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Ds De Retérica, Poética e Poesia ' pottica comma a tentativa de explicar os efeitos literdrios atra- vs da descrigéo das convengies © operagées de leitura que os tomam possivels, Ela estdintimamente associada a retorica, que, desde a era clds- ica, & 0 estuddo dos recursos persuasivos ¢ expressives da linguagem: as -as de Jinguagem e pensamento que podem ser usads para construit discurs0s eficazes. Aristteles separou a retérica da poética, tratando a vetdrica como a arte da persuasdo e a poétice coma a arte da imitagdo ou representacaa. AS tradigbes medievais © renascentistas, entrevanto, assimilaram as duas: a retérica tornou-se a arte da elogdancia e a poesi Gé que busca ensinar, deleitar e comover) era uma instancia supe: dessa arte. No século XIX, a ret6rice passou 2 ser vista como artificia divarciado das atividades genufnas da pensamento ou da imeginagio poctica e calu em desgraga. No final do século XX a retérica foi ressusci- tada camo 0 estudo dos poderes estruturadores do discurso. ‘A poesia se relaciona com a retdriea:¢ linguagem que faz uso abun- dante de Figuras de linguagem e finguagem que visa a ser poderosamente persuesiva. E, desde que Platdo excluiu 05 poetas de sua repil quando 2 poesia € atacads ou deregrlda, £ como retérica enganosa ou frivola que desencaminha os cidadéos e provaca desejos extravagantes. invés da tetérica Ele argumentava que 2 possia fomece uma soida seguta pata a liveragdo de emogdes intensas. € atirmava que a poesia madela a ‘osa cxperiéneia da passagem da ignoréncia 20 conhecimento, (Desse mado, no momento-chave do “teconhecimento" no drama tragico, 0 herdi se d8 conta de seu erto e 05 espectadores percebem que “ié @ na0 sc pela graca de Deus vou eu"). & poética, como explicagaa dos recursos e estraté- gias da literatura, no pede ser reduzida a uma explicagdo das figuras Fetoricas, mas @ poctica podria ser vista como parte de uma retérica ta aue estude os recursos pare os atos lingisticos de todos os tpos A teora literria ter se preocupado muito com a retorica e 05 teori- 0s discutem @ natureza ¢ a funcao das figuras retivicas, Uma figura retorica € geralmente definida como uma alteragdo ou desvio do uso “comam"; por exemple, “Mew amor & uma rosa vermelha, vermelha usa rosa para se referr no 4 flor mas a algo belo e preciaso (essa ¢ a figura ‘da metifora). Ou "The Secret Sits" toma o segredo um agente do ato de sentar (personificagao). Antigamente, 05 retdrieos tentevam cist nguir os “tropos" especiicos que ‘mudam” ou alterar 0 sentido de uma palavra (como na metifura) das “Nguras” mais misturadas de dissimulacio que Ordenam as palavras para obterefe'tos especiais. Algumas dessas figuras sia: aliteragao (@ repeticgo de uma consoontal; apdstrofe (cirigit-se 2 algo que nao é um ouvinte regular, coma em "Aquieta-te meu coragdo!"); assonancia (a repetigo de um som vocdi AA teoria recente raramente distingue figura de trope ¢ até mesmo questiona a nogdo de um sentido “comum” ou “literal” do qual as figuras, (ou trapos se desviam. Por exemplo, o prépria termo meidfara é literal ou figurado? Jacques Derrida, em “White Mytinalegy’, mostra como as expl cagbes tedricas de metéfora parecem se apciar inevitevelmente em meta- foras, Alguns tedricos até mesmo adatam a conciusio paradaxal de que a linguagem € furdtamentalmente figurada ¢ que o que eles chamamn de lin- guegem literal consiste em figures cuja naturcza figurada foi esquecida. Quando falamos em "compreender* um “probleme érduo", por exemalo, essas duas express6es tomam-se litera através do esquecimente de sua possivel figuraidade. Dessa perspective, néa ¢ que nao haja dstingd entre o tral e o fgu- railo mas sim que os