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Doe nça de Cro h n

Lorete Maria da Silva Kotze, Paulo Gustavo Kotze e Luiz Roberto Kotze

A prevalência da DC parece mais alta em áreas urbanas que


• INTRODUÇÃO nas rurais e nas classes sociais mais elevadas. Uma hipótese

A doença de Crohn (DC) é uma doença inflamatória trans­


para esta diferença em incidência entre nações desenvolvidas
e em desenvolvimento é a de higiene, que sugere pessoas me­
nos expostas a infecções na infância ou a condições sanitárias
mural e recidivante que pode acometer qualquer segmento do
tubo digestório, da boca ao ânus, caracterizada por inflamação
de maior contaminação com organismos "amigos", ou com
descontínua dos segmentos digestivos acometidos, com formas
distintas de manifestações em cada indivíduo (luminal, pene­
organismos que promovem o desenvolvimento de células T;

trante ou fistulizante). � também considerada uma doença sistê­


ou, ainda, que não desenvolvam repertório imune suficien­
te porque não experimentaram organismos nocivos. Estes in­
mica, pois apresenta manifestações extraintestinais que podem
ou não estar ligadas à atividade da doença digestiva. Desde a
divíduos estariam associados a maior incidência de doenças
imunológicas crônicas, incluindo-se a Dll. No Brasil, não há
sua descrição inicial em 1932, por Crohn, Ginzburg e Oppe­
associação com classe social, segundo relatos de diversos au­
nheimer, esta afecção tem se comportado como um verdadeiro
tores em diferentes estados.
enigma para gastroenterologistas e cirurgiões. Com o desen­
volvimento de modernas e minuciosas técnicas laboratoriais,


associadas ao avanço da pesquisa clínica, novos caminhos fo­
ram percorridos no conhecimento de sua etiopatogenia. Como
ETIOPATOGENESE
consequência, surgiram novas formas de tratamento clínico e A DC é considerada idiopática, pois não se identificou até o
cirúrgico, com bons resultados no controle da atividade da do­ momento um agente patológico específico. Não há dúvida de
ença. Entretanto, apesar desses notáveis avanços, a descoberta que a predisposição genética e os dados epidemiológicos são
de sua cura parece estar muito distante. mais consistentes e relacionados com doença poligênica.

• ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS • Fatores ambientais


Em relação aosfatores ambientais,. amamentação, infecções
A retocolite ulce.rativa (RCU) e a doença de Crohn (DC) intestinais, higiene, agentes microbianos, dieta, cigarro, ocupa­
são doenças inflamatórias crônicas idiopáticas e heterogêneas, ção, poluição e estresse são os mais comumente citados como
comuns também entre crianças e adolescentes, constituindo envolvidos na DC. Dados clínicos e experimentais reforçam o
cerca de 25% dos casos de doença inflamatória intestinal (DII). papel da flora intestinal normal na iniciação ou perpetuação da
Tem havido aumento na n i cidência da DC, enquanto a RCU inflamação intestinal. Não está claro se um fator ou vários fa­
permanece estável. Explica-se este fato, pelo menos em parte, tores ambientais são necessários para desencadear e/ou manter
pela tendência geral do pediatra em ter alto índice de suspeição a doença (Quadro 32.1).
em pacientes com dor abdominal crônica, ou história familiar Pensa-se que a Dll seja o resultado de uma inter-relação
positiva para DII. No adulto, a DC apresenta distribuição bimo­ entre um ou mais fatores ambientais em indivíduos genetica­
dal em relação à idade: maior pico entre 20 e 40 anos, e menor mente predispostos. Estudos epidemiológicos sugerem que a
de 60 a 80 anos. Predisposição familiar é, sem dúvida, o fator de DC seja mais encontrada em países industrializados e que seja
risco mais importante para o desenvolvimento da DC. rara nos em desenvolvimento. O consumo de açúcar refinado

Segundo a World Gastroenterology Organ zation


i Practice e gorduras polinsaturadas poderia ser uma explicação, mas não
Guidelines (2009), a incidência da DC é < 1/100.000 na Ásia e há provas. Ao contrário, sanitarismo precário e exposição o
América do Sul, mas, provavelmente, esteja aumentando. Na parasitos intestinais poderiam influenciar a imunidade intes­
Europa e África do Sul, l a 2/100.000; 16/100.000 na Nova Zelân­ tinal e reduzir a suscetibilidade nos indivíduos geneticamente
dia e Austrália; 14/100.000 no Canadá; e 7/100.000 nos EUA. predispostos. Diagnóstico de novos casos em pacientes que

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348 Capítulo 32 I Doença de Crohn

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-- � O início precoce da DC e sua gravidade podem ser genetica­
Quadro 32.1 Possíveis fatores ambientais envolvidos mente determinados e ligados à suscetibilidade em locus do
na doença de Crohn cromossomo 16. Em 2001, mutações no domínio de oligome­
rização de nucleotídio (NOD) 2 e recrutamento 15 (CARD) no
Hábito de fumar cromossomo 16 foram os primeiros genes de suscetibilidade
Apendectomia para a DC a ser identificados.
Fatores alimentares (vários) Ahmad et al. (2002) foram os primeiros a estabelecer corre­
lação genótipo-fenótipo para a DC. Demonstraram que a pre­
Infecções (antes dos 20 anos)
Mycobacterium. Paratubercu/osis disposição para doença do intestino delgado estava associada a
Sarampo alelos variantes NOD2, enquanto pacientes homozigotos para
NOD2 tinham alto risco relativo para doença isolada no íleo
Gastrintestinais recorrentes
Drogas terminal. Embora nenhuma correlação fosse encontrada entre
Anti-inflamatórios não esteroides
Antibióticos NOD2 e o desenvolvimento de fístulas, correlação significativa
Contraceptivos orais foi encontrada na incidência de cirurgia para doença estenosan­
Estresse te nos pacientes que eram também positivos para NOD2. Até
o presente momento, os polimorfi.smos associados à DC estão
no gene NOD2/CARD15. Mutações no NOD2 resultam em
diminuição na resposta de ativação de células imunes ao lipo­
polissacarídio, corroborando o papel da responsividade bacte­
recentemente emigraram de países em desenvolvimento para
riana aberrante em pacientes com DC. NOD2 está associada ao
países industrializados pode corroborar tal fato.
fenótipo clínico específico no qual os pacientes são mais jovens
A questão fundamental em relação à patogênese da DC per­
no início da enfermidade e apresentam a doença no intestino
manece: a resposta inflamatória reflete uma resposta imune
delgado, além de predisposição ao desenvolvimento de fibro­
apropriada a um estímulo anormal persistente? Ou uma res­
estenose. O NOD2 não é apenas um gene de suscetibilidade: é
posta anormal a mais de um estímulo corriqueiro?
também gene modificador de doença, com efeitos fenotípicos
Ultimamente, o papel das bactérias endógenas e patogê­
"dose-dependentes".
nicas no desencadeamento da resposta inflamatória tem sido
Alguns genes específicos podem interagir com os fatores
ressaltado. Vários modelos animais têm sido desenvolvidos.
ambientais, incluindo, provavelmente, patógenos bacterianos,
A flora intestinal é diferente conforme as culturas dos países:
ou seus produtos, componentes da dieta, infecções na infância,
nas que dependem menos de alimentos refinados, os indiví­
bem como uma variedade de possibilidades. O problema básico
duos armazenam uma flora rica em bifidobactérias e lactoba­
parece ser um estimulo na mucosa intestinal, em um indivíduo
cilos; nas que adotam dieta mais ocidentalizada, predominam
geneticamente predisposto, seguido de uma resposta do sistema
os bacterioides. Tais fatos deram ideia do uso de terapias pré e imune isenta de autocontrole.
probióticas para os pacientes com DII. Os probióticos modi­ Os estudos iniciais dos genes na DII se concentraram na
ficariam favoravelmente a flora bacteriana colônica, o estado pesquisa do complexo maior de histocompatibilidade (MHC) e
imunológico e a inflamação, mas estudos randomizados ainda revelaram achados discordantes entre os autores, sugerindo ni ­
estão em andamento. fluência nas diferenças étnicas entre as diferentes populações.
Eventos perinatais têm sido associados a alto risco para o O estudo genético também está sendo proposto para cor­
desenvolvimento de DI!, tais como infecção pré-natal da mãe; relação do genótipo com a resposta ao tratamento da DC. No
complicações da gestação como pré-eclâmpsia, ameaça de abor­ Japão, um subtipo de HLA, DQA1 *0102 está relacionado com
to e diabetes gestacional; exposição perinatal ao vírus do sa­ a DC resistente ao tratamento. Os pacientes com DC não apre­
rampo. sentam tolerância oral à flora autóloga, como ocorre no indi­
víduo normal, e, portanto, estão expostos à inflamação crôni­
• Fatores genéticos ca, pela perpetuação da resposta imune da mucosa ao agente
bacteriano autólogo.
História familiar positiva para RCU ou DC é o fator mais
importante. O risco de descendentes apresentarem DII é de 1,6
e 5,2%, respectivamente, nas duas doenças. Em descendentes • Avanços genéticos na doença de Crohn
de judeus Askenazi, chega a 10 a 12,6%. A alta concordância Na última década, vários estudos de análise de ligação, segui­
em gêmeos monozigóticos enfatiza este ponto. Além disso, a dos por estudos de análise sistêmica do genoma, demonstraram
associação da DC com outras doenças de caráter genético (es­ evidências de polimorfi.smos genéticos associadas à DC em mui­
pondilite ancilosante, síndrome de Turner etc.) evidencia o tos genes. Esforços conjuntos em vários centros de pesquisa têm
caráter genético. Estudos familiares evidenciam famílias em alcançado sucesso na identificação de genes na DC, incluindo
que há casos de RCU e DC, sugerindo que estas duas entidades CARD15 (NOD2): DLGS, SLC22A4 e SLC22A5, CARD4,1L-23R,
podem ter um ou mais genes em comum ou que representem ATG16Ll,PHOX2B eNCF4. No entanto, nenhum dos Zoei des­
pleiomorfi.smo. tes genes confere risco relativo maior que 2, comprovando que
Fatores genéticos e familiares são mais óbvios em casos que a DC é um distúrbio poligênico complexo, segundo Rioux et
se iniciam antes dos 20 anos de idade. Presumivelmente, em al. (2007) e Hugot e Jung (2006).
pacientes mais velhos, fatores ambientais desempenham papel A identificação do gene CARD15 (Caspase recruitment do­
importante na patogênese da DC. main-containingprotein 15), em 2001, redirecionou a atenção
Aspectos genéticos podem antecipar dados epidemiológicos: para o importante papel da imunidade inata na DC. A proteína
por exemplo, filhos de pacientes com DC iniciarem a doença
fator de transcrição nuclear kappa beta (NF-!C�). O NF-JC� de­
CARD15 induz apoptose e a ativação da via de sinalização do
em idade mais precoce. Isso também está associado a doença
mais extensa e estenótica do íleo, com necessidade de cirurgia. sempenha função importante na manutenção da homeostasia
Capítulo 32 I Doença de Crohn 349

da mucosa e também age como mediador nas respostas especí­ ----


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ficas a patógenos (Bonen et ai., 2003; Vermeire et ai., 2006; Ba­ Quadro 32.2 Resposta inflamatória e imune na doença de Crohn
mias e Cominelli, 2007). Os principais polimorfismos do gene
CARD15 (R702W, G908R e 3020insC) podem ser encontrados Imunidade humoral Associação fraca com doenças autoimunes
em até 33% dos pacientes com DC nas populações caucasia­ (tireoidite de Hashimoto, LES)
nas. Indivíduos portadores de um destes polimorfismos têm Rara produção de autoanticorpos (anticólon,
um risco aumentado de 2 a 4 vezes para o desenvolvimento da pANCA)
DC, enquanto portadores homozigotos ou heterozigotos com­ Imunidade mediada Infiltrado mucoso granulomatoso (predomínio
por células de célulaT)
postos têm um risco de 20 a 40 vezes. Estudos de análise entre
os principais polimorfismos do gene CARD15 e manifestações Aumento da reatividade de células T
fenotípicas da DC têm encontrado associação com a idade de Produção de citocinas Resposta lh 1 (ll-2, IFN, IL-12, TNF-a)
nício
i precoce da doença, localização ileal e forma estenosante, Outras citocinas: I L-1, IL-6
conforme Acosta e Pena (2007). IFN = lnterferon; IL = lnterleucinas; pANCA = Anticorpo citoplasmático perinuclear
A descoberta do gene ATG16Ll (autophagy-related 16-like antineutrófilo;Th = CélulaT auxiliadora; TNF = Fator de necrose tumoral; LES = Lúpus
1) salienta a participação da resposta imune inata na DC. Para eritematoso sistêmico.
Hampe et ai. (2007), a autofagia representa um recurso no res­
tabelecimento da homeostasia diante de vários patógenos e to­
xinas bacterianas e, quando este mecanismo está prejudicado,
a apoptose pode ser desencadeada. cinas pró-inflamatórias: fator de necrose tumoral-a (TNF-a)
Recentemente, as descobertas do gene receptor da inter­ e interleucina-12, induzindo resposta Thl.
leucina 23 (IL-23R) e ATG16Ll (autophagy-related 16-like 1) As células CD4+ ativadas podem se diferenciar em células
também propiciaram avanços no conhecimento da imunopa­ Th1 ou Th2, que diferem no tipo de citocinas liberadas e em
togênese da DC e apontaram novos rumos na investigação da sua função. As células Th1 produzem grande quantidade de
imunologia da mucosa intestinal. A IL-23 promove, junto com citocinas IL-2 e interferona (IFN-gama), enquanto as células
o TGF-P 1 e IL-6, a expansão de células secretoras de IL-17 pró­ Th2 produzem IL-4, IL-5 e IL-10. Com a cronicidade do pro­
inflamatórias. Acredita-se que a IL-23 seja responsável pela cesso inflamatório da mucosa intestinal, há progressão em di­
manutenção ou estabilização da resposta Th17 e, junto com reção ao perfil Thl, caracterizado por aumento significativo de
seu receptor, o IL-23R, são apontados como importante via de IL-2, de IFN -À e de citocinas inflamatórias (IL-1, IL-8, TNF-a).
sinalização na imunopatogênese da DC. Nas lesões crônicas, IFN-r desempenha papel importante ao
Vários estudos populacionais mostram que polimorfismos esimular
t o macrófago que irá produzir TNF-a, daí a importân­
nos genes CARD15, IL-23R e A TG16Ll apresentam diferenças cia dos anticorpos anti-TNF-a, que não somente neutralizam
entre os diversos grupos étnicos. Um estudo brasileiro recente, o TNF-a, mas, sobretudo, provocam a lise das células que têm
conduzido por Baptista et ai. (2008), avaliando 187 pacientes, o TNF-a em sua superficie.
crianças e adultos com DC, e 255 controles, todos procedentes Em síntese, a hipótese atualmente aceita sugere que indi­
dos estados do Paraná e de São Paulo, confirmou a associação de víduos geneticamente predispostos apresentam resposta imu­
polimorfismos dos genes CARD15 (R702W/3020insC) e IL-23R nológica inadequada na mucosa intestinal perante diferentes
(rs1004819, rs1 1209026, e rs1088967) nestes pacientes, mas não esímulos
t ambientais. Infecções entéricas bacterianas ou virais,
foi encontrada correlação genótipo-fenótipo. toxinas ambientais e drogas anti-inflamatórias não esteroides
(AINEs) induzem habitualmente à lesão transitória na muco­
sa intestinal. Em indivíduos normais, com supressão eficiente
• FATORES IMUNOLÓGICOS da cascata imunológica, opera-se rápida resolução do processo
nflamatório,
i com reparação completa do dano tecidual. Já no
Em relação aos aspectos imunológicos, muitos avanços foram hospedeiro geneticamente suscetível, falha na imunorregula­
obtidos através de estudos com novos anticorpos (monoclonais ção leva à amplificação da resposta inflamatória, resultando em
e policlonais) e técnicas sofisticadas envolvendo elementos celu­ inflamação crônica, destruição tecidual, fibrose e, consequen­
lares e mediadores inflamatórios participantes da reação imune temente, ocorrência de danos irreversíveis.
da mucosa intestinal (Quadro 32.2). Com base na compreensão dos mecanismos inflamatórios
A inflamação da mucosa característica da DC é o resultado da lesão, têm-se obtido avanços na estratégia terapêutica.
de uma cascata de eventos iniciados pelo antígeno, ainda in­
determinado. Há possibilidade de que componentes habituais
da flora intestinal possam desencadear ou contribuir para a • FISIOPATOLOGIA
enfermidade.
O epitélio intestinal pode participar da resposta imune ini­ O aumento dapermeabilidade intestinal tem sido implicado
cial da mucosa de três formas: na patogênese da DC com consequente aumento da carga de
antígenos pelo sistema imune da mucosa que inicia e perpetua
a) aumentando a permeabilidade e a absorção do antígeno,
a inflamação. Tal fato ocorre no início da recaída do paciente
possivelmente de origem bacteriana, intensificando o es­
e pode normaizar
l após cirurgia, implicando que possa ser um
tímulo imune;
fenômeno secundário à inflamação da mucosa intestinal. No
b) inflamação pela liberação de citocinas, quimiocitocinas,
entanto, permeabilidade aumentada pode estar presente em
e outras substâncias inflamatórias;
familiares saudáveis de primeiro grau dos pacientes com DC,
c) atuando como célula apresentadora de antígenos.
permanecendo em discussão se o defeito nos familiares é gene­
O macrófago é a primeira célula a receber o antígeno e o ticamente predeterminado e ocorre na ausência da inflamação
apresenta ao complexo maior de histocompatibilidade (MHC), ntestinal,
i ou representa um estado subclínico da enfermidade,
para a célula CD4+. Os macrófagos ativados elaboram as cito- com inflamação intestinal assintomática.
350 Capltulo 32 I Doençade Crohn

A DC pode afetar qualquer área do intestino. Tipicamente, 1. Predisposição genética


