurece a doutrina de ambos é a conf Como se io. entre preco e custo de protuccao. Se ¢ yer- dade que ao preco nao é estranho o custo de produccio, como pretendem autores modernos, que se collocam no extremo opposto, certo ¢ tambem que este nao é a causa unica daquelle, Quando alguem offerece ou vende, fal-o a um certo custo de producco; quando alguem procura ou compra, fal-o com certos recursos € disposigdes. Normalmente, nem o primei- ro pode yender abaixo do cus 0, nem 0 segundo comprara além dos seus recur Sos ou contra as suas preferen Smith e Ricardo nao attenderam a estes factos, e dahi a proposigio do se- gundo, que reduz, afinal, as causas da renda, exclusivamente, & desegual fer- tilidade das terras. Ora, 0 phenomeno da renda, nao de- pende essencialmente da differenga no grau de fertilidade das terras ou nos custos de produegao em geral. Bem o de- monstra Pantaleoni, que cita a esse res- peito J. - B, Say e Cherbuliez (1). Entretanto, 0 mesmo Pantaleoni, ao expor a these estatica da theoria da ren- da, figura esta ultima como a consequen- cia de tres premissas:.a lei da producti- vidade decrescente, a lei da indifferenga, € que o producto das terras mais fer- teis ndo baste ao consumo, ou, por ott- tras palavras, que o prego remunere até © custo de produccio mais elevado. Esta maneira dé enunciar as causas da renda, apresenta sobre a exposigio de Ricardo a yantagem de esclarecer_me- Ihor a parte do prego, gracas a lei da indifferenga. De facto, 0 que diz a lei é 0 seguinte: “Em um mercado aberto, num dado momento, nfo ha dois precos para a mesma qualidade do mesmo pro- ducto”. Basta esse facto, quando asso- ciado 4 differenga de custo de produccaio, para explicar a renda: custos deseguaes, precos eguaes, proveitos deseguaes. Mas, nem sequer é preciso que haja custos deseguaes. Para que haja renda, basta © seguinte: um privilegio qualquer, na- tural ou politico; € precos altos, Claro esta que os Iucros provenientes da re- ducgao do custo, devido a um aperfei- coamento technico, por maiores que se- jam, nao enyolvem renda, porque nada (1) “Principi#, pags, 319 © 323, ra Revista pt Sio Pauro teem de gratuito: constituem, na sua totalidade, a remunerai io do esforco, do engenho, do saber e do trabalho. Mas, havendo privilegio e pregos altos, uma parte dos fucros é renda, Ai parece que péde ser melhorada a expo- im nos Sigao de Pantaleoni, Em nossa opiniio, a chamada lei da productividade decrescente nao é pre- missa indispensavel 4 theoria da renda. A hypothese de Ricardo, de tres lotes que, mediante egual quantidade de ca- pital e trabalho, produzem respectiva- ménte 100, 90 e 80 medidas, cabe per- feitamente nos termos da lei da coorde- fagio, proposta por Ghino Valenti, em Substituiga no produzir depende do coordenar os factores, ¢ evidente que ha um limite pa~ io Aquella, pois, se a efficacia ta se explorar cada unidade territorial. Asto nao contradiz a lei da coordenacao, antes a comprova. A uma area inexten- sivél nfo se pédem proporcionar, inde- finidamente, quantidades crescentes de capital e trabalho. Finalmente, o proprio facto da renda € 0 desmentido thais ca- tegorico, mais flagrante da chamada lei sla productiyidade decrescente. Onde existe renda, ha productividade, nao s6 Proporcional, mas até mais do que pro- Porcional i somma do trabalho e do ca- pital empregados. A these dynamica. — Da theoria de Ricardo, tira Stuart Mill a conclusao de que, numa sociedade em progresso, as fortunas territoriaes tendem a crescer, sem trabalho algum da parte do proprie- tario. Invoe: “se em apoio da these a es- tatistica da Inglaterra, Belgica e Franga, no seculo XIX. E’ preciso notar, porém, que a alta da renda nem foi constante nem foi espontanea; Se todos os proprie- tarios cruzassem 6s bragos, naturalmente ella nao se daria. Nao existem provas de uma. tenden- cia natural da renda para augmentar in- cessantemente, demonstrar as O que * parece veres essa infundada hypothese, é justamente uma circunstancia que revela a inexac dao da these historica: ¢ 0 alargamento da layoura a terras mais ferteis, como, por exemplo, em Sao Paulo, onde a cul- tura do café se divide hoje em tres zon a antiga, a intermediaria ¢ a nova, com importante differenca nos respectivos custos de produccao ¢ consequente renda differengal a favor da ultima, Na zona antiga, porém, boa parte do que parece renda é juro de grandes capitaes. PERITO CONTADOR Revista pe SAé0 Paulo. O COMMERCIO E OS COMMERCIANTES EM FACE DA LEGISLACAO SOVIETICA PRELECCAO FACULDAL DE DE DIREITO ENCERRAMENTO DO ANNO LECTIVO. NA I AO PAULO, AO: NOVEMBRO DE 1929, Era uma vez um grande imperio, im- menso pela quantidade de gente, de chao ¢ de aguas sob sua suzerania. Di- tigia-o, com putlso de ferfo, o Impera- dor de todas as Russias, cujos poderes eram muito maiores que os soffrimen- tos e os anseios do seu grande povo. A sua cérte, na cidade que Petersburgo se -chamara, exercia uma realeza fascina- dora pelo set esplendor e pelo seu prestigio, mas atemorizante. Esse grande imperio, que comecava na Europa e na Asia tinha as suas fi- nhas fronteiricas, acabéu, um dia, fra- gorosamente, emquanto as labaredas da guerra européa conflagrayam o mundo. Antes que este phenomeno marcial se houvesse manifestado, um pensador, jo- gando com os principios observados na evolugio psychologica dos povos, disse como as civilisacdes se extinguem. De- ante do rebaixamento do caracter e da impotencia dos cidadios para sé go- yernarem por si mésmos e da sua in- differencga egoistica, devida, sobretudo, fis difficuldades experimentadas pela maior parte dos povos tatinos de vive- rem debaixo de leis liberaes, tao af- fastadas do desportismo quanto da anar- chia, notou GUSTAVO LE BON, e isso foi alli por 1911, que essas leis eram Dr. WALDEMAR FERREIRA (Professor cathedratico de Direito Commercial) pouco sympathicas 4s multidées por- ~ que © cesarismo thes ptomettia, senfio a liberdade, em que confiavam pouco, ao menos a egualdade na servidio. E esse cesarismo, que as civilisagdes sem- pre encontraram numa volta da histo- ria, ow na sua aurora, ou no seu océa-_ so, renascia no socialismo, nova ex- presio de absolutismo do Estado, e se apresentaria Sob a mais dura de suas formas, porque, sendo impessoal, for- rar-se-ia dos motives de temor que ain- da resta aos peiores tyrannos. Os seus dogmas conduziriam a um regimen de baixa eseravidio, que destruiria toda a iniciativa e toda a independencia nas almas peiadas pela sua forca com- pressora. Essa previs “inaccessivel 4s multiddes, pois, para persuadil-as, outros argumentos eram 10, que-se confirmou, era necessarios, nao bastando os tirados do dominio da razao (1). O cesarismo, em verdade, ott porque realmente a his- toria se repete, ou porque se desdobra dentro de um circulo vicioso, renasceu, equencia, ou por causa do so- lismo, mereé de transfiguracée Se a primeira revolueo russa, a de como co 1) GUSTAVE LE BON, "Lois psycholo- giques de evolution des peuptes”, pag. 170, Revista pr Sio Pauto KERENSKY, em marco de 1917, derru- bando 6 throno czariano, langou “as bases de uma republica democratica, de egualdade de direitos civis e poli- ticos, © golpe de 7 de novembro do mesmo anno, desferido por LENINE, TROTSKY, ZINOVIEV e outros, the impediu a ecclosao, bruscamente, rom- pendo com o passado, Nao ficou pedra sobre pedra. Foi o diluvio moscovita. Phenomeno. unico na_ historia do mundo, como 0 disseram os seus: fin- dadores e modeladores, o estado sovi ticosSe propoz transformar em forea activa e em lei fundamental o interesse economico da classe dominante, a do proletariado, O bolchevi mo instaurou- se ¢ installou-se como organisagao in- ternacional da lucta de classes, afim de arraz r com a chamada sociedade bur- gueza. Expresso ficou, na constitnicdo votada pelo terceiro Congreso Pan- Russo dos Soviets no capitulo em que se faz a “declaragio dos direitos do povo trabalhador explorado”, que elle tem por fim principal “a suppressio de toda a exploragio do homem pelo ho- mem, a annullacio completa da divisdo da sociedade em classes, a extermina- sia dos exploradores, o estabelecimen- to da organisa > socialista da socie- dade ¢ a victoria do socialismo em todos os paizes”. Posto tenha desapparecido, na re- forma constitucional de 1925, aquelle titulo do capitulo da declaracio dos direitos, nenhuma duvida poderia sub- sistir deante da categorica disposigao do artigo nove: “O dever fundamental da constituigao da Republica Socia- lista Federativa Russa dos Soviets: con- ste, pata o periodo transitorio actual, em estabelecer a dictadura do proleta- riado das cidades e dos campos e da classe pobre paizana sob a forma de sum governo poderoso dos soviets na- Tem este governo por fim acabar inteiramente com a hurguesia, annullar a exploragio do homem pelo homem e estabelecer 0 socialismo, sob nao subsistirao nem divisées por . nem poder do Estado”. Instituiu-se, dest’arte, a dictadura do proletariado, a dictadura, palavra que, no conceito de LENINE, é y “uma pala- dura, anguinolenta, que exprime a lucta sem treguas, a lucta de morte duas entre duas classes, dois mundo: épocas da historia universal”; ¢ no caso, como o salientow, com justeza, R. SAVATIER, a peior das dictadu- ras, a posta a servico de um systema, “a priori”, de uma dessas doutrinas theoricas @ rigidas, obra de homens como os a-que TATINE se referiu, es- peculativos nos seus gabinetes, dese- josos de applical-as a entes abstractos, simulacros vazios, fantoches philoso- phicos, de sua invengie (2), nao ob- servados no sett meio, no sea tempo, nos seus costumes. Sabendo-se que, no regimen commu- 2) R. SAVATIER, “La Russie bolche- viste vue a travers ses lois”, pag. 9. . 