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Ain obstclo mas ici ou mais il para a realiza fo de seus panos que a soil-democracia reforms: {hou o comnismo? Sem divida a resposta val depen- der também do desino do neoliberalismo fora da ‘América Latina, onde continua avangando em terras até enti itocadas por su influéncia. Tudo 0 que po- demos dizer € que este & um movimento ideol6gico, em escala yerdadeiramente mundial. Um corpo de outrinacoerente, aloconscente, em sua ambigio es truturale sua extensio internacional”. Perry Anderson IsEN TESTS SNM 2 & 5 2 2 = Atilio Borén 2 Oraniat Emir Sader © Francisco de Oliveira 5 Goran Thetbom José Paulo Netto & José Ricardo Ramalho © Kiva Maidanik 3 Luis Fernandes ZB A Luiz Antonio Machado“ Orgmizadr Pablo Gentili © Perry Anderson “3 Pierre Salama “O S a liberal OS neo Digitalizado com CamScanner © Emir Sader ‘Propanigdo de originate Olave A. eto/Carmen Revisdo: Ana M,0.M Barbosa 8a Produsdo grdfca: Katia Halbe 7 Diagramarao:Solange Causin Capa: AME design IP reimpressao Dado Inernaconal de Catala a Pub (Cimara Brasileira do Livro, SP Brasil) ca Paco's pcs soe ads snocrtisvongnzators Eni Ser ae te, No deJanci: Par eTema 1098 Visto sre bloga |.Capiaismo 2 Democraca 3.0 ado “bers 3 ites oc Sader Eni 143 1Genh Palo kA ISBN:978-85-7753.0328 951844 cpp330.22 Indices para catlogo sistemitico L.Neoliberalismo: Economia 330,122 EDITORA PAZ E TERRA LTDA. Rua do Triunfo, 177 ‘SancaIfigénia, So Paulo, SP ~ CEP 01212.010 Tels (11) 3337-8399 vendaseppazeteres.com.br wer pazeerra.combe 2012 Imprsso no Brasil / Printed in Brasil INDICE Apresentag3o, 7 1 Balango do neoliberalismo, 9 Perry Anderson Comentaristas: Francisco de Oliveira, José Paulo Netto, Emir Sader 1 A crise eo futuro do capitalismo, 39 Goran Therborn ‘Comentaristas: Pierre Salama, Luis Fernandes m1 A sociedade civil depois do dilivio neoliberal, 63 Atilio Borén Comentaristas: Kiva Maidanik, José Ricardo Ramatho, Luiz A. Machado Vv A trama do neoliberalismo crise ¢ exclustio social, 139 Digitalizado com CamScanner Perry Anders Pierre Se nee Ato Boi, Coordenadores: Pablo Gentili, Luis Fernandes v Pés-ncoliberalismo, 181 Goran Therborn, Atilio Borén, Perry Anderson Sobre os autores, 203 Apresentagao ‘compéem este livro originaram-s¢ do semina- ‘As politicas sociais 0 Estado demo- eritico”, realizado entre os dias 13 e 16 de setembro de 1994 pelo Departamento de Politica Social da Faculdade de Servigo Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro — UERJ. As interveng8es foram transeritas, submetidas aos autores, feitas as tradugdes e incluidas sob essa forma no livro. Tendo passado quatro meses entre a realizayo do semindrio ¢ o fechamento do livro para publicagdo, alguns autores incluiram acontecimentos posteriores a setembro de 1994. ‘A reunio dos textos foi acompanhada por um debate reser- vado realizado sob a coordenayio dos professores Pablo Gentil ¢ Luis Femandes. ‘A coordenagao do seminario esteve ‘sob responsabilidade dos professores Elaine Behring, Claudia Gongalves de Lima, Eduardo Stotz, Pablo Gentili ¢ Emir Sader, ¢ teve 0 decidido apoio da diregio da Faculdade de Servigo Social, na pessoa da diretora, Rosangela Nair C. Barbosa, ¢ do vice-diretor, ‘Ney Luiz Teixeira de Almeida. Sua realizagéo se tomou possivel também ‘Bragas ao dedicado trabalho de Dayse Candida Santos Rocha, coordenadora de fato de tudo 0 que se referiu ao evento. Agrade- ‘cemos igualmente o apoio dado pela FAPERJ 20 semindrio e pela Sub-Reitoria para Assuntos Comunitirios da VERY, na pessoa do sub-reitor, o professor Ricardo Vieiralves. O apoio dado pelo pro- Os textos que rio “Pés-neoliberalismo — 7 Digitalizado com CamScanner fessor Emilio Taddei foi igualmente essenci textos deste livro, ial par ‘As tradugdes foram realizadas pelos nandes e Emir Sader. Pen Poa I BALANCO DO NEOLIBERALISMO Perry Anderson Comecemos com as origens do que se pode defini do neoli ‘distinto do simples liberalismo classi- beralismo como fenémeno 2 to, do século passado. O neoliberalismo nasceu logo depois dal se Mundial, na regido da Europa ¢ da América do Norte cite imperava 0 capitalismo. Foi uma reagio teérica ¢ politica scemente contra o Estado intervencionista ¢ de bem-estar. Seu texto de origem ¢ O Caminho da Servidao, de Friedrich Hayek, ecorito jd em 1944. Trata-se de um ataque apaixonado contra qualquer limitagao dos mecanismos de mercado por parte do Es~ tado, denunciadas como uma ameaga letal a liberdade, nlio somente ‘cconémica, mas também politica, O alvo imediato de Hayck, naque- Je momento, era o Partido Trabalhista inglés, as vésperas da elei¢0 geral de 1945 na Inglaterra, que este partido efetivamente venceria. ‘A mensagem de Hayek é dristica: “Apesar de suas boas intengSes, @ social-democracia moderada ing ‘conduz ao mesmo desastre que 0 nazismo aleméo —uma servidio moderna”. Trés anos depois, em 1947, enquanto as bases do Estado de bem-estar na Europa do pés-guerra efetivamente se construiam, no somente na Inglaterra, mas também em outros paises, neste momento Hayek convocou aqueles que compartilhavam sua orientago ideolégica para uma reunidio na pequena estagio de Mont Pélerin, na Suica, Entre os célebres participantes estavam no somente adversarios firmes do Estado de bem-estar europeu, mas também inimigos férreos do New Deal norte-americano. Na 9 Digitalizado com CamScanner Iv A TRAMA DO NEOLIBERALISMO Mercado, crise e excluséio social Perry Anderson, Goran Therborn, Atilio Borén, Emir Sader e Pierre Salama ‘Coondenagdo: Pablo Gentili e Luis Fernandes PABLO GENTILI — Pensamos organizar este didlogo sobre @ trama do neoliberalismo em tomo de trés eixos basicos. No Primeiro, propomos discutir a propria definigo do neoliberalis- ‘mo ¢ os significados que vocés atribuem a esse conceito. Em se- guida — e vinculada 4 questo anterior — nos pareceria interes- sante fazer um balango geral das politicas neoliberais ¢ saber como vocés caracterizam os aspectos centrais que dio sentido Coeréncia a esse projeto. Por tiltimo, seria importante confrontar algumas idéias sobre as possibilidades e o futuro de uma altema- tiva democritica as terriveis condigdes de exclusio social geradas © agravadas pelo neoliberalismo nas nossas sociedades. GORAN THERBORN — Acho que é muito importante ter slaro 9 que queremos dizer quando falamos em “neoliberalis- mo”. Sendo, corremos o risco de transforma-lo num projeto mui- to mais coerente ¢ unificado do que é na realidade. O termo “neoliberalismo” tem um significado especifico no ue conceme a um conjunto particular de receitas econdmicas ¢ Programas politicos que comegaram a ser propostos nos anos 70, Essas receitas tém como fonte de inspiragio principal as obras de Milton Friedman. Essas idéias, por sua vez, remontam a Hayek e “‘radigdo austriaca”. Por outro lado, ¢ concomitante~ ‘(yeNte, ocorre no mundo uma mudanca historica nas relagées instima- Slonais entre 0 Mercado ¢ o Estado ¢ entre as empresas ¢ os merca- 139 Digitalizado com CamScanner dos. Essa mudanga ni 5 Wea no & Nios es um me pra ie eto uma determinada idcol Seni MeOlibenyn quetem por risa forgadeuns con Trae dont ing punto a0 balango do neoliberal bem comply so mais estrita advogada por Thatcher siti the, ni Friedm: i an © scus seguidores nos Estadog uae? Uni «5 los, FS de y Projeto que vem ganhando ; ; oder politi tivo de posigdes administrativas von © um niimero gi grou se consolidar nesses paisce, 2 yn en? 90 cm gui ee 'ses paises, 0 neoliberalismo fr te ipaz. de exportar suas idéias para outros paisss on ot ben plo, a Argentina, e, antes disso, o Chile Ps ™Porexer- Por outro lado, em varios sentidos P , ios sentidos, ni 10 muito exitoso. Se definimmos o neaoentige ne Po erspectivas defini ‘can perspectivas definidas por Hayek e Friedman, ni s democracia cristi alema, por exempl darthpions nd) a lc mplo, se encaixe nessa defii- io. Vistas por esse dngulo, as principaisdreas de viéria Mbeasmo tim sio 0s paises angl-saxtes. clap, suc |gumas questdes interessantes sobre as peculiaridades do sneee cu as peculiaridades dos pores Um outro aspecto é a nova importincia assumida pebs mereados e pela concorréncia, processo que reflee uma muy estrutural na histiria do capitalismo, Essa