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21 MESSIANISMO—METODO JURIDICO. 212 verdade, que irradiaria apés a vinda do super-Cames, que tem equivalente, a ‘nosso ver, no novo infante de Sagres pre- conizado por Alvaro Ribeiro. ‘As formas historicas do M., quando desligadas do seu micleo teolégico pri- mordial, sao mais um sentimenco de saréncia do que um pensamento agente decidido a transformar o pessimismo da perdigao no optimismo da redengio, BIBLIOGRAFIA J. Darmesteter, Le Mahdi depuis ls Origines de Plan jesgu't tos Jous, Paris, 1885; M. J. La- grange, Le Masiaime sh: les if Bais, 1909; J. Obersteiner, Die Chratasboschaft des A. T., Friburgo, 19475 J. Coppens, Le Mesianisme Royale, Paris, 1968; H. 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Gomes, A Pilowfia He- ‘trai: Pertugacia, Porto, 1981: AntOnio Quac dros, Pits « Pisa’ do Mito Sebastianista, 2 vols., Lisboa, 1982. Pinbaranda Gomes METODO JURiDICO I= 0 problema do ceiso ae concit gerd ce mite fasidico. M — 0 possiisme juridice esas defini de ca mtods jurtdion. WN — A superagio ch mites rida postiita, IV — A sitwagio actual 1, O problema da acesso ao conceito geral de métode juridica 1 — «O queéa metédica jusidica?» — [jereuncise Friedrich Maller, na sua portance Juristische Methodib, 2.4 ed p. 264, pata responder: «E a mec de trabalho dos juristas.» Posto que esta resposta logo obrigue a uma outta per~ gunta: «O que fazem os juristas numa ordem juridica do tipo da nossa?» (in- tertogagio dirigida decerto i ordem ju- ridica alema, mas que tem igual sentido oportunidade relativamente a ordem juridica portuguesa) — ¢ que obtém, Por sua vez, como resposta ainda do mesmo autor: «a) Poem normas (isto €, preparam-nas politico-juridicamence ¢ formulam-nas para os Grgaos legislati- vos); 8) executam normas (no vasto am- bito do “poder executive’), ¢ ¢) ajufzam acgies ou outras normas segundo nor- mas (fung6es jurisdicionais).» $6. que uma tal definigio indirecea do mécodo juridico pela descritiva referéncia das fungoes que correspondam hoje, numa diferenciacio social (se nio socioprofis- sional), aos juristas enquanco citulares daquelas fungdes (Funbrionseriger) —e ‘mesmo que a nao consideremos tautol6- -gica ou possa ela evitar um sentido cir~ cular (0 que se verificara se dissermos, com E. Forsthoff, Zur Problematik der Verfassungianslegung, p. 40, que «nada mais distingue os juristas como tais do que 0 métode por eles seguido») —sus- cita a exigéncia de um esclarecimento fundamental, sobre 0 que hi de metodi Camente comum em todas essas activi- dades ou fungées. Esclarecimento que, alis, F. Miller se propde também ofe- Tecer-nos 20 enunciat: «trata-se sempre de actos de decisao a realizar, num Es- tado constitucional com a indole de Es- tado-de-direito, em vinculacio ao di- reito vigente». Pelo que se poderia afi- nal concluir: «a metédica juridica ¢, portant, a técnica privico-cientifica dos processos de decisio orientados por normas», E, no entanto, esta nogio do M. J. mix nimiza o problema da sua essencial de- terminagio ¢ deixa-o verdadeiramente indefinido, Nao tanto por ser uma nogio formal — tem uma intencionalidade que sera suficiente para podermos dizer tratar-se de uma nogio em que o actual pensamento juridico amplamente se te~ conhecer’, sobretudo pela associagio jue nela se faz entre mormas, enquanco os fundamentos ou os critérios juridicos, ¢ decisao, enquanto o abjectivo pratico que convoca o método, © em termos as- m3 ee METODO JURIDICO 24 sim deo M, J. ser compreendide como métode de uma normatividade deciséria (v. infra). Mas porque, © em primeiro lugar, tende a nie distinguir «mécodo» € «técnica: aludimos & discingio que Goscs cemce dneamn denote de ene cia tematizagio da problematica meto- dologica modetno-europeia, 0 métode a manifestar a perspectiva de imanéncia de um proceso que constitutivamente assume a intencionalidade de uma acti- vidade cultural apenas susceptivel de definir-se pela reflexio critico-metodo- légica referida aos objectivos dese do- minio culcural (0 compromisse- inten- cional do método relativamente a um certo tipo de solucies), a vemica a tradu- zir a perspectiva de exterioridade de um esquema formalmente operatério ins- trumental com vista a uma aplicacio epriticas (a neutralidade instrumental da técnica, que se afere cio-s6 pela sua ceficécia) — cf. Stig Serémbholm, «Zur Frage nach der ju J. Carnelurei, Machige ‘giurtdica, ‘939, pp. 17 5s. —; além de que have- ria ainda lugar para referir a distingio Classica, ou de sentido clissico, entre «método~ {meta-bodes} € «arte (techné, ats) —ef. R, Grischnet, Dialogik wand Jurisprudenz, pp. 84 € 8. id., Die rich- ‘erliche Rechtsfandung: « Kunst ader « Met aden ?, passim —, distingao, aliés, par- ticularmente importante para o pensa- mento juridico no quadro da sua actual revisio metodoldgica (cf. T. Vichweg, Topik und Jurisprudenz, 5.9 ed., §7.