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Soren te Ota DIFICULDADES DE APRENDIZADO Erie ; re a et a tote tecenl . Capitulo II QUAL A DIFERENGA ENTRE UM PROBLEMA NO APRENDIZADO E UM TRANSTORNO DO APRENDIZADO? Em termos préticos, parece néo existir, mas, em termos técnicos, hé uma ferenca. Uma crianga com problemas no aprendizado pode néo ter um transtomo do ndizado. Por exempo, uma crianga que sempre foi bem nos estudos comeca a resentar, apés a separagéo dos pais, sintomas depressives, isolamento social, za, insGnia e seu rendimento escolar cai muito. Esta crianga néo possui, um stoma do aprendizado, pois sua queda no rendimento é situacional e secundéia jum quadro depressivo desencadeado pela separacdo dos pais. Uma crianga pode 1 nos estudos ao trocar de escola @ néo se adaptar ao novo ambiente, ow uma lasse toda pode ter problemas na elfabetizacdo por inexperiéncia da nova professora im alfabetizar. Estes so exemplos de problemas no aprendizado, em que, corrigin- $e as circunsténcies psicolégicas ou ambientais, a crianca volta a aprender jormalmente, J6 um transtomo do aprendizado é uma doenga, cujos critérios diagnésti- 08 estéo definidos no DSMLIV-TR, que 6 0 Manual Diagnéstico e Estatstico dos Trans- mos Mentais, 4* edicéo revisada, da Associacéo Americana de Psiquatria, O DSM tum dos instrumentos mais utiizados no mundo para o diagnéstico dos transtormos iquidtricos. Besicamente, um transtorno do aprendizado & caracterizado pelos seguintes itérios: © 0 desempenho em leitura, escrita e/ou matemética, medido por testes ppadronizados administrados individualmente, esté_significativamente abaixo do esperado em relagéo a idade cronolégica da pessoa, & intel- ‘déncia medida e & educagéo apropriada para aidade, © 0 problema acima interfere significativamente com o desempenho académico ou atividades da vida diéria que requerem o uso da escrita, leitura e/ou matemética. ‘Se um défict sensorial, motor ou retardo mental existirem, as dificulda- des na escrita leitura e/ou matemética séo excessivas ao que seria esperado nestas condig6es. a Jordan Copet Quais os problemas na classificagao acima? Em primeiro lugar, no Brasil temos escassez ou inexisténcia de testes padroni- zados 6 bem elaborados, tanto de inteligéncia como de hablidades académicas. A aplicagéo de testes americanos traduzidos pode ser feito em determinadas éreas que ‘no envolvem a inquagem, a chamada inteigéncia ndo verbal, mas testes que avaliam éreas fortemente igadas & finguagem, como a escrita¢ a leitura, no podem sim- plesmente ser traduzidos. A linguagem & algo caracter(stico de cada cultura. Para uma crianga americana, escrever a palavra CUP ¢ relativamente fcil, porém, sua traduco para o portugués é XICARA, que envolve processos bem mais complexos, pois uma palavra monossiébica em inglés passa a ser trissitbica em portugues, © Uma grfia simples como cup, adquire complexidade em portugués pela rafia de um som que apresenta diferentes formes de escrita (neste caso 0 X) e pelo uso da acen tuagdo gréfica (neste caso “XI"), Também a frequéncia dos sons utiizados sao dife- Tents, @ certos sons que néo existem numa lingua, existem em outra. Um segundo problema é 0 temo usado na definigéo de um transtorno de aprendizado: “signiticativamente abaixo", ou seja, o desempenho em testes de habil- dades académicas esta significativamente abaixo da inteligéncia. Significativamente 6 um termo pouco preciso e que pode levar a diferentes interpretagdes, de acordo com a compreenséo de cada autor. Para complicar, é comum que uma crianga tenhia mais de um transtomo de aprendizado associado, por