mudang tem dado set forga ideolégica dos partidos ¢ dos intelectuais neoliberais, ms no é um efeito produzido por estes. _ Por fim, eu queria realgar que a exp ® mais que nada, a extrema pujanga dos Estados de bem-stt Welfare State tem sido muito atacado, tanto pela esqueris pela dircita ¢ centro. Ataques que vém desde os neolibens® ea pessoas como Jurgen Habermas ¢ forgas da extrema &f Eles talvez tenham razio, Em geral, 0 Estado de sido atacado por estar em crise, por estar inte © ine’ te subjugado por contradigées intemas insotiveis e% AM 0 do ponto de vista histérico, isto simpl tar se const balango histérico mostra que o Estado de bem-es tem s¢ marti? hnuma instituigao social extremamente robusta QT ica di? surpreendentemente bem. A comprovagso mals qualquer “pg produto policy eriGncia tem revel, 140 de ser encontrada na América Latina: a final do pinochetismo, Pe Chile ainda mantinha o Estado de bem-estar mais organizado, Gficiente e dispendioso da regio. ‘Ha uma série de razdes para isto, algumas conhecidas, ou- tras no. Em primeiro lugar, a propria magnitude do Estado de bom-ostar dificulta a desmontagem das suas instituigdes fimda- raentais. Nos paises de capitalismo avancado, por exemplo, entre {0 o 65% da populagéo adulta tem no Estado de bem-estar a sua principal fonte de renda. Essa ciffa é de 40% nos Estados Unidos pide cerca de 65% em alguns dos paises pequenos no continente Europeu. Nao se pode simplesmente despachar uma instiuigso ddessa importincia. Se analisarmos a questio do tamanho do Esta~ do — um dos principais alvos das critics neoliberais — veremos {que em todos os paises da OCDE 0 tamanho relativo dos gastos piblicos & hoje maior do que era em 1979. Essa rlaséo se man- tém mesmo se fizermos um ajuste ciclico para descontar os efti- tos da recente depressio. ‘Como projeto ideolégico ¢ politico definido de forma estri- ta, portanto, 0 neoliberalismo esti esgotado. A possibilidade da sua continuidade se relaciona nio tanto ao cariter unitirio do seu projeto politico, mas aos scus lagos de articulago com 0 sigan tesco processo de mudanga estrutural em curso no mundo capita- lista — isto 6, com as transformagSes ocorridas no triéngulo inst= tucional do capitalismo (Empresas, Mercados ¢ Estados). Em termos muito esquemiticos, podemos assinalar que, no comeyo do século, se produziu um crescimento relativo das empresas que culminou em duas guerras mundiais. Era uma época de monopélios, cartelizagdo e enfraqueci- mento do comércio mundialmente, Depois da Segunda Guerra ‘Mundial, os mercados mundiais se abriram e o comércio interna- ional comegou a creseer mais do que a propria producdo. Até ‘mesmo as grandes empresas se tomaram dependentes dos merea- dos, Mas a0 mesmo tempo em que isto ovorria, aumentava o {3 ‘maniho dos Estados com o surgimento do que caracteriza os tltimos dez ou quinze anos to capitalista & precisamente uma extensSo enorme dos mercados (especialmente os monetirios ¢, ainda mais, os financeiros), que 141 Digitalizado com CamScanner expandem seu dominio tanto sobt 0s Estoy gy empresas, Comeca o age do pale andnimoce’ tM Sob do poder dos cid © dos trabalhadores dagen em onfexto que devemos situar 0 neoliberalismo, "PS. Hyg? PIERRE SALAMA — O balango do Neoliberay, a eral; nim, uma questio muito complesa, erallsmo 6, Creio que nao sabe precisar com exatiddio © que & neoliberal emo ain aceite ISmo, que acabo, nando uma categoria muito difusa, Se POF um lado g cn tor. conhecer alticos cle se trusty Par ei mou num conccito muito escorregadi Os liberais sustentam que 0 & dh ajust dove a que foi levado a cabo uma politica fi em que hi uma forte intervengiio do Estado, sucesso se deve a uma politica orientad: Sempre corete) que eles prescrevem, Surprvendentemente, os line us se “apropriam "do éxito corcano, Quando hi um fcasso, ee Scmpre jogam a culpa no Estado populista — inclusive quando ele Scqucr existe! Evidentomente, os liberais se nega a assumir aye temidade dos desastres gerados por suas priprias politicas, Creio que aqui se localiza a chave do problema: o impacto e 4 forga que o discurso neoliberal tem tido na eabega das pessoas Provém da nossa prépria ineapacidade de mudar a forma de viver © compreender o Estado, Com efvito, o Estado no pode responder de forma eficaz 8s hovas condigSes eriadas por um alto grau de industralizagio ¢ as Compleras dificuldades geradas por este processo de mudangas. © aumento acclerado do desemprego legitimou, no nivel subiet vrceapetessidade de medidas tiberais de orientagto elanes Mercantil. A partir desse momento, existe uma espécie de at a Buldade: o fracasso das medidas ncoliberais (por exemplo, ae {SSsi05 planos que desembocaram na hiperinflagiio na Am a Latina) ¢ explicado com o argumento de que foi o Estado 4 Paralisou a atividade econémica, este marco, o conccito de “neolibe nam que 6 la. no sentido (aparentemente se aligmo” tendo tor Uifiso ¢ esconegadio, caso chileno ¢ paradigmiitico disso. Jes0". Ouvimos falar com freqiiéncia do suposto “éxito ¢ ei "sso quando o pa dos c ‘vo is atravessa 0 maior periodo recessiv 142 inte anos! E nfo devemos esquccer que o Cp mos vind ditadura pinochetiste dave pas ee as aa ndo paramos de ouvir loas¢ mais los an “nian tanto face do impacto negativo desas pins devemos nos jolocar varias questdes. Em primeiro lugar, o protiema do Ee to Niio defendemos 0 Estado corupto, Defendemos uma con. qo politica nos marcos da qual aintervengio edatal dee ef fivamente se bascar na solidaiedade soci Oy he ct ins scan nica, Por outro lado, devemos nos perguntr. quai 8 os aj. tos éicos desse Estado? Em que projto de socal ee inpleat im face do desastre do neoliberalismo — ou, mas pecsareas, ddas medidas neoliberais que tém sido implementa nos nosos paises —este problema adquire uma importincia cena Por tiltimo, & um dado evidente que a pobreza tem crescido ‘enormente nos paises do Tereeiro Mundo, mas ni ae les, Os efeitos das polities neolibenis, no ent, o pan por ai, Ainda mais grave € o fo ea designs sn & intensificado entre os préprios pobres. Estamos i i de setores que si, bo, cesso novo: pauperizagio da pobreza desta: $1. muito mais pobres do que antes. As pol ee vvém sendo aplicadas, conduziram ceras a ee ¢ profinda dinimica de desgresnco, As Fen exemplo no Mixio, so reveladoras extrema egativos do neoliberalismo, . ss Saad 150 que fago se baseia muito mi oe coneretas das politicas neoliberis do quem Pr . senta, do ponto de vista analitico, este ae cara ATILIO BORON — Cro sr re arlene zer um balango das conseqiléncias a vane 'emonia neoliberal. Mas eu queit SPST end eo Simento: 0 neoliberal wot as Beral, se supde. Se analisarmos & nal, wos ee has 5c talent, Teeonstrugo econdmica ¢ SOc ee 5 ee 5 conta de que elas foram implem aglosie aoe Alguns paises europeus (sobre nética : ma Unidos, no Canad ¢, basicament®y 143 Digitalizado com CamScanner tancoliberal nfo tem tido eco no Sudeste asiitico — embo, mece ater uma cea penetragdo, esta nfo se traduziy, ay mento, na formulagao de politicas concretas. Um pais ing? sino com o Japfo € um militant ativo conta negige t= ¢m fos como o Banco Mundial © FMI. O govemo japontss® publicado matérias pagas no Joumal of Commerce e ng jon Sireet Journal advogando um papel mais ativo do Estado ¢ ao! selhando uma postura cautelosa (es vezes critica) diante dosh mado “Consenso de Washington”. Em geral, os paises de sucesso na economia mundial — China, Japio, Conta, Taine, ete. — no tém tido muito a ver com o neoliberalismo, De tod forma, é necessirio admitir que 0 impacto dessas politicas no coatinente americano tem sido muito forte, Feita essa ressalva, podemos nos perguntar qual é 0 balango de trés qiinginios de hegemonia neoliberal. Por um lado, essas politicas evidentemente colheram éxitos na luta antinflacionéria. O neoliberalismo imps uma ferroz dis ciplina fiscal com bons resultados no que conceme o controle da inflagdo (mesmo se 0 prego pago por esse sucesso — a pauperi- zagio das massas — seja inaceitavel para os seus criticos). Na América Latina isto é mais do que claro, sendo paradigmiticos os casos da Argentina, Bolivia, México e, mais recentemente, o Bra- sil. A estabilidade monetiria, no entanto, foi insuficiente para Jangar esses paises numa nova via de crescimento econémico prolongado. Nesse sentido, os fracassos da ortodoxia na Boliviae 20 México sio patéticos. Os ajustes selvagens ali produzidos no Pipers © prelidio de uma nova fase de desenvolvimento. 