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TORO CE TOD : 5 = Ss > cS m a g S r m mn o ic 9 > oO > ° Se Filo Geni ACS ns sas Soci's DA EDUCAGAO courgo CHEN ¢ Léa Pinheiro Paixéo Coordenadores: Maria Alice Nogueira = O sujeito da educagdo Fomaz Tadeu da Silva (org) ciologia da educagdo: Dez anos de pesquisa ‘oliberalsmo, qualidade totale educago naz Tadeu da Silva e Pablo Gentil (orgs. — Teoria critica e educogéo Bruno Pucci (org) = Curricula: tora e hstéria Ivor F. Goodson = Emometodologia e educagio Alain Coulon ~ A estrturacio do discurso pedagégico Basi Bemstein ~Conhecimento oficial Michael W. Apple « Esertos de eduetigio ‘Afrenio Catani e Maria Alice Nogueira (orgs.) ~ Familia e escola: Trojetrias de escolarizagdo em camadas médias e po- lares Maria Alice Nogueira, Geraldo Romanelli e Nadir Zago (orgs.) Pablo A.A. Gentili & Tomaz Tadeu da Silva (Orgs.) Gaudéncio Frigotto Mariano Fernandez Enguita Michael W. Apple NEOLIBERALISMO, QUALIDADE TOTAL E EDUCACAO VisGes criticas ‘Tradugio do capitulo 4: Vinia Pagonint Thurler ‘Traduedo dos capitulos 8 e 5: Tomaz Tadeu da Silva 10" Eaiglo % EDITORA VOZES Potrépolis 2001 Digitalizado com CamScanner © 1994, Editora Sar Ltda. Rua Frei Lu, 1 -25689.900 Petropolis, RU o Intemet: vpn Jones. Com. Brasl Todos os dirs reservados. Nenhuma parte desta obra poder ‘cr repodusda ou tansitda por qualquer forma e/ou ‘qualquer meios (detténico ou mecénico, incluindo fotoodpia e gravagio} ou arquivada em qualquer sistema ‘ou banco de dadossem permissao escrita da Editora, Editoregéo e org. liteniria: Ana Liicia Kronemberger ISBN 85.326.1308-X Ee or 6 com ‘' compost e impresso pela Editora Voues Lida. Sumério SOBREOSAUTORES ................7 CAPITULO 1 A “nova” ga ce randoemasoes edagoaia ea poltica da pedagoga ae Tomaz Tadeu da Silva caPITULO 2 Educagao e formagéo humana: ajuste neoconservador ¢ alternativa democratica . Gaudéncio Frigotto 31 CAPITULO 3 O discurso da qualidade e a qualidade do discus... 93, ‘Mariano Fernéndez Enguita CAPITULO 4 discurso da “qualidade” como nova retérica conservadora rho campo educacional..... 0. se -. TL Pablo A.A. Gentilt CAPITULO 5 O gue ox poemodemitas eqacems capita cute conhecimento oficial... ee ee eee ee 179 Michael W. Apple Digitalizado com CamScanner Sore os autores * Gaudéncio Frigotto Professor da Faculdade de Educacéo da Universidade Fede- ral Fluminense. Entre suas diversas publicagies destaca-se A produtividade da escola improdutiva, Editora Cortez. ‘* Mariano Fernandez Enguita Professor do Departamento de Sociologia da Universidade Complutense de Madrid. De seus varios livros encontram-se traduzidos para o portuguts: A face oculta da escola (Editora ) e Escola, trabalho e ideologia (Editora Artes * Michael W. Apple Professor do Departamento de Curriculo e Instrugdo ¢ do Departamento de Estudos de Politica Educacional da Univers- dade de Wisconsin, Esto traduzidos para o portugués os seguin- tes livros de sua autoria: Curriculo e ideologia (Editora Brasiliense), Educacdo e poder (Editora Artes Médicas) ¢ Tra- balho docente e textos (Editora Artes Médicas, no prelo). © Pablo A.A. Gentili Pesquisador do Deutscher Akademischer Austaus- chdienst, com sede na Universidade Federal Fluminense. Publi- ‘cou recentemente pela Editora Mio y Davila, de Buenos Aires, © livro Poder econémico, ideologia y educacién. + Tomaz Tadeu da Silva Professor do Departamento de Ensino e Curriculo da Uni- versidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Publicou © livro O que produz ¢ 0 que reproduz em educacdo ¢ organizou os livros Trabalho, educacdo e prética social: por uma teoria da formacdo humana (Artes Médicas) e Teoria ‘educacional critica em tempos pés-modernos (Artes Médicas) Digitalizado com CamScanner EducagGo e formagGo humana: ajuste neoconservador e alternativa democrética Gaudéncio Frigotto Digitalizado com CamScanner “A disputa em tomo da realidede ou trrealidade do peneamento ~ lsolado da prética ~ & um problema uramente escoléstico” ar! Mars. Teses sobre Feuerbach, 9) AN ntsc que empreendemos neste testo & parte de um trabalho mais extenso que busca entender, desde uma perspec- tiva historica, os projetos altemativos de relagdes sociais e de formagdo humana face & especificidade da crise do capitalismo neste final de século'. (© campo educative e, mais amplamente, a formagéo huma- ra, tem se constituido, desde 0 projeto da burguesia nascente, ‘um campo problemético para definir sua natureza e fungéo Jal. Os dilemas ~ que assumem conteiidos historicos espect ficos ~ decomem, de um lado, do fato que a forma parcial (de classe), mediante a qual a burguesia analisa a realidade, limita, ‘em certa medida, a concretizagéo de seus préprios interesses; de outro, porém, decorrem do fato da existéncia de interesses concretos antagénicos dos grupos sociais que constituem a classe trabalhadora e que tomam 0 campo educativo, na escola e no Conjunto das instituigSes e movimentos sociais, um espago de huta contra hegeménica. © inventério (breve) deste embate, no plano mais geral, e, especificamente, na realidade brasileira, mostra que na tearia @ na prética no somente avangou-se bastante na apreenséo de ‘sua natureza como assume uma especificidade no bojo da crise do capitalismo dos anos 70/90 que expe questées desafiadoras A. FRIGOTTO, 6. Trabuho e educate faced crise do captsllma: ste neocon ‘senador aeration democriic. UFF, 194, Tee spresenadn no concarsa ibleo para profesor tty na dsipina Ezonom Pltica da Educa. Digitalizado com CamScanner educativo como um locus icles que entendem 0 €sP2¢0 on Prporante uta e construgSo da democracia subs —— Tmo primeira ordem de quesbos vinculada & espectistoes dacrinedscaptalismo nese final deséculo traduz-sena MuCnGe dos rer meni ka dota ictarse pels tes ain ceneliade do trabalho, hoje, na