3 ] 22 nista, cra ponto de fé a sfio de suppre: todo 0 commercio privado; deante da predica de BOUKARINE, o presidente da tere ira internacional, o successor do mestre na definigio do dogma so- vietico, de que, na sociedade commu- nista, “os productos nao serao troca- de uns pelos outros; nao serao ven- didos, nem comprados, mas simples-, mente depositados, pelo productor, nos entrepostos communaes ¢ distribuidos aos que delles tiverem necessidade. Por isso, nenhuma necessidade de dinheiro... Todos os productos serio abundantes ¢ cada um poderé tomar tanto delles O modo communista de producgao significa enorme desenvolvi- quanto careg mento das forgas productivas, de sorte que cada trabalhador teré menos que fazer. O dia de trabalho tornar-se- cada vez, mais curto, e os homens li hbertar-se-ao das cadeias impostas pela natureza. Quando o homem tiver de d € vestir-se, pensar pouco para nutri consagrara uma grande parte do seu tempo ao seu desenvolvimento intelle- ctual”; — deante de um tal regimen, seria de indagar se, no mundo sovie- tico, mundo 4 parte, mundo do prole- ta transformado, iado, numa grande cooperativa de producgao e de consu- mo, ficou um cantinho para as insti- tuigdes mercantis, que fizeram a gran- deza da sociedade contemporanea, na qual a dictadura societica encontrou nao apenas o*que destruir... A’ primeira vista, coneluindo pela ne- gativa, nao se estaria longe de acertar, Revista pe Sko Pauro pois que um dos propositos da consti- tuicdo sovietica € o exterminio impie- doso dos exploradores, Nao estariam entre estes os commerciantes? Pois nao J s, pela chama foram elles, ja, considerados como. pa- ras a da escola physiocra- tica, segundo a qual mereciam o con- ceito de productivas somente as indus- trias ruraes e extractivas, que buscam no seio ou na superficie da terra, no solo e no sub-solo, nas forgas e nos naturaes, as elementos cousas mate- satis- riaes ow utilidades apropriadas facgo das necessidades humanas? to, as instituigdes Para que, der mercantis da sociedade burgueza? Nao irna Ru podia, pois, e ia logar para os commerciantes e para os industriaes, desde que os meios de produccio se tornaram propriedade commum do Es- tado. Pois nao passaram as estradas de ferro, as locomotiva: inas, as fa- s us bricas, as minas, os telegraphos, as construccdes, os navios, 0s armazens, 0s entrepostos, para a posse commum da sotiedade sovietica? Pois nfo se apo- derou ella da terra ¢ de tudo que ella produz? Pois nao se transformou cada individuo num como que socio do Es- tado, pa trahalhando e delle recebendo, na me- elle produzindo, para elle dida de suas necessidades, o panno para cobrir a sua nudez e 0 pao para matar-Ihe a fome? Se nfo mais existiu industrial, nem commerciante, porque o Estado passou um capitalista, nem a ser 0 unico capitalista, o unico indus- trial, o unico commereiante, providen- ciando para o cultivo da terra, para a - eolheita dos fructos, para o sew trans- porte, para o seu armazenamento, pava a sta manufactura, movimentando as usinas e as fabricas, os trens de ferro os navios, os caminhdes e vehiculos de toda especie — nao ficou logar para as sociedades bolsas, para os — desnecessario esse compli Thamento, sem cuja rotagao regular e harmonica a sociedade capitalista nao de commercio, para as hancos, tornando-se udo appare- vive € nio prospera. pondo, em 1919, ao mundo bur- gutez o que era seu paiz e como nelle se | desenyolvera 0 estado sovietico, escre- ALEXANDRE AXELROD que, nia formagio, estava veu AL. “no momento de a burocracia sovietica convencida da necessidade de supprimir, sem reser pmo anti- todo commercio privado, socialista, em principio; as tendencias entao predominantes erat, todavia, fa- -yoraveis 4 restauragdo do commercio privado, E isto se comprehendia. O an- ‘© commerciante estava praticamen- te morto, Suas organizagées profissio- naes, e a corporacio inteira, viradas de pernas para o ar, F entao, para tornar- se commerciante era preci 4 buroeratia on aos seus propinquos, "em uma palavra, 4 classe dirigente, que s6 ella dispunha das. relagdes e dos “ieios necessarios” (3). 