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Uma Análise Bibliométrica e Sistêmica Sobre o Transporte de Cargas No Contexto de Planejamento Urbano
Uma Análise Bibliométrica e Sistêmica Sobre o Transporte de Cargas No Contexto de Planejamento Urbano
RESUMO
A mobilidade urbana discute atributos importantes nas cidades, dentre eles o deslocamento de pessoas e bens no
espaço urbano. A partir do estudo da mobilidade urbana , as cidades podem diagnosticar problemas e sugerir
possíveis soluções para melhor fluidez do movimento na cidade. O transporte de cargas desempenha papel
importante na economia, porém muitas vezes é colocado em segundo plano com a priorização do transporte de
pessoas. Este artigo tem objetivo de analisar o comportamento dessa temática e identif icar as medidas adotadas
em relação ao transporte urbano de cargas no contexto do planejamento de mobilidade urbana, por meio de revisões
de artigos em base de dados internacionais da Web of Science e da análise das publicações de forma bibliométrica
e sistêmica. Como principal resultado, encontrou-se a importância do diálogo entre setor público e privado com o
objetivo de desenvolver as necessidades deste modo de transporte.
ABSTRACT
Urban mobility discusses important attributes in cities, including the displacement of people and goods in urban
space. From the study of urban mobility, cities can diagnose problems and suggest possible solutions for a better
fluidity of movement in the city. Cargo transport plays an important role in the economy, but it is often put aside
with the prioritization of people transport. This article aims to analyze the behavior of this theme and identify the
measures adopted in relation to urban freight transport in the context of urban mobility planning, through reviews
of articles in an international database of the Web of Science, analyzing the publications of bibliometric and
systemic form. As a main result, it was verified the importance of dialogue between the public and private sector
to develop this mode of transport as a necessity.
1. INTRODUÇÃO
De acordo com a Lei nº 12.587/2012, no Brasil, municípios com mais de 20.000 habitantes
devem elaborar seu plano de mobilidade urbana com o objetivo de planejar e melhorar a fluidez
no transporte de passageiros e cargas. Dados apresentados pelo Ministério do Desenvolvimento
Regional listam um total de 1875 municípios brasileiros que possuem esta obrigação (BRASIL,
2012).
A Política Nacional de Mobilidade Urbana – PNMU, no seu art. 24, lista um conjunto de
elementos a serem contemplados nos Planos de Mobilidade Urbana. Minimamente, os planos
devem constar sobre: o transporte público coletivo; via e as infraestruturas do sistema de
mobilidade urbana, a acessibilidade para pessoas com deficiência e restrição de mobilidade; a
integração dos modos, a operação e a disposição do transporte de carga na infraestrutura viária;
os polos geradores de viagens; as áreas de estacionamentos; as áreas e os horários de acesso e
circulação restrita ou controlada; os instrumentos de financiamento do transporte público
coletivo e da infraestrutura de mobilidade urbana e a sistemática de avaliação, revisão e
atualização periódica do Plano de Mobilidade Urbana em prazo não superior a dez anos
(BRASIL, 2012).
Para tanto, utilizou-se de cinco seções para organização deste artigo, sendo a Seção 1
introdutória, a Seção 2 expõe as análises bibliométricas acerca do assunto, seguida da Seção 3
com a análise sistêmica das publicações e a Seção 4 sobre os resultados encontrados e, por fim,
a Seção 5 com as considerações finais.
Com isso, para atingir o objetivo deste trabalho, foi realizada a combinação de pesquisa
bibliométrica e sistêmica acerca do tema de estudo. A pesquisa em base de dados da Web of
Science iniciou-se em 20 de junho de 2022, para a combinação da dupla de palavras chaves:
urban mobilility x freight transportation, sem delimitação temporal de busca para estas
palavras, que resultou em um escopo com um total de 115 artigos. Utilizou-se como auxílio o
programa Excel® para organização dos dados dos trabalhos encontrados.
40
35
Nº de publicações
30
25
20
15
10
5
0
1998
2003
2007
2008
2009
2010
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
2022
Ano
No quesito relevância por número de citações, dois trabalhos se destacam com 278 e 111 vezes
citados por outros trabalhos. Os trabalhos datam de 2007 e 2014 respectivamente, e trazem
relevância na seguinte abordagem: a ineficiência no planejamento urbano logístico das cidades
frente ao crescente consumo das pessoas e sobre o compartilhamento de táxis para o transporte
das pessoas ao mesmo tempo que a entrega d e cargas. Observa-se que existem maneiras
diferentes de abordagem dos temas, porém atualmente, ainda de grande valor.
Observa-se que nos 9 periódicos listados estão contidos mais de 55% da amostra total dos
artigos, sendo cerca de 29% concentrados em periódicos com fator de impacto maior que 6.6.
Em geral, nota-se que existe relevância nos trabalhos publicados já que estão inseridos em
periódicos com fator de impacto relevante.
