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Lorete Maria da Silva Kotze, Paulo Gustavo Kotze e Luiz Roberto Kotze
•
associadas ao avanço da pesquisa clínica, novos caminhos fo
ram percorridos no conhecimento de sua etiopatogenia. Como
ETIOPATOGENESE
consequência, surgiram novas formas de tratamento clínico e A DC é considerada idiopática, pois não se identificou até o
cirúrgico, com bons resultados no controle da atividade da do momento um agente patológico específico. Não há dúvida de
ença. Entretanto, apesar desses notáveis avanços, a descoberta que a predisposição genética e os dados epidemiológicos são
de sua cura parece estar muito distante. mais consistentes e relacionados com doença poligênica.
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348 Capítulo 32 I Doença de Crohn
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-- � O início precoce da DC e sua gravidade podem ser genetica
Quadro 32.1 Possíveis fatores ambientais envolvidos mente determinados e ligados à suscetibilidade em locus do
na doença de Crohn cromossomo 16. Em 2001, mutações no domínio de oligome
rização de nucleotídio (NOD) 2 e recrutamento 15 (CARD) no
Hábito de fumar cromossomo 16 foram os primeiros genes de suscetibilidade
Apendectomia para a DC a ser identificados.
Fatores alimentares (vários) Ahmad et al. (2002) foram os primeiros a estabelecer corre
lação genótipo-fenótipo para a DC. Demonstraram que a pre
Infecções (antes dos 20 anos)
Mycobacterium. Paratubercu/osis disposição para doença do intestino delgado estava associada a
Sarampo alelos variantes NOD2, enquanto pacientes homozigotos para
NOD2 tinham alto risco relativo para doença isolada no íleo
Gastrintestinais recorrentes
Drogas terminal. Embora nenhuma correlação fosse encontrada entre
Anti-inflamatórios não esteroides
Antibióticos NOD2 e o desenvolvimento de fístulas, correlação significativa
Contraceptivos orais foi encontrada na incidência de cirurgia para doença estenosan
Estresse te nos pacientes que eram também positivos para NOD2. Até
o presente momento, os polimorfi.smos associados à DC estão
no gene NOD2/CARD15. Mutações no NOD2 resultam em
diminuição na resposta de ativação de células imunes ao lipo
polissacarídio, corroborando o papel da responsividade bacte
recentemente emigraram de países em desenvolvimento para
riana aberrante em pacientes com DC. NOD2 está associada ao
países industrializados pode corroborar tal fato.
fenótipo clínico específico no qual os pacientes são mais jovens
A questão fundamental em relação à patogênese da DC per
no início da enfermidade e apresentam a doença no intestino
manece: a resposta inflamatória reflete uma resposta imune
delgado, além de predisposição ao desenvolvimento de fibro
apropriada a um estímulo anormal persistente? Ou uma res
estenose. O NOD2 não é apenas um gene de suscetibilidade: é
posta anormal a mais de um estímulo corriqueiro?
também gene modificador de doença, com efeitos fenotípicos
Ultimamente, o papel das bactérias endógenas e patogê
"dose-dependentes".
nicas no desencadeamento da resposta inflamatória tem sido
Alguns genes específicos podem interagir com os fatores
ressaltado. Vários modelos animais têm sido desenvolvidos.
ambientais, incluindo, provavelmente, patógenos bacterianos,
A flora intestinal é diferente conforme as culturas dos países:
ou seus produtos, componentes da dieta, infecções na infância,
nas que dependem menos de alimentos refinados, os indiví
bem como uma variedade de possibilidades. O problema básico
duos armazenam uma flora rica em bifidobactérias e lactoba
parece ser um estimulo na mucosa intestinal, em um indivíduo
cilos; nas que adotam dieta mais ocidentalizada, predominam
geneticamente predisposto, seguido de uma resposta do sistema
os bacterioides. Tais fatos deram ideia do uso de terapias pré e imune isenta de autocontrole.
probióticas para os pacientes com DII. Os probióticos modi Os estudos iniciais dos genes na DII se concentraram na
ficariam favoravelmente a flora bacteriana colônica, o estado pesquisa do complexo maior de histocompatibilidade (MHC) e
imunológico e a inflamação, mas estudos randomizados ainda revelaram achados discordantes entre os autores, sugerindo ni
estão em andamento. fluência nas diferenças étnicas entre as diferentes populações.
Eventos perinatais têm sido associados a alto risco para o O estudo genético também está sendo proposto para cor
desenvolvimento de DI!, tais como infecção pré-natal da mãe; relação do genótipo com a resposta ao tratamento da DC. No
complicações da gestação como pré-eclâmpsia, ameaça de abor Japão, um subtipo de HLA, DQA1 *0102 está relacionado com
to e diabetes gestacional; exposição perinatal ao vírus do sa a DC resistente ao tratamento. Os pacientes com DC não apre
rampo. sentam tolerância oral à flora autóloga, como ocorre no indi
víduo normal, e, portanto, estão expostos à inflamação crôni
• Fatores genéticos ca, pela perpetuação da resposta imune da mucosa ao agente
bacteriano autólogo.
História familiar positiva para RCU ou DC é o fator mais
importante. O risco de descendentes apresentarem DII é de 1,6
e 5,2%, respectivamente, nas duas doenças. Em descendentes • Avanços genéticos na doença de Crohn
de judeus Askenazi, chega a 10 a 12,6%. A alta concordância Na última década, vários estudos de análise de ligação, segui
em gêmeos monozigóticos enfatiza este ponto. Além disso, a dos por estudos de análise sistêmica do genoma, demonstraram
associação da DC com outras doenças de caráter genético (es evidências de polimorfi.smos genéticos associadas à DC em mui
pondilite ancilosante, síndrome de Turner etc.) evidencia o tos genes. Esforços conjuntos em vários centros de pesquisa têm
caráter genético. Estudos familiares evidenciam famílias em alcançado sucesso na identificação de genes na DC, incluindo
que há casos de RCU e DC, sugerindo que estas duas entidades CARD15 (NOD2): DLGS, SLC22A4 e SLC22A5, CARD4,1L-23R,
podem ter um ou mais genes em comum ou que representem ATG16Ll,PHOX2B eNCF4. No entanto, nenhum dos Zoei des
pleiomorfi.smo. tes genes confere risco relativo maior que 2, comprovando que
Fatores genéticos e familiares são mais óbvios em casos que a DC é um distúrbio poligênico complexo, segundo Rioux et
se iniciam antes dos 20 anos de idade. Presumivelmente, em al. (2007) e Hugot e Jung (2006).
pacientes mais velhos, fatores ambientais desempenham papel A identificação do gene CARD15 (Caspase recruitment do
importante na patogênese da DC. main-containingprotein 15), em 2001, redirecionou a atenção
Aspectos genéticos podem antecipar dados epidemiológicos: para o importante papel da imunidade inata na DC. A proteína
por exemplo, filhos de pacientes com DC iniciarem a doença
fator de transcrição nuclear kappa beta (NF-!C�). O NF-JC� de
CARD15 induz apoptose e a ativação da via de sinalização do
em idade mais precoce. Isso também está associado a doença
mais extensa e estenótica do íleo, com necessidade de cirurgia. sempenha função importante na manutenção da homeostasia
Capítulo 32 I Doença de Crohn 349
A D
8 E
Prancha 32.1 Manifestações clínicas de pacientes com doença de Crohn. A. Déficit de crescimento (12 anos); B. Atraso de desenvolvimento
sexual (17 anos); C. Quadro de oclusão intestinal aguda, diagnóstico de DC; O. Paciente adulta com diarreia crõnica e desnutrição, diagnóstico
diferencial com linfoma. Laparotomia sem ressecções; E. Paciente antes e depois de nutrição parenteral total; F. Adolescente com efeitos da
corticotera pia; acne e moon face.
352 Capítulo 32 I Doença de Crohn
Prancha 32.2 Lesões perineais na doença de Crohn. (Esta figura encontra-se reproduzida em cores no Encarte.) A. Lesões orificiais graves
com distorção da anatomia anorretal; B. Lesões graves da pele perineal, alterações orificiais. Observar lesões de vasculite na pele das nádegas;
C. Enduração em períneo estendendo-se à região escrota I, com vários orifícios fistulosos; D. Lesões orificiais, abscesso com orifício drenado
secreção; E. Aumento de volume dos grandes lábios e orifícios fistulosos (setas); F. Leucorreia e orifícios fistulosos para períneo e região peri
neal (setas).
Capítulo 32 I Doença de Crohn 353
traduz comprometimento dos colos. O Quadro 32.3 mostra os A doen� perianal (Prancha 32.2) é observada em 15 a40%
mecanismos e o tratamento para a diarreia na DC. dos pacientes e pode se destacar como a primeira manifestação
A perda de peso pode ser o sintoma inicial da DC. Os me da DC, segundo Buchmann & Alexander-Willians. A doença
canismos são vários: redução da ingestão de alimentos, perdas perianal pode se apresentar nas seguintes formas:
proteicas para o lúmen intestinal, aumento das necessidades
alimentares não atendidas, estado de catabolismo. A desnutri a) lesão de pele: maceração, erosão, ulceração e abscessos,
ção cobra um pesado ônus, sobretudo nas crianças. Felizmente, pregas;
algumas dessas alterações podem ser corrigidas com suporte b) lesão do canal anal: fissura, úlcera, estenose com indu
alimentar adequado (Prancha 32.1, D). ração;
O déficit de crescimento e o retardo de maturação sexual c) fístula: baixa (canal anal para a pele), alta (reto para a
ocorrem em cerca de 6 a 50% dos casos de crianças (Prancha pele), retovaginal.