2 Atgentina os resultados foram melhores, mas no hé que qRES2 due, ali economia havia afundado num fosso sem prec sees entre 1988 © 1990 e, por conseguinte, grande parte do Scimento tem sido, na verdade, uma recuperagio depois &¢ = ueds. Por fim, como ignorar que a economia chilena $° 870 ao Pert algumas das marcas alcangadas no inicio 6° Ae in anos 80, depois de quase vinte anos de a) a oe : ubterfigio engenhoso: 08 "08 ticos foram reduzidos ¢ fas pata assim, acumula © 144 atrar maiores lucros, Sem que volassem a investr cone como ef espera dees A taxa doivent nas or nevatou significativamente, © que acabou reprcutndo negate. meme sobre erescimento econdmico, O que sim se obeve fr iii dos objetivos estratésicos do programa neoliea: const urtjedades mais desiguais a partir da crenga de que, dese moo, seepvuliados fecuts0s que ficavam nas mios dos ros pudesem dar origem a uma auténtica torrente de investments. (0 problema é que o programa neoliberal nfo leva em conta, dequadamente as mudancas culturas vvides pelo capitlismo, Tato &, 0 velho modelo liberal pressupunha uma condutaasética por parte dos burgueses. Dava-se como certo que, dada adisponi- bilidade de recursos, estes burgueses investiram mais ¢ conzola- ram seus gastos. Descartava-se apriorsticamente a hipétese de que tais setores pudessem entrar numa corrda desafreada de consumo dispendioso, conducente ao desperdicio e ao desinvest- mento. Mas foi precisamente isto 0 que ocorrea. Nos Estalos Unidos, varios estudos indicam como 0 setor mais rico da soce- dade norte-americana acumulou uma massa impressionante de r- quezas ¢ rendas durante a “era Reagan”, sem que isto se ‘tradu- zisse em maiores investimentos. Vimos ocorrer mesmo aqui na América Latina. Em termos de balango, podemos dizer que o neoliberalisme Produziu um retrocesso social muito pronunciad, om 9 a5" ‘mento das desigualdades em todos os lugares em que ee fi ine plementado. Nao obstante, cle logrou éxitos relativos no que con inflagdo e a imposigdo de certos mecanismes ceme ao controle da inflagao ¢ a imposigdo de cetas mech de disciplina fiscal (embora nos Estados Unidos nlo s ‘gerado cm demasia esta questo). Em relagio a este tiltimo aspecto, cabe int salvas regionais. A Itilia, por exemplo, manteve un ordem de 10% do PIB na década de 80, ¢, mesmo SRT So. aceleradamente, No entanto, quando um pais 43. re, ehOveD ‘mula um défcit fiscal comespondente 2 15 08 2% d9 To, tuissdes do FMI ou do Banco Mundial exsind® sh ima fiscal” dem nas contas fiscais. Assim, 0 eritio of TTT Copstos adotado pelo neoliberalismo varia muito em 145 Digitalizado com CamScanner regionais. Isto tem que ser enfocado intemacional em que uma classe dominesy térios diferenciados segundo o pais em p; cupa se os que incorrem nele sio os pais, transforma numa grave patologia econd rios sio os paises da periferia Devemos também relativizar 0s 280s de “sucessg» beral no que conceme aos “milagres econémicos” que ya apresentados como modelos. Quando os casos do Mévice gentina ¢ do Chile sio examinados dentro de uma perspective mais longo prazo (por exemplo, de 1970 a 1990), os resulas nos obrigam a relativizar a euforia gerada pelos aparentes “sua 08” desses programas de ajuste. ___ Em contrapartida, o resultado mais duradouro do necliber- limo tem sido a constituigo de uma sociedade dual, estraturada cem duas velocidades que se coagulam num verdadeiro “apart hheid social”. Ou seja, um modelo em que existe um pequeno se- tor de integrados (cujo tamanho varia segundo as distintas socic- dades) e outro setor (majoritirio na América Latina) de pessoas que vio ficando inteiramente excluidas, provavelmente de forma irecuperivel no curto prazo, Aqui se coloca uma questio nada mar ginal para a consolidagéo do regime democritico: o que fazer com as vitimas produzidas pelo ncoliberalismo, para as quais este nio teve —e nao tem — qualquer solugo? Como constnuir uma demo- cracia sélida ¢ estavel sobre fundamentos sociais tio precios? EMIR SADER — Mc parece que o essencial ¢ caracterizat 0 neoliberalismo como um modelo hegeménico. Isto é, uma forms de dominagdo de classe adequada as relagbes econdmicas, sis ¢ ideolégicas contemporancas. Se bem ele nasce de uma Ors antes do mais econdmica, a0 Estado de bem-estar, em Gerd a Constituido um corpo doutrinario que desemboca num oe relagdes entre classes, em valores ideologicos © num dt do modelo de Estado. hss? Existe um processo de reprivatizago das relagbes 0° °°,” antes fortemente permeadas pelo Estado, segundo 0 Pas. Ty. também, um avango generalizado das relagdes mereantis i, Pressam sem mediagac alguma, Nao é em vo que a demo} de un te elobal estaba ata: © déficit nag es desenvolvidos yr” mica quando os deficit tes “suces- 146 groves como a do caro na Inglaterra da Fatma a cade ves com eultdose alavaneas do svngo matte are nyo Pees a _ 9s vildes do atraso ecormico passam a ser os sindcatos, om eles, as conquistas sociais e tudo o que tenha aver coma jade, com a.eqidade¢ com a justia soci. Aomesno tempo, "Gs conservadores, se reconvertem & modemidade na sia 2 oo nealiberal, via privatizagfes e um modelo de Eade Mina, sta globalidade requer, como altemativa, um modelo ndo as econémico (ainda que com raizes na vablidade econdmi- ta) que surja da crise real do Estado de bem che, «um problema da economia burguesa. Precisamos nos deve das velhas tradigdes a que ainda estamos atades. 159 Digitalizado com CamScanner «ogo, parvce que essa sujei¢do ideologica tem Lines varrinaro geral do ncoliberalismo,¢ mais <> ver ergs que carateizam 2 politica ceonSmica na Amésiog as rn pjem di, no exist NOS nassos pass qualquer ming asi rad que posse tomar uma decisio macroecaimica de ein sem o consentimento de tecnocratas (nem sempre by. thantes) do Banco Mundial c do FMI, E impossivel, J ORAN THERBORN — Quero me remeter 8s questies jg. vantadas na perguna do Luis. Aeredito que nfo devetiamos pols. agar em tomo de definigdes. O importante € que cada um tenka ue as defnigbes que emprega ¢ deixar isso transparente para og STamais, ao mesmo tempo em que deixa claro as diferengas das suas definigdes para as que sto empregadas por outros. Eu prefe- firia, pessoalmente, falar da emergéncia de uma nova etapa de capitalismo competitivo, com um NOVO papel e uma nova dindmi- car paa os mereados. Esta nova etapa do “capitalism de meres- do” fixa os parimetros de atuagio para os politicos ¢ para as forgas poiticas no mundo hoje. O neoliberalismo emerge coma uma corrente particular, entre outras, nos marcos dos parimetros teste novo capitalismo competitivo — certamente, uma corrente pemiciosa ¢ coerente, Esta compreensio da questio enfatiza as udangas institucionais e estruturais em curso no capitalsmo, ‘em identifica tais mudangas como fruto de um projeto ideolég toc politico determinado. Nao nego, no entanto, que foreas pol tieas ¢ideoldgicas possam ter conribuido para a emergéncia ds sas mudangas ¢ sua continuidade. Em termos de comparagio, o periodo do entreguerras¢ especial os anos 30 foram marcados ‘pelo capitalismo organi io. Isto se materializava numa série de variantes. Havis, €or. ‘mundo, muita admirago pela experiéncia dos planos, ation sovidticos, Havia o New Deal nos Estados Unidos, as politica Schacht na Alemanha, as novas politicas ae -” Escandinivia, as politicas sécio-cconémicas = ones nor sucesso) pelo governo da Frente Popular na Frame co. ‘AS época, era 0 capitalismo organizado que fixava os PIT, por: formulagies do tipo de Hayek pareciam coisa 46 0°) syema dos no deserto, Havia nesse periodo uma vari Pouca a 160 vas politicas ¢ ideolégicas em disputa no mbito dos par do Spitalismo organizado. Todos tinham de se fee pees oo institucional particular que conformava 0 capitalisno ng época. Isto nfo quer dizer que nao havia opgdes reais em disputa, Crestiam, por exemplo, grandes diferegas politics eideoldyieas no que conceme aos conceitos de democracia ¢ repress entre 0 hazismo tecnocritico