0 perten do sovictismo, j4 se podia se? commer- ciante na Russia, 0 que nao deixa de ser interessante, por ser uma evasio aos principios do communismo, uma transi- gencia ¢ uma volta ao passado, ou, €0- mo hoje se diz, uma mareha a ré. sociaes nao KE que os phenomenos podem ser alterados por simples effei- to de decretos, por mais potentes e graduados que sejam as autoridades que ao regidos por leis na- bs expedirem. turaes, que as humanas sobreexcellem © as quaes tém estas de submetter-se. Bloqueiada, vin a Russia que, sem em- bargo da fertilidade do seu solo, ella nao se bastava a si propria, Se os cam- ponezes foram obrigados a trabalhar e a entregar 4 communhao, gratuitamen- te, o producto das suas colheitas, reten- do apenas 9 necesario pata-a sta ma- nuitengio, preferiram trabalhar sémen- te para o sett sustento, O homem € sempre o mesmo homem. E os russos verificaram, afinal, que a derrocada do burguesismo em nada os favorecera: a sta sorte nio melhordra. Como ficha de consolagéo. gozavam da egualdade promettida, mas a egtaldade na miseria e na fome... Dahi, a variante. Comprehendeu a dictadura que ou regrediria para a or- nisagio burgueza, capitalista; ou se aniquilaria. E 9 communismo adoptou uma politica nova, de reconstrucgo eco- nomica e social, inaugurada por LE- NINE na declaragio do nono congres- so sovietico, em 31 de dezembro de 1921 — a “Nep”, restituindo aos par- ticulares certos direitos patrimoniaes, 24. Revista pe Sio PauLo que fora enumerados no decreto de 22 de maio de 1922, que Ihes tragou os limites e as condigdes do seu exercicio, E, de entio em deante, comecou o periodo legislative, elaborando-se os codigos sovieticos: 0 civil, o do traba- Iho, 0 agrario, o florestal, o mineiro, o yeterinario, 0 da familia, 0 do proces- so civil, o penal, o do processo cri- minal. Falta um codigo do comercio, ad- yerte EDOUARD LAMBERT. instituigdes commerciaes consideradas . mas as como compativeis com o novo regimen, como as sociedades, apparecem regula- mentadas no codigo civil (4), que fir- mou © principio da propriedade publi- ca (nacionalizada ow municipalizada), a propriedade corporativa e a proprie- dade privada, 0 solo, 0 sub-solo, as flo- restas, as aguas, os caminhos de ferro de utilidade geral, seu material rodante € os apparelhos volantes podem ser de propriedade exclusiva do Estado; mas a propriedade privada, com os direitos de possuir, de gozar e de dispor dos as construgdes nao municipalizadas, as empresas com- hens, pode recahir sobr merciaes, as empresas industriaes que ocenpem operarios assalariados cujo numero nao exceda os algarismos pre- vistos pelas leis especiaes, os instru- mentos e meios de produccéo, 0 dinhei- ro, os valores mobiliarios @ outros ob- jectos de va lor, inclusive as moedas de 4) JULES PATOUILLET ¢ RAQUL DUFOUR, “Les codes de la Russie Sovie- tique”, vol. 1, pag, 3. ouro e de prata e as commendas es- trangeiras, os objectos de utilidade do- ‘oal, as mercado- mestica ott de uso pe: rias cuja venda nao seja prohibida pela lei e todos os bens nao excluidos do commereio privado, Conceituada, dest’arte, a proprieda- de privada: recanhecido ao proprietario © direito de dispor de seus bens; per= mittida a organisagio de empresas commerciaes ¢ industriaes; consentida, expressamente, a locag’io de servigos para o funecionamento de taes emrpre- si 5 — forca é convir que a legislagao, sovietica reconhecen a legitimidade do commercio, que, supprimido na lei, in- compativel com os principios doutrina- rios do systema politico e economico, subsistit, nao obstante as paixdes que se entrechocaram. Foi 0 commereian- te clandestino que salvou o cidadao russo da fome. Apesar de esmagados pelo guante ferreo da dictadura, solda- dos, paizanos, camponezes, operari mulheres, creangas, As centenas, aos mil, se ‘am, para viver, obrigados a tecer 0 trafico clandestino, que era, no NDRE AXEL- ROD, um matt suecedaneo do commer exprimir-se de ALEX cio por atacado e a varejo, que tinha sido supprimido, e que inspirou aos que serviu tanto de sympathia quanto de odio: se thes fornecia o necessario, os orbitantes, precos eram e Mais alto que as leis dos homens fa- da natureza, Nao é 0 communis- lama mo nenhuma novidade, creagio de so- ciologos ou de economistas, russos, ott nao. Manifestou-se, naturalmente, nas sociedades primitivas, no oriente, como no occidente. Pratica-se, ainda hoje, na- ~turalmente, sem ter sido imposto a fer- ro € a fogo, em varios pontos do pla- neta, onde se vive a vida dos primeiros tempos, a vida simples da phase da caga ou da pesea, nas aldeias do centro da Africa ou nos confins de Matto Grosso e nas florestas da Amazonia, recantos de mysterio e de lenda em que pas iam a sua mento do verde e do azul, os indios da cordilheira do Norte, 6s nambiqua de orelhas furadas, os parecis, os cain- nudez e o seu enfara- ras gangs e os de todas as tribus que for- mari