32.1, A e B). Os distúrbios de crescimento:
a) afetam os pacientes com DC; • Manifestações extraintestinais
b) podem preceder a doença por vários anos;
As manifestações extraintestinais da DC são bastante fre
c) são fáceis de reconhecer;
quentes. Muitas se relacionam com exacerbações da afec
d) mas ainda não são valorizados;
e) são irreversíveis se não tratados a tempo. ção, cedendo quando a doença básica se torna inativa; outras,
urna vez estabelecidas, seguem curso independente e, con
Sua avaliação pode ser feita pelas curvas de percentis. Tam forme sua gravidade, podem levar o paciente ao óbito (Qua
bém a determinação da idade óssea serve para detectar qualquer dro 32.4).
retardo na ossificação (discrepância entre a idade biológica e Manifestações sistêrnicas, como fadiga, febre e emagreci
a cronológica) ou desmineralização e permite calcular o com mento, são notadas na maioria dos pacientes com DC. Pode
primento ósseo esperado.
haver comprometimento de vários órgãos, mas os chamados
Tais efeitos são devidos à desnutrição, por aporte nutricio
órgãos-alvo costumam ser articulações, pele e mucosas, olhos,
nal insuficiente, uma vez que são revertidos com a recuperação
fígado e rins (Prancha 32.3).
nutricional e o controle da doença. Tais alterações podem ser
muito sutis no n i ício e frequentemente precedem as manifes
tações gastrintestinais. A corticoterapia e a inflamação crôni
ca intestinal agravam o déficit de crescimento. O TNF-a pode
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também ser importante mediador da falência de crescimento,
Quadro 32.4 Associações extraintestinais e complicações
pois estudos experimentais comprovam seu efeito inibidor di
reto sobre o condrócito da placa de crescimento. Não há bene
na doença de Crohn
Inflamação Drogas anti-inflamatórias Vias biliares Cálculos de colesterol (DC ileoterminal, ressecção)'
Supercrescimento bacteriano Antibióticos Colangite esclerosante
no intestino delgado Colangiocarcinoma
Diarreia por sais biliares Colestiramina Bucais Ulceração aftoide
Deficiência de sais biliares Dieta pobre em gorduras Hematológicas Anemia (Fe, folato, B,2)*'
Deficiência de lactase Evitar lactose, uso de lactase exógena Trombose venosa e arterial'
Síndrome do intestino curto Depende de segmento ressecado Constitucionais Perda de peso*'
Fístula interna Cirurgia Retardo de crescimento*'
Relacionada a antibióticos Cessar antibióticos *Piora na doença ativa.
Outras afecções Conforme a entidade 'Complicação mais que associação.
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A o
B E
c F
Prancha 32.3 Manifestações extraintestinais da doença de Crohn. (Esta figura encontra-se reproduzida em cores no Encarte.) A. Lesão aftoide
grande e profunda no lábio inferior; B. Acne e lesões na pele da face; C. Aumento de volume dos joelhos, hiperemia. Calor e dor em artrite
reativa; D. Conjuntivite e anemia, com língua despapilada; E. Lesões na pele escrota!; F. Vasculite e eritema nodoso.
Capítulo 32 I Doença de Crohn 355
• Exames de fezes
• Complicações 1 . Rotina para parasitos, bactérias, vírus
• Hemorragia 2. Clostridium difficile e toxina, pesquisar mesmo na ausên
É menos comum na DC do que na RCU e é mais por doença cia de uso de antibióticos
no íleo. Cerca de S a 10% dos pacientes com DC têm ulcerações 3. Pesquisa de leucócitos e/ou sangue oculto
no estômago ou duodeno, e, nas crianças, o comprometimento 4. Pesquisar citomegalovírus, principalmente em pacientes
do intestino delgado proximal é mais frequente. com uso de imunossupressores
Perfuração intestinal; S. Pesquisa de alfa-1-antitripsina, calprotectina ou lactofer
Abscesso intrabdominal;
•
•
rina para determinar atividade da doença (Capítulo 28)
• Estenoses; A dosagem de alfa-1-antitripsinafecal pode ser útil no con
• Suboclusão e obstrução intestinal (são as mais frequentes, trole da atividade da doença, pois, como mede a perda proteica
surgem em consequência de inflamação aguda ou edema, intestinal, a elevação de seus títulos traduz aumento nas fases
ou fibrose crônica); de aumento da permeabilidade intestinal e atividade da doen
• Fístulas e doença perianal; ça; e sua diminuição reflete acalmia do processo inflamatório
• Megacólon tóxico (relativamente raro, associado agrave intestinal.
estado toxêmico dos pacientes);
A determinação da calprotectinafecal também pode ser uti
• Malignidade (maior risco de câncer de cólon após 8 anos
lizada no monitoramento da atividade da DC. A calprotectina
de doença, principalmente com grande área do cólon
é uma proteína neutrofílica abundante extremamente estável
comprometida. Maior risco conforme duração da DC,
nas fezes. Reflete a inflamação intestinal em crianças com DII.
idade precoce de começo, ou história familiar de cân
Como é um teste simples, seguro e não invasivo, tem o potencial
cer colorretal. Há também risco aumentado para adeno
de reduzir o número de procedimentos invasivos na criança.
carcinoma do n i testino delgado. Colangite esclerosante
Seu nível plasmático aumenta de S a 40 vezes em condições n
i
primária pode ocorrer na DC e aumenta o risco para
fecciosas/inflamatórias, porém nas fezes a calprotectina pode
colangiocarcinoma;
ser determinada facilmente por ELISA. As fezes podem ser co
• Complicações extraintestinais (Quadro 32.4).
lhidas em domicílio e entregues no laboratório, repetindo-se o
teste quantas vezes forem necessárias.
•
Outro teste que pode servir de marcador para se conhecer a
DIAGNÓSTICO atividade da DC é a determinaçãofecal de lactoferrina, também
Aumento da suspeita clínica pelo pediatra e pelo clínico por ELISA. A lactoferrina é considerada marcador sensível e
das manifestações intestinais e extraintestinais tem diminuído específico da n
i flamação, tanto para diagnóstico, como para
o intervalo entre sintomas e diagnóstico da DC. Apesar dos monitorar a manutenção, pois seus níveis se correlacionam
avanços tecnológicos, o diagnóstico da DC permanece emi bem com os escores de atividade e com a PCR.
nentemente clínico.
Diversos autores de centros diferentes afirmam, unanime • Exames de sangue
mente, que o diagnóstico de DC é feito após grande intervalo 1. Hemograma
desde o aparecimento de sintomas e sinais compatíveis com a 2. Eletrólitos
afecção, principalmente em se tratando de crianças e adoles 3. Proteínas e frações
centes. No Brasil, os dados são semelhantes: 1 a 6 anos para 4. Ferritina (pode estar elevada na DC ativa e pode estar nor-
Kotze, Kotze et al. (2006) e 1 mês a 1 1 anos para Barbieri et mal mesmo na vigência de deficiência grave de ferro)
al. (2003). S. Transferrina deve ser feita para avaliar anemia
O diagnóstico da DC ainda depende da experiência clínica 6. Dosagem de vitamina B12
do gastrenterologista, combinada à do endoscopista e do pato 7. Provas de função hepática
logista, através de dados macroscópicos e histológicos do trato 8. mv
gastrintestinal alto e baixo, e exclusão de todas as outras possi 9. Velocidade de hemossedimentação ou proteína C reativa
bilidades diagnósticas. Como a doença pode ser grave, lembrar ultrassensível
que os exames invasivos podem piorar as condições emocionais
O hemograma, na fase aguda, mostra leucocitose com des
dos pacientes e de seus familiares.
vio à esquerda, linfopenia, eosinofilia moderada ou acentuada,
História Clínica. Queixa de dor abdominal intensa, noturna
plaquetose. Pode ainda revelar anemia microcítica, enquanto
e associada a diarreia constituem os dados mais valorizáveis
a anemia megaloblástica é mais rara, mas pode ser observa
na anamnese.
da na DC, por alterações na absorção de vitamina B12 no íleo
Exame Físico. Dados antropométricos e de desenvolvimen
to sexual relacionados com a idade; dor à palpação principal terminal.
mente no quadrante inferior direito do abdome com ou sem A hemossedimentação está elevada na fase inicial e se reduz
massa palpável; presença de fissuras, abscessos ou fístula na com o tratamento, sendo um dos indicadores de atividade da
região perianal e lesão perineais são importantes, podendo ser doença, bem como a proteína C reativa (PCR). Entre os pa
o único achado de exame. cientes tratados com azatioprina ou 6-mercaptopurina, a PCR
ultrassensível parece ser um n
i dicador inflamatório negativo
melhor do que a velocidade de hemossedimentação, segundo
• Exames laboratoriais Barnes et al. (2004).
São utilizados alguns exames laboratoriais habituais com os As alterações das frações proteicas, principalmente a acen
objetivos de avaliar a atividade, o prognóstico, as manifestações tuada redução da albumina, o aumento da alfa-2-globulina (su
hepáticas ou pancreáticas, os fenômenos disabsortivos, o estado postamente sintetizada nos cólons) são muito importantes na
nutricional dos pacientes ou ainda afastar outras doenças. avaliação do prognóstico e prenúncio da recidiva da doença.
356 Capítulo 32 I Doença de Crohn
A o
1
B
Ilo:
E
20 40 60 80 100
AGE (years)
Prancha 32.4 Exames radiológicos e de imagem na doença de Crohn. A. Padrão disabsortivo do intestino delgado, com síndrome de má
absorção intestinal; B. Lesões estenosantes no íleo terminal; C. Ultrassonografia abdominal mostrando espessamento das alças intestinais;
O. Comprometimento dojejuno em paciente já operado, tendo desenvolvido fístulas internas; E. Lesão em cólon ascendente; F. Densitometria
óssea de paciente em uso crônico de corticosteroides, denotando necessidade de atenção para metabolismo do cálcio.
358 Capítulo 32 I Doença de Crohn
tras vezes, dilatações de alças e trajetos fistulosos. As lesões são Enterografia por TC ou RM mostra detalhes da morfologia
descontínuas na DC, descritas como lesões em salto. das alças intestinais e faz melhor avaliação do processo infla
Outros exames de imagem são muito úteis não só para ava matório e do grau de fibrose, além de analisar estenoses com
liação, mas também para drenagem percutânea de coleções maior sensibilidade.
localizadas. Colangiorressonância quando há evidência de colestase.
