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Sublimacao, reparag4o e a escolha profissional — Uma contribuigao para compreender a dindmica da vocacao a partir da psicandlise Regina Sonia Gattas Fernandes do Nascimento! A atividade profissional oferece particular satisfacdo quando livremente escolhida. (Freud, 1929) Consideramos a escolha de uma profissao um proceso bas- ‘ante complexo, no qual interferem os aspectos de um determinado contexto social e ideolégico, bem como um proceso de ordem individual. Acreditamos que ambos so igualmente importantes, porém, neste trabalho, focalizaremos apenas os de ordem indivi- dual, cuja desvinculagao é apenas para 0 propésito deste texto. O termo vocacao também é igualmente complexo. Quando afirmamos que uma pessoa tem vocacdo para ser médico ou enge- tnheiro, o que estamos dizendo com o termo? Ou quando um jovem nos procura pedindo ajuda para descobrir sua vocagdo, 0 que esté buscando? Por que, diante de uma escolha que envolve 0 abandono do lar, uns escolhem ser marinheiros, e outros, aviadores? Os conceitos vocacio ¢ profissao tém sido confundidos, embora ambos sejam bastante diversos, e de origens diferentes (do latim vocare, chamar, e professio, ocupagio habitual, modo de " Psicsloga, meer em Priclogia Sociale dorora em Psicologia Clinica pela PUCSP. Especializagioem Pcanlseno Ist Sees Sapient, Profesor assoviada 30 curso de Psicologia da PUCSP,Dietora da Clinica Poin “Ana Maria Poppoic"da PUCSP Pricloga Clinica e Orientadora Vocacional » As cages de, Freud so exraidas das Obras Completa ~ ct eferéncia bibliog: ‘raduzidas pela autora, com consulta ao Diciondrio de Psicanslise de Laplanche e Pontalis. 118 Asx positon viver). Essa confusio parece-nos consequéncia de que a voragio, © “chamado”, & um impulso, uma necessidade a ser satisfets, ‘enquanto a profissio é o que satisfaz esta necessidade. Embora essa distingo possa ser feita imediatamente, 0 cone ceito de vocagao ainda permanece complexo, pois esta “necesidade «ser satisfeita” inclui necessidades que ocorrem em diversas instin- Ja personalidad, em uma intercorrelacio dinamica, Bohoslavsky, cujo texto tem servido de referéncia para a abordagem clinica em Orientago Vocacional, separa estas neces- sidades, reservando ao termo vocagao apenas. satisfagso daquelas referentes a reparagio do objeto. E possfvel fazer esta divisio didaticamente, Contudo, acredi- tamos que o seu resultado final sejaa inter-relagao entre uma série de fatores, o que determina a solugao do conflito que leva a escolha dda profissio e a resposta a vocacio. a Entre 0s fatores que intervém neste process, podemos citar: a questio do status social que a profissio permite atingir, caracteristicas de personalidad daquele que escolhe, identificagies anteriores realizadas cm seus meios social e afetivo, seu ideal do g0, seu superego, o proprio ego e suas defesas . Esses so alguns dos aspectos (entre outros no menosimpom ill tates) que podemosassinalar como determinantes em uma scolha de profssio, Poréim, a0 que sabemos, quando alguém escolle uma carreira, pode ter claro alguns dos aspectos que o mobilizam em determinado caminho, porém, mutas vezes, anda fea obscut0 6) processo que realizou para chegar& sua escolha. Isso ged pore neste processo também ocorrem fantasia inconscientes. De um modo geral a partir de um referencil picanallieo, cncontramos na literatura algumas explicag6es para a vocagS0 pOF meio dos conecitos de sublimacSo ou reparagio,jé bastante eothe= cidos por aqueles que se dedicam & dea, CContudo, para o propésto de conhecé-os mais espeifea- mente no trabalho de Orientagio Vocacional, vamos retomilos, sistematizando-os em fungio de melhor compreender a