exemplo, 6 comum que uma mesma crianga tenha © que chamamos em medicina de “comorbidade", ou seja, duas ou mais daengas associa- das. Seria como uma mesma pessoa softer de asma, hipertensao ¢ reumatismo. Sa- bbemos que criangas com transtomo de deficit de stencéo e hiperatvidade (TDAH) tmais chances de terem um transtomo da aprendizado, ¢ néo 6 ineomum encon- ‘rarmos estudantes com diagnéstico de TDAH e transtomos de aprendizado em leitura, escrita e matemética, tudo ao mesmo tempo, Em minha clinica, buscamos realizar o diagnéstico de transtornos de aprenci- zado a partir de uma avaliagéo ampla, com miitiplas fontes de informagéo, como veremos mais adiante ¢ ao longo de todo olive, Tipos de transtornos do aprendizado Existem seis tipos de transtornos do aprendizado e mais dois que podem ser incluidos sob esta nomenclatura: 1) Transtorno de aprendizado em leitura Ea dificuldade na decodificagdo de palavras. Normalmente o que existe 6 um défict no aprendizado da associacdo fonema-grafema e na automatizagéo da leiture. ‘A ciianga Ié de forma lenta e silébica, comete eros, troca, omite ou acrescenta letras ou slabs. Diculdades de Apronznd: Manuel para Pas Prolessores 2 Transtorno de aprendizado em compreensdo da leitura 0 problema consiste em compreender 0 que esté sendo lido. A crianca pode ler fluentemente, mas néo consegue captar a ideia central do texto. A compreen S30 de textos 6 uma fungéo cerebral mais complexa e superior do que a ltura. O is comum é que ambos os transtomnos coexistam. 0s dois itens acima so bastante conhecidos sob o termo dislexia, B) Transtorno de aprendizado em matemética Conhecida também como discalculia, o transtomo de aprendizado em mate- tica caracteriza-se pela dificuldade que a pessoa tem em realizar as computagdes jatemdticas. Existe uma dificuldade bésica em compreender os conceitos metemt- Bs e as representagées numéricas, em automatizer (memorizar) 0s célculos basicos 0 a tabuada, em compreender e memorizer os procedimentos matemétizos, em lizar a matemdtica no cotidiano e em compreender a linguagem matemntica, f). Transtorno de aprendizado em problemas mateméticos A dificuldade aqui consiste em transformar os problemas mateméticas ver- ,orais ou escritos, nos procedimentos e célculos adequados. i) Transtorno de aprendizado em escrita Hé um déficit na capacidade do individuo em escrever corretamente palavras. jadas (ortografia),além de ter problemas na acentuagéo, pontuagao e concordancias. jranstorno de aprendizado em expresso escrita E 0 problema nao reside apenas nos erros ortogréficos ou de acentuagéo como Fidos acima, mas hé uma dificuldade na escrta de frases e textos. Por exemplo, Be-haver problemas na organizagéo des ideias no papel, erros de sintaxe, elabora- superficial das ideas, frases desconexas, conteido empobrecido et. ‘Outros dois quadros podem ser classificados dentro dos transtornos de apren- ranstorno de linguagem expressiva € a dificuldade na expresso da linguagem. 0 individuo tem problemas em jzar 0 discurso, tende a falar pouco e se expressa de forma pouco clara, hesitante Hedmpleta. Muitas vezes é confundida com timidez, entretanto néo se trate de Bieze sim de uma capacidade reduzida de usar a linguagem expressiva. anstorno de linguagem receptiva/expressiva As classificagées atuzis nao consideram a existéncia apenas de um transtomo [pguagem receptiva sem haver também problemas na expresséo, pois se uma 2 tem problemas na compreenséo da linguagem, com certeza também ter dif- fides em se expressar. Problemas na compreensdo da linguagem podem ser 28 Jordana Cope confundidos com desatencéo, pois a cranca parece