A ultrassonografia (US) pode ser útil na identificação de
espessamento da mucosa intestinal (Prancha 32.4, C) e presen • Exames endoscópicos
ça de adenomegalia e líquido na cavidade abdominal. É eco
O exame endoscópico é de suma importância no diagnóstico
nômica, largamente disponível, não envolve radiação e avalia
e acompanhamento evolutivo da DC, inclusive com obtenção
complicações periviscerais e extraintestinais. Soma-se a isso a
de fragmentos de mucosa para exame histopatológico.
possibilidade de se conhecer a atividade da doença ao se moni
Enteroscopia de duplo balão ou video push enteroscopy é uti
torar o volume do fluxo na artéria mesentérica superior. lizada para acessar áreas do intestino delgado altamente suspei
A ultrassonografia endorretal é útil no caso de fistulas, mas tas, quando outras modalidades diagnósticas foram negativas,
restrita devido à dor. ou para atingir áreas estenosadas para dilatação com o balão.
A tomografia computadorizada de abdome (TC) pode de A enteroscopia tem sido indicada na localização de sangra
finir precisamente a anatomia de fístulas e cavidades na DC; menta digestivo proveniente do intestino delgado quando ou
ou ser útil para identificar abscesso ou linfoma. É uma técnica tros métodos diagnósticos falham. Também pode ser indicada
rápida, bastante disponível, bem tolerada e que permite com para estudo de afecções, ni clusive no diagnóstico da DC. A tole
pleta avaliação do cólon quando a endoscopia é incompleta. rância é boa e não são relatadas complicações. Tem a vantagem
Contudo, associa-se à grande exposição de radiação ionizan de permitir biopsias. Entretanto, poucos centros dispõem de
te. Ambas, US e CT, são cada vez mais usadas para identificar aparelhos e profissionais treinados para este método. Assim, a
anormalidades intrínsecas da parede abdominal, como áreas de colonoscopia, com estudo de todos os segmentos dos cólons e
espessamento ou aderências das alças intestinais.
A ressonância magnética (RM) não requer radiação ioni
reto, e possibilitando visualização da válvula ileocecal e do íleo
terminal, tem sido o exame endoscópico de escolha (Prancha
zante, dá excelente contraste dos tecidos moles e pode ofertar 32.5, B e C). Está indicada na falta de resposta à terapia habi
imagens sequenciais. Consequentemente, é superior à US na tual, quando se pretende afastar citomegalovírus em pacientes
identificação de fístulas e estenoses, e na localização de segmen crônicos em uso de imunossupressores, e para verificar colite
tos afetados, principalmente no intestino delgado proximal. O por Clostridium difficile em exames duvidosos.
uso de contraste com gadolínio, endovenoso, melhora a técnica As úlceras são as alterações endoscópicas mais frequentes,
e permite separar doença da mucosa (RCU) da doença trans com tamanhos e formas variáveis, recobertas por fibrina, bor
mural (DC), além de identificar compromeimento t do intestino dos elevados, limites nítidos, sendo poupada a mucosa entre
delgado proximal. Há excelente concordância com o diagnós as lesões. Podem localizar-se em todos os segmentos do trato
tico histológico (sensibilidade 96% e especificidade 90%). Pode digestivo, da boca ao ânus, sendo mais frequentes, porém, em
ser usada para se conhecer a atividade da DC, pois se correla cólon e íleo terminal, preservando o reto na grande maioria das
ciona com o índice de atividade (CDAI Crohn 's Disease Acti
=
vezes. Os casos crônicos, de longa duração, podem apresentar
vity Index). É um exame que permite escanear todo o abdome mucosa espessada, com aspecto em "paralelepípedo", associada
dentro de um curto período de tempo. É particularmente útil a estenoses segmentares únicas ou múltiplas, fístulas comple
na detecção de fístulas e estenoses. Em relação a abscessos, Ma xas (peritoneais, perineais e retovaginais) de difícil controle
clínico-endoscópico.
Endoscopia virtual do intestino delgado e colonoscopia
ruyama et al. (2000) relatam sua utilidade na diferenciação de
abscessos isquirretais e pelvirretais. Permite visualizar infiltra
ção do tecido adiposo e espessamentos significativos na parede virtual não mostraram grande vantagem, mas podem ser úteis
intestinal, ambos fatores evidentes de processo n i flamatório em casos de estenoses, principalmente se intransponíveis aos
agudo. Outra vantagem do método é a de permitir localizar colonoscópios.
"zonas quentes", isto é, áreas de inflamação particularmente • Cápsula endoscópica (CE)
graves, em atividade da DC. Como não requer radiação ioni
zante, é indicada para casos em que há necessidade de repetições
Recentemente, foi introduzida na prática médica a cápsu
la endoscópica (wireless capsule-enteroscopy WCE) que vem
=
do exame, principalmente em crianças e adolescentes.
contribuindo de maneira significativa para o esclarecimento de
Assche et al. (2003) desenvolveram score para determinação
da gravidade da DC perianal através da RM:
afecções comprometendo o n i testino delgado. Na DC fornece
informação sobre o tipo de lesões e a extensão da enfermida
• Número de trajetos fistulosos: nenhum, único sem ramos, de, principalmente em casos de difícil diagnóstico pelos outros
métodos. Entretanto, salienta-se a importância da realização
i testinal a fim de se evitar a retenção da
ou ramificado, múltiplos;
• Localização: extra ou n
i teresfinctérico, transe.sfinctérico, prévia de um trânsito n
supraesfinctérico; CE em áreas de estenose. Já está disponível para crianças e tem
• Extensão: infraelevador ou supraelevador; se tornado a modalidade diagnóstica de escolha para pacientes
• Hiperintensidade em imagens T2: ausente, discreta, pro com suspeita de DC no ntestino
i delgado proximal.
nunciada;
• Indicações na DC
• Coleções (cavidades > 3 mm de diâmetro): ausentes ou
•avaliação do envolvimento do n i testino delgado em pa-
presentes;
cientes com DII e colite isolada;
• Comprometimento retal: normal ou espessado.
•determinação da extensão da DC do intestino delgado;
De acordo com o tratamento com infliximabe ou cirur •suspeita diagnóstica de DC;
gia, comparações podem ser feitas para tomada de novas de •seguimento dos pacientes com DC;
cisões. •monitoramento do tratamento.
Capítulo 32 I Doença de Crohn 359
•
pode ser útil na suspeita de colestase e/ou colangite.
COMPORTAMENTO BIOLÓGICO
• Exame anatomopatológico Quanto ao comportamento biológico, há subgrupos de pa-
cientes com:
O comprometimento histológico gastroduodenal ocorre em
mais de um terço dos pacientes, exclusivamente no delgado em • forma fibroestenosante (não perfurante);
30 a 35%, no íleo terminal e em alguns segmentos do cólon, • forma fistulizante (perfurante);
principalmente no ascendente, em 50 a 60%; e a doença limitada • forma n
i flamatória.
ao cólon em 10 a 15% das crianças e adolescentes.
• Aspectos macroscópicos
• Alterações totais da parede do intestino
Nos locais do intestino afetado, observa-se o envolvimen A partir de peças cirúrgicas, observam-se úlceras cicatriza
to total da parede, com hiperemia e depósito de exsudato no das causando distorção da arquitetura, proliferação do tecido
peritônio visceral, com aspecto rugoso e nodular, propician conjuntivo e fibrose da submucosa e muscular da mucosa. Na
do aderência entre as alças, entre estas e outras vísceras e até submucosa, pode-se observar dilatação de linfáticos. Toda a
com a parede abdominal. Em fases mais avançadas da doen extensão da parede intestinal apresentará, à microscopia, infil
ça, toda a parede e, em especial, a válvula ileocecal tornam-se trado inflamatório rico em plasmócitos, linfócitos, macrófagos,
fibróticas, espessadas e rígidas. A lesão da mucosa é represen mastócitos, eosinófilos e neutrófilos.
tada por úlceras aftoides que se unem, aumentando de tama
nho, formando lesões irregulares e serpiginosas, intercaladas • Acúmulo de gordura no mesentério na DC
com áreas normais, chamadas de "lesões em salto". A muco
sa preservada, mas com edema, entre as áreas com úlceras, Em peças cirúrgicas de portadores da DC, encontra-se es
pode apresentar aspecto polipoide, chamado de pseudopólipo, pessamento e endurecimento da borda mesentérica com hiper
podendo também estar presentes os pólipos inflamatórios. O trofia significativa do tecido adiposo. Tais acúmulos aparecem
conjunto de achados: úlceras aftoides, ulcerações serpigino também à TC e à RM. Constitui urna "característica" da DC
sas, edema, ulcerações lineares (aspecto em "cobblestone") e (Figura 32.1, A).
os pseudopólipos são importantes para o diagnóstico de DC A origem desta gordura excessiva é desconhecida. Não apa
(Figura 32.1, A). rece em pacientes obesos. Ao contrário, os acúmulos ocorrem
mais frequentemente em pessoas com índice de massa cor
• Aspectos microscópicos poral normal e parecem ser consequência, a longo prazo, de
As alterações epiteliais variam de discretas a intensas, ao inflamação crônica. Podem ser urna expressão da interação
lado de áreas de processo reparativo. Os sinais de cronicidade entre tecido adiposo e mediadores da resposta imune. Parece
360 Capítulo 32 I Doença de Crohn
A B
Prancha 32.5 Imagens endoscópicas na doença de Crohn. (Esta figura encontra-se reproduzida em cores no Encarte.) A. Endoscopia diges
tiva alta com lesões no antro gástrico. B. Lesão aftoide em válvula ileocecal. C. Colonoscopia mostrando lesões ·em pedra de calçamento".
O. Imagens obtidas pela cápsula endoscópica: Lesões aftoides de pequena monta em intestino delgado.
Capítulo 32 I Doença de Crohn 361
Figura 32.1 Patologia na doença de Crohn. A, Peça cirúrgica com mucosa tipo pedra de calçamento. Notar espessamento da parede por
intensa fibrose e a gordura em serosa. B, Exame histológico demonstrando granuloma não caseoso. (Esta figura encontra-se reproduzida em
cores no Encarte.)
•
provável que os adipócitos sejam importantes no sistema
imune, possivelmente produzindo citocinas, particularmente
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
TNF-alfa. Antes de submeter o paciente a métodos invasivos, des
cartar causas infecciosas e parasitárias!