Para a análise sistêmica das publicações utilizou-se como recurso de seleção para a leitura
completa dos artigos, os 10 trabalhos que receberam maior número de citação ao longo dos
anos, justifica-se essa escolha pela relevância do que os autores publicaram em referência aos
trabalhos atuais. O objetivo dessa revisão é encontrar nessa seleção, trabalhos alinhados com o
objetivo deste artigo, ou seja, identificar as principais medidas de solução apresentadas para o
transporte de carga no contexto de planejamento urbano. Além disso, olhou-se para os trabalhos
de maneira a identificar as principais formas de abordagem dos autores, seja por estudos de
caso, modelagem matemática ou outros recursos.
Dablanc 2007, Li et al. (2014), Mehmood et al. (2017) acreditam que investimentos devem ser
feitos para o planejamento logístico urbano de carga e há necessidade em trabalhar o
deslocamento de pessoas e bens de maneira integrada. Para Li et al. (2014) e Mehmood et al.
(2017) a falta de informações em tempo real e o aumento da complexidade do planejamento
devido a esta combinação estão entre as principais razões para a ausência de projetos eficientes
para esta modalidade de transporte.
Dablanc 2007 trata em seu trabalho sobre as características dos movimentos urbanos de
mercadorias nas principais cidades europeias. Segundo a autora, esses movimentos são
amplamente indiferentes à estrutura interna das cidades, onde as políticas urbanas voltadas para
a mobilidade de mercadorias parecem ser bastante ineficientes. Com isso, a autora conclui que
oferta de serviços logísticos urbanos adequados é lenta, apesar das necessidades crescentes. De
acordo com sua afirmação, a grande maioria das cidades ainda não encontrou soluções
adequadas para ajudar a otimizar os movimentos urbanos de mercadorias, porém cidades como
Bordeaux e La Rochelle na França, desenvolveram alguns modelos bem-sucedidos, porém de
alto custo. Bordeaux utiliza o estacionamento na rua para acomodar os motoristas de caminhão
de entrega com serviços adicionais, já La Rochelle utiliza um terminal de carga de uso
compartilhado, usando veículos elétricos de entrega. Acredita-se que a única política que as
cidades continuarão a adotar é apertar restrições de acesso de caminhões, desconsiderando uma
gestão de cargas urbanas mais global e inovadora. Na fala da autora, comprova-se a ausência
de maior dedicação das autoridades públicas em gestão para resolver problemas antigos
referentes a carga e descarga, circulação de veículos de carga, entre outros.
Li et al. (2014) demostram a utilização de forma integrada pelo táxi, o movimento de pessoas
e encomendas. A partir de solução de problemas e construção de cenários por modelagem
matemática, os autores acreditam em ganho para as cidades e para as empresas. Corroborando
com essa ideia Mehmood et al. (2017) identificam o contexto da cidade inteligente que trazem
benefícios tanto para o governo, por exemplo, no planejamento urbano, quanto para as
empresas, por exemplo, publicidade localizada e roteamento otimizado. No ponto de vista da
cidade, o sistema oferece potencial para aliviar o congestionamento urbano e a poluição
ambiental. Do ponto de vista empresarial, significa novos benefícios do serviço de entrega de
encomendas.
Perboli e Rosano (2019), Taefi et al. (2016), Waisman, Guivarch e Lecocq (2013), Melo e
Baptista (2017), Behiri et al. (2018) e Ayyildiz et al. (2017) abordam sobre problemas e
questões ambientais ligadas a distribuição de cargas. Perboli e Rosano (2019) acreditam que a
indústria é afetada por vários problemas, ineficiências e externalidades, principalmente no
segmento de última milha. Com isso, existe a exploração da consciência emergente na
necessidade de melhorar a mobilidade urbana e o transporte, tornando-os mais sustentáveis e
competitivos, com a utilização de tecnologias tradicionais e emergentes. Os autores destacam
o impacto da adoção de veículos verdes, como veículos elétricos e bicicletas, como parte do
campo da logística da cidade.
Taefi et al. (2016) também discutem sobre a inserção e apoio sobre veículos elétricos (VEs) na
Alemanha. De acordo com os autores, o incentivo a utilização desses veículos é apenas de cunho
pontual, como medidas de incentivo fiscais. Outras iniciativas são abordadas por outros autores
e consideradas importantes para que seja ampliada a utilização desse tipo de veículo como:
reservar vagas de estacionamento na rua para VEs; isenção de pedágio para VEs; permitir que
VEs circulem em faixas de ônibus/táxi), entre outras. Mas ainda segundo a visão dos autores,
as políticas em mobilidade elétrica apresentadas no artigo, tende a concentrar em alcançar uma
compreensão diferenciada do efeito estimado, eficiência e viabilidade das medidas. O incentivo
de utilização de veículos de combustível alterativo representa ganhos significativos na redução
de emissão de gases do efeito estufa (Waisman, Guivarch, e Lecocq, 2013).
Melo e Baptista (2017) falam sobre bicicletas de carga. As autoras avaliam os impactos das
bicicletas elétricas de carga de uma perspectiva de política pública e, simultaneamente,
analisam as variáveis que cobrem os interesses dos operadores logísticos urbanos. Na política
pública, avalia-se a mobilidade, os impactos ambientais e, indiretamente, a qualidade de vida.