néo compreender adequadamente ‘que Ihe falam porque ndo presta atengdo, entretanto, embora as duas coisas possam ‘corer simultaneamente, so sintomas ¢ entidades patolégicas diferentes. Um novo transtorno do aprendizado ‘Atualmente fii um novo tipo de transtomo de aprendizado, que ainda néo faz parte do Manual Diagnéstico e Estatistico da Associagéo Americana de Psiquiatra (DSM - APA), nem do Cédigo Internacional de Doencas da Organizacéo Mundial da Saiide (CID — OMS}, 0 Transtorno de Aprondizado Nao Verbal (TANV). Trata-se de uma entidade clinica ainda néo validada, ou seja,ndo hd certeza de que esta seja uma doenca distinta e com caracteristicas Gnicas. Supde-se que uma crianga apresente este transtomo quando alguns dos sintomas abaixo estiverem presentes. * 0 a1 Verbal ivamente superior ao QI Nao verbal. Os testes de inteigéncia medem tanto aspectos verbais da inteligéncia (vocabuldio, conhecimentos gerais, abstragéo e raciocinio légico verbais), como aspectos néo verbais ou de execugéo, que so medidos através de testes que nao utiizam a linguagem, como labiintos, quebra-cabegas, constru- ‘¢80 com cubos, percepgao visual, cépia de desenhos e provas de racio- Cinio l6gico néo verbal Existem déficits sensérie-motores em ambos os lados do corpo. Hé ‘maior lontiddio motora. Por exemplo, criancas com 0 transtorno néo verbal podem ter descoordenacéo motora, letra fela, maior lentido para escre- vver e desenhar e sensibilidade alterada nas extremidades. Hé déficts visuoconstrucionais. Estas criangas t8m mais dificuldade para integrar 0 que vem com a sua motricidade, sendo mais difcl copiar desenhos ou construir formas a partir de um modelo, por exemplo, formar uma construgdo em duas ou ts dimens6es com um conjunto de cubos a partir de um modelo. Hé deficits sociais. Cangas com TANV tendem a basear a sua comuni- ‘cacao apenas no contetido verbal, tendo mais dificuldade para captar os ‘aspects néo verbais da conversagdo. Por isto podem ter langos didlogos ‘sem se darem conta que estdo sendo inoportunos ou podem néo perce- ber a reago emocional das outras pessoas. Alguns podem se isola, pois no conseguem saber a forma adequada de se aproximar e iniciar uma conversagao. 4 deficits na linguagem pragmética. Apesar de o conteddo do que vai ser falado ser desonvolvido, as criangas com TANV apresentam mais dificuldade em transmitir suas emogGes a0 dislogo, veriam menos o tom da vor e tendem a ter uma fala mais monétona, ou seja, os aspects no Ditculdados de Aprende: Manual para Paso Profesores 2 verbais, que déo @ tonalidade e 2 emogéo de uma conversa, estdo de- fictéros. Ha maior di scr suldade em aritmética, quando comparado a leitura € Maior risco para o desenvolvimento de problemas psiquitricos. O TANV néo 6 ainda validado porque existem outras patologias semelhantes € ‘que podem fazer parte de um mesmo transtomo. Dentre estas patologias encontram- se a Sindrome de Asperger (que é um tipo de transtorno autista), 0 Autismo de Alto Funcionamento (autistas com Ql normal ou acima da média) e 0 Transtomo de Lin- uagem tipo Seméntico-Pragmético (a crianga domina bem a linquagem nos aspectos famaticaise fonoldgicos, mas seu contetido e uso sao inadequados). Estas classificagdes so muito incertes e podem se referir apenas a pequenas lferengas nas apresentagdes de um mesmo quadro, De qualquer forma, o objetivo ste lvro esté centrado nos seis primeiros problemas de aprendizado expastos acima que so mais comuns e facilmente percebidos pelos professores em sala de aula Como diagnosticar os problemas de aprendizado no Brasil Quando uma crianga tem problemas para aprender