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A CRIAÇÃO DA TERRA

Olorun, Deus supremo, criou um ser, a partir do ar, que havia no início dos tempos e das primeiras águas.
Esse ser encantado, que era todo branco e muito poderoso, foi chamado Oxalá.

Logo em seguida, criou um outro orixá que possuía o mesmo poder do primeiro, dando-lhe o nome de
Nanã.

Os dois nasceram da vontade de Olorun de criar o universo.

Oxalá passou a representar a essência masculina de todos os seres, tornando-se o lado direito de
Olorun. Nanã, por sua vez, teria a essência feminina, e representaria o lado esquerdo.

Outros orixás também foram criados, formando-se um verdadeiro exército a serviço de Olorun, cada um
com uma função determinada para executar os planos divinos.

Bará foi o terceiro elemento criado, para ser o elo de ligação entre todos os orixás, e deles com Olorun.

Olorun confiou à Oxalá a missão de criar a Terra, investindo-o de toda a sabedoria e poderes necessários
para o sucesso dessa importante tarefa.

Deu a ele uma cabaça contendo todo axé que seria utilizado.

Oxalá, orgulhoso por ter recebido tamanha honraria, achou desnecessário fazer as oferendas a Bará.

Bará, vendo que Oxalá partira sem lhe fazer as oferendas, previu que a missão não seria cumprida, pois,
mesmo com a cabaça e toda a força do mundo, sem a sua ajuda não conseguiria chegar ao local indicado
por Olorun.

A caminhada era longa e difícil, e Oxalá começou a sentir sede, mas, devido à importância de sua missão,
não podia se dar ao luxo de parar para beber água.

Não aceitou nada do que lhe foi oferecido, nem mesmo quando passou perto de um rio interrompeu a
sua jornada. Mais à frente, encontrou uma aldeia, onde lhe ofereceram leite de cabra para saciar sua
sede, que também foi recusado.

Todos os caminhos pareciam iguais e, depois de andar por muito tempo, sentiu-se perdido.

De repente, ele avistou uma palmeira muito frondosa, logo à sua frente, Oxalá, já delirando de tanta
sede, atingiu o tronco da palmeira com seu cajado, sorvendo todo o líquido que saía de suas entranhas,
era vinho de palma.

Embriagado pela bebida, desmaiou ali mesmo, ficando desacordado por muito tempo.

Bará avisou Nanã que Oxalá não havia feito as oferendas propiciatórias, por isso não terminaria sua
tarefa. Ela, agindo por conta própria, resolveu consultar um babalaô para realizar devidamente as
oferendas.
O sacerdote enumerou uma série de coisas que ela deveria oferecer, entre elas um camaleão, uma
pomba, uma galinha com cinco dedos e uma corrente com nove elos.

Bará aceitou tudo, mas só ficou com a corrente, devolvendo o restante à Nanã, pois ela iria precisar mais
tarde. Outros sacrifícios foram realizados, até que Olorun a chamou para procurar Oxalá, que havia
esquecido o saco da criação com o qual criaria a Terra. Nanã, após terminar suas oferendas, foi atrás de
Oxalá, encontrando-o desacordado próximo ao local onde deveria chegar.

Ao saber que Oxalá havia falhado em sua missão, Olorun ordenou que a própria Nanã prosseguisse
naquela tarefa com a ajuda de todos os orixás.

E assim foi feito. Nanã pegou o saco da criação e o entregou à pomba, para que voasse em círculo.

A galinha com cinco dedos foi solta, para espalhar aquela imensa quantidade de terra, e, finalmente, o
camaleão arrastou-se vagarosamente, para compactá-la e torná-la firme.

Quando Oxalá acordou, viu que a Terra já havia sido criada, e não o fora por ele. Desesperado, correu até
Olorun, que o advertiu duramente por não ter reverenciado Bará antes de partir, julgando-se superior a
ele.

Oxalá, arrependido, implorou perdão.

Olorun, deu-lhe uma nova e importantíssima tarefa, que seria a de criar todos os seres que habitariam a
Terra. Desta vez ele não poderia falhar!

Usando a mesma lama que criou a Terra, Oxalá modelou todos os seres, e, insuflando-lhes seu hálito
sagrado, deu-lhes a vida.

APRENDEU A PRODUZIR A COR BRANCA

Certa vez, quando os orixás estavam reunidos, Oxalá deu um tapa em Bará e o jogou no chão todo
machucado; mas no mesmo instante Bará se levantou, já curado.

Então Oxalá bateu em sua cabeça e Bará ficou anão; mas se sacudiu e voltou ao normal.

Depois Oxalá sacudiu a cabeça de Bará e ela ficou enorme; mas Bará esfregou a cabeça com as mãos e
ela ficou normal.