Devido às variadas manifestações clínicas da DC, muitas
• COMPARAÇÃO DE MÉTODOS DIAGNÓSTICOS afecções podem ser aventadas no diagnóstico diferencial:
A CE é mais precisa na detecção de lesões mucosas, en a) Afecções ileocecais: Ileítes agudas, adenites mesentéricas,
quanto a TC mostra patologia intra e extraluminal.
•
•
• distúrbios do sono;
• tendência a recolhimento social; Nenhum alimento ou substância, em particular, demonstrou
• ansiedade pessoal e raiva por estar doente; deflagrar oupiorar a DC. Assim, devem-se respeitar intolerâncias
• frustração devido à progressão crônica da enfermidade. individuais, sem restrições, para se evitar desnutrição.
Capítulo 32 I Doença de Crohn 363
• Mesalazina
Com o objetivo de serem eliminados os efeitos da porção tudos comprovam que a mesalamina é tão eficiente quanto a
sulfa, desenvolveram-se compostos, já disponíveis no comércio, sulfasalazina no tratamento da DC afetando o cólon, além de
nos quais as moléculas de 5-ASA se apresentam de forma ivre,l manter a remissão.
sendo designados de mesalarnina nos EUA e de mesalazina na Em crianças, a DC é tipicamente subtratada. A mesalazina,
Europa. Para se evitar que o 5-ASA seja absorvido nas porções dos compostos 5-ASA, é a preparação mais frequentemente
superiores do trato digestivo e que alcance, assim, os locais de usada. As preparações cuja mistura proporciona liberação no
inflamação, um dos recursos utilizados foi o de "recobrir" a intestino delgado são de preferência; também têm biodisponibi
mesalazina com resina acrílica sensível a pH maior de 7, o que lidade para liberação no íleo distal e cólon. As preparações que
permite sua liberação no íleo distal e cólon. Tais modificações dependem da liberação do pH são consideradas inadequadas
aumentariam a tolerância à droga, e 80 a 90% dos pacientes para tratar DC de comprometimento delgado, pois são efetivas
ntolerantes
i à sulfasalazina aceitam bem a mesalazina. Entre no íleo terminal e cólon. As mesalazinas com pontes dissulfí
tanto, tais compostos não são isentos de efeitos colaterais. Es- dicas (olsalazina, sulfasalazina, balsalazida) não têm indicação
366 Capítulo 32 I Doença de Crohn
na proctite quiescente.
• lmunomoduladores
• Azatíoprina e 6-mercaptopurina (Quadro 32.7) O metotrexato não tem boa absorção quando administrado
por via oral e parece não dar bons resultados para fechamento
de fístulas. Alguns estudos preconizam seu uso se. É um anta
Azatioprina (AZA) e 6-mercaptopurina (6-MP) têm efei
to imunossupressor e propriedades linfocitotóxicas. O tempo
para alcançarem o efeito metabólico ativo é de diversos meses, gonista do ácido fólico. Com objetivos de redução de toxicidade
explicando a demora na resposta clínica de 3 a 4 meses. O me e aderência à terapia, doses semanais intramusculares podem
canismo de ação destas drogas parece estar relacionado com a ser administradas. Tem indicação para refratariedade ao trata
inibição da função dos linfócitos, primariamente das células T. mento com corticoides e azatioprina. Efeitos colaterais: altera
Como tais efeitos são observados apenas 2 meses após a intro ção de transaminase pirúvica (7%), náuseas (1%) e rash (1%).
dução de 6-MP ou AZA estes medicamentos não são adequa
,
Os antimetabólicos parecem ampliar a resposta à terapia
dos para o tratamento das formas agudas. Todavia, são indica biológica, estando associados à menor n i cidência de anticor
dos para o tratamento de corticodependência, refratariedade pos contra infliximabe.
ao tratamento ou fistuização
l grave na DC. Estudos mostram
que pacientes tratados com estas medicações podem se livrar • Quando suspendero uso de imunossupressores?
do uso de cortícosteroides. Até o presente, não se tem a resposta.
As drogas ímunomoduladoras atualmente representam op
ções para o tratamento a longo prazo em casos selecionados de • Tracolímus
DC. A 6-mercaptopurina (6-MP) e a azatioprina (AZA) po Embora o tracolimus tenha um mecanismo de ação seme
dem ser usadas em pacientes que se tornaram dependentes de lhante ao da ciclosporina, sua absorção VO é boa, mesmo na
corticosteroides e refratários ao tratamento com estes compos DC do intestino delgado. Alguns estudos demonstraram fe
tos ou com aminossalicílatos. De modo similar, pacientes com chamento de fístulas em número pequeno de pacientes. As
DC nos quais os corticosteroides não podem ser descontinuados doses preconizadas são de 0,15 a 0,31 mg/kg/dia; entretanto,
ou que apresentam doença perianal ou fístulas persistentes, po os doentes recebiam, concomitantemente, AZA ou 6-MP por
dem se beneficiar do uso destes ímunomoduladores. 22 semanas antes de esta droga ser n
i terrompida. Em crianças,
As doses preconizadas são de 1 a 1,5 mg/kgldia de 6-MP e 0,5 mg!kg/dia.
de 1,5 a 2 mg/kg/dia de AZA (Quadro 32.8). Entre os efeitos
adversos relacionados com estes fármacos, cita-se a supressão • Mofetila micofeno/ato
da medula óssea, particularmente neutropenia e plaquetopenia, O mofetila micofenolato foi indicado para pacientes que
disfunção hepática e pancreatite, que respondem bem à retirada não toleraram AZA e 6-MP. Esta droga inibe a síntese de pu
da droga. Recomenda-se controle periódico com hemograma rinas nos linfócitos T e B. Parece agir mais rapidamente que a
e provas de função hepática pelo menos quatro vezes ao ano. AZA e a 6-MP. A dose de 2 g/dia, com poucos efeitos colaterais,
Estas drogas têm se mostrado seguras em crianças e adultos e foi indicada. Como é usada em transplantes, doenças imuno
existe evidência crescente de sua segurança na gestação. proliferativas têm sido descritas em alguns pacientes.
Capítulo 32 I Doença de Crohn 367
----
-- T------ BIOLÓGICOS
Quadro 32.8 Medicamentos utilizados no tratamento da doença de INFLIXIMABE
Crohn, disponíveis no mercado brasileiro Remicade'IP: frascos de 100 mg, EV
Indução 5 mg/kg peso: zero, 15 dias e 30 dias
Parte I Manutenção: 5 mg/kg a cada 8 semanas
CO TICOIDES ADALIMUMABE
PREDNISONA Humira®: ampolas de 40 mg, SC
Meticorten"", Prednisona"": comprimidos de S e 20 mg Indução: 160 mg semana 1; 80 mg semana 2, SC
Dose inicial: 40-60 mg/dia, VO, até remissão; diminuir gradativamente até Manutenção: 1 ampola de 40 mg em semanas alternadas, SC
exclusão
VO =Via oral; EV =Via endovenosa; SC = Subcutânea.
Dose de manutenção: não é indicada para manutenção
*Alguns autores recomendam dose de manutenção semelhante à inicial.
BUDESONIDA
Entocort®: comprimidos de 3 mg; frasco para enema
Dose inicial: 9 mg em dose única matinal, VO, por 8 semanas
Dose de manutenção: não é indicada para manutenção
• Antimicrobianos (Quadro 32.8, Parte li)
Enema: comprim idos dispersíveis de 2,3 mg em 1 1 S ml de solução;
Os antimicrobianos são efetivos em algumas situações, par
1 frasco/dia, 7 a 14 dias
ticularmente na doença perianal. São de algum benefício na
HIDROCORTISONA
Succinato sódico: Cortizofl" e Solu-CorteF ampolas de 1 00 e 500 mg; uso EV
doença do ni testino delgado, mas de uso principal na doen
ça dos cólons. Alteram a flora intestinal e diminuem a esti
Succinato: Flebocorticf®: frasco-ampolas de 1 00, 300 e 500 mg;
mulação antigênica ao sistema imune da mucosa do intestino,
Hidrocortizona Cortisonaf® frasco-ampolas de 100 e 500 mg; uso EV
sendo usados como tratamento primário ou de infecções in
AMINOSSAL/CILATOS tercorrentes.
SU LFASALAZI NA O metronidazol mostra-se efetivo no tratamento da doen
Azulfim® e Salazoprim®: comprimidos de 500 mg ça fistulosa perianal, provavelmente por ser um potente agente
Dose inicial: 2-4 g/dia, VO, até remissão antianaerobiose por afetar a capacidade dos neutrófilos para mi
Dose de manutenção: 1-2 g/dia, VO, tempo prolongado* grar aos locais da inflamação. A dose utilizada é de 10 a 15 mg/
MESALAZINA (5-ASA: ÁCIDO 5-AMINOSSALICrLICO) kg/dia (máximo de 1,5 g/dia). O tratamento prolongado (4 a
Asa/ir®: comprimidos de 400 mg 6 meses) acarreta risco de neuropatia periférica, especialmen
Supositórios: 0,5 g, 3 vezes ao dia, por 14 a 21 dias te nos pacientes recebendo mais que 10 mg/kgldia. Essa droga
MesacoJ®: comprimidos de 400 e 800 mg não é efetiva na ileíte da DC, isolada. Efeitos colaterais: náuseas,
Dose inicial: 1,6 g/dia, VO, até remissão gosto metálico e risco de neuropatia periférica. O paciente deve
Dose de manutenção: 800 mg/dia, VO, tempo prolongado* evitar o uso de álcool.
Enema de retenção: 3 g/dia, 14 dias O ciprofloxacino tem sido apontado como opção terapêutica
Supositórios: 0,5 g, 3 vezes ao dia, por 14 a 21 dias para pacientes adultos intolerantes ao metronidazol.
Pentasa®: comprimidos de 500 mg Lembrar que o metronidazol, como o ciprofloxacino, exer
Dose inicial: 3-4 g/dia, VO, até remissão ce efeito sobre a flora intestinal, mas ambos têm propriedades
Dose de manutenção: 1,5-2 g/dia, VO, tempo prolongado* imunomoduladoras.