trop0s € figuras sao estruturas fundamentals da guagem, nigo excegdes c distorgdes. Tradicionalmente, figura mais impor- tante & 2 metafora. Uma metifora trata algo como outra coisa (chamar Jorge de burro ou meu amor de rose vermelha, vetmelha. A metéfora & por tanto uma versdo de um moda bisico de conkecimerto: conhecemds alga vvendo-o coma aloo. Os teéricos falam de ‘metaforas das quais vivemos", {esquemas metafiicas bisicos, como a vida € uma viagem’, Esses esque- mas estruturam nossos modos de pensar sobre 0 mundo: tentamos "chegar em algum lugar* na vida, “achar nosso caminho*, “saber onde estamos indo", “encontremos obstaculos",e assim por dante A metsfora € tratade coma bésica a finguagem ¢ a € cognitivamente respeitavel, ndo intrinsicamente frivals ou ornamental Sua forga literdria, entretanto, pode depender de sua incongrutnela, A frase de Wordsworth “a crianga ¢ pai do homem" detém vor@, fa-la pen- ssar-€ depois Ine permite ver a retacio entre geragées numa nova luz: a relaeao da crianga com o homem em que ela se transforma mais tarde € comparads com a relacdo de um pai com seu filho. Coma uma metéfora ode earreger uma propesigdo etzborada, até mesmo uma teora, cla € 2 Tigura retérica mais facimente justificada Mas os tedticos também enfatizaram a importancia de outras figuras. Para Roman Jakobsor®,a metafora ¢ @ metonimia sfo as duss estruturas fundamentals da linguagem: se @ metafora liga por meio da semelharea, 2 metonimia liga por meio da contigiidade. A metonimia se move de uma coisa para outra que the & cantigua, como quando cizemos *a Corea" em lugar Ge “a Rainhs’. A metonimia produz ordem ligando colsas em séties espaciais ¢ temporais, se movendo de uma coisa para outra no interior de um dade dominio, ao invés de ligar um dominio 20 outro, como faz a metéfora. Outros tedricos acrescentam a sinédoque € a ironia para com- Pletar a lista dos “quatro tropos principals" A sinédoque € 3 substituigao do todo pela parte: “dex macs" em lugar de "dez trabalhadorest Ela infere Qualidades do todo a partir das qualicades da parte e permite que as partes representem os todos. 4 ironia justapde aparéncia ¢ realidade; 0 que ocorre € o posta do que se espera (x se chover no piquenique do homer do tempo?) Esses quatro trapos principals ~ metéfora, metonimia, sinédogue ¢ itonia ~ sf0 usades pelo historiador Haycen Wi ica ou 0 “emplotment", como ele a chama: sig as estruturas retdricas basicas através das queis percedemos 0 sentido da aginago parg BYe Vows Cameion 4 cxperidncia, A ideia fundamental da cetériea como diselplina, que se veri- fica bem nese exemplo quédruplo, € que hé esteuturas basicas de fin uagem que subjazem a e tornam possivels os sentidos areduaidas numa ampla variedede de discursos, literatura depende de figuras retéricas mas também de estruturas, mais amples, rarticularmente dos génerosIiterrios. O que sic géneros e qual € seu papel? Termos como épfea e romance sio simplesments ma= neiras convenientes de classificar as obras com base em semelhangas _gosseiras ou eles t8m fungGes para os Ieitares ¢ escritores? Para os leitores, os géneros so conjuntos de convengdes ¢ expecta- tivas: sabendo se estamos ou nao lendo uma histéria policial ov uma aventura emotose, um poema lrizo ou ume tragédia Ficamos @ espreita de coisas diferentes e fazemos suposigdes sobre © que sera signficativ. LLendo uma histéria polcial, procuramos pistas de uma maneira que ndo fazemos quando estamos lendo uma tragédia. O que setia uma figura notavel num pocrna lirico ~ "o Segredo senta no meio” ~ poderia Ser urn detalne cireunstancial sem importincia numa histéria de fantasmas ou ‘numa obra de ficyéo clentifica, em que os seqredos paderiem ter adguiri~ 0 corpos. Historicamente, muitas