de Schacht, o New Deal, os acordos na Es- gandinavia ¢ a administragao dos planos qiingienais sovitcos ‘Mas os parimetros estavam fixados pela propria natureza do ca- pitalismo organizado que caracterizou 0 periodo em questo, Vejo dlguns paralclos entre essa situagdo © a de hoje, s6 que hoje os parimetros sio fixados por um novo tipo de capitalsmo compe- fitivo. A esquerda tem relutado muito em ver ou reconhecer este novo dinamismo do mercado. Outro tema levantado na pergunta do Luis foi a questo do Estado de bem-estar ¢ as tentativas de retroceder para padrbes ‘mais seletivos ¢ particularistas de direitos. Isto é, de fat, carcte~ ristico da corrente neoliberal, O maximo que eles conseguem conceber é uma rede de protegdo (safety net) apenas para os mais pobres dos pobres, Eles nfo tém tido, no entanto, muito sucesso nessas tentativas. Agora comegam a ficar claras as razbes desse insucesso, A persisténcia do desemprego, a tendéncia a elevayio do desemprego estrutural ¢ a precariedade dos vinculos nas mar- gens do mercado de trabalho provocam problemas sociais milt- plos. A propria abrangéncia destes tem acarretado a manutengd0 de esquemas institucionais do Estado de bem- de uma politica questiondvel impos, eles respanderiam "Tos mercados intemacionais. Eles justif. pelos atari tcoricamente 0 que estavam fazendo, 4 cariam e fundamettvagdo, direta ou indireta, de um compo dou. partir de alguns “O mesmo seria verdade — ha inclusive varias teint dec ness sentido — do individuo que desempe. pregniaolr) senha ao deles na Suécia social-democrata, ¢ i elt. apr com outro ponto interessante. Todos nés eo- shesemes a grande expansio vivida pelo sistema universitirio nos paises de capitalismo avangado no pos-gucrra, sobretudo a partir dos thos 60, Isto se traduziu numa mudanga fundamental nos quadros de diregio dos patidos de esquerda, em especial os partidos social- democrats. Um caso evidente é 0 da Franga, Se compararmos as bbancadas do Partido Socialsta francés com as dos gaullistas ou de- mais patios de drcita nos anos 80, veremos que a do PS tinha um nivel de qualificago educacional muito superior. Esta tem sido uma rudanga geral nos sistemas politicos destes paises. E muito mais provavel, hoje, encontrar um ministro de Finangas ou pessoas em posigSes de mando com uma sélida formagdo tedrica. Por isso, nfo € um acidente que Vaclav Klaus vive citando Hayek em todos os seus discursos. As posigdes de Hayek e Friedman sio levadas muito a sério por pessoas que hoje ocupam posigdes de poder. O Atl acha que isso pode ser verdade na Europa, mas ndo na América Latina. Mas vocé esta certo disso? Aqui no Brasil, ‘um politico importante que desempenhou um papel dirigente 0 eee ~ Roberto Campos — certamente leu estes autores © OS Eatin i, Ee hoje diz que ha muito tempo sustenta are tor O caminho da servidao ¢ que agora ficou © " esta. ae are {eve razio. O préprio Femando Henrique, a 4 cones a idea mnt Presidents do Brasil, certamente tambo’ Vargas Llosa aa Friedman ¢ Hayck. Eu posso assegurar a o Peru também os leu. Tive uma conversa com © ma Vez na embaixada do Brasil Jou um rasil em Londres, ¢ ele se revelo mos aos esrategists di 166 rande admirador desses autores. Ni Tetragao destas idgias. E assim we Ho devenossubssimar a pe. : 7 gue velo a conexio beralismo no sentido forte eestito coma susvena come © Ol segundo ponto que quero abordar é da pee uma diferenga de énfase entre 0 Goran eeu want eH Goran levantou 0 argumento muito interescane dean testo mana, a privatizasdo ¢jusificadandopelacries gn A das empresas pablicas (este é 0 amgumeno angl-seay pela necessidade de encontrar fonesalemaivas de me tos para empresas como a Lufthansa, a empresa de tle Bes etc. O que eu responderia € que se procralegtime vn, tizagdo de formas miltiplas. Na prépra Alsmanka, «quae a, ineficiéncia e dos prejuizos das empresas esaais também fesse parte do debate piblico. Num pais préximo, a Austria, que tem um govemno social-democrata, o principal argumento em defesa da privatizagio € a acusagéo de que as enpresas piblicas si0 ineficientes. Este € o caso, também, na Franga e a Ilia Eis. tem, portanto, motivagdes miltiplas Na Inglaterra, pelo menos, uma das motivagées bisicas da privatizagSo foi puramente eletoral. Havia a nogdo de que a ven- da de ativos piiblicos poderia criar uma clentela que desse apoio politico aos conservadores. Eles venderam, por exemplo, 0 ati vos da British Gas, que era um monopélic estatl altamentel- crativo, O impacto sociale politico desta pritca pode se vislum- brado no seguinte dado — ao fim do govemo Thatcher havia ‘mais individuos acionistas das antigas empresas estatais na Ingla- terra do que membros filiados aos sindicatos. ; Isto nos remete a uma outra questo interessante que € ase guinte: nés precisamos desenvolver uma tipologia das diferentes es- tratégias de privatizagio. O exemplo inglés éum. O da Argentina jé € outro, onde todos os ativos privatizados vio para qunze ies conémicos — um grau de concentragéo inctvel. Nao se tals, Pt tanto da eriago de uma nova clientela popula No Lest ores também ha muito debate sobre a forma das privatizag0es, sol €amelhor estratégia para consolidar o capitalism, levanta n paiblicos, no estilo inglés, le A venda maciga de ativos piblicos, 99 Ce ee igo 8 questio da transmissio ideotbgica deste nicleo 167 Digitalizado com CamScanner as eonviesdes populares. A teora ruito superficial ¢ limita- Bla carece de atrativos mais imagi- marxismo também & uma teoria limi me aspectos da vida humana ¢ tad, pois aborda APM jas que so abordadas do forma siento rtigioso. No caso do neolbe- t,t oe no eta, pula? A idéia original era que clase pode, portant, tome apido erescimento econdmico. That- cara populate £7 eatinho para tomar todo 0 “pacote” cherpensve ge amcte popular, O flo, no entanto, 6 que © fl inca de gear pido crescimento em qual aver das difculdades na geragdo de crescimento, passou- sea tant esinular a popularidade do neoliberalismo com base «er de imposes, It de forma enganosa, pois o que a That~ ee. na verdade, foi cortar impostos diretos ¢ elevar os im sostosindrets. Alki dist, investiu-se também, como disse an ts na venda massiva de ativos de empresas piblicas. Mas isto tudo se mostrou inadequado para gerar uma forte atrago popular alas ideas centri da doutrina neoliberal. O neoliberalismo pro- dizi e continua produzindo, de fato, enormes fissuras sociais nos paises de capitalismo avangado, Isto é evidente mesmo pare psssoas que vém dos paises do Sul, Para alguém que tivesse visi- tudo Londres, Paris ou Copenhague em 1965 ¢ voltasse apenas em 1995, a primeira coisa que Ihe chamaria atengio ¢ 0 grande Spee menlon na nia, que inexistiam anteriormente. Trata- oun fenoa ne visivel e concreto da desintegragio social em cent das dogas, am. a lames na delingiiéncia, o problema cres- Qabsoas aa ‘lizago, o desempregoem massa cle. mio gue go ae tetas politcas de um moselo econ” baixo” e outra “de cima” ’ode-se dizer que ha uma resposta “de nino, xenon, RsPosa “de baixg” tend a se © "ligioso, Estes shone nos Estados Unidos, fundamentalism? ts eto Siero” formas na sociedad 2 * lens8es ¢ perigos, A doutrina neolibers! ia neoliberal oe sos esi eS a visio amid mais sbrangete plo Pe 168 sica, 6 claro, nfo tem qualquer resposta a clita os govemos acoliberas de sucesso, principe os gher ¢ Reagan, acharam uma resposta — 9 nacionalismo, A rpioria dos governos liberais jogou com muita forga a “ear” ‘fo nacionalismo. Isto levanta uma questio interessante perapectivas do ncoliberalismo na América Latina Do pnts de vista logico, a politica econémica neoliberal nestes paises tem de vor antinacional — ela dificilmente ser acompanhada do navio. nalismo, pois implica a adogo de medidas como a abertura de mercado. O nacionalismo, aqui, surge como doutrina do Estado, ¢ neoliberalismo como adversirio do Estado. E improvavel, ou pelo menos dificil, portanto, que 0 neoliberalismo se associe a formas tradicionais de nacionalismo nos paises latino-america- nos, como fez em algumas nagdes européias ¢ nos Estados Unidos. ‘ATILIO BORON — S6 queria fazer um breve comentirio com referéncia a interveng3o do Perry. Creio que, na América Latina, Friedman