adequadamente, o primeiro 0 consiste em saber se realmente hé um problema de aprendizado ou se outras res podem estar causando 0 baixo rendimento. Um problema real no aprendizado lo nao existr quand > a crianga sempre teve um bom desempenho e comega a piorar num pe- riodo espectfco; > a piora no desempenho escolar ocorre associada a problemas emocio- nals e psiquidtricos, como o aparecimento de um quatro depressive ou de uma ansiedade de separagao; > apiora no desempenho escolar ocorre associada a crises na vida da crian- 6, como a separacéo dos pais, doencas fisicas ou confitos familiares; todos os alunos estdo indo mal, sugerindo problemas com o método de ensino utilizado pelo professor ou outros problemas que afetam toda uma ‘urma, como falta de controle comportamental ou exigncias inapropria- das dos professores. Portanto, 6 necessério avaliar detalhadamente @ historia da criange, o ambiente escolar @ a existEncia de problemas emocionais na vide do estudante, E ante frisar que os verdadeiros problemas de aprendizado raramente vao de problemas emocionais. Quase a totalidade resulta de déficits cognitivos, déficits nas fungdes mentais necessérias para o aprendizado efetivo. Uma poderia ser o caso de ume crianca criada num ambiente cadtico, onde a ividade, 0 alcoolismo e 0 abuso fisico e emocional sejam persistentes. E possivel 2 orden Copet que uma crianga nestas condigées, devido aos sérios problemas emocionais decor- Tentes de tal ambiente, venha a ter sérios problemas no aprendizado, mas também ‘aqui surge uma nova possiblidade: 6 possivel que pessoas submotidas a sérios trau- ‘mas porsistentes na inféncia venham a ter o desenvolvimento cerebral prejudicado, 0 {que resultaria em verdaderos déficits cognitivos. Na verdade, o cérebro esté constan- tementeinteragindo com o ambiente e seu desenvolvimento depende néo s6 da gené- tica, mas das experiéncias vividas pela crianga. A ciéncia demonstrou que tanto ani- mais como bebés apresentam sérios problemas no desenvolvimento cerebral quando submetidas a isolamento, abuso isico ou emocional ea experiéncias ca6ticas. E como é feito o diagnéstico clinico? Como néo temos testes no Brasil que sejam completos e adequadamente padronizadas, e os importados, além de ndo se adequarem completamente s nossas friangas, $80 catos ¢ dificeis de serem obtides, 0 diagndstico baseia-se, principal- ‘mente, nos sintomas apresentados, como veremos a seguir. fm minha clinica, apés detalhada avalingSo (neutopsiqudtica, médica geral e laboratoria),utlizamos os relatos dos professores, a andliso das provas e cademos da ctianca © questiondrios respondidos pelos pais e professores sobre aspectos do ddesempenho escolar e comportamento. Como 0 diagnéstico de um transtorno do ‘aprendizado é dado pela discrepancia significativa entre a intelig@ncia @ o desempe nnho escolar, necessitamos utlizar medidas objetivas que megam estas fungdes. Como jé disse, no Brasil temas problemas em fazer estas medidas objtivas por felts de instrumentos, porém, como forma de amenizar o problema, utiizamos testes padronizados nos Estados Unidos que avaiam a inteligéncia e as funcdes académicas. Estes testes podem ser construidos em inglés ou espanhol, e, em nossa cinica, so ‘traduzidos, adaptados @ os resultados séo interpretados com a devida cautela, a fim cde que possamas fazer diagnésticos precisos e corretos para a nossa cultura Sintomas dos transtornos do aprendizado DISLEXIA (Transtorno de Aprendizado em Loitura) © Made: 3 a 5 anos: ‘+ Néo se interessa por brinquedos com sons verbais, como repetigéo e rimas. + Tem dificuldade para aprender frases infantis: “O rato roeu a roupa do rei de Roma + Frequentemente fala errado ou segue falando como bebs. + Nao reconhece as letras do seu préprio nome, + Tem dificuldade em lombrar o nome das letras, nmeros ou dias da semana, + Dificuldade em acessar rapidamente palavras conhecidas; por exemplo: ‘nomear cores, formas ou partes do corpo. Dificuldades de Aprendeade: Manual par Pais Profesor: 2 © Idade: 5 a 6 anos: + No reconhece ou ndo escreve letras; néo escreve seu nome, + Tem dificuldade em falar as palavres sflaba por sfaba; por exemplo: fala ESCOLA como ES - COLA. mrgemees + Ainda tom problemas em reconhecer palavras que rimam ou tém sons seme- thantes, como POMBA E BOMBA. + Nao conecta letras sons (associago fonema-grafema; por exemplo: ndo sabe como 6 0 som de uma letra ou conjunto de letras). Tem dficldede em reconhecerfonemas; por exemplo,ndo consegue responder 2 peruntas come a segue: “Qual plava omega com © mesmo $0 CHUVA? CARTA, SEXTA ou XICARA?”, “ omesm som aie + Idade: 6 a 7 anos: + Ainda pode ter dficuldade om manipular sons e fonemas. Acha dificil separar ‘uma palavra em seus sons individuais; por exemplo: “Quantos sons tem a palavra ACHOU?" (4 sons —a, x- ch, 0, u) + Dificuldade na RAPIDEZ DE NOMEAGAO, ou seja, em dizor rapidamente o nome de certas coisas, como o de objetos comuns representados em figuras @ 0 nome de cores e letras ou dar respostas répides a perguntas simples, como: “Diga um animal que dé ete”, “ale um instrumento usado para medi”. + Vocabulario reduzido, + Falha em ler palavras comuns de uma sflaba. + Reclama que ler é muito dificil e se recusa a ler. + Dificuldade em ler palavras comuns, mas escritas de forma menos comum; ‘por exemplo: chéo, agua, sonho, dade: acima de 7 anos: + Pronuncia errado palavras longas ou complicadas; por exemplo: “minalesa” por mitanesa, “chalchicha” por salsicha. Confunde palavras que tm som parecido. Fala com hesitagéo, usa excessivamente palavres vagas, como “cos ‘aquilo” Tem dficuldade em memorizar datas, nomes e nimeros de telefon. ‘Tem dificuldade em ler palewras pequenas de ligagéo, como e, em, que. Pula partes das palavras quando I Troca palavras que séo escritas de forma semelhante. 8 palavras que néo existem na frase. Néo adquire fuéncia na leitura. Dificuldade em completar os temas ou terminar as tarefas a tempo. Tem muito medo de ler em voz alta, 2 exéano Copat (s sintomas acima podem dar indcios de que a crianca ¢ portadora de disle- via, mas 0 diagnéstico defiitvo exige, como vimos, uma avaliagée mais ampla, ‘Adislexia divide-so em duas formas principas: ‘+ PROBLEMAS NA LEITURA: Quando existe dificuldade em decodificar as palavras. As palavras so lidas de forma errada; por exempfo, omitindo-se sflabas, ou de forma muito lenta, néo havendo a fluéncia esperada para @ idade e grau de instrugéo. ‘© PROBLEMAS NA COMPREENSAO DA LEITURA: A crianga pode ler nor- rmaimente, mas néo consegue compreender o qué foi lido, Apés ler uma frase ou texto, a crianga ndo consegue dizer o seu significado; por exemplo, pede-se &crianca para ler uma frase: “Os italianas gostam de tomar vinho, ‘mas 0 consumo diminui no calor porque o vinho tinto se toma menos agre- ddével ao paladar". Mesmo lendo fluentemente, uma crianga com déficts na compreenséo pode néo conseguir responder a uma pergunta sobre a frase, por exemplo, "Por que os italianos bebem menos vinho no vero?” Geralmente as duas formas costumam ocorrer juntas, mas algumes criangas podem ter formas isoladas. ‘Agora veremos os sintomas mais frequentes na disgrafia. £ muito comum que disgrafia € dislexia ocorram associadas, pois ambas séo decorrentes de problemas