apreensio da realidade socal rdens de questbes Perio dorensd nrsomas cetruturamese, 2 partir da apreensio que ane de sociabiidade capitalsta, do papel do progresso ae Sobretudo, da crise do modelo de deserwolvimento que reguloy processos de acumlacBo nos élimos cingUenta anos. Neste texto nos delimitamos a discutir a primeira ordem de questées. Inicialmente abordaremos a perspectiva basica dos homens de negécio no campo educativo e de formagéo humana face & crise do modelo fordista de organizagio e gestéo do trabalho e, portanto, face 4s novas bases que a reconversio tecnologica e redefnigéo do padréo de acumulacéo capitalista demandam na reprodugao da forga-de-trabalho. No plano teérico-historico, interessa-nos expor o significado das teses da sociedade do conhecimento, qualidade total, formagéo flexivel, polivalente e educacdo geral abstrata e sua (Geslartculagdo com a perspectiva do Estado minimo, Em segu- da buscaremos discutir 0 significado e a pertinéncia tedrica e histérica da concepcdo de educagao politécnica e formacéo humana omnilateral,no plano da lta hegeménica que se articula 206 interesses da classe trabalhadora, e a defesa e ampliacéo da esfera piblica como condi¢éo de possibilidade de seu efetivo desenvolvimento. 1. Os apologetas da sociedade do conhecimento e os ‘homens de negécio” blefam e apostam no cinismo? man o® Gramsci nos adverte que face a crise, por esta anvestarse no fato em que “0 velho néo morreu e 0 novo ainda ndo pode nascer”, comum surgirem interpretagdes e No contexto da discussSo que estamos f - hho, esta morbid expicise, darmante cone Senate, ‘nos capitulos anteriores, nas teses conservedores do fim da historia de Fucuyama, tese da sociedade do conhecimento de Toffler ¢ a partir dela o fim das classes e, sobretudo, do proletariado, sendo este substituido pelo cognitariado’, ou por teses como as de Kurz (1992) - que ironicamente alguns ertieos situam como o Fueuyama (1992) da esquerda ~ que deduzem da crise “da sociedade do trabalho” a autodissoludo das classes socials. No mesmo rastro do fim da sociedade do trabalho e com ela o fim do conflto, Off (1989) e Schaff (1990) no postularn como novo ator social a “razéo sensivel” de um coletivo indeft. nido (Kurz), mas o deslocamento Para questées como o sentido: da vida e da preparago do homem para o mundo do lazer, Nio é dificil, por certo, zo confrontar os processos histéricos especiticos com estas profecias, surpreender tragos de uma espécie dejogo do truco, onde. blefe é uma tatica singular, nem perceber um elevado grau de cinismo, Mais explicito Isto pode fomar-se quando analisarmos as perspectivas de educagio e formagéo humana postuladas pelos homens de negécio ou pelos seus mentores intelectuais, assessores, consultores, em realidades culturais como a brasileira onde a burguesia se cons- tituiu mediante uma metamorfose das oligarquias.* 2. Toler decix o fim da éivsSo do trabuho © das props cases socas, em ddecorrneia das musangas do contedoe reorganiayso do proceso de trabalho, motiadas pea intodurio no proceno produto de uma nove base tcc t de qualidades séciopeicolécicas da trabulhecior sae vo através dos chamados sistemas ‘sécio-técnicos de trabalho em equipes, dos circulos de. ‘qualidade etc, Trata-se de novas formas de gestéo da forga de trabalho que visam a garantir a integragdo do traba- Ihador aos objetivos da empresa” (Castro, 1993:8). (Os aspectos aqui assinalados revelam que estamos diante de lum processo em que o capital no prescinde do saber do trabalhador e do “saber em trabalho" e é forgado a demandar trabalhadores com um nivel de capacitaggo tebrica mais elevado, ‘© que implica mais tempo de escolaridade ede melhor qualidade, Revelam, de outra parte, que © capital, mediante diferentes mecanismos, busca manter tanto a subordinagéo do trebalhador quanto a “qualidade” de sua formagéo. Mas é também neste rocesso que se evidenciam os préprios limites e ambiglidades do ajuste neoconservador e, igualmente, o terreno sobre o qual as forcas que lutam por uma democracia substantiva ou por uma sociedade socialista democratica devem trabalhar. Nesta luta, 0 conhecimento, a informagao técnica e politica constituem-se em materialidade e alvo de disputa 117, Para uma anise da naturera das questies que una se de pesausas busca ‘evidenciar ao examinar como se expitam cotadebes,porsiodese eunas to processo produtvo que epender de un sber que se elbora no expaco do trabalho, er Hela H. Santos (1992) ¢ NL. Franz (1991 sl Digitalizado com CamScanner dinagéo dé-se, como vimos, eae etal, materalizado no emprego precario, tam- fraquecimento do Aestratégia maisgerl he mediante o mecanismo de dosemprego estrtural crescent © NO bém crescente, na contratago de servicos e ent sindical : rein ado eo por i grupo de pesquisadores americanos, ipagio de pesquisadores de dezenove outros paises, sor einer 0 sstema de producio da Toyota (toyotismo), Fe ce te ee ae processos de “qualidade total”, flxibiizagSo, trabalho participa- tho, do qual resuitou o lio The Machine that Changed the World (1990), 20 mesmo tempo que expe uma perspectiva apologttica deste sistema, sintetiza sua logica excludente. “Trabolhadores em excesso tém que ser expulsos répida e completamente da fébrica para garantir que es inovagdes déem certo.” No campo da educagdoe formao, 0 processo de subordi nagéo busca efetivar-se mediante a delimitacéo dos contetidos e a gestéo do processo educativo. No plano dos conteédos, a educago geral, abstrata, vem demarcada pela exigéncia da “polivaléncia” ou de conhecimentos que permitam a “policog- Oconceito de “policogniéo tecnolégica”, que busca expli- tar as demandas emergentes do sistema produtivo capitalist, dentro do novo padréo tecnolégico, se caracteriza por um Conjunto de conhecimenios que envolve: “c) dominio dos