tedricas do Genero seguiram 05 gregos, que diviciram a5 obras em trés classes extensas, de acordo com quem fala: poética ax hirico, em que 0 narrador fala na primeira pessoa: épiea ou nar- rativa, em que o narrador fala em sua pedpria voz mas permite aos persona gens Falarem nas deles; € drama, em que s6 05 personagens falam, Uma Gutra maneira de fazer essa distingdo € enfocar a relagdo do falante com 0 public. Na épica, hd a recitagéo oral: um poeta que confronta dizeiamente O piblico ouvinte. No drama, o autor estd oculto do pibien e os persona- (gens no palce felam. Na lriea ~ 0 caso mais complicado ~ 0 poeta, 20 can- tar ou entoar, das costas 20s ouvintes, por assim diz, e “Finge ester flan do consigo mesmo ou com outra pessoa: um espfito da Natureza, uma Musa, um amigo pessoal, um amante, um deus, uma abstragéo personifica- a, ou um objeto natural’ A esses ts gBneros elements, podemos acres- cenlar o género modemo do romance, que se dirige aa leitor através de urn tro ~ um t6pico que retomareimos na Capitulo 6 A Epica e 0 drama tragica foram, nos tempos antigas ¢ na Renas- cenea, as realizagdes culminantes da literatura, as mais altas realizagdes de qualquer aspirante a goeta. A invengaa clo romance trouse um novo eri as, entre 0 final do século XVI « a metade fo século XX, a Ica, um poeia nde narrative ‘urto, passou a ser identi. Fleada com 2 esséncia da erature. Vets outrore principalmente como xia Modalidade de expressio elevade, 2 Tormulacao clegante de vatores €atituces culturais, a possi tae Sasoes 8 Fornulegdeslingisticos que tr a poesia una Sto HCl 20 invés de rina reposts fe se valores, jh Seria teria que enfoca a poesia dseute ne utras coisas, a S diferentes de ver 05 poemas: um aoeina € tanto uma estrutura feita de petavras (um texto} quanto um evento (um ato do poeta, uma experienc) UM evento na histéria iterdria), Fare © poema concebido como a stucdo verbal, uma questéo impor. tante € 2 relacio entre o sen 160 € 0 tragos néo-semainticos da fin, ‘uagem, Camo funciona os tagos ndo-semans eos da linguag . conscientes & inconscien sos de interagdo entre os tapos semnticns ndo-semai ser esperadas? jars 9 Boe enquanto ato, uma questdo-chave € 2 relacdo entre o Cup oRitor aie escreve 0 poema eo dofalante “vox” que fala scl problema complicad, O autor ni fala o Poema: para escrevé-o, 9 ina asi mesmo ou a uma outra ver falanac Lerum poema a fing caPla “The Secret Sits" ~& dizer as palavas “hac ‘ance round in suit ,2nt SuPPOse..." 0 poema parece ser ma locugae, mas é Slosacio de uma vez de status indeterminate Len 5095 palavras € colo Bes Be Pesied0 de dizé-tas ou endo imaginer ume pete com ultas vezes dizemos, de umm narador ga Frode testide dt uma gaia de poemas eum inca none {10 caso de Fost tavea, 9 de um observador rosea, grits 16 ae acts iferentes Figures varia de um poeta para Tey 2 estado ertico para outro. Mas 20 penter sobre a ! comegar com uma distngao entre a vor Que fala eo poeta we fez 0 poems, crianda dessa manciva esse figura da vo, A Poesia lrea, de acorda eam um dita fama Ge John Stuart mit & slocuséo ouvica sem querer. Agora, quando ow Eeusto ue nos chama a atenezo, 0 que fezemos, caracteristicamente, simaginar ou recenstruir um falante © um ontexto: identificando um fort de voz, inferimos @ postura, as Situagées, preocupagies € atitudes de um falante (que, 8s vezes, coincidem com UE sabemos do autor, mas multas vezes no). Essa tem sido a abordagem dominante da lirica no séeulo XX @ uma 15 de elocupdes do “mu "Titagées fecionais de elocugao pessoal. E como *[Por exemple, sag nuteea das attudesdofalante.O que poderie evar ®? A modalidade dominante de epreciagio da cnfecar as complexidades da pag ta abordagem produtiva