Sachê: 1 e 2 g, inicial 3-4 g; manutenção 1,5-2 g/dia
Supositórios: 0,5 g, 3 vezes ao dia, por 14 a 21 dias • Antibióticos
Enema de retenção: 1 ao dia, 14 dias Há risco aumentado para colite associada a C. difficile quan
do se usam antibióticos, concluindo-se que pacientes com surto
Parte 11 de diarreia devem ser checados para este e outros patógenos.
IMUNOSSUPRESSO ES
AZATIOPRINA • Terapia biológica
lmuran"": comprimidos de 50 mg Com a introdução da terapia biológica no armamentário
Dose: 2 mg/kg/dia, VO, por tempo prolongado do tratamento da DC, principalmente nas suas formas graves,
houve grande empolgação, mas deve-se ponderar, com muito
6-MERCAPTOPURINA
cuidado, a sua indicação, pois a ocorrência de sérios efeitos ad
Mercaptina'®, Puri-Nethof®: comprimidos de 50 mg
versos pode aumentar o risco do tratamento, apesar do benefí
Dose: 1,5 mg/kg/dia, VO
cio que possa ser alcançado. Portanto, algumas perguntas são
METOTREXATE
inevitáveis: em quais pacientes devemos usar a terapia biológica
Methotrexate®, Metotrexate® e Motrex®: comprimidos de 2,5 mg
na DC? Quando devemos utilizar estes medicamentos? Quando
Dose: 25 a 50 mg/semana, VO, 12 semanas
não podemos utilizá-los? Por quanto tempo?
ANTIMICROBIANOS
METRONIDAZOL • lnfliximabe (anti-TNF-a)
FlagyJ®, MetronidazoJ® e Metronix®: comprimidos de 250 e 400mg; Infliximabe (Remicade®) é um anticorpo monoclonal qui
solução injetável de 500 mg mérico antifator de necrose tumoral. É geneticamente produzi
Dose inicial: 1,2 g/dia, VO, em 3 tomadas, até remissão do através de uma linhagem celular recombinante e na qual as
CIPROFLOXACINO regiões variáveis de ligações do anticorpo monoclonal murino
Ciflox®, Cipro�&, Procin"", Quinof/ox®: comprimidos de 250 e 500 mg específico para o fator de necrose tumoral humano são ligadas
Prof/ox�&·: comprimidos de 250, 500 e 750 mg às regiões constantes da imunoglobulina humana da subclasse
Dose inicial: 500-750 mg/dia, VO; tempo? IgG1k. Este tipo de construção reduz a possibilidade de uma
368 Capítulo 32 I Doença de Crohn
reação imunológica à imunoglobulina inteiramente murina.. A eficácia do ADA foi semelhante com, ou sem, o uso de
O infliximabe é capaz de neutralizar o TNF-a e não há dúvi imunossupressores associados; provavelmente, o uso exclu
sivo de ADA seja mais conveniente, na intenção de reduzir
efeitos adversos. Destes, a longo prazo, deve-se estar atento às
da de que exerce atividade anti-inflamatória e induz apoptose
de células T ativas. Três polimorfismos nos genes da apoptose
potencialmente influenciam a resposta ao infliximabe em pa infecções, principalmente nos pacientes em uso concomitante
cientes com DC luminal ou fistuizante.
l de m
i unossupressores ou que tenham necessidade de corti
A resposta ao infliximabe pode ser determinada por con costeroides.
dições fisiológicas e/ou genéticas. Os genes do polimorfismo
NOD2 não predizem a resposta do tratamento anti-TNF-a. • Certolizumabe-pegol
Parece que a dose de manutenção a cada 8 semanas é supe É outro anti-TNF humanizado e peguilado, de adminstração
rior a 12 semanas. Os dados sugerem que os efeitos do trata subcutânea, mas ainda não disponível no Brasil.
mento com infliximabe em crianças são melhores do que para
adultos, tanto na indução da remissão como para o tratamento
• Nata/izumabe
de manutenção. É droga anti-integrina-alfa 4, que inibe a migração leucoci
Retardo de crescimento é uma complicação comum na DC tária através do endotélio vascular, reduzindo o processo infla
da criança e do adolescente, sendo seu restabelecimento um matório. É usada no tratamento da esclerose múltipla. Também
marcador de sucesso terapêutico bem aceito. Até agora, há evi não está disponível no Brasil.
dências de que o tratamento com infliximabe melhora o cres
cimento em crianças com retardo causado pela DC.
• Talidomida
Por outro lado, relato de casos assinalam melhora das mani A talidomida parece ser potente inibidor do fator de necro
festações extraintestinais da DC não responsivas às terapêuticas se tumoral-alfa (TNF-alfa). Dois trabalhos mostraram uso de
convencionais após o uso de infliximabe. 50 a 100 mg e 200 a 300 mg, em dose única noturna, com boa
Recentemente, foram relatados casos do desenvolvimento resposta no fechamento de fístulas (64 e 70%, respectivamen
de linfoma hepatoesplênico-cé l ulas T, que é uma forma rara te). Em crianças, 1,5 a 2 mg/kg/dia. Os efeitos colaterais são
teratogenicidade, neuropatia periférica, dermatite, constipação
de linfoma não Hodgkin, ocorrendo mais frequentemente em
adolescentes e adultos jovens masculinos. Os pacientes estavam intestinal e sedação excessiva.
também recebendo azatioprina ou 6-mercaptopurina. Perma • Indicaçõesgerais dos agentes anti-TNF
nece a dúvida sobre o desenvolvimento da neoplasia estar re
lacionado com os imunossupressores ou o infliximabe.
Tanto o infliximabe (IFX) como o adalimumabe (ADA)
foram mais tardiamente utilizados em Gastrenterologia, so
Outros eventos adversos incluem infecções oportunistas,
mente usados após experiência acumulada na Reumatologia,
reativação de tuberculose e ocorrência de doenças malignas.
principalmente no tratamento da artrite reumatoide (AR), que
foi a doença desbravadora que permitiu utilizar estes medi
.,..lmunogeniádade
camentos na prática clínica diária. Algumas indicações, den
Reações adversas podem ocorrer à infusão da droga, mesmo
tre elas a AR e a própria DC, são atualmente consagradas,
com uso de pré-medicação (antipiréticos, anti-histamínicos ou
e constam em bula. Entretanto, há outras indicações, como
corticoides), provavelmente pelo desenvolvimento de autoanti
uveíte, iridociclite, hidrosadenite supurativa e artrite reuma
corpos ao infliximabe, chamados de anticorpos antiquiméricos
toide juvenil, que ainda não estão liberadas para uso pelos
humanos. Sua presença está associada ao aumento do número órgãos reguladores, apesar de significativas evidências cien
de reações a infusões, reações de hipersensibilidade retardada
tíficas comprovando a eficácia destes agentes. Estas indica
e curta duração da resposta ao tratamento. A imunomodula ções, denominadas off-label, por não constarem em bula oficial
ção funciona sinergicamente com o infliximabe e parece dimi dos medicamentos, tornam o acesso ao IFX e ADA difícil no
nuir o risco da formação de anticorpos e o risco para reações cenário público e privado de saúde, pois nem as Secretarias
de infusão. Pacientes menores de 14 anos tendem a ter menos de Saúde, nem os convênios médicos autorizam sua libera
anticorpos. Se ocorreu reação à infusão em uma sessão, pré ção para este fim. As principais indicações, que constam em
medicação pode prevenir reação subsequente. bula, dos agentes anti-TNF são: artrite reumatoide, doença de
Crohn (crianças e adultos), espondilite ancilosante, psoríase
• Adalimumabe (anti-TNF-a) e artrite psoriásica.
Adalimumabe (Humira®) é um anticorpo monoclonal, total
mente humano, antagonista do fator de necrose tumoral (ani t • Indicações dos bológicos
i na doença de Crohn
TNF), liberado para uso na DC de adultos. Mostrou-se mais Em Gastrenterologia, é no campo da DC que os primei
efetivo do que o placebo na indução da remissão em pacientes ros conhecimentos sobre a terapia biológica foram aplicados,
que não haviam recebido previamente anti-TNF, bem como inicialmente com o IFX e posteriormente com o ADA. Para
nos que deixaram de responder, ou mostraram intolerância melhor se entenderem as indicações mais consagradas, uma
ao infliximabe. leitura detalhada das bulas destes medicamentos evidencia es
Esquema de indução: 160 mg na semana zero, 80 mg na tes dados.
semana dois. No Brasil, o IFX foi liberado para uso na DC no ano 2000,
Esquema de indução: 40 mg a cada 2 semanas, a partir da inicialmente para o tratamento das formas moderadas a graves
semana quatro. da doença, que não respondiam à terapia convencional com
Os dados sobre a formação de anicorpos
t contra o adalimu corticoides e/ou imunossupressores. Os estudos definiram
mabe (ADA) na artrite reumatoide registraram 5,5% de positi doença moderada a grave baseando-se no CDAI (Crohn's di
vidade, mas na DC estes dados ainda são limitados. Anticorpos sease activity index) entre 220 e 450. Inicialmente, o IFX foi uti
monoclonais totalmente humanos tendem a ser menos imu lizado para a forma luminal da DC, entretanto, outros estudos
nogênicos do que os quiméricos. evidenciaram a forma fistulizante como outra grande indicação
Capítulo 32 I Doença de Crohn 369
• Critérios de agressividade
desta terapia. Mais recentemente, passou-se a se utilizar o IFX Alguns estudos procuraram estudar quais os fatores que in
no manejo da DC na faixa etária pediátrica, com bons resulta dicariam doença com pior prognóstico e maior possibilidade
dos. Ultimamente, fala-se na utilização do IFX após ressecções de complicações na DC. Em um destes trabalhos, procurou-se
intestinais, para prevenção da recorrência. Entretanto, estudos estudar quais os fatores de risco para cirurgia precoce nestes
com maior amostragem devem ser publicados antes de se acei pacientes. Após a análise de 345 pacientes, Sands et al. (2003)
tar esta como uma indicação precisa do tratamento. concluíram que tabagismo, doença de intestino delgado sem
O ADA foi liberado para uso na DC, no Brasil, no ano de acometimento do cólon, náuseas, vômito e dor abdominal à
2007, com seus estudos focando, da mesma forma que para o
IFX, as formas moderadas a graves da doença, seja de forma
luminal seja fi.stulizante. Neste mesmo ano, provou-se a eficá
cia do ADA em pacientes que apresentaram perda de resposta Precoce
ou n
i tolerância ao uso do IFX. Portanto, o ADA tem indicação Biológicos
precisa tanto em pacientes virgens de outros agentes anti-TNF,
como na falha ao tratamento prévio com IFX.