a fauna que ROQUETE PINTO, como se por uma creagio cinematogra- phica, apresenta no seu curiosissimo livro — “Rondonia”, mais de um titulo digno de estudo e de medi- tacio. A destruigio sovietica nio foi com- pleta: se mudou, pela forga e pelo ter- por » terou as necessidades, as inclinagdes, os “desejos, 05 appetites humanos, € essa “como que nostalgia da felicidade na terra, ante-manhan da entresonhada jo paiz, reconheceut a Republica Socia- Nista Federal dos Soviets da Russia, ne eu codigo civil, adoptado na quarta sessiio do nono congresso de 31 de ou- limitados nos seus direitos pela justiga, a capacidade civil, a capacidade de ter direitos e obrigagdes civis, conferindo- Ihes, em consequencia, 0 direito de re- sidir é@ cireular livremente no territo- rio russo e de escolher as occupagées € profissdes nao prohibidas pela lei, bem assim o de, nos limites della, adqui- rir ¢ alienar bens, coneluir negocios, as- sumtir obrigagdes, organizar empresas s € commerciaes, observando todas as preseripgdes relati dade industrial © commercial ¢ 4 pro- » do emprego do trabalho, Levan- do adeante © principio, attribuiu per- sonalidade juridica aos agrupamentos de pessoas, aos estabelecimentos @ 4 organizacées, permittindo-lhes, como taes, adquirir direitos sobre bens, obri- s 4 activi gar-se e entrar em juizo, como autoras ou rés. E preceituou, no art. 16, que cllas participarao da vida civil e pra- ticarao os actos juridicos por interme- dio dos seus orgams e dos seus tepre- sentantes Trafou o perfil ¢ as vestes das so- ciedades, que conceituou como sendo © contracto por via do qual duas ou mais pessdas se obrigam umas para as suas contri- com as outr: Inigdes € agir conjunto consecugaio de um fim economico qual- quer. . poz a regra de que se a par- s a reun em para a ticipagdo dos socios na repartigio dos lucros e dos prejuizos nao for deter- minada pelo contracts, ao cada um se attribuirdo juros, pela taxa que 0 Banco do Estado cobrar para capital de desconto dos titules do commercio, sen- 26 do os Iucros ¢ as perdas restantes de- pois do pagamento desses juros, parti- Thados entre em eguaes. Preceito é este de feitio accen- tuadamente capitalista, pois que prevé e regula o rendimento das quotas dos socias no capital social, antes da re- thuneragao do seu trabalho para o des- Existem, ‘os socios, partes envolvimento da sociedade. em verdade, posto nao sejam com- muns, contractos desse naipe; mas nio se encontra nos codigos disposicéo se- melhante. O codigo sovietico, portanto, foi além dos codigos burguezes..- Consigna, na parte geral do contra- cto de sociedade, em particular no que concerne As sociedades simples, normas dignas de relevo, pela sua originali- dade. O dinheiro e as cousas consumi- veis € rungiveis, que constituirem as entradas dos socios para o capital, re- putar-se-io da propriedade commun destes. Qualquer outro bem, se 0 con- trario nao o estipular o contracto, con- ferir-se-A para 0 uso € 9 goso com- mum: a communho societaria a que se referem muitos dos nossos juristas ¢ tribunaes, para justificarem a doutrina de que os bens immoveis que 0 socio levar para a sociedade, transferindo- th’os, nao estdo sujeitos ao imposto de transmissao. Exara o principio de que 0 socio pode retirar-se da sociedade, quando indeterminado 0 prazo dé sua duragio, desde qne the assista motivo razoavel sem prejuizo de sua continuidade, caso em que a sua parte The sera paga em dinheiro, ma _conformidade do halange do dia da retirada. No intuito de salvagnardar 0 interes— ge dos credores dos. socios, preceit olvera em conse= quencia da exeengio do credor sobre | parte do socio no patrimonio social, fa= cultando-Ihe, no emtanto, 0 direito de, em vez de pedir a dissolucao, participar | dos lucros sociaes, sem que se subrogut no exercicio de qualquer dos direitos ou obrigagdes do socio. Quatro sio os typos de sociedade, que regulamenta: a em nome collecti- yo, a em commandita, a de responsa~ bilidade limitada e a por acgbes. ‘A disciplina da sociedade em nome collective ponco diverge da que entre gora. Constituigzo por escripto © certificado em férma tabellida, sob pena de nullidade, Inscripgao no regis- tro do commercio afim de adquirir per sonalidade juridica. Firma ou tazio 5o— cial, Solidariedade dos socios. Inhibe © socio de, sem consentimento dos ou-— tros, fazer, pela sua ou por conta d outrem, negocios da natureza dos constituam objecto da actividade com mercial ou industrial da sociedade, ou de participar de outra da mesma natu- reza como socio de responsabilidade il- limitada, sob pena de resarcir os dam- nos que the causar ou de perder, em que a sociedade se di né auferir, A retirada do