da ike, pois mits pocmas apr Cand i ftlante que etd tealzanto atos de aig recorheciveis: mei sinco sobre a importénca de um expertree, ecnsurando um amigo ou vale 2Rrs.INdS asmirasio ou devogdo, por exemplo. Ms, se iiowros pata os verso iniits de alguns deg famo:0s pecmas alae sage 2 "Ode tothe West Wind de Sheen ee “The Tiger* de Blake, surgem diffeultades: Mou breath oF Autumn beingt” ou "Tiger he forests ofthe nigh um 2 fater dessa maneira ou aque ato no-poéticaestaria realizando. A resposta que provavelmenteire= mos sugerir & que esses felantes estio sendo arrebatatos e esto ficando podtiens, esto assumindo atitudes extravagantes, Se tentamos entender esses pocmas como imitagdes fccionals de atas comuns de fala, o ato pa- Fece ser 0 de imitar a prépria poesia, O que esses exemslos sugerem é a extravagincia da lien. Os poemas "0 no apenas parecem dispostes a diigir-se a quase nade, prefeivel- mente a um pablica real (0 vento, um tigre, minha almal; eles fazer isso em Inflexdes hipertislicas. © nome do jogo aqui é exagero: 0 tigre nfo & apenas “cor de laranja", mas famejante; o vento € 0 peépri “sopro do ou toro” ¢, mais adiante no poem salvadar e destruidar Até mesmo 0s poe- mas sard@nicos se baseiam em condensagées hiperbéicas, como quando Frost reduz a atividade humana a danger em ciculose trata as muitos for. mas de conhecimento somo ‘supos Tocamos aqui numa questdo tedriea importante, um paradoxo que parece resigir no dmego da poesia lirica. & extravagancia da porsia inclul Sua aspirac4o a0 que 0s tedrios, desde @ era cléssice, chamam de “su- blime": uma relagda com 0 que excede a capatidede humana de com= Breenséo, provaca temor ou intensidade apsixonada, dé ao falante uma percepedo de algo além do hurnano, Mas essa aspitagao transcendente std vinculada a figuras retericas tais como a upéstrofe,o tropa do ato de Airigt-se a0 que nao é um ouvinte veal, 2 personificagaa, a atribuigao de qualidades humans 20 que no € humane, e a prosopopeio, a concessaa de Fala @ objetos inanimados. Como podem as mais altas aspiracdes do verso estar ligadas a esses truques retices? Guando 05 poemas lticos se desviam de au jogam com o circuto da comunicagdo para se divigit a0 que nao é realmente um ouvinte - um vento, um tigre, ou a coragio ~ as vezes se dz que Issa significa um sen timento forte que leva o fatante a irrornper em fala. Mas a intensidade ‘emccional se liga especialmente 20 préprio ato de alocucaa ou de inva casio, que freqdentemente deseje um estado de coisas e tenta eriiclo edinda aos abjetos iranimados que se curvem a0 desejo do falante. “0 time as a wave, a leaf, ¢ cloud", o falante de Shelley insta com o vento oeste. A exigéncia hiperbélice de que o uriverso 0 escute e aja de acordo € uma providéncia pela qual os falantes se constituem como 78 poetas sublimes ou como visionérios: aleuém que pode se ditlgir 4 Natureza ¢ @ quem ela ooderia responder. 0 "Oh" da invocagio & uma Figura de vocacéo pottica, uma providéncia pela qual a vor que fala afitma rao ser um mero falante de verses mas uma corporificagéo ita lwadlpo poctica ¢ do espitito da poesia. Conslamar os venios 2 coprar 01 exigie ue 0 189 nascido escute seus gritos € um ato de ritual poe Co. € ritualistico, na medida em que os ventos ndo vémi ou 6 nao nasci lo nao ouve. & voz chama a fim de estar chamendo, Chama a fim de ‘ramatizar 2 voz: para intimar imagens de seu poder de modo a esta belecer sua identidade como vor poética e profética, Os imperatives impossives, hipervblicas das apéstrofes evocam eventos pacticos, coisas que serdo realizadas, se € que o seraa, na eventualidade de pocma, 05 poemas narrativos narram um acontecimento; os poemasllica, Poderiamos dizer, lutam para ser um eventa, Mas