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Capitulo g Arquivos e meméria cole. Mais que uma metéfora, menos que uma analogig MARGARET Hepy ‘Nao chega a ser surpresa o numero crescente te der of sia social, publica e coletiva na literatura 1iv os arquivos costumam ser tratados como teveinicio na feds de 1980 e coincidiu com o epublicagdes sobre a eee nas Ciencias soci Be iico os temas-chave no campo dc entes 4 ciéncia arquivistica, além sno intuito de aprofundar hadas pelos arquivistas junto a opto cessual (ou implicita), A meméria declarat seméria semantica (de fatos e conceitga subi, spmoragao que um individuo possui suas peop ican gua participagao e eventos). Os Cientistas da cogs. tistas também se interessam pela Mecanica da Senco Cos: a informagao € codificada, armazenada NO cérebro @ ¢ OU sobre coma. p(vel molecular atéo nivel do sistema nervos, aopanaqee desde 9 puscam compreender os aspectos comportamentais dam SPSicélogos selagoes coma inteligéncia ea emogao individual desdoucape aad tedrico, empirico e clinico.* 0 Arquivos sio comparados metaforicamente muitas vezes por meio de uma das diversas yento do cérebro humano e as maneiras Pode 08) ememéris on com meméria ing analogias entre o fy com que instrun ‘nos de registro codificam e armazenam informagoes, apeia a evolugao historica das ideias sobre a mente e ‘meio de metéforas inspiradas em novas técni ao e Arist6teles recorreram a fluidez da tabuleta ¢ capacidade da mente de armazenar e ap do ramo dos estudos sobre a memoria interessa-se , emOria Se entrecruza com OS processos Sociais que } individual, a coesio comunitiria e a conse} cidlogos que estudam a memoria i ‘ae -maneiras com que am § coon eso ae mo a interagao social influenciaa fo também se jnteressam em CO! c dividuos lembram fatos e experiéncias. Frederic Barth ie os in com qué icdlogo a demonstrar que as forcas sociais influenciam a eiro psi Oe ae Polo como o conteiido da lembranga individual através de seus | experimentos € observacdes envolvendo estudos do folclore e interagies de grupos.’ Aabordagem subjetivista da meméria individual sonda ossig. dos que os individuos conferem a sua identidade e experiéncias por ‘meio de rememoragao, manipulagao e supressio da meméria. Da ‘forma, a abordagem sociocultural da meméria tenta compreender c de um individuo sao moldadas pelos contextos sociais em que sao formadas e reconstruidas. Essas abordagens 1s da memoria compartilham a pressuposicao apenas armazenadas e recuperadas como acdes entre circunstancias passadas e pr de identidade e d, eriem um senso ‘© Comunidade, in Marie Halowachs emtrabalhos das deeadaad ee frances tou gu identidades individuais e comunitans, an ae argumen. tica do compartilhamento de memérias com base em institu Sela ee centais a familia, a religiao ea classe soci ae es criam og T meio da repetics rativas e da pratica de costumes e rituais, Embora as dene ee a tenham permanecido em siléncio até a Tetomada do interesse n0 tem; da memoria social na década de 1980, ele deu duas importantes a buig6es para nosso entendimento da memiéria coletiva, Ele esteve entre os primeiros a defender que, embora aqueles que lembram sejam os in- | dividuos, suas memorias sio moldadas pela Participacio em grupos so- Giais € instituigoes. Fazendo distingao entre og Pensamentos dogmitico e mistico no cristianismo, Halbwachs defendia também que as “memérias” _ persistem por longos periodos através da adaptacao recorrente de-velhas “Adeias a novas circunstancias sociais e culturais, 0 que € suficiente para lientar ideias que garantem sua prética continuada em ceriménias ais religiosos."' A meméria cultural é valorizada nao por causa de lao hist6rica, mas de sua capacidade de estabelecer Ppassado e o presente. = ‘© da natureza fragmentéria e irregular i sua redescoberta desencadeou g Tocais para o exercicio da meméria coletiva po € aprofundou nossa compreensao mentou fortes debates em t omover coesao social, estabelecer ou legitimar a autoridade ou mo] eiey identidade nacional OU étnica.!’ Diversos estudos examinaram pees da tradigao e da construgao social Aa pasado aifende jdentidades nacionais, perpetuar legados ee e valorizar en 4 dominagao. Pesquisas sobre 2 imposigio da tradicao or pod hegeménicos costumam apontar para documentos de arquivo na form piografias e autobiografias, mapas, censo de jornais, grades curriculares, : y imagense documentos oficiais, além deinstituicdes culturais como musey e monumentos, como fontes que S40 mobilizadas ou manipuladas pay oferecer suporte a interpretagoes particulares do passado ou ilust de metanarrativas.'* Representaoes do passado também podem ser mobilizadas. fontes de resisténcia a redes estabelecidas de poder e autoridade e ergentes. Eventualment meios de criar coes4o em comunidades em: comunidades se voltam para cancoes, narrativas, lendas, rituais s fontes semelhantes que haviam sido excluidas do cinone oficial jetivo de redescobrir ou recriar oposigdes contramemorias. O ‘meméria social revelou grande variedade de instrumentos de: que desafiam a centralidade do arquivo, mesmo quando est do numa acepao ampla, para a formagao da meméria ‘Paul Connerton investigou como a memoria é transn historiadores sao parte central da cliente, Documentos de arquivo, muitas vezes, la das instituicdes arquivisticas, influenciam indiretamente a per- Seu passado através Seguida interpretam quanto para os leitores stéria, no entanto, é dificil est simples de causas e efeitos. A questéo da meméria inaugurou duas amplas linhag de pesquisa na historiografia. Uma dessas areas diz Tespeito a “histéria da memé; en- quanto fendmeno social, cultural e cientifico Profundamente imiscuido tanto nos modos tecnoldgicos de registro, atmazenagem e transmissio de informag6es quanto nas respostas filoséficas, cientificas e sociais as novas possibilidades tecnol6gicas. O estudo realizado por M. T. Clanchy sobre ‘os documentos escritos de antigas transages na Inglaterrae o trabalho de Elizabeth Eisenstein sobre a invengao da imprensa e seu impacto sobrea siéncia e a religiio sio exemplos conhecidos que situam novos : tecnologia de meméria no centro de uma revolugao intelectual. as iltimas décadas, especialistas vém explorando mudan de meméria que acompanharam os seguintes avancos: éscrita numa cultura exclusivamente oral; o desenvolv meios de reprodugao ou circulagao de textos; os uso: da mediaga0 dos historiadores que selecionam e egy fontes arquivisticas tanto para os leitores comuns especializados. A relacio entre memétia e hi de desembaralhar ou destilar numa sequéncia : de revelar através dos arquivos. O uso dos tragos de me; | como font historia foi motivado pelas limitagdes dos acervos por sua tendéncia a documentar os aspectos formais e explicitos dj vida de individuos que haviam ocupado situacoes de autoridade. presenga de questoes fundamentais acerca da comprovagao histér; papel do arquivo na constituicao da memoria é percebida do debate hist6ria/memoria. Para alguns especialistas, a rtese da historia devido a credibilidade que a primeira e também devido ao oportunismo presente em sua | Se Halbwachs tem razao ao afirmar que as memoér : 6 intrinsecamente problematica: uma yez We o pasado ¢ scteaene [0 de , tramente, a6 Feconstrusdes Geta dele sao inveritegeg ePee® dein © Portanto, intrin. secamente arbitrérias. Para os defensores da disciplina, no NO entanto, um ¢ » um coe hecimento realmente significativo do passade Se toma possi historiador aplica métodos criticos, de forma regular e oe S quando o nite, 20s abjetos (normalmente documentais) que ‘epresentam os tracos sobreyi a eviventes do passado e das experiéncias. A resolucao desse debate talvez dependa em que estd sendo lembrado, qual histéria est sendo cia de questoes acerca do passado em relacao a ter Brande medida daquilo escrita e qual a relevan- ‘mas e politicas contem- porineos. Nos casos em que as Tepresentagoes do passado — veiculadas em narrativas, can¢Ges, tradi¢des e outras Praticas— sao confirmadas pelas interpretagdes historicas, a memoria coletiva pode acrescentar certas nu- ances e detalhes aquilo que se sabe sobre o passado. Mas em situagoes em que as interpretagoes do passado transmitidas pela meméria tram em conflito com as interpretagées histéricas consa nao em provas histéricas, e as memérias so a tinica para o pasado, as representagdes miticas, ainda que im ter maior veracidade. ¥ Aconturbada relacao entre histéria e meméria | atuais quando a necessidade de justificar ar contemporineas, minosos aos tribunais, oferecer compensagao a vitimas e criar ¢ de reconciliagao depende de se resolver 0 descompasso entre 9 exto e o passado enquanto experiéncia. O uso dememéyi estemunho e demais tragos de meméria como provano mudangas sociais abruptas e eventos t enquanto ts téria oral, t de regimes repressores, torna-se ainda mais complexo, porque, em muitos casos, as provas mentais foram distorcidas, classificadas como confidenciais ou destruf deixando as testemunhas e os relatos pessoais como unicas fontes alte tivas na busca por se revelar o que porventura tenha ocorrido.” Os estudos sobre a meméria oferecem um conjunto rico d que dizem respeito as ideias centrais da ciéncia arquivistica, m nao surgiram respostas simples e consistentes para o problema do entre arquivo e meméria. A partir dos estudos sobre a arquivistas podem se inteirar de que os conceitos de memé6ri manifestages individuais e coletivas, evoluiram, muitas é praticada de variadas formas em diferentes grupo: tas, e sua importincia para a coesio social, a ident e intangiveis de memoria como fontes de co do, o papel dos arquivistas na moldagem dameméria coo © passa- da avaliagao e da descricao dos arquivos, a mon ia “tiva por meio outros fornecedores de meméria e 0 uso do arquivo nar Re memérias que haviam sido suprimidas oy perdidas. ‘Constituicao de Inicialmente, parte do interesse demons ve trado por arquivis z lagio aos estudos sobre a meméria referia-se a0 itpace dee ae nismos externos de documentagio — da escrita & memoria com TnEGi nal - sobre o armazenamento de dados © sua transmissao durante longo perlodos. Para os arquivistas, a literatura nascente sobre a relagio entre. meméria e oralidade, letramento, escrita e novas tecnologias de tro coincidiu com o desconforto generalizado e as Preocup: ordem pragmatica com o impacto da tecnologia computaci documentos eletronicos sobre a arquivistica. Em busca de prec histéricos e informacoes Praticas, os arquivistas se voltaram ratura sobre modificagoes anteriores softidas pelas tecnolo Prever © responder ao impacto das midias digitais. Hugh Tay O'Toole apresentaram as pesquisas de M. T. Clanchy, Harold Innis, Marshall McLuhan, Walter Ong, entre outr dade arquivistica.** Parte do trabalho desses dois autore entre a transmissao oral de informagao nou-se canénica na arquivologia e leitura __universitarios da area. 7 exclusivamente técnica e Jiteratura a respeito de mo! terion

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