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ADMINISTRA\ Revista da Administragao Piblica de Quatro niimeros Conselho de Red: Elias Farinha S Joana Noro Manuela Teresa Sousa Sou Chio Lou Shen Propried Governo da Edi inistragao Fungio Publi recpf0,redacgio ¢ adminis Elfcio Administragao Pblica, 262 Rs do Campo, af Apartado 463, Macau Chi ‘elet,28523623 Fax (093) 259M ‘mal paolam@ ealp-gov Distibuigao easinaturar tle, 9871015; 9891 Composiio eimpressio:Imprensa dba Regito Adiinistaiva Especial de M 3s leitores podem aceder As versoes chinesa e portuguesa da Ri nistragao” no seguinte enderego electré: lm | Niimero 77 (3.° de 2007) * Volume XX * Setembro de 2007 JMARIO. Imp: individual sobre a economia de M Zhang Jun os da politica do vis A propésito da deslocagio e reconstrugio do seguro social das politicas sociais de Macau Yin Yifen Os impactos sociais do répido desenvolvimento dos jogos € a viragem da governagio Lou Shenghua © Jogo de Fortuna e Azar ¢ a Promogio do Investimento em Macau Luis Pessanba Uma abordagem sobre o regime da lideranga administrativa da Regio Administrativa Especial de Hong Kong ¢ 0 seu desenvol- vimento politico Lin Yuan No tempo da protoglobalizacao: a reescrita e um passado, Maria de Deus Beites Manso (0 Cancelamento do IV Centendrio de Macau em 1955: Factores subjacentes e consequéncias Moisés Silva Fernandes Abstracts, No tempo da protoglobalizagdo: a reescrita eum passado comum Maria de Deus Beites Manso* Passados mais de cinco séculos apés o inicio oficial das grandes des- cobertas portuguesas, ¢ depois de mais de uma década de comemoragoes bficiais, cabe agora langar um olhar, ainda que ligcito, sobre o que repre~ sentaram ¢ como & hoje vivido/analisado 0 movimento, tanto pelos po~ ‘os que 0 impulsionaram, como por aqueles que “sofreram o processo de colonizagao”, assim como o que se tem feito de mais significativo a nivel dla investigagao’. Pretendendo as autoridades régias desde o inicio exaltar a empresa ultramarina e sobretudo colocar a Histéria ao servigo do Estado ¢ das sands familias (taefa levada a efeito pelo recém atribuido cargo de cro- nistacmor do Reino e posteriormente pelo de cronista-geral da {ndia), a histéria das conquistas ultramarinas mereceu especial destaque entre cles. Na opiniao de Oliveira Marques: “O descjo e a necessidade de narrar e interpretar a expansio ultramarina levaram a0 surto de novo tipo de historiogeafia sem paralelo além fronteiras”. Foi, sobretudo, com Go- nes Eanes de Zurara que surgiu um novo conceito de Histéria, pois 0 slargamento geogrifico resultante da conquista de Ceuta, mudara o rumo + Profesora Ausiiar no Departamento de Histéria da Universidade de Evora Ac gina que nos propusemes escrever no tm a pretensi de abrcar todo 0 proceso de espansio¢ decabera ulramarina — temporal egeogrifico —, pos atendendo 20 limite de pina e208 inximeroseabalhos que a longo dos ssulos Fram escitos, criiamos no rico de ferrmos susceptbilidades pelo facto de woos inserrmos. Por iso imo langat, apenas, um olhar sobre as comemoragdes oficiais das descobertas rear em nosso entender, ier os extudos mas signifiativos que recent publcaram em reac a0 desgnido Imperio do Orient, que as eas testis menos trabalhadas. A opgio pelo O po um curso de Histria de Expansio Pogues na fn, na Univeridade Estadual dd Feira de Santana — Bahia eter conclu que nos programas de Histria das univer: Sides brsileas Oriente praticamente no ¢ includ ‘Hisorngafa Portuguese Vo. 1: Das Origen Hercuano, onganizasiode AH, Marge, PablicagBes Europa América, Lisboa, 1974, p. 25. Ente os que escreveram tas Ft nte resulta, igualmente, do facto, de este ano ter lecio , silentamos: Gomes Eanes de Zurata, Rui de Pina Berens Gooner Correia, Dione om da politica nacional — a trajectéria ultramatina. Dai a necessidade de dar a conhecer 0s novos espag if itos “herdicos”, spacos geogrificos, os feitos “herdicos”, € exaltar a realeza. q Antes ¢ depois dos cronistas foram muitos os nomes, quer de k quer de eclesidsticos, que relataram a gesta ultramarina. Ainda que ti sem surgido virios registos criticando a actuagao de alguns funciondti régios, sobretudo resultante da pritica de corrupgao e da negligén« actuagao dos mesmos na defesa do Império — sobretudo o do Orient — como foi o caso de Diogo Couto, na sua obra O Soldado Prético objective foi quase sempre o de enaltecer a presenga