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UMA ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA E SISTÊMICA SOBRE O TRANSPORTE DE

CARGAS NO CONTEXTO DE PLANEJAMENTO URBANO

Isabella Mayara Abreu da Hora


Isabella Martins de Almeida
Matheus H. de Souza Oliveira
Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro

RESUMO
A mobilidade urbana discute atributos importantes nas cidades, dentre eles o deslocamento de pessoas e bens no
espaço urbano. A partir do estudo da mobilidade urbana , as cidades podem diagnosticar problemas e sugerir
possíveis soluções para melhor fluidez do movimento na cidade. O transporte de cargas desempenha papel
importante na economia, porém muitas vezes é colocado em segundo plano com a priorização do transporte de
pessoas. Este artigo tem objetivo de analisar o comportamento dessa temática e identif icar as medidas adotadas
em relação ao transporte urbano de cargas no contexto do planejamento de mobilidade urbana, por meio de revisões
de artigos em base de dados internacionais da Web of Science e da análise das publicações de forma bibliométrica
e sistêmica. Como principal resultado, encontrou-se a importância do diálogo entre setor público e privado com o
objetivo de desenvolver as necessidades deste modo de transporte.

ABSTRACT
Urban mobility discusses important attributes in cities, including the displacement of people and goods in urban
space. From the study of urban mobility, cities can diagnose problems and suggest possible solutions for a better
fluidity of movement in the city. Cargo transport plays an important role in the economy, but it is often put aside
with the prioritization of people transport. This article aims to analyze the behavior of this theme and identify the
measures adopted in relation to urban freight transport in the context of urban mobility planning, through reviews
of articles in an international database of the Web of Science, analyzing the publications of bibliometric and
systemic form. As a main result, it was verified the importance of dialogue between the public and private sector
to develop this mode of transport as a necessity.

1. INTRODUÇÃO
De acordo com a Lei nº 12.587/2012, no Brasil, municípios com mais de 20.000 habitantes
devem elaborar seu plano de mobilidade urbana com o objetivo de planejar e melhorar a fluidez
no transporte de passageiros e cargas. Dados apresentados pelo Ministério do Desenvolvimento
Regional listam um total de 1875 municípios brasileiros que possuem esta obrigação (BRASIL,
2012).

A Política Nacional de Mobilidade Urbana – PNMU, no seu art. 24, lista um conjunto de
elementos a serem contemplados nos Planos de Mobilidade Urbana. Minimamente, os planos
devem constar sobre: o transporte público coletivo; via e as infraestruturas do sistema de
mobilidade urbana, a acessibilidade para pessoas com deficiência e restrição de mobilidade; a
integração dos modos, a operação e a disposição do transporte de carga na infraestrutura viária;
os polos geradores de viagens; as áreas de estacionamentos; as áreas e os horários de acesso e
circulação restrita ou controlada; os instrumentos de financiamento do transporte público
coletivo e da infraestrutura de mobilidade urbana e a sistemática de avaliação, revisão e
atualização periódica do Plano de Mobilidade Urbana em prazo não superior a dez anos
(BRASIL, 2012).

No âmbito internacional as políticas sobre a mobilidade urbana contemplam aspectos


semelhantes as definições brasileiras, abordam discussões sobre a organização do espaço
urbano para a melhor fluidez das pessoas e cargas. Já nos trabalhos científicos, nota-se o
comportamento de estudos para mudanças climáticas e identificação de veículos alternativos
para o transporte de cargas.

Indiscutivelmente a mobilidade nas cidades é fator preponderante na qualidade de vida dos


cidadãos, sendo a configuração do modelo de circulação de pessoas e cargas aspecto relevante
para o desenvolvimento econômico do país, pois dele dependem a logística de distribuição de
produtos, a saúde e a produtividade de sua população. Sendo assim, este artigo tem como
objetivo analisar o comportamento dessa temática e identificar as medidas adotadas em relação
ao transporte urbano de cargas no contexto do planejamento de mobilidade urbana, por meio
de revisões de artigos em base de dados internacionais da Web of Science e da análise das
publicações de forma bibliométrica e sistêmica.

Para tanto, utilizou-se de cinco seções para organização deste artigo, sendo a Seção 1
introdutória, a Seção 2 expõe as análises bibliométricas acerca do assunto, seguida da Seção 3
com a análise sistêmica das publicações e a Seção 4 sobre os resultados encontrados e, por fim,
a Seção 5 com as considerações finais.

2. ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA DAS PUBLICAÇÕES


A análise bibliométrica é apontada por Su e Lee (2010) como uma técnica de análise de
comportamento das publicações de maneira quantitativa, o que permite a visualização de dados
sobre o avanço da temática em um determinado espaço temporal e possíveis lacunas de
pesquisa, de potenciais formas de abordagem e de revistas para publicação.

Com isso, para atingir o objetivo deste trabalho, foi realizada a combinação de pesquisa
bibliométrica e sistêmica acerca do tema de estudo. A pesquisa em base de dados da Web of
Science iniciou-se em 20 de junho de 2022, para a combinação da dupla de palavras chaves:
urban mobilility x freight transportation, sem delimitação temporal de busca para estas
palavras, que resultou em um escopo com um total de 115 artigos. Utilizou-se como auxílio o
programa Excel® para organização dos dados dos trabalhos encontrados.

Notou-se primeiramente a atualidade das publicações, apesar do trabalho intitulado “Urban


freight mobility - Collection of data on time, costs, and barriers related to moving product into
the central business district” de Morris, A.; Kornhauser, A.L e Kay, M.J. receber destaque entre
o escopo, pois seu ano de publicação datou de 1998. O trabalho em questão traz uma discussão
atual sobre a necessidade de entregas no tempo certo e o congestionamento urbano. Além disso
os autores trouxeram para discussão a utilização de dados para estudo do custo x tempo das
entregas e sobre a dificuldade de obter alguns dados dos setores privados, além disso, o trabalho
desenvolve uma temática pela perspectiva dos problemas identificados por empresas que
precisam transportar produtos pela cidade.
Após essa constatação, o aumento das publicações concentrou-se entre 2017 e 2021,
comprovou-se que a discussão é relevante para os dias atuais. A Figura 1, mostra no gráfico
abaixo a relação entre número de publicações ao decorrer dos anos.

40
35
Nº de publicações

30
25
20
15
10
5
0
1998
2003
2007
2008
2009
2010
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
2022
Ano

Figura 1: Quantidade de Publicações por Ano

No quesito relevância por número de citações, dois trabalhos se destacam com 278 e 111 vezes
citados por outros trabalhos. Os trabalhos datam de 2007 e 2014 respectivamente, e trazem
relevância na seguinte abordagem: a ineficiência no planejamento urbano logístico das cidades
frente ao crescente consumo das pessoas e sobre o compartilhamento de táxis para o transporte
das pessoas ao mesmo tempo que a entrega d e cargas. Observa-se que existem maneiras
diferentes de abordagem dos temas, porém atualmente, ainda de grande valor.

A Figura 2 representa a nuvem de palavras-chave com as palavras de maior representatividade


nos trabalhos do escopo.

Figura 2: Nuvem de Palavras-Chave do Escopo

Do ponto de vista geográfico, observou-se que as publicações se concentram no continente


Europeu, sendo a Inglaterra (57 publicações) o país com maior número de estudos publicados
sobre a temática, e em seguida, os Estados Unidos (23 publicações) na segunda posição. No
escopo e busca de palavras na base mencionada, o Brasil aparece apenas com 2 publicações, o
que leva a refletir sobre a importância de novos estudos sobre o tema em países em
desenvolvimento, já que as cargas desempenham importante funções nas relações comerciais e
econômicas de um país. A Figura 3 ilustra a produção científica nos países.

Figura 3: Produções Cientificas ao Redor do Mundo Sobre a Temática

Da relevância dos periódicos, observou-se que as 115 publicações estavam divididas em um


total de 51 revistas e da amostra apenas 17,65% eram periódicos que possuíam mais de 3
publicações. A Tabela 1 representa esses periódicos com mais de 3 publicações e sua respectiva
relevância medida pelo fator de impacto.