A luta continuou, até que Bará tirou da própria cabeça uma cabacinha; dela saiu uma fumaça branca que
tirou as cores de Oxalá.

Oxalá se esfregou, como Bará fizera, mas não voltou ao normal; então, tirou da cabeça o próprio axé e
soprou-o sobre Bará , que ficou dócil e lhe entregou a cabaça, que Oxalá usa para fazer o branco.
BEBEDEIRA

Oxalá pôs-se a caminho apoiado num grande cajado de estanho, seu òpá osorò ou paxorô, para fazer
cerimônias.

No momento de ultrapassar a porta do além, encontrou Bará, que, entre as suas múltiplas obrigações,
tinha a de fiscalizar as comunicações entre os dois mundos.

Bará descontente com a recusa do grande orixá em fazer as oferendas prescritas, vingou-se o fazendo
sentir uma sede intensa.

Oxalá, para matar sua sede, não teve outro recurso senão o de furar com seu paxorô, a casca do tronco
de um dendezeiro.

Um líquido refrescante dele escorreu: era o vinho de palma. Ele bebeu-o ávida e abundantemente. Ficou
bêbado, e não sabia mais onde estava e caiu adormecido. Veio então Olófin-Odùduà, criado por
Olodumaré depois de Oxalá e o maior rival deste.

Vendo o grande orixá adormecido, roubou-lhe o "saco da criação", dirigiu-se à presença de Olodumaré
para mostrar-lhe o seu achado e lhe contar em que estado se encontrava Oxalá.

Olodumaré exclamou: se ele está neste estado, vá você, Odùduà! vá criar o mundo !

Odùduà saiu assim do além e encontrou diante de uma extensão ilimitada de água.

Deixou cair a substância marrom contida no saco da criação.

Era terra. Formou-se, então, um montículo que ultrapassou a superfície das águas.

Aí, ele colocou uma galinha cujos pés tinham cinco garras. Esta começou a arranhar e a espalhar a terra
sobre a superfície das águas.

Onde ciscava, cobria as águas, e a terra ia se alargando cada vez mais, o que em iorubá se diz ilè nfè,
expressão que deu origem ao nome da cidade de ilê ifé.

Odùduà aí se estabeleceu, seguido pelos outros orixás, e tornou-se assim o rei da terra.

Quando Oxalá acordou não mais encontrou ao seu lado o saco da criação .

Despeitado, voltou a Alodumaré.

Este, como castigo pela sua embriaguez, proibiu ao grande orixá, assim como aos outros de sua família,
os orixás funfun, ou orixás brancos, beber vinho de palma e mesmo usar azeite-de-dendê.

Confiou-lhe, entretanto, como consolo, a tarefa de modelar no barro o corpo dos seres humanos, aos
quais ele, Olodumaré, insuflaria a vida.

Por essa razão, Oxalá também é chamado de Alámòrere, o proprietário da boa argila. pôs-se a modelar o
corpo dos homens, mas não levava muito a sério a proibição de beber vinho de palma e, nos dias em
que se excedia, os homens saiam de suas mãos contrafeitas, deformadas, capengas, corcundas.

Alguns, retirados do forno antes da hora, saíam mal cozidos e suas cores tornavam-se tristemente
pálidas: eram os albinos.

Todas as pessoas que entram nessas tristes categorias são-lhe consagradas e tornam-se adoradoras de
orixalá.

Mais tarde, quando Orixalá e Odùduà reencontraram-se, eles discutiram e se bateram com furor.

CONDENAÇÃO

Airá, aquele que se veste de branco, foi um dia às terras do velho Oxalá para levá-lo à festa que faziam
em sua cidade.

Oxalá era velho e lento, Por isso Airá o levava nas costas. Quando se aproximavam do destino, vira a
grande pedreira de Xangô, bem perto de seu grande palácio. Xangô levou Oxalufã ao cume, para dali
mostrar ao velho amigo todo o seu império e poderio.

E foi lá de cima que Xangô avistou uma belíssima mulher mexendo sua panela.

Era Oiá! Era o amalá do rei que ela preparava!

Xangô não resistiu à tamanha tentação.

Oiá e amalá! Era demais para a sua gulodice, depois de tanto tempo pela estrada.

Xangô perdeu a cabeça e disparou caminho abaixo, largando Oxalufã em meio às pedras, rolando na
poeira, caindo pelas valas.

Oxalufã se enfureceu com tamanho desrespeito e mandou muitos castigos, que atingiram diretamente o
povo de Xangô.

Xangô, muito arrependido, mandou todo o povo trazer água fresca e panos limpos.

Ordenou que banhassem e vestissem Oxalá.