socio sémente se effectivard mediante notifieagio com antecedencia de seis mezes, continuan: do elle responsavel pelas dividas socias durante dois annos a contar do dia 4: ) “aT . Revista pe Sio Pavio approvagao das contas do anno em que se retirar. Contera a firma sociedade em commandita a declaragdo de o ser, por extenso ou abreviadamente. No caso de insolvencia, pagos os eredores, serao os socios commanditarios embolsados do. valor de suas quotas preferentemente sobre os socios de responsabilidade il- limitada. Caracteristico da sociedade de res- ponsabilidade limitada é que os socios responderao. pelas obr nfo sémente pelo sew capital, ma bem pelos seus hens pessoaes por um multiplo, egual para todos os socios, da igagdes sociaes is tam- quota de cada um: o triplo, o quintu- plo, o decuplo. No caso de insolvencia de um dos sogios, a sua responsabi dividas dade pelas sociaes repartir-se-A entre os outros, na proporeao do capital de cada nao um, assumindo, todavia, ‘a com terceiros, responsabilidades, além do yalor de sua eu multiplo constante do Podem por seus bens, quota ou do s contracto. revestir esta forma de sociedades as autorizadas por lei ou pelos orgams do governo proletario e paizano, como as de clectrifieagio, de trabalho responsavel ¢ outras. 8 disposigées do codigo civil sobre as sociedades anonymas foram modifi- cadas pela lei de 13 de agosto de 1927 e apresentam ¢ dem burocratica, pois os seus estatu- rta complexidade, de or- tos deverao ser submettidos 4 approva- ao do Conselho do Trabalho e da De- -fesa da Uniio das Republicas Socia- listas Sovieticas, se, entre os seus fun- dadores, existirem estabelecimentos ou empresas do Estado de algumas das republieas federadas; ot estabelecimen- tos de Estado da Unido das Republi. cas Socialistas Sovieticas, ou empresas de interesse pan-unionista; se o capital ultrapassar de um milhio de rublos; se os estatutos contiverem clausulas contrarias ds normas em vigor, do Conselho do Trabalho, sobre sociedades anonymas: e 4 approvagio do Conse- lho dos Commissarios do Povo da Uniao das Republicas Socialistas So- vieticas, no caso de participar capital extrangeiro de sta fundagio e dos es- tatutos permittirem a transferencia de acgdes a extrangeiros; no caso de ter © caracter de concessao, e no de con- terem clausulas contrarias 4s disposi- ges em vigor do Comité Executivo Central e do Conselho dos Commissa- jas rios do Povo da Uniao das Republicas Socialistas Sovieticas, assim como as do Comité Executivo Central Pan- Russo ¢ do Conselho dos Commissarios do Povo da Republica Socialista Fe- deral dos Soviets da Russia. © capital nfo podera ser inferior a 100.000 rublos e cada acgao sera, no minimo, de 100 rublos. Com a creagao das lombardas communaes, estabeleci- mentos de credito correspondentes aos nossos montes de soccorro, ou de typo mixto, com chamada de capital cor- porativo ow privado, o capital seri no minimo de 25.000 ciedades anonymas objecto a procura, rublos. O das so- que tivereny por a exploracio © a hi amy Vise eer ek extraceaio do ouro e dos metaes ou mi- neraes que 0 acompanhem, nfo sera in- feripr a 50,000 rublos © as accgdes de 25 tublos: e o das que e des inarem a alimentagio publica ou ao commercio livreiro, nao poder ser de menos de 25.000 rublos e de 25 rublos cada ac- io, com a condigio dos estatutos in- dicarem exactamente o raio local da sua actividade e de cincoenta e um por cento de todo o capital pertencer a or- do Estado, cooperativas ou ganisagd publicas. Sémente depois da approvacao ¢ re- gistro dos estatutos terfio as socieda- des anonymas direito de operar no ter- ritorio da Uniaio das Republicas Socia- listas Sovieticas, E os fundadores, cin- co no minimo, salvo tratando-se de so- ciedade de procura, extracco do ouro, caso em que serio tres, no minimo, re- partirao entre si as acgdes e entre as pessoas que convidarem para subscre- vel-as, podendo o convite ser feito por publicagdes pela imprensa. Se, ao fim de tres mezes. um quarto do capital nao tiver sido recolhido, considerar- se-& nfo constituida a sociedade. O se- gundo quarto sera realizado nos tres mezes subsequentes. Se, no prazo que prazo que nao pode ser de mais de um anno a con- os estatutos fixarem, tar do funccionamento da sociedade, os restantes dois quartos do capital nio forem reali. sua integralizagio, dissolver-se e liqui- ados, de molde a dar-se a dar-se-4 a sociedade, salvo proroga- go daquelle prazo pelo governo. As acgdes, cujas entradas nao se realiza- Revista 1 Sho Pauro rem nos prazos determinados, serio annulladas ¢ substituidas por outras novas, postas 4 yenda sob a condigao de serem integralizadas dentro dos pra- zos