dinfnica profunda da escolha profissional. he profil 19 Sublimacao. Retomando a conceituacao de Freud. Sublimagio, termo introduzido por Freud com o objetivo de explicar atividades artisticas e a investigagao cientifica, especifica- mente, ou, de um modo mais abrangente, os interesses intelectuais, 1 pulsio do saber e a atividade profissional. Embora esse processo rio demonstre relagio aparente com a sexualidade, a sublimagio tem sua origem na pulsio sexual e é considerada um de seus destinos. Como diz Freud (1910, p. 1586): [al observagio da vida coridiana das pessoas nos mostra que em sua maioria conseguem derivar para sua atividade profissional uma parte considerivel das forcas de suas puls6es sexuais. A pulsio sexual a presta-se bem a isto por ser suscetivel de sublimagio Em uma de suas definigGes sobre a pulsio sexual, Freud (1905, p. 1191) afirma que ela é um dos “conceitos limite entre 0 psiquico e o somético”; € aquilo que impele a uma agio. Ela pode ser decomposta em quatro elementos, a saber: a fonte, 0 objeto, a finalidade e a pressio. Com relagio a fonte, diz Freud (1915, p. 1042) que “ela se desenvolve em um drgio ou ém uma parte do corpo e € represen tada na vida psiquica pela pulsio”. O objeto € “aquilo por meio do que a pulsio pode atingir a sua finalidade”. A finalidade (meta, alvo) € uma atvidade eujo objetivo € a satisfacio da pulsio e a pressio stor motor”, ou seja, a quantidade de forga que propicia a satisfagao da pulsio. Na sublimagio, ha uma mudanga de objeto, no que diz. res- peito a satisfacao da pulsio, porém J. Laplanche (1989) nos diz que ‘ovaypecto essential éa mudanga de meta. Por meio desse processo, “a pulsio pode agir livremente a servigo do interesse intelectual” (FREUD, 1910, p. 1587). Em seu livro A sublimacao, J, © pensamento de Freud, nos mostra meiro lugar pela representacao da Pulsio ja néo é 0 que representa o sentado no psiquismo. Ela envia do por um lado oafeto, ra que isso é possiys) Pulsao no psiquismo corpo, mas aquilo que que ® levis dois dlegadon orp n resentante-af otto) Sentacio (mas desta vez na acepgdo floséhea oy "epresentanterepresentaio” (LAPLANCHE an naa a ss0 € possivel na teoria fi ome reudian: o dualismo pulsional, segundo o qual as pulsées deaueen servem de apoio aoa As pulses sexuaise te ane ise tém como suporte ener A i ag po 2 Ep Be de funcionamento em que Haaren um funcionamento nao sexual (por exemplo exualidade oral ¢ a alimentagao). Esse pros fluén eciprocas (do nao sexual ao sexual, e via i E, de acordo com Freud (1905, p. 1215): Lv] a8 mesmas vias por onde as perturbagées sexuais nas outras fungSes somaticas deveriam servir nos estados ee fangécs importantes. Por estas vias € que “altar ato das oss pubonas sexi para ai quer dizer, a sublimacio da sexualidade, Oa Se oe ea afirma J. Laplanche (1983, p. dementia relago que poderiamos chamar de uma relac eS ou ainda, o que os autores designariam por sim a say Psiquizagao”, crabalhg anaes? ui bastante sintetizado, mostra or dence enh da produ arctica e de outas atid explora, sata Freud detémse especialmente sobre eset atividades cientificas ¢ artisticas de Leonardo © primeico sentido de serene sete eta fee nos de deep Ale) 0 *Psio € do conhecimento (cf J. Laplanche, p. 25). ran eae profil 2 sabia paseando-se em uma recordacio de sua infaneia, mostrando~ profissio com aspectos profundos da -nos, assim, a relagio da personalidade. Reparagao ‘Um conceito que responde a “vocagao” Bohoslavsky (1971, p. 73), a0 definir a vocacdo, descarta 0 ‘conceito de sublimagdo ¢ considera que “as vocagées expressam responsabilidades do ego diante de ‘chamados interiores’, chamados de objetos internos prejudicados, que pedem, reclamam, exigem, impdem, sugerem