Oxalufã aceitou todas as desculpas e apreciou o banquete de caracóis e inhames, que por dias o povo
lhe ofereceu. Mas Oxalá impôs um castigo eterno a Xangô.

Ele que tanto gosta de fartar-se de boa comida.

Nunca mais pode Xangô comer em prato de louça ou porcelana.

Nunca mais pode Xangô comer em alguidar de cerâmica. Xangô só pode comer em gamela de pau, como
comem os bichos da casa e o gado e como comem os escravos.

CRIAÇÃO DA MORTE

No começo o mundo era formado somente por pântanos e água. Os orixás todos moravam no céu e só
desciam de vez em quando para correr e se divertir nas águas. Olorum chamou então Oxalá e disse-lhe
que gostaria de criar terra firme no mundo que afinal não tinha graça nenhuma era uma imensidão de
água e nada mais.

Confiou-lhe então essa tarefa, já que ele era o seu primogênito.

Para a execução do feito, cedeu a Oxalá um pombo, uma galinha com pés de cinco dedos e uma concha
de terra.

Ao chegar ao pântano, Oxalá depositou a concha e soltou o pombo e a galinha sobre a terra que
imediatamente começaram a ciscar e espalhá-la por todo o espaço.

Em pouco tempo o barro transformou-se em solo e cobriu grande parte das águas.

Oxalá, voltando ao céu, apresentou-se a Olorum e transmitiu-lhe o sucesso da empreitada.

Este enviou um camaleão para ver se tudo estava a contento. Estava.

A terra já era firme e poderia viver-se com segurança em sua superfície.

Esse local foi chamado de Ifé que quer dizer ampla morada.

Olorum então ordenou que seu filho descesse e plantasse árvores, o que ele fez com presteza.

Logo vieram as chuvas para regá-las, e assim, em quatro dias, foi criado o Ifé e tudo que nele existe.

Olorum deu ainda a Oxalá a honra de modelar o homem e a mulher feitos do barro do pântano.

Quando modelados, levou-os até Olorum que, soprando seu hálito divino, deu-lhes vida.

O mundo então se completara e todos louvaram e deram graças a Olorum e a Oxalá.

O homem, então, povoou a terra e passou a dar oferenda a todos os orixás que eram os senhores de
cada segredo e cada mistério e, como sempre eram lembrados, nada deixavam faltar aos homens.

Em certa ocasião, porém, os habitantes de Ifé perceberam que eram imortais, logo, não tinham que dar
oferenda nenhuma a orixá nenhum, pois também eram deuses e essa falsa ilusão os deixou felizes e com
enorme sentimento de liberdade, agora poderiam fazer de tudo, nada para eles era proibido,
comparavam-se aos deuses e festejavam com alegria a grande descoberta.

Oxalá ficou muito magoado e deprimido com tais desmandos de seus filhos, abandonou a terra e foi
morar no espaço sagrado junto com todos os orixás.

Lá chegando, pensou, pensou e chegou à conclusão que os homens tinham que ser castigados, assim
aprenderiam que não podiam se comparar aos orixás.

Então criou Icu, a morte, e deu-lhe a tarefa de fazer morrer a todos. Somente impôs uma condição: a
morte pode levar qualquer um, sem exceção, mas a hora quem decide é Olorum.

Icu mata, mas o mistério existente em torno do momento final pertence, exclusivamente, a Olorum.

DESCOBERTO

Nanã pediu a Oxalá que lhe desse um filho, o que Ela não sabia é que em outra ocasião, bebera com
Oxalá o suco de ìgbìn, que é o próprio sêmen do Orixá.

Logo, passou a ter o mesmo sangue de Oxalá, o que fez com que Omulu nascesse todo deformado.

Desgostosa com o aspecto do filho, Nanã o abandonou na beira da praia, para que o mar o levasse.

Um grande caranguejo encontrou o bebê e atacou-o com as pinças, tirando pedaços de sua carne.

Quando Omulu estava todo ferido e quase morrendo, Iemanjá saiu do mar e o encontrou.

Penalizada, acomodou-o numa gruta e passou a cuidar dele, fazendo curativos com folhas de bananeira
e alimentando-o com pipoca sem sal nem gordura até que o bebê se recuperou. Então Iemanjá criou-o
como se fosse seu filho. Mas Omulu ficou com o corpo cheio de cicatrizes, as quais eram tão feias que o
deixavam com vergonha. Compadecido, Ogum lhe deu uma roupa de palha da costa, que cobria todo
seu corpo, ficando de fora apenas seus braços e pernas, que não foram tão atingidos pelas cicatrizes. E
assim cresceu Omulu, coberto de palhas, taciturno, compenetrado e, por vezes mal-humorado.