ndo ha qualquer Garantie de que 9 porma vé funcionar e apéstrofe - como riinkas lveves citagdes indicem - & 0 que é mais ruidosamente, mais embaragosamente "podtico", mats mistificador e vulneravel ao descarte como bobagem hipertolice. “Lift me as a wave, a leaf, a cloud!” Tudo bem. Fode cepoar. Ser poeta é empannar-se em ser bem-sucedido nese ‘ipo de coisa, em apostar que isso nfo serd descartado como uin monte de bobagem Um problema importante pare a teoria da poesia, como disse, ¢ a relagdo entre 0 pozma coma uma estrutuca Ftita de palavras e 0 poema Como evento. As apéstrofes tanto tentam fazer algo acontecer quanto expbem esse acontecimento como estando baseado em trugues verbais — como no vazio “Oh*, da alocuezo aposteética: “0 wild West Wind! Realear a apdstrofe, 2 personificagao, a prosopopéia ¢ a hipérbole & Juntar-se aos teoricos que, a Tengo dos tempos, enfatiaaram que distingue a Iiriea de outros atos de fala, 0 que faz dela a mais liters 443s formas. A lirica, escreve Northrop Frye, "€ 0 genera que mais Claramente mostra 0 cerne hipotético da literature, da narrativa e do sentido em scus aspectos literais enquanto ordem de palavras e dese. ho de patavras’ isto &, a lirica mostra-nos 0 sentido ou a histéria Surgindo do desenho verbal. Repita as palavras que ecoam numa estrutura ritmica € veja se ne surge uma . Frye, cujo Anctomia da Critica € ue compendia inestimével de reflex sobre @ lirica ¢ outros géneros, chama es constituintes basicos da lirica de tortamudeio e garatuja, cuas rizes 40 0 sortlégia ¢ 0 enigma. 05 poemas tertamudeiam, colocarda em primelto plano as tragos néo- seminticos da linguagem — som, ritmo, repetigéo de letras ~ pare produzir légio ou encantamento: This dorksome burn, horseback brown, His rolircck highroad roa 05 poemas garatujam ou nos propdem enigmes, em sua dissimulagso caprichiosa, em suas formulacees road"? E 0 “Secret [que] sits in the middle and knows"? fees tragos sfo muito proeminentes em cantigas de ninar ¢ baledas, em que freqlentemente 0 prazer reside no ritmo, no eneantamento e ne estranheza de imagem: Pease porridge hot Pease porridge co Pease porridge ‘Mine doys ofa.” the pot, © padtao ritmico € o esqucma da rim ostentam a organizagdo desse ppequeno texto © podem tanto oravocar especial atenao interpretativa (como quendo a rima levants 2 questio de ‘elacEo das palavras que rimam) quanto suspencer investigago: @ poesia tem sua prépria ordem que de prazer, de modo que n3o hd necessidade de perguntar a respeito do sentido; a organteacao ritmica permite & linguagem ficer sob a quarda dda inteliggneis © se alojar na memoria mecanica, Lembramas de "Pease porridge het’ serm nos preacuparmos em investigar 0 que "pease porridge” Doderia sere, mesmo que descubramas,€ provavel que esquccamos isso antes de esquecer de "Pease portge he Colocar a linguagem em primeiro plono e tornd-lo estranha atravis da organizagao métrica e da repeti¢ao de sons £ a base da poesia. As te0- fas de poesia, portanto, postulam relagées entre diferentes tipos de oxga~ nizagao da linguagem ~ méttica, foncl fematica - ou, para dizer de forma mais geral, entre as dimensées semanticas © no semanticas da linguagem, entre o que a poera diz e como o diz. poema uma estrutura de significentes que absorve ¢ recanstitui os significados, na medida em que seus paurdes formals tém efeitos sobre suas estruturas seménticas, assimitando os sentidos que 8 palavras tém em outros con- textos ¢ sujeitando-as a nova organizagao, alterando @ énfase ¢ 0 foe, deslocando senticos literais para sentidos fiurades, coleeando termos em alinhamento, de acordo com padrdes de paralelismo. £ o escandalo da Poesia que tragos “contingentes’ ve som © ritme sistematicamente