Tabela 1: Indicação dos Periódicos Junto ao seu Fator de Impacto


Quantidade de Fator de
Periódicos ISSN
publicações Impacto
TRANSPORTATION RESEARCH RECORD 0361-1981 12 2.019
RESEARCH IN TRANSPORTATION ECONOMICS 0739-8859 10 2.904
SUSTAINABILITY-BASEL 2071-1050 9 3.889
TRANSPORTATION RESEARCH PART A-POLICY AND
PRACTICE 0965-8564 9 6.615
TRANSPORTATION RESEARCH PART D-TRANSPOR T
AND ENVIRONMENT 1361-9209 8 7.041
RESEARCH IN TRANSPORTATION BUSINESS AND
MANAGEMENT 2210-5395 6 4.286
TRANSPORTATION RESEARCH PART E-LOGISTIC S
AND TRANSPORTATION REVIEW 1366-5545 5 10.047
INTERNATIONAL JOURNAL OF PRODUCTI ON
RESEARCH 0020-7543 3 9.018
SUSTAINABLE CITIES AND SOCIETY 2210-6707 3 10.696

Observa-se que nos 9 periódicos listados estão contidos mais de 55% da amostra total dos
artigos, sendo cerca de 29% concentrados em periódicos com fator de impacto maior que 6.6.
Em geral, nota-se que existe relevância nos trabalhos publicados já que estão inseridos em
periódicos com fator de impacto relevante.

3. ANÁLISE SISTÊMICA DAS PUBLICAÇÕES


Como complemento a primeira análise realizada, buscou-se compreender o conteúdo dos
artigos por meio da revisão sistêmica. Essa revisão permite identificar informações relevantes
nesses trabalhos e possíveis lacunas para trabalhos futuros sobre a temática.

Para a análise sistêmica das publicações utilizou-se como recurso de seleção para a leitura
completa dos artigos, os 10 trabalhos que receberam maior número de citação ao longo dos
anos, justifica-se essa escolha pela relevância do que os autores publicaram em referência aos
trabalhos atuais. O objetivo dessa revisão é encontrar nessa seleção, trabalhos alinhados com o
objetivo deste artigo, ou seja, identificar as principais medidas de solução apresentadas para o
transporte de carga no contexto de planejamento urbano. Além disso, olhou-se para os trabalhos
de maneira a identificar as principais formas de abordagem dos autores, seja por estudos de
caso, modelagem matemática ou outros recursos.

O transporte de cargas desempenha a função de entrega de mercadorias e no desenvolvimento


econômico e social das cidades (Perboli, e Mariangela (2019); Weltevreden e Rotem-Mindali
(2009); Dablanc (2007)). Dias et al. 2018 afirmam sobre a ausência de estudos sobre o
transporte de carga e a lacuna existente sobre a temática. Para os autores, a forte presença das
restrições ainda são soluções adotadas pelos municípios. Os resultados apontam que não
existem profissionais com experiência em assuntos relacionados ao transporte de cargas nas
elaborações dos planos de mobilidade. A forte presença das restrições adotadas como solução,
reforça a problemática de cidades pequenas necessitarem de maior planejamento para as
operações. Outro ponto de vista trata sobre a ausência de dados para análise e conhecimento do
problema e para uma geração de solução viável para as cidades. Eisele et al. 2013 trazem um
dado interessante em seu trabalho sobre a diferença entre o comportamento dos diferentes tipos
de transporte, os autores afirmam que transportes do tipo comercial leva cerca de 6% a mais de
tempo de locomoção do que os outros tipos de veículos.

A Tabela 2 apresenta a listagem dos 10 trabalhos selecionados, seus respectivos autores e


periódicos de publicação

Tabela 2: Escopo de Seleção de Trabalhos para a Revisão Sistêmica

ITEM AUTORES ANO TÍTULO PERIÓDICO

Goods transport in large TRANSPORTATION


1 Dablanc, L 2007 European cities: Difficult to RESEARCH PART A-POLIC Y
organize, difficult to modernize AND PRACTICE
Li, BX; Krushinsky,
The Share-a-Ride Problem: EUROPEAN JOURNAL OF
2 D; Reijers, HA; Van 2014
People and parcels sharing taxis OPERATIONAL RESEARCH
Woensel, T
Mehmood, R; Exploring the influence of big INTERNATIONAL JOURNAL
3 Meriton, R; Graham, 2017 data on city transport OF OPERATIONS &
G; Hennelly, P; operations: a Markovian PRODUCTION
Kumar, M approach MANAGEMENT

