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ule COLEGAO PRATICAS DOCENTES wy auténtica Giovani José da Silva Anna Maria Ribeiro F. M. da Costa HISTORIAS ECULTURAS [ie INDIGENASNA sm EDUCACAO BASICA P| RO ai ot cna 0 eee eee era peter) , teen DIREITOS INDIGENAS: | ferent w REPUBLICAN fa oon canuios earl ps lg erat, NS ey ene i: reaenenry pening Cro CAPITULO 3 A LEI N.° 11.645/2008 E A INSERCAO DA TEMATICA INDIGENA NA EDUCAGAO BASICA Introdugao Em marco de 2008 foi sancionada pela Presidéncia da Republica a Lei n’ 11.645 que tornou obrigatéria a inclusao de contetidos de historias e culturas das populagées indigenas (e também das afro- brasileiras e africanas) para alunos dos Ensinos Fundamental e Médio, de escolas ptiblicas e particulares do pais. Desde entao, a medida vem sendo adotada de forma gradual nas escolas, sem que haja a necessi- dade de mudancas drésticas nas matrizes curriculares, uma vez que nao se criou novas disciplinas. O ensino das histérias e das culturas das populagées indigenas, assim como afro-brasileiras e africanas, deve, pois, transversalizar os contetidos ja abordados em disciplinas como Historia, Artes e Litera- tura, Espera-se que com essa medida ~ além de outras ~ sea revertido, paulatinamente, um quadro sombrio de desconhecimento a respeito da presenca de sociedades que hd muito vivem nos atuais territérios americano e brasileiro e que sobreviveram fisica e culturalmente através dos tempos, lutando, inclusive, contra 0 proprio exterminio. Como dito anteriormente, a promulgacao da lei de 2008 tornou as obrigatorio na Educagao © ensino de historia e culturas indigen: iculares tais como Basica, especialmente em alguns componentes CUITiCST== St Histéria, Contudo, muitos professores se queixam ais Histris e cultura indigenas na Educago Basica acesso a essa tematica em seus cursos superiores de licenciatura e temem reproduzir imagens estereotipadas e preconceitos por falta de ‘material pedagogico de qualidade. A Lein.* 11.645/2008 exige que pro- fessores ealunos da Educagao Bisica no Brasil conhegam, reconhegam, aprendam, valorizem e divulguem a histéria e as culturas indigenas, ‘mobilizando distintos contetidos dos diversos componentes escolares. [A questdo que se faz urgentemente ser respondida é como realizar tal ‘empreendimento se por muito tempo os indios se fizeram presentes no ambiente escolar apenas no més de abril, quando se comemora 0 “Dia do fndio”, no dia 192 Aliés, muitos sequer sabem por que essa data é dedicada aos indigenas. Invariavelmente, professors e alunos se veer envolvidos em ativi- dades que reproduzem esteredtipos e pouco acrescentam & formagio de ceriangas ejovens, que continuam a ver os indigenas como aqueles que andam nus ou apenas vestem tangas, possuem colares ecocares,falam linguas estranhas e estao distantes do “grau de civilizagao” dos néo {ndios. ais ideias equivocadas ensinaram a nao indios de todos os can- tos do pats, por exemplo, que “indio & coisa do passado” ou que n0ss0s ‘contemporaneos indigenas jé nao seriam mais “indios de verdade”. Isso «quando desconsideram que os indigenas possam ter acesso tecnologia industrial ea objetos da cultura material que até pouco tempo atts no faviam parte de suas culturase, tampouco, de suas tradigdes, rotulando= ‘0s como “menos indios” ou “aculturados’, Pensar na transversalizacao de contetidos nas diferentes disciplinas da Educagao Basica, portanto, requer que os professores tenham clareza de que a escola brasileira de forma geral oi, durante muito tempo, promotora de ideias preconeei- ‘tuosas ede atitudes discriminatérias contra negros, indigenas ¢ outros grupos étnicos (José Da Sttva; Memees, 2017) UMA CRITICA AS TEORIAS DE ACULTURAGAO No Brasil, as teorias de aculturacao, muito em voga até os anos _ 1970, preconizavam uma gradual asimilagio dos indigenas a | Sociedade brasileira, por meio de um processo de perdas e@ | transformagdo (ou transfiguragio, como dria Darcy Ribelro) OE Historias ecuturasindigenas na Educagio Bisa brasileira, com uma formacio etno-hist6rica plural ¢ heterogenea. ‘Alids, uma das possibilidades ¢justamente explorar a heterogeneidade das turmas na Educagao Basica, formadas muitas vezes por criangas e jovens oriundos de familias cujas origens apontam para a diversidade etnorracial formadora da populagio brasileira: indigenas, negros € ‘migrantes procedentes de diferentes regides do pais e do mundo, rindo aqueles cujos protagonistas sio 0s préprios ‘meio de associagdes, representacées politicas ou Jé 05 movimentos indigenistas sao formados pelos dos indios, que podem ser antropélogos, histo cientistas sociais, além de ativistas. Uma politica |_ seja, uma politica voltada para as populagdes indig ‘entendida, nesse contexto, como um conjunto de ideias, programas e projetos politicos dirigidos aos indigenas. Assim, € praticamente imposstvel nos referirmos 4 Lei n= 11,645/2008 sem buscarmos compreender as raizes histdricas dos movimentos indigenas ¢ indigenistas. Em outras palavras, leis ndo brotam espontaneamente e nem mesmo sio frutos do acaso, sendo, muitas vezes 0 resultado de uma trajetéria histérica realizada com ‘grandes dificuldades. Por essa razdo, necessério se faz pensar como, desde a Proclamacio da Republica no Brasil, em 1889, a temética in- digena vem sendo tratada. Mais que isso: € importante pensar como no Brasil a histérica presenga de populagées indigenas em terras ame= ricanas tem sido marcada pela exclusao, pela marginalizagdo e pelo apagamento das identidades étnicas de distintos grupos humanos, Essa contextualizaglo nos permite compreender por que nio bastam apenas boas leis para que a realidade seja transformada, gtatendo cm Canscamer ‘Historias e culturas indigenas na Educaglo Bisica a] ¢a Cultura (Unesco), uma agéncia da Organizacio das Nagdes Unidas (ONU), com sede em Paris, sees entre seus propésitos @ construgao da paz e da seguranga mundiais. “Assim os mais de duzentospalses-memsbros esto também com- prometidos com 0 combate ao desrespeito aos direitos humanos, 1 todas as formas de discriminacao ¢ intolerancia, exclusio social, . Acesso em: 10 nov. 2017. % BRASIL. Lei n. 11.645, de 10 de marco de 2008. Altera a Lei n, 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Leino 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que testabelece as diretrizes e bases da educagio nacional, para incluirno eurriculo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temética "Histéria e Cultura ‘Afro-Brasileira e Indigend” Brasilia: Casa Civil, 2008. Disponivel em: , Acesso em: 10 nov. 2017 (CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (Org). Histria dos indios no Brasil Sio Pau- Jo: Companhia das Letras/Secretaria Municipal de Cultura/Fapesp, 192, 611 p. FREIRE, Carlos Augusto da Rocha (Org.). Memeria do SPI: textos, imagens e documentos sobre o Servic de Protepto aos fndios (1910-1967). Rio de Janeiro: ‘Museu do Indio/Funai, 2011, 492 p. GAGLIARDI, José Mauro. O indigena ea Replica, Sto Paulo: Hucitee/Edusp/ Secretaria de Estado da Cultura, 1989, 310 p JOSE DA SILVA, Giovanis MEIRELES, Marinelma Costa, rgulho e preconceito no ensino de Histria no Brasil reflexes sobre curiculs,formagdo docente €

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