há áreas descontinuamente afetadas (lesões em salto). A pri­ 2. Inicio ou deflagração
meira anormalidade visível é o aumento dos folículos linfoides 3. Progressão ou perpetuação
com um anel de eritema em volta (sinal do anel vermelho). Isso 4. Regulação
leva à ulceração aftoide que, por sua vez, progride a ulcerações 5. Cicatrização
O quadro clínico é muito variado, pois depende da duração,
profundas, fissurando, com aspecto de "pedra de calçamento",
fibrose, estenose e fistulização. Inflamação e fibrose predispõem
localização, extensão, atividade da doença, e presença ou não
de complicações. Às vezes, especialmente nas fases iniciais da
a estenoses intestinais, apresentando-se com sintomas obstru­
tivos e perfuração local da parede intestinal, levando à forma­
ção de abscesso.
doença, a extensão das lesões é tão pequena que o paciente per­
manece assintomático e a doença é descoberta acidentalmente;
ou são tão extensas que provocam intensas manifestações clí­
Na DC a dor abdominal, no início da doença, decorre de
obstrução funcional, por espasmo e edema, e, posteriormente,
nicas. Em algumas crianças, a evolução pode ser muito grave,
em forma fulminante, principalmente naquelas com início da
a obstrução se toma orgânica por fibrose e estenose. O com­
prometimento seroso, pela inflamação transmurallesando ter­
doença antes do primeiro ano de vida, nos doentes com grande
minações nervosas, vai intensificar e perpetuar a dor com a
extensão da doença e também nas situações de comprometi­
evolução da doença.
mento extraintestinal.
A inflamação da mucosa, o edema, a fibrose, a obstrução
linfática, quando localizados no intestino delgado, podem pro­
A dor abdominal é o sintoma mais comum, geralmente em
vocar diferentesfenômenos disabsortivos. A extensão e a locali­ caráter de cólica, intensa e mais presente do que na RCUI. Em
zação anatômica da lesão determinam o grau de má absorção, algumas ocasiões, é caracterizada como cólica periumbilical,
assim como a especificidade do nutriente envolvido. Compro­ pós-prandial, mas geralmente tende a se localizar em quadrante
metimento do duodeno e jejuno proximal leva à má absorção de inferior direito, devido à grande frequência do comprometi­
folatos, vitaminas, ferro, gliddios e lipídios; comprometimento mento do fleo terminal. O desconforto abdominal tende a se
do íleo distai provoca má absorção de gorduras e de aminoá­ iniciar após as refeições em pacientes com envolvimento do
cidos; e comprometimento do fleo terminal, má absorção de intestino delgado, particularmente do íleo terminal A cólica
vitaminas 812 e de lipídios. aumenta antes da defecação, relacionada com o trânsito do
Depleção de potássio ocorre com certa frequência por falta conteúdo intestinal através do segmento intestinal inflamado
de ingestão e por perda excessiva através das fezes. Hipopotas­ e/ou estenosado. A dor abdominal pode acordar o doente du­
semia, acompanhada às vezes de hipomagnesemia, pode ser rante o sono noturno.
observada em alguns pacientes em consequência à hipoalbumi­ Em alguns pacientes com comprometimento do trato diges­
nemia, à esteatorreia e à má absorção de vitamina D. tório superior, a dor abdominal pode ser epigástrica,mimeti­
zando doença péptica. Odinofagia, disfagia, pirose e anorexia
estão presentes quando há envolvimento do esôfago. A DC de
A hipoalbuminemia é frequente e pode ser explicada pela
ingestão reduzida consequente à anorexia, pela diminuição
esôfago é rara, menos de 80 casos na literatura, geralmente se
l ocaliza no terço distai, é sempre sintomática e em geral está
de síntese nos casos com lesões hepáticas, pela má absorção
dos aminoácidos e pela perda proteica através do intestino
inflamado e ulcerado, que pode ser observado na maioria dos associada ao comprometimento do intestino delgado e grosso.
casos. O trato digestório superior deve sempre ser avaliado nos pa­
A anemia é frequente e múltiplos fatores concorrem para o cientes com queixas digestivas altas.
seu aparecimento. Habitualmente, é do tipo microcítica hipo­ Pacientes com envolvimento ileocolônico têm maior risco
crômica por depressão tóxica da medula, pelo processo infla­ de formação de fistulas e, frequentemente, apresentam dor em
matório crônico e/ou carência de ferro por ingestão reduzida, quadrante inferior direito e massa abdominal palpável. A dor
e pelas perdas sanguíneas através do intestino inflamado. Even­ abdominal pode ainda apresentar-se de forma aguda e acom­
tualmente, pode ser megaloblástica nas lesões extensas do íleo, panhada de febre, simulando quadro de apendicite aguda.
por déficit de vitamina B12• A progressão do processo Inflamatório, particularmente do
Esses fenômenos disabsortlvos somados à ingestão insufi­ intestino delgado, pode resultar em segmentos intestinais este­
ciente de calorias levam ao grande déficit de crescimento, ob­ nosados com obstrução intestinal parcial ou total. Tais pacientes
servado em 20 a 30% dos pacientes pediátricos, especificamen­ reclamam de dor abdominal tipo cólica progressiva e frequen­
te nos que apresentam comprometimento do jejuno e de íleo temente acompanhada de borborigmos, distensão abdominal e
(Prancha 32.1A). vômito, necessitando de monitoramento clínico, pois há risco
Nas lesões do intestino grosso, ocorre perda de proteínas potencial de perfuração intestinal com formação de abscessos,
por exsudação devido ao processo inflamatório e alteração da peritonite ou fistulas (Prancha 32.2).
função absortiva, especificamente de sódio e água. Deficiência A febre aparece em 20 a 5096 dos casos, seja pelo processo
de zinco pode acompanhar esta excessiva perda entérica. inftamatório em si, seja pelas complicações do tipo supurativo
(abscessos, fistulas), podendo ser manifestação única ou pre­
dominante, levando, muitas vezes, à investigação exaustiva de
• QUADRO CL[NICO febre de origem indeterminada.
A diarreai pode acompanhar o sintoma principal (dor ab­
O médico deve incluir na anamnese perguntas sobre mani­ dominal), é de intensidade moderada, geralmente intermiten­
festações extraintestinais, distúrbios de humor, recentes pro­ te, ocorrendo com maior frequência nos casos de comprome­
blemas médicos ou infecções, história passada de tuberculose, timento difuso do intestino delgado ou isolado do cólon. No
viagens, medicações (antibióticos e AINEs), história familiar de primeiro caso, tem mais características de esteatorreia e, no
D11, doença celíaca, câncer colorretal e uso de tabaco. segundo, as fezes, por serem mucossanguinolentas, confundem­
A DC apresenta fases e, nestas, o quadro clínico pode ser se com as da RCU. O sangramento retal na DC, de modo ge­
totalmente diferente (Prancha 32.1). ral, é menos frequente do que na RCU, mas, quando presente,
Capítu/o32 I Doençade Crohn 351

A D

8 E

Prancha 32.1 Manifestações clínicas de pacientes com doença de Crohn. A. Déficit de crescimento (12 anos); B. Atraso de desenvolvimento
sexual (17 anos); C. Quadro de oclusão intestinal aguda, diagnóstico de DC; O. Paciente adulta com diarreia crõnica e desnutrição, diagnóstico
diferencial com linfoma. Laparotomia sem ressecções; E. Paciente antes e depois de nutrição parenteral total; F. Adolescente com efeitos da
corticotera pia; acne e moon face.
352 Capítulo 32 I Doença de Crohn

Prancha 32.2 Lesões perineais na doença de Crohn. (Esta figura encontra-se reproduzida em cores no Encarte.) A. Lesões orificiais graves
com distorção da anatomia anorretal; B. Lesões graves da pele perineal, alterações orificiais. Observar lesões de vasculite na pele das nádegas;
C. Enduração em períneo estendendo-se à região escrota I, com vários orifícios fistulosos; D. Lesões orificiais, abscesso com orifício drenado
secreção; E. Aumento de volume dos grandes lábios e orifícios fistulosos (setas); F. Leucorreia e orifícios fistulosos para períneo e região peri­
neal (setas).
Capítulo 32 I Doença de Crohn 353

traduz comprometimento dos colos. O Quadro 32.3 mostra os A doen� perianal (Prancha 32.2) é observada em 15 a40%
mecanismos e o tratamento para a diarreia na DC. dos pacientes e pode se destacar como a primeira manifestação
A perda de peso pode ser o sintoma inicial da DC. Os me­ da DC, segundo Buchmann & Alexander-Willians. A doença
canismos são vários: redução da ingestão de alimentos, perdas perianal pode se apresentar nas seguintes formas:
proteicas para o lúmen intestinal, aumento das necessidades
alimentares não atendidas, estado de catabolismo. A desnutri­ a) lesão de pele: maceração, erosão, ulceração e abscessos,
ção cobra um pesado ônus, sobretudo nas crianças. Felizmente, pregas;
algumas dessas alterações podem ser corrigidas com suporte b) lesão do canal anal: fissura, úlcera, estenose com indu­
alimentar adequado (Prancha 32.1, D). ração;
O déficit de crescimento e o retardo de maturação sexual c) fístula: baixa (canal anal para a pele), alta (reto para a
ocorrem em cerca de 6 a 50% dos casos de crianças (Prancha pele), retovaginal.
32.1, A e B). Os distúrbios de crescimento:
a) afetam os pacientes com DC; • Manifestações extraintestinais
b) podem preceder a doença por vários anos;
As manifestações extraintestinais da DC são bastante fre­
c) são fáceis de reconhecer;
quentes. Muitas se relacionam com exacerbações da afec­
d) mas ainda não são valorizados;
e) são irreversíveis se não tratados a tempo. ção, cedendo quando a doença básica se torna inativa; outras,
urna vez estabelecidas, seguem curso independente e, con­
Sua avaliação pode ser feita pelas curvas de percentis. Tam­ forme sua gravidade, podem levar o paciente ao óbito (Qua­
bém a determinação da idade óssea serve para detectar qualquer dro 32.4).
retardo na ossificação (discrepância entre a idade biológica e Manifestações sistêrnicas, como fadiga, febre e emagreci­
a cronológica) ou desmineralização e permite calcular o com­ mento, são notadas na maioria dos pacientes com DC. Pode
primento ósseo esperado.
haver comprometimento de vários órgãos, mas os chamados
Tais efeitos são devidos à desnutrição, por aporte nutricio­
órgãos-alvo costumam ser articulações, pele e mucosas, olhos,
nal insuficiente, uma vez que são revertidos com a recuperação
fígado e rins (Prancha 32.3).
nutricional e o controle da doença. Tais alterações podem ser
muito sutis no n i ício e frequentemente precedem as manifes­
tações gastrintestinais. A corticoterapia e a inflamação crôni­
ca intestinal agravam o déficit de crescimento. O TNF-a pode
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também ser importante mediador da falência de crescimento,
Quadro 32.4 Associações extraintestinais e complicações
pois estudos experimentais comprovam seu efeito inibidor di­
reto sobre o condrócito da placa de crescimento. Não há bene­
na doença de Crohn

fício com uso de hormônio de crescimento.


Osteoarticulares Artropatía enteropática*
Nas DII, devem ser excluídas outras entidades que causam
Sacroileíte
déficit de desenvolvimento sexual, tais como retardo constitu­
cional, doença celíaca, fibrose cística, anorexia nervosa, hipo­ Espondilite anquilosante
gonadismo e má nutrição. Na DC, um em cada cinco pacientes Clubbing
apresenta distúrbios de maturação puberal que podem prece­ Osteoporose�
der claramente o aparecimento de sintomas gastrintestinais Oculares Episclerite*
(Prancha 32.1, A e B). Assim, a DC deve entrar no diagnóstico Uveíte*
diferencial de puberdade atrasada (cerca de 1,5 ano em meni­
Dermatológicas Eritema nodoso
nas e 1 ano em meninos).
Alguns autores referem aceleração do crescimento e desen­ Pioderma gangrenoso
volvimento após ressecções cirúrgicas. Já há relatos após uso Urinárias Cálculos de ácido úrico (pancolite, ileostomia)'
de infliximabe em terapia de manutenção. Cálculos de oxalato (DC ileoterminal, ressecção)'
Pulmonares Alveolite fibrosante
Hepáticas Fígado gorduroso
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--
------ � Hepatite crônica ativa
Quadro 32.3 Mecanismos e tratamento da diarreia na doença de Crohn Hepatite granulomatosa
Cirrose
Mecanismos Tratamento Amiloidose

Inflamação Drogas anti-inflamatórias Vias biliares Cálculos de colesterol (DC ileoterminal, ressecção)'
Supercrescimento bacteriano Antibióticos Colangite esclerosante
no intestino delgado Colangiocarcinoma
Diarreia por sais biliares Colestiramina Bucais Ulceração aftoide
Deficiência de sais biliares Dieta pobre em gorduras Hematológicas Anemia (Fe, folato, B,2)*'
Deficiência de lactase Evitar lactose, uso de lactase exógena Trombose venosa e arterial'
Síndrome do intestino curto Depende de segmento ressecado Constitucionais Perda de peso*'
Fístula interna Cirurgia Retardo de crescimento*'
Relacionada a antibióticos Cessar antibióticos *Piora na doença ativa.
Outras afecções Conforme a entidade 'Complicação mais que associação.
354 Capítulo 32 I Doença de Crohn

A o

B E

c F

Prancha 32.3 Manifestações extraintestinais da doença de Crohn. (Esta figura encontra-se reproduzida em cores no Encarte.) A. Lesão aftoide
grande e profunda no lábio inferior; B. Acne e lesões na pele da face; C. Aumento de volume dos joelhos, hiperemia. Calor e dor em artrite
reativa; D. Conjuntivite e anemia, com língua despapilada; E. Lesões na pele escrota!; F. Vasculite e eritema nodoso.
Capítulo 32 I Doença de Crohn 355

• Exames de fezes
• Complicações 1 . Rotina para parasitos, bactérias, vírus
• Hemorragia 2. Clostridium difficile e toxina, pesquisar mesmo na ausên­
É menos comum na DC do que na RCU e é mais por doença cia de uso de antibióticos
no íleo. Cerca de S a 10% dos pacientes com DC têm ulcerações 3. Pesquisa de leucócitos e/ou sangue oculto
no estômago ou duodeno, e, nas crianças, o comprometimento 4. Pesquisar citomegalovírus, principalmente em pacientes
do intestino delgado proximal é mais frequente. com uso de imunossupressores
Perfuração intestinal; S. Pesquisa de alfa-1-antitripsina, calprotectina ou lactofer­
Abscesso intrabdominal;


rina para determinar atividade da doença (Capítulo 28)
• Estenoses; A dosagem de alfa-1-antitripsinafecal pode ser útil no con­
• Suboclusão e obstrução intestinal (são as mais frequentes, trole da atividade da doença, pois, como mede a perda proteica
surgem em consequência de inflamação aguda ou edema, intestinal, a elevação de seus títulos traduz aumento nas fases
ou fibrose crônica); de aumento da permeabilidade intestinal e atividade da doen­
• Fístulas e doença perianal; ça; e sua diminuição reflete acalmia do processo inflamatório
• Megacólon tóxico (relativamente raro, associado agrave intestinal.
estado toxêmico dos pacientes);
A determinação da calprotectinafecal também pode ser uti­
• Malignidade (maior risco de câncer de cólon após 8 anos
lizada no monitoramento da atividade da DC. A calprotectina
de doença, principalmente com grande área do cólon
é uma proteína neutrofílica abundante extremamente estável
comprometida. Maior risco conforme duração da DC,
nas fezes. Reflete a inflamação intestinal em crianças com DII.
idade precoce de começo, ou história familiar de cân­
Como é um teste simples, seguro e não invasivo, tem o potencial
cer colorretal. Há também risco aumentado para adeno­
de reduzir o número de procedimentos invasivos na criança.
carcinoma do n i testino delgado. Colangite esclerosante
Seu nível plasmático aumenta de S a 40 vezes em condições n­
i
primária pode ocorrer na DC e aumenta o risco para
fecciosas/inflamatórias, porém nas fezes a calprotectina pode
colangiocarcinoma;
ser determinada facilmente por ELISA. As fezes podem ser co­
• Complicações extraintestinais (Quadro 32.4).
lhidas em domicílio e entregues no laboratório, repetindo-se o
teste quantas vezes forem necessárias.


Outro teste que pode servir de marcador para se conhecer a
DIAGNÓSTICO atividade da DC é a determinaçãofecal de lactoferrina, também
Aumento da suspeita clínica pelo pediatra e pelo clínico por ELISA. A lactoferrina é considerada marcador sensível e
das manifestações intestinais e extraintestinais tem diminuído específico da n
i flamação, tanto para diagnóstico, como para
o intervalo entre sintomas e diagnóstico da DC. Apesar dos monitorar a manutenção, pois seus níveis se correlacionam
avanços tecnológicos, o diagnóstico da DC permanece emi­ bem com os escores de atividade e com a PCR.
nentemente clínico.
Diversos autores de centros diferentes afirmam, unanime­ • Exames de sangue
mente, que o diagnóstico de DC é feito após grande intervalo 1. Hemograma
desde o aparecimento de sintomas e sinais compatíveis com a 2. Eletrólitos
afecção, principalmente em se tratando de crianças e adoles­ 3. Proteínas e frações
centes. No Brasil, os dados são semelhantes: 1 a 6 anos para 4. Ferritina (pode estar elevada na DC ativa e pode estar nor-
Kotze, Kotze et al. (2006) e 1 mês a 1 1 anos para Barbieri et mal mesmo na vigência de deficiência grave de ferro)
al. (2003). S. Transferrina deve ser feita para avaliar anemia
O diagnóstico da DC ainda depende da experiência clínica 6. Dosagem de vitamina B12
do gastrenterologista, combinada à do endoscopista e do pato­ 7. Provas de função hepática
logista, através de dados macroscópicos e histológicos do trato 8. mv
gastrintestinal alto e baixo, e exclusão de todas as outras possi­ 9. Velocidade de hemossedimentação ou proteína C reativa
bilidades diagnósticas. Como a doença pode ser grave, lembrar ultrassensível
que os exames invasivos podem piorar as condições emocionais
O hemograma, na fase aguda, mostra leucocitose com des­
dos pacientes e de seus familiares.
vio à esquerda, linfopenia, eosinofilia moderada ou acentuada,
História Clínica. Queixa de dor abdominal intensa, noturna
plaquetose. Pode ainda revelar anemia microcítica, enquanto
e associada a diarreia constituem os dados mais valorizáveis
a anemia megaloblástica é mais rara, mas pode ser observa­
na anamnese.
da na DC, por alterações na absorção de vitamina B12 no íleo
Exame Físico. Dados antropométricos e de desenvolvimen­
to sexual relacionados com a idade; dor à palpação principal­ terminal.
mente no quadrante inferior direito do abdome com ou sem A hemossedimentação está elevada na fase inicial e se reduz
massa palpável; presença de fissuras, abscessos ou fístula na com o tratamento, sendo um dos indicadores de atividade da
região perianal e lesão perineais são importantes, podendo ser doença, bem como a proteína C reativa (PCR). Entre os pa­
o único achado de exame. cientes tratados com azatioprina ou 6-mercaptopurina, a PCR
ultrassensível parece ser um n
i dicador inflamatório negativo
melhor do que a velocidade de hemossedimentação, segundo
• Exames laboratoriais Barnes et al. (2004).
São utilizados alguns exames laboratoriais habituais com os As alterações das frações proteicas, principalmente a acen­
objetivos de avaliar a atividade, o prognóstico, as manifestações tuada redução da albumina, o aumento da alfa-2-globulina (su­
hepáticas ou pancreáticas, os fenômenos disabsortivos, o estado postamente sintetizada nos cólons) são muito importantes na
nutricional dos pacientes ou ainda afastar outras doenças. avaliação do prognóstico e prenúncio da recidiva da doença.
356 Capítulo 32 I Doença de Crohn

As transaminases, afosfatase alcalina, agama glutamiltrans­ A determinação de anticorpos antineutrofílicos citoplasmá­


ferase e a função pancreática com a dosagem da amilase e lipase ticos (pANCA) mostra 82% de sensibilidade e 90% de especi­
séricas podem estar alteradas, traduzindo comprometimen­ ficidade para pacientes com RCU. A presença de anticorpos
to hepático e pancreático, mas não têm valor diagnóstico ou anti-Saccharomyces cerevisiae (ASCA) tem sido proposta como
prognóstico. marcador sensível e específico para DC, principalmente se for
O encontro de baixos níveis deferro e zinco séricos podem em combinação com ANCA negativo. Nos casos de colite in­
ser secundários à pobre ingestão alimentar, perda pela mucosa determinada, tais marcadores parecem de ajuda. Salienta-se
inflamada do intestino ou pelo sangramento intestinal. O cálcio que a positividade de marcadores não implica que se deixe de
e o magnésio podem estar baixos devido à baixa n i gestão e/ou submeter o paciente à colonoscopia ou a estudos de imagem.
perda através das células epiteliais descamadas ou de sangra­ Considerar, também, que a positividade dos anticorpos é baixa
menta intestinal. em crianças com menos de 5 anos.
Lembrar-se de diagnosticar e/ou prevenir infecções opor­ Interessante é o relato de Vasiliauskas et al. (2000) de que,
tunistas, cada qual por seu método próprio. semelhante a NOD2, a presença de ASCA está associada ao
Virus: citomegalovírus, vírus Epstein-Barr, hepatite B, her­ início precoce da DC. Também, altos títulos de ASCA IgG e
pes simples, influenza, varicela, papilomavírus. IgA estão associados à DC complicada, principalmente com
Bactérias: Clostridium difficile, exclusão de tuberculose. ressecções intestinais. Em oposição, pANCA não se associou à
Teste cutâneo de Mantoux PPD (no Brasil, positivo
= doença agressiva. Dubinsky et al. (2006) demonstraram a alta
> 10 mrn). probabilidade de doença estenosante em pacientes com NOD2
Fungos: histoplasmose, Pneumocystis jiroveci (carinii) e ASCA. Tais estudos permanecem ao nível de investigação e
ainda não são totalmente empregados na rotina.
• Novas modalidades diagnósticas Em conclusão, os testes sorológicos dão suporte clínico para
A utilização de outros métodos não invasivos tem sido es­ diagnóstico e categorização de pacientes com DII e podem ser
tudada como rastreamento para o diagnóstico. O método mais de valor na tomada de decisões terapêuticas. Novos estudos
utilizado é a cintigrafia com leucócitos marcados com Tc99, que são necessários com o objetivo de alcançar novos marcadores
se mostrou útil em crianças na avaliação da localização e de­ diagnósticos sensíveis e específicos para cada uma das doenças,
terminação da intensidade da lesão quando comparado com a relacioná-los à atividade e extensão da enfermidade e predição
radiologia e a colonoscopia, mas não define detalhes anatômi­ das manife.stações extraintestinais, ou complicações.
cos como estenoses, dilatação pré-estenótica ou fístula, como
o faz o enema opaco.
• Exames de imagem
• Testes sorológicos específicos (ASCA/pANCA) Minimizar o uso da radiologia convencional devido ao po­
Perinuclear antineutrophil cytoplasmic autoantibodies tencial risco de irradiação para o desenvolvimento de maligni­
(pANCA) tem sido reconhecido como bom marcador de RCU. dade.
Anticorpos para epítopos oligomanosídicos do fungo Saccha­ Têm muita importância a determinção da idade óssea (raios
romyces cerevisiae (Se) (ASCA) são novos marcadores para DC. X de punhos) em crianças e a densitometria óssea (DEXA) em
Ambos estão implicados no diagnóstico diferencial entre as todas as idades, pois revelam comprometimento do metabo­
duas entidades. A combinação dos dois pode ajudar nesta di­ lismo do cálcio (Prancha 32.4, F).
ferenciação. São testes realizados por técnicas padronizadas de A rotina de raios X simples de abdome (em pé, deitado e
imunofluorescência indireta (ANCA) e ELISA (ASCA). em decúbito lateral com raios horizontais) é essencial se hou­
A presença de ASCA em pacientes com DC está associada a ver suspeita de obstrução intestinal. Pode delinear presença
comprometimento do intestino delgado. As evidências sugerem e extensão da colite, diagnóstico de obstrução ou perfuração,
que, assim como o pANCA, a expressão de ASCA não seja um oclusão de megacólon tóxico. Litíase urinária ou da vesícula
epifenômeno de agressão intestinal (alteração da permeabili­ biliar pode ser detectada.
dade), e, sim, um reflexo de resposta específica imunomediada Raios X contrastados não são recomendados em casos gra­
pela mucosa. ves. O exame contrastado do esôfago, estômago e duodeno
O ASCA é marcador altamente específico para DC e é mais pode revelar algum sinal de espessamento da mucosa ou estrei­
frequentemente expresso em pacientes com DC de início preco­ tamento da luz nos casos suspeitos de DC.
ce (até 70%) do que com início tardio (25% dos pacientes com O trânsito intestinal, com estudo detalhado do íleo terminal
DC iniciada após os 40 anos de idade). Já que os antígenos self sob fluoroscopia, é de importância central no diagnóstico da DC
não reagem com o ASCA, este marcador imune sérico não é do intestino proximal ao íleo terminal, mostrando estenoses,
considerado um autoanticorpo. ulcerações e fistulizações. O comprometimento do n i testino
O teste ASCA positivo emfamiliares de pacientes com DC delgado está presente em mais de 90% dos pacientes com DC
sugere que seja um marcador subclínico da afecção. Mas, se (Prancha 32.4, A e B).
reflete fatores ambientais ou genéticos, ou a combinação de O estudo radiológico através do enema opaco, convencional
ambos, ainda não se sabe. ou de duplo contraste, está contraindicado na fase aguda, pelo
Baseado em estudos e observações, pode-se concluir que risco de perfuração ou dilatação (megacólon tóxico). Pode ser
o ASCA e o pANCA provavelmente não são marcadores má­ totalmente normal em casos leves ou apresentar redução das
gicos para o diagnóstico da DII. Além disso, a prevalência do haustrações, contraste disposto como vidro fosco ao longo do
ASCA na população saudável estudada está ao redor de 10%, cólon, em espículas e irregularidade no contorno do cólon, na
e eles também podem estar presentes em outras doenças au­ presença de microulcerações. Algumas vezes, podem ser en­
toimunes. Na doença celíaca, o ASCA pode ser detectado em contradas imagens de aspectos muito irregulares pela presen­
porcentagem elevada, pois surge em afecções com alterações ça simultânea de ulcerações e de formações de pseudopólipos,
da permeabilidade intestinal, não só na DC. Kotze et al. (2010) sinais de espessamento da mucosa, ulcerações, pseudopólipos
demonstraram estar elevado nos familiares de celíacos. e estreitamento do lúmen intestinal (Prancha 32.4, E) e, ou-
Capítulo 32 I Doença de Crohn 357