Weltevreden, JWJ; Mobility effects of b2c and c2c JOURNAL OF TRANSPOR T


4 2009 e-commerce in the Netherlands:
Rotem-Mindali, O GEOGRAPHY
a quantitative assessment
Parcel delivery in urban areas:
TRANSPORTATION
Perboli, G; Rosano, Opportunities and threats for the
5 2019 RESEARCH PART C-
M mix of traditional and green
EMERGING TECHNOLOGIES
business models
Supporting the adoption of
Taefi, TT; electric vehicles in urban road TRANSPORTATION
6 Kreutzfeldt, J; Held, 2016 freight transport - A multi- RESEARCH PART A-POLIC Y
T; Fink, A criteria analysis of policy AND PRACTICE
measures in Germany
The transportation sector and
Waisman, HD; low-carbon growth pathways:
7 Guivarch, C; 2013 modelling urban, infrastructure, CLIMATE POLICY
Lecocq, F and spatial determinants of
mobility
Evaluating the impacts of using
cargo cycles on urban logistics:
EUROPEAN TRANSPOR T
8 Melo, S; Baptista, P 2017 integrating traffic,
RESEARCH REVIEW
environmental and operational
boundaries
Urban freight transport using TRANSPORTATION
Behiri, W;
passenger rail network:
RESEARCH PART E-
9 Belmokhtar-Berraf, 2018
Scientific issues and
LOGISTICS AND
S; Chu, CB
quantitative analysis TRANSPORTATION REVIEW
Ayyildiz, K; TRANSPORTATION
Cavallaro, F; Reducing fuel consumption and RESEARCH PART F-TRAFFI C
10 2017
Nocera, S; carbon emissions through eco- PSYCHOLOGY AND
Willenbrock, R drive training BEHAVIOUR

Dablanc 2007, Li et al. (2014), Mehmood et al. (2017) acreditam que investimentos devem ser
feitos para o planejamento logístico urbano de carga e há necessidade em trabalhar o
deslocamento de pessoas e bens de maneira integrada. Para Li et al. (2014) e Mehmood et al.
(2017) a falta de informações em tempo real e o aumento da complexidade do planejamento
devido a esta combinação estão entre as principais razões para a ausência de projetos eficientes
para esta modalidade de transporte.

Dablanc 2007 trata em seu trabalho sobre as características dos movimentos urbanos de
mercadorias nas principais cidades europeias. Segundo a autora, esses movimentos são
amplamente indiferentes à estrutura interna das cidades, onde as políticas urbanas voltadas para
a mobilidade de mercadorias parecem ser bastante ineficientes. Com isso, a autora conclui que
oferta de serviços logísticos urbanos adequados é lenta, apesar das necessidades crescentes. De
acordo com sua afirmação, a grande maioria das cidades ainda não encontrou soluções
adequadas para ajudar a otimizar os movimentos urbanos de mercadorias, porém cidades como
Bordeaux e La Rochelle na França, desenvolveram alguns modelos bem-sucedidos, porém de
alto custo. Bordeaux utiliza o estacionamento na rua para acomodar os motoristas de caminhão
de entrega com serviços adicionais, já La Rochelle utiliza um terminal de carga de uso
compartilhado, usando veículos elétricos de entrega. Acredita-se que a única política que as
cidades continuarão a adotar é apertar restrições de acesso de caminhões, desconsiderando uma
gestão de cargas urbanas mais global e inovadora. Na fala da autora, comprova-se a ausência
de maior dedicação das autoridades públicas em gestão para resolver problemas antigos
referentes a carga e descarga, circulação de veículos de carga, entre outros.

Li et al. (2014) demostram a utilização de forma integrada pelo táxi, o movimento de pessoas
e encomendas. A partir de solução de problemas e construção de cenários por modelagem
matemática, os autores acreditam em ganho para as cidades e para as empresas. Corroborando
com essa ideia Mehmood et al. (2017) identificam o contexto da cidade inteligente que trazem
benefícios tanto para o governo, por exemplo, no planejamento urbano, quanto para as
empresas, por exemplo, publicidade localizada e roteamento otimizado. No ponto de vista da
cidade, o sistema oferece potencial para aliviar o congestionamento urbano e a poluição
ambiental. Do ponto de vista empresarial, significa novos benefícios do serviço de entrega de
encomendas.

Mehmood et al. (2017) desenvolvem a importância do conceito de cidade inteligente para o


contexto do planejamento urbano e da utilização de modelos matemáticos para simular
cenários, segundo os autores a big data pode ser usado para redefinir e habilitar novos modelos
operacionais. O estudo fornece uma nova compreensão sobre o compartilhamento de carga,
basicamente, os autores demonstram como a big data pode ser usado para melhorar a eficiência
do transporte e reduzir as algumas externalidades.