etc., ser reparados pelo ego.” Para nds, reparacio € um conceito-chave para a compreensio da vocacio, porém pretendemos retom-lo, uma vez que na teoria leiniana ele ndo vem dissociado da sublimagao, como também € necesséria a introdugao do conceito de simbolizagao (que éamaneira dde explicitar a fantasia), para que o conceito fique mais completo. ‘O desenvolvimento psiquico se dé, de acordo com M. Klein, mediante a elaboragao das posigGes esquizoparanoide ¢ depressiva. ‘Além de uma série de caracteristicas, na posicao esquizopara- noide, manifestam-se a cisio do objeto (bom e mau) ¢a ansiedade persecutéria. 'A sintese dos objetos bom e mau acentua a ambivaléncia. A percepcio do sadismo e dos ataques a0 objeto bom (que entao pode ser pereebido como 0 mesmo que foi odiado) dio origem ‘a0 sentimento de culpa, que caracteriza a posi¢io depressiva. A claboragao das ansiedades desta posigio se dé por meio da capaci- dade de reparagio. Fata (a reparagio) € uma manifestagio da pulsio* de vida e © mecanismo que, por intermédio de sua tendéncia para a reconstrusio, + ML Klein uiizase dos conceitos de plato tradudos pata lingua portugues, eAontramos de vida ede more. Porém, em seus textos expresso insti referindo-se 3 garante a vitalidade no psiquismo, evita 0 sujeito serem novamente destruidos _ lente destruidos e objeto oa evando integra a orém, torna-se necessirio aqui i suas, que na cori Keiians €eeeee a objeto, send aconsequéncia ovo resultado ioe herd de Freud o conceito de sublimacio, conctcaae x destino da paleo, mas amplia este cee ‘ e a lexa e objetal, implicando. também um melee fn mntasiase um manejo complexo dos objeoes Ae M. Klein (1981, p. 255-256) afirma que etigo do obj era same lesenvolvimento do (..] todas as atividades, interesses e sublimagoes do is também concorre! m para dominar sua acute ‘© que sua forca moti Ir sua anguistia e aliviar su; nas icional consiste nfo somente em ge igressivos, mas igualmente na necessidade de Tagio ao objeto ¢ de restaurar Fem prop coro sexuais em sua integridade, 7 a 2 ieee Kleiniano de sublimacao, intimamente com 0 ce reparacio, est, portanto, ligado & posi : 2 & parantia da toralidade do objeto e do ego, “nto 4 fragmentagio e a destruigéo. E, se a sublimagao ¢ insepa > E, se a sublimacio € insepara Pulslo e cutras vezes com sentido di ss mals recentes tem. - i so verso. As eradasoes moro pars aden da paler nla tinct A tera Paste anunciadas em 1920 (Além do princtpio do pacer, tratava das pl ratava das past por Klein, Contud 1o,com o decorer dos Catia de Freud « rsp da toe Sead Cae Ge Sosam lsnaes demonstrou coma esas imerpretag fnconsciemes constiuem, com cleia’ conecidas pelo nome de fant , Nalin RD Histo psoas ne OM so rputo excl prefs elanio defende o sujeit .bém contra os impulsos destrutivos. sigdo depressiva ha a exigéncia de ‘o de fins instintivos® diretos para com 0 objeto, para objeto original e, assim, diminuir a culpa ¢ see da perda, O ego esta cada vez mais preocupado em salvar ¢ proteger 0 objeto de sta ‘agressio e possessividade, dado que na posigao depressiva 0 objeto € percebido como total. rosa inibigio das finalidades instintivas diretas — tanto agressivas quanto libidinosas ~ € 0 estimulo para a criagdo do ‘mbolo, ¢ este é na condicio ¢ o fundamento para a sublimagio. um substituto do objeto, sem qualquer mudan¢a € usado para negar a perda, mas para aurar, recriar cessidade de reparaty exuais, mas tam ‘9s impullsos 5 ‘Conforme H. Segal, na pos uma certa ini deslocar a agressio do O simbolo é, poit no afeto. © simbolo nao Tuperé-la. Ele € criado no mundo interno para rest inal novamente. |, p- 55) que “0: simbolo propriamente dito, dispontvel para a