Você está na página 1de 4
1.3 - O Encontro no Quarto Escuro|§ ———_———————___ Meus olhos se fecharam e, de repente, tudo escureceu, O (egy! omou conta, apertava em meu peito € me deixava ofegan- te, © que encontraria naquele cémodo escuro? Seré que eu queria mesmo procurar ¢ encontrar algo ali? Melhor seria eu recuar ficar quieta. Mas no deu! Apesar de estar escuro, eu percebia que nao estava sozinha. Havia alguma coisa l4 dentro comigo. Mas eu nao queria saber o que era! Isso incomodava, pois eu me sentia cobra- da por mim mesma a descobrir o que é que havia li dentro. Mesmo com os olhos abertos, tudo era escuro. Nenhuma faisca de luz! Tentei apalpar.., Foi em vio! Aquilo nao era palpavel. Como conhecer aquilo que me acompanhava naquele local escu- ro, sem enxergé-lo nem tocé-lo? Decidi, entio, ouvir. De repente, aquilo teria voz e se co- ‘unicaria comigo, Esperei a voz, ¢ ela no chegou. Para me agi- tar ainda mais, um siléncio barulhento tomou conta da situacao. Aquele siléncio ensurdecedor que me fazia ter certeza de que cu nfo estava sozinha. O eiadaBfoi passando, a curiosidade e a coragem foram se aproximando, Aquele quarto escuro, sufocante, ceu-me familiar. Decidi, entdo, ouvir aquele sil e dialogar com ele. Quando comecei a fazer iss luz foram aparecendo. de repente, pare- léncio perturbador ©, alguns fachos de De repente, luzes surgiam em varios lugares do quarto, ¢ consegui visualizar algumas coisas. Subitamente, uma luz se acen. deu no centro do cémodo, e vi um monte com facas, espadas ¢ tesouras pegando fogo. Assustei-me, porém concorde! em ver a minhalffem chamas, Teomicas Expressiva Arteteropin % Levantei-me a procura de outros “objetos”. Nesse instante, atras de mim, surgiram bandejas de comidas doces, salgadas em to apetitosas, Desejei ter todas ¢ estiquei os bragos euforicamente para pegé-las. Percebi af@@il®, que me dominava, Envergonhei-me e sentei-me para refletir sobre essa sensacio. Durante o processo de reflexao, descobri que no havia motivo algum para refletir. Tudo estava nos conformes, ¢ eu conduzia a vida na maior perfeicao. Assim que tive esse pen- samento, enxerguei na parede um retrato meu. Na fotogra- fia, eu me destacava por ser mais alta do que todas as pessoas que ali também apareciam, Senti-me em uma torre gigante olhando o mundo IA de cima. Como foi doloroso reconhecer o @FGULGne comandando! Nas situagdes mais sutis, era Ele quem estava me guiando? Esse retrato logo desapareceu da parede, & voltei a pensar. ‘A escuridao ainda pairava, ¢ eu estava aflita, querendo sa- ber como conseguiria sair dali, me livrar de tudo aquilo. Espon- taneamente, comecei a cantar cangées préprias que acabara de inventar, Como isso era possivel? Nunca cantei tampouco compus misicas. Mas estava acontecendo! Minha voz transformou-se & trazia RSGeaeMamOniaD ‘Admirada com tudo isso, decidi andar naquele quarto me: mo sem enxergar. Entao, tropecei em joias, estojos de maquia- gens, pegas de roupas e sapatos. Fiquei com raiva de ter tropesa- do, mas, quando vi tudo aquilo no chao, agachei-me para pegar © cal. Quando cai, tudo aquilo desapareceu, ¢ eu fiquei desconsola- da, encarando Re Alves Ao despertar do cochilo, senti um cheiro de mar, olhei pra frente ¢ vi umas pessoas se divertindo na praia. Pareciam tao fe. lizes ¢ realizadas! ...Pareciam ter muito dinheiro, Deveriam ser profissionais bem-sucedidos. Pude até imaginar a casa em que moravam, Belas mansées com carros lindos na porta, Um des. conforto, no entanto, tomou conta de mim. Aquela cena me in- comodava demais. Vibrei para ela sumir, pois eu nao queria vé-la, Meu rosto queimava, meus gestos se desconsertavam. Fiquei com raiva e, naquela tensio, encarei a(lfivaja que, de forma velada, participava de alguns momentos em minha vida. Esse momento me deixou cansada, com vontade de cor- rer daquele quarto. Porém, senti que essa nao seria a solugao. Logo compreendi o que podia fazer com tudo aquilo. Estar ali naquele quarto escuro me trazia desconfortos, tenses, mas, a0 mesmo tempo, me fazia respirar o ar da Verdade, o que me fez corajosa naquele momento. OfM@@BRjuc sentia no inicio havia desaparecido, Eu estava entregue a esses acontecimentos que tanto me surpreendiam. Senti al@BBialp or ser tao GOEajOSA De repente, veio-me uma yontade de desenhar casas, plantas de casas... Arquitetura? Nunca nem pensei nisso! Como o ambiente era escuro ¢ nao havia papéis e lapis, desenhei-as em minha mente. Até calculos fiz! Coloquei a metragem de cada cdmodo, criei casas, apartamentos, prédios. Essa eu nao entendi! Em meio a tantas informagées, 0 alivio tomou conta de mim. Sd entao, pude entender que aquele quarto escuro e bagungado es- tava dentro do meu Ser. Com o aspecto desorganizado, sombrio, trazia-me sentimento de aversfiag Quando aceitei entrar e permane- cer ali por um tempo, me surpreendi. Como podia eu, uma pessoa {Go boa ter esses sentimentos to feios? No dava para negar. O que aparecia no quarto escuro era verdadeiro! Nao tive como questio- nar! Nao adiantaria nada negar nem julgar aqueles sefitimentos? nicos Expressivas om Arteterapia yg! % Ao mesmo tempo em que cu via tudo aquilo, sentia-me for- te para poder transformar também a quele cenario, projegio do meugagsginterior. E os talentos que eu nao sabia que tinha? Bem, nao sei quanto tempo durou essa experiéncia revela- dora. Sei que agora compreendo alguns simbolos que apareceram durante muito tempo em meus sonhos. Compreendo, também, alguns pesadelos e OS @MONSHGY que corriam atras de mim nas imagens oniricas, Depois de todo esse desvelar, passei a ter mais compre- ensdo por mim e pelo outro também. Desejei que todos pas- sassem por essa forte experiéncia de adentrar em seus quartos escuros, porque assim terfamos um mundo bem mais esclare- cido e feliz.

Você também pode gostar