Quando rapaz resolveu correr mundo para ganhar a vida. Partiu vestido com simplicidade e começou a
procurar trabalho, mas nada conseguiu.

Por todos os lugares que passava, as pessoas se assustavam com sua figura coberta de palhas e nada lhe
davam.

Logo, começou a passar fome, nem sequer uma esmola lhe davam. Omulu decidiu então embrenhar-se
na mata, onde se alimentava de ervas e caça, tendo por companhia um cão e as serpentes da terra.
Ficou muito doente.

Por fim, quando achava que ia morrer, Olorum curou as feridas que cobriam seu corpo.

Agradecido, Ele se dedicou à tarefa de viajar pelas aldeias para curar os enfermos e vencer as epidemias
que castigaram todos que lhe negaram auxílio e abrigo. Nesses momentos, Obaluaiê dizia às pessoas que
jamais negassem água e alimento a quem quer que fosse, independente de sua aparência.
Chegando de viagem, Omulu viu que estava acontecendo uma grande festa com a presença de todos os
Orixás. Devido à sua timidez e vergonha, decidiu ficar do lado de fora espreitando pelas frestas do
terreiro. Ogum, percebendo a angústia do irmão, convidou-o para entrar e aproveitar a alegria dos
festejos. Apesar de envergonhado, Omulu entrou, mas ninguém se aproximava dele.

Iansã tudo acompanhava com o rabo do olho. Ela compreendia a triste situação de Omulu e dele se
compadecia. Iansã esperou que Ele estivesse bem no meio do barracão.

A festa estava muito animada. Os Orixás dançavam alegremente com suas equedes. Iansã chegou então
bem perto dele e soprou suas roupas de palha, levantou-lhe as palhas que cobriam sua pestilência.

Neste momento de encanto e ventania, as feridas de Omulu pularam para o alto, transformadas numa
chuva de pipocas, que se espalharam brancas pelo barracão.

Omulu, o Orixá das doenças, transformara-se num jovem, num jovem belo e encantador.

Omulu e Iansã tornaram-se grandes amigos e reinam juntos sobre o mundo dos espíritos dos mortos,
partilhando o poder único de abrir e interromper as demandas dos mortos sobre os humanos.

DEVOLUÇÃO

Dizem que quando Olorum encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano, o Orixá tentou
vários caminhos. Tentou fazer o homem de ar, como ele. Não deu certo, pois o homem logo se
desvaneceu. Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura. De pedra, mas ainda a tentativa foi pior.

Fez de fogo e o homem se consumiu. Tentou azeite, água e até vinho de palma, e nada.

Foi então que Nanã veio em seu socorro e deu a Oxalá a lama, o barro do fundo da lagoa onde morava
ela, a lama sob as águas, que é Nanã.

Oxalá criou o homem, o modelou no barro.

Com o sopro de Olorum ele caminhou. Com a ajuda dos Orixás povoou a Terra.

Mas tem um dia que o homem tem que morrer.

O seu corpo tem que voltar à terra, voltar à natureza de Nanã.

Nanã deu a matéria no começo, mas quer de volta no final tudo o que é.

DISFARSE

Um dia em uma festa, onde Oiá a grande deusa dos ventos era homenageada, e todos se divertiam e
dançavam, Omolú reparou em uma linda mulher que dançava graciosamente, fazendo movimentos
sensuais e que ao vê-lo de longe, se encantou por ele e indo até ele o convidou a dançar , Omolú sem
saber como reagir, tomou o caminho da mata, nesse momento Ogum seu irmão ao perceber o que
estava acontecendo, correu mata à dentro e confeccionou um capuz com a palha encontrada na mata e
fez Omolú colocá-lo.

Se sentido seguro por ter o rosto coberto Omolú se aproximou de Oiá que o havia convidado para dançar
e dançou junto com ela e ao verem como ele dançava muito bem os presentes se aproximavam para
saber quem era aquele jovem que se escondia atrás daquele capuz de palha.

Omolú se dedicou a conhecer as ervas e assim poder curar as doenças de seu povo, se tornando o
grande curandeiro dos enfermos acometidos por doenças da pele e por doenças que causam a grande
febre do corpo e consomem com suas feridas os homens.

Se sentindo seguro e como era muito aventureiro resolve caminhar pela terra e conhecer seu povo.

Após uma longa jornada buscou a sombra de uma palmeira frondosa para descansar e adormeceu.

Foi acordando com uma vós que queria saber o porque de estar ali dormindo e se necessitava de algo.