sublimacio e propiciador de desenvolvi- ‘é sentido como representando o objeto”. Por meio \¢40 com o mundo interno, com ¢ possuir 0 objeto ori Dizainda H. Segal (1991, mento do ego, do simbolo é que se dé a comuni S mundo externo e com a realidade em geral. “Quando um subs- mundo externo € utilizado como um simbolo, ele pode cet usado mais livremente do que o objeto original, jé que ele néo ‘ntifica completamente com o mesmo” (SEGAL, 1983, p. 86). Seguindo esta linha de pensamento, constatamos que o inte- esse de uma crianga (e depois de um adulto) no mundo externo {determinado por uma série de deslocamentos de afetos ¢ de interesses, do primeiro objeto para objetos sempre novos. E, assim como a atvidade da formagio de simbolos est na base da atividade Iidica, também podemos afirmar que ela esta na base do trabalho. Desta forma, a profissio escolhida pelo sujeito reflete o que 4 pessoa viveu em suas primeiras relagdes objetais, ou seja, na sua atividade profissional, um individuo reperira o seu modelo mais riruto n¢ seider © Na tradusio besa de obra de Hana Seg ncontramos “vos insinivos” ot “aWvor inwinuas, Podemos compecend-los como a “fnaliade da pls”. fundamental, semelhante 20 modelo com o qual em sua infancia estabeleceu as suas relagdes objetais. Encontramos, por meio da profissio, como se manifestam os seus objetos (perseguidores, tirfnicos, danificados ou passfs veis de restauracao). Podemos perceber também quais as defesas que 0 individuo utiliza para lidar com os objetos que Ihe causam angiistia. Por exemplo, alguns profissionais tém uma relacio muito onipotente com seus objetos; outros se relacionam com defesas do tipo obsessivo, enquanto que outros parecem viver num estado de permanente ameaca. Por outro lado, quanto mais madura for a pessoa, quanto menos ameacada ela for por seus objetos internos, quanto mais pudermos dizer que foi capaz de tolerar a ambivalkncia ea aulpa claborar o luto, tanto mais vamos encontrar escolhas profissionais saudveis, maduras. So as pessoas que provavelmente terao uma adaptagao mais tranquila as atividades objetivas e que, na sua relagio com o trabalho, esto mais livres para criar. Isso se da porque vemos que esta pessoa reflete a capacidade de reparacao, de sublimagio ¢ de simbolizacao. Tal situagio favorece-Ihe para, na profissio, manter uma distancia adequada em relagao ao objeto, ou seja, 0 objeto nao pode ficar muito pré- ximo do objeto original, porque desperta muita angéstia, e nem tio Jonge a ponto de nao trazer gratificacao (um conflito muito intenso pode gerar um deslocamento muito grande do objeto ori- ginal ¢, por isso, dificulrar uma relacao de objeto que permita a sgratificacao afetiva), Desta forma, nao existem profissées que representam mais ou menos a capacidade de uma pessoa reparar. Essa capacidade vamos encontrar na maneira com que o individuo se vincula a sua atividade, Niio pensamos que 0s profissionais que escolhem “aliviar 0 sofrimento dos outros” por meio de atividades como a medicina, a psicologia, o servigo social etc. estejam reparando ¢ restaurando mais 0s objetos danificados do que, por exemplo, um professor de ‘matemética. Afinal, os primeiros podem estar exercendo a reparagdo o nparto oo he pecan 125 por intermédio de sua atividade, mas também podem estar vincu- lados a cla de um modo onipotente e triunfante, enquanto que 0 professor de matemética pode estar ajudando criancas a “resolver problema: Isso me leva a dizer que nao podemos generalizar como uni- versais explicagies a respeito de determinadas escolhas.. Nio € possivel, portanto, responder facilmente por que 0 individuo escolhe a marinha ou a aerondutica, sem compreen- dermos qual o significado que essas