A o

1
B

Ilo:
E

0461 SCAN DATE: 01.07.97

L2-L4 Comparison to Reference


1 .48
1.24
BMD
(g/cm2) 1 .00
0.76

20 40 60 80 100
AGE (years)

L2-L4 BMD (g/cm2)1 0.916 :!: 0.01


% YOUNG ADULT2 74 :!: 3
78 :!: 3
L2-L4
L2-L4 % AGE MATCHED3
F

Prancha 32.4 Exames radiológicos e de imagem na doença de Crohn. A. Padrão disabsortivo do intestino delgado, com síndrome de má
absorção intestinal; B. Lesões estenosantes no íleo terminal; C. Ultrassonografia abdominal mostrando espessamento das alças intestinais;
O. Comprometimento dojejuno em paciente já operado, tendo desenvolvido fístulas internas; E. Lesão em cólon ascendente; F. Densitometria
óssea de paciente em uso crônico de corticosteroides, denotando necessidade de atenção para metabolismo do cálcio.
358 Capítulo 32 I Doença de Crohn

tras vezes, dilatações de alças e trajetos fistulosos. As lesões são Enterografia por TC ou RM mostra detalhes da morfologia
descontínuas na DC, descritas como lesões em salto. das alças intestinais e faz melhor avaliação do processo infla­
Outros exames de imagem são muito úteis não só para ava­ matório e do grau de fibrose, além de analisar estenoses com
liação, mas também para drenagem percutânea de coleções maior sensibilidade.
localizadas. Colangiorressonância quando há evidência de colestase.
A ultrassonografia (US) pode ser útil na identificação de
espessamento da mucosa intestinal (Prancha 32.4, C) e presen­ • Exames endoscópicos
ça de adenomegalia e líquido na cavidade abdominal. É eco­
O exame endoscópico é de suma importância no diagnóstico
nômica, largamente disponível, não envolve radiação e avalia
e acompanhamento evolutivo da DC, inclusive com obtenção
complicações periviscerais e extraintestinais. Soma-se a isso a
de fragmentos de mucosa para exame histopatológico.
possibilidade de se conhecer a atividade da doença ao se moni­
Enteroscopia de duplo balão ou video push enteroscopy é uti­
torar o volume do fluxo na artéria mesentérica superior. lizada para acessar áreas do intestino delgado altamente suspei­
A ultrassonografia endorretal é útil no caso de fistulas, mas tas, quando outras modalidades diagnósticas foram negativas,
restrita devido à dor. ou para atingir áreas estenosadas para dilatação com o balão.
A tomografia computadorizada de abdome (TC) pode de­ A enteroscopia tem sido indicada na localização de sangra­
finir precisamente a anatomia de fístulas e cavidades na DC; menta digestivo proveniente do intestino delgado quando ou­
ou ser útil para identificar abscesso ou linfoma. É uma técnica tros métodos diagnósticos falham. Também pode ser indicada
rápida, bastante disponível, bem tolerada e que permite com­ para estudo de afecções, ni clusive no diagnóstico da DC. A tole­
pleta avaliação do cólon quando a endoscopia é incompleta. rância é boa e não são relatadas complicações. Tem a vantagem
Contudo, associa-se à grande exposição de radiação ionizan­ de permitir biopsias. Entretanto, poucos centros dispõem de
te. Ambas, US e CT, são cada vez mais usadas para identificar aparelhos e profissionais treinados para este método. Assim, a
anormalidades intrínsecas da parede abdominal, como áreas de colonoscopia, com estudo de todos os segmentos dos cólons e
espessamento ou aderências das alças intestinais.
A ressonância magnética (RM) não requer radiação ioni­
reto, e possibilitando visualização da válvula ileocecal e do íleo
terminal, tem sido o exame endoscópico de escolha (Prancha
zante, dá excelente contraste dos tecidos moles e pode ofertar 32.5, B e C). Está indicada na falta de resposta à terapia habi­
imagens sequenciais. Consequentemente, é superior à US na tual, quando se pretende afastar citomegalovírus em pacientes
identificação de fístulas e estenoses, e na localização de segmen­ crônicos em uso de imunossupressores, e para verificar colite
tos afetados, principalmente no intestino delgado proximal. O por Clostridium difficile em exames duvidosos.
uso de contraste com gadolínio, endovenoso, melhora a técnica As úlceras são as alterações endoscópicas mais frequentes,
e permite separar doença da mucosa (RCU) da doença trans­ com tamanhos e formas variáveis, recobertas por fibrina, bor­
mural (DC), além de identificar compromeimento t do intestino dos elevados, limites nítidos, sendo poupada a mucosa entre
delgado proximal. Há excelente concordância com o diagnós­ as lesões. Podem localizar-se em todos os segmentos do trato
tico histológico (sensibilidade 96% e especificidade 90%). Pode digestivo, da boca ao ânus, sendo mais frequentes, porém, em
ser usada para se conhecer a atividade da DC, pois se correla­ cólon e íleo terminal, preservando o reto na grande maioria das
ciona com o índice de atividade (CDAI Crohn 's Disease Acti­
=
vezes. Os casos crônicos, de longa duração, podem apresentar
vity Index). É um exame que permite escanear todo o abdome mucosa espessada, com aspecto em "paralelepípedo", associada
dentro de um curto período de tempo. É particularmente útil a estenoses segmentares únicas ou múltiplas, fístulas comple­
na detecção de fístulas e estenoses. Em relação a abscessos, Ma­ xas (peritoneais, perineais e retovaginais) de difícil controle
clínico-endoscópico.
Endoscopia virtual do intestino delgado e colonoscopia
ruyama et al. (2000) relatam sua utilidade na diferenciação de
abscessos isquirretais e pelvirretais. Permite visualizar infiltra­
ção do tecido adiposo e espessamentos significativos na parede virtual não mostraram grande vantagem, mas podem ser úteis
intestinal, ambos fatores evidentes de processo n i flamatório em casos de estenoses, principalmente se intransponíveis aos
agudo. Outra vantagem do método é a de permitir localizar colonoscópios.
"zonas quentes", isto é, áreas de inflamação particularmente • Cápsula endoscópica (CE)
graves, em atividade da DC. Como não requer radiação ioni­
zante, é indicada para casos em que há necessidade de repetições
Recentemente, foi introduzida na prática médica a cápsu­
la endoscópica (wireless capsule-enteroscopy WCE) que vem
=
do exame, principalmente em crianças e adolescentes.
contribuindo de maneira significativa para o esclarecimento de
Assche et al. (2003) desenvolveram score para determinação
da gravidade da DC perianal através da RM:
afecções comprometendo o n i testino delgado. Na DC fornece
informação sobre o tipo de lesões e a extensão da enfermida­
• Número de trajetos fistulosos: nenhum, único sem ramos, de, principalmente em casos de difícil diagnóstico pelos outros
métodos. Entretanto, salienta-se a importância da realização
i testinal a fim de se evitar a retenção da
ou ramificado, múltiplos;
• Localização: extra ou n
i teresfinctérico, transe.sfinctérico, prévia de um trânsito n
supraesfinctérico; CE em áreas de estenose. Já está disponível para crianças e tem
• Extensão: infraelevador ou supraelevador; se tornado a modalidade diagnóstica de escolha para pacientes
• Hiperintensidade em imagens T2: ausente, discreta, pro­ com suspeita de DC no ntestino
i delgado proximal.
nunciada;
• Indicações na DC
• Coleções (cavidades > 3 mm de diâmetro): ausentes ou
•avaliação do envolvimento do n i testino delgado em pa-
presentes;
cientes com DII e colite isolada;
• Comprometimento retal: normal ou espessado.
•determinação da extensão da DC do intestino delgado;
De acordo com o tratamento com infliximabe ou cirur­ •suspeita diagnóstica de DC;
gia, comparações podem ser feitas para tomada de novas de­ •seguimento dos pacientes com DC;
cisões. •monitoramento do tratamento.
Capítulo 32 I Doença de Crohn 359

• Vantagens da doença são marcados por glândulas distorcidas e ramifica­


•potencial de visibilizar diretamente toda a superfície mu­ das e a presença de metaplasia das cé l ulas de Paneth no cólon.
cosa do intestino delgado; A criptite (neutrófilos dentro do epitélio) e abscessos crípticos
capacidade de detectar lesões superficiais sutis, evidentes (neutrófilos na luz da glândula), assim como a redução da mu­
ou não em radiografias tradicionais com contraste ou fora

cina, estão presentes em menor proporção do que na RCUI. A


do alcance dos endoscópios tradicionais; mucosa entre as áreas afetadas pode mostrar infiltrado linfo­
•menor invasividade que a endoscopia tradicional; plasmocitário na parte profunda da lâmina própria. A DC ati­
•ausência de sedação ou anestesia; va é caracterizada por infiltrado de neutrófilos e monócitos no
•aceitação geral pelos pacientes; epitélio intestinal e na lâmina própria, na superfície exsudato
•60.000 imagens geradas em cada exame, compactadas fibrinoleucocitário, abscessos crípticos e agregados de linfoi­
em um vídeo! des ao longo dos linfáticos em toda a espessura do epitélio. São
também observadas vasculites e hiperplasia e hipertrofia dos
• Desvantagem plexos neurais autônomos. Os granulomas epitelioides, não
A desvantagem é que, infelizmente, não permite coleta de caseosos, algumas vezes contendo células gigantes multinu­
fragmentos para estudo histológico. cleadas, são encontrados em cerca de 25% dos casos de pa­
As lesões que podem ser observadas são (Prancha 32.5, D): cientes investigados com biopsias colonoscópicas; e em 60%
• aftas mucosas, constituídas por áreas de mucosa erite- dos com ressecção cirúrgica intestinal (Figura 32.1, B). Embora
matosa com zona central esbranquiçada; não essenciais para o diagnóstico, quando presentes são con­
• placas eritematosas e/ou despapiladas, focais; siderados como marcadores histológicos para o diagnóstico
definitivo e diferencial entre a DC e a RCUI. Com marcadores
imunológicos utilizando o anticorpo monoclonal CD68, mar­
• erosões;
• úlceras lineares ou r
i regulares;
• fissuras. cador de todos os tipos de macrófagos, observou-se que este
facilita o encontro dos microgranulomas. Há risco aumentado
Na população infantil, em que cerca de 85% dos casos apre­ de câncer em áreas cronicamente inflamadas da mucosa do in­
sentam compromeimento
t do intestino delgado, podendo cur­ testino delgado, colorretal ou anorretal.
sar com sintomas inespecífi.cos, que provocam atraso de desen­
volvimento ponderoestatural, a CE é de muita utilidade. Além
Infere-se que os achados histológicos têm maior valor pre­
ditivo do que os achados endoscópicos no diagnóstico de DC
disso, este grupo etário tem baixa tolerância a procedimentos do trato digestório superior, o que significa que a biopsia é
invasivos, e a CE é bem tolerada. O único problema pode ser obrigatória nas endoscopias altas dos pacientes.

Colangiopancreatografia endoscópica retrógrada (CPER)


a ingestão da cápsula.


pode ser útil na suspeita de colestase e/ou colangite.
COMPORTAMENTO BIOLÓGICO
• Exame anatomopatológico Quanto ao comportamento biológico, há subgrupos de pa-
cientes com:
O comprometimento histológico gastroduodenal ocorre em
mais de um terço dos pacientes, exclusivamente no delgado em • forma fibroestenosante (não perfurante);
30 a 35%, no íleo terminal e em alguns segmentos do cólon, • forma fistulizante (perfurante);
principalmente no ascendente, em 50 a 60%; e a doença limitada • forma n
i flamatória.
ao cólon em 10 a 15% das crianças e adolescentes.

• Aspectos macroscópicos
• Alterações totais da parede do intestino
Nos locais do intestino afetado, observa-se o envolvimen­ A partir de peças cirúrgicas, observam-se úlceras cicatriza­
to total da parede, com hiperemia e depósito de exsudato no das causando distorção da arquitetura, proliferação do tecido
peritônio visceral, com aspecto rugoso e nodular, propician­ conjuntivo e fibrose da submucosa e muscular da mucosa. Na
do aderência entre as alças, entre estas e outras vísceras e até submucosa, pode-se observar dilatação de linfáticos. Toda a
com a parede abdominal. Em fases mais avançadas da doen­ extensão da parede intestinal apresentará, à microscopia, infil­
ça, toda a parede e, em especial, a válvula ileocecal tornam-se trado inflamatório rico em plasmócitos, linfócitos, macrófagos,
fibróticas, espessadas e rígidas. A lesão da mucosa é represen­ mastócitos, eosinófilos e neutrófilos.
tada por úlceras aftoides que se unem, aumentando de tama­
nho, formando lesões irregulares e serpiginosas, intercaladas • Acúmulo de gordura no mesentério na DC
com áreas normais, chamadas de "lesões em salto". A muco­
sa preservada, mas com edema, entre as áreas com úlceras, Em peças cirúrgicas de portadores da DC, encontra-se es­
pode apresentar aspecto polipoide, chamado de pseudopólipo, pessamento e endurecimento da borda mesentérica com hiper­
podendo também estar presentes os pólipos inflamatórios. O trofia significativa do tecido adiposo. Tais acúmulos aparecem
conjunto de achados: úlceras aftoides, ulcerações serpigino­ também à TC e à RM. Constitui urna "característica" da DC
sas, edema, ulcerações lineares (aspecto em "cobblestone") e (Figura 32.1, A).
os pseudopólipos são importantes para o diagnóstico de DC A origem desta gordura excessiva é desconhecida. Não apa­
(Figura 32.1, A). rece em pacientes obesos. Ao contrário, os acúmulos ocorrem
mais frequentemente em pessoas com índice de massa cor­
• Aspectos microscópicos poral normal e parecem ser consequência, a longo prazo, de
As alterações epiteliais variam de discretas a intensas, ao inflamação crônica. Podem ser urna expressão da interação
lado de áreas de processo reparativo. Os sinais de cronicidade entre tecido adiposo e mediadores da resposta imune. Parece
360 Capítulo 32 I Doença de Crohn

A B

Prancha 32.5 Imagens endoscópicas na doença de Crohn. (Esta figura encontra-se reproduzida em cores no Encarte.) A. Endoscopia diges­
tiva alta com lesões no antro gástrico. B. Lesão aftoide em válvula ileocecal. C. Colonoscopia mostrando lesões ·em pedra de calçamento".
O. Imagens obtidas pela cápsula endoscópica: Lesões aftoides de pequena monta em intestino delgado.
Capítulo 32 I Doença de Crohn 361

Figura 32.1 Patologia na doença de Crohn. A, Peça cirúrgica com mucosa tipo pedra de calçamento. Notar espessamento da parede por
intensa fibrose e a gordura em serosa. B, Exame histológico demonstrando granuloma não caseoso. (Esta figura encontra-se reproduzida em
cores no Encarte.)


provável que os adipócitos sejam importantes no sistema
imune, possivelmente produzindo citocinas, particularmente
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
TNF-alfa. Antes de submeter o paciente a métodos invasivos, des­
cartar causas infecciosas e parasitárias!
Devido às variadas manifestações clínicas da DC, muitas
• COMPARAÇÃO DE MÉTODOS DIAGNÓSTICOS afecções podem ser aventadas no diagnóstico diferencial:
A CE é mais precisa na detecção de lesões mucosas, en­ a) Afecções ileocecais: Ileítes agudas, adenites mesentéricas,
quanto a TC mostra patologia intra e extraluminal.