no desenvolvimento da linguagem. DISGRAFIA (Transtorno de Aprendizado na Escrita) Como sé 6 possfvel detectar a disgrafia a partir do momento em que a crianga deve comegar a escrever, veremos 0s principais sintomas sem divid-los por idade de + Erros ortograficas; por exemplo, esquecer letras e sabes, trocar letras @ escrever letras ou silabas a mais. + Omissao de palavras. + Erros de acentuagéo. + Erros de pontuagao, como néo colocar ponto final ou vrgulas, confundir pponto de interrogagdo com exclamagéo ete. + Erros de concordéncia © floxéo verbal ¢ nominal; por exemplo, néo conseguir conjugar verbos ou conjugar de forma errada @ ndo usar o plural (ou nao alterar as palavras de acordo com o génera masculino ou feminino. + Eros na sintaxe (erros de pontuagéo, frases incompletas, frases cont nas sem pontuagdo, frases curtas demais, palavras escritas de forma de- sorganizada dentro de ume frese, frases sem sentido ou faltando palavras). Diculdade de Anconcizao: Manual para Pleo Prfessces a Desorganizagao do pardgrafo (néo tem coesdo, transigdes abruptas, sequencia inadequad). Lotra excessivamente mal formada (ilegveis, rotadas, invetides, mistura de maiisculas e mindsculas e/ou de cusiva e de forma). Desenvolvimento tomtico deficionte (redacées muito curtas, superficial dade na elaboragao dos temas, flta de sentido no texto, pobreze de ideias de vocabulri). ‘Abaixo um exemplo clinico de uma crianga portadore de disgrafa Régis € um menino de 12 anos que detesta escrever. Quando escreve, seus tra- balhos sao limitados e primitivas. Hé marcada discrepéncia entre a qualidade de suas ideias nas discussdes em aula ¢ 0 que ele consegue producit no papel. Sue escrita & uc legivl. Ele escreve muito devagar e 0 processo é trabalhoso pera ele. Régis F também tem dificuldade com ortografia@ pontuacéo, apesar de ele ser capzz de cor- rigir este tipo de erros em parégrafos que IB. Régis tem uma maneira desajeitada de pegar oIépis, pressionando-o excessivamente. Com o aumento da demanda ne escr ta, Régis esté gostando cada vez menos da escola. Com frequéncia, mente para os als que néo tem temas de casa. Ao contrério da mioria das criangas, prefere fazer provas ors 0 caso de Régis 6 um exemplo de uma crianga com problemas na escrita \pesar de ter uma enorme facilidade para discutir oralmente sobre qualquer assunto 3m sala de aul, ica imobilzado quando tem que transcrever suas ideias em forma de to escrito, ISCALCULIA (Transtorno de Aprendizado em Matematica) A discalculia divide-s 1) Discalculia espacial: Dificuldade no uso de habilidades visuoespaciais na tealizagdo de célculos mateméticos. Caracteriza-se por am trBs tipos principais: ‘© alinbamento incorreto; * transposigdo de diitos (17 para 71}; ‘© espagamento irregular; 2 2) Jordana Copet rotagdo de digitos; Ed erros nos empréstimos de ndmeros; leitura errada dos simbolos matematicos (x por +); dificuldade em compreender formas e gréficos. Discalculia por déficits atoncionais e/ou no automonitoramento: Caracteriza-se por: ‘+ mé colocagéo de virgulas; ‘© esquecimentos de empréstimos ou carreger nimeros; ‘= erros simples em célculos; ‘© substituig6es ou omissées de virgulas e nimeros; ‘+ no completar todos os passos da operagéo; + somar ao invés de diminuit; ‘© esquecer a sequéncia do célculo em andamento. ‘A principal caracteristica 6 a auséncia de um “paréo de erros”. Hé mais acer- tos do que errs. Marcada inconsisténci, 3) Discalculia propriamente dita: 0s sintomas no decorrem de problemas visuoperceptivas ou atencionss, ‘mas sim em éreas mais diretamente igadas & matemdtic (regido cerebral parietal esquerda e direita