portuguesa, nom damente a conquista temporal e a espiritual. Neste iltimo aspecto cor véin realgaras informagSes que nos chegaram pela escrita dos missionétios, agentes igualmente importantes neste proceso de colonizagao, Sao pre ciosas as informagées fornccidas, sobretudo das regises onde a presenga politica € militar portuguesa quase nao chegava, como era a caso da costa oricntal da [ndia, extremo Oriente, Reino do Gran Mogol, ¢ eram eles que, muitas das vezes, ajudavam ao estabelecimento de alguns mercadox res ou mantinham uma presenga meramente diplomética, impedindo que ‘outros interesses religiosos e politicos europeus ai se estabelecessem, Nes- ‘e campo salientamos as informas6es jesuitas expressas, sobretudo, nas cartas nuas que enviavam das missbes?. Fstes nde sé referiam as questes da fé, como descreviam as suas relages com as autoridades politicas europeis extabelcidas na regio com as autoridades polices veligig sas locais. Contudo, 0 que mais ressalta destas cartas éa valorizagao da cultura europeia, particularmente do cristiani tinica religido capaz de salvar 0 Homem. 10 apresentada como a visio vem praticamente até * No Archivum Romanum Societatislesus — Roma, existem 0 centro publica desde 2002 a revista: Anais de Hiséria de Além Mar. Ede salientar que este € 0 nico centto de investigasao em Portugal que pretende esenvolver, apenas, estas sobre o Sudeste Asitico, regio pouco estudada pelos in- ‘vestigadores eutopeus. No entanto, quetemos salientar alguns estudos sobre Timor: Arcur Teodoro de Matos: Timor Portugués 515-1768: Contribuigdo Pana a sua Histéria, Instituto Histérco Infante D. Henrique, Faculdade de Letas da Universidade de Lisboa, er ee a ‘Vamos derrubar os muros que nos impedem de enxergar “outro”, As instituigbes e os encontros cientificos em epigrafe so cipais responsiveis pela mudanga que se operou quer na reinte de “velhos temas”, quer pelo iniciar de “novos temas”, sobretud ‘vos a regides geogrificas menos familiares aoe historiadores. Hoje, quando falar de globalizacio esté na ordem do di te lembrar que as viagens de exploragio maritima, levadas a cabo, portugueses ¢ espanhéis, abriram um novo periodo na Hist6ria da Mi nidade, colocando em contacto diversos povos ¢ diferentes regiées| fica. Iniciou-se desta forma a protoglobalizagio. Através dela @ portugués construiu um vasto império maritimo, ainda que em cspagos fosse uma presenga efémera, noutros a sua presenga pr por mais de cinco séeulos, como foi o caso de Goa, Macau, Ti Mocambique e Angola. Independentemente da forma como se esta € dos modelos de colonizagao que Portugal adoptou, a presenga ‘guesa implicou alteragdes cultura, linguisticas ¢ religiosas, entre out Mas também ¢ verdade que o portugués recebew muitas influéncias contribuiram certamente para modificar a sociedade portuguesa. B base num encontro de culturas que a “nova hist6ria” deve ser interpre deixando cair a velha visto eurocentrista do “lado de ca” ¢ a visio pscudo lado de ki — *vivimas’. No que diz respeito aos tema hecidos fa ss mais conhecidos porque foram 08 mais trabalhados na Histéria de Portugal, cabe a figura de Vasco da Gama, Quando, hi uns anos atrés, Portugal se lembrou de comemorat 05 500 anos da chegada do Almirante & India desenvolveram-se uma série de iniciativas que resultaram quer na publicasao de estudos, quer na realizae io de conferéncias. Infelizmente, ¢ a0 contririo do que se poderia espera; nem todas as iniciativas decorreram de forma pacifica ou contribuiram para o estude, “sé Sines, era filho legit ” do herd, Hoje mio temos dividas que nasceu em 10 de Estevao da Gama ¢ foi feito conde da Vi gueira em 1519. Outros estudos deram-nos interpretagoes que muito ajudaram para o esclarecimento do que foi o seu percurso antes de partir para a India, em 1497, e seu percurso depois das viagens dle regresso. Evidentemente que hd momentos menos conhecidos na do Almirante, sobretudo peo facto de no haverfontes que confirmem ou refute muito do que se tem escrito — como é 0 cao do que diz respeito 3 morte do seu el el maior rigor cientfico”. Penso que. figura deixou de se idolatrada para se tornar um homem do seu tempo, um homem que apenas cumprit as determinagdes régias. Na India comportou-se como qualquer outro da sua qualidade actuaria face ao descoberto, isto é, a mentalidade eurocen- vista orientava as atitudes a ter para