hiperplasia nodular linfoide, linfossarcoma, tuberculose,


• Comparando a CE com os testes sorológicos pANCA yersiniose. Entretanto, a apendicite aguda é a situação
IgG, ASCA IgA e IgG, eles não foram capazes de predizer mais frequentemente confundida. Tem importância, pois
os achados da cápsula, que foram superiores. o índice de fi.stulização é elevado quando se procede à
• A CE permite diagnosticar lesões mais precoces que as ressecção do apêndice;
tradicionais. b) Doenças cólicas: RCU, disenteriabacteriana ou parasitá­
• A colite indeterminada aparece entre 10 e 23% dos casos ria, tuberculose, síndrome do intestino irritável;
de DII. Os estudos sorológicos com pANCA e ASCA po­ c) Afecções psicogênicas: Anorexia nervosa;
dem ser úteis na diferenciação entre RCU e DC, mas estes d) Doenças febris: Febre de origem indeterminada, bruce­
pacientes tendem a ser negativos para ambos os testes. lose, colagenoses;
Tem-se utilizado gamagrafi.a com leucócitos marcados e e) Doenças endócrinas: Retardo de crescimento inexplicado,
enterotomografi.a computadorizada para tentar diferen­
hipopituitarismo;
ciação, mas tais métodos não estão disponíveis em todos
f) Distúrbios do trato digestório superior: Gastrenterites,
os centros. A CE pode identificar cerca de 61% dos casos
doença celíaca, insuficiência pancreática, úlcera péptica,
de DC com lesões no intestino delgado nestes pacientes
jejunoileítes agudas;
com implicações terapêuticas importantes.
g) Afecções geniturinárias: Infecção urinária, litíase etc.;
Fireman et al. (2003) avaliaram a acurácia diagnostica da CE h) Obstrução intestinal de diferentes etiologias;
em pacientes adultos (média de idade 40 anos, 18-69) com i) Outras: doença de Behçet, púrpura de Henoch-Schõnlein.
suspeita de DC do intestino delgado (ID) não detectada pelas
modalidades convencionais. Dos 17 pacientes suspeitos (ane­ Quando a DC é de comprometimento colônico, o diagnós-
mia, dor abdominal, diarreia ou emagrecimento), 12 (70,6%) tico diferencial com a RCU nem sempre é fácil.
foram diagnosticados como tendo DC no intestino delgado,
demonstrando que a CE é uma modalidade efetiva no diagnós­
tico de DC não detectada por outras metodologias. As imagens • RELAÇÃO NOCIVA ENTRE CLOSTR/0/UM
encontradas foram erosões mucosas, úlceras e diminuição de 0/FF/C/LE E Dll
luz. A distribuição das lesões foi mais na parte distal do ID,
variando de leve a grave. A comorbidade com Clostridium difficile pode causar re­
Em geral, os pacientes com DC, após avaliação pelos diver­ tardo no diagnóstico de casos novos de DII, desencadear re­
sos métodos, podem ser divididos em grupos, de acordo com corrência na doença já estabelecida, confundir tratamentos e
a distribuição anatômica das lesões: servir como ni dicador de um defeito subjacente na imunida­
• com doença exclusiva no intesino
t delgado; de inata. O Clostridium difficile é a causa mais frequente de
• com ileocolite (compreendem a maioria); diarreia por infecção hospitalar em países desenvolvidos. Os
• com doença envolvendo apenas o cólon; fatores de risco para a infecção incluem exposição a antibió­
• com doença restrita à área anorretal; ticos, hospitalização, idade avançada e cirurgias gastrintesti­
• com acometimento do esôfago e do estômago. nais. Estudos recentes apontam para o surgimento de uma
362 Capítulo 32 I Doença de Crohn

cepa altamente virulenta, caracterizada como resistente à fluo­


roquinolona que produz maiores quantidades de toxina, e a
• Determinando a atividade da DC
doença que provoca é mais refratária ao tratamento. Também As decisões terapêuticas são determinadas por uma avalia­
relatos demonstram que é contraída fora do hospital, em fontes ção n
i icial da localização primária da doença e da sua gravidade
comunitárias. Essas bactérias podem ser isoladas em amostras estabelecida segundo parâmetros clínicos:
de fezes e as toxinas nos sobrenadantes de cultura utilizando­ • localização da inflamação;
se imunoensaios enzimáticos. Como salientam Clayton et al. • estenose (obstrução);
(2009), a doença colônica pode ser um fator de risco inde­ • processos fistulosos;
pendente para aquisição de Clostridium difficile, sabendo-se • manifestações sistêmicas e extraintestinais.
que o papel dos antibióticos e das drogas imunossupressoras
não está claro. Assim, podem-se definir:
.,. DC leve-moderada. Pacientes de ambulatório capazes de
tolerar alimentação VO, sem manifestações de desidratação e
• PARAMETROS DE AVALIAÇÃO de toxicidade (febre alta), sem dor abdominal, massa dolorosa
ou obstrução.
Vários índices foram propostos para avaliação da gravidade .,. DC moderada-grave. Pacientes com falha na resposta ao
de cada caso de DC, indicação de tratamento e seu monitora­ tratamento para doença leve-moderada, ou aqueles com sinto­
mento. A maioria destes tem base em manifestações clínicas e mas mais proeminentes, como febre, emagrecimento importan­
laboratoriais. O Crohn's Disease Activity Index (CDAI) é um te (mais de 10% do peso), dor abdominal e dor à palpação sem
dos mais utilizados, desde 1976, tanto em pesquisas como em sinais de irritação peritoneal, náuseas e vômito intermitentes
ensaios clínicos. Para crianças e adolescentes, recomenda-se o (sem sinais de obstrução), ou anemia significativa.
Pediatric Crohn's Disease Activity Index (PCDAI) semelhante .,. DC grave-fulminante. Pacientes com sintomas persis­
ao usado em adultos. tentes a despeito da introdução de corticosteroides, como pa­
fndices endoscópicos têm sido usados para verificação de cientes não hospitalizados; ou doentes com febre alta, vômito
resultados terapêuticos em ensaios clínicos, pois a cicatrização persistente, evidência de obstrução intestinal, sinais de irritação
endoscópica de lesões faz parte de vários protocolos. peritoneal, caquexia ou evidência de abscesso.
.,. DC em remissão. Pacientes assintomáticos ou sem seque­
las inflamatórias, ou que responderam à intervenção aguda de
• TRATAMENTO medicamentos, ou que foram submetidos a ressecções cirúrgi­
cas sem doença residual macroscópica. Pacientes que necessi­
Como a DC não tem etiologia conhecida, carece de terapêu­ tam de corticosteroides não são considerados "em remissão".
tica específica. As medidas preconizadas atualmente não são
curativas nem alteram a história natural da doença, na maioria
dos casos conseguindo apenas aliviar os sintomas e prevenir • TRATAMENTO CLÍNICO
complicações.
Os objetivos do tratamento incluem: PARAR DE FUMAR COM URG�NCIA!
a) indução e manutenção da remissão clínica;
b) promoção da cicatrização da mucosa intestinal; • Medidas gerais
c) recuperação do estado nutricional; Nas formas leves, o tratamento é ambulatorial, com retira­
d) profilaxia e tratamento das complicações, caracterizadas da de lactose, sacarose e dieta hipoalergênica, com diminuição
na infância e adolescência principalmente pelo déficit de de fibra vegetal.
crescimento; Nas formas moderadas desde o início ou em sequência a
e) diminuição das intervenções cirúrgicas;
f) promoção da qualidade de vida; e
um surto grave, mas superado, as bases terapêuticas são re­
pouso relativo, regime hospitalar ou não, dieta líquida e depois
g) minimização do impacto emocional da doença sobre o pastosa, isenta de lactose, sacarose e hipoalergênica, e reduzida
paciente e a família. em fibra vegetal.
QUALIDADE DE VIDA (QDV): Assunto muitas vezes ig­ Nas formas graves, em surto inicial ou reagudizado, com
norado na prática médica rotineira! hemorragia maciça ou megacólon tóxico, o paciente deve ser
QDV reflete não somente a experiência subjetiva do paciente mantido em cuidados intensivos a fim de monitorar e corrigir
sobre sua doença, mas também como isso afeta sua vida diária. a anemia aguda, hipotensão, distúrbios eletrolíticos, especial­
Os doentes são afetados tanto por suas limitações físicas e fato­ mente de potássio. Hidratação correta, transfusões de sangue e
res psicossociais, como pela percepção de si mesmos! plasma, reposição de albumina, pausa alimentar, nutrição pa­
As limitações mais relatadas pelos pacientes em respostas a renteral total, sondagem nasogástrica contínua e repouso são
medidas essencias. O paciente deve ser vigiado constantemente,
questionários sobre QDV incluem:
pois, conforme a evolução, torna-se obrigatória a indicação de
• evacuações frequentes; cirurgia de urgência.
• dor abdominal;
fadiga;
Tratamento nutricional


• distúrbios do sono;
• tendência a recolhimento social; Nenhum alimento ou substância, em particular, demonstrou
• ansiedade pessoal e raiva por estar doente; deflagrar oupiorar a DC. Assim, devem-se respeitar intolerâncias
• frustração devido à progressão crônica da enfermidade. individuais, sem restrições, para se evitar desnutrição.
Capítulo 32 I Doença de Crohn 363

• Dieta Fatores desencadeantes (bacterianos, virais, imunológicos e


O impacto da dieta na atividade da DII é pouco entendido, tóxicos) seriam impedidos de ativar a produção de IFN-gama
mas algumas considerações merecem ser feitas: através do efeito inibitório de TGF-beta2, não induzindo CMH
II a desencadear a inflamação.
• Durante aumento da atividade, é apropriado diminuir a Indicações: crianças com DC e retardo de crescimento; adul­
quantidade de fibras e manter produtos lácteos se forem tos corticodependentes ou corticorresistentes.
bem tolerados
• Dieta de baixo resíduo pode diminuir a frequência das • Agentes bioterapêuticos
evacuações Os probióticos não são considerados "remédios': mas ali­
• Dieta com grande quantidade de resíduos pode ser indi­ mentos. O conceito de que a presença e o ipo
t de bactéria no
cada em casos de constipação intestinal intestino são importantes na DC é bem fundamentado, pois
estudos da flora encontrada na luz e parede intestinais suge­
• Suplementação nutricional nos casos com sub ou desnutrição ou rem que os pacientes com esta afecção são diferentes dos in­
durante os períodos de restrição da ingestão oral divíduos normais.
Medidas nutricionais podem ser utilizadas como terapêuti­ Agente bioterapêutico (ABT) ou probiótico é um microrga­
cas primárias ou adjuvantes. Os principais objetivos são: nismo vivo que, após sua ingestão em certo número, contribui
a) Corrigir déficits nutricionais específicos, repondo para aumentar a saúde do hospedeiro ao tratar ou prevenir in­
perdas; fecções causadas por cepas patogênicas, melhorar a função de
barreira e alterar a resposta da citocina normalmente suscitada
b) Proporcionar fonte energética e proteínas suficientes para
por agentes patogênicos.
manutenção de balanço nitrogenado positivo, favorecen­
Globalmente, podem ser divididos em dois grupos:
do a cicatrização adequada das lesões;
c) Promover um ritmo de crescimento comparável ao que a) microrganismos bacterianos:
o paciente teria no período anterior à doença; Lactobacillus acidophilus
d) Preservar o potencial de crescimento para que o paciente, Lactobacillus casei G
ao atingir a puberdade, possa ter seu próprio estirão de Bifidobacterium longum
crescimento. Bifidum bacterium bifidum, usado com Streptococcus
thermophilus
Como as dietas elementares não são palatáveis, especialmen­
b) leveduras (levedos):
te em crianças, muitas vezes necessitam ser administradas por Sacharomyces boulardii
sondas de infusão. As sondas colocadas por gastrostomia são
seguras e mais bem toleradas do que as sondas nasogástricas de Embora a patogênese das DII continue evasiva, a flora in­
uso prolongado. Preconizam-se 50-75% do requerimento ca­ testinal residente na luz parece ser fator importante no desen­
lórico por infusão contínua noturna, encorajando os pacientes volvimento e cronicidade das afecções. A DC ocorre em locais
a se alimentarem regularmente durante o dia. com altas concentrações de bactérias anaeróbicas e é, até certo
Lembrar que a nutrição parenteral total (NPT), por ser tra­ ponto, tratável com antibióticos e repouso intestinal.
tamento transitório, é reservada para situações especiais (pré­ Diversos mecanismos de ação dos probióticos, relacionados
operatório, obstrução parcial na DC), não se esquecendo de com as DII, foram elucidados:
seu efeito deletério sobre o intestino, n i duzindo à atrofia. A a) competição exclusiva, e os probióticos competem com
glutamina, aminoácido fundamental para o metabolismo das microrganismos patogênicos;
células intestinais, minimiza tal efeito. b) imunomodulação e/ou estimulação da resposta imune;
A nutrição enteral não mantém remissão, e recaída ocorre c) atividade antimicrobiana e supressão do crescimento dos
em 60 a 70% dos casos. Entretanto, é superior ao tratamento patógenos;
com corticoides. Estudos ainda são necessários para se conhe­ d) melhora da atividade de barreira;
cerem os fatores que influenciam a eficiência, a duração, o local e) indução de apoptose das células T.
da inflamação intestinal e a relação com as composições das
Há evidências que sugerem que as DII possam represen­
fórmulas disponíveis. tar uma resposta imunológica agressiva à flora luminal, mais
A nutrição parenteral não é superior à enteral. Contudo, do que propriamente uma alteração de flora normal. Bactérias
nutrição intermitente noturna mantém a DC em remissão. probióticas têm sido eficazes no manejo de algumas doenças
Recentemente, foi lançada no mercado brasileiro uma fór­ diarreicas agudas, e pesquisadores referiram que certas cepas
mula nutricional específica para portadores da DC (Modulen de Lactobacilli parecem exercer papel protetor imunomodu­
IBD®). É um produto de nutrição oral ou enteral, apresentado lador, aumentam a secreção de IgA e de certas citocinas anti­
em pó de reconstituição instantânea. Apresenta 14% do valor nflamatórias.
i
calórico total em proteínas, 42% em lipídios e 44% de glicídios Uma combinação de Lactobacillus sp, Bifidobacterium sp e
(sem lactose, sem glúten e sem resíduo). Streptococcus sp preveniu crise de DII. O efeito imunogênico
O "fator transformador do crescimento beta2" (TGF-beta2) da Escherichia coli não patogênica e parasitos está em estudo.
é uma citocina naturalmente presente no leite materno e no lei­ Alguns parasitos aumentam a resposta Th2 com diminuição da
te de vaca, com propriedades anti-inflamatórias, de regulação Thl. Pesquisas futuras devem esclarecer melhor o assunto.
do crescimento celular e de resposta imune. Demonstrou-se O uso de Sacharomyces boulardii na enterocolite induzida
que a atividade anti-inflamatória do TGF-beta2 seria devida à
inibição da expressão das proteínas do CMH Classe li através
por antibióticos ou colite pseudomembranosa já é bem reco­
nhecido. Estudo com a dose de 1 gldia associado à mesalazina
da inibição da atividade da interferona-gama (IFN-gama). Fo­
ram observadas concentrações de CMH ll nas membranas dos
reduziu as recidivas da DC.
Atualmente, apenas o nível 1 de evidência dá suporte ao
enterócitos de pacientes com DC. uso terapêutico de alguns probióticos no tratamento de ma-
364 Capítulo 32 I Doença de Crohn

nutenção da bursite (pouchitis); níveis 2 e 3 de evidência são ----


-- T------
reservados para RCU e DC. Quadro 32.5 Corticosteroides na doença de Crohn
Na DC pode ocorrer diminuição dos índices de atividade,
ou maior tempo de manutenção da remissão, ou maior tempo Mecanismos da ação
de remissão endoscópica após cirurgia, em alguns pacientes. Leucócitos Diminuição da migração, ativação, sobrevida
Entretanto, muitas comparações carecem de resultados esta­ Diminuição da ativação NFkB
Inibição da fosfolipase A2
tisticamente significativos.
Diminuição da indução de COX-2 e NOS
Os pré-bióticos são ingredientes alimentícios não digeríveis, Células endoteliais Diminuição da produção de citocinas
que promovem seletivamente o crescimento ou as atividades Diminuição da produção de mediadores
de bactérias benéficas no intestino. Em geral, são carboidratos lipídicos
de baixo peso molecular encontrados naturalmente em mui­ Aumento da degradação de cininas
tos alimentos. Os simbióticos têm conteúdo tanto pré-biótico Diminuição da expressão de moléculas de
adesão
quanto probiótico.
Diminuição da permeabilidade capilar
Indicações Doença moderada, grave ou fulminante
• Tratamento medicamentoso Efeitos colaterais
• Medicamentos sintomáticos Gerais Fácies cushingoide
• antidiarreicos somente se não houver doença fulminante; Ganho ponderai
• colestiramina para ressecções ileais; Disforia
Metabólicos Insuficiência suprarrenal
• analgésico, como acetaminofeno, ou até codeína, se ne-
. Hiperglicemia
cessano;
,
Hipocalemia
• suplementação de vitamina B12 e/ou vitamina D se hou­ Cardiovasculares Hipertensão
ver deficiência; Retenção de líquidos
• cálcio e vitamina D como rotina nos usuários de corti­ Infecções Oportunistas
costeroides; Reativação de tuberculose
• suplementação de multivitaminas para todos; Dermatológicos Acne
• suplementação de ferro oral e, se não tolerado, ferro IM Pigmentação
Estrias
ou IV nos casos de anemia crônica ferropriva.
Hirsutismo
Oculares Catarata
• Corticosteroides
Glaucoma
Os corticosteroides são drogas capazes de induzir a remissão Musculoesqueléticos Osteoporose
da grande maioria dos pacientes com DC, independentemente Osteonecrose avascular
da distribuição das lesões. Entretanto, são ineficazes na manu­ Miopatia
tenção da remissão. A sua habilidade em controlar o processo Crianças Retardo de crescimento
inflamatório intestinal justifica-se pelo profundo efeito sobre o Monitoramento Pressão arterial
sistema imunológico e resposta inflamatória (Quadro 32.5). Sangue: glicose e potássio
Embora os corticosteroides sejam eficazes para o tratamen­
Contraindicações Diabetes ou hipertensão pouco controlados
to a curto prazo, são ineficientes para prevenir recorrências e é {relativas) Osteoporose
comum surgir dependência. Na população pediátrica, seu uso
está associado a problemas psicossociais e de crescimento. Em Úlcera péptica ativa
crianças, lembrar que não há vantagem em se ter um paciente Infecções graves concomitantes
sem sintomas gastrintestinais, mas cushingoide! COX Ciclo·oxigenase; NF
= = Fator de transcrição nuclear; NOS = Síntese de ácido
Prednisona reduz a velocidade de crescimento das crianças nítrico.
com formas leves a moderadas. Abudesonida oral tem seu pico
de liberação no intestino delgado distai e cólon ascendente, mas
seu uso mostra n í dice de remissão baixo em relação à predni­
sona. Ponto importante: o tratamento com corticosteroides não A corticoterapia parenteral é reservada para os casos ful­
está associado a melhora endosc6pica! minantes, usando-se metilprednisolona, 1 a 2 mg!kg/dia, ou
Outro inconveniente do tratamento com corticoides é a per­ hidrocortisona, ou mesmo ACTH, substituindo-se pela pred­
da óssea, já nas primeiras semanas de tratamento. Assim, fratu­ nisona oral tão logo a melhora clínica permita.
ras osteoporóticas ocorrem em 30 a 50% dos pacientes tratados O tratamento tópico pode ser utilizado isoladamente na
com estas drogas. Outros efeitos tóxicos se verificam: meta­ doença localizada, restrita ao retossigmoide, ou como coad­
bólicos, musculoesqueléticos, gastrintestinais e neuropsiquiá­ juvante, para alívio rápido dos sintomas de urgência e descon­
tricos. forto retal. Enemas artesanais com 50 a 100 mg de hidrocor­

das e graves de Dli e, particularmente, quando há envolvimento


Os corticosteroides são reservados para as formas modera­ tisona diluídos em pequenos volumes de soro fisiológico são
utilizados por médicos brasileiros. A hidrocortisona enema,
do intestino delgado na DC. Estas drogas estão disponíveis em diluída em 100 mf de soro fisiológico levemente aquecido, em
muitos países para uso oral, parenteral e tópico (enema de re­ gotejamento lento, pode ser administrada por sonda retal fina
tenção, supositório e espuma). A dose oral inicial preconizada e longa e equipo de soro. Em domicilio, a administração pode
é de 1 a 2 mg/kg/dia de prednisona ou prednisolona (máximo ser feita por meio de frasco plástico usado no comércio para
de 40 a 60 mgldia). Uma vez alcançada a remissão, a retirada é acondicionar enemas evacuadores. O doente permanecerá em
gradual (5 mg a cada 1 ou 2 semanas) até se chegar a doses em posição de Trendelenburg, de preferência à noite, em decú­
dias alternados de 0,2 a 0,5 mg!kg. O ideal é cessar seu uso. bito lateral esquerdo. Deve-se manter este enema por muitas
Capítulo 32 I Doença de Crohn 365

semanas, em aplicações diárias ou alternadas. Considerando­


----
-- T------
se que, por esta via, a ação local é muito eficiente e que a ab­ Quadro 32.6 Aminossalicilatos na doença de Crohn
sorção do medicamento é inferior a 30%, há risco menor de
efeitos colaterais. Mecanismos de ação
O uso crônico de corticosteroide, ainda que apenas tópico, Leucócitos Diminuição da migração e citotoxicidade
associa-se a efeitos colaterias sistêmicos significativos (Qua­ Diminuição da ativação de NFkB
dro 32.5). Tais situações podem ser evitadas ou com a coad­
Diminuição da síntese de IL-1 e mediadores
lipídicos
ministração de anti-inflamatórios, ou de imunomoduladores,
Diminuição da degradação de prostaglandinas
que atuam como agentes "poupadores" de corticosteroides, ou, Antioxidante
eventualmente, pela n i dicação precoce de cirurgia nos casos Antagonista de TNF
refratários ao tratamento clínico. Diminuição do antagonista receptor FMLP
A budesonida é 100 vezes mais potente que a cortisona. So­ Diminuição da expressão MHC Classe li
mente 10% ficam disponíveis, devido à sua alta extração pela Indução das proteínas de calor
primeira passagem pelo fígado. É comercializada em prepara­ Diminuição da apoptose
ções de 3 mg, protegidas e de liberação entérica lenta. A dose Epitélio Diminuição da expressão MHC Classe li
de 9 mg de budesonida é tão eficiente quanto 40 mg de pred­
Indução das proteínas de calor
Diminuição da apoptose
nisona para induzir remissão da DC, mas não é indicada para
manutenção. Em enemas, é eficaz na RCUI distal e equivale à Indicações Doença ativa; inativa?
eficácia dos enemas com hidrocortisona, porém difere dos ene­ Efeitos colaterais
mas de mesalazina. Mostrou-se eficiente em induzir remissão Gerais Cefaleia*
na DC em íleo e cólon, em adultos e em crianças. Febre*
Gastrintestinais Náuseas, vômito*
Diarreia
• Recomendações gerais
Hematológicos Hemólise*
1. Não administrar subdoses; Deficiência de folato*
2. Reduzir lentamente as doses iniciais; Agranulocitose*
3. Avisar sobre efeitos adversos; Trombocitopenia*
4. Monitorar uso pelo próprio paciente e dependência. Anemia aplástica*
Metaemoglobinemia*
• Aminossalicilatos Urinários Urina alaranjada*
O mecanismo de ação dos compostos contendo ácido Nefrite intersticial
5-aminossalicílico (5-ASA) na DII não está totalmente escla­ Dermatológicos Rash
Síndrome de Stevens-Johnson
recido (Quadro 32.6).
Perda de cabelos
A sulfasalazina foi a primeira formulação oral do 5-ASA,
Outros Oligoespermia*
tendo sido criada na década de 1930, pela combinação de 5-ASA
Pancreatite aguda
à sulfapiridina (carreador, por uma ligação azo). Esta droga tem Hepatite
sido uilizada
t por longo tempo e é terapia de eleição das formas Síndrome lupus-like
leves de RCUI e DC envolvendo o cólon, sendo também efetiva Miocardite
na manutenção de remissão da RCUl. Fibrose pulmonar
Seus efeitos colaterais (Quadro 32.6) são provocados, em Monitoramento
grande parte, pela sulfapiridina. Sulfasalazina Cada 3 meses: hemograma, folato, ureia,
As doses utilizadas em adultos estão indicadas no Qua­ Creatinina, testes de função hepática
dro 32.8 e, em crianças, são de 50 a 75 mg/kg/dia (máximo de Mesalazina Cada 6-12 meses: ureia e creatinina
3 a 4 g/dia) VO, divididas em três tomadas. Eventualmente, Contraindicações
a introdução da droga pode ser feita de modo gradativo, ni i­ Sulfasalazina Sensibilidade a salicilato ou sulfonamida
ciando-se com 25 a 40 mg/kgldia. Sua retirada também é feita Mesalazina Sensibilidade a salicilato
lentamente, até ser atingida a dose ideal para a manutenção. Insuficiência renal
Como a sulfasalazina interfere na absorção de folato, recomen­ *Consequente à sulfonamida da sulfasalazina.
da-se suplementação com dose diária de 1 mg de ácido fólico NF = Fator de transcrição nuclear;TNF = Fator de necrose tumoral.
FMLP = Proteína.
para crianças e 5 mg para adultos, com a finalidade de se evitar
anemia megaloblástica.