fundamentos cientifico-intelectuais subjacentes ds diferentes técnicas que caracterizam © processo produtivo modemo, associado ao desert, enho de um especialista em um ramo profissional especifico; b) compreensao de um fendmeno em rocesso no que se refere tanto d légica funcional das méquines intligentes como a organizagdo pro- dutioa como um todo; c)responsabilidade, lealdade, Gatividade, sensualismo; d) disposi¢do do trabalhe. dor para colocar seu, ‘Potencial cognitivo e comporta- mental a servico da produtivide esa” ne es rodutividade da empresa’ rocesso, ndo domi- ‘eae port. osfundomentosclenifiointelectntersier tes ds diferentes técnicas produtoas moderna’ the P.4), cia", j4 que hé tipos de atividades polivalen dam nenhuma maior qualificagao e intensificagdo do trabalho". Evidencia, Por outro lado, a tensso estar “a servigo da produtividade da empresa” quando exec ve impelida, para manter-se competitiva, a entrar num processe de reconversio tecnologica.” Roberto Boclin, um dos mais destacados dirigentes do SENAI, que ha mais de trés décadas trabalha no plano de “sintonia fina” na adequagéo da forga de trabalho aos interesses dos empresérios e cuja projecéo no plano dos empresarios da educagao o alcou a Presidente do Conselho Estadual de Educa. go do Estado do Rio de Janeiro, durante o Govemo Moreira Franco (igado as oligarquias do velho Estado do Rio de Janeiro), apés uma ampla avaliagdo da crise do modelo fordista, define o tipo de formagéo necesséria atualmente. Ao fazé-lo, explicta, a0 18. Sako most. a & presto dng te “abhadr mon em “halle ehgnioe po tecanauus pr oprmasaecea ae Com cacti eho ~o ue eco rsa en cs de Screvehimeto« quleaio ofan,» saps docste «wows ito Rs «rts oar, EA Le achat, mara mas panpecta ecard cons cep de ple Iencia © conceito de pobtécnica, ressalta que a polivalincia “no significa obriga- trae tshlagn do abo, mano vaundoes Ge espana mpl” ach, 19915) se “roca de ttaho sda cna pee 9 cnato Semana obit ano ese A dong Came, At parnigmtico pu eens honoree doce a npr ‘do movimento sindcal para comprocnde estes Bites. Digitalizado com CamScanner licognigéo, na nosso ver, como 0 conceito de polvaléncla ¢ les oa peeatid ‘a dos homens de negécio ou seus prepostos, perspectiva dos emogetca, necessidades efetivas do capita, me eens eta aid o homem e suas necessidades como o elxo da producéo eda formagio. . “Longe de se pensar na desqualificagéo da forga de trabalho pelo advento da informatizagdo, 0 que se considera 6 @ formagéo integral do técnico, que de ta certa forma vem a ser a polivaléncia, distinta dos principios marxistas e ajustada 4 realidade do desenvolvimento da ciéncia e da tecnologia. Vem a ‘er ume vis6o teérico-pritica que ofereca um apro- fundamento do conhecimento, que, ‘possibilite a assi- milagdo dos processos de trabalho e que oferega ‘miltiplas condigées de acesso a emprego. A poliva- lencia na escola deve aproximarse da polivaléneia do trabalho” (Bodin, 1992:21). Esta delimitago, como reiteramos ao longo deste trabalho, So se faz sem contradigdes e conflts. As indimeras receitas dos “consultores de recursos humanos”, que anunciam “o que se espera do profisional do ano dois mil”, convergem para as seguintes caracterstcas: flexiilidade, versatilidade, lideranca, principios de moral, orientacéo global, hora de deciséo, comu- Ticagéo, habilidade de discemir, equilibrio fisico-emocional (jor- ral O Globo, 11.07.93, p. 42). Esta demanda real de mais conhecimento, mais qualificagSo gel, mais cultura geral se confronta com os limites imediatos 2 producéo, da estreiteza do mercado e da légica do luero. No cobras, © atraso de um século, pelo menos, na universa- erie ‘basica € um dos indicadores do perfil anacrénico aco das nossas elites e um elemento cultural que potencia o Opr the anos de dea, onstunte eo longo periodo de mais de cinco Eclucagéo Nacional, cinicso da Lei de Diretrizes e Bases da a fracéo mais num, ‘enciam, de forma exemplar, este atraso ierosa da burguesia e cs dilemas dos setores mals avangados desta mesma bu Heb iptinedee rave peso dos paiamen Florestan Femandes, um dos parlamentares que mals empenharam na defesa das propostas dos educadores progres. sistas, representados num forum permanente de 34 insituigbes 'A educagéo nunca fol algo de fundamental no Brasil, e multos esperasam que Isso mudasse com @ convocagdo da Assembléia Nacional Consttuinte, ‘Masa constitulgéo promulgada em 1988, confirman- do que a educagdo & tida como assunto menor, néo alterow a situacéo” (Ferninde, 1992) Mais tarde, ao examinar processo de elaboragao e defini- 40 daLDB, Fernandes, uma vez mais, mostra como estas forcas contradizem na pratica 0 discurso da modemidade. “Eu penso que nés haviamos chegado a um projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educagéo Nacional ‘que poderia ter vigéncia durante dez ou 15 anos, até que surgissem discussées para realizar-e um projeto de lei mais adequado ds exigéncias da situagéo hist6rica brasileira. No entanto, os interesses que se chocaram dentro do Parlamento sdo tdo destrutivos que © projeto que jd havia passado por todas as ‘comissdes, e por elas aprovado acabou, por mano- bras principalmente de partidos ultraconservadores — como PDS, PFL e outros ~ voltando d deliberagéo das comissées. E ai surgiram negociagdes que torna- ram o projeto, com multas limitacées, multo mais precdrio. Eu comparoo que aconteceu a um conjunto de decapitagées, pelas quais a melhor parte de al- guns dispositivos ou foi transformada ou foi elimina- da” (Femandes, 1992:28). As mutilagées e subterfigios que se foram introduzindo no projeto da LDB colocam 0 campo educacional como um dos ‘espacos onde claramente ~ como analisam alguns cientistas sociais - 0 Estado, enquanto sociedade politica (executivo, parlamento e judicidrio) ndo reflete o avanco