é muito mais conhecido do que Hayek. A difu- so do pensamento de Friedman como um dos principais expocn- tes do pensamento neoliberal tem a ver com outro fenémeno que aparece com caracteristicas bem nitidas: a ascensio dos econo- mistas a lugares-chaves do poder politico. Eles comegam, na ver- dade, a cumprir um papel semelhante ao que os advogados de- sempenharam nos Estados nacionais da América Latina no séoulo XIX, e, muito antes disso, os religiosos na ordem medieval. Os economistas se converteram em politicos e até em presidentes. Salinas de Gortari é um exemplo expressivo desta tendéncia, Fer- nando Henrique Cardoso no é um economista clissico por sua formagio, mas, de todas as maneiras, é um intelectual muito fa- miliarizado com a ciéneia econdmica. Domingos Cavallo é cons\- ox “presidenciavel” na Argentina. Alejandro Foxley, presidente Se pemocracia Crist no Chile, tem boas chances de ser 0 cial & presidéncia no préximo pleito. O que parece muito claro é XE 9 Pensamento liberal na América Latina em mE hae praia oPtlarizagso (e também a vulgarizao) do neolbeatioe Sloss Friedman do que com a toma nol Bera ge sua abordagem por Hayek: Qua oye albu América Latina dificilmente conseguir mais do ave 169 Digitalizado com CamScanner ‘mas certamente conhece muito bem, atcoria: pera ae Creio que o Atilio formulou antes um paradoxo que ty, produz um desequilibrio econdmico; se apica coosee ven, perde as eleigdes. A esquerda, entio, esti con. a pli rela mesma peer, ova. apicar politica dos outros fi er... [risos] combi pn ain um poco exe poblems. Oe, Sobre todo, o Banco Mundial tm mudado bastante em relaglo a Amé- ca Latina. faz dois anos que comevaram a pregar a necessida- ede uma intrvengio mais ativa do Estado. Nio faziam isso na época do discurso friedmaniano. Segundo este novo discurso, 0 Tendo deve intervir no setor da infra-estrutura, na educagao ¢ na aide A corrente neocléssica trata de redefinir a intervengao es- tana limitando-a a estes Ambitos. No que conceme a estas ques~ tes, o Banco Mundial mudou. Tampouco devemos esquecer que hi algum tempo este organismo chegou a ser keynesiano. Acredi- to que ainda existem margens de manobra em face da politica dessas instituigdes. Estas margens passam por uma redefinigdo do Estado e do mercado. ‘Nesse sentido, hoje so necessirias duas coisas. Primeiro, ‘uma intervengéo do Estado contra as desigualdades sociais, man- tendo-se o reconhecimento do novo papel do mercado. Depois, 0 reconhecimento de que 0 mercado nao pode gerar empresarios de forma espontinea. Isto se tomou uma tarefa impossivel diante da ‘rescente Sofisticagio industrial. O Estado deve intervir, mas no da forma que o fazia antes. Essa intervengao deve favorecer cer ‘as estruturas industriais, Isto se chama politica industrial. Creio que uma corrente social-democrata de esquerda pode ser absolu SEE compaivel com as privatizagées se estas contemplarem Tee ite & questo sociale se forem acompanhadas — 20 ¢Ot- indus Pade i Arzetina € 10 México — de uma politica tics induntiod te Perfeitamente ter, entio, privatizagdes com poli- lustrial, isto é, com intervi 5 Estado Hoje, mais do eneto direta por parte do sie Scr nt do gue nunca, &necessrio reinvent nov 10 © 0 Estado, Para que cair no simplismo 4 170 conrente hayeckiana? Poderemos, asi ncontramos © escaparaceras cafe oS em Alguns liberais me consideram um keyne one Leis ta, Outros, um neomarxista empedemido. O preble ges meet tos keynesianos © muitos marxistas me coe ae m 7 ‘Talvez. seja porque eles se encontram numa sow liber Creio que a redefinigo do papel do Estado ¢ 4 tees, tarefa central para a esquerda. Nesse sentide, 6 n° © wma sar melhor © rumo que deve tomar uma politics sans Pe ciada a uma nova modalidade de intervengao estaal on™ climinar as desigualdades na distibuigds do imme iso impliue a ampliaeo da cern IBIS Sem que GORAN THERBORN —0 Pe i conexdes, ou “correias de transmissio" exsemer aca nase politicas. E verdade que a doutrnaeconémia prdeminan: te € a do neoliberalismo. Isso nos permite examina que con®. es slo necessirias para que a doutrina neoliberal coniga efetivamente penetrar na esfera politica. Onde os partidos de massa ¢ a sociedade civil sio fortes, os politicos tendem a estar enraizados na sociedade civil. Onde isto ocore, seria de se espe- rar uma influéneia menor da doutrina neoliberal. Ness cas0, os poderes dos ministros de Financas (como, por exemplo, Felt da social-democracia sueca, a quem o Perry ja se refeiu) si limita dos porque a social-democracia se apsia num movimento muito bem estruturado, assim como a democracia crsti alema. Paises que carecem de uma estrutura paridériasdlida, como aqui n= América Latina, enfrentam riscos muito maior. Isso expla por que a doutrina neoliberal péde triunfar na Espanha, onde a estrurs Partidaria é mais frigil. O poder dos ministros de Finangas, nesses casos, & menos limitado pela ago de outros ministos que tém de atender a outros interesses, O Helmuth Kohl certaments nunca aSSi- ™miu por completo a doutrina neoliberal, porque, © 0 Hivesse feito, eu projeto de reunificago alema tera ido por dguaabaino. ATILIO BORON — Com base em toda as intervenges fi {8s até aqui, fica evidente que estamos em face de ee caracterizada pelo surgimento de uma nova ortodoxia ideo 08° ue tem se expandido no plano universal. Esse process m9 171 Digitalizado com CamScanner spanurais” do mercado, Pelo contritio, signi. —, m0 de revomposigfo eacionia do. ficou o triunfo 1 bape todas as forgas da burguesiaintema- pitalismo que a ‘0 caniter que eSS¢ processo assumin em nal, Remy dese ando a sua genese em Hayek ena “Socie. termos idealogicos "Goran ¢ Picrre preferiram destacar as dade de Mont Peles’ Oo apitalismo em escala mundial. To- tanto sas sins dimensées estdo articuladas, dos concordamos Mijores dessa asticulaglo. Por exemplo, o li. eae i choose, que populariza 0 liberalismo ad usum do Foca Bi tim fangamento planetario ¢ em escala universal que vviabilizou a sua distribuigdo por noventa paises em apenas iss ou quatro semanas. Semelhante operagao foi acompanhada de uma seme mundial do Friedman, Junto com o livro também se ven- dev um video magnifico que iustrava com belissimas e persuasi- ‘yas imagens as teses ali desenvolvidas. Ja © caminho da servidao Ue Hayek foi um tipico livro académico que circulou nos &mbitos cxpecializados e teve pouca repercussio na opinigo publica. O ‘sucesso de Friedman nfo foi, portanto, obra das forgas esponti- reas do mercado, mas 0 fruto de um projeto politico direcionado 2 obtengo de um enorme impacto global. Levando em conta a derrota da esquerda, o enfraquecimento do movimento operaio, © ‘o colapso do Leste europeu ¢ dos “‘socialismos reais”, no ¢ por acaso que esse tipo de “racionalidade supra-histérica” de inspira- fo neoliberal tenha tamanho impacto. Isto se vé de mancira mul- to clara nos partidos de esquerda da América Latina, muitos dos 4quais assimilaram de forma absolutamente acritica os principios © as priticas consttutivas dessa nova hegemonia burguesa. Do panorama que apresentamos aqui surge claramente uma Pergunta: dado que o neoliberalismo tem sido incapaz de resolver ‘odo um conjunto de agudos problemas sociais (a marginalidade, @ oa pobreza ete), © que pode ocorrer num futuro nio muito a gas ae 8 poltias se espotarem? A resposta dou de que se a democraig Hayck (ou, eventualmente, Friedman) ¢ Cfotntomene nacasia se equlvoca e — sem poder adminis Serd neces medicna neoliberal — avanga contra 0 ‘mercado, 0, entdo, cancelar a democracia. produto d In Isto, no entanto, parece pou, Nao ha, na atualidade, atores ea | na América Latina democracia politica para manter a liberdads qs rn MCHA a existem na Argentina, no Chile nem no Brae rea: afo mente, um espago para a rectiagdo de uma nova noo obvi esquerda nfo pode reerguer a bandeira do bene ett Bata anos 50 ¢ 60, como se nada houvesse acontecid. + oe hecer que: os mercados tém uma dindmica prépria que cso, ser ignorada a um custo exorbitantse nio poe sersorge ee uma simples opera ideligica; qu hum pocise fe wes zago impressionante em todas as esferas da produgio aa i. mangas; € que nossos paises so demasiado vulneriveis pare tender fazer caso