A vós que o acordou era de um homem já maduro e este era seu pai Oxalá, que não sabia de sua
existência e os dois trocaram informações, Omolú ofereceu água e vinho de palma para Oxalá, e Oxalá
ficou muito satisfeito com essa gentileza e a conversa se estendeu de forma que Oxalá ficou sabendo dos
conhecimentos de Omolú, com relação a cura das doenças da pele. E, em baixo da Palmeira, Oxalá
consagrou Omolú, tornando-o assim Òbá Lú Aiyé,

O Rei do Mundo, ou O Rei da Terra.

EKODIDE

Certa vez, numa festa de Oxalá, as sacerdotisas dos vários orixás, com inveja da de Oxum, puseram-lhe
um feitiço: quando todos se levantaram para saudar Oxalá, ela ficou presa na cadeira e suas roupas
ficaram sujas de sangue. Todos riram e Oxalá ficou zangado.

A sacerdotisa, envergonhada, tentou se esconder, mas nenhum orixá lhe abriu a porta.

Só Oxum a recebeu e transformou as gotas de sangue em penas de papagaio. Sabendo dessa magia, os
outros orixás vieram prestar homenagem a Oxum e Oxalá lhe deu a proteção das filhas de santo, que
durante a iniciação passaram a usar uma pena vermelha na testa.

ENCRUZILHADAS

Bará não possuía riquezas, não possuía terras, não possuía rios, não tinha nenhuma profissão, nem artes
e nem missão.

Bará vagabundeava pelo mundo sem paradeiro.


Então um dia, Bará passou a ir à casa de Oxalá.

Ia à casa de Oxalá todos os dias.

Na casa de Oxalá, Bará se distraía, vendo o velho fabricando os seres humanos.

Muitos e muitos também vinham visitar Oxalá, mas ali ficavam pouco, quatro dias, sete dias, e nada
aprendiam. traziam oferendas, viam o velho orixá, apreciavam sua obra e partiam.

Bará foi o único que ficou na casa de Oxalá ele permaneceu por lá durante dezesseis anos.

Bará prestava muita atenção na modelagem e aprendeu como Oxalá modelava as mãos, os pés, a boca,
os olhos, o pênis dos homens, as mãos, os pés, a boca, os olhos, e a vagina das mulheres.

Durante dezesseis anos ali ficou auxiliando o velho orixá.

Bará observava, não perguntava nada. Bará apenas observava e prestava muito atenção e com o passar
do tempo aprendeu tudo com o velho.

Um dia Oxalá disse a Bará para ir postar-se na encruzilhada por onde passavam os que vinham à sua
casa. Para ficar ali e não deixar passar quem não trouxesse uma oferenda a Oxalá.

Cada vez mais havia mais humanos para Oxalá fazer.

Oxalá não queria perder tempo recolhendo os presentes que todos lhe ofereciam.

Oxalá nem tinha tempo para as visitas.

Bará que tinha aprendido tudo, agora podia ajudar Oxalá. Era ele quem recebia as oferendas e as
entregava a Oxalá.

Bará executava bem o seu trabalho e Oxalá decidiu recompensá-lo.

Assim, quem viesse à casa de Oxalá teria que pagar também alguma coisa a Bará que mantinha-se
sempre a postos, guardando a casa de Oxalá, armado de um ogó, poderoso porrete, afastava os
indesejáveis e punia quem tentasse burlar sua vigilância.

Bará trabalhava demais e fez sua casa ali na encruzilhada.

Ganhou uma rendosa profissão, ganhou seu lugar, e sua casa.

Bará ficou rico e poderoso, e ninguém pode mais passar pela encruzilhada sem fazer uma paga a Bará.

GALINHA D’ANGOLA E ESPANTA A MORTE

Há muito tempo, a Morte instalou-se numa cidade e dali não quis mais ir embora. A mortandade que ela
provocava era sem tamanho e todas as pessoas do lugar estavam apavoradas, a cada instante tombava
mais um morto.
Para a Morte não fazia diferença alguma se o defunto fosse homem ou mulher, se o falecido fosse velho,
adulto ou criança. A população, desesperada e impotente, recorreu a Oxalá, rogando-lhe que ajudasse o
povo daquela infeliz cidade.

Oxalá, então, mandou que fizessem oferendas, que ofertassem uma galinha preta e o pó de giz efum,
fizeram tudo como ordenava Oxalá.

Com o efum pintaram as pontas das penas da galinha preta e em seguida a soltaram no mercado.

Quando a Morte viu aquele estranho bicho, assustou-se e imediatamente foi-se embora, deixando em
paz o povo daquela cidade.

Foi assim que Oxalá fez surgir a galinha d’angola.

Desde então, as iaôs, sacerdotisas dos orixás, são pintadas como ela para que todos se lembrem da
sabedoria de Oxalá e da sua compaixão.