atividades tém para ele, além da compreensio do que representa 0 mar, ar, 0 navio ¢ 0 avido. Acredito que por meio da profissio podemos expressar de ingimeras maneiras a reparagio, ou o modelo das nossas primeiras relagdes de objeto e todas as fantasias inconscientes relacionadas, them como todas as defesas envolvidas nesse processo. A atividade profissional pela qual vai explicitar-se esse processo depende de cias objetivas de vida nos seus meios afetivo, social e his- t6rico, como também do processo de simbolizacdo que ocorreu experi em cada pessoa, Como diz Freud (1905, p. 1225), “encontrar 0 objeto é, de fato, reencontré-lo.” Algumas consideragdes Uma confusao frequente Na pritica de Orientagao Vocacional, devemos ter em mente que nem sempre é possivel pretendermos fazer um trabalho que itando a claborar a sua escolha a este nivel de profun- didade, o que € um processo complexo ¢ tomaria muito mais tempo do que dispomos para esta atividade, Tivemos a oportunidade de nos aproximar destas questoes, de forma mais profunda, em psicoterapias de pessoas que, dado o grau de ansiedade frente 4 escolha, ndo estavam conseguindo desempenhar adequadamente suas ocupagées, ou m que se encontravam desadaptadas nas atividades que ex Porém, acreditamos que este referencial re6rico nos processos de Orientagdo Vocacional para preensio dos conflicos dos orientandos e, desta forma, resolugio dests. ‘outro exemplo, uma pessoa que apresentou uma dif pode optar por uma carreira na qual a fala ou as palavras ponto central, como a fonoaudiologia, entre outras. ‘essa relagio nao € obrigatéria. Essa confusio acontece por haver uma tendéncia: meio da escolha profissional, uma integrago da propria € 0 ponto considerado falho pode rornar-se a representa escolha como esta pode apenas refletir uma negagao da: por exemplo. Dificuldades na reparacio E importante também salientar que nem sempre € poss fazer uma escolha saudavel, madura, “reparat6ria”. Os empé desta tendéncia podem ser tanto de ordem interna, quanto: ‘Com relagio aos impedimentos internos, podemos no caso de uma pessoa melancélica, que em sua ocupagio: estar reproduzindo um modelo de relagao de objeto no qual salienta o movimento destrutivo, ¢ em sua atividade poderd constantemente com o sentimento de ndo conseguir nunca etm repro che poisons a os seus objetivos profissionais, ou seja, a reparagio dos objeros internos danificados, que estdo representados no objeto de sua cocupagio. Ao mesmo tempo em que notamos em pessoas como esta um processo de escolha que tende & reparacio, vemos esta possibilidade truncada por sua dinamica interna. Uma outra dificuldade na escolha, com a qual jé deparamos em nossa pritica profissional, refere-se a pessoas que buscam determinadas profissdes que representem 0 seu desejo, que tenham um maior significado afetivo indiquem uma tendéncia 3 reparagio, mas que, no momento da escolha, se definem por uma profissio mais meutra, como no caso de Roberto e Patricia, alegando algumas vezes a ndo aceitagio de sua op¢io por parte de scus familiares, como fez Roberto. Aqui percebemos que essa alcgagio indica a propria dinamica interna do rapaz, cujo superego impedia que realizasse a sua escolha, por esta representar a sua relagio edipica e, por isso, haver necessidade de uma interdigio. No caso de Patricia, ficou evidente que sua escolha indicava uma identidade com sua me, porém, a0 mesmo tempo, uma relagio cde muita rivalidade. Por outro lado, temos problemas das esferas econdmica € social como grandes entraves para que a pessoa faca escolhas. A necessidade de sobrevivéncia e a estrutura social impedem muitas vezes que uma pessoa possa encaminhar-se para uma profissio que represente 0 