omisso desses desafios. Mas ha que reenhon, ‘a9 mesmo tempo, que comegou uma corrida conta o tempo: eg neoliberalismos triunfantes nos Estados Unidos ¢ na Inglatema enfrentam muitas dificuldades ¢ problemas. Seria absurdo Pensar que, nos préximos dez anos, nio iro comesar a ensaiar Snnulas nesses paises que, sem voltar ao que eram as poliicas piblias dos anos 60 e 70, procurem sair da camisa-de-forga imposta plo modelo neoliberal mediante a adogao de caminhos mais ou me- nos heterodoxos. Creio existir uma série de “‘matérias pendentes” na democracia latino-americana que nos levam a pensar em mo- delos econémico-politicos muito imaginativos e crativos. Em ou- tras palavras, hd espago para comegara pensar numa estatfgia de Teconstrugdo do Estado ou em mecanismos realistas no que con- ceme a novas formas de propriedade piblica (nfo necessariamen- te estatal). Na América Latina, a esquerda tem caido no vic de assimilar 0 priblico a0 estatal, quando, na realidad, 0 primciro é ‘mais importante, complexo e estratégico do que o segundo, Pode- ™mos sair desse falso reducionismo pensando, também, politeas Tedistributivas que no caiam novamente nos excessos do popu lismo, Alguns partidos ja comegaram esse processo de buscae hi ue insistir nesse caminho. oy] Assim como de certa forma a Amica Latina anion ® ova onda neoliberal (com Pinochet no Chile ¢ Martinez de i dese Argentina), vejamos se esta parte do mundo no seri CX Antecipar na adogio de novas modalidades de gestio da cosa Pa 13 Digitalizado com CamScanner & apresentado como saida tnic; 0. neoiberlismo 205 do nfo se trata de nada mais do como “a solugo (Ge 0 de interesses das classes domi. que a expressio de doo prande éxito de Cavallo © outros no sey nantes. Nesse sent & onvencer a quase todo o sistema politi. estilo tem sido conseBN TT de enfocar os problemas é excly- co argentino que a £03 me nio-contaminada, Temos de tera au- sivamente “Geni Mradilhas do teenocratismo neoliberal, Esta icin i grandes bataasidolegieas que teremos denen a SEDER — Queta fazer uma breve referéncia & EM eada pelo Luis. Se é certo que hd duas versBes do quote Cismo, no é menos certo de que também existem duas aes em difrenciadas do Estado de bem-estar: uma dra ¢ ve ands, Qualguer que soja a flexibilidade que atribuirmos a care mente, seri dificil falar num “Estado de bem-cstar So- cial” no Brasil. Quando grande parte da populagiio — hoje clara- ‘penis a maioria — no tem sequer acesso & carteira de trabalho {Glamento que representa apenas uma dimensio minima da cida- ania), &evidente que nos encontramos diante de um pais cujas redes de protogio social sio extremamente frigeis. Falar, aqui, de tm “Estado de bem-estar” tem, a rigor, conotagdes cinicas Como disse Daniel Cohn-Bendit, assustado quando chegou ao Bra- sil: “aqui se vé a diferenga bisica de um pais que teve aris de si cem anos de movimento operiio,¢ outro que jamais 0 teve”. Eu nio estou tio seguro quanto 0 Atilio em relagdo a auséa- cia, na América Latina, de atores sociais capazes de cancelar @ democracia politica para manter a liberdade de mercado. Justa- mente a extensio de certos valores do consenso neoliberal —€ 38 terriveis condiges de exclusio social provocadas pelos tragos cconémicos desse modelo — vio gorando condigdes propicias para as politicas orientadas contra o movimento de massas ¢ ¢O"” tra certas conquistas sociais ja histéricas. Ao mesmo tempo, 9 informalizago da economia solapa as condigées de resisténci® democritica do movimento popular, cess en? aues mesmo quando Pinochet ¢ Fujimori foram 0 para dar a luz as politicas neoliberais, isto nao signifi 174 ue tais condigdes devam se repeti $ho do modelo. Esta reprodugan re Pu emantene ruptura nas aliangas ¢ na solidatiedade socia] eh ot Vioenta dios € as classes populares, vinculando gg one 08 118 mé- condigdes de sobrevivéncia no mercado e dep # novas no abandono mais completo (agora, inclusive sn? oS Essas novas relapses de classe scametae er oo Eads). graves. A resisténcia organizada do movi on sociais muito fiaquecendo progressivamente como conseqizwee ane ee co da economia, do desemprego etc. Tendem a pedarin de violéncia descontrolada, muito ditrents,é cary da eas Luminoso, mas que expressam certas varianes de onl na e suburbana que vimos (¢ seguimos) conhecendo em sare como Medellin, Cali, Rio de Janeiro, Cidade do México, eta ‘num futuro préximo, Buenos Aires. Trata-se de fendenoe de des -gregagio social, aos quais os govemos respondem com politicasr- pressivas © mais intervengo militar, que ferem de forma indefe- vel a frigil legalidade desses paises. Como nio poderia deixar de ser, 08 monopélios da comunicagéo de massas geram ¢ampliican © coro de vozes inclinadas a esse tipo de medidas. Por tudo isto, o neoliberalismo é um grave perigo para a de- mocracia — e néo apenas de um ponto de vista social (dada desi gualdade que gera e agrava), mas também do pono de visa politico plano idcolégico é privilegiado para desrticla 0 senso comum imposto, Revelar a incompatibilidade do neoliberalismo com a democracia social ¢, finalmente, com a democracia politi- ca, é um dos nossos grandes desafios. GORAN THERBORN — Uma coisa que me chamou aten- 40, durante uma das sessées do Seminario que estamos realizan- do aqui no Rio, foi a afirmagio de Emir Sader de que dois ise cursos diferentes se polarizavam na campanka eletoral brasileira — um de justiga social e outro de estabilizagdo monctiria, Estes dois discursos nio se encontrariam, fazendo com que um Se hegeménico sobre o outro. Acho que a chave para o fate América Latina ¢ em outras partes do mundo, inluindo an € alcancar a articulagdo ¢ complementagio (0 tradt 2 Hias entre os dois. 175 Digitalizado com CamScanner canto pode ser contra a estabilidade mong. era ser contra a administragdio econdmica compe. ~ ee questfo-chave — e reconheyo que isto & This tent ala do que fazer —& “desarmar” os temas da estabilizagig jeer eta e da administragdo econdmica. Isto pressupde 0 recy. movrimento das novas mudangas estruturais do capitalism, Por Fexo ewas tenho enfatizado tanto a0 longo deste debate. THA novos parimetros, no apenas discursivos, mas também snstnuionais. A chave para o sucesso politico da democracia erst ‘lemi e da ligeiramente mais progressista social-democracia escan- Ginava reside em que ambas mantiveram a sua credibilidade junto 0 eleitorado como defensoras da administragdo competente ¢ da jistiga socal, Os social-democratasalemdes na presente elei¢do nio foram capazes de convencer a maioria do eleitorado de que eles so capazes de produzir melhores solugées para os problemas do desem- prego e do crescimento econémico do que os democrata-cristios. PERRY ANDERSON — Quero fazer apenas um breve co- rmentirio sobre o que o Gdran acaba de dizer. Eu concordo intei- ramente com ele. £ claro que qualquer esquerda com credibilida- de tem de convencer seu respectivo eleitorado de que é capaz de combinar eqiidade e eficiéncia, justica social e estabilidade mo- netiria, Isso é uma tarefa mais facil nos paises centrais do que no Sul. Ha uma razio muito simples para isso. No Sul em geral, ¢na América Latina em particular, a combinagiio de estabilidade mo- netéria com justiga social depende de reformas fiscais dristi Uma das raizes estruturais fundamentais do processo inflacionério na América Latina tem sido a subfiscalizago do capital e da classe média. Sem profundas reformas fiscais muito dificil ver como 5° podera alcangar estabilidade monetiria e reformas sociais genuinas. Goran tem nos lembrado sistematicamente nessa discuss40 dos limites impostos pelos mercados intemacionais de capitais. E ee ae cas dificuldades mais fundamentais. Mesmo $° a qulayéy! senso eleitoral favorivel a reformas fiscais Lest comegar a i rs importante da América Latina, assim que & reagin conn emear estas reformas, os detentores de capitals derapio amais a de capitais. Esta é simplesmente uma cons 'S due gostaria de adicionar & reflexiio do Goran. Acesquerda cit 176 O ponto mais geral que discussio sobre 0 neolibraisne ne de fazer Vola nossa ideologico ¢ intelectual positive do realign nets legado 0 que nos deu do que o pensador brace? & so ali Roberto Mangabeira Unger chama de