• Mesalazina
Com o objetivo de serem eliminados os efeitos da porção tudos comprovam que a mesalamina é tão eficiente quanto a
sulfa, desenvolveram-se compostos, já disponíveis no comércio, sulfasalazina no tratamento da DC afetando o cólon, além de
nos quais as moléculas de 5-ASA se apresentam de forma ivre,l manter a remissão.
sendo designados de mesalarnina nos EUA e de mesalazina na Em crianças, a DC é tipicamente subtratada. A mesalazina,
Europa. Para se evitar que o 5-ASA seja absorvido nas porções dos compostos 5-ASA, é a preparação mais frequentemente
superiores do trato digestivo e que alcance, assim, os locais de usada. As preparações cuja mistura proporciona liberação no
inflamação, um dos recursos utilizados foi o de "recobrir" a intestino delgado são de preferência; também têm biodisponibi­
mesalazina com resina acrílica sensível a pH maior de 7, o que lidade para liberação no íleo distal e cólon. As preparações que
permite sua liberação no íleo distal e cólon. Tais modificações dependem da liberação do pH são consideradas inadequadas
aumentariam a tolerância à droga, e 80 a 90% dos pacientes para tratar DC de comprometimento delgado, pois são efetivas
ntolerantes
i à sulfasalazina aceitam bem a mesalazina. Entre­ no íleo terminal e cólon. As mesalazinas com pontes dissulfí­
tanto, tais compostos não são isentos de efeitos colaterais. Es- dicas (olsalazina, sulfasalazina, balsalazida) não têm indicação
366 Capítulo 32 I Doença de Crohn

para DC do intestino delgado, com base no seu mecanismo de ----


-
-- T·-------
liberação baixa. Quadro 32.7 Azatioprina e 6-mercaptopurina na doença de Crohn
A mesalazina está associada à baixa incidência de efeitos
colaterais, incluindo diarreia, cefaleia, náuseas, dor abdominal, Mecanismo de ação Inibição da síntese de DNA da célula T
dispepsia, vômito e rash. Cerca de 80% dos pacientes intoleran­ Indicações Doença refratária
tes à sulfasalazina podem tolerar 5-ASA. Em alguns pacientes, Doença dependente de corticosteroides
pode se associar nefrotoxicidade. Doença fistulizante
A mesalamina é encontrada em várias apresentações (com­ Doença perianal
primidos, sachês, enemas e supositório), que estão disponíveis Efeitos colaterais
no Brasil (Quadro 32.8). Nas crianças, recomenda-se n i iciar Gerais Náuseas, vômito
com 30 a 50 mg/kg/dia. Estas doses podem ser bem toleradas, Cefaleia
mas necessitam de monitoramento frequente pelo maior risco Febre
de nefrotoxicidade. Nos pacientes com DC envolvendo o íleo Artralgia
terminal, podem ser úteis os compostos nos quais o 5-ASA é Rash
liberado parcialmente nesta região, evitando-se o uso de cor­ Sanguíneos Agranulocitose
Trombocitopenia
ticosteroide ou imunossupressores.
Macrocitose
Recentemente, foi verificado que a mesalamina na dose de
Infecções Oportunistas (citomegalovírus, herpes zoster)
3 gldia, em adultos, diminui o número de recorrências pós­ Hepatobiliares Hepatite colestática
operatórias em 27% dos casos. Está sendo lançada no mercado Pancreatite aguda
brasileiro a mesalazina em sachês de 1 e 2 g. Malignidade linfoma
Enemas de 5-ASA são efetivos na obtenção de remissão Pele (possível)
clínica ou melhora em 90% dos pacientes com colite no có­ Cada 2 semanas nos primeiros 2 meses e depois
lon esquerdo, leve ou moderada. Recomenda-se usá-los por a cada 2-3 meses: hemograma, testes de
14 dias. Também são eficazes na prevenção de recorrência se Monitoramento função hepática
usados regularmente. Lembrar que o tratamento tópico não Contraindicações Gravidez
é adequado nos pacientes com doença se estendendo mais de Deficiência de 6-TPMT
40 em acima do ânus. Alopurinol concomitante
Supositórios de 5-ASA (250 a 1.000 mg/dia, 1 a 3 vezes/
dia) são bem tolerados e efetivos na manutenção da remissão TPMT Tiopurina metiltransferase,
=

na proctite quiescente.

• lmunomoduladores
• Azatíoprina e 6-mercaptopurina (Quadro 32.7) O metotrexato não tem boa absorção quando administrado
por via oral e parece não dar bons resultados para fechamento
de fístulas. Alguns estudos preconizam seu uso se. É um anta­
Azatioprina (AZA) e 6-mercaptopurina (6-MP) têm efei­
to imunossupressor e propriedades linfocitotóxicas. O tempo
para alcançarem o efeito metabólico ativo é de diversos meses, gonista do ácido fólico. Com objetivos de redução de toxicidade
explicando a demora na resposta clínica de 3 a 4 meses. O me­ e aderência à terapia, doses semanais intramusculares podem
canismo de ação destas drogas parece estar relacionado com a ser administradas. Tem indicação para refratariedade ao trata­
inibição da função dos linfócitos, primariamente das células T. mento com corticoides e azatioprina. Efeitos colaterais: altera­
Como tais efeitos são observados apenas 2 meses após a intro­ ção de transaminase pirúvica (7%), náuseas (1%) e rash (1%).
dução de 6-MP ou AZA estes medicamentos não são adequa­
,
Os antimetabólicos parecem ampliar a resposta à terapia
dos para o tratamento das formas agudas. Todavia, são indica­ biológica, estando associados à menor n i cidência de anticor­
dos para o tratamento de corticodependência, refratariedade pos contra infliximabe.
ao tratamento ou fistuização
l grave na DC. Estudos mostram
que pacientes tratados com estas medicações podem se livrar • Quando suspendero uso de imunossupressores?
do uso de cortícosteroides. Até o presente, não se tem a resposta.
As drogas ímunomoduladoras atualmente representam op­
ções para o tratamento a longo prazo em casos selecionados de • Tracolímus
DC. A 6-mercaptopurina (6-MP) e a azatioprina (AZA) po­ Embora o tracolimus tenha um mecanismo de ação seme­
dem ser usadas em pacientes que se tornaram dependentes de lhante ao da ciclosporina, sua absorção VO é boa, mesmo na
corticosteroides e refratários ao tratamento com estes compos­ DC do intestino delgado. Alguns estudos demonstraram fe­
tos ou com aminossalicílatos. De modo similar, pacientes com chamento de fístulas em número pequeno de pacientes. As
DC nos quais os corticosteroides não podem ser descontinuados doses preconizadas são de 0,15 a 0,31 mg/kg/dia; entretanto,
ou que apresentam doença perianal ou fístulas persistentes, po­ os doentes recebiam, concomitantemente, AZA ou 6-MP por
dem se beneficiar do uso destes ímunomoduladores. 22 semanas antes de esta droga ser n
i terrompida. Em crianças,
As doses preconizadas são de 1 a 1,5 mg/kgldia de 6-MP e 0,5 mg!kg/dia.
de 1,5 a 2 mg/kg/dia de AZA (Quadro 32.8). Entre os efeitos
adversos relacionados com estes fármacos, cita-se a supressão • Mofetila micofeno/ato
da medula óssea, particularmente neutropenia e plaquetopenia, O mofetila micofenolato foi indicado para pacientes que
disfunção hepática e pancreatite, que respondem bem à retirada não toleraram AZA e 6-MP. Esta droga inibe a síntese de pu­
da droga. Recomenda-se controle periódico com hemograma rinas nos linfócitos T e B. Parece agir mais rapidamente que a
e provas de função hepática pelo menos quatro vezes ao ano. AZA e a 6-MP. A dose de 2 g/dia, com poucos efeitos colaterais,
Estas drogas têm se mostrado seguras em crianças e adultos e foi indicada. Como é usada em transplantes, doenças imuno­
existe evidência crescente de sua segurança na gestação. proliferativas têm sido descritas em alguns pacientes.
Capítulo 32 I Doença de Crohn 367

----
-- T------ BIOLÓGICOS
Quadro 32.8 Medicamentos utilizados no tratamento da doença de INFLIXIMABE
Crohn, disponíveis no mercado brasileiro Remicade'IP: frascos de 100 mg, EV
Indução 5 mg/kg peso: zero, 15 dias e 30 dias
Parte I Manutenção: 5 mg/kg a cada 8 semanas
CO TICOIDES ADALIMUMABE
PREDNISONA Humira®: ampolas de 40 mg, SC
Meticorten"", Prednisona"": comprimidos de S e 20 mg Indução: 160 mg semana 1; 80 mg semana 2, SC
Dose inicial: 40-60 mg/dia, VO, até remissão; diminuir gradativamente até Manutenção: 1 ampola de 40 mg em semanas alternadas, SC
exclusão
VO =Via oral; EV =Via endovenosa; SC = Subcutânea.
Dose de manutenção: não é indicada para manutenção
*Alguns autores recomendam dose de manutenção semelhante à inicial.
BUDESONIDA
Entocort®: comprimidos de 3 mg; frasco para enema
Dose inicial: 9 mg em dose única matinal, VO, por 8 semanas
Dose de manutenção: não é indicada para manutenção
• Antimicrobianos (Quadro 32.8, Parte li)
Enema: comprim idos dispersíveis de 2,3 mg em 1 1 S ml de solução;
Os antimicrobianos são efetivos em algumas situações, par­
1 frasco/dia, 7 a 14 dias
ticularmente na doença perianal. São de algum benefício na
HIDROCORTISONA
Succinato sódico: Cortizofl" e Solu-CorteF ampolas de 1 00 e 500 mg; uso EV
doença do ni testino delgado, mas de uso principal na doen­
ça dos cólons. Alteram a flora intestinal e diminuem a esti­
Succinato: Flebocorticf®: frasco-ampolas de 1 00, 300 e 500 mg;
mulação antigênica ao sistema imune da mucosa do intestino,
Hidrocortizona Cortisonaf® frasco-ampolas de 100 e 500 mg; uso EV
sendo usados como tratamento primário ou de infecções in­
AMINOSSAL/CILATOS tercorrentes.
SU LFASALAZI NA O metronidazol mostra-se efetivo no tratamento da doen­
Azulfim® e Salazoprim®: comprimidos de 500 mg ça fistulosa perianal, provavelmente por ser um potente agente
Dose inicial: 2-4 g/dia, VO, até remissão antianaerobiose por afetar a capacidade dos neutrófilos para mi­
Dose de manutenção: 1-2 g/dia, VO, tempo prolongado* grar aos locais da inflamação. A dose utilizada é de 10 a 15 mg/
MESALAZINA (5-ASA: ÁCIDO 5-AMINOSSALICrLICO) kg/dia (máximo de 1,5 g/dia). O tratamento prolongado (4 a
Asa/ir®: comprimidos de 400 mg 6 meses) acarreta risco de neuropatia periférica, especialmen­
Supositórios: 0,5 g, 3 vezes ao dia, por 14 a 21 dias te nos pacientes recebendo mais que 10 mg/kgldia. Essa droga
MesacoJ®: comprimidos de 400 e 800 mg não é efetiva na ileíte da DC, isolada. Efeitos colaterais: náuseas,
Dose inicial: 1,6 g/dia, VO, até remissão gosto metálico e risco de neuropatia periférica. O paciente deve
Dose de manutenção: 800 mg/dia, VO, tempo prolongado* evitar o uso de álcool.
Enema de retenção: 3 g/dia, 14 dias O ciprofloxacino tem sido apontado como opção terapêutica
Supositórios: 0,5 g, 3 vezes ao dia, por 14 a 21 dias para pacientes adultos intolerantes ao metronidazol.
Pentasa®: comprimidos de 500 mg Lembrar que o metronidazol, como o ciprofloxacino, exer­
Dose inicial: 3-4 g/dia, VO, até remissão ce efeito sobre a flora intestinal, mas ambos têm propriedades
Dose de manutenção: 1,5-2 g/dia, VO, tempo prolongado* imunomoduladoras.
Sachê: 1 e 2 g, inicial 3-4 g; manutenção 1,5-2 g/dia
Supositórios: 0,5 g, 3 vezes ao dia, por 14 a 21 dias • Antibióticos
Enema de retenção: 1 ao dia, 14 dias Há risco aumentado para colite associada a C. difficile quan­
do se usam antibióticos, concluindo-se que pacientes com surto
Parte 11 de diarreia devem ser checados para este e outros patógenos.
IMUNOSSUPRESSO ES
AZATIOPRINA • Terapia biológica
lmuran"": comprimidos de 50 mg Com a introdução da terapia biológica no armamentário
Dose: 2 mg/kg/dia, VO, por tempo prolongado do tratamento da DC, principalmente nas suas formas graves,
houve grande empolgação, mas deve-se ponderar, com muito
6-MERCAPTOPURINA
cuidado, a sua indicação, pois a ocorrência de sérios efeitos ad­
Mercaptina'®, Puri-Nethof®: comprimidos de 50 mg
versos pode aumentar o risco do tratamento, apesar do benefí­
Dose: 1,5 mg/kg/dia, VO
cio que possa ser alcançado. Portanto, algumas perguntas são
METOTREXATE
inevitáveis: em quais pacientes devemos usar a terapia biológica
Methotrexate®, Metotrexate® e Motrex®: comprimidos de 2,5 mg
na DC? Quando devemos utilizar estes medicamentos? Quando
Dose: 25 a 50 mg/semana, VO, 12 semanas
não podemos utilizá-los? Por quanto tempo?
ANTIMICROBIANOS
METRONIDAZOL • lnfliximabe (anti-TNF-a)
FlagyJ®, MetronidazoJ® e Metronix®: comprimidos de 250 e 400mg; Infliximabe (Remicade®) é um anticorpo monoclonal qui­
solução injetável de 500 mg mérico antifator de necrose tumoral. É geneticamente produzi­
Dose inicial: 1,2 g/dia, VO, em 3 tomadas, até remissão do através de uma linhagem celular recombinante e na qual as
CIPROFLOXACINO regiões variáveis de ligações do anticorpo monoclonal murino
Ciflox®, Cipro�&, Procin"", Quinof/ox®: comprimidos de 250 e 500 mg específico para o fator de necrose tumoral humano são ligadas
Prof/ox�&·: comprimidos de 250, 500 e 750 mg às regiões constantes da imunoglobulina humana da subclasse
Dose inicial: 500-750 mg/dia, VO; tempo? IgG1k. Este tipo de construção reduz a possibilidade de uma
368 Capítulo 32 I Doença de Crohn

reação imunológica à imunoglobulina inteiramente murina.. A eficácia do ADA foi semelhante com, ou sem, o uso de
O infliximabe é capaz de neutralizar o TNF-a e não há dúvi­ imunossupressores associados; provavelmente, o uso exclu­
sivo de ADA seja mais conveniente, na intenção de reduzir
efeitos adversos. Destes, a longo prazo, deve-se estar atento às
da de que exerce atividade anti-inflamatória e induz apoptose
de células T ativas. Três polimorfismos nos genes da apoptose
potencialmente influenciam a resposta ao infliximabe em pa­ infecções, principalmente nos pacientes em uso concomitante
cientes com DC luminal ou fistuizante.
l de m
i unossupressores ou que tenham necessidade de corti­
A resposta ao infliximabe pode ser determinada por con­ costeroides.
dições fisiológicas e/ou genéticas. Os genes do polimorfismo
NOD2 não predizem a resposta do tratamento anti-TNF-a. • Certolizumabe-pegol
Parece que a dose de manutenção a cada 8 semanas é supe­ É outro anti-TNF humanizado e peguilado, de adminstração
rior a 12 semanas. Os dados sugerem que os efeitos do trata­ subcutânea, mas ainda não disponível no Brasil.
mento com infliximabe em crianças são melhores do que para
adultos, tanto na indução da remissão como para o tratamento
• Nata/izumabe
de manutenção. É droga anti-integrina-alfa 4, que inibe a migração leucoci­
Retardo de crescimento é uma complicação comum na DC tária através do endotélio vascular, reduzindo o processo infla­
da criança e do adolescente, sendo seu restabelecimento um matório. É usada no tratamento da esclerose múltipla. Também
marcador de sucesso terapêutico bem aceito. Até agora, há evi­ não está disponível no Brasil.
dências de que o tratamento com infliximabe melhora o cres­
cimento em crianças com retardo causado pela DC.
• Talidomida
Por outro lado, relato de casos assinalam melhora das mani­ A talidomida parece ser potente inibidor do fator de necro­
festações extraintestinais da DC não responsivas às terapêuticas se tumoral-alfa (TNF-alfa). Dois trabalhos mostraram uso de
convencionais após o uso de infliximabe. 50 a 100 mg e 200 a 300 mg, em dose única noturna, com boa
Recentemente, foram relatados casos do desenvolvimento resposta no fechamento de fístulas (64 e 70%, respectivamen­
de linfoma hepatoesplênico-cé l ulas T, que é uma forma rara te). Em crianças, 1,5 a 2 mg/kg/dia. Os efeitos colaterais são
teratogenicidade, neuropatia periférica, dermatite, constipação
de linfoma não Hodgkin, ocorrendo mais frequentemente em
adolescentes e adultos jovens masculinos. Os pacientes estavam intestinal e sedação excessiva.
também recebendo azatioprina ou 6-mercaptopurina. Perma­ • Indicaçõesgerais dos agentes anti-TNF
nece a dúvida sobre o desenvolvimento da neoplasia estar re­
lacionado com os imunossupressores ou o infliximabe.
Tanto o infliximabe (IFX) como o adalimumabe (ADA)
foram mais tardiamente utilizados em Gastrenterologia, so­
Outros eventos adversos incluem infecções oportunistas,
mente usados após experiência acumulada na Reumatologia,
reativação de tuberculose e ocorrência de doenças malignas.
principalmente no tratamento da artrite reumatoide (AR), que
foi a doença desbravadora que permitiu utilizar estes medi­
.,..lmunogeniádade
camentos na prática clínica diária. Algumas indicações, den­
Reações adversas podem ocorrer à infusão da droga, mesmo
tre elas a AR e a própria DC, são atualmente consagradas,
com uso de pré-medicação (antipiréticos, anti-histamínicos ou
e constam em bula. Entretanto, há outras indicações, como
corticoides), provavelmente pelo desenvolvimento de autoanti­
uveíte, iridociclite, hidrosadenite supurativa e artrite reuma­
corpos ao infliximabe, chamados de anticorpos antiquiméricos
toide juvenil, que ainda não estão liberadas para uso pelos
humanos. Sua presença está associada ao aumento do número órgãos reguladores, apesar de significativas evidências cien­
de reações a infusões, reações de hipersensibilidade retardada
tíficas comprovando a eficácia destes agentes. Estas indica­
e curta duração da resposta ao tratamento. A imunomodula­ ções, denominadas off-label, por não constarem em bula oficial
ção funciona sinergicamente com o infliximabe e parece dimi­ dos medicamentos, tornam o acesso ao IFX e ADA difícil no
nuir o risco da formação de anticorpos e o risco para reações cenário público e privado de saúde, pois nem as Secretarias
de infusão. Pacientes menores de 14 anos tendem a ter menos de Saúde, nem os convênios médicos autorizam sua libera­
anticorpos. Se ocorreu reação à infusão em uma sessão, pré­ ção para este fim. As principais indicações, que constam em
medicação pode prevenir reação subsequente. bula, dos agentes anti-TNF são: artrite reumatoide, doença de
Crohn (crianças e adultos), espondilite ancilosante, psoríase
• Adalimumabe (anti-TNF-a) e artrite psoriásica.
Adalimumabe (Humira®) é um anticorpo monoclonal, total­
mente humano, antagonista do fator de necrose tumoral (ani­ t • Indicações dos bológicos
i na doença de Crohn
TNF), liberado para uso na DC de adultos. Mostrou-se mais Em Gastrenterologia, é no campo da DC que os primei­
efetivo do que o placebo na indução da remissão em pacientes ros conhecimentos sobre a terapia biológica foram aplicados,
que não haviam recebido previamente anti-TNF, bem como inicialmente com o IFX e posteriormente com o ADA. Para
nos que deixaram de responder, ou mostraram intolerância melhor se entenderem as indicações mais consagradas, uma
ao infliximabe. leitura detalhada das bulas destes medicamentos evidencia es­
Esquema de indução: 160 mg na semana zero, 80 mg na tes dados.
semana dois. No Brasil, o IFX foi liberado para uso na DC no ano 2000,
Esquema de indução: 40 mg a cada 2 semanas, a partir da inicialmente para o tratamento das formas moderadas a graves
semana quatro. da doença, que não respondiam à terapia convencional com
Os dados sobre a formação de anicorpos
t contra o adalimu­ corticoides e/ou imunossupressores. Os estudos definiram
mabe (ADA) na artrite reumatoide registraram 5,5% de positi­ doença moderada a grave baseando-se no CDAI (Crohn's di­
vidade, mas na DC estes dados ainda são limitados. Anticorpos sease activity index) entre 220 e 450. Inicialmente, o IFX foi uti­
monoclonais totalmente humanos tendem a ser menos imu­ lizado para a forma luminal da DC, entretanto, outros estudos
nogênicos do que os quiméricos. evidenciaram a forma fistulizante como outra grande indicação
Capítulo 32 I Doença de Crohn 369