politico-organizati- Digitalizado com CamScanner nico representante das forgas ultra on Tine, Igndonogrupod Ao Carlos Magathaes, apresentou mais de mil e duzentos : Palo confront entre 0 texto original do Deputado Oravio Eso Projeto de Lei 1.258 de 198S), que transformou em forrna de projeto de lei as teses bisicas de longos anos de debate seminirios nacionais e regionals, nas CBEs fencias Brasileiras de Educagao), Reunides Anuals da [ANPED, cula sintese se explicita na Carta de Goidnia (Reuniso Ga ANPED, 1986) - e num texto de Saviani (1988), com 0 projeto aprovado na Cémara dos Deputados em maio de 1993, podese perceber que as mutilagSes a que se refere Florestan Femandes deram-se tanto no plano das concepgdes quanto das bases, condigSo material e efetiva para que os principios no redundem em querelas escolésticas. No plano conceptual e organizativo, 0 projeto apro- ado pela Cémara desvertebra a proposta de escola unitéria que compreende o ensino fundamental e médio. Néo 6 fixa uma “terminalidade” com cinco cenos de escolaridade como mantém odualismoentre ‘ensino geral propedéutico e ensino técnico™. 4Jé pela proposta fregmentéria e dualista da escola funda- mental, podemos ver que os representantes dos homens de negéciono Congresso, monitorados pelos organismos classistas, esvazizram os clamores de uma educago fundamental e média vo da sociedade cli. U conservadoras, deputado. 20. £ preci regs que nesta desvenebracéa as forgas consenvadorastveram uma, ‘fu yreedente aude mediarte 0 projeto de LDB proposto no Senado por Darcy Bee. Seeonto por ee eum pequena grupo de assessors, como bem Most rardes: “Es que etivamos preses a solver uma decepgto (nica, Noda ‘merce Gus 0 venador Decy Ribeiro i tomas a peito de apresenar un projeto res stilt © Prieto teresonsdo, mestrou aqullo que se poderlacharvar de Femandes, nal Folha de Séo paulo, nos moldes do Japs e Tigres nos licutos des empresas wats tence crates necessitam os trabalhadores) de empress tae!) uaPeos exposes em docsmesion Populacéo, © néo sé a forca de trabalho, Atingido no minima 8 a 10 series de ensing de bs qualidade” (Perteado, H. IHL, 199 Na pritica, todavia, o que os representant resérios aprovaram no Congress fla terminaidaleone eon de escolaridade, Naturaliza-se, desse modo, o longo e perverso descaso com a educacéo publica para as classes populares demarcando como patamar Possivel apenas a alfabetizacSo funcional. Ora, isto entra em total confronto com a idéia de uma formagéo abstrata capaz de facuitar aos futuros trabalhadores uma capacitaco para operarem o sistema produtivo base teenolégica ® bana Mas a0 examinarmos a proposta de educagéo técnica e profissional veiculada pelos organismos igados aos empresérios, direta ou indiretamente, perceberemos, mais claramente, o limite estreiteza das elites na luta para ter 0 controle privado desta modalidade de ensino, mesmo quando este ¢ mantido pelo Estado. A luta destas elites, com 0 apoio da maior parte das direges das escolas técnicas e setores atrasados do proprio magistério e funcionérios, € de manter o sistema de ensino técnico industrial como um enclave no sistema de educagdo™. 21. A gestho das excostfnics, slo ras exces, &profindamenteautocrtca, Esta estrutura se coniolidou sobretdo durante a diadur, ¢ mesmo com o processo de redemocratzagso 0s polesoresencenzam grande resistincia para suas lutas até hoje 81 Digitalizado com CamScanner censino que se oferece ais cudadoso do tho 6 Or Trcor qualidade, le sejatido comm tea0 mercad estas escola mesmo pala etter oo at ma. me qui , matema- ne aoe que Me ciel: fsa, : ‘A concep¢ao | jostram alguns traba- eee Se tena aare sna vaga para 50 candidatos. As total. Hé casos em que hé u se ao pare ogupo social que sa awe toot fama tearicos de ve médo necessities eee en fomarso profsioal, evidence ainda mais No ae paso entre 0 dscurso @ a prética, J& no Cao cae cletase un grande esforgo para que srere ave inustado em toda a América Latina ~ a formacéo aa eens dalogda pel Estado 20 absoluto controle dos prosoraleo dled Po porte ReWnlcavm-se ure Sere eee do Ext e das Centris dos trabalhadorce efetiva participagio do Estado e ina, A mobilizagio do [Nada mais daqulo que o ideirio liberal ensina. A mobil cempresariado e seus preposis foi extraordindria, e esta propos- tao passou. ; No processo da LDB buscou-se criar no no Ministério do ‘Trabalho - que em matéria de formago profissional quase sempre foi um condominio dos interesses privados ~ mas no Mristéro ds Educagéo, um Conselho Nacional de Formagao Técrico Profsional com a formagéo tripartite acima assinalada, a proposta também fol duremente combatida e ndo aproveda, Uma outs exemplticaséoarivel mais especiico que mostra oetteso das eles face até mesmo as suas necessidades & a no iui. 2c80 da proposta de lberacéo dos trabalhadores jovens e —— SH trabalham e estudam, por um periodo de duas "2s, mantendoshes o mesmo salétio, Por ai percebemos qual To 22 Pana wee rae 30, Lins 55 Pa ane ldo do sino ero ndstil ver Bro ed chat cea led plice de ag gata Brags ons, ver Fgotoe Cavata Franco (1995) © efetivo interesse dos empresérios educagac irra 25 dubledades« confor que enirents foe ¢ a nivel to perversos como, por exemalo, na Argentina ¢ Cole, Porque ha forcas sociais organizadas que se contrapdem™. Como corolério do Estado minimo este desmonte faz-se mediante diversos mecanismos. A apclogia da esfera privade e dda descentralizago como mecanismos de democraizagdo de clciéncia sé os mais fraquentes. Na peética, a descentralzacso tem se constituido num processo anticemocratico 20 deleger @ ‘empresas (pablicas ou privadas), a “coruunidade”. aos Estados © 0s municipios a manutencéo da educacéo fundamental e média, sem que se “desentulhem" os mecarismos de financiamento ‘mediante uma efetiva e democrdticareforma