MENOS FAVORECIDA

Para Iemanjá, Olodumare destinou os cuidados da casa de Oxalá, assim como a criação dos filhos e de
todos os afazeres domésticos.

Iemanjá trabalhava e reclamava de sua condição de menos favorecida, afinal, todos os outros deuses
recebiam oferendas e homenagens e ela, vivia como escrava.

Durante muito tempo Iemanjá reclamou dessa condição e tanto falou, nos ouvidos de Oxalá, que este
enlouqueceu.

O ori de Oxalá não suportou os reclamos de Iemanjá.

Oxalá ficou enfermo, Iemanjá deu-se conta do mal que fizera ao marido e, em poucos dias, utilizando-se
de ori, de omi-tutu, de obi, eyelé-funfun e esò deliciosas e doces, curou Oxalá.

Oxalá agradecido foi a Olodumare pedir para que deixasse a Iemanjá o poder de cuidar de todas as
cabeças.

Desde então Iemanjá recebe oferendas e é homenageada quando se faz o bori e demais ritos à cabeça.

PAI DOS ORIXÁS

Iemanjá, a filha de Olokum, foi escolhida por Olorum para ser a mãe dos Orixás.

Como ela era muito bonita, todos a queriam para esposa; então, o pai foi perguntar a Orunmilá com
quem ela deveria casar.

Orunmilá mandou que ele entregasse um cajado de madeira a cada pretendente; depois, eles deveriam
passar a noite dormindo sobre uma pedra, segurando o cajado para que ninguém pudesse pegá-lo.

Na manhã seguinte, o homem cujo cajado estivesse florido seria o escolhido por Orunmilá para marido
de Iemanjá.

Os candidatos assim fizeram; no dia seguinte, o cajado de Oxalá estava coberto de flores brancas, e
assim ele se tornou pai dos Orixás.

POR ESQUECIMENTO

Bará foi o primeiro filho de Iemanjá e Oxalá. Ele era muito levado e gostava de fazer brincadeiras com
todo mundo. Tantas fez que foi expulso de casa.

Saiu vagando pelo mundo, e então o país ficou na miséria, assolado por secas e epidemias.

O povo consultou Ifá, que respondeu que Bará estava zangado porque ninguém se lembrava dele nas
festas; e ensinou que, para qualquer ritual dar certo, seria preciso oferecer primeiro um agrado a Bará.

Desde então, Bará recebe oferendas antes de todos, mas tem que obedecer aos outros orixás, para não
voltar a fazer tolices.

PERALTAGEM

Certa ocasião Iansã encontrou Oxalá queixando-se de uma ferida na perna e, dizendo que iria curá-lo
colocou sal e pimenta e cobriu-lhe a ferida com uma ..., abandonando OXALÁ, e quem socorreu foi
Oxum.

PROMESSA

Quando Xangô pediu Oxum em casamento, ela disse que aceitaria com a condição de que ele levasse o
pai dela, Oxalá, nas costas para que ele, já muito velho, pudesse assistir ao casamento.

Xangô, muito esperto, prometeu que depois do casamento carregaria o pai dela no pescoço pelo resto
da vida; e os dois se casaram. Então, Xangô arranjou uma porção de contas vermelhas e outra de contas
brancas, e fez um colar com as duas misturadas. Colocando-o no pescoço, foi dizer a Oxum: Veja, eu já
cumpri minha promessa. As contas vermelhas são minhas e as brancas, de seu pai; agora eu o carrego no
pescoço para sempre.

PUNIÇÃO DUPLA

Olorun enviou Nanã e Oxalá para viverem na Terra e criarem a humanidade. Os dois foram dotados de
grandes poderes para desempenharem essa tarefa, mas somente Nanã tinha o domínio do reinado dos
eguns, e guardava esses segredos, bem como o da geração da vida, em sua cabaça.
Oxalá não se conformava com esta situação, queria poder compartilhar desses segredos. Tentava agradar
sua companheira com oferendas para convencê-la a revelar seu conhecimento.

Nanã, sentindo-se feliz com as atitudes de Oxalá, decide mostrar-lhe egun, mas apenas ela era
reconhecida nesse reinado.

Certa vez, enquanto Nanã trabalhava com a lama, Oxalá, disfarçando-se com as roupas dela, foi visitar
egun, sem lhe pedir autorização.

Quando Nanã, sentiu a falta de Oxalá e de sua própria vestimenta, teve certeza de que ele havia invadido
o seu reinado, atraiçoando-a gravemente.

Enfurecida com a descoberta, resolveu fechar a passagem do mundo proibido, deixando Oxalá preso.

Enquanto isso, Oxalá caminhava no reinado de Nanã, tentando descobrir seus mistérios, mas apenas ela
conseguia comunicar-se com os eguns.