apresentação nicial,
i aumento na contagem de neutrófilos, e • Comentários dos autores do capítulo
uso de corticoides nos primeiros 6 meses do diagnóstico foram O estudo top-down versus step-up foi realmente um estudo
fatores com influência significativa em operações abdominais revolucionário no que diz respeito a indicações mais precoces
precoces. Em outro estudo, Lakatos et al. (2009) acrescentam a de utilização de terapia biológica. Entretanto, este estudo apre
estes a doença perianal e o uso precoce de imunossupressores senta algumas limitações importantes. Primeiramente, não foi
e biológicos. Outros trabalhos procuraram identificar pacien um estudo duplo-cego, o que pode trazer um viés na análise
tes que se beneficiariam da estratégia descendente (top-down) das variáveis. Além disso, a terapia biológica empregada foi
na DC pela maior agressividade de doença. Nestes, ficou claro somente o regime de indução de IFX (0, 2 e 6 semanas), não
que pacientes com diagnóstico abaixo de 40 anos, com doen seguido de manutenção da remissão a cada 8 semanas. Isso pode
ça fistulizante, tabagistas, com perda de mais de 5 kg antes do ter colaborado para que as taxas de remissão se equilibrassem
diagnóstico e com uso de corticoides como primeira forma de após as 52 semanas. Ressalta-se que, mesmo assim, os dados de
tratamento apresentam reais possibilidades de benefício com cicatrização da mucosa mostram superioridade m i portante na
formas mais agressivas de tratamento. Portanto, pacientes com terapia biológica mais precoce. Se a estratégia descendente não
estas características, ilustradas nos trabalhos descritos, passa pode ser recomendada para todos os pacientes, este trabalho
riam a ter doença com curso mais grave e poderiam se bene afirma que há definitivamente lugar para este tipo de terapia
ficiar de indicações de terapia biológica mais precoce, com o em alguns pacientes com DC.
benefício de redução das taxas de complicações da DC e suas
consequências. As principais características de agressividade • Contraindicações da terapia biológica nas 011
da DC encontram-se resumidas no Quadro 32.10. Nem todos os potenciais candidatos à utilização de agentes
biológicos nas DII podem ser beneficiados com estes medica
• Resultados: step-up versus top-down mentos, e isso vale tanto para DC quanto para RCUI, até mes
Apenas um trabalho randornizado comparando as duas es mo para outras indicações de agentes anti-TNF fora do sistema
tratégias de tratamento da DC, ascendente versus descendente, digestório. A segurança nos estudos de fase II e III, somada à
foi publicado na literatura. Trata-se do famoso estudo de top experiência principalmente da Reumatologia, além dos acha
down publicado pelo professor Geert D'Haens, da Bélgica, e seu dospós-marketing destas drogas, mostra que algumas situações
grupo. Este estudo foi publicado no Lancet, em 2008, e incluiu tornam impossível a utilização de IFX e ADA com segurança.
133 pacientes oriundos de 18 centros de referência em DII da Como os agentes anti-TNF são potentes imunossupressores,
Bélgica, Holanda e Alemanha. O desenho deste trabalho divi nenhuma infecção deve estar vigente no início do tratamento.
diu os pacientes em dois grupos: um que recebeu m i unossu Portanto, nf
i ecções ativas, em qualquer sistema do organismo,
pressão combinada de azatioprina e IFX como primeira terapia tornam-se contraindicações importantes e devem ser comple
(top-down) e outro com tratamento convencional, iniciando-se tamente erradicadas antes da exposição do paciente aos bioló
com corticoides, passando posteriormente para azatioprina e gicos. Neste contexto, entra importante alerta: observaram-se
utilizando o IFX mais tardiamente (step-up). O principal ob índices significativos de reativação de tuberculose durante o
jetivo foi analisar taxas de remissão sem corticoides entre os tratamento biológico em alguns casos. A infecção prévia por
dois grupos. Ao final de 26 semanas, houve maiores taxas de tuberculose e/ou uma exposição a contatos recentes torna a
remissão sem corticoides nos pacientes com imunossupres investigação prévia com detalhada anarnnese, PPD e radio
são combinada precoce (top-down) em relação ao outro grupo grafia de tórax essencial para se afastar qualquer possibilidade
(60% versus 35,9%; p 0,006). Esta diferença diminuiu um
=
de problemas, antes do tratamento. Pacientes com PPD reator,
pouco após 52 semanas de seguimento (61,5% versus 42,2%; p acima de 10 mm (ou até 5 mm em algumas situações), tornam
= 0,028). Entretanto, após 2 anos de seguimento (104 semanas), se impossibilitados de serem tratados por biológicos, sem um
não houve diferença estatística nas taxas de remissão entre os tratamento específico prévio de erradicação da tuberculose. O
dois grupos. Um importante dado deste trabalho, que foi um Quadro 32.11 ilustra as principais contraindicações da utiliza
dos objetivos secundários do estudo, mostrou que ao final de ção de inibidores do TNF-alfa encontradas na prática clínica
2 anos, uma maior taxa de cicatrização da mucosa no grupo diária e na literatura.
que seguiu a estratégia top-down foi encontrada em relação
ao grupo de tratamento convencional (73,1% versus 30,4%;
p 0,0028).
= ----
--
----
-- T·
Quadro 32.11 Principais contraindicações dos agentes anti-TNF
no cenário da DC e da RCUI
------T·------
PRINCIPAIS CONTRAINDICAÇÕES DA TERAPIA BIOLÓGICA NAS DII:
Quadro 32.10 Critérios de pior prognóstico (maior agressividade)
1, Infecções ativas de qualquer natureza, ligadas ou não à DC ou RCUI
da DC, que definem potenciais candidatos à terapia descendente
2. Abscessos abdominais ou perianais ligados à DC
(top-down) no manejo da DC
3. Tuberculose ativa, recente ou prévia, com PPD reator ou radiografia de
tórax com achados sugestivos
Critérios de maior agressividade (pior prognóstico) na DC:
4. Neurite óptica
1 . Idade menor que 40 anos ao diagnóstico
S. Esclerose múltipla
2. DC na forma fistulizante (perianal ou abdominal)
6. Neuropatia perif érica com bloqueio de condução
3. Tabagismo
7. Insuficiência cardíaca graus 111 e IV pelos critérios da American Heart
4. Ulcerações profundas no cólon Association
S. Grande extensão da doença (comprimento de intestino acometido) 8. Alergia ou hipersensibilidade aos componentes do IFX ou ADA
6. Uso de corticoides nas primeiras crises 9. Linfoma ou outras neoplasias previamente tratadas (contraindicação
7. Emagrecimento maior que S kg antes do diagnóstico da DC relativa)
Capítu/o32 I Doença deCrohn 371
• Comentários dos autores do capftulo pares da mesma faixa etária, seja na escola. seja no trabalho,
As contraindicações dos agentes biológicos devem ser sem enfim, na sociedade.
pre exaustivamente investigadas, em anamnese detalhada e exa O uso de ansiolíticos e antidepressivos fica reservado para
mes complementares. Os pacientes e familiares devem ser aler situações em que a avaliação mostre necessidade. Cuidado com
tados de que nem todos podem utilizar estas medicações com os efeitos anticolinérgicos dos tricíclicos, pois podem favore
segurança, para que uma imensa decepção não atrapalhe o se cer megacólon tóxico. Psicoterapias são n i dicadas conforme
guimento destes doentes após este momento. A segurança do o caso clínico.
tratamento depende de uma pesquisa minuciosa da lista de con
traindicações. Especificamente, como exemplo, no caso de neo
plasias previamente tratadas, apesar do receio da utilização dos
• Manutenção da remissão na DC
biológicos, os oncologistas recomendam o uso deste tratamento � Sulfas alazina.Estudos multicêntricos demonstraram que
se a quimioterapia estiver finalizada, em período posterior ao esta droga não é eficaz na manutenção da DC;
tratamento do câncer. Recomendam-se bom-senso e análise de "' 5-ASA. Metanálise demonstrou que houve redução de re
cada caso para definições sobre este controverso tema. corrência em 50% dos pacientes com doença ileal ou ileocolô
Atenção para as vacinas em imunodeprimidos.* nica. Não se sabe se doses altas (4 g) podem ser mais efetivas
"' Contraindicadas. Vacinas vivas (tríplice, sarampo, ca na manutenção da remissão ou se facilitariam a retirada dos
xumba, rubéola, varicela, sabin, febre amarela) para pacientes corticoides;
imunodeprirnidos e em uso de corticoides em dose equivalente .,. Cortícosteroides. As drogas-padrão não são usadas para
a 2 mg/kg/dia de prednisona durante 2 semanas ou mais (ou manutenção, mas são de ajuda as novas, de ação tópica, sem
20 mgldia para crianças com > 10 kg). Consideram-se contrain maiores efeitos colaterais. Budesonida não foi eficaz para man
dicadas as vacinas vivas durante 1 a 3 meses após o término ter a remissão. Entretanto, pulsoterapia com 9 mg em dose úni
da corticoterapia ca matinal é preconizada nas exacerbações da DC;
"' Vacinas indicadas. Salk, influenza, pneumocócica (para "' lmunossupressores. AZA/6-MP são as únicas drogas
crianças com 2 anos ou mais, com asplenia anatômica ou fun que induzem remissão clínica, embora não haja conhecimen
cional, hemoglobinopatias, imunodeficiência congênita ou ad to de quantotempo devam e possam ser administradas, porém
quirida, pessoas HIV+). 6 meses seria o tempo mínimo. Relatou-se que, após 4 anos
de uso, pode desaparecer sua tendência de manter a DC em
remissão;
• Tratamento de problemas psicoemocionais "' lmunomoduladores. Há grande esperança de que drogas
Os aspectos psicológicos representam um componente im imunomoduladoras mudem o tratamento da DC a longo prazo.