tibutaria, Tunbén 'gnora-se.a tradigéo clientelista que caracteriza a pequena politica do interior, fortemente controlada por forgas retrogradas™, 23. Os proceos de ako dono pico pbs nr pads to Metra ro Ba ornuaadon au aoe Tees Pika CUT sets eras Se quer go ve pape do no erat de Cole es eeanda otc pe com nas ce do sao, so ciicdes pb mprensa~ 2 age do Crucmedetame = Ct ee ‘timiposen, promotes descr 24, Para uma compen dor eaves pra asso pin or or mleroipgar de pater bea er Nowa Lac 1989. Digitalizado com CamScanner i sresenta formulas magicas e, sn recover ‘a questo educacional ue Nosella (1993) identi- Dentro de uma tradi portanto, inorgénicas pai (CIEPS, CIAC, construtivismo etc.) ¢ at (1993) iden resultado da megalomamia e gandncia eleito- eee ‘Cunha (1992), podem advir do ‘acordo com Natori, do experimentalismo pedagégico ou do volunta- Fismo ideolégico, a formula mais recente junta a idéia dos “cupons” de um dos papas do neoliberalismo, Milton Friedman (1980), com a da escola “cooperativa”. Na pratica cada escola ‘acaberia se tomando um micro-sistema educacional. Por esta simbiose, os professores - agora “donos” da escola = seriam remunerados de acordo com a “produtividade”. Esta composicéo vem sendo experimentada, desde o inicio dos anos ‘90, pela prefcitura de Maringa (PR) e tem sido apresentada como meta salvacionista por governos de alguns Estados e pelo proprio Govemo Federal através do MEC. prefeito de Maringé (PR), o primeiro a concretizar esta “formula”, foi algado a uma espécie de embaixador do experi- ‘mento no pais e até em congressos intemacionais, A Fundago Gettlio Vargas (RJ) foi convidada a dar respaldo técnico a idéia «, se possivel, generalizéla como modelo num dos Estados da federagéo™. Uma variagéo desta idéia é o estimulo que o govemno vem dando & classe média e mesmo as classes populares para que organizem nas empresas ptiblicas onde trabalham, tipo Banco © firmado entre a Unigo com as empreteras da construgdo @ a Rede Globo de Teleisto para um ampo projet de allane tizagéo. Pelo quea sociedade esté descobrindo, medianteas CPs do impeachment e do Congresso Nacional, as empreiteiras S50 especialistas na dilapidagéo do findo piiblico, mas, pelo que sabemos, nao tém credenciais ‘no campo pedagdgico-educacional. No senso comum que se ver formando sobre os problemas da educagéo e da saide, 0 vesgo tecnocratico tem insistido que ‘estes problemas devem-se a um mau gerenciamento e & fata de acompanhamento ¢ avaliagéo. Junto a este senso comum, © idedrio neoliberal ou neaconservador wulgariza a idéia de Estado, a esfera piblica, é um paquiderme pesado e inefciente, incapaz de gerenciar ¢ avaliar adequadamente. Como conse- qiléncia estdo surgindo fundagées (empresas ou empreiteiras de servicos), muitas delas redefinindo seus objetivos originals que se especializam em gerenciamento e avaliagéo. J mencionamos cima o caso da Fundagéo Getilio Vargas do Rio de Janeiro. Paradigmatico, para entender-se esse tipo de intermediagao, € © caso da Fundagao Cesgranrio. a Digitalizado com CamScanner A perfodo ditatorial, para {A FundacSo Cesgranio sult, no Pore Se daneto, Com realzare grec vestibular unico no Rio de aneito, om 0 process de rajemocralzagso oso eque Tes compete pis mar» erate posite 9 oceco 20 enna ce © partindo de um vel dia debaida nos melos peda bse wallago continuada, a Cesgrantio gégicos de se fazer uma avaliagdo cor % : ‘montou um projeto eivado de generalidades e “chavées” que denominou de SAPIENS. Ha trés anos tenta convencer as universidades piblcas e o MEC para adotévlo. J& conseguiu uma autorizagéo do MEC para implantar o projeto, experimentalmen- te, no Estado do Rio de Janeiro.” Na mesma perspectiva de intermediar recursos, a Cesgran- rio langa agora o Projeto de Capacitacdo de Recursos Huma- nos e Fortalecimento institucional das Entidades Integrantes do Programa de Atengéo a Menores em Circunstancias Dificeis. © que importa aqui no é 0 complicado titulo do projeto. Poderia ter outro nome qualquer, O que importa so os recursos que vai intermediar. A primeira parcela de US$ 8 rhdos fo liberada pelo BID ao Programa através da prefeitura 40 Rio de Janeiro (ver: Jornal do Brasil, 03.11.1993, p. 13). Por que as universidades piblicas (UFRJ, UFF e UERJ), cuja Dresenga de seus reitores foi anunciada para o langamento do Drojeto € na realidade v3o executar parte, pelo menos, da c2pacitagSo, néo podem receber diretamente da prefeitura os recursos? ocorrera em Cubaneste campo. Almdos ING oe total descentralizagio, ngo aponee edn camicuan Aexpresséo ~ edaptar-se d realidade ~ foi tomada 20 pé da letra. © Ministro confundia ~ alunos e o seu saber social - que & (ou dover port de pts mca Stead name fedongropaia ‘COM 0 sujeito do conhecimento. '@ sua necesséria sca de universalidade, tarefa inequivoca d pede- gogico da escola. “tim proito Pela logica linear do “adaptar-se realidade”,a escola tende a tomar-se uma espécie de bruaca onde tudo cabe e dela tudo 5 suetos que conhecem tivo de disciplinas na escola priméria para atender as diferengas regionais. Exemplar, para entender-se os desdobramentos desta perspectiva, é © depoimento de um subsecretirio Estadual de Educagao que se deparou com um processo cuja solicitagso era de se criar, na escola fundamental, as disciplins de suinocultura € avicultura. A justifcativa era de que se tratava de uma regiso ‘onde se criavam muitos suinos e muitos frangos”. Com todos estes limites @ mutlagSes, 0 projeto de LDB continua encalhado no Senado. E o que temiam as organizagoes cientificas e sindicais ligadas & educagéo, que desde o processo Corstiuinte se estuturam rum FORUM pemanete, et ‘ecorrendo. O projeto cai agora na “vala” comum da revisio constitucional. Bstorcs ‘conservadoras, sob o argumento de que constituicdo de 88 foi fortemente influenciada