Egun, sempre envolto em seus panos coloridos, não tinha rosto, nem voz.

Oxalá, usando um pedaço de carvão, criou um rosto para ele, como já havia feito com os seres humanos,
e, com seu sopro divino, abriu-lhe a fala. Assim, ele conseguiu desvendar os segredos que tanto queria,
mas, quando se deu conta, viu que não conseguia achar a saída.

Nanã não sabia o que fazer, por isso fechou a passagem para mantê-lo preso até encontrar uma forma
de castigá-lo.

Contou a Olorun sobre a traição de Oxalá, que não aprovou a atitude de ambos. Nanã errou ao revelar a
Oxalá os segredos que o próprio Olorun lhe confiara.

Para castigá-la, tomou o seu reinado e o entregou a Oxalá, pois ele desempenhara melhor a tarefa de
zelar pelo eguns. Oxalá também foi castigado, pois invadiu o domínio de um outro orixá. Daquele dia em
diante, Oxalá seria obrigado a usar as roupas brancas de Nanã, cobrindo o seu rosto com um chorão, que
somente as yabás usam.

ROUBA SEGREDO

Logunedé era um caçador solitário e infeliz, mas orgulhoso.

Era um caçador pretensioso e ganancioso, e muitos os bajulavam pela sua formosura.

Um dia Oxalá conheceu Logunedé e o levou para viver em sua casa sob sua proteção.

Deu a ele companhia, sabedoria e compreensão.

Mas Logunedé queria muito mais, queria mais.


E roubou alguns segredos de Oxalá.

Segredos que Oxalá deixara à mostra, confiando na honestidade de Logunedé.

O caçador guardou seu furto num embornal a tiracolo, seu adô.

Deu as costas a Oxalá e fugiu.

Não tardou para Oxalá dar-se conta da traição do caçador que levara seus segredos.

Oxalá fez todos os sacrifícios que cabia oferecer e muito calmamente sentenciou que toda a vez que
Logunedé usasse um dos seus segredos todos haveriam de dizer sobre o prodígio:

Que maravilha o milagre de Oxalá!.

Toda a vez que usasse seus segredos alguma arte não roubada ia faltar.

Oxalá imaginou o caçador sendo castigado e compreendeu que era pequena a pena imposta.

O caçador era presumido e ganancioso, acostumado a angariar bajulação.

Oxalá determinou que Logunedé fosse homem num período e no outro depois fosse mulher.

Nunca haveria assim de ser completo.

Parte do tempo habitaria a floresta vivendo de caça, e noutro tempo, no rio, comendo peixe.

Nunca haveria de ser completo.

Começar sempre de novo era sua sina.

Mas a sentença era ainda nada para o tamanho do orgulho do Logunedé.

Para que o castigo durasse a eternidade, Oxalá fez de Logunedé um orixá.

SEGREDOS DA NOITE

Orunmilá que tinha os segredos da noite precisava ser detido com seus feitiços desenfreados. Era um
dos homens mais bonitos e encantadores, tinha todas as mulheres, mas não queria nenhuma e não
amava nenhuma.

Oxalá queria tirar a maldade e os segredos de Orunmila, mas só havia um jeito de conseguir tal feito
pedindo a mulher mais bonita que o encantasse e tirasse todos os segredos dele.

Então o povo Orixá duvidou e Oxalá chamou Iemanja, que não tinha filhos e família e nem um amor para
seduzi-lo e conhecer os seus segredos. Então Oxalá fez com ela um trato no qual ela só teria essas
intenções e que depois voltaria para reinar ao lado dele novamente.

Iemanjá foi e com o tempo eles se apaixonaram.

Iemanja e Orunmilá já não conseguiam viver longe um do outro... ela conseguiu tirar todos os segredos e
feitiços dele e eles tiveram muitos filhos Orixás...

SENHORA DO PORTAL

Oxalá era marido de Nanã, senhora do portal da vida e da morte. E por determinação dela, somente os
seres femininos tinham acesso ao portal, não permitindo aproximação de seres masculinos em hipótese
alguma. Determinação que servia também para Oxalá, que com o passar do tempo não se conformava
com esta decisão, não só por ser marido de Nanã, como por sua própria importância no panteão dos
orixás. Assim pensou até que encontrou uma forma de burlar as determinações de sua esposa. Não
fugindo de sua cor branca, vestiu-se de mulher, colocou o adê com os chorões no rosto, próprio das
iabás e aproximou-se no portal satisfazendo enfim sua curiosidade.