portante nas DII, mas não são a causa das doenças. Vários es Os resultados com infliximabe têm sido bons e promissores,
tudos indicam que o estresse exerce efeito adverso diretamente podendo o benefício ser alcançado até por 1 ano. A droga é bem
sobre o trato gastrointestinal, alterando os mediadores inflama tolerada e retratamento é possível, mesmo que não se saiba o
tórios e neurotransmissores. Para se saber como o paciente está potencial de desenvolvimento de linfomas.
se sentindo em relação à doença, é preciso incorporar informa O desenvolvimento defarmacogenômicos será a melhor op
ções psicológicas e não s6 testes laboratoriais que determinam ção, nofuturo!
a gravidade da afecção. � importante se saber quais os fatores
positivos e negativos que influenciam a adaptação à doença
crônica, incluindo-se aqui o suporte social, a autoconfiança e • OUTROS TRATAMENTOS
a presença de comorbidade psiquiátrica. Questionários relacio
nados com o conhecimento da qualidade de vida do paciente
ajudam o clínico a identificar áreas problemáticas. Com conhe
• Oxigenoterapia hiperbárica
cimento holístico, firma-se mais a relação médico-paciente e A oxigenoterapia hiperbárica é a inalação de oxigênio medi
há melhora no estado de saúde do doente. cinal com pressão acima da ambiente, necessitando, para isso,
Como qualquer doença crônica, a DC tem significativo im de uma câmara denominada hiperbárica O aumento do oxi
pacto sobre o paciente e sua família Embora haja evidências gênio no meio é letal para as bactérias anaeróbicas. Também
de início da sintomatologia ou recorrência sob situações de provoca melhora na atividade bactericida dos leucócitos e oti
estresse, percebem-se mais problemas emocionais em doentes miza proliferação de fibroblastos.
que apresentam doença anorretoperineaL O desconforto, a dor Na DC é indicada quando há fistulas, lesões refratárias e in
e, principalmente, a incontinência de gases e/ou fezes causam fecções necrosantes dos tecidos moles, após drenagem, se neces
embaraços sociais, levando a sequelas psicossociais que incluem sária. Seu alto custo faz com que seja empregada para pequeno
perda da autoestima, declínio no desempenho escolar e profis número de pacientes com doença grave refratária.
sional, problemas sexuais e depressão.
Na adolescência, fase caracterizada pela necessidade de au
toafirmação e desligamento de vínculos familiares, os pacientes
• Ovos de helmintos
entram em conflito com os pais, pois se recusam, muitas vezes, a Uma proposta terapêutíca do uso de ovos de helmintos e do
seguir regimes alimentares e uso ininterrupto de medicações. próprio parasito tem base na hipótese da higiene, já citada O
O médico atendente deve estar preparado para dar suporte Trichuris suis é helminto parasito de sufnos, não acarreta qual
emocional ao paciente e à família. tanto durante as crises, como quer lesão no homem, mas consegue resposta imune do orga
nas fases de quiescência. Deve fazer o possível para melhorar a nismo. Summerset ai. (2005), em 29 casos de DC, referem que
qualidade de vida dos doentes para conviverem bem com seus 79% apresentaram melhora clínica e 72%, remissão completa
Não houve efeitos colaterais ou complicações, concluindo-se
�Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE), Sociedade Brasi por tratamento efetivo e seguro. Outros estudos são necessários
leira de Pediatria e Manual de Normas de Vacinação, Ministério da Saúde. para inclusão deste tratamento na prática.
372 Capítulo 32 I Doença de Crohn
•
A operação ideal para cada paciente deve ser indicada após
TRATAMENTO CIRÚRGICO minuciosa análise individual de cada caso. A morbidade dos
DA DOENÇA DE CROHN procedimentos, assim como a possibilidade de recorrência da
doença variam de acordo com inúmeros fatores. Um diagnós
Quando Crohn, Ginzburg e Oppenheimer, em 1932, n i i tico preciso e detalhado, associado a um conhecimento adequa
cialmente descreveram seus 14 pacientes portadores de ente do do estado nutricional do paciente e das técnicas cirúrgicas
rite regional, pensava-se que tal entidade era de tratamento utilizadas, pode trazer o benefício real da cirurgia para esta
eminentemente cirúrgico. Na época, prevalecia o conceito de complexa entidade.
que, quanto maiores as margens cirúrgicas livres de inflamação,
maior o sucesso do tratamento. Era comum a presença de pa
tologistas nas salas operatórias, para um estudo de congelação,
• Indicações cirúrgicas
que mostrava se as margens apresentavam inflamação micros Os objetivos do tratamento cirúrgico da DC são variados.
cópica. As operações iam se ampliando até que tal inflamação Alívio dos sintomas, correção de complicações, prevenção do
não mais aparecesse nas peças ressecadas. desenvolvimento de carcinoma, melhora da qualidade de vida
Atualmente, após quase 80 anos de estudos sobre a DC, e retirada de medicamentos com toxicidade conhecida (como
muitos conceitos mudaram. A ocorrência da síndrome do in os corticoides, por exemplo) são alguns deles. Sabe-se que a
testino curto, de dificuldade na manutenção do aspecto nutri recorrência da doença é frequente e que pode ocorrer em qual
cional dos pacientes, aliadas às altas taxas de recorrência após quer segmento do sistema digestório. Por este motivo, devem-se
o tratamento cirúrgico dos portadores de DC, fizeram os cirur sempre analisar as vantagens e desvantagens da cirurgia antes
giões "pisarem no freio", sendo cada vez mais econômicos na de optar por procedimentos invasivos, de pequeno ou grande
extensão dos tecidos ressecados. Hoje é comum a realização porte.
de anastomoses sobre tecidos nitidamente inflamados, e a ci As indicações de tratamento cirúrgico na DC variam em
rurgia para a DC ficou quase que reservada às complicações, grau de dificuldade na análise de cada caso. Quadros graves da
como se verá adiante. doença geralmente são evidentes, com sintomas exuberantes,
As formas de apresentação da DC são consideravelmente e, nestas situações, a decisão pela cirurgia é facilitada. Quadros
complexas. Muitas são as regiões anatômicas do sistema di mais obscuros, com sintomatologia mais discreta, envolvendo
gestório que podem estar acometidas, em diversos momentos cronicidade, em geral são mais desafiadores para o cirurgião.
de evolução da doença. Há também diferentes características As indicações cirúrgicas nos pacientes portadores de DC de
da inflamação: algumas mais leves (acomeimento
t luminal não pendem basicamente de duas situações: intratabilidade clínica
complicado) e outras mais graves (estenoses por fibrose conse ou complicações da doença. As complicações, por sua vez, po
quente a inflamações de repetição, assim como fístulas e per dem ser divididas em agudas ou crônicas (Quadro 32.12).
furações). Por este motivo, não é fácil definirem-se condutas
cirúrgicas de forma simples. A variada gama de sintomas faz • Biológicos e drurgia na DC
com que diferentes opções de tratamento cirúrgico sejam cada
vez mais estudadas. Não há dúvidas de que a maior novidade no tratamento da
Apesar dos avanços na terapia clínica (medicamentos bioló DC nos ú l timos 10 anos foi a introdução da terapia biológica
gicos) e nas formas menos invasivas de tratamento da DC (en na prática clínica diária. Inicialmente, foi liberado para uso
doscópicas e guiadas por imagem), a cirurgia ainda desempenha no Brasil o infliximabe (IFX), em 2001. Trata-se de um anti
papel fundamental no tratamento destes pacientes. Estima-se corpo monodonal quimérico, que inibe o TNF-alfa, causando
que cerca de 70 a 90% dos pacientes necessitarão de alguma apoptose das células inflamatórias, reduzindo-se desta forma
forma de tratamento cirúrgico no decorrer de sua vida, que a atividade da doença. Sua administração é realizada de forma
varia desde simples drenagens de abscessos anais até complexas endovenosa, sob monitoramento, na dose de 5 mg/kg nas se
ressecções de segmentos intestinais. manas O, 2 e 6 (indução) com manutenção programada a cada
Durante anos, as taxas de ressecções intestinais na DC não ti 8 semanas. Já em 2007, foi liberada no Brasil a utilização do
veram sua ncidência
i alterada, provavelmente por não existirem adalimumabe (ADA), um agente anti-TNF totalmente huma
medicações que mudassem a história natural da doença. Nem no, de administração subcutânea. Sua dosagem de indução é de
mesmo os imunossupressores, como a azatioprina, largamente 160 mg na semana O, 80 mg na semana 2 e 40 mg a cada duas se-
utilizados para manutenção da remissão da doença, alteraram
a necessidade de tratamento cirúrgico nestes pacientes no de
correr dos anos. Por outro lado, há evidências cieníficas
t con
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cretas de que a utilização dos medicamentos biológicos (prin
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manas para manutenção do tratamento, a partir da semana associação pode ser utilizada, com a ideia de que os biológicos
4. A eficácia destes dois agentes foi amplamente comprovada podem reduzir a intensidade da inflamação e assim facilitar al
em estudos clínicos randomizados, controlados com placebo, gumas operações. Outros acreditam que estes dois tratamentos
com índices de remissão clínica em cerca de 1/3 dos pacientes. não podem ser misturados, sob risco de haver prejuízo ao pós
Ambas as drogas são potentes imunossupressores, com poten operatório destes pacientes. Segundo o consenso europeu de
cial de ocorrência de efeitos adversos, que variam desde infec DC, não existe concordância sobre o tema, e ainda não foi defi
ções simples do trato respiratório superior até situações mais nido o intervalo seguro para se usarem ou não os biológicos em
complexas, como reativação de tuberculose e desmielinização períodos próximos das operações. Não há estudos prospectivos
central ou periférica. randomizados comparando-se a utilização ou não de biológi
Tanto o tratamento cirúrgico quanto a utilização dos me cos em pacientes cirúrgicos, somente estudos retrospectivos,
dicamentos biológicos convergem para o controle das formas de séries de casos. Deve-se, portanto, analisar cada paciente, e
graves da doença, situações com extensa nflamação,
i e geral discussões interativas entre os clínicos e cirurgiões devem de
mente associadas a fístulas. Por este motivo, não raramente es terminar as vantagens de se usarem as medicações ou não nas
tas terapias acabam sendo utilizadas em um mesmo momento, situações em que os dois tratamentos sejam indicados em um
em alguns pacientes. Uma questão acabou sendo relevante nos mesmo momento.