com 0 outm, atitudes de superiorida- de que conduzia & imposigio da civilizagéo ocidental a que nao eram alleias priticas de escravatura, destruigio das culturas locais, pela impo- sigio da cultura europcia, nomeadamente pelas conversbes forgadas. Julgi- lo pelos padroes éticos contemporineos, como alguns historiadores nto europeus 0 tém feito, ser cometer 0 mesmo “pecado” em que incorre- ram aqueles que o pretendiam idolatrar, porque se situam fora da con- texttializagio do seu tempo. Infelizmente as comemorag6es dos 500 anos do achamento do Brasil revestiram-se igualmente das mesmas atitudes, as comemoragées oficiais portuguesas, realizando encontros cientificos ¢ publicagdes sobre a figura de Pedro Alvares Cabral" mas, a0 mesmo tempo, outros houve que pre- .gem a uma atitude colonizadora que apenas condu- tenderam reduzira ziw a matanga de indios e a0 saque das riquezas. De facto, reduziro feito a ‘uma atitude violenta também nao ajuda & interpretagio cientifica do que foi o passado colonial portugues no Brasil. Somos de opinido que toda a _questao tem de passar por um “despie” ca aritude ocidental (superioridade) da atitude do colonizado (inferioridade) que vé na presenga portuguesa svorigem de muitos dos males que as sociedades actuais enfrentam, ‘Como jé escrevemos, independentemente de interpretagdes menos cientificas que tém sido feitas desta época, 0 certo é que hoje contamos Genevitve Bouchon, Vasc de Gama, Librairie Arthéme Fayard, Pats, 1997 : Luis Adio dda Fonseca, Vasco dt Gamat. O Homem, A Viagem, a Epoct Lisboa, Ed. do Comissariado ‘da Exposicao Mundial de Lisboa de 1998 e da Comissio de Coordenasao da relao do ‘lentejo, 1998, Maria de Deus Beites Manso, "O Gama e os Gamas na Hist6ria do Alentejo", Da Ocidental Praia Lustana. Vaco da Gama e0 seu Tempo, Comissio Naci ‘onal par as Comemoragdes dos Descobrimentos Portuguese, 1998, p. 67-81. Actas da Confertncia Internaciona: Vaco de Gama a fui, Paris, 11-13 de Maio (1998), Lisbon Fundagio Calouste Gulbenkian, 1999. * Congresso Luso Brasileiro — Portugal: Brasil: Memérias Imaginrios,9-12 de Novern- ‘bro de 1999, Lisboa, Fundago Calouste Gulbenkian, Grupo de Trabalho do Minisé- rio da Educagio para as Comemorages dos Descobrimentos Portugueses, 1999. Set tak eRe an EE ou com muitos estudos que nos permitem um conhecimento sobre «spacos geogrficos menos conhecidos ou até ao momento nao Mas, antes de langar um olhar sobre algumas publicagoes que, i entender, marcam uma viragem na forma de ver 0 que foi a pi portuguesa no mundo e de indicar as dreas menos contempladas que se dedicam ao oficio de fazer hist6ria, queremos fazer uma ci Luis Filipe Thomaz que, ao evidenciar o grande contributo do historiador da nossa época, Vitorino Magalhies Godinho, assinala as metodologias que, em seu entender, sio complementares do que se escrito, nomeadamente comparando-as com o seu estudo De Timor. Citamos: “A perspectiva subjacente aos estuddos de Magall Godinho é, de uma maneira geral, a dos grandes espagos geo-ecom do tempo longo; nos que aqui apresentamos reunidos predomina, invés, a do tempo curto, que dé mais relevo a histéria politica em. mento da social ¢ econdmica, €a orientagio analitica. Tal predomini porém, nem correspond a uma op¢io idcolégica, nem resulta de ul orientagio metodolégica sistemdtica, decorrente de uma hipotética cren= ‘gana superioridade da perspectiva adoptada: é antes em boa parte fortuitdy quiga fruto de um desejo inconsciente de adoptar uma visio distinta da dda geracio anterior, mas compativel com ela. Ora, depois de sinteses como as de Godinho, era sobretudo no campo da analise, sob a perspectiva do tempo curto, que havia terreno a trabalhar”®, De facto, Luis Filipe Thomaz tem razio ao afirmar que depois das grandes sinteses de Godinho e, acrescentamos nés também, das publica- .gbes de Charles Boxer, referindo, a titulo de exemplo O Império Mariti- ‘mo Portugués 1415-1825, onde & tracada a evolugao do império mariti mo portugués desde os primeiros tempos da expansio até 4 independén- cia do Brasil, mas dedicou-se a regides mais estudadas ao longo do tempo, ignorando regides como o Golfo de Bengala, 0 Sudeste Asiitico, onde 3s, bem como praticamente as quest6es de nacureza cultural, & excepgio de algu- ‘mas piginas dedicadas 3 questo do Padroado Portugués do Oriente”,

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