Já nos interesses privados, avalia-se os níveis de custos (operação e condução) e eficiência. Os
resultados quanto a emissão e a eficiência operacional testados para a cidade do Porto mostra
que as bicicletas de carga podem substituir até 10% das vans convencionais em áreas com
distâncias lineares de cerca de 2 km, sem alterar a eficiência da rede.
Behiri et al. (2018) assim como Li et al. (2014), abordam uma alternativa de transporte urbano
de cargas ecologicamente correta, porém Behiri et al. (2018) sugerem a utilização da
infraestrutura ferroviária de passageiros de Paris. Os autores afirmam ser uma ideia com
potencial na Europa, pois significa ganhos nos aspectos ecológicos e nos benefícios
socioeconômicos. A inclusão de outros veículos como ônibus ou automóveis elétricos podem
auxiliar a rede de abastecimento. O modelo criado pelos autores permite um melhor
entendimento sobre sistema, com foco no impacto nas decisões sobre vários componentes
centrais do sistema de transporte e para avaliar o benefício para as transportadoras de oferecer
tais serviços.
Ayyildiz et al. (2017) tratam sobre a emissão de gases de efeito estufa causados pelo transporte
de mercadorias. O principal tópico de discussão é de como reduzir a contribuição sem limitar a
quantidade de mercadorias distribuídas, já que o aprimoramento tecnológico de veículos e
combustíveis alternativos é apenas uma solução parcial. Os autores defendem a necessidade de
outras medidas integrativas como a eco condução que representa uma opção que abrange
estratégias, táticas e decisões operacionais e oferece sugestões aos motoristas. O trabalho dos
autores baseou-se em um teste de 15 veículos comerciais pesados e 10 comerciais leves,
monitorados em 5.200 viagens. O resultado gerou dado interessante quanto a redução do
consumo unitário de combustível para veículos pesados em 5,5%.
4. RESULTADOS
Com as análises realizadas na Seção 2 e 3 foi possível analisar o comportamento das
publicações de maneira quantitativa e qualitativa. Buscou-se extrair dessas informações a forma
de abordagem, as principais contribuições, as medidas adotadas para a solução da problemática
exposta em cada trabalho e as possíveis lacunas para trabalhos futuros. A Tabela 3 representa
o resumo desses resultados.
Observou-se no geral, que os artigos analisados apresentam discussões variadas sobre o tema
do transporte de cargas urbano. Porém, houve um consenso claro na pouca abordagem de alguns
assuntos de discussão para o planejamento de infraestrutura e outros equipamentos logísticos
que apoiem o transporte de cargas. Constatou-se uma preocupação atual e pertinente quanto as
mudanças climáticas, sendo esta, um assunto representado em 6 dos 10 artigos analisados.
Ainda assim, foram encontradas explorações de valor que podem ser incluídas nos planos de
mobilidade urbana referente a abordagem do transporte de cargas. Destinação de áreas de
estacionamentos, políticas de direção, transporte de última milha, integração de modos de
transporte para entrega de produtos, necessidade de diálogo entre os setores público-privado,
utilização de dados para prospecção de cenários a partir de simulação e modelagens
matemáticas, incentivo de veículos menos poluentes entre outros, são características inerentes
ao planejamento urbano de cargas no contexto atual.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para efeito dos resultados encontrados é importante mencionar que a constante inclusão de
novos trabalhos, bem como a citação deles estão em constante processo de alteração. Os
resultados encontrados compreendem a pesquisa temporal realizada de artigos no período
mencionado na base da Web of Science. Outra característica importante é a utilização das duplas
de palavras-chave utilizada, a inclusão de novos pares pode alterar os resultados e aumentar o
escopo trazendo maior expressividade a amostra, por isso indica-se a utilização de mais duplas
de palavras nas rodadas, com a eliminação dos trabalhos em duplicidade.
Para efeito da tendência de soluções dos problemas desta temática, ainda se observa a tendência
de soluções por restrições de veículos de carga em vias por determinados horários. Para os
artigos analisados, comprova-se a necessidade de pensamento de forma conjunta entre os
participes públicos e privados a fim de analisar as melhores soluções para o planejamento
urbano, como definição de acessos, áreas para carga e descarga e outros equipamentos que
possam auxiliar as operações deste tipo de transporte.
Entende-se que o objetivo traçado para este artigo foi alcançado, encontrou-se nas publicações
selecionadas informações de valor e possíveis lacunas de trabalho. Como sugestão de trabalhos
futuros, indica-se realizar busca de trabalhos para novos pares de palavras-chave com o objetivo
de aumentar o escopo de trabalhos analisados. Indica-se ainda, que seja feita a busca por planos
de mobilidade consolidados nos países com maior expressividade nessas publicações, a saber:
Inglaterra, Estados Unidos, Suíça e Holanda, devido ao número de publicações pode-se haver
nesses locais casos de planejamento de sucesso relacionado a temática.
Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com apoio Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) - Código de Financiamento 001 e do Hub de Planejamento Inteligente da Mobilidade do Estado do R io
De Janeiro - MOB 4.0 (COPPE/UFRJ).
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