• Estratégia de tratamento descendente (top-down)


Grave Esta estratégia é baseada no uso precoce de terapia biológica
em pacientes selecionados, que teriam critérios de agressivi­
Biológicos dade da DC, conforme será visto a seguir. Nestes casos, o uso
AZA/6-MP
precoce de biológicos, aventado por alguns autores, pode tra­
zer benefícios com um tratamento preventivo de complicações
Moderada
Corticoides da DC, diminuindo-se internamentos e cirurgias. Trata-se de
sistêmicos utilização de IFX ou ADA logo após o diagnóstico da DC, sem
a necessidade prévia de intratabilidade ou intolerância ao tra­
Budesonida -Antibióticos - tamento convencional com antibióticos, corticoides, derivados
5-ASA Leve do 5-ASA ou irnunossupressores. Esta estratégia deixa a cirurgia
como alternativa para os casos mais graves, em fases mais tar­
dias da DC ou na falha da terapia biológica. Um detalhe desta
Figura 32.2 Estratégia descendente de tratamento das Dll (top-down). estratégia de tratamento, surgida nos países baixos (Bélgica e
Holanda), encontra-se ilustrado na Figura 32.3.

• Critérios de agressividade
desta terapia. Mais recentemente, passou-se a se utilizar o IFX Alguns estudos procuraram estudar quais os fatores que in­
no manejo da DC na faixa etária pediátrica, com bons resulta­ dicariam doença com pior prognóstico e maior possibilidade
dos. Ultimamente, fala-se na utilização do IFX após ressecções de complicações na DC. Em um destes trabalhos, procurou-se
intestinais, para prevenção da recorrência. Entretanto, estudos estudar quais os fatores de risco para cirurgia precoce nestes
com maior amostragem devem ser publicados antes de se acei­ pacientes. Após a análise de 345 pacientes, Sands et al. (2003)
tar esta como uma indicação precisa do tratamento. concluíram que tabagismo, doença de intestino delgado sem
O ADA foi liberado para uso na DC, no Brasil, no ano de acometimento do cólon, náuseas, vômito e dor abdominal à
2007, com seus estudos focando, da mesma forma que para o
IFX, as formas moderadas a graves da doença, seja de forma
luminal seja fi.stulizante. Neste mesmo ano, provou-se a eficá­
cia do ADA em pacientes que apresentaram perda de resposta Precoce
ou n
i tolerância ao uso do IFX. Portanto, o ADA tem indicação Biológicos
precisa tanto em pacientes virgens de outros agentes anti-TNF,
como na falha ao tratamento prévio com IFX.

• Estratégia de tratamento ascendente (step-up) AZA/6-MP


Trata-se de uma abordagem mais conservadora, sendo a ma­
neira mais frequentemente utilizada no uso dos agentes bioló­
gicos, atualmente. Consiste na utilização sequencial de classes Cirurgia
de medicamentos, dando-se tempo para que sua ação possa ser Tardia
comprovada. É iniciada com a budesonida oral, derivados do
5-ASA e antibióticos, e, caso os pacientes venham a apresentar
maior gravidade na evolução do tratamento, passa-se a utilizar Figura 32.3 Estratégia ascendente de tratamento das Dll (step-up).
imunossupressores e corticoides sistêmicos. Reserva-se, com
esta forma de terapia, os agentes biológicos para um último
momento, na falha de ação dos medicamentos previamente uti­ ----
-- T ------
lizados, ou na presença de complicações apesar do tratamento Quadro 32.9 Drogas disponíveis no Brasil recomendadas para
realizado por período de cerca de 6 meses. É a maneira mais doença de Crohn, em relação à forma da enfermidade
exaustivamente estudada, principalmente no início da experi­
ência com os biológicos nas DII. Leve Sulfasalazina ou outro 5-ASA para doença clônica
Entretanto, sabe-se atualmente que cerca de 20 a 30% dos Metronidazol ou ciprofloxacino para doença perianal
Budenosida para doença ileal ou do cólon direito
pacientes são dependentes de corticoides, e uma porcentagem
lmunossupressores (AZA ou 6-MP, ou MTX)
semelhante não tolera os irnunossupressores ou não responde Moderada Corticoides orais
a eles. Nestes casos, uma demora no tratamento pode acarretar Anti-TNF (infliximabe ou adalimumabe)
uma evolução da DC para complicações, e um pior prognóstico Grave Corticoides orais ou EV
em determinados casos pode ser observado. Para se evitar este MTX subcutâneo ou IM
tipo de problema, recentemente aventou-se na literatura a pos­ Anti-TNF
sibilidade de se realizar uma conduta ascendente mais rápida, Refratária Anti-TNF (infliximabe ou adalimumabe)
o step-up acelerado. Esta estratégia intermediária consiste em Quiescente lmunossupressores (AZA ou 6-MP ou MTX)
realizar a estratégia ascendente com menor período de tempo Perianal Antibióticos orais (mitronidazol e/ou ciprofloxacino)
lmunossupressores (AZA ou 6-MP)
para se observar a resposta do paciente aos medicamentos em­ Anti-TNF (infliximabe ou adalimumabe)
pregados. Um período de cerca de 3 meses é citado, como mais
S·ASA = Ácido S·aminossalicílico; 6·MP = 6·mercaptopurina; AZA = Azatioprina; BUD
adequado para determinados pacientes. Os detalhes do step-up = Budesonida; MTX = Metotrexato.
são ilustrados na Figura 32.2.
370 Capítulo 32 I Doença de Crohn

apresentação nicial,
i aumento na contagem de neutrófilos, e • Comentários dos autores do capítulo
uso de corticoides nos primeiros 6 meses do diagnóstico foram O estudo top-down versus step-up foi realmente um estudo
fatores com influência significativa em operações abdominais revolucionário no que diz respeito a indicações mais precoces
precoces. Em outro estudo, Lakatos et al. (2009) acrescentam a de utilização de terapia biológica. Entretanto, este estudo apre­
estes a doença perianal e o uso precoce de imunossupressores senta algumas limitações importantes. Primeiramente, não foi
e biológicos. Outros trabalhos procuraram identificar pacien­ um estudo duplo-cego, o que pode trazer um viés na análise
tes que se beneficiariam da estratégia descendente (top-down) das variáveis. Além disso, a terapia biológica empregada foi
na DC pela maior agressividade de doença. Nestes, ficou claro somente o regime de indução de IFX (0, 2 e 6 semanas), não
que pacientes com diagnóstico abaixo de 40 anos, com doen­ seguido de manutenção da remissão a cada 8 semanas. Isso pode
ça fistulizante, tabagistas, com perda de mais de 5 kg antes do ter colaborado para que as taxas de remissão se equilibrassem
diagnóstico e com uso de corticoides como primeira forma de após as 52 semanas. Ressalta-se que, mesmo assim, os dados de
tratamento apresentam reais possibilidades de benefício com cicatrização da mucosa mostram superioridade m i portante na
formas mais agressivas de tratamento. Portanto, pacientes com terapia biológica mais precoce. Se a estratégia descendente não
estas características, ilustradas nos trabalhos descritos, passa­ pode ser recomendada para todos os pacientes, este trabalho
riam a ter doença com curso mais grave e poderiam se bene­ afirma que há definitivamente lugar para este tipo de terapia
ficiar de indicações de terapia biológica mais precoce, com o em alguns pacientes com DC.
benefício de redução das taxas de complicações da DC e suas
consequências. As principais características de agressividade • Contraindicações da terapia biológica nas 011
da DC encontram-se resumidas no Quadro 32.10. Nem todos os potenciais candidatos à utilização de agentes
biológicos nas DII podem ser beneficiados com estes medica­
• Resultados: step-up versus top-down mentos, e isso vale tanto para DC quanto para RCUI, até mes­
Apenas um trabalho randornizado comparando as duas es­ mo para outras indicações de agentes anti-TNF fora do sistema
tratégias de tratamento da DC, ascendente versus descendente, digestório. A segurança nos estudos de fase II e III, somada à
foi publicado na literatura. Trata-se do famoso estudo de top­ experiência principalmente da Reumatologia, além dos acha­
down publicado pelo professor Geert D'Haens, da Bélgica, e seu dospós-marketing destas drogas, mostra que algumas situações
grupo. Este estudo foi publicado no Lancet, em 2008, e incluiu tornam impossível a utilização de IFX e ADA com segurança.
133 pacientes oriundos de 18 centros de referência em DII da Como os agentes anti-TNF são potentes imunossupressores,
Bélgica, Holanda e Alemanha. O desenho deste trabalho divi­ nenhuma infecção deve estar vigente no início do tratamento.
diu os pacientes em dois grupos: um que recebeu m i unossu­ Portanto, nf
i ecções ativas, em qualquer sistema do organismo,
pressão combinada de azatioprina e IFX como primeira terapia tornam-se contraindicações importantes e devem ser comple­
(top-down) e outro com tratamento convencional, iniciando-se tamente erradicadas antes da exposição do paciente aos bioló­
com corticoides, passando posteriormente para azatioprina e gicos. Neste contexto, entra importante alerta: observaram-se
utilizando o IFX mais tardiamente (step-up). O principal ob­ índices significativos de reativação de tuberculose durante o
jetivo foi analisar taxas de remissão sem corticoides entre os tratamento biológico em alguns casos. A infecção prévia por
dois grupos. Ao final de 26 semanas, houve maiores taxas de tuberculose e/ou uma exposição a contatos recentes torna a
remissão sem corticoides nos pacientes com imunossupres­ investigação prévia com detalhada anarnnese, PPD e radio­
são combinada precoce (top-down) em relação ao outro grupo grafia de tórax essencial para se afastar qualquer possibilidade
(60% versus 35,9%; p 0,006). Esta diferença diminuiu um
=
de problemas, antes do tratamento. Pacientes com PPD reator,
pouco após 52 semanas de seguimento (61,5% versus 42,2%; p acima de 10 mm (ou até 5 mm em algumas situações), tornam­
= 0,028). Entretanto, após 2 anos de seguimento (104 semanas), se impossibilitados de serem tratados por biológicos, sem um
não houve diferença estatística nas taxas de remissão entre os tratamento específico prévio de erradicação da tuberculose. O
dois grupos. Um importante dado deste trabalho, que foi um Quadro 32.11 ilustra as principais contraindicações da utiliza­
dos objetivos secundários do estudo, mostrou que ao final de ção de inibidores do TNF-alfa encontradas na prática clínica
2 anos, uma maior taxa de cicatrização da mucosa no grupo diária e na literatura.
que seguiu a estratégia top-down foi encontrada em relação
ao grupo de tratamento convencional (73,1% versus 30,4%;
p 0,0028).
= ----
--
----
-- T·
Quadro 32.11 Principais contraindicações dos agentes anti-TNF
no cenário da DC e da RCUI
------T·------
PRINCIPAIS CONTRAINDICAÇÕES DA TERAPIA BIOLÓGICA NAS DII:
Quadro 32.10 Critérios de pior prognóstico (maior agressividade)
1, Infecções ativas de qualquer natureza, ligadas ou não à DC ou RCUI
da DC, que definem potenciais candidatos à terapia descendente
2. Abscessos abdominais ou perianais ligados à DC
(top-down) no manejo da DC
3. Tuberculose ativa, recente ou prévia, com PPD reator ou radiografia de
tórax com achados sugestivos
Critérios de maior agressividade (pior prognóstico) na DC:
4. Neurite óptica
1 . Idade menor que 40 anos ao diagnóstico
S. Esclerose múltipla
2. DC na forma fistulizante (perianal ou abdominal)
6. Neuropatia perif érica com bloqueio de condução
3. Tabagismo
7. Insuficiência cardíaca graus 111 e IV pelos critérios da American Heart
4. Ulcerações profundas no cólon Association
S. Grande extensão da doença (comprimento de intestino acometido) 8. Alergia ou hipersensibilidade aos componentes do IFX ou ADA
6. Uso de corticoides nas primeiras crises 9. Linfoma ou outras neoplasias previamente tratadas (contraindicação
7. Emagrecimento maior que S kg antes do diagnóstico da DC relativa)
Capítu/o32 I Doença deCrohn 371

• Comentários dos autores do capftulo pares da mesma faixa etária, seja na escola. seja no trabalho,
As contraindicações dos agentes biológicos devem ser sem­ enfim, na sociedade.
pre exaustivamente investigadas, em anamnese detalhada e exa­ O uso de ansiolíticos e antidepressivos fica reservado para
mes complementares. Os pacientes e familiares devem ser aler­ situações em que a avaliação mostre necessidade. Cuidado com
tados de que nem todos podem utilizar estas medicações com os efeitos anticolinérgicos dos tricíclicos, pois podem favore­
segurança, para que uma imensa decepção não atrapalhe o se­ cer megacólon tóxico. Psicoterapias são n i dicadas conforme
guimento destes doentes após este momento. A segurança do o caso clínico.
tratamento depende de uma pesquisa minuciosa da lista de con­
traindicações. Especificamente, como exemplo, no caso de neo­
plasias previamente tratadas, apesar do receio da utilização dos
• Manutenção da remissão na DC
biológicos, os oncologistas recomendam o uso deste tratamento � Sulfas alazina.Estudos multicêntricos demonstraram que
se a quimioterapia estiver finalizada, em período posterior ao esta droga não é eficaz na manutenção da DC;
tratamento do câncer. Recomendam-se bom-senso e análise de "' 5-ASA. Metanálise demonstrou que houve redução de re­
cada caso para definições sobre este controverso tema. corrência em 50% dos pacientes com doença ileal ou ileocolô­
Atenção para as vacinas em imunodeprimidos.* nica. Não se sabe se doses altas (4 g) podem ser mais efetivas
"' Contraindicadas. Vacinas vivas (tríplice, sarampo, ca­ na manutenção da remissão ou se facilitariam a retirada dos
xumba, rubéola, varicela, sabin, febre amarela) para pacientes corticoides;
imunodeprirnidos e em uso de corticoides em dose equivalente .,. Cortícosteroides. As drogas-padrão não são usadas para
a 2 mg/kg/dia de prednisona durante 2 semanas ou mais (ou manutenção, mas são de ajuda as novas, de ação tópica, sem
20 mgldia para crianças com > 10 kg). Consideram-se contrain­ maiores efeitos colaterais. Budesonida não foi eficaz para man­
dicadas as vacinas vivas durante 1 a 3 meses após o término ter a remissão. Entretanto, pulsoterapia com 9 mg em dose úni­
da corticoterapia ca matinal é preconizada nas exacerbações da DC;
"' Vacinas indicadas. Salk, influenza, pneumocócica (para "' lmunossupressores. AZA/6-MP são as únicas drogas
crianças com 2 anos ou mais, com asplenia anatômica ou fun­ que induzem remissão clínica, embora não haja conhecimen­
cional, hemoglobinopatias, imunodeficiência congênita ou ad­ to de quantotempo devam e possam ser administradas, porém
quirida, pessoas HIV+). 6 meses seria o tempo mínimo. Relatou-se que, após 4 anos
de uso, pode desaparecer sua tendência de manter a DC em
remissão;
• Tratamento de problemas psicoemocionais "' lmunomoduladores. Há grande esperança de que drogas
Os aspectos psicológicos representam um componente im­ imunomoduladoras mudem o tratamento da DC a longo prazo.
portante nas DII, mas não são a causa das doenças. Vários es­ Os resultados com infliximabe têm sido bons e promissores,
tudos indicam que o estresse exerce efeito adverso diretamente podendo o benefício ser alcançado até por 1 ano. A droga é bem
sobre o trato gastrointestinal, alterando os mediadores inflama­ tolerada e retratamento é possível, mesmo que não se saiba o
tórios e neurotransmissores. Para se saber como o paciente está potencial de desenvolvimento de linfomas.
se sentindo em relação à doença, é preciso incorporar informa­ O desenvolvimento defarmacogenômicos será a melhor op­
ções psicológicas e não s6 testes laboratoriais que determinam ção, nofuturo!
a gravidade da afecção. � importante se saber quais os fatores
positivos e negativos que influenciam a adaptação à doença
crônica, incluindo-se aqui o suporte social, a autoconfiança e • OUTROS TRATAMENTOS
a presença de comorbidade psiquiátrica. Questionários relacio­
nados com o conhecimento da qualidade de vida do paciente
ajudam o clínico a identificar áreas problemáticas. Com conhe­
• Oxigenoterapia hiperbárica
cimento holístico, firma-se mais a relação médico-paciente e A oxigenoterapia hiperbárica é a inalação de oxigênio medi­
há melhora no estado de saúde do doente. cinal com pressão acima da ambiente, necessitando, para isso,
Como qualquer doença crônica, a DC tem significativo im­ de uma câmara denominada hiperbárica O aumento do oxi­
pacto sobre o paciente e sua família Embora haja evidências gênio no meio é letal para as bactérias anaeróbicas. Também
de início da sintomatologia ou recorrência sob situações de provoca melhora na atividade bactericida dos leucócitos e oti­
estresse, percebem-se mais problemas emocionais em doentes miza proliferação de fibroblastos.
que apresentam doença anorretoperineaL O desconforto, a dor Na DC é indicada quando há fistulas, lesões refratárias e in­
e, principalmente, a incontinência de gases e/ou fezes causam fecções necrosantes dos tecidos moles, após drenagem, se neces­
embaraços sociais, levando a sequelas psicossociais que incluem sária. Seu alto custo faz com que seja empregada para pequeno
perda da autoestima, declínio no desempenho escolar e profis­ número de pacientes com doença grave refratária.
sional, problemas sexuais e depressão.
Na adolescência, fase caracterizada pela necessidade de au­
toafirmação e desligamento de vínculos familiares, os pacientes
• Ovos de helmintos
entram em conflito com os pais, pois se recusam, muitas vezes, a Uma proposta terapêutíca do uso de ovos de helmintos e do
seguir regimes alimentares e uso ininterrupto de medicações. próprio parasito tem base na hipótese da higiene, já citada O
O médico atendente deve estar preparado para dar suporte Trichuris suis é helminto parasito de sufnos, não acarreta qual­
emocional ao paciente e à família. tanto durante as crises, como quer lesão no homem, mas consegue resposta imune do orga­
nas fases de quiescência. Deve fazer o possível para melhorar a nismo. Summerset ai. (2005), em 29 casos de DC, referem que
qualidade de vida dos doentes para conviverem bem com seus 79% apresentaram melhora clínica e 72%, remissão completa
Não houve efeitos colaterais ou complicações, concluindo-se
�Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE), Sociedade Brasi­ por tratamento efetivo e seguro. Outros estudos são necessários
leira de Pediatria e Manual de Normas de Vacinação, Ministério da Saúde. para inclusão deste tratamento na prática.
372 Capítulo 32 I Doença de Crohn