pelas teses do centralismo e do estatismo de inspiragéo socalsta e que agora do Govemo Color ver gato. ‘28. Para uma ands das prspocos da educate, Revista Contexto & Educa, 24, vs RS, 1991, Digitalizado com CamScanner co socialismo foi iquidado, querem “depurar” o texto constituclo- referidas infludncias. : " = tale ‘mals claro, nesta perspectiva, do que a “pregacdo feta por Emane Gahtas - exminsro do govemo militar = a0 ‘examinar as perspectivas da educagSo na economia brasileira na década de 90. Tomando como seu mentor (intelectual e ideols- ico) um dos mais competentes compiladores de idéias reacio- nnarias - Amado Niskier~ ¢ paradigmética, , entre outras coisas, sentencia: "0s defensores da educagio transformadora atri- buem é educacéo um caréter essencialmente polit. c2. Ndo mais @ educagéo individualizada, mas a ‘educagio coletiva, com politizagéo dos contetidos, 0 debate das questdes sociais. N3o.a unio das classes, nas ¢ luta de classes para que se chegue 4 escola nice. Enquanto se discute essa fraseologia, na pré- tice e educagGo se deteriora e suas perspectivas como {nstrumento essencial da nossa esperada redencéo ‘econdmice tornanrse cada vez mais sombrias” (Gal. vas, 193.138), 2s, epés um longo retrospecto em que discute a ‘ecucago desde Rui Barbosa, sob influéncia do positivismo e do mandsmo, conclu: “A maloria dos teéricos da edueagdo no Brasil é de formacéo marxiste. Por isso mesmo, a critica que se 422 @ politica edueacional é que ela é influenciada elo empresariado capitalista, que s6 pensa na edu. casio do individuo para melhorar a produtividade de suas empresas e cumentar seus lucros. Um bes. {eirol inomindvel...)e por isso, deve mudar. Mudar revolucionariamente, como se Isso. ssivel ou sente Josse possivel Eles procuram usar @ ‘Numa conjuntur com a democracia aoe alors comprometidas culam para, como. Mosty mentar a idéia de Estado mise 2 niet ple frac ae mens de negbcio" en ateanan fer valer seus interesses. A Figs gon nos Para Hi Gogumento que expressa suas demareie °° mediante tados e senadores conservadone (IEL, SENAI, SENAC) r to espectico ao campo da formarny eet eu documen- esta proposta radicalizam- lis ~ Controle privado nesta trea, US © fosmentaeso Oque queremos realeardo expos é da educagéo bisica para uma formas aban nce Pelos homens de negécio ~ condieéo pare vs estratégia de qualidade total, Nexibiizacdo, trabalho integra é uma demanda efetiva imposta pela, novatae tecnlégtomais ¢ formagéo humana que, Este horizonte ¢ limites, no caso brasil, vim reforgadcs ay uma sobredeterminagdo do atraso ¢ do caréter clgirqucs, Parasitério e perversamente exchudente das eites econsmias ¢ Politicas. Por outra parte, a natureza da materaidade hstérice das relagdes capitaltrabalho face & nova base cientfico técnica Patamar com uma nova qualidade. O conhecimento ¢ sua emocratizacéo é uma demanda inaquivoce dos grupos socias ‘que constituem a classe trabalhadora. 3. A formagao humana unitaria e politécnica: 0 horizonte dos processos educativos que se articulam os interesses da classe trabalhadora A anilise até aqui exposta nos indica que a lita ae GemSnica tem, concomitantemente, varias ee a ral te6tico e politico-pratico. No plano teérico, 0 em! Digitalizado com CamScanner campo de ea. i onomismma, dos anos 70, agora com ro conhecimento so reduzidos a novos eanectas. A Shi dsobcs de pod”. co Jano tebrico impSese a tarefa de superar posi- ‘indo no Piem enicas radials e de esquerda, mas que soe diesen de uina especie de “infantismo te6rico-politico aa a ado prea consenadors. Nese plano as pos- Seb iataas,irecionaisos,neoansuicas ou mesmo a pha e simples perpectiva da resstincla no nos levam longe™, Ne Ultimo tépico, primeiramente mostraremos que ° pee de cecola untéia, formagéo omilateral /oupoliénica, tecnoléicoindustial produsides no interior da concepeo de homem e do processo de “emancipagéo humana’ em Manx e Engels e posteriormente em Gramsci", que surgem 29. A anti strtn do que ests postiande, fae & reconstrcSo econbmica @ & ‘econo tecligica» es aticlads, pos mesta que a questéo da qualidade toa de fated e da compete balso-e, uma vee mals, sobre'o valho ete de “rina” cognitive Yormago geral eapacidade abtata, polcogn- #2) « asutuis(derticagio com a empresa, eapacidade de reacionamerto Spa ec, co chetuo indamertal &0 aumento da produthidade e de tua ‘Seropragso prac. Ver a respeto os textos acima menclonados de Coresoio (1992, Fika (1992) 31. Fersceses crcl agar a concept de persamert delorrariapetenca es ett to te, omen ctor ds Lensearete oo en, 1995 6h tae Ol tad cron eds rere na década de 80 no lento, 4 fame na mesma menage BHe2Orl baste, austen a Pelo controle democritico do fundo publene por une eae fung&o social da educagio, ndo Se reduzem ao momento econémico-co tem elementos ético-politicos. Tomando-se os embates em tomo das questées,sobretudo Sronbmicas ¢ socials no processo constitute e, para.o campo “Pecttico da educagéo, além disso, os debates em toro de definigéo da LDB, o confronto destas fore socais pareve nos Surgimento da sociedade do conhecimento néo encontrarn ‘Sustentacdo, histérico-empirica. Ao Contrario, reiterando o que dliscutimos especialmente no capitulo Il, na ética de andise desenvolvida por F. de Olivera, as classes socials “quanto mais Parecem desaparecer do campo da visibilidade do confronto Privado, tanto mais sdo requeridas como atores de regulagdo iblica. Isto ndo é um paradoxo, mas contradigio das classes, soclais hodiernas, que é, também, a mesma do fundo pablt- 0" (de Oliveira, 1993:140), 6 Digitalizado com CamScanner 44.1, Escola Unitiria e Politécnica: a formagéo na 6ttea da “emancipacéo humana” desenvohe sob uma mesma mate- le TPomplexa, confltante e antagénica, as alter- se oe cio erenciam tanto pelo processo quanto pelo contetido humano