legaes. De modo que, como se vé, a subseri- peao"do capital é posterior 4 fundagio Depois della fundada € que se publicarao as listas de subseri- da sociedade contendo a data pcdo e os prospecto da publicagao dos estatutos; a quanti- dade das acces resetvadas pelos fun- dadores; 0 prego das acgdes e 0 modo eas datas de seu pagamento; a avalia- gio dos bens conferidos pelos funda- dores. O prego de emissio nao sera in- ferior ao nominal. Especificar-se-io, ademais, as vantagens especiaes conce- didas as pessdas on instifuigdes que contribuirem para a fundagio da so- ciedade Antes do registro da sociedade, duas assembléas se reali rio: uma, prepa- ratori e constituinte a outra, aquella quando tiver sido realizado um quarto do capital. Apresentar-lhe-40 os fun- dadores um relatorio sobre a marcha constitucional da sociedade e eleger- se-A uma commissio incumbida de o estudar e de examinar a avaliagao dos Um mez depois reunir-se-4 a assembléa bens trazidos pelos fundadores. constituinte. Comegara a existencia le- gal da sociedade como personmlidade juridica no dia da publicacio do seu registro. I. dentro de um anno, a con- tar desse dia, responderao os funda- dores, solidariamente, tanto para com a sociedade, como para com terceiros, Revista pe Sio Pauto € para os accionistas, pelos prejuizos resultantes da inexactidao das infor- magses contidas nos prospectos e nas listas de subscripgie, nas contas e, em geral, em tudo que disser respeito 4 fundagio da sociedade As acces, inicialmente nominativas, poderao converter-se em acgdes ao por- tador se os estatutos 0 permittirem. EF’ licito ao accionista transferir a outro © seu direito de voto, nas Quatro sao os orgams Yo: a directoria, a comm: sembléas. administrati- a assembléa geral dos accionistas, issao das contas € 0 conselho, este se previsto nos es- tatutos. / directoria compor-se-d de, no minimo, tres membros e tres sup- plentes,.eleitos pela assembléa, nao ex- cedendo de tres annos o set manda- to. A commis io de contas tera tres membros ou mais, reservando-se nella um logar para a minoria dos accionis- tas; e todos elles responderao solida- riamente pelos prejuizos que causarem pela inobsei ancia das obrigagdes que Ihes sio proprias, para com a socie- dade, e, no caso de insolvencia desta, para com os credores, Emittindo obrigagdes ao portador (e sémente as sociedades de seguros e 03 estabelecimentos de credito a prazo curto nao as poderao emittir), e se tal faculdade constar dos estatutos ou das condicées do emprestimo, poderao os obrigacionistas eleger um ou mais re- presentantes encarregados da defesa de*seus interesses, com o direito de to- Mar parte, sem voto, nas assembléas geraes dos accionistas, e de conhecerem dos negocios sociaes nas mesmas con- digdes que os accionistas. : Eis ahi, rapidamente, o que dizem as leis sovieticas a proposito das socieda- des mercantis. Ha, nellas, muito que meditar e, até, que adoptar, agora que se cogita da modificagio do nosso ve- Iho codigo de commercio e que 0 ano- nymato est4 na ordem do dia, Queixas se formulam contra o systema entre nés vigente. Reclama-se mais facili- dade de organisagio, variedade dos ty- pos de accdes, materia esta altima de _que 0s codigos sovieticos nao trata- ram. Simplicidade de movimentos. Do que fica exposto resulta, e nito é demais encarecer a importancia do assumpto, que 0 sy: ou involtiu, ou evoluiu, para o capita- lista, ou burguez, quer reconhecendo a propriedade singular ov privada, quer, e notadamente, permittindo 0 commer- cio privado e regufamentando-o, como Além sociedades, discipli- nou © codigo civil sovietico a locagdo de cousas, a venda, a permuta, 0 mu- stema communista, o fez, das tuo, a empreitada, o penhor, o man- dato, © seguro, Uma ordenanga espe- cial contem a materia da letra de cam- bio. Normas especiaes orientam os trusts; a venda a varejo, e 0 de machi- nas e instrumentos agricolas, median- te 0 pagamento do prego em presta- goes; 0 contracto de commissio; a abertura de escriptorios, filiaes ou re- presentagdes de firmas extrangeiras © as condigdes em que ellas poderio operar em territorio sovietico. Regula- ram-se as operagées commerciaes das administragdes ¢ empresas do Estado; as concernentes 4 circulagio do ouro, da prata, da platina, da s pedras precio- sas € das. letras e titulos representati- as re- de deposito no Banco do Estado e a recepgio dos va- lores do ou para o exterior; as atti- nentes as operagdes da Bolsa. Precei- vos de dinheiro no extrangeiro lativas as operag tuou-se sobre a participagao do. Es- tado nas sociedades anonymas e nas sociedades simples. A faina legislativa sovietica foi in- ‘aldo revolucionario, prevaleceu