Weltevreden e Rotem-Mindali (2009) discutem sobre a mudança no comportamento de viagem


de consumidores para compra de determinado produto e o aumento do transporte de
mercadorias na modalidade de entrega. Esse comportamento é justificado pela expansão do e-
commerce e significa um comportamento que se estende para os dias atuais. Esse tipo de
análise, abre uma reflexão para o transporte de mercadorias no futuro, a necessidade de espaço
e planejamento urbano adequado a fim de garantir a entrega do produto ao consumidor final.

Perboli e Rosano (2019), Taefi et al. (2016), Waisman, Guivarch e Lecocq (2013), Melo e
Baptista (2017), Behiri et al. (2018) e Ayyildiz et al. (2017) abordam sobre problemas e
questões ambientais ligadas a distribuição de cargas. Perboli e Rosano (2019) acreditam que a
indústria é afetada por vários problemas, ineficiências e externalidades, principalmente no
segmento de última milha. Com isso, existe a exploração da consciência emergente na
necessidade de melhorar a mobilidade urbana e o transporte, tornando-os mais sustentáveis e
competitivos, com a utilização de tecnologias tradicionais e emergentes. Os autores destacam
o impacto da adoção de veículos verdes, como veículos elétricos e bicicletas, como parte do
campo da logística da cidade.

Taefi et al. (2016) também discutem sobre a inserção e apoio sobre veículos elétricos (VEs) na
Alemanha. De acordo com os autores, o incentivo a utilização desses veículos é apenas de cunho
pontual, como medidas de incentivo fiscais. Outras iniciativas são abordadas por outros autores
e consideradas importantes para que seja ampliada a utilização desse tipo de veículo como:
reservar vagas de estacionamento na rua para VEs; isenção de pedágio para VEs; permitir que
VEs circulem em faixas de ônibus/táxi), entre outras. Mas ainda segundo a visão dos autores,
as políticas em mobilidade elétrica apresentadas no artigo, tende a concentrar em alcançar uma
compreensão diferenciada do efeito estimado, eficiência e viabilidade das medidas. O incentivo
de utilização de veículos de combustível alterativo representa ganhos significativos na redução
de emissão de gases do efeito estufa (Waisman, Guivarch, e Lecocq, 2013).

Para Waisman, Guivarch e Lecocq (2013) os problemas relacionados ao transporte de pessoas


e cargas vão além dos congestionamentos, mas envolve questões ambientais que devem ser
exploradas no contexto das políticas climáticas internacionais. Para os autores, a reorganização
do espaço urbano reduz a mobilidade restrita (ou seja, mobilidade para deslocamento e
compras), ao mesmo tempo em que implanta infraestrutura para favorecer modos de transporte
de baixo carbono e mudanças na organização logística que levam a uma menor intensidade de
mobilidade de produção/distribuição de cargas. A solução apresentada pelos autores, tange um
universo de políticas habitacionais destinadas a controlar as necessidades de mobilidade o que
tende a ser uma posição ambiciosa no aspecto de controle das mudanças climáticas, sendo uma
abordagem, apesar de tratar a mesma temática, bem diferente das tratadas por Weltevreden e
Rotem-Mindali (2009) e Taefi et al. (2016).

Melo e Baptista (2017) falam sobre bicicletas de carga. As autoras avaliam os impactos das
bicicletas elétricas de carga de uma perspectiva de política pública e, simultaneamente,
analisam as variáveis que cobrem os interesses dos operadores logísticos urbanos. Na política
pública, avalia-se a mobilidade, os impactos ambientais e, indiretamente, a qualidade de vida.
Já nos interesses privados, avalia-se os níveis de custos (operação e condução) e eficiência. Os
resultados quanto a emissão e a eficiência operacional testados para a cidade do Porto mostra
que as bicicletas de carga podem substituir até 10% das vans convencionais em áreas com
distâncias lineares de cerca de 2 km, sem alterar a eficiência da rede.