Stécnico cientfico. A educagéo ou mais amplamente a formacdo humana ou mesmo os processos de qualificacdo especifica para fazer face as tarefas econémicas, numa perspectiva socialista democritca, tém como horizonte permanente dimens6es ético- politeas inequivocas: “os socialistas esto aqui para lembrar 20 mundo que em primeiro lugar devem vir as pessoas endo 1 producéo” (Hobsbaw, 1992:268). ois conjuntos de categorias ~ filos6fica, pedagdgica e poliicamente artculados — formaram, na década de 80, o eixo ‘conceptual em tomo do qual buscou-se organizar os processos ‘educativos no conjunto da sociedade brasileira: a concepo de escola unitéria ede educacéo ou formagéo humana omnilateral, politéenica ou tecnolégica. £ importante perceber como estas categoras efetivamente sinalizam um contetda histérico em devi endo sio meres elucubragées de visionarios™. Caberia aqui talvez lembrar 0 que Manx sinaliza face as tarefas historias: “A humanidade s6 se propde as tarefas que pode resolver, pols, se se considera mals atentamente, se chegaré @ concluséo de que a prépria tarefa s6 ‘parece onde as condigSes materials de sua solucéo # existem, ou, pelo menos, sé as Be , S60 captadas no seu Se a lata hegeménica se ee 32. db menctnarcy, ateiomerte,o tbat de Jost dos Santos Rodrigues (1993), stvico, no Bras, do proceso de 7 . Sepa s Sop net & roles de cata pte ton adds eee Palongue ae os rege ree ‘ Ponies men Ene es oe as genes Stns vad € tn cams Er ‘eo ea et ME can ces para aquele conjunto de trabalhadores engine 0 Semana produtivo bases de conhecim i . versalidade lhes permita reser pcblones she como também visa a um trabalhador Mesmo em realdades como a bras defasada na producéo de conhecimentos besos cuja velock- dade ¢ intensidade da reconversdo tecnolégica é bem menor do que aquilo que esta ocorrendo nos centros hegemdnices do. capitalismo, até mesmo pelo caréter transnacional que assume a producdo capitalista, ‘estéo dadas condigées virtuais claras. O queé ecessario desbloquear séo os mecanismos de excluséo que, ao mesmo tempo que dexam & margem das oniee a vida, em nosso caso mais da metade da Populacdo, conge ‘ou retardam o préprio progresso técnico. ‘Ou seja, o desbloqueto das condigbes objettasesubjetvas pat ‘© desenvolvimento da omnilateralidade humana, particular- mente para as classes trabalhadoras, entendida como: “O chegar histérico do homem a uma totalidade de capacidades e, a0 mesmo tempo, @ uma totalidade de capacidades de consumo e gozo, em que se deve considerar sobretudo o usufrur dos bens espirituls (plano cultural e intelectual) além dos materiais” (Manacorda, 1975). A possibilidade de dilatar a capacidade de consumo ndo se deve, fundamentalmente, & escassez de produgdo mas, sobre do, aos mecanismos sociais que impedem a sociaizacéo desta rodugio. A tomada de consciéncia, da forma mais ampla possivel, desta realidade histérica para que consttua um elemento de ago Politica, é um fato crucial. Neste processo, sem divida, exerce Digitalizado com CamScanner panos yon nos anos 40 uma rede de No caso bras, sae, adios sistemas detelevisio raddiosoama eT opolzados fenquanto, inversamente, ts seen joa exo pba, partlarmente seus ee construe Ja pablica unitéria, quiga Ores cm do problemas biscsa uae um sia cacedade bras, para que a demo- sem enero Bo ss de seeflvr. Aqui, a questo eae th ore ro sa anatomia geal, aqua que hé mais de 60 anos colocava Gramsci em relagdo a ruptura da velha escola tabana pperspectiva gramsciana, “Aluta contrac velha escola era Justa, mas a reforma do era uma coisa simples como parecia, néo se tratave de esquemas progrométicos, mas de homens, endo imediatamente dos homens que so professo- res, mas de todo © complexo social do qual os homens so expresso” (Gramsci, 1969)". Ore, isto significa, como sublinha claramente Nosella 20 analiser a escola no Brasil dos anos 80 e os desafios dos anos 90, que e construgéo da escola unitéria pressupée como ‘materalidade objetiva e subjetiva o desenvolimento de um “projeto de politica industrial, modemo, original”. Somente nessa perspectiva podem ser encaminhados a questdo edu- cacional e 0 tema da “escola unitéria” (Nosella, 1993:179). ads € pene ea Se is regatta catego cs por Palo N bisa numa perspectva ‘neem ft Pee Na ost revert 93, 0 Esta forma de apreender a relacéo da : lidode social na qual ela se produz nos penne Sonne forma e 0 conto que assume no seu dasoneheeee oe algo arbitrio. Neste sentido, na eseoln cr ee 1éo podem ser inventados e, portanto, nda dependon here mirabolantes, megalémanas de génios que dspéem de plans “Criar uma nova cultura néo significa apenas fozer indiidvalmente dscoberan Sree nae também e sobretudo, difundircrticamente verdades Hi descobertas, ‘socalzé-las'por assim dizer, ane Jormé-las, portanto, em base de acées vitals. em elemento de coordenacio e de ordem intelectual e moral. O fato de que uma multidéo de homens sejo. conduzida a pensar coerentemente e de mancire unitéria a realidade presente é um fato ‘filos6fico’ bem mais importante e ‘original’ do que a descoberte Por parte de um ‘génio filoséfico’ de uma verdade que permanega como patriménio de pequenos gr pos de intelectuais”. No contexto dos embates que se travam hoje na sociedade brasileira na busca de romper com todas as formas de exclusso social e, nos interstcios das possibldades concretas de corstruir se um “industrialismo de novo tipo” e processos educativos no imediatistas que concorram para a formacao omnilateral e, Portanto, para os processos de emancipacdo humana, a busca do sentido “radical” de escola unitéria, no plano do conhect ‘mento e no plano politice-organizativo, é fundamental. Os processos de “reconverséo tecnolégica’, como vimos, colocam aos setores capitalstas que queiram ser'competiives & necessidade de um conhecimento no processo