%;€ dufal, Ou veh, pence ejunts ocio tea indecidida, pelo menos, a questio de saber sea actividade dos juristas atingeo nivel metédico, em sentido metodolo- gicamente rigoroso e de que sempre se tem reclamado a 7 «ciéncia do direitox nio obstante Kirchmann (et pour cause), use se fica apenas por uma meratécnica de aplicagio do direito, como desde Ehrlich (Grundlegung der Soxiologie des Rechts, 1-19) Ihe tem sido apontada ¢ criticado (cf. K, Larenz, «Uber den wissenschaftscharakter der Rechtswis- senschafts, in Estudios jruridive-sociles, Homenaje al Professor Luis Lega y Lacam= bra, 1, pp. 180-€5s.), chegando mesmo a concluir-se, nessa linha, que «a con vencional doutrina do método juridico ¢ no fundo uma doutrina sem método» [W. Krawierz, «Welche Methode lehrt die juristische Methodenlehre?», in Ja- ristitche Schlulung, 10 (1970), p. 431). Em segundo lugar, porque, se no deixa de aaludir, o certo € que nao esclarece a diferenciagio metédica entre activida~ des ou fungées em que o pensamento- juridico tem visto, enquanto justa- mente as distingue intencional-meto- dologicamente, coordenadas essenciais da sua concepgio do M. J @) Referimo-nos, desde logo, minagio da eriagée do direito (digas da criagio do direito formalmente posi tivo pela deliberada constituigao, ley lativa ou nio, das suas norms) relati- vamente & sua aplicagio (ou, mais ampla € correctamente, & sua determinativa- -concretizadora ¢ judicativo-deciséria realizagio) — o que intencional mente se traduzira na distinglo entre a Apolitica do dircito (a assumit sobretudo pelo le- gisladoriea Ajurisprudéncia (que ja seri especifica dos juristas gua tale) e meto~ dologicamente implicara a discingi0 entre 0 método da legéslagao ow do legislador (0 processo de prescrigio de normas me- ite decisdes de intengio politico-ju- idica, a que também nio seri alheia uma reformadora estratégia politica — v. infra) © © métedi da juriiprudéncia ow dos juristas (a actividade de juizo norma- tivo ou de judicativa decisfo normativa com fundamento € critério no direito pressuposto). Sem que isto sign exclusio dos juriscas daquela primeira actividade prescritivo-legistativa — se foram eles sempre convocados a pat par nessa accividade, com o seu especi lizado «saber juridicow, podera mesmo duvidar-se hoje da radical validade da- quela distingio. Posto que, por um lado, tanto 0 contexto das validades co- munitirias ¢ especificamente constitu cionais como a intencional pressuposi- 20 da ordem juridica constituida —com tudo 0 que aquelas validades € festa pressuposigao tém ja de normativa- mente regulativo e vinculante, ja de normatividade reference para a prescri- ‘ Hut 26 sur There cher Gienetzgebunge, dy J. Mokre/O, Weinberger (Ury.). Re bisphilosuphie und Gevedcgebung, 1976, pp. 178 ean.) De todie made, quer pe= jas aliferentes indoles c yraus clistintos cay reapectivas: vinculugien —- a impli« ‘cur que i fungio juridicn di legislagio ve Feconhegt, nao obstante o seu regula tivo © 0 seu enquadramento normative -juridicos, uma especifica aatonimia nor mativamente constitutiva € & fungio jurisprudcncial (¢ jurisdicional), cam- bém nio obscante os momentos de norma- tivo-juridicos constitutivos que the so inegiveis, uma indole normativamente vincilads —, quer sobrecudo pelas dix versas fungdes © intencionalidades que assumem — intencionalidade sobre- tudo reformadora ¢ esteatégico-teleol6- ica, num caso, intencionalidade so- bretudo de realizagio de uma pressu- posta validade ¢ judicativo-decisiria, no ‘outro caso —, aquela primeira distin- io metédica resiste a um seu completo apagamento ¢ continuaré antes a jus car-se que se tenha em devida conta a diversidade de pressupostos, de coorde- nadas e de esquemas metédicos que cortelativamente Ihe cortespondem. Em termos de se poder dizer, com J. Cascan Tobetias (Teoria de la aplicaciin ¢ investi~ batibn del derecho, pp. 24 ¢s., © passim), que na prescrigio normativa temos uma «claboragio