planieas ot tetcang O fato de certos goveros neolibenis, cond instiuaes, Inglaterra € os atuais no Leste curopeu, erm go tctet A programas massives de engethaia soil deter como caracteristicas marcantes da paisagem insitne ny no sempre foram tomadas como dadas ¢ imutiveig ty verdade, ser radicalmente alteradas. Esses vemos me tém sido muito militantes. O govemo Thatcher oe ais legislagdo do que todos 0s goveros tnbahhisiedns ns © 70 reunidos, Foi uma forga legislatva extremamente sn, mostrando que toda uma gama de novasinttuigss pda eriada. Acho que essa é uma lig que esti repisraiano nay rio popular — a de que a paisagem institucional nio¢ ti fea quanto se pensava antes, ‘Uma questio crucial em particular que eles fzeram, pario- xalmente, foi mostrar que as estruturas de propriedade poiam ser alteradas. A prépria maré de privatizagbes suscita o sunt pen- samento — “Bom, se estas empresas piblicas gigantesas podem ser divididas e vendidas, isto no quer dizer que as estas da propricdade empresarial privada também séo mutives? Nio Pode haver alterages nestas formas também”. A distingo feta aqui entre formas piiblicas ¢ estatais de propiedad se reasons com isto. No é possivel conceber, hoje, uma gama muito mais variada e diversa de formas possiveis de propriedade do que tr dicionalmente se supunha na contraposigdo de um modelo pura- ‘mente privado a outro puramente estat? . Muito trabalho teérico interessante isigane est sede esenvolvido sobre isto nos paises capitals avaneaos: cando a questo das estruturas da opie om oe © “elo fraeo” do consenso existent. Isto abarea 0s I Centes de John Roemer, bem como estudos sobre Vi an diferentes de empresas geridas pelestrabalhadores, Co mas de articulago do modelo alemo, varias outs 17 Digitalizado com CamScanner + na estrutura das empresas, Privadas ctc, i iscussio tem sido muito estimutada esta das empresas mistas na China, Aligs, China, Trata-se de um t6pico muito ‘araindo atengdes crescentes no ue eta uma fina de enfrentamento muito fesquerda na América Latina, AP perspectiva de ‘deve conseguir voltar contra este a sangsoo psn, sua continua desestabilizagio Sepa c explora isso em nosso proveitO. : ee {ai —Evideatemente, existem muitos proje- wes genedicamente do projeto neoliberal ou da solucio neolibe- ios Xow altimos anos, temos assistido a diversas formas de Fmplementagdo desses projetos. Sua caracteristica comum radica ama confianga cega tanto nas Icis de mercado como na capaci- ade do homem para aleangar certa harmonia por intermédio das reeras que regulam as relagdes mereantis. Da mesma forma que existem hoje diversos “‘neoliberalismos”, é provavel que haja, no futuro, novos projetos neoliberais. Acho importante destacar essa qusstio antes de fazer referéncia is altemativas. neoliberalismo se caracteriza por sustentar que no existe solugéo fora do modelo que prope: uma confianga cega na dind- mica do mercado, Os liberais sustentam que uma crise & sempre conseqiéncia de comportamentos viciados derivados de um Esta- do onipresente. Conclusio: hd que reduzir tamanho do Estado ¢ amore a mercado. 0 dogmatismo da corrente neoli- Pee eso a teaham sido stalinistas no paseai Nee oan de Lass isto & mio clare Tents o passado. Nos paises do Leste isto € Na defensiva, as vezes ne ee de terrorismo de pensamento. mentos neoiberais, como se fon ngs slguns dos aE" Peso gas a $ fssem unversalmente valid. suds posta ser na Outs saldas. Creo, também, que 8s Tadicalmente diferente dns 2 Part de uma leitura da crise ‘ata apenas de um probles feita pelos neoliberais. Nao s° 'ma ético derivado da nossa critica 9° ssgividendo social” Como voo’s SAbeM, com jonante suCes cr discutimos & amp ¢ inte Ocidente. Acho promissora pars 18, xo social dessas politicas. Isso & ju cattnce ser um erro discutir neoliberal mas insuficiente. Me parece ser um en > neoliberalismo exclisivamente do nto de vista ético, embora isso seja importants e funder Rossos principios devem, também, ser compatives con nn sigdo cientifica. que quero dizer com isto? Que os auibure, tiéncia nfo so propriedade exclusiva dos neoliberas, Uma lot ra diferente da crise nos possibilita fundaroutra politica commen ca. Vou dar dois exemplos. ‘om Primeiro, a inflagdo. A comente liberal considera, em tr mos gerais, que a inflado se produz porque ha um excesso de Oferta de moeda. Nos pensamos diferente: o crescimento da gio é produto de um conflito distributive. Este conflito dstibui- Yo é resultado da existéncia de dois grupos sociais que, em dado momento, entram em conflito. Tais grupos néo se encontram na mesma posigo social. Um (0 dos empresirios) fixa os pregos,e, ao fazé-lo, define a taxa de lucro, Fixam, igualmente, os salitios necessdrios para a garantia desta taxa de lucro, A aceleragio do proceso inflacionario deriva da exacerbagio do confit em tor- no dessa fixagio. Se fazemos esta leitura, podemos conceber a redugdo da inflago a partir de formas de resolusio do conflito distributivo que no penalizem, necessariamente, os tabalbado- res mediante uma redugdo dos salérios. Segundo, a especificidade da atual conjuntura, sobretudo nos paises latino-americanos. Temos assistido um processo de Jinanceirizagdo das empresas. Estas vem ganhando muito mais dinheiro no setor financeiro do que no setor produtivo. Dados 0s clevados rendimentos desse setor, no convém as empresas inves- tir o seu capital no setor produtivo. Este tiltimo se torou obsoleto © limitado para a extragdo suficiente da mais-valia. Conseqiente- mente, a necessidade de investir mais no setor financciro leva & diminuiggo dos salarios, jé que a mais-valia no pode se origina no aumento da produtividade. A solusio liberal da educio d= salirios acelera a inflagdo, ja que, como ocorreu nos pases do Terceiro Mundo, em vez de se dirgir para 0 stor produtva, $2) ‘massa de dinheiro é desviada para setorfinanceio,intensife% do a espiral inflacionara. Em contrapartid, uma politica ris buti ae fl vos da financeiriza- iva que penalize ou limite os efeitos negatives ¢. 179 Digitalizado com CamScanner itiria diminuir 0 conflito distributivo en to das eo ot A impodit qu o dinheivo se drja ua, empresisios © or eotor financeiro. Isto $6 & possivel diminuindo o are ese setor hoje possui. Na medida em que se tor. ants dificeis as trasagoes financeiras, se liberard uma massa nem tient para inverses no stor produtvo, Semehante «ee pemitiia a iberagdo de dineiro para o aumento de sali. Oe vette outros fatores, a0 aumento da produtividade, res ae dois exemplos acima nos indicam a necessidade da in- tervengio estatal. Nao sou um apéstolo do Estado. Pelo contririo, acredito que o Estado pode ser uma coisa muito perversa ¢ que os desvios burocriticos nos custam muito caro. Estou entre 0 que consideram que o nosso objetivo altimo ¢ a diminui¢0 do peso do Estado e, inclusive, a sua desaparigao. Assim o sonhavam, até ‘bem pouco tempo, os velhos ¢ bons marxistas. A solugo nao est ‘em aumentar o peso do Estado, mas em definir uma nova inte vengio estatal radicalmente diferente da que temos conhecido até aqui em temmos de distribuigao de ingresso e politica industrial. Nio tenho dividas de que, para o bem ou para o mal, 0 mercado é revelador de necessidades. Tampouco duvido que de- ‘vamos abrir a economia e produzir de forma competitiva. E certo que devemos ter confianga no mercado, mas um mercado que seja claramente regulamentado e regulado pelo Estado. O erro de grande paste da esquerda é 0 de haver sucumbido 30 neoliberalismo, pensando que ha apenas uma saida para a cri- se. Falta imaginagdo. A esquerda respondeu a imediatez sem ter Drojetos globais de longo prazo. Nao podemos nos limitar a dizer que vamos fazer 0 mesmo que os neoliberais, sé que com um ouco mais de politica social, As solugdes democraticas que devemos apresentar derivam, Portanto, de uma nova leitura da crise, radicalmente diferente da due nos é oferecida pela corrente liberal. Chegou, novamente, 3 hora das utopias. Os grandes debates no seio da esquerda poderaio meme credibilidade politica de que ainda precisamos Vimento de um projeto alternativo. 