de trabalho que nSo se reduza a formulas e técnicas, mas & capacdade de analisar, interpretar, resolver situagdes novas. Néo se trata, pois, de um conhecimento restrito, um adestramento pare uma tarefa ou fure 80. Neste processo amplamse, também, as demandas cultures do trabalhador. Estas demandas, todavia, endem ase apsonaas Bo limite quantitative qualaivo das necessidaes do capital O desaio est, sob a base contadtéria do capt, em dlatr as bossiblidades de uma formagéo tecnolégica “unitira” para n Digitalizado com CamScanner seja, dos processos de Doponto occas ta realidadehistrica, ns80 601 esforgo € no array eos ant nos nace 0 SOF 6 no sentido de Kdentifcar os eet enham a virtualidade do diverso, ‘mento que em sua unidade det 2 itario, G sincplo da citnci &, neste sentido, por exceléncia unitério, isto ¢, sintese do diverso @ do milltiplo. ee No plano prin do proceso Sram nossa realidade, mento, 2 concepyéo de eco unt amentos, O primeira {mples, 20 mesmo tempo, vis dexdobramentos, O Primeko des £0 de dinero entre o proceso tebrco price mectrts ‘oqiualo homnem, enquanto um ser social, consti da realidade, da natureza, do conhecimento em si. Independentemente ou no da escola, tal qual a conhece- mos, antes de sua existéncia, os seres humanos acumularam ‘conhecimento. A realidade na sua dimensio social, cultural, ‘estética, valorativa etc, historicamente situada, é o espaco onde ‘0s sujeitos humanos produzem seu conhecimento. Trata-se de ‘uma realidade “singular e particular”. E a partir desta realidade conereta que se pode organicamente defniro“sujeto do conhe- éimento™ eos métodes, as formas de seu desenvolvimento. Este, para ser democratico, deve tender a universalidade. ‘Hi, pois, um duplo equivoco a superar no plano da construgS0 de uma esa unitiva Jemoetia). Primeramenteé preciso ter Garo que, 20 definir'se o conhecimentoa ser trabalhado (conteddos, ‘Provessos, métodas, técnicas, etc.) para ser organico deve ter como ‘Ponto de partida a realidade dada dos sujeitos sociais concretos. “A conscéncta da eranga no & algo ‘inditdual” (e mao mens indeiealood) £9 eco da foeso 2 socledade cil da qual participa, des clages tals ie a ‘Se concentram na familia, na vizinhanca, a aldeia, ete." (Gramsci, 1978:131)°, cats eciddos gata: Dem cia gut nso seeds ance de foo de dates vcs dente das quis can lena Grams 19783844), n onto de partda 4s dimensoes cogntivas problema a ser enfrentado seja de ordem eagutive'e nas nenos a uma perspectva pscologita, © equivoco acima, ainda que fortemente ‘io sela hoje, no campo educacional 0 mals sing. whee Contexto, de um lado, do exacerbamento do indian alimentado pela ideologia neoliberal etichismo do mercadd)e, de outro, pela mistiicacéo do particular, do individual, do subj: tivo "narcisico desejante” (crise da razioinstalada pelo pés-m0- ddemismo), como nos mostra Chau (1993), osco mais presete 6 alirmaremse as condigSes particulares pont de partida num inorgénico ponto de chegada. A sindrome Chiarella que nos referimos acima, comumente éreforgada pelo exquerdsmo ou por muitos profisionais que aderem acicamente a pedagogies {ue soquem o idesrio do laiser fire ou 20 populismo pedagS gico™. Uma forma sutil e antidemocratica de relagdes educativas sem divida, a reicagso do senso comum, do foleléio, da realidade dada dos desenraizados e exchidos A realidade socialmente dada necessita ser elaborada, desen- volvida no horizonte de maior universalidade. Democrética €a escola que 6 capaz de construir, a partir do daleto Jingistico, ‘gnoseolégico, valorativo, estético, cultural, em suma) uma ordem mais avancada e, poranto, mas , tecncsmo e, de euro, pe ‘objetivo na constragso da escola so at tras ¢ 137.0 eater demorbico da excl no conse mis et Tnstauram um process de ees rates Foo do connie decomdgperncosuiass omar ZN Ira Se Soe gar carnaval et ‘Sa sar eps re ee Soneomt chrome sats lego, ou we (Gramach 1979.10. B Digitalizado com CamScanner + a relagSo da escola coma realidade ene tater ‘o curiculo escolar na logica da 2 ‘aparece criando novas paricularidade de cada problema que aparece crane PANO rota sem base cisciplinarorgSnca, e portato ume forme Tibia, coloce 0 desafi de se dntificar os “ndcleos untérios historicamente necessirios dos campos de conhecimento que tratam da societas rerum e societas hominum e que, uma vez, ‘onsiruides e apropriados concretamente, permitam ao akuno, Se mesmo, analser e interpretar,as infindéveis questées. problemas que. realidade apresenta™. A logica de se buscar criar para cada novo problema uma nova disciplina ou deter-se na particularidade de cada stuacéo, de cada dialeto, @ instaurar um processo de dspersio e iniscipina intelectual. A perspectiva da escola unitria, na prética da identificago ccorganizagdo dos corhecimentos (necessérios e ndo arbitrarios) tem inimeras outras implicagées. Dentre estas, destacase a supereedo das polaridades: conhecimento geral e especifico, técnica e politico, humarista eténico, teéricoe prético, Trata-se Ge dimenses que, no plano real, se desenvolvern dentro de uma mesma totalidade concreta”. Tanto a identificagao do ndicleo necessério de contetidos, quanto os processos, os métodos, as ‘écicas no podem ser determinados nem pela unilateraidade G2 teora (teorismo), nen pela unilateralidade da técnica e da Pritcatecnicismo,ativismo), masna unidade dalética de ambas, (4 sea, nae pela préxis®, " A onganizagéo ¢ conhecimento a seren dosent Miileos necessérios de trabalho de naturezaInterdscipinay coco 7 delimitados, por serem unidade do diverse oS, °2 realidade especiicidade as “quaidades" ou a matenehen mara Na sua Ainterdisciplinaridade é pois uma carac, eee da condigdes hist6ricas objetivas da sociedade oa eaade. Nas realidade humana cindida,frogmentada ¢

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