Behiri et al. (2018) assim como Li et al. (2014), abordam uma alternativa de transporte urbano
de cargas ecologicamente correta, porém Behiri et al. (2018) sugerem a utilização da
infraestrutura ferroviária de passageiros de Paris. Os autores afirmam ser uma ideia com
potencial na Europa, pois significa ganhos nos aspectos ecológicos e nos benefícios
socioeconômicos. A inclusão de outros veículos como ônibus ou automóveis elétricos podem
auxiliar a rede de abastecimento. O modelo criado pelos autores permite um melhor
entendimento sobre sistema, com foco no impacto nas decisões sobre vários componentes
centrais do sistema de transporte e para avaliar o benefício para as transportadoras de oferecer
tais serviços.

Ayyildiz et al. (2017) tratam sobre a emissão de gases de efeito estufa causados pelo transporte
de mercadorias. O principal tópico de discussão é de como reduzir a contribuição sem limitar a
quantidade de mercadorias distribuídas, já que o aprimoramento tecnológico de veículos e
combustíveis alternativos é apenas uma solução parcial. Os autores defendem a necessidade de
outras medidas integrativas como a eco condução que representa uma opção que abrange
estratégias, táticas e decisões operacionais e oferece sugestões aos motoristas. O trabalho dos
autores baseou-se em um teste de 15 veículos comerciais pesados e 10 comerciais leves,
monitorados em 5.200 viagens. O resultado gerou dado interessante quanto a redução do
consumo unitário de combustível para veículos pesados em 5,5%.
4. RESULTADOS
Com as análises realizadas na Seção 2 e 3 foi possível analisar o comportamento das
publicações de maneira quantitativa e qualitativa. Buscou-se extrair dessas informações a forma
de abordagem, as principais contribuições, as medidas adotadas para a solução da problemática
exposta em cada trabalho e as possíveis lacunas para trabalhos futuros. A Tabela 3 representa
o resumo desses resultados.

Tabela 3: Identificação das Principais Contribuições dos Trabalhos Analisados


TIPO DE PRINCIPAIS PONTOS LACUNAS
ITEM. INDICAÇÕES/ MEDIDAS
ABORDAGEM DE CONTRIBUIÇÃO IDENTIFICADAS
necessidade de
Indicação da participação conjunta
investimento público, Falta de interesse
revisão do poder público e privado,
1 iniciativa público-privada. privado em partilhar
documental identificando áreas de deficiência e
Não se resolve de maneira dados
atuação
isolada
Indicação na mesclagem de
compartilhamento de rede,
modelo veículos de pessoas e cargas com Inclusão de outros
2 planejamento de forma
matemático foco em atender as diferentes modais
integrada
demandas
abordagem sobre dados e
cidade inteligente com o
Indicação na captação de dados
modelo objetivo de melhorar a Dificuldade em trabalho
3 relevantes que possam auxiliar no
matemático eficiência no atendimento com alguns dados,
planejamento inteligente
da demanda por serviços
da cidade
análise na alteração de Indicações na análise do
Lacunas sobre estudos
comportamento de comportamento dessa nova
entrevista aplicada que analisam a evolução
4 consumo que leva ao tendência do usuário e estudos
a consumidores do e-commerce e dos
aumento na circulação de sobre a movimentação de
modos de entrega
entrega de mercadorias mercadorias
identificação dos atores
envolvidos na entrega de
Indicação dos ganhos na utilização
revisão e encomendas urbanas,
5 de veículos verdes do transporte de -
simulação modelos de negócio,
carga de última milha
veículos verdes e frotas
mistas
Apoiar a mobilidade elétrica do
lacunas de
modelo análise de implementação transporte de mercadorias é tão implementação graças ao
matemático- de veículos elétricos no necessário quanto a escolha de
6 custo total que configura
análise transporte de carga de medidas direcionadas ao transporte
a utilização desses
multicritério mercadorias de mercadorias
veículos
segmento de transporte.
foco na redução das
Reorganização urbana com foco
emissões a partir da Investigação em políticas
simulação de em infraestrutura que possa
7 construção de de baixo carbono para os
emissões favorecer modos de transporte de
infraestrutura que promova transportes
menor emissão
melhor mobilidade
Necessidade em garantir melhorias
analisa os ganhos na
em termos de
modelagem e inserção de transporte
8 mobilidade, ambiente, energia, -
Simulação alterativo de cargas, neste
custos de funcionamento e
caso a bicicleta elétrica
externalidades.
compartilhamento de rede, Mesclagem de veículos de pessoas Inclusão de outros
modelo
9 planejamento de forma e cargas com foco em atender as modais e análise de
matemático
integrada diferentes demandas pontos de transição
Indica o treinamento de direção
ecológica amplamente disponível e
revisão Eco condução para a gratuito para os indivíduos,
10 bibliográfica e redução de emissão de compartilhar os custos com os -
estudo de caso gases de efeito estufa governos nacionais dos custos de
compra e instalação de dispositivos
de feedback do driver