o preconcei- tensa. No comeso, em pleno re: to de que nao deveriam subsistir as re- miniscencias do passado, nem na fei- tura, nem na applicagdo das leis. Se, na ordenanga de introducgao do codigo civil, ficou expres mente prohibida a interpretagio dos s leis tica dos tribunaes de antes da Revo- cus textos segundo dos governos depostos e a pra- Incdo, tambem se aboliu a technica ju- ridica. Dominava a idéa da necessidade de oppor um direito proletario ao di- eito dos juristas. Redigiram-se os diplomas legislativos em linguagem cor- rente, despida da terminologia juridica, Era de mister estereotypar, no fundo e na férma, o sentimento popular, ow, melhor, proleta io, para que os disposi- tivos legaes estivessem ao alcance de todas as intelligencias, ainda as mais rude: _ pracesso e os resultados nao foram os Dahi surdiu o fracasso do novo melhores, porque, na observagio de JEAN DABIN, professor belga, “o povo ndo péde viver 4 margem do di- Revista pe SAo Pauto reito. Tem, de seu lado, necessidade de juristas. E’ em vio que se preten- de desembaragar o direito do seu ap- parelhamento formal: quadros, catego- rias, formulas desempenham 0 papel de previsiio e de coordenagio indispensa- vel a intelligencia dos preceitos e A seguranca das relagdes juridicas”. (5) Esboga-se, e bem accentuada esta a jornada, a reacgao. Restabelecida, pelos codigos, a se- guranga legal das relagdes juridieas, og juristas e os advogados, que o movi= mento revolucionario affastéra do pre- torio, nelle reappareceram, com o ti- tulo de defensores, E’ a ordem juridica que se restaura, paulatinamente, mas seguramente, fundada no principio da propriedade individual, com todos os setts consectarios logics. Em pamphle- to, elaborado este anno, em Constanti- 4 no exilio, um dos chefes do movimento reyolucionario de outubro de 1917, LEON TROTSKY, confessa que a revolugio se desfigu- nopla, ¢ quando rou, © que, de resto, e com eloquen- cia, 0 seu ostracismo forgado com- prova. Dividindo a revolugio em doi: periodos, um anterior ¢ outro posterior a enfermidade e 4 morte de LENINE, assevera que se, no primeiro, ella nao foi homogenea, no segundo se salien tam os seus movimentos de recuo, Fez concess6es importantissimas, ora em fa cio da burguezia mundial, Brest-Litovsk vor da classe paizana, ora em benefi- 5) JULES PATOUILLET © “RAOUL DUFOUR, “Les Codes de la Russie Sovié- tique", vol I, pag. 16 * foi o primeiro pa: ‘aa rectaguarda da revolugio vietoriosa, depois do qual reiniciou a sta caminhada para a fren- te. A politica de concessdes commer- ciaes ¢ industriaes, por mais modestos que tenham sido os seus resultados praticos, constitue, em principio, seria manobra de retirada. Mas 0 grande re- cuo foi, de uma maneira geral, affirma o chefe communista, a nova politica economica — a “Nep”. Restabelecen- do 0 commercio privado, ella, por isso mesmo, tornow possivel a revivescencia da pequena burguezia. Tanto:se des- envolveram, dest’arte, as forgas socia- listas, como as forgas capitalistas da economia sovietica. A solugao, conclue, com azedume, 0 chefe communista de- posto, depende da sua proporgio dy- namica (6) © commercio, portanto, como pheno- meno economico, que 6, a0 mesmo tem- po que juridico, foi abrindo as brechas que ora apresenta 0 systema commu- Clandestinamente, primeiros tempos, supportou o choque nista sovietico. nos revolucionario, que nao logrou suffo- 6) LEON TROTSKY, “La Revolution Defigurée”, pag. 14. RUA LIB. z 3 a certs DR. se DE OLIVEIRA CAMPOS © BADARO', 27-SOBR. -- 3° ANDAR -- SALA 4 -- SAO PAULO! cal-o, TE venceu. Tém os commercian- tes, na Russia sovietica, campo para © desenvolvimento de sua actividade, afim de restaural-a e de Ihe desenvol- ver a riqueza. Verdade é que a Consti- tuigfio os impede de eleger e de se- rem eleitos para os cargos da politica e da administragdo, como © impede aos corretores, aos monges, aos alienados, aos fracos de espirito, aos tutelados e aos condemnados por furtos e crimes infamantes. Mas se a Agencia Econo- mica dos Soviets tomou a iniciativa de publicar 0 “Guia do Commerciante e do Industrial na Russia Sovietica”, elles que tenham {6 no futuro ¢ saibam es- pera Deita o machado por terra, cortan- do-thes 0 tronco, arvores frondosas. Passam-se os tempos e, de repente, do ~ velho toco comecam a irromper 0s primeiros brotos, verdes, do verde novo xtender-se-A0 0s das resurreigoes. FE gathos enfolhados, promessa de nova fronde e de nova somb: vida. Coisas Da vida e do tempo. Na natureza ¢, tambem, na sociedade. © futuro a Deus pertence, mas cons- titue o patrimonio da posteridade. Laboratorio de Analyses Clinicas

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