seu desejo, ou, entio, podem direcionar o individuo para determinados caminhos que nio sio de sua livre escolha, ou seia, escolher apenas aquilo que podem escolher. Contudo, acredi- ramos que € dentro deste contexto que acontece ou nio.a reparagio. E evidente que, para tal acontecer, & necessirio que o individuo tenha alguma liberdade de escolha no plano social e um ego bem integrado, com capacidade de claborar os lutos, tolerar a dor, a ambivaléncia e a culpa a fim de enfrentar os problemas de ordens interna ¢ externa, para que possa ter maior liberdade e autonomia na escolha de sua profissio. Um processo de Orientagao Vocacional it A titulo de ilustracio, citaremos um caso at em processo individual de Orientacso Vocacional. Um jovem de dezenove anos, Carlos, procur coragem. Jé havia, entZo, por conta propria, prestado o ves para Psicologia. Interrompeu este curso no final do semestre por no estar satisfeito. Nas entrevistas iniciais, tatado que tinha muita ansiedade para cursar as aulas d do podia pensar em ver as pecas fragmentadas de: Apés a constatacio dessa dificuldade e realizada al sfvel destes elementos, 0 jovem pensou em estudar que também fazia parte da rea de Biol6gicas. mudar de cidade para frequentar este curso, € novamer incapacitado, desta vez por ter de se separar de sua ponto do processo, j4 estava bastante clara an process terapéutico. Entretanto, nao seria sandavel p ficar parado até resolver suas dificuldades de ordem: ara poder ir 20 encontro de seu desejo. : _amigos jé estavam todos na faculdade, bem como seu dois anos mais novo, jd estava preparando-se para 0 ves que lhe fazia sentir-se inferiorizado. uma ansiedade paralisante. Notamos a presenca d reparatéria por meio da escolha da Medicina. Af ta vam representados os objetos fragmentados, sadismo (0s objetos que “chamam” para a reparagio). sendo posstvel a restauracao desses objetos, apesar de set sentindo-se esse jovem ameacado por uma ansiedade pe t6ria. Tal ansiedade parecia estar mais intensa pelo cee pe els hal a sbicto da escolha ndo se encontrar suficientemente distanciado, mediante 0 processo de simbolizacso. Quando Carlos faz a escolhia por Agronomia, vemos a mani- festacdo predominante de sua pulszo de vida, 0 que foi aponcado tno processo de OrientacZo Vocacional. Mas esse trabalho, como use, ndo teve tempo suficiente de elaboracio, e aqui a ansiedade fica focalizada na separacao da famifia. Finalizando o processo, ojovem opta por Informatica, curso que evenmalmente no le trariaa gratficacso descjads, pos parccia uma solugio “neutra”, na qual nao estava representado 0 objeto da ‘ansiedade, porém também no a tendéncia para a reparaco. Nao podemos chamar de uma escolha aurénoma, pois este eg0 nao possai « liberdade para ir a0 encontro do objeto de seu desejo. Conrado, propiciou uma adaptagio de Carlos frente as dificuldades que vinha sivendo. Ao mesmo tempo, foi encaminhado a uma psicoterspia para resolver seus conflitos e suas ansicdades. Bo Aevterefenioreai Referéncias BARANGER, W. Posied e objeto na obra de Melanie Klein, Porto Alegre: Artes Médicas, 1981 BOHOSLAVSKY, R. Orientacdo Vocacional ~ a estratégica clinica. Sto Paulo: Martins Fonte, 1977. Enrce a encruithada eos eaminhos.In:__. (Org). Voacio- nals eatin nica ¢ ideologia. So Paulo: Cortez, 1983. CCUELI, J. Vocacion y Afectos. México: Limusa Wiley, 1973, FREUD, 5. (1905) Tres ensayos para una teoria sexual In: ___. Obras Complets, Tomo Il. Madrid: Ecitoril Biblioteca Nueva, 1981, . (1910) Un recuerdo infantil de Leonardo da Vinci Ins Obras Completa, Tom Il, Madrid: Editorial Biblioteca Nueva, 1981 (1915) Losinstinos y sus destinos In: _. 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