criadora™ ¢ no juizo juris~ prudencial uma «elaboragao seconstrua tiva» do direito — emboranesta ultima se hajam ainda de discriminar os casos de coneretizagdo de critérios juridicos constituidos ow preexistentes dos casos de elaboragao dos proprios crivérios juri- dicos numa actividade de integragio (de slicunas») ¢ mesmo de desenvalvi- mento normativo, actividades escas em que a «claboracio criadora» ¢ a «elabo- ragio reconstrutiva» como que vém de Rovo a tocar-se no geau constituinte, mas sem que no entanto de todo se identifiquem (cf. infra), B) Depois, no proprio Ambito da juris- prudéncia, ouseja, no dominio que para @ perspectiva tradicional se considera definido pela actividade especifica- mente juridica (nio politico-prescritiva) dos juristas ¢ como tal referida em prin- cipio a um diseito virtualmente pressu- 217 : posto — 0 imbito eo dominio objective dogue, a partir do séc. XIX, se designou por «ciéncia do direito» —, ter-s¢-4 de distinguir a funcae jadicativo-decisoria, cchamada a resolver os problemas juridi- os concretos em termos casuistico-ju- tisdicionais, da fumgao dogmética, diti- gida antes so conhecimento abjectivo- -sistemitico do direito constituido e vi- gente numa determinada comunidade histérica. E que, se a primeira, na sua imediata preocupagio com a «pratica» aplicagio do direito, se centea no pro- blema da interpretagéo (decerto «inter- pretacgio» em sentido lato, em que se inclut a integracio) € se orienta pelo pa radigma ou 0 «método do juiz», cum- prindo assim © métode da jurisprudéncia em sentido estrito — ou da actividade juridica, com este sentido e métado, por Thering designada a «jurisprudéncia inferior» (miedere_Jurisprudenz) —, jd a segunda assumiria uma intengio so- bretudo cientifica (de determinagio tebrico-cientifica do di mente pressuposto) mediante o método epistemologicamente proprio da dog- micica juridica, 0 métods da citncia do direito também em sentido estrito, e de que seria funcionalmente titular desde a Idade Média, mas sobretudo 0 séc. XIX, © ensinante teérico do di- reito, encarnado antes de mais pelo professor universitirio — actividade igualmente por Ihering dita =jurispeu- déncia superiors (hibere Jrrisprutenz) S6 que, também perante ésta distingio, sobretudo acentuada pelo pensamento juridico de Oitacentos —— expresso que era do seu objective cientista de ga- rantir para a «ciéncia do direitos um estatuto rigorosamente teorético-cien- tifico —, havera de perguntar-se se continua’ a ser vilida uma distingio estes termos (entre uma actividade pritica de indole sobretudo hermenéu- tica e uma actividade sedrica de indole sobretudo dogmitico-sistemitico) no dominio global da jurisprudéncia. Sendo certo que a0 pensamento juridico cumpre assumic, em todos os seus mo- mentos e a todos os seus niveis, a inten~ Sdo-€ a fungio praticas (pratico-normati- vas) do direito, de modo que o sew uni versal objectivo — e, portanto, tam- : METODO JuRIDICO 218 bém odadogmitica juridica — niode- vera ser outro sendo 0 da normativa solu- io dos problemas pritico-sociais postos pela hist6rica realizagio do direito. Com © que a dogmética, como dimensio es- pecifica da pratica «ciéncia do direito» caberé a funcio de preparar ¢ orientar, mediante uma determinativa reelabora- Gio sistemitica do dircito positive, a normativo-judicativa. realizacho pritica do direito [sabre este sentido da dog- matica juridica, aliés ja expressamente proclamado pela Acjurisprudéucia dos interessesw, v. EB. Wieacker, «Zur pralk- tischen Leistung der Rechtsdogmatik, in Hermenentik und Dialekti, Gadamer— Fest., Il, pp. 311 e ss.; J. Esser, Vor~ verstandnis und Methoderwahl in der Rechtsfindang, 1970, pp. 87 ¢ 88., ¢ pas sim; id., «Methodik des Privatrechts», in Encyklopadie dev geisteswissenschaftli- chen Acitietboden, Methden cr Ret wissenschafi, pp. 19ess.;id., «MOglich- keiten und Grenzen des dogmatischen Denkens im modernen Zivilrecht», in Archiv fd. civ. Praxis, 172 (1982), pp. 97.