A operação ideal para cada paciente deve ser indicada após
TRATAMENTO CIRÚRGICO minuciosa análise individual de cada caso. A morbidade dos
DA DOENÇA DE CROHN procedimentos, assim como a possibilidade de recorrência da
doença variam de acordo com inúmeros fatores. Um diagnós­
Quando Crohn, Ginzburg e Oppenheimer, em 1932, n i i­ tico preciso e detalhado, associado a um conhecimento adequa­
cialmente descreveram seus 14 pacientes portadores de ente­ do do estado nutricional do paciente e das técnicas cirúrgicas
rite regional, pensava-se que tal entidade era de tratamento utilizadas, pode trazer o benefício real da cirurgia para esta
eminentemente cirúrgico. Na época, prevalecia o conceito de complexa entidade.
que, quanto maiores as margens cirúrgicas livres de inflamação,
maior o sucesso do tratamento. Era comum a presença de pa­
tologistas nas salas operatórias, para um estudo de congelação,
• Indicações cirúrgicas
que mostrava se as margens apresentavam inflamação micros­ Os objetivos do tratamento cirúrgico da DC são variados.
cópica. As operações iam se ampliando até que tal inflamação Alívio dos sintomas, correção de complicações, prevenção do
não mais aparecesse nas peças ressecadas. desenvolvimento de carcinoma, melhora da qualidade de vida
Atualmente, após quase 80 anos de estudos sobre a DC, e retirada de medicamentos com toxicidade conhecida (como
muitos conceitos mudaram. A ocorrência da síndrome do in­ os corticoides, por exemplo) são alguns deles. Sabe-se que a
testino curto, de dificuldade na manutenção do aspecto nutri­ recorrência da doença é frequente e que pode ocorrer em qual­
cional dos pacientes, aliadas às altas taxas de recorrência após quer segmento do sistema digestório. Por este motivo, devem-se
o tratamento cirúrgico dos portadores de DC, fizeram os cirur­ sempre analisar as vantagens e desvantagens da cirurgia antes
giões "pisarem no freio", sendo cada vez mais econômicos na de optar por procedimentos invasivos, de pequeno ou grande
extensão dos tecidos ressecados. Hoje é comum a realização porte.
de anastomoses sobre tecidos nitidamente inflamados, e a ci­ As indicações de tratamento cirúrgico na DC variam em
rurgia para a DC ficou quase que reservada às complicações, grau de dificuldade na análise de cada caso. Quadros graves da
como se verá adiante. doença geralmente são evidentes, com sintomas exuberantes,
As formas de apresentação da DC são consideravelmente e, nestas situações, a decisão pela cirurgia é facilitada. Quadros
complexas. Muitas são as regiões anatômicas do sistema di­ mais obscuros, com sintomatologia mais discreta, envolvendo
gestório que podem estar acometidas, em diversos momentos cronicidade, em geral são mais desafiadores para o cirurgião.
de evolução da doença. Há também diferentes características As indicações cirúrgicas nos pacientes portadores de DC de­
da inflamação: algumas mais leves (acomeimento
t luminal não pendem basicamente de duas situações: intratabilidade clínica
complicado) e outras mais graves (estenoses por fibrose conse­ ou complicações da doença. As complicações, por sua vez, po­
quente a inflamações de repetição, assim como fístulas e per­ dem ser divididas em agudas ou crônicas (Quadro 32.12).
furações). Por este motivo, não é fácil definirem-se condutas
cirúrgicas de forma simples. A variada gama de sintomas faz • Biológicos e drurgia na DC
com que diferentes opções de tratamento cirúrgico sejam cada
vez mais estudadas. Não há dúvidas de que a maior novidade no tratamento da
Apesar dos avanços na terapia clínica (medicamentos bioló­ DC nos ú l timos 10 anos foi a introdução da terapia biológica
gicos) e nas formas menos invasivas de tratamento da DC (en­ na prática clínica diária. Inicialmente, foi liberado para uso
doscópicas e guiadas por imagem), a cirurgia ainda desempenha no Brasil o infliximabe (IFX), em 2001. Trata-se de um anti­
papel fundamental no tratamento destes pacientes. Estima-se corpo monodonal quimérico, que inibe o TNF-alfa, causando
que cerca de 70 a 90% dos pacientes necessitarão de alguma apoptose das células inflamatórias, reduzindo-se desta forma
forma de tratamento cirúrgico no decorrer de sua vida, que a atividade da doença. Sua administração é realizada de forma
varia desde simples drenagens de abscessos anais até complexas endovenosa, sob monitoramento, na dose de 5 mg/kg nas se­
ressecções de segmentos intestinais. manas O, 2 e 6 (indução) com manutenção programada a cada
Durante anos, as taxas de ressecções intestinais na DC não ti­ 8 semanas. Já em 2007, foi liberada no Brasil a utilização do
veram sua ncidência
i alterada, provavelmente por não existirem adalimumabe (ADA), um agente anti-TNF totalmente huma­
medicações que mudassem a história natural da doença. Nem no, de administração subcutânea. Sua dosagem de indução é de
mesmo os imunossupressores, como a azatioprina, largamente 160 mg na semana O, 80 mg na semana 2 e 40 mg a cada duas se-
utilizados para manutenção da remissão da doença, alteraram
a necessidade de tratamento cirúrgico nestes pacientes no de­
correr dos anos. Por outro lado, há evidências cieníficas
t con­
--�---
-- T'
cretas de que a utilização dos medicamentos biológicos (prin­
----
-
--

cipalmente o IFX e o ADA) pode reduzir as taxas de operações


Quadro 32.12 1ndicações cirúrgicas na doença de Crohn
abdominais ligadas à DC ao longo do tempo. A mudança da
lntratabilidade clínica Abscessos anais
história natural da doença, com prevenção da ocorrência de Abscessos abdominais
complicações através de uma terapia mais agressiva, pode jus­ Perfuração livre
tificar esta redução. Além disso, o desenvolvimento de novas Complicações agudas da Oclusão intestinal
técnicas endoscópicas de dilatações de estenoses (em qualquer doença de Crohn Megacólon tóxico
segmento do sistema digestório) e de punções de coleções ab­ Hemorragia maciça
dominais guiadas por técnicas de imagem contribui para redu­ Fístulas internas
Fístulas enterocutâneas e colocutâneas
ção nas taxas de operações abdominais ligadas à DC. Assim, há
indicações para cirurgias tradicionais e para as menos invasivas Complicações crônicas da Manifestações extraintestínais
no tratamento da DC, como as operações por laparoscopia, as
doença de Crohn Retardo no crescimento
Neoplasia
endoscópicas e aquelas por radiologia intervencionista. -
Capítulo 32 I Doença de Crohn 373

manas para manutenção do tratamento, a partir da semana associação pode ser utilizada, com a ideia de que os biológicos
4. A eficácia destes dois agentes foi amplamente comprovada podem reduzir a intensidade da inflamação e assim facilitar al­
em estudos clínicos randomizados, controlados com placebo, gumas operações. Outros acreditam que estes dois tratamentos
com índices de remissão clínica em cerca de 1/3 dos pacientes. não podem ser misturados, sob risco de haver prejuízo ao pós­
Ambas as drogas são potentes imunossupressores, com poten­ operatório destes pacientes. Segundo o consenso europeu de
cial de ocorrência de efeitos adversos, que variam desde infec­ DC, não existe concordância sobre o tema, e ainda não foi defi­
ções simples do trato respiratório superior até situações mais nido o intervalo seguro para se usarem ou não os biológicos em
complexas, como reativação de tuberculose e desmielinização períodos próximos das operações. Não há estudos prospectivos
central ou periférica. randomizados comparando-se a utilização ou não de biológi­
Tanto o tratamento cirúrgico quanto a utilização dos me­ cos em pacientes cirúrgicos, somente estudos retrospectivos,
dicamentos biológicos convergem para o controle das formas de séries de casos. Deve-se, portanto, analisar cada paciente, e
graves da doença, situações com extensa nflamação,
i e geral­ discussões interativas entre os clínicos e cirurgiões devem de­
mente associadas a fístulas. Por este motivo, não raramente es­ terminar as vantagens de se usarem as medicações ou não nas
tas terapias acabam sendo utilizadas em um mesmo momento, situações em que os dois tratamentos sejam indicados em um
em alguns pacientes. Uma questão acabou sendo relevante nos mesmo momento.
últimos anos no tratamento da DC: será que os medicamentos Ressecção intestinal é a maior complicação e a maior fonte
biológicos, se usados simultaneamente com o tratamento ci­ de morbidade na DC pediátrica. Gupta et al. (2006) assinalam
rúrgico, por serem potentes imunossupressores, aumentariam
os índices de complicações cirúrgicas? Será que estas formas de
o risco cumulativo de cirurgia descrevendo 5,7% em 1 ano, 17%
em 5 anos e 28,4% em 10 anos após o diagnóstico, fato corro­
tratamento podem realmente ser utilizadas conjuntamente? borado pelos autores deste capítulo.
Há evidências concretas de que tanto o tratamento com Preditores positivos para cirurgia são: sexo feminino; mar­
infliximabe quanto o com adalimumabe reduzem as taxas de cadores clínicos de gravidade, incluindo pobre crescimento;
nternações
i e necessidade de cirurgia abdominal ao longo do presença de abscesso, fístula ou estenose n i testinal. Raça, etni­
tempo, se usados continuamente. Na doença perianal, a terapia cidade, localização e gravidade ao diagnóstico não são fatores
combinada traz múltiplas vantagens para os pacientes. Entre­
preditivos de resultados da cirurgia. Por outro lado, fato inte­
tanto, nas operações abdominais mais alargadas, com ressecções ressante é que a presença de granulomas, ou tratamentos com
ntestinais
i e anastomoses, na vigência do uso dos anti-TNF, a
5-ASA ou intliximabe são preditores negativos para cirurgia.
dúvida a respeito da segurança dos biológicos no pós-operatório
Amre et al. (2006), em 139 pacientes pediátricos, verifica­
persiste sendo extremamente relevante.
ram ASCA IgA positivo em 48,2%, IgG em 42,4% e ANCA em
Alguns trabalhos defendem que estas terapias podem ser
21%. Títulos elevados de ASCA aumentavam a possibilidade
utilizadas conjuntamente, sem problemas. Um estudo retros­
de complicações, mas nem sempre associadas à cirurgia. A pri­
pectivo em um grande centro europeu de tratamento de doen­
meira complicação foi observada em pacientes com ASCA IgA
ças inflamatórias intestinais analisou retrospectivamente uma
elevado ou tanto ASCA IgA ou IgG, o que também é a experi­
coorte de pacientes submetidos a ressecções intesinais.
t Houve
ência dos autores deste capítulo.
uma divisão destes indivíduos em dois grupos, um com uso
Sabe-se que cerca de 70% dos pacientes portadores de DC
a, pelo menos, uma cirurgia no decorrer de
de infliximabe previamente à cirurgia, e outro sem este tipo
serão submeidost
de tratamento. Após a análise de 313 prontuários, os auto­
suas vidas, como terapia de sua doença. As indicações emer­
res concluíram que não houve diferença significativa entre os
grupos em respeito a complicações pós-operatórias precoces genciais, como oclusão intestinal, perfuração com peritonite e
abscessos abdominais, são mais óbvias. Ocorrem em cerca de
e tardias, e, da mesma forma, não houve diferença no tempo
de internamento. Kunitake et al. (2008), do grupo de Boston ­ 20% dos casos. Entretanto, pacientes portadores de DC crôni­
EUA, analisaram retrospectivamente 413 pacientes com doen­ cos podem ter indicação de tratamento cirúrgico mais discutí­
ças inflamatórias intestinais submetidos a ressecções cirúrgicas. vel. Entre estes, citam-se intratabilidade clínica, manifestações
Destes, 188 eram portadores de DC e foram analisados quanto extraintestinais de difícil controle, distúrbios do crescimento e
ao risco de complicações pós-operatórias relacionadas com o corticodependência. Estenoses e fístulas internas identificadas
uso de infliximabe. Estes autores igualmente concluíram que em exames radiológicos tornam certa a indicação de tratamen­
a utilização pré-operatória do infliximabe não trouxe maio­ to cirúrgico em pacientes sintomáticos. Abscessos perianais
res complicações no pós-operatório. Concluíram ainda que múltiplos devem ser drenados. Fístulas complexas, incluindo
a utilização de corticoides trouxe maior prejuízo aos pacientes, as retovaginais, podem ser tratadas também de maneira cirúr­
como variável isolada. Por outro lado, um outro estudo publi­ gica em casos selecionados.
cado pelo grupo da Cleveland Clinic de Ohio, EUA, demons­ Os fatores de risco para recorrência após ressecção intestinal
tra diferentes achados. Em uma análise também retrospectiva, nos pacientes pediátricos com DC não são bem estabelecidos.
Appau et al. (2008) revisaram os dados de 389 pacientes sub­ Em pacientes com doença ileocolônica, reoperação em 5 anos
metidos a ressecções ileocólicas por DC, 60 dos quais com utili­ varia entre 25 e 60% e atinge 91% após 15 anos. A recorrência
zação pré-operatória do infliximabe. Os autores demonstraram após reanastomose colônica é menor. Um grande preditor de
que o uso da droga em período menor que 3 meses da data da recorrência de doença é o comportamento da afecção. Pacien­
operação é fator de risco e aumenta as taxas de complicações tes com doença perfurante são mais suscetíveis a nova cirurgia.
infecciosas (sepse e abscessos abdominais) e readmissões hos­ É apropriado colocar os pacientes com doença mais agressiva,
pitalares. Ainda não há trabalhos na literatura analisando estes dependendo até do fenótipo, em terapia m i unomoduladora
riscos com a utilização do adalimumabe. após cirurgia.
Pode-se concluir, por estes estudos, que não há consenso Estenoplastia foi um grande avanço no manejo cirúrgico
na literatura quanto à utilização dos biológicos neste contex­ da DC no intestino delgado proximal, pois evita ressecções e a
to, se é benéfica ou prejudicial para os pacientes em momen­ consequente síndrome do intesino t encurtado. Sua morbidade
tos próximos da ressecção cirúrgica. Alguns advogam que esta é menor que 15%.
374 Capítulo 32 I Doençade Crohn

As implicações cirúrgicas da pancolite em pacientes pediá­ Nas oclusões intestinais do leo


í terminal, a ressecção deve
tricos com colite indeterminada ou DC grave carecem de maio­ ser acompanhada de ileostomia terminal se houver dilatação de
res avaliações, mas são tão graves e difíceis de manejar como as alças proximais, e se o estado geral e nutricional dos pacientes
decorrentes de operações para RCU (pouchitis, sepse pélvica, não for o ideal. Hipoalbuminemia, uso prévio de corticoides
fístulas etc.). e imunossupressores fazem com que o risco de deiscência de
anastomoses nesta situação seja elevado. A reconstrução do


trânsito é então realizada após a recuperação nutricional do
Cuidados pré- e transoperatórios paciente (período mínimo de 3 meses).
Os portadores de DC que se enquadram na indicação cirúr­ A economia no comprimento do intestino a ser ressecado
gica eletiva necessitam de cuidados que visam a menores taxas nos portadores de DC fez com que algumas técnicas se tornas­
de complicações e melhor prognóstico. O aspecto nutricional é sem particularmente úteis no tratamento de estenoses múlti­
importante, e pacientes com desnutrição grave são beneficiados plas, associadas ou não a ressecções. As estenoplastias, ver­
por nutrição parenteral total (NPI), geralmente realizada por dadeiras anastomoses sobre áreas fibrosadas ou inflamadas,

tes às ressecções. As estenoses curtas devem ser tratadas pela


algumas semanas antecedendo o procedimento. Antibioticote­ apresentam bons resultados, com índice de fístulas semelhan­
rapia deve ser utilizada, sendo o esquemamais comum o cipro­
floxacino associado ao metronidazol. O cólon destes pacientes técnica de Heineke-Mikulicz, semelhante à piloroplastia, com
deve ser sempre preparado mecanicamente, para que se evitem abertura longitudinal e fechamento transversal da alça intestinal
surpresas em casos de fístulas internas, mesmo que a doença com pontos separados. Estenoses longas são mais bem trata­
supostamente acometa apenas o intestino delgado. A utilização das pela técnica de Finney, verdadeira anastomose laterolateral
de imunossupressores (comumente azatioprina) pode ser inter­ ampla da região estenosada dobrada sobre seu próprio eixo.
rompida, com resultados questionáveis na literatura. Através destas, técnicas há menor ressecção e risco menor de
Vale lembrar que os pacientes com diagnóstico firmado de desnutrição e síndrome do intestino curto. São particularmente
DC, que se apresentam com abdome agudo, devem ser trata­ úteis nos casos de acometimento difuso jejunoileal.
dos como tal: sondagem vesical para melhor monitoramento As derivações internas (bypasses) são operações raramente
da diurese, reserva de sangue e vaga de UTI; bom acesso venoso utilizadas nos dias de hoje e ficam reservadas aos casos de en­
(de preferência, central) deve ser reaizado.
l volvimento do ureter do processo inflamatório, com risco de
Pacientes que uilizaram
t corticoides em um período de pelo lesão desta importante estrutura.
menos 1 ano antes da operação devem ser tratados com repo­ Sem dúvida, os melhores resultados ocorrem quando há
sição intraoperatória. A hidrocortisona utilizada na dose de ressecção do extenso processo inflamatório, com anastomose
100 mg IV na indução anestésica, complementada se o proce­ no mesmo tempo cirúrgico. A utilização de estornas e outras
dimento tiver duração maior que 2 h, deve ser seguida de es­ técnicas devem ser particularizadas para cada caso, e o cirurgião
quema de manutenção com retirada gradual. Evita-se, assim, deve sempre "pensar com a razão, nunca com o coração". Um
insuficiência adrenal no transoperatório, causa de hipotensão estoma pode salvar uma vida, e depois ser reconstruído. Nunca
de origem obscura. se arrepender de realizá-lo, apenas de não o fazer!

• Operações sobre o trato digestório alto • Estornas


O acometimento do duodeno pela DC ocorre em cerca de Como citado previamente, pacientes com oclusão intestinal
4% dos casos, geralmente com extensão secundária ao piloro por processo inflamatório na DC, com dilatação de alças e mau
e antro gástrico. Os pacientes são comumente assintomáticos. estado nutricional têm n i dicação plena de estornas de desvio,
Indicações cirúrgicas nestes pacientes ficam reservadas a obs­ pelo alto risco de deiscências anastomóticas. Sempre que um
trução alta, dor epigástrica recorrente, que não melhora com paciente portador de DC é submetido a uma operação abdomi­
bloqueadores de bomba de prótons, e surtos de pancreatite. A nal, um estoma deve estar entre as possibilidades de resolução
operação mais descrita é a derivação gastroenteral (para duo­ do caso. lleostomias, terminais ou em alça, são os estornas mais
deno ou jejuno proxirnal), associada à vagotomia seletiva para comumente utilizados. A proteção de anastomoses distais de
se evitar o risco de úlcera de boca anastomótica. Estenoplastias risco também é indicação plena de desvio com estornas.
duodenais são usadas mais raramente, com bons resultados. A presença de doença perianal grave é igualmente causa de
estornas de desvio. Se o intestino delgado estiver acometido por


processo inflamatório, as preferenciais ileostomias em alça de­
Operações sobre o intestino delgado vem ser substituídas por colostomias em alça. Estornas em alça,
A localização mais comum da DC é no íleo terminal, válvula desviando o trânsito fecal do períneo, podem facilitar a cicatriza­
ileocecal e ceco. Tais pacientes em geral evoluem com massas ção de lesões perineais, associadas ou não a drenagens múltiplas
palpáveis, cólicas fortes e até quadros de obstrução intestinal. perianais. Pacientes com doença anorretoperineal grave são can­
Ê clássica a descrição da ileocolectomia direita com ileo­ didatos a proctectomias, com colostomias terminais nos casos
transverso e anastomose para o tratamento desta situação, com de cólon esquerdo livre de doença, como se verá à frente.
excelentes resultados. Em alguns estudos, os pacientes apresen­ Teixeira et al. (1999), na Universidade de São Paulo, em
taram-se assintomáticos por vários anos após a ressecção. A estudo de 82 estornas em portadores de DC, concluíram que,
uilização
t de anastomose manual vem sendo atualmente substi­ além do alto número de complicações de confecção, a maioria
tuída pela anastomose laterolateral, terminoterminal funcional, dos estornas inicialmente temporários acabam sendo definiti­
com grampeadores lineares cortantes de tamanho maior que vos. Neste mesmo estudo, de todos os pacientes operados por
8 em. Apesar do índice de recidivas no local da anastomose ser DC, 38% necessitaram de estornas no ato cirúrgico. Portanto,
o mesmo, supõe-se que a amplitude desta boca anastomótica aviso prévio ao paciente sobre a possibilidade da necessidade
reduza a necessidade de reoperações sobre o mesmo local, no eventual de estornas, e demarcação prévia de possíveis locais
futuro, por menor risco de estenose sintomática. para essas estomias.
Capítu/o 32 I Doençade Crohn 375