180 Vv POS-NEOLIBERALISYO A hist6ria nao terminou Goran Therbora Creio que todos aqui estamos de acordo em qu o neces lismo pertence ao império do mal. Em varios caso, incase, podemos calcular 0 grau de maldade que ele supie, Ito é, ded. zir com os métodos das ciéneias sociais os cusos que acareta a destruigo econémica das nossas sociedades. Por exemplo, na Rissa, caloulamos que a tomada do poder por parte do regime de Boris leltsin e seus conselhcins neliberis gerou, direta ou indiretamente, 500 mil mortos em apenas dois anos E possivel chegar a esta terrivel conclusio se comparamos qua teria, sido a taxa de mortalidade na Rissia durante 0s anos 923, © tivessem mantido as taxas vigentes nos anos 89-901. E cto que esta tragéia no 6 comparivel com os custs do stlinismo. Mas, tamente, & o enorme custo social de um experimento de esturaio capitalista que se produz em condigées extemassumament vores. O desemprego de massa, que se tomou permanente nos Pa ses capitalistas avangados, tem também seus efitos morals em 8m sentido literal, Por exemplo, na Suéca, aleulamos ue ode semprego de longa duragio produziu nos anos 80 (ou 3} da crise atual) a morte de umas duzentas pessoas. Em um pas bem organizado, bastante igalitiio c que com plo =P naquela década, o desemprego permanente eve (¢ tem) a fastos que podem ser estabelecidos © medidos empincansl Estamos, portanto, dianto de um fendmeno que 1. ™es custos sociais, No entanto, como jé fizeram ™ 181 Digitalizado com CamScanner sublishar que 0 neoliberalismo no pode sep “Smpes Toucura, rem apenas a UM projeto bur. rr ck i Bm pare, cle um pouco de tudo isto, ainda Sayers exc 0 Fduconismo de al explicagio, gues Miberaismo é um projeto sério ¢ racional, uma dout. reo uma tora vinculada ¢ eforgada por ccrtos proces. aqui, é importante ie sasbroos de transformagao do capitalismo. Euma doutrina, $s mencs df, conta com ua nova dinmica tanto eno, ferenil quanto fnanccma dos mercados © da competi, Se eee pemuntarnos, enkfo, o que pode chegar a scr 9 «pisncoliberlisme”. Na minha opinido, ele no é necessaria- rete 0 socialismo, nem outra nova etapa do capitalismo. Pode- nos dizer, mais concretamente, que o pés-ncoliberalismo seri dina situagdo politica e social em que os desafios ¢ as tarefas da jas social, 08 dietas sociis e econdmicos de todos os seres yhumanos, os problemas planetirios do meio ambiente ¢ a questio da arquitetura do ambiente social estarao no centro do discurso politico. Dado que o neoliberalismo como tal é uma superestrutu- ra do capitalismo atual, 0 pés-neoliberalismo devera ser outra nova situago politica ¢ideolégica. Diante de um neoliberalismo sério necessitamos de uma es- querda séria. Os dias do populismo ficaram para tris. Na minha perspectiva, os novos desafios da esquerda podem ser reunidos em trés conjuntos de tarefas. Em primeiro lugar, necessitamos de andlises empiricas ri- gorosas sobre os novos mecanismos de acumulagdo, sobre 0s processos de mudanga cultural e de destruigao social. Hoje, mais do que nunca, sio insuficicntes as repetigdes de tcorias cldssicas. Devemios conhecer as novas formas de injustiga social e, sobretu- = cs mecansmes € os processos eoneretos que intoduzem € oduzzm 2 misria, a doenga ea violénca, paca Sos, em segundo lugar, reconhecero valor da a prone ae crencamento, ao mesmo tempo que devemos pene 4 produsdo, a administragdo e a diregéo ma- ‘ca € macropolitica. Isto é, na minha opinido, mull ‘importante para evitar a falsa idéia de que “ nia’ © ju ta 0c” pe opens Pa a de au “compattocia erie . Para evitar contrapor, por exemplo, & €S 182 problemas socias, esta tarefa € muito mas diel jeon pequeno pais como a Suécia Claro que o deaf So para voces. No entanto, ercio que a capacidade de vos, nn” mesmo tempo, maior do que a nossa. is 6, a0 A terceira tarefa de uma esquerda de e i te em desenvolver algo que pees eae consis. ampliar a sensibilidade artistica na arte politica da comanenn, de massas, Dado que este atrbuto me fala, nS0 coho meng conselhos para dar a respeito. No entanto, gostaria de delimit pelo menos, algumas diregSes nas quais teria que se expressar essa sensibilidade da arte politica. Parece-me importante que um discurso de uma esquerda do futuro, de uma esqueréa vitorosa, deve levar em conta cinco interesses ¢ foryas especificas. Em uma ordem arbitriria, estas forgas io: © A classe operiria e as classes populares em um sentido amplo. Esta sensibilidade politica tem que se expressar em um discurso classista que leve em conta as tadigées, as experiéncias ¢ os interesses dos tabalhadores e tam- bém dos trabalhadores potenciais, os dsempregados. © Por outro lado, nosso discurso tem que assumir uma orientaggo movimentista, com especial atengio para os novos movimentos sociais de tendéncias progressistas como, por exemplo, es movimentos feminists, 0s ¢¢0- ogicos e muitos outros. Sg ‘© A rigor, os dois anteriores constituem discursos i cos mais ou menos clissicos. Ao lado dels, também importante levar em conta outras dimensbes. sb & 1 progressista e que existem nas camatias médias © 20 bbém em certos setores das classes buBWEA tas dimensdes ¢ a tendéncia a uma possbilidats © dariedade individuabsta. Isto & wm com 183 Digitalizado com CamScanner ria n solidario sem a insergdo coletivista, em um ambiente Seal coletivo a longo prazo. Esta solidariedade indivi. doalista se expressou, de forma talvez. mais clara e im. portante, ma dofesa dos direitos humanos. Dedicagig Foe, em muitos casos, 6 ¢ foi individual, mas, ao mes. tho tempo, supée um tipo de individualismo que reflete certo grau de solidariedade, um individualismo solidi rio. Esta possibilidade de inéditas combinagdes de soli- dariedade e individualismo se deriva das novas estruty- ras sociais e das novas culturas emergentes as quais ja nos referimos nos debates anteriores. + Existe outro aspecto de uma abertura possivel (no ne- ccessariamente provavel, ainda que potencialmente reali- zivel) nos setores médios: 0 egolsmo racional. Isto é, tum egoismo que reconhece a irracionalidade dos custos sociais ¢ dos efeitos negativos, nfo apenas para os po- ‘bres mas também para os proprios ricos, da miséria, fal- ta de esperanga, da violéncia, da criminalidade, do medo. 0 individualismo solidério ¢ 0 egoismo racional poderdo, em alguns paises, acrescentar novas forgas a0 projeto de uma esquerda do futuro, * Por iiltimo, um discurso que aspira a hegemonia tem que dirigir-se aos interesses da nagdo, Mas a seus inte- esses, no em um sentido nacionalista e em oposi¢a0 ou em conflito com os interesses de outras nagées, Um discurso hegeménico da esquerda deve considerar que @ “nagdo” é a sociedade em sua totalidade, com sua hi tria ¢ seu horizonte cultural coletivo, Nao sei quando, mas o pés-neoliberalismo chegaré. A histé- Wo terminou, nem sequer depois do 3 de Outubro. 184 O pbs-neoliberalismo é ung etapa em Construgao Allo Borin _ Acevidéncia que surge das apresentages dos ts dias ane riores é que comegou um processo de esgotamento, pelo menos numa primeira instdncia, das experiéncas nelibemis, Tas expe. rigncias no renderam os frutos esperados, nio conseguiran re. solver os graves problemas que se instalaram nas economissca- pitalistas nos meados dos anos 70, ao mesmo tempo em gut se produziu, como bem afirmaram Anderson e Therbom, una tre- menda regressio social, expressada em um aumento importante da desigualdade ¢ da miséria. E provavel que a inércia ¢ 0 inpul- so das politicas neoliberais continuem por um tempo signifcativo ‘no mundo capitalista. De todas as maneiras, e apesar de ser pre- maturo dizer que ja entramos numa fase pos-neoliberal, cio, sim, que é importante ndo perder de vista os sintomas de gol Mento que apresenta a experincia neoliberal ¢ os obsticuss ob- Jetivos com que ela tem tropegado no mundo desenvalvido e nos paises da periferia. Eu queria comegar minhas weflexdes afimando ae 2 existe — nem existiré nunca — o triunfo final definite © capitalismo; no ha — embora assim seja proclamado plas OO logos burgueses — nenhum fim da historia. A ideia de Par 7 lismo “etemizado” é uma ilusio malicios, reve ea Tsignagio no coragdo das massas ocutando 0 ff A, talismo é um modo de produgao e, como tl, est Condenado a transitoriedade. 185 Digitalizado com CamScanner

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