últimos anos no tratamento da DC: será que os medicamentos Ressecção intestinal é a maior complicação e a maior fonte
biológicos, se usados simultaneamente com o tratamento ci de morbidade na DC pediátrica. Gupta et al. (2006) assinalam
rúrgico, por serem potentes imunossupressores, aumentariam
os índices de complicações cirúrgicas? Será que estas formas de
o risco cumulativo de cirurgia descrevendo 5,7% em 1 ano, 17%
em 5 anos e 28,4% em 10 anos após o diagnóstico, fato corro
tratamento podem realmente ser utilizadas conjuntamente? borado pelos autores deste capítulo.
Há evidências concretas de que tanto o tratamento com Preditores positivos para cirurgia são: sexo feminino; mar
infliximabe quanto o com adalimumabe reduzem as taxas de cadores clínicos de gravidade, incluindo pobre crescimento;
nternações
i e necessidade de cirurgia abdominal ao longo do presença de abscesso, fístula ou estenose n i testinal. Raça, etni
tempo, se usados continuamente. Na doença perianal, a terapia cidade, localização e gravidade ao diagnóstico não são fatores
combinada traz múltiplas vantagens para os pacientes. Entre
preditivos de resultados da cirurgia. Por outro lado, fato inte
tanto, nas operações abdominais mais alargadas, com ressecções ressante é que a presença de granulomas, ou tratamentos com
ntestinais
i e anastomoses, na vigência do uso dos anti-TNF, a
5-ASA ou intliximabe são preditores negativos para cirurgia.
dúvida a respeito da segurança dos biológicos no pós-operatório
Amre et al. (2006), em 139 pacientes pediátricos, verifica
persiste sendo extremamente relevante.
ram ASCA IgA positivo em 48,2%, IgG em 42,4% e ANCA em
Alguns trabalhos defendem que estas terapias podem ser
21%. Títulos elevados de ASCA aumentavam a possibilidade
utilizadas conjuntamente, sem problemas. Um estudo retros
de complicações, mas nem sempre associadas à cirurgia. A pri
pectivo em um grande centro europeu de tratamento de doen
meira complicação foi observada em pacientes com ASCA IgA
ças inflamatórias intestinais analisou retrospectivamente uma
elevado ou tanto ASCA IgA ou IgG, o que também é a experi
coorte de pacientes submetidos a ressecções intesinais.
t Houve
ência dos autores deste capítulo.
uma divisão destes indivíduos em dois grupos, um com uso
Sabe-se que cerca de 70% dos pacientes portadores de DC
a, pelo menos, uma cirurgia no decorrer de
de infliximabe previamente à cirurgia, e outro sem este tipo
serão submeidost
de tratamento. Após a análise de 313 prontuários, os auto
suas vidas, como terapia de sua doença. As indicações emer
res concluíram que não houve diferença significativa entre os
grupos em respeito a complicações pós-operatórias precoces genciais, como oclusão intestinal, perfuração com peritonite e
abscessos abdominais, são mais óbvias. Ocorrem em cerca de
e tardias, e, da mesma forma, não houve diferença no tempo
de internamento. Kunitake et al. (2008), do grupo de Boston 20% dos casos. Entretanto, pacientes portadores de DC crôni
EUA, analisaram retrospectivamente 413 pacientes com doen cos podem ter indicação de tratamento cirúrgico mais discutí
ças inflamatórias intestinais submetidos a ressecções cirúrgicas. vel. Entre estes, citam-se intratabilidade clínica, manifestações
Destes, 188 eram portadores de DC e foram analisados quanto extraintestinais de difícil controle, distúrbios do crescimento e
ao risco de complicações pós-operatórias relacionadas com o corticodependência. Estenoses e fístulas internas identificadas
uso de infliximabe. Estes autores igualmente concluíram que em exames radiológicos tornam certa a indicação de tratamen
a utilização pré-operatória do infliximabe não trouxe maio to cirúrgico em pacientes sintomáticos. Abscessos perianais
res complicações no pós-operatório. Concluíram ainda que múltiplos devem ser drenados. Fístulas complexas, incluindo
a utilização de corticoides trouxe maior prejuízo aos pacientes, as retovaginais, podem ser tratadas também de maneira cirúr
como variável isolada. Por outro lado, um outro estudo publi gica em casos selecionados.
cado pelo grupo da Cleveland Clinic de Ohio, EUA, demons Os fatores de risco para recorrência após ressecção intestinal
tra diferentes achados. Em uma análise também retrospectiva, nos pacientes pediátricos com DC não são bem estabelecidos.
Appau et al. (2008) revisaram os dados de 389 pacientes sub Em pacientes com doença ileocolônica, reoperação em 5 anos
metidos a ressecções ileocólicas por DC, 60 dos quais com utili varia entre 25 e 60% e atinge 91% após 15 anos. A recorrência
zação pré-operatória do infliximabe. Os autores demonstraram após reanastomose colônica é menor. Um grande preditor de
que o uso da droga em período menor que 3 meses da data da recorrência de doença é o comportamento da afecção. Pacien
operação é fator de risco e aumenta as taxas de complicações tes com doença perfurante são mais suscetíveis a nova cirurgia.
infecciosas (sepse e abscessos abdominais) e readmissões hos É apropriado colocar os pacientes com doença mais agressiva,
pitalares. Ainda não há trabalhos na literatura analisando estes dependendo até do fenótipo, em terapia m i unomoduladora
riscos com a utilização do adalimumabe. após cirurgia.
Pode-se concluir, por estes estudos, que não há consenso Estenoplastia foi um grande avanço no manejo cirúrgico
na literatura quanto à utilização dos biológicos neste contex da DC no intestino delgado proximal, pois evita ressecções e a
to, se é benéfica ou prejudicial para os pacientes em momen consequente síndrome do intesino t encurtado. Sua morbidade
tos próximos da ressecção cirúrgica. Alguns advogam que esta é menor que 15%.
374 Capítulo 32 I Doençade Crohn
•
trânsito é então realizada após a recuperação nutricional do
Cuidados pré- e transoperatórios paciente (período mínimo de 3 meses).
Os portadores de DC que se enquadram na indicação cirúr A economia no comprimento do intestino a ser ressecado
gica eletiva necessitam de cuidados que visam a menores taxas nos portadores de DC fez com que algumas técnicas se tornas
de complicações e melhor prognóstico. O aspecto nutricional é sem particularmente úteis no tratamento de estenoses múlti
importante, e pacientes com desnutrição grave são beneficiados plas, associadas ou não a ressecções. As estenoplastias, ver
por nutrição parenteral total (NPI), geralmente realizada por dadeiras anastomoses sobre áreas fibrosadas ou inflamadas,
•
processo inflamatório, as preferenciais ileostomias em alça de
Operações sobre o intestino delgado vem ser substituídas por colostomias em alça. Estornas em alça,
A localização mais comum da DC é no íleo terminal, válvula desviando o trânsito fecal do períneo, podem facilitar a cicatriza
ileocecal e ceco. Tais pacientes em geral evoluem com massas ção de lesões perineais, associadas ou não a drenagens múltiplas
palpáveis, cólicas fortes e até quadros de obstrução intestinal. perianais. Pacientes com doença anorretoperineal grave são can
Ê clássica a descrição da ileocolectomia direita com ileo didatos a proctectomias, com colostomias terminais nos casos
transverso e anastomose para o tratamento desta situação, com de cólon esquerdo livre de doença, como se verá à frente.
excelentes resultados. Em alguns estudos, os pacientes apresen Teixeira et al. (1999), na Universidade de São Paulo, em
taram-se assintomáticos por vários anos após a ressecção. A estudo de 82 estornas em portadores de DC, concluíram que,
uilização
t de anastomose manual vem sendo atualmente substi além do alto número de complicações de confecção, a maioria
tuída pela anastomose laterolateral, terminoterminal funcional, dos estornas inicialmente temporários acabam sendo definiti
com grampeadores lineares cortantes de tamanho maior que vos. Neste mesmo estudo, de todos os pacientes operados por
8 em. Apesar do índice de recidivas no local da anastomose ser DC, 38% necessitaram de estornas no ato cirúrgico. Portanto,
o mesmo, supõe-se que a amplitude desta boca anastomótica aviso prévio ao paciente sobre a possibilidade da necessidade
reduza a necessidade de reoperações sobre o mesmo local, no eventual de estornas, e demarcação prévia de possíveis locais
futuro, por menor risco de estenose sintomática. para essas estomias.
Capítu/o 32 I Doençade Crohn 375
• Deve-se interrompero uso de 5-ASA porocasião do parto? descoberta de agentes terapêuticos específicos e mais potentes
Em geral, não é necessário, particularmente porque os ní para a DC que é tão debilitante e que implica ajustes e adapta
veis sanguíneos de 5-ASA são baixos e não causam alterações ções familiares, sexuais, sociais e emocionais!
na coagulação nem na agregação plaquetária. Enquanto se aguarda a cura para a DC, as terapias disponí
veis visam à manipulação dos estímulos enterais e regulação,
• Quais examespodem ser feitos durante agestação? cada vez mais sofisticada, da resposta imune!
Em geral, a ultrassonografia. Complementada ou não pela
ressonância magnética, são de grande valia. Métodos que en
volvam radiação devem ser deixados para após o parto ou para • LEITURA ALTAMENTE RECOMENDADA
situações de emergência. Só realizar qualquer tipo de endosco
SECOND EUROPEAN EVIDENCE-BASED CONSENSUS ON CROHN'S
DISEASE. !ourna/ ofCrohn's & Co/itis, 2010; 4:1-10l.
pia em mãos de examinador experiente.
• Há dieta especialpara a mulhergrávida com DC? Acosta, MB & Pena, AS. Clinicai applications of NOD/CARD15 mutations in
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Ahrnad, T, Armuzzi, A, Bunce, Metal. The molecular classification ofthe clini
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