• Operações sobre o cólon • Operações emergenciais


As colectomias por colites na DC podem ser realizadas com Faria et al. (2004) descrevem em sua análise de 100 pacien­
preparo adequado e geralmente são segmentares e econômicas. tes que cerca de 20% deles têm como primeira manifestação
O megacólon tóxico, situação extremamente rara na DC, ne­ da DC o abdome agudo.
cessita de colectomia total e ileostomia terminal para seu trata­ A mais comum emergência abdominal nos pacientes porta­
mento. Na fase crônica, estenoses colônicas e fístulas internas dores de DC é a oclusão intestinal, geralmente por doença no
para outros órgãos (comuns do sigmoide para íleo, jejuno ou íleo terminal e no ceco. Em pacientes diagnosticados previa­
bexiga) igualmente necessitam de ressecções segmentares para mente com DC, a indicação cirúrgica fica mais evidente, sendo
o sucesso do tratamento. Não são raras as situações de doença a ressecção do íleo terminal e do ceco a operação de escolha.
grave no íleo terminal e ceco, com fistulização para o sigmoide. Condições gerais do paciente (estado geral, uso de corticoides,
Nestes casos, além da ileocolectomia direita, ressecção segmen­ aspecto nutricional) e das alças intestinais (dilatação a montan­
tar do sigmoide acometido, com anastomose primária, é ne­ te, edema de alças) geralmente preconizam ileostomia terminal
cessária para a completa ressecção das áreas doentes. Pacientes com posterior reconstrução de trânsito.
portadores de doença grave, acometendo todo o cólon, reto e Abscessos abdominais podem se formar secundariamente
períneo, são candidatos à proctocolectomia total e ileostomia a perfurações bloqueadas no retroperitônio dos pacientes com
terminal definitiva, como descrito adiante. DC no delgado e no cólon. A drenagem cirúrgica por laparo­
tomia ou por punção guiada por exames de imagem deve ser
• Operações perineais precoce. Esta última manobra, útil em pacientes graves, ajuda
na compensação do quadro para posterior laparotomia e tra­
As operações mais comuns no paciente portador de DC pe­
tamento definitivo da lesão causadora do abscesso.
rineal são as drenagens de abscessos múltiplos. Estes devem
Abscessos perianais devem ser sempre precocemente drena­
ser sempre drenados; já as fístulas, cuidadosamente estudadas.
dos, com incisões pequenas, o mais próximo possível da mar­
Eventualmente, a colocação de reparos esfincterianos frouxos,
gem anal. O procedimento deve essencialmente ser o mais
com drenos de borracha finos, mantém a área livre de infecção.
econômico, mas a indicação de drenagem jamais deve ser pos­
Fístulas perianais superficiais, e fístulas retovaginais baixas, em
tergada, para se evitar sepse perineal complicada.
pacientes com doença controlada clinicamente, podem ser ope­
radas da maneira convencional.
Um dos conceitos mais claros na literatura das cirurgias • Videolaparoscopia
perineais da DC é o de se evitarem grandes áreas abertas de
O acesso videolaparoscópico vem sendo cada vez mais uti­
ferida. Sabe-se que a cicatrização é deficiente nestes pacientes
lizado em operações sobre o intestino delgado e grosso, prin­
e o fechamento destas feridas pode levar meses. Além disso, a
cipalmente na última década. Ressecções de segmentos de in­
ndicação
i cirúrgica nestes pacientes deve ser agressiva, sendo o
testino delgado e cólon são comumente realizadas para outras
afecções, como doença diverticular, câncer colorretal e grandes
procedimento realizado o mais conservador possível.
Em um estudo realizado por Kotze et a/. (2001), analisando
pólipos colorretais.
34 pacientes portadores de DC anorretoperineal, concluiu-se
Pacientes com diagnóstico de DC podem ser tratados de
que a operação mais comumente utilizada foi a drenagem de abs­
forma laparoscópica, desde que compensados (cirurgias eleti­
vas) e devidamente selecionados. As principais indicações para
cessos perianais (38%), seguida por fistulotomias (20%), reparos
esfincterianos ( 11%) e correção de única ffstula retovaginal.
o uso da laparoscopia, segundo revisão de Campos (2003), são
Como citado previamente, a utilização de estornas de pro­
as criações de estornas de desvio por doença perianal, ressecção
teção para pacientes com doença anorretoperineal grave é ma­
ileocolônica no tratamento da ileíte terminal, estenoplastias
nobra útil no controle da inflamação local do períneo.
Atualmente, a evolução do tratamento clínico, com alta para doença jejunoileal, e ressecções segmentares do cólon. As
disponibilização de imunossupressores, uso do infliximabe e principais contraindicações para estes pacientes são extensas
oxigenoterapia hiperbárica, tem colaborado para tornar o tra­ massas inflamatórias, fístulas internas complexas, perfuração
tamento local da doença anorretoperineal menos agressivo. livre em cavidade com peritonite e múltiplas aderências. Como
Salienta-se que a utilização dos medicamentos associada à ci­ muitos pacientes com indicação cirúrgica para tratamento da
rurgia traz melhor evolução nestes casos. DC são jovens, o aspecto cosmético é obviamente importante,
Pacientes com DC perineal grave, com destruição perineal, sendo muito vantajoso nas operações laparoscópicas. Retorno
ncont
i inência e múltiplas fístulas, têm indicação de proctecto­ mais precoce às atividades e menor tempo de internação são
mia com estoma definitivo para melhor qualidade de vida. Se o vantagens também importantes para a utilização desta via de
cólon estiver livre de lesão, pode-se preservar o intestino grosso, acesso.
e uma colostomia terminal do sigmoide é realizada. Nos casos A seleção do melhor caso pode, sem dúvida, ser o princi­
de pancolite ou colite segmentar, a proctocolectomia total com pal aspecto na indicação desta via de acesso para o tratamento
ileostomia terminal é a melhor opção de tratamento. cirúrgico. A curva de aprendizado para esses casos é longa, e
Teixeira et al. (2002), em estudo de 183 pacientes operados cirurgiões experientes em videolaparoscopia colorretal estão
por DC, descreveram os resultados de 31 submetidos à proc­ cada vez mais aprimorando sua experiência.
tocolectomia total por doença perianal grave. Salientam que "Cutting does not always mean cure!", como diriam os ame­
a opção pela proctocolectomia deve ser inicial nos pacientes ncanos...
com doença perianal com ou sem associação colônica, com
bons resultados e menores índices de recidivas e internamentos
futuros. Pacientes com enterocolite de Crohn, em que as reci­
• Recorrência pós-operatória
divas são mais frequentes, devem ser tratados de forma mais Desde as descrições das primeiras séries de casos de DC
conservadora. na literatura, notou-se que os índices de recorrência após as
376 Capítulo 32 I Doença de Crohn

ressecções cirúrgicas eram significativos, o que demonstra


a característica incurável e recidivante desta entidade. Estes
• Profilaxia da recorrência
dados podem ser ilustrados por um estudo que demonstrou Discutidos os tópicos anteriores, a decisão de se iniciar ou
que, após 1 ano das ressecções de segmentos acometidos pela não o tratamento para prevenção da recorrência não deve ser
DC, os índices de recidiva endoscópica chegaram a 80%, a somente baseada em sintomas. Tabagistas devem ser orientados
recidiva clínica ocorreu entre 10 e 20% dos casos, e a necessi­ a abandonar este hábito. Pacientes com múltiplas ressecções,
dade de nova cirurgia foi documentada em 5% dos pacientes com doença penetrante e fístulas perianais devem ter tratamen­
operados. to com imunossupressores iniciado depois de 2 semanas da ci­
Alguns fatores de risco para recorrência da doença após res­ rurgia. A utilização da terapia biológica fica reservada para os
secções foram identificados na literatura. Há consenso de que casos com piora após 1 ano no escore endoscópico, e em casos
o tabagismo é um hábito que aumenta significativamente os de complicações ou intratabilidade clínica com a azatioprina.
índices de recidiva pós-operatória, assim como a presença de Novamente, o bom-senso e a pronta análise individual de cada
doença perianal e ressecções intestinais prévias. Há evidências caso, associados à experiência de cada centro de tratamento
de que a doença penetrante (fístulas) no momento da opera­ com determinadas terapias, devem nortear as condutas.
ção apresenta maiores riscos de recorrência do que doença não Depois de ressecções com anastomoses ileocolônicas, a DC
penetrante, com risco de reintervenções mais precoces. Ou­ recorre em poucos meses no novo íleo terminal. As lesões mais
tros fatores, como sexo, idade no momento da operação, tem­ precoces são ulcerações aftosas que podem evoluir para infla­
po do diagnóstico, transfusões sanguíneas no transoperatório, mação mais grave, dando sintomas e complicações. Há nítida
comprimento da área ressecada e presença de inflamação nas relação entre a gravidade da inflamação recorrente e a subse­
margens de ressecção, foram exaustivamente estudados. Entre­ quente evolução clínica da afecção. Assim, aprevenção de recor­

tanto, não há consenso de se apresentam influência nas taxas


rência precoce deve ser a maior meta das medidas terapêuticas
de recidiva, e há ampla controvérsia a respeito destas variáveis nos pacientes operados!
A própria passagem das fezes e a flora bacteriana do ni tes­
analisadas. Nas ressecções ileocólicas, o tipo de anastomose
tino podem ter papel importante na recorrência. Antibióticos,
parece ter influência sobre a necessidade de reintervenções ci­
5-ASA, corticoides tópicos e imunossupressores podem ser usa­
rúrgicas por recidiva. Há relativo consenso na literatura de que
dos. A administração de metronidazol (20 mg!kg!dia) durante
as anastomoses laterolaterais, manuais ou mecânicas, realizadas
3 meses pode ser útil e deve ser ni iciada na primeira semana
com boca ampla de cerca de 10 em, são mais indicadas na DC
depois de ressecção ileal com colectomia parcial ou anastomose
por atrasarem mais a n
i dicação de reoperações por recorrên­
ileocolônica. No primeiro ano, a resposta é melhor que após
cia no local. McLeod et al. (2009), em estudo prospectivo com
mais tempo da cirurgia (3 anos).
139 pacientes submetidos a ressecções por DC, demonstraram
Surpreendentemente, descreveu-se bom resultado com a
não haver diferença nas taxas de recorrência endoscópica e sin­
sulfasalazina e operações não radicais, com uso de até 3 anos.
tomática após 1 ano de seguimento. Nesta análise, um número
Outros autores obtiveram bons resultados com 5-ASA na pre­
maior de ressecções prévias foi considerado um fator de risco,
venção de lesões endoscópicas.
e tratamento com imunossupressores após as ressecções foi
Fato importante a lembrar é que os pacientes relutam em
considerado um fator redutor da recidiva. O consenso euro­
tomar, por vários anos, grande quantidade de drogas que não
peu de doenças inflamatórias intestinais recomenda a anasto­
foram eficazespara controlar a doença antes da cirurgia!A AZA
mose mecânica laterolateral nas ressecções ileocólicas na DC.
parece ser, até agora, a droga de benefício para estes pacientes,
Talvez este tipo de anastomose não influencie na presença da
mesmo que tenha que ser usada por 2 anos ou mais.
recorrência endoscópica. Entretanto, traz menor necessidade
Terapia agressiva, aliada a diagnóstico precoce, pode preve­
de tratamento cirúrgico ao longo do tempo se comparado às
nir muitas complicações, como destruição anal, fístulas e es­
anastomoses terminoterminais, por menor risco de estenoses
tenoses.
a longo prazo.
O tratamento clínico após as ressecções, com o ntuito
i da
prevenção da recidiva, é recomendado pela maioria dos auto­ • Evolução
res. Dentre os medicamentos utilizados, há maior eficácia com Enfatiza-se a alta porcentagem de recorrências. Pode-se con­
o uso de imunossupressores (azatioprina e 6-mercaptopurina), cluir, do ponto de vista de prognóstico, que, quanto mais jo­
pois os derivados do 5-ASA e antibióticos apresentam graves vem o paciente no momento do diagnóstico, maior chances de
limitações para este fim. Regueiro et al. (2009) publicaram um evolução tumultuada por exacerbações e complicações, prin­
estudo randomizado que mostrou significativas vantagens com cipalmente cirúrgicas.
o uso do infliximabe associado à azatioprina durante 1 ano após O curso clínico da DC é imprevisível. Para a grande maioria
ressecções em relação à monoterapia com azatioprina. Na análi­ dos pacientes, o curso é através de exacerbações e remissões.
se endoscópica deste estudo, os índices de recidiva endoscópica, Infecções oportunistas n i tercorrentes constituem os fatores
bem como sua gravidade, foram significativamente menores precipitantes mais comuns. A atividade da doença deve ser
no grupo que utilizou a terapia biológica. Os autores recomen­ avaliada pelos sintomas, sinais e testes de laboratório. Sinais e
dam que, em pacientes com características de pior prognóstico, sintomas de surto da DC nem sempre requerem reestadiamento
como doença perianal, diagnóstico abaixo de 40 anos e taba­ da doença, a não ser que o manejo médico falhe, a doença se
gistas, o tratamento deve ser agressivo, com terapia biológica. interrompa ou que se antecipe a cirurgia.
Todo paciente submetido a ressecções cirúrgicas deve ser exa­ Para os que apresentam a doença nos cólons, de longa du­
minado por ileocolonoscopia depois de 1 ano, para se avaliar a ração, o risco de câncer é de 3 a 20 vezes maior que na popu­
presença de ulcerações e a eficácia do tratamento da prevenção lação geral, e menor que na RCU, mas devem-se monitorar
de recidiva. Nos casos de piora do escore endoscópico, uma os pacientes também com colonoscopia e biopsias. O uso de
mudança no tratamento deve ser efetuada, para melhor con­ imunossupressores e cirurgias conservadoras diminuiu muito
trole da doença. a incidência de complicações a longo prazo.
Capítulo 32 I Doença de Crohn 377

• QUESTÕES PERTINENTES À FERTILIDADE Pude a DCaparecerpelaprimeira vez durantegestação?


Sim, pode, mas, em geral, o comportamento da doença não


E ALTERAÇÕES GINECO-OBSTÉTRICAS EM é mais grave do que nas pacientes não grávidas.

PORTADORES DA DC* • As drogas usadas no tratamento da DCpodem ser usadas durante

Pudem a mulhere o homem com DI/se tornarempais?



a gestação?
Sim, conforme os esquemas já mencionados.
Em geral, a resposta é "sim". Dar preferência quando a doen­
ça estiver inativa. • As drogas são perigosas para o feto?
Não, de acordo com os esquemas. A DC inadequadamente
• Como a DI/ afeta a fertilidade feminina e masculina e quais as tratada é mais perigosa para a mãe e para o feto!
chances para umagravidezbem-sucedida? A budesonida não trouxe dano para a mãe ou para o feto,
Na DC a fertilidade não se afeta nos períodos de quiescência, mas são poucos os estudos realizados a esse respeito.
mas na DC ativa ou após extensa cirurgia pode diminuir por As mães em uso de n i fliximabe devem pensar em concepção
alterar o ciclo menstrual-amenorreia-sintoma que se segue à pelo menos depois de 3 meses da interrupção da droga.
perda significativa de peso. O uso de fibras (Plantago ovata, Ispaghula husks) pode ser
A fertilidade masculina não é afetada na DC. Entretanto, abs­ útil em casos de diarreia.
cessos e fístulas na pélvis e região anal podem causar distúrbio de
ereção e ejaculação; ou quando há cirurgia extensa, particular­ • Os contraceptivos oraispodem causar ou agravar DC?
mente seguida de bolsa ileoanal. Quando o paciente está usando Embora estudos controversos, não parece haver contrain­
sulfasalazina, pode haver infertilidade temporária que se norma­ dicação para seu uso. Lembrar que no caso de diarreia grave,
liza em 2 meses após interrupção da droga ou troca pelo uso de sua absorção pode ser pequena e a paciente não estar devida­
5-ASA. As razões incluem diminuição na contagem dos esperma­ mente protegida.
tozoides, redução de fluxo seminal, anormalidades na estrutura e
motilidade das células espermáticas. Tais anormalidades ocorrem • Azatioprina ou 6-mercoptopurinapodem ser usadas antes ou
em cerca de 80% dos homens tratados com esta droga. durante a gestação?
Ver os esquemas.
• Como a DI/ afeta o curso da gravidez e asaúde do bebê?
Cerca de 85% das mulheres com DC têm gravidez normal. • O uso de corticosteroides éseguro durante gestação e
Malformações nos fetos ocorrem somente em 1%. Não parece amamentação?
haver maior risco de abortamento espontâneo. Lembrar que Sim, mas o recém-nascido pode apresentar apatia e redu­
em mulheres sadias 15% das gestações cursam com problemas ção de sua atividade por baixos níveis de cortisona pelas suas
ou complicações. Concepção em fase de quiescência é sempre suprarrenais. Às vezes, o neonatologista necessita prescrever
recomendável. esta droga para a criança. Isso geralmente ocorre quando a mãe
Se a concepção ocorre em período de grande atividade da precisa de altas doses de corticosteroides.
doença, o número de abortos, prematuridade dos fetos e outras Como a cortisona passa pelo leite materno, as mesmas con­
siderações devem ser feitas.
complicações surgem em maior risco.
Com a budesonida, tais efeitos não têm sido detectados.
• Que exames médicos são importantes antes doplanejamento de
uma gestação?
Os exames são os habitualmente recomendados, dependen­ ----
-- T------
do da fase da DC. A administração de ácido fólico é indicada, Quadro 32.13 Curso da gestação em mulheres sadias e pacientes
como em qualquer gravidez, principalmente quando há uso com doença de Crohn (estudos europeus e americanos)
de sulfasalazina.
Nonnal Malformações Prematuros Aborto
• Como a cirurgiapara o tratamento da DCpode afetar agestação?
População geral 83 2 6 9
Gestações sem complicações são vistas após cirurgias intes­
DC em remissão 82 1 7 10
tinais extensas, inclusive quando há colectomia ou ileostomia.
Recomenda-se que se espere 1 ano após o procedimento cirúr­ DC em fase ativa 54 1 25 20
gico para se recomendar gravidez. No caso de ileostomia, pode
-

haver prolapso ou oclusão durante a gestação. Se for necessá­


ria cirurgia no decorrer de uma gestação, raramente ocorrerá
aborto ou outra complicação. ----
-
--
--�---
-
-- T
Quadro 32.14 Efeito da gestação na atividade da doença
• A gravidez traz impacto ao curso natural da DC? de Crohn seguida de concepção durante remissão
Em geral, não haverá impacto sobre a atividade da DC.
As drogas usadas para manutenção da remissão podem ser Manutenção da remissão -85%
mantidas durante a gravidez. Início em crise de agudização -15%
Por outro lado, piora dos sintomas em uma gestação não • durante o primeiro trimestre -13%
m
i plica que isso possa ocorrer em gestações subsequentes. • durante o segundo trimestre < 1%
• durante o terceiro trimestre < 1%
�Instruções da Sociedade Britânica de Doenças Inflamatórias Intestinais e ex- • durante 0 puerpério -2%
periência dos autores do capítulo. ----
-
--
378 Capítulo 32 I Doença de Crohn

• Deve-se interrompero uso de 5-ASA porocasião do parto? descoberta de agentes terapêuticos específicos e mais potentes
Em geral, não é necessário, particularmente porque os ní­ para a DC que é tão debilitante e que implica ajustes e adapta­
veis sanguíneos de 5-ASA são baixos e não causam alterações ções familiares, sexuais, sociais e emocionais!
na coagulação nem na agregação plaquetária. Enquanto se aguarda a cura para a DC, as terapias disponí­
veis visam à manipulação dos estímulos enterais e regulação,
• Quais examespodem ser feitos durante agestação? cada vez mais sofisticada, da resposta imune!
Em geral, a ultrassonografia. Complementada ou não pela
ressonância magnética, são de grande valia. Métodos que en­
volvam radiação devem ser deixados para após o parto ou para • LEITURA ALTAMENTE RECOMENDADA
situações de emergência. Só realizar qualquer tipo de endosco­
SECOND EUROPEAN EVIDENCE-BASED CONSENSUS ON CROHN'S
DISEASE. !ourna/ ofCrohn's & Co/itis, 2010; 4:1-10l.
pia em mãos de examinador experiente.

DELINES FOR THE DIAGNOSIS AND MANAGEMENT OF IBD IN 2010.


WORLD GASTROENTEROLOGICAL ORGANIZATION PRACTICE GUI­
• Quais as considerações especias
i durante o parto?
Parto vaginal geralmente é preferível, mas episiotomia perma­ Inflamm Bowel Dis, 2010; 16:112-24.
nece assunto controverso, se há ou não maior risco de DC peria­
nal. Em pacientes com ileostomia, pode-se prefeir cesariana, para
• LEITURA RECOMENDADA
evitar contrações abdominais que causem prolapso intestinal.

• Há dieta especialpara a mulhergrávida com DC? Acosta, MB & Pena, AS. Clinicai applications of NOD/CARD15 mutations in
Crohns' disease. Acta Gastroenterol Latinoam, 2007; 37:49-54.
Ahrnad, T, Armuzzi, A, Bunce, Metal. The molecular classification ofthe clini­
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