infectem ¢ afetem o pensamenco, Nesse nivel, a lirica se baseia numa convene de unidade € autono~ ‘mia, como se houvesse yma regra: no trate 0 poems como tratariamos um trecho de conversa, um fragmento que precisa de um contexto mais ‘amplo para explica-lo, mas suponha que ele tenha uma estrutura toda ‘sua. Tente lé-le como se fosse um todo estético. A tradigda da poética toma disponivels diversas modelos tedricos. Os formalistas cussos do ini io do século XX pastulam que um nivel de estrutura num poema deveria tspelhar outta; os teérieos romanticas e as New Critics ingleses e ameri- ‘caros tragam uma analogia entre os poemas e 95 erganismos naturas: todas as partes do poema deveriem se encaixar harmoniosamente, As 195 poemas realizam e 9 que dizem, a impossibilidade de um poema, ou ‘telvex de qualquer ato de linguagem, oraticar 0 que prege. As concepgdes recentes dos poemas como construgdes intertextuais enfatizam que os poemas sao eneraizados por ecas de poemas passedos ~ £¢05 que eles podem no dominar. A unidade se torre menos uma pro- priedade dos pocmas do que algo que os interpretes buscam, quer pio- urem uma fusdo harmoniosa ou uma tenséo no resalvida. Para fazer i880, 0s Ieitores identificem opesigdes no goema (como entre "nds" € 0 Searedo ou entre conhecer € supor) © vem como outros elementos do paema, particularmente a5 exoressdes figuradas, se alinham com esses op0sigaes. Tomernos 0 famoso poema de dois versos de Ezra Pound, “In Station the Metro" at The apparition of these faces in the crowd: Petals on u wet, black dough: ferpretar isso evolve trabalhar eam o contraste entre as multidSes no metr6 c a cena natural. O emparelhamento desses dois versos impie © paralelo entre os rastos na escuridéo co metrS as pételas no ramo negro cde uma drvore. Mas e dal? A interoretagdo do poema depende nio ape- nas da convengao de unidade mas também da convengdo de Importaneia: a regra & que os poemas, nao jmports quai insignificantes na apartne devem ser sabre algo importante, ¢ portanto os detalhes coneretos deve- ‘iam ser eonsiderados como tendo importancia geral. Deveriam ser lidos coma o sinal ou “correlato objetivo", para usar 9 exoresséo de TS. Eliot de sentimentos importantes ou insinuagées de significancia® Para tornat significativa 2 oposipgo no pequeno poema de Pound, 0s leitores precisam retietir sobre como 0 paralelo poderia funciona O pocma est contrastando a cena de multiddo urbana no metré com a tranguila cena natural de pétalas num ramo molhado de drvore ou as estd ‘qualande, observando uma semelhanga? Ambas 25 opgbes sia passives, mas a segunda parece possiblitar um leitura mais cica, inspirando um asso podcrosamente subscrito pela tradigao da interpretagao poética. A petcepcdo de semethonga entre rostos na multidao ¢ pétalas num rama — Yer rostos na multid’o como pétalas num ramo ~ é um exempio da imagi- nnagao poética ‘vendo o mundo de novo", apreendendo relacdes inespera- das ¢, talvez, apreciando © que, para outros observadores, seta trivial ou ‘pressive, encontrando profundidade na aparéncta formal, Esse pequeno poema, portanto, pode tornar-se uma reflexio Sobre 0 poder da imagi- rhacao poética de conseguir as efeitos que o prdprio poema consegue, Um exermplo como esse ilustra ume convengéo basica da interoretacao potti- ca: considerar 0 que esse pocma ¢ seus procedimentos dizem sabre a poe- sia ou a criagio do sentido. Os poemas, no uso que fazem das operagées retdricas, podem ser ides camo sondagens na poética, assim coma os romances, como veremos 2 seguir, S40 em algum nivel reflextes sobre a inteligibilidade de nosse experiencia do tempo e, dessa forma, sondagen ra teoria narrative, co

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