Observou-se no geral, que os artigos analisados apresentam discussões variadas sobre o tema
do transporte de cargas urbano. Porém, houve um consenso claro na pouca abordagem de alguns
assuntos de discussão para o planejamento de infraestrutura e outros equipamentos logísticos
que apoiem o transporte de cargas. Constatou-se uma preocupação atual e pertinente quanto as
mudanças climáticas, sendo esta, um assunto representado em 6 dos 10 artigos analisados.

Houve ainda a predominância da utilização de modelos matemáticos e simulação para a


resolução e análise dos problemas expostos. No geral, os artigos analisados na seleção tendiam
mais para uma solução e análise pontual, do que uma discussão abrangente de infraestrutura ou
medidas claras e aplicáveis para a processo de gestão da mobilidade voltada para a temática.

Ainda assim, foram encontradas explorações de valor que podem ser incluídas nos planos de
mobilidade urbana referente a abordagem do transporte de cargas. Destinação de áreas de
estacionamentos, políticas de direção, transporte de última milha, integração de modos de
transporte para entrega de produtos, necessidade de diálogo entre os setores público-privado,
utilização de dados para prospecção de cenários a partir de simulação e modelagens
matemáticas, incentivo de veículos menos poluentes entre outros, são características inerentes
ao planejamento urbano de cargas no contexto atual.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para efeito dos resultados encontrados é importante mencionar que a constante inclusão de
novos trabalhos, bem como a citação deles estão em constante processo de alteração. Os
resultados encontrados compreendem a pesquisa temporal realizada de artigos no período
mencionado na base da Web of Science. Outra característica importante é a utilização das duplas
de palavras-chave utilizada, a inclusão de novos pares pode alterar os resultados e aumentar o
escopo trazendo maior expressividade a amostra, por isso indica-se a utilização de mais duplas
de palavras nas rodadas, com a eliminação dos trabalhos em duplicidade.

Para efeito da tendência de soluções dos problemas desta temática, ainda se observa a tendência
de soluções por restrições de veículos de carga em vias por determinados horários. Para os
artigos analisados, comprova-se a necessidade de pensamento de forma conjunta entre os
participes públicos e privados a fim de analisar as melhores soluções para o planejamento
urbano, como definição de acessos, áreas para carga e descarga e outros equipamentos que
possam auxiliar as operações deste tipo de transporte.

A utilização de dados para o planejamento de cidades inteligentes que contemplem o transporte


de bens e pessoas de forma integrada, sinaliza uma nova abordagem para o tema no futuro. O
tamanho e a quantidade desses dados podem representar uma complexidade no planejamento,
o que justifica a pouca expressividade de estudos e políticas voltadas para a inserção de técnicas
e ferramentas tecnológicas voltadas para a implementação de projetos.

Entende-se que o objetivo traçado para este artigo foi alcançado, encontrou-se nas publicações
selecionadas informações de valor e possíveis lacunas de trabalho. Como sugestão de trabalhos
futuros, indica-se realizar busca de trabalhos para novos pares de palavras-chave com o objetivo
de aumentar o escopo de trabalhos analisados. Indica-se ainda, que seja feita a busca por planos
de mobilidade consolidados nos países com maior expressividade nessas publicações, a saber:
Inglaterra, Estados Unidos, Suíça e Holanda, devido ao número de publicações pode-se haver
nesses locais casos de planejamento de sucesso relacionado a temática.

Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com apoio Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) - Código de Financiamento 001 e do Hub de Planejamento Inteligente da Mobilidade do Estado do R io
De Janeiro - MOB 4.0 (COPPE/UFRJ).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Isabella Mayara Abreu da Hora (isabelladahora@pet.coppe.ufrj.br)


Isabella Martins de Almeida (isabellamartins@pet.coppe.ufrj.br)
Matheus H. de Souza Oliveira (matheus@pet.coppe.ufrj.br)
Programa de Engenharia de Transportes, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Av. Horácio de Macedo, 2030 -
Bloco H – Rio de Janeiro, RJ, Brasil

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