¢s.; id., «Dogmatik zwischen ‘Theorie und Praxis», in Famdtionswandel der Privatrechtsinstitutionen, L. Raiser — Fest., pp. 517 ess.; U. Meyer-Cording, Kann der Jurist heute noch Dogmatiber sein?, pp. 20 ess. e 32 ess.) R. Alexy, Theorie der furistiseben Argumentation, pp. 307 ess.] —e assim codo 0 pensa- mento juridico se compreendera numa vocacio verdadeiramente pritico-juris- prudencial. Podendo entao dizer-se, com Burckhardr, que «a ciéncia do di- reito nao tem qualquer outra tarefa do que a pritica [...] a ciéncia ensina 0 método a pratica, a ciéncia do direito €0 metodo da pritica juridica» (ob. ait., pp. 16es.). Superagioesta —a melhor esclarecer injra — da essencial diferenga metédica entre uma actividade juris tie-sé pritico-«técnicay © uma activ dade juridica puramente eorético- scientifica. que todavia. no anula — como ja resulca do que vimos de zet — a distingio entre os dois mo- mentos metadoligicos (nao dois méto- dos, mas dois momentos ou dois poaras de vista diferenciaveis num método glo- balmente unitirio) da realizacio do di- reito: 0 momento de intengio directa 219 mente decisoria, em casufstica referén- ia a0 problema concreto (ao caio juri ico), € 0 momento de intengio direc tamente dogmética, em sistematica re- feréncia ao sentido unicério-instieuc nal da ordem juridica — ou seja, a pers- pectiva do problema e a perspectiva do sistema, ¢ enquanto perspectivas meto- dologicamence correlacivas e integradas (cf. infra). Pois se. judicativa decisao do caso, a judicativa solugio do problema, apenas seri correcta (vilida) se justifi- cada no e pelo sistema, também a de- terminagao ¢ elaboracao sistemética se teri de aferie pelo seu correcto (plau: vel) cumprimento na solugao dos pro- blemas — se ali o problema deve ter no seu horizonte o sistema ¢ convoca a dogmética que normativamenteo expli- cita, aqui o sistema deve considerar os problemas © convoca a «experimenta io» que Ihe impoe a judicativa casuis- tica. Tudo 0 que nos poe assim perante o quadro problemstico getal do M. J., suscitado pelo entendimento comum das fungoes dos juristas. Deparamos ai com actos normativamente hermenéuti cos © actos de determinagao dogmitica, ¢ bem assim com actos normativamente prescritivos ¢ actos judicativos, mas sem que tenhamos conseguido muito mais do que a justificagio de algumas per- guntas: ja quanto a indole metodolégica (praticamente uma técnica ou episte- mologicamente um método?), ja quanto 4 unidade ou & pluralidade metédica (exprimem aqueles virios actos uma di- versidade de métodos ou uma intengio metédica fandamencalmence unitacia?), Além de que método ou métodos, en- ‘quanto tais, que continuam fundamen- falmente por definir. Questées todas estas que nos obrigam a riudar de plano, ua passar a outro nivel de reflexio, se as quisermos correctamente considerar — pois para lhes respondermos no pode- ‘mos bastar-nos com descrever as activi dades a que sejam chamados os juristas, teremos de interrogar-nos sobre as exi- gencias metodolégicas que se implicam fos objectivos e nas estruturas intencio- ais do prdprio pensamento jurédico, 2—O pensamento juridico é aquele sector cultural em que se assume e cum- METODO JURIDICO 220 Pre o sentido com que o direito se com- preende a determinar as relagoes sociais, @ ordenar a convivéncia comunitaria — sentido esse que nao s6 se revela o regu- lativo constituinte do direito que nor- mativamente perspectiva essas relagies essa convivéncia, como € ainda o fan= damento tiltimo da solucio dos proble- ‘mas que ai se suscitam stub specie iuris (os problemas juridicos). Por outro lado, 6 universo juridico —o direico e a reali- dade histérico-social que cle ordena e estrutura— manifesta-se, como tal, em termos de uma intencionalidade con- sistente, como um «sistema» —como um subsistema do sistema cultural glo- bal —, e o pensamento juridico nao € senio a ratio desse sistema, € a «tazio juridica» do «sistema juridico». Pelo que 20 assumir 0 sentido fundamen- tante e normativamente constitutive do direito ¢ ao conferir com ele raciona- lidade ao sistema juridico, 0 pensa- ‘mento ou a tazio juridica acaba por sero intencional conssituens daquele sistema e da sua pritica — «é 0 motor em vireude do qual um sistema juridico se organiza de modo cocrente ¢ proprio para realizar Certos fins» , é «o que ditige esta activi. dade para a tealizagio dos seus fins» (André-Jean Arnaud, Critique de la rai- son juridique, pp. 20-27). Que tanto é dizer que sé no pensamento juridico, compreendido na sua indole e nos seus particulars objectivos intencionais, teremos verdadeiramente a chave para determinar o M. J., 0 fundamento cri- tico do entendimento metodolégico desse método: 0 M. J. seré a metédica propria do pensamento juridico, a me~ tédica especifica do seu modo de pensar ¢€ resolver os problemas juridicos. E nesta base tem-se ja tentado encontrar uum sentido essencial parao M. J., quer pela andlise da «estrutura» a que em ge- al corresponderia aquele pensamento (assim, Michel Virally, La pensée juridi- que, 1960), quet pela teoria universal do «jatzo» (prético-normativo) que 0 mesmo pensamento sempre realizaria (assim, Wilhelm Sauer, Juristische Methodenlehre, 1940), Mas em va, pois © pensamento juridico é uma entidade Gulturalmence histérica: € fungao de- certo da concepgio do direito € dos ob- 21 é jectivos priticos por que ele se orienta em cada época, mas nie menos do sen- cido fundamental da cultura englo- bante, do sistema cultural global, por- quanto ai se oferecem ja 0s ultimos re- ferentes intencionais (desde logo, os sisternas de valores comunitarios que direito nao deixa de assimilar), ja as s- noéticas que condicionam as possibilidades de pensar de qualquer pensamento integrado nesse mesmo sistema cultural. E este 0 momento cultural geral do pensamento juridico e igualmente do seu método — a expli- car-nos as suas profundas variagées dia- crénicas eas suas nao menores diferencas sincrOnicas. 4) — 4) Assim, poderd dizer-se que até a0 séc. XVIII 0 pensamente juridico se compreendeu como um capitulo da fifo- uofia prética ef. J. Habermas, «Die kklassische Lehre von der Politik in ihe rem Verhiiltnis zur Sozialphilosophie>, in Theorie und Praxis, cit., pp. 48 ¢ ss. ©, Schwemmer, Philosophie der Praxis (ed. Suhrkam 'Taschenbuch), 1980, PP. 24Gess.; W. Krawietz, ob. ¢ loc cits., p. 427]. Se a filosofia pritica de clissicas raizes gregas, sobretuco aris- torélicas, € repensada em perspectiva teolégico-crista pelo. pensamento me- dieval, procurava a solugio de cados as problemas da global praxis humana na ériea, nadouerina ética do bem eda jus- tiga, nfo foi na verdade cambém outro.o horizonte intencional a que se referia 0 pensamento juridico até entao, nao obstante as trés bem distintas modali- dades fundamentais (romana, medieval € moderna) em que se haverd de diferen- ciar essa atitude geral. Na diversidade cultural ¢ metédica que essas diferentes modalidades exprimiam —uma de sentido sobretudo prudencial, outra de sentido mais hermenéutico ea terceira jé de intengio racional (dedutivo-racio- nal)— e com a maior ou menor media- lo de um sistema de fontes normativas positivas que essas modalidades cam- bém diversamente invocavam, todas se propunham como solugio dos proble- mas juridicos 0 justo pritico (ético- -normativamente fundado) que 0 pensa- mento juridico referia para além das fontes positivas —o justo pritico que METODO JURIDIGO 2 secularmente se disse ins naturalis —, ¢ em termos de 0 direito cumprido ser fundamentalmente menos um consti- tuido do que um constituendo. Um normativo constituendo que objectiva- mente se manifestava nas suas constitu tivas determinagio ¢ realizacio, orien- tadas por aquele fundamento: entre a intengio do diteito e a intengao do pen- samento jutidico nao havia verdadeira diferenca, eram ambas intengdes ético- =ptiticas enormativas, eo direitoem boa parte, sendo no essencial, produto nor- mative desse pensamento, Com efeito, 0 *Direito Romano — re- ferimo-nos ao Direito Romano da época clissica, aquele que verdadeira~ mente especifica ius romanum e fex dele um modelo. inconfundivel ¢ nico na hist6ria universal do Direito (sobre este panto, assim como sobre as varias épocas € a evolugio do direito € pensamento juridico romano, v., por todos, F. Schultz, Roman Legal Science, 1967; L. Lombardi, Saggio sal divitto ginviiprucen- ziale, 1967, cap. I; W. Kunkel, Histé- via did derecho romano, crad. esp. da 4.* ed. de Rémische Rechtsgeschichte, Eine Einfubrang; T. Vienweg, Topik und Ju- visprudenz, cit., § 4.°; Alvaro D’Ors, Derecho privado romano, 21973, «Intro- duciom; Sebastiio Cruz, Direito Romano, 4." ed., pp. 39 € s5.; F. Elias Tejada, Tratadd de filosofia del derecho, 1. pp. 285 € ss.) — foi um caracteristico «direito de juristas» (nao um direito de legislagio, como o tinental ap6s o legalismo da codificacao, nao um direito jurisdicional, como o direito da Acommon Ja anglo-saxé- nica). Na auséncia de uma legislagio sistematica — entre a Lei das XI Ta- bbuas (meados do séc, Va, C.) € legis- lagio do Baixo Império, as deges (comi= Pasitivismo jnrédico), nos dois sentidos que a ex- pressio denota — quanto ao direito, re- Somhecia-o s6 como direite pusitivn; quanto a0 pensamento juridico, com- mento (como «ciéncia») desse direito po- sitivo, Devendo ja aqui acentuar-se que @ Ainterpretagio juridica tina agora uma indole exegética estrita — trata- va-se de uma filolégico-analitica inder= pretacio da teé que se distinguia da ance- rior (classica, sobretudo medieval e do direito comum) futerpresatio inris. Pois esta, como ja foi aludido, procurava através da exteusio degés e em termos am- plamence imveniend? um direito que os textos deviam exprimir, mas que se fundawa ¢ constituia para além deles (na aequitas, oa naturalis ratio, 1 ius nat vale), enquanco a positivista interpret gio da lei identificava o diteito com a lei € nio se propunha senio a exegética de~ terminagio do contetdo textual das prescrigdes legais. Por outro lado, a dogmatica continuow ou retomou no modus, como se vera a seguir, as-caracte~ fisticas. sistematico-dedutivas do pen- samento juridico moderno, mas as suas referéncias constitutivas deixaram de ser jd valores e principios praticos, ja pos tulados especulativos de uma qualquer filosofia também pritica, para serem antes categorias estruturas légico-con- ceituais. Interpretativo-dogmatico co- nbecimento este do direito positivo vi- gente-¢ com uma indole marcadamente logico-formal, que se viria a proclamar, por razdes a que cambém aludiremos, «ométodojuridico» ,averdadeiroM.J.— assim, expressamente, de Gerber € L: band (v. Walter Wilhelm, Zur juristis- chen Methodenlebre im 19. Jabrhundert, aps. Ill-¢ 1V) a E. Forsthoff (v. Zar Pro- blematit der Verfassungsauslegung, 1961, p. 40). © pensamento juridico actual € decerto diferente © de uma metédica nio s6 die 233 METODO JURIDICO versa como bem mais problemitica. No entanto, aquele método continua a ser o referente histérico da situag3o me- todolégica contemporinea (um exemplo impressivo disto mesmo temo-lo numa monografia relativamente recente do pensamento metodoldgico-juridico alemao: Gewissbeisseerluste im juvistischen Denker, Zur politischen Funktion der jar ristischen Methods, de G. Haverkate, 1977). Pois na actual situagio metodo- logica reconhecem-se duas linhas fun- damentais em que 6 indispensivel essa referéncia. Uma dessas linhas comecou a afirmar-se ma critica do «método jus dico» pelos movimentos de orientagia pritica surgidos na passagem do século anterior para 0 nosso; atingiu o nivel de revisdo teflexiva na Methodensineit das primeitas décadas de Novecentos, pela qual se consumou a superacio da inten- $80 teorética € [6gico-formal daquele método por uma intengio normativa e pratico-teleolégica, fosse de maior sentido finalistico-sociolégico, fosse de maior acento axiolégico-cultural; e assumiria, jt depois da IT Guerra Mundial, um ca tiz explicitamente jurisprudencial, em sentido proprio © mesmo classico res urado (de sentido problemécico-té- pico, dialéctico-argumentativo, her menéutico-judicativo, etc). Uma outra linha manceve-se fiel & intengao «cien- tifica» (tearético-cognitiva € nao nor. mativo-jurisprudencial) da mecodoloy positivista, mas para a orientar num sentido diferente que satisfizesse as ac- tuais exigéncias epistemoldgicas — ja radicalizando-se num sentido teorético analitico-descritiva estrito (assim nas corientagbes metédicas analiticas € logi- co-linguisticas), jd substituindo o dog- mitico. pelo estratégico politico ou pelo finalismo tecnolégico e para que o pen- samento juridico se possa inserir no quadro epistemolégico das ociéncias so- Ciais». Pér tudo isto em evidénciaéo que visam os desenvolvimentos seguintes, come- gando por uma referéncia um pouco mais detida, ¢ justificada pelo que jd se disse, a «o método juridico» positivisea. 4) Antes disso, porém, nia podemos omitir uma breve alusio a um outro universo juridico, no qual canto o res- 24 pectivo pensamento come a correlativa metédica nao s6 nao repetiram a evolu ao histérica que ficou esbogada, como sempre se mostraram de uma particular especificidade. Como inceresse ainda de se term tornado esse outro pensamento € a sua metédica como que um padrao metodolégico a ter em conta no actual pensamento juridico de recuperacio ju- risprudencial — a partir sobretudo da obra de J. Esser, e com particular re~ levo asua monografia Grundsatz und Norm in der vichtelicben Fortbildung des Provat- rechts, 1956, “1974. Estamos a referir- “NOs ao pensamento e aos mérodos juri- dicos anglo-saxénicos ou da common law. E, quanto a eles, um t6pico desde logo justificadamente invocado € © paralelo com o pensamento juridico romano (v. G. Radbruch, Der Geist des englischen Rechts, 4% ed.; J. P. Brutau, La juris Prudence come fuente del derecho, pp. 87 € ss.). Por um lado, o diteito € compreen- dido também. ai ‘como a expressio de uma razio pritica (right reason) — v. H. A. Schwarz-Liebermann von Wahlen- dorf, «Les notions de right reason et de reasonable man en droit anglais» , in Ar- chives de Philosophie du Droit, 23 (1978), pp. 43 ess. —em que se manifesta octhas comunitério (as validades ético-sociais) decantado por uma tradigio histOrico- cultural que se vai assumindo numa experiéacia judicativo-jurisdicional; por outro lado, ¢ igualmence o resultado de uma jurisprudéncia decisoria, nao um corpo de normas légico-sistema- ticamente prescritas para uma aplica~ cio furura e uum conjunto de topo ou s«regras de decisio» obti- das, com fundamenco naquela reason ¢ em concreta atenglo & 7'«natureza das eoi- Sise, na ptépria decisio judicativa das controvérsias juridico-sociais (dos casos juridicos). Com a diferenca de 0 papel que coubera a0 jurisconsulto romano ser agora desempenhado pelo juiz, pois 0 direico da common law & um direito juris- dicional ou de criagio judicial (jadge made Jaw) € no rigorosamente um «direito de juristas», Dafa sua indole essencial- mente casuistica (case Lato), € muito embora do conjunto das decisies norma- tivas se vio inferindo prinespios que sua concordincia pritica no deixam 25 “meTonO yuRiDIco D6 de garantir a unidade global do di- reito (v. J. Esser, ob. cit., pp. 183 €55.). dodole casuistica que a propria existéncia de leis parlamentares (statue law) no anula —nio obstante elas preferirem, no ‘quadro formal das fontes do dircito, as decisées judiciais ¢ os seus precedentes (cf. HL. A. Hare, Le concept de droit, trad. fe. de M. V. de Kerchove, p. 128)—, porque sioessas leissemprede ‘bjecto limitado ou com vista tio-s6 a problemas particulares (ainda aqui em semethanga as deger romanas) ¢ logo se -véem reabsorvidas pelo judicial common Jaw, através das decisées que as aplicam ‘€ que passam a invocar-se como prece- dentes em vez das normas legais. E in- dole casuistica esta do direito anglo-sa- xénico, diga-se ainda, que se cem man= tido até aos nossos dias, devido certa- mente ao cardcter nacional € as tradighes -culturais que Ihes estio na base, mas @ cuja possibilidade nao foi também alheio 0 facto de nao se ter verificado no espace juridico-cultural que Ihe corres- ponde a recepgio do Direiro Romana, do Conpus iuris civilis justinianeu (cf. Radbruch, 9b. cit.,). Pois foi decerto essa recepgi0 um dos factores determi- nantes da orientagio do pensamenco ju- ridico europeu continental, ao conver- té-lo a uma juridicidade hermenéutico- -textual e logico-dialéctica em que teve, por sua veze come vimos, como um das seus pressupostos 0 normativismo juri- dico. Trata-se, por isso, de «um direito do caso particular, ¢, assim, de uma massa juridica fluida © codavia densa, que se encontra num movimento conti- nua, sem saltos mem fracturas; as forgas propulsivas deste movimento sio o bem comum (public policy) e especialmente a justigae a equidade» (Radbruch) — «0 que faz com que o direita positivo, de~ positado na tradigéo ¢ interpretado por tum corpe juridico fechada em si mesmo € zeloso da autonomia da propria fun- $40, corresponda continuamente as si- tuagbes novas da vida regulando-as se- gundo os valores profundamente radi- cados na consciéncia popular e dificil- ‘mente redutiveis a fins politicos contin= entes, como ao invés acontece no sis- tema continental» (A. Baratta, na sin- teoduziones a trad. cit, da ob. at. de Radbruch, tI1). Prudencial equilibrio assim entte a estabilidade ¢ # evolu- ¢0 — «0 problema capital» do pensa- mento juridico como acentua R. Pound com boas razies (Interpretation of Legal History), — que a common law consegue justamence através do seu regime ou ‘método de precedentes judiciais vincu- Jantes (stare decisis). Ja que opera esse fegime ndo 56 com a disct ago entre as fundamentantes ratiomes decidendi e os biter dictum do dispositivo decisério que se considera vinculante, como ainda num permanente processo de distinguise hing entre os casas decididos € 0 caso decidendo mediante um juizo de pon- deragie analégiea tendo em conta ascir- cunstiincias relevantes — e que pode ir mesmo, embora excepcionalmente, até A recusa da vinculagio a0 precedente ‘com fundamento de ser 0 seu contetido decisério «plainly wnreasonable ou , © mo- mento metédico da elaboragio dos con- ceitos ¢ do seu sistema. Sistema concei- tual a que sempre se haviam de reduzic os contetides juridicos obtidos do di- reito positive pela imeerprecagio — nessa redugio consistia no essencial a construgdor juridica — e para conse- uit desse modo um duplo objectivo metodoligico. Acravés da assimilagao do direico positivo pela conceitualizagao sistemitica, ¢ com os desenvolvimentos Iogicos que essa assimilagio permitia (desenvolvimentos que justificariam ‘mesmo a imputagio 2 «ciéncia do di- reito> de uma possibilidade produtiva, «a forca produtiva dos conceitos» se~ gundo Ihering), atingir-se-ia a totali- dade facional do sistema juridico, a «plenitude ligica do sistema» , que Ihe excluiria as lacunas; através dessa mesma determinagio ‘sistemético-con- ceitual podia orientar-se logicamente (ceorético-«cientificamente») 2 propria aplicagao concreta do direito, mediante a subsungio dos casos decidendos aos sisteméticos conceitos determinativos das normas apliciveis, convertendo as- sim essa aplicagio numa operagio Ibgi- co-dedutiva. No que se reconhecerd um tipo de pensamento logico-sistemati- camente construtivista ¢ dedutivo de todo andlogo, no modus operandi, a0 que fora proprio do jusracionalismo mo- derno — e a justificar que, com Kos- chaker, se diga que «a pandectistica alema cra a continuagio do direito na- tural com outros meios~ (no mesmo sentido, v. F. Wieacker, 0b. cit., p. 430). positivismo juridico que n0s legou 0 séc. XIX mais nao foi, pois, do que a sintese destas duas correntes. Encon- trando-se ambas no momento herme- 245 * METODO JURIDICO 246 néutico —as interpretagdes preconiza- das pela escola da exegese ¢ pela pan- dectistica eram fundamentalmente idénticas —, a segunda pode completar a indole tio-s6 exegética da primeira com uma dimensio sistemético-con- ceitualmente dogmatica, que permitia dizer «ciéncia do dircito» © global pen- samento juridico assim constituido. Desse modo se generalizou a defin cio metodoligica dessa «ciéncia do di reito» pelos trés momentos da inser= pretax, conccituasliaagia ¢ sistemaizagao Iv. L. Cabral de Moncada, «Episcemo- logia juridica», Boletim cit., XXVI (1950), pp. 166-¢ ss.], a que $6 se se- guiria 0 acto «técnico» da aplicagio. ‘Acto técnicoesta diltima, uma-ver que se vio reconhecia na realizagio do direito um problema metodolégico especifi nao apenas porque & ciéncia do direito competiria conhecer o direito e no apli- caelo (assim, expressamente, A. Baum- garven, Die Wissenschaft vom Rechi und thre Methode, 1, pp. 203 € ss.), mas ainda porque se considerava aquele pro- blema reducivel a uma mera dedugao silogistico-subsuntiva, a uma operagio «puramente légica» ¢) Se nestes termas se confirma que «o método juridico» mais nao era do. que a explicita e depurada definigao metédica da ciéncia positivista do dircito, elabo- tada ao longo do séc. XIX, podemos também agora concluir, numa sintese, que ele levava referido um pensamento juridico estrucurado pelas seguintes co- ‘ordenadas metodoligicas: 1) @ diteito seria, para esse pensamento, uma ¢mti- dade rational subsistente em si —subsis- tente numa imanente e estruturada ra- cionalidade, suscepcivel como tal de ser considerado em termos absolute-dog- miticos (nko relativo-funcionais) —, i. €, como um sistenta adténome perante heteronomas referéncias ético-culturais, politico-sociais, econdmicas, etc.; 2) nessa sua dogmitico-racional subsistén- cia, o direito constituiria um sistema normative unitariamente comsistente (sem consradicoes), plewa (sem lacunas) e fecbacdo (aute-suficiente); 3)-0 pensamenco ju dico, em si mesmo, ceria correlativa- mente uma indole objectivo-imtelectual ¢ lé- gitorteorética, indo-lhe excluidas norma- tivas ponderagies axiolé; ou con- cretas valoragies teleolégicas —perven- ceria & «rizio te6rica», no a «razio pratica» —, pois actuaria em termos 16- gico-analiticos ¢ sistematico-concei- tualmente dedutivos; 4) dai que a vali dade dos juizos juridicos ou a funda- mentagio juridica nio se aferisse por re~ feréncias axiolégico-normativas ou por quaisquer intengbes praticas que, res- pectivamente, o direito houvesse de as- sumir e cumprir, mas pela coeréncia sistemética num’ quadro_ dogmético- conceitual — 0 discurso juridice seria um discurso puramente «sintactico um discurso «formal» ¢ nao

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