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a ee ee en ee eee Dez horas da mana; 0s transparentes Matizam uma casa apalacada; Polos jardins estancam-se as nascentes, E fere a vista, com brancuras quentes, 5 Alarga rua macadamizada. Ll Como é saudavel ter o seu conchego, Ba sua vida facill Bu descia, Sem muita pressa, para o meu emprego, ‘Aonde agora quase sempre chego ‘e Comas tonturas d’uma apoplexia. rota, pequenina, azafamada, Notei de costas uma rapariga, (Que no xadrez marméreo d’uma escada, Coio um retalho de horta aglomerada, ts Pousara, ajoelhando, a sua gige. (1 ‘Subitamente, — que visio de artistal ~ Se eu transformasse os simples vegetais, A luz do sol, o intenso colorist, ‘Num ser humano que se mova e exista m0 Chelo de belas proporées camnais?l (1 E eu recompunha, por anatomia, ‘Um novo corpo orgénico, aos bocados. “Achava 0 tons e a8 formas. Descobria Uma cabeca numa melancia, xs Enuns repolhos seios injetados. ‘As azeitonas, que nos dio 0 azeite, Negras e unidas, entre verdes folhos, So trangas dum cabelo que se ajelte; E os nabos ~ ossos nus, da cor do leite, 2 Eos cachos d'uvas ~ 0s rosarios dolhos. 4, Tdentifique, comentando 0 seu valor seméintioa, 1H colos, ombros, bocas, um semblante Nas posigdes de certos frutos. E entre ‘As hortalicas, timido, fragrante, Como dlalguém que tudo aquilo jante, Surge um melo, que me lernbrou um ventre. E, como um feto, enfim, que se dilate, Vinos legumes cames tentadoras, Sangue na ginja vivida, escarlate, Bons coragdes pulsando no tomate E dedos hirtos, rubros, nas cenouras. tl E enquanto sigo para o lado aposto, ao longe rodam umas carruagens, ‘Apobre afasta-se, ao calor de agosto, Descolorida nas magas do rosto, E sem quadris na saia de ramagens, [1 E pitoresca e audaz, na sua chita, 0 peito exguido, os pulsos nas ilhargas, ‘Diuma desgraga alegre que me incita, Ela apregoa, magra, enfezadita, ‘As suias couves repolhudas, largas. , como as grossas pernas dum gigante, Sem tronco, mas atléticas, inteiras, Carregam sabre a pobre caminhante, Sobre a verdura ristica, abundante, Duas frugais aboboras carneiras, Lisboa, vedo de.877 “nvum batiro moderna", n Ceséro Verde, Canttoos do Realisme, Olio de Cesério Verde, Lsboe, INCM, 205 ‘© recurso expressivo presente em “E fere & Vista, com brenoures quentes, / A larga rua mecadamizada” (w. 4-5). 4, Explique, justificando com elementos textuals, por que razéo se pode efirmar que neste poema se assiste 8 transfiguragao poética do real. Homens de cargal Assim as bestas vao curvadas| Descuro, bruscamente, ao cimo da barroca, (Que vida tao custosal Que diabo! os cavadores descansam as enxadas, E cospem nas calosas mios gretadas, Para que nfo Ihes escorregue 0 cabo. Povol No pano eru rasgado das camisas Uma bandeira penso que transiuz! Com ela softes, bebes, agonizas: Listrdes de vinho langam-lhe divisas, os suspensérios tragam-Ihe uma cruz! Surge um perfil direito que se agucs; Barmatinal de quem saiu da toca, ‘Uma figura fina, desemboce, ‘» Toda abafada num casaco a 71352. Donde ela ver! A atriz que eu tanto cumprimento; Baa quem, anoite, na platela, atraio (08 olls lisos como polimentol Com seu rostinho estreito, Sorento, 1» Camninha agora para 0 seu ensalo. do Realisma. 0 lo de Cesirio Verde fea de Helena Carvaio Bues@u bea, INCM, 205 scyinallzagdes in Cestcio Verde, Cantices (coord. Catos Rela introdugio e nota biobibligs

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