Foi pego, porém, por Nanã no exato momento em que via o outro lado da dimensão. Nanã aproximou-se
e determinou:

- Já que tu, meu marido, vestiste-te de mulher para desvendar um segredo tão importante, vou
compartilhá-lo contigo. Terás, então, a incumbência de ser o princípio do fim, aquele que tocará o cajado
três vezes ao solo para determinar o fim de um ser. Porém, jamais conseguirá te desfazer das vestes
femininas e, daqui para frente terás todas as oferendas fêmeas!.

E Oxalá passou a comer não mais como os demais santos aborós (homens), mas sim cabras e galinhas
como as iabás. E jamais se desfez das vestes de mulher. Em compensação, transformou-se no senhor do
princípio da morte e conheceu todos os seus segredos.

SONHOS

Obatalá criou o homem e todos os seres viventes que existe no aiê.

O homem foi dotado de capacidade de pensar, e não tinha um momento no qual parasse de pensar, dia
e noite. O homem definhava, não queria alimentar-se, a comida era a mesma, nem queria procriar. A
espécie estava ameaçada.

Preocupado, Oxalá foi consultar Orumilá, que aconselhou a procurar Euá.

Uma vez consultada sobre o assunto, Euá começou a trabalhar, tratando de separar o dia da noite, o
claro do escuro, o quente do frio, o sol da lua, o aiê do orum, animais dos homens. Utilizando como
ferramenta a magia, o sonho, a ilusão, o faz-de-conta e o mistério.

Fez o homem conhecer o medo e a dor.

Transformou-se na galinha de cinco dedos. Euá aplainou o aiê, deixando o mundo uma belezura.

O homem continuava a pensar sem parar, só que desta vez pensava assustado, deixando Oxalá mais
preocupado.

Então Euá criou o sono, o descanso, a trégua, o período no qual o homem saí do mundo real para o
mundo imaginário, o mundo da fantasia, onde tudo acontece conduzido pelos sonhos.

E o homem voou, amparado pelos sonhos. E o homem gostou de voar, Euá então criou os sonhos
coloridos e os terríveis pesadelos...

E o homem dormiu. E o homem sonhou.

O homem não era e não seria mais o mesmo.

SUPERIORIDADE

Oxalá cansado de ser zombado e trapaceado por Bará, pois Oxalá era muito orgulhoso e geralmente não
agradava Bará por ser um orixá mais velho.

Decidiu combater Bará para ver quem era o orixá mais forte e respeitado, e foi aí que Oxalá provou a sua
superioridade, pois durante o combate, Oxalá apoderou-se da cabaça de Bará a qual continha o seu
poder mágico, transformando-o assim em seu servo.

Foi desde então que Oxalá permitiu que Bará recebesse todas as oferendas e sacrifícios em primeiro
lugar...

TRANSFORMAÇÃO DOS ORIXÁS

Irocô era uma árvore, muito importante, importante a valer. Olofin determinou que os orixás e Êres
fossem cultuados pelos viventes, e eles saíram pelo mundo à procura de seus filhos com isto haveria a
aproximação do mundo dos encantados com o das pessoas.

Irocô era muito cultuado e trabalhava muito, perto de onde estavam havia uma feira cheia de
movimento, Irocô soprou e seu hálito em forma de vento que foi cair sobre a cabeça da moça que vendia
na feira, a moça começou a rodar a rodar, a rodar e foi cair nos pés de Irocô, nascendo a primeira locosi.

Isso quer dizer que Irocô chega no axé, chega para dançar e ficar.

Todos os orixás correram para o pé de Irocô, para uma grande junção, chegaram trazendo suas comidas
prediletas:
XANGÔ > levou amalá.

OGUM>levou inhame assado.

ODÉ> levou milho amarelo.

OMULU>levou pipoca e feijão preto.

OSSAIM>levou farofa de mel de abelhas.

OXUMARÊ>levou farofa de feijão.

OXALUFÃ>levou milho branco.

OXAGUIÃ > levou bolos de inhame cozido.

ORUMILÁ>levou ossos.

BARÁ > chegou correndo e levou cachaça. Ajoelhou-se nos pés de Irocô e jogou 3 pingos no chão,
cheirou 3 vezes e bebeu um pouco. Neste momento Irocô transformou-se em árvore, Ogum em
cachorro, Odé em vaga-lume, Omulu em aranha, Oxalá em lesma, Oxumarê em cobra , Xangô em cágado
e as comidas ficaram no pé da árvore.

TUDO TEM SEU PREÇO

Oxalá seduz Nanã e rouba-lhe a exclusividade do poder sobre os espíritos dos mortos. Para tanto se
vestiu de mulher, fingiu que era Nanã, e, por assim dizer, domesticou os terríveis Egungun que até então,
faziam tudo que ela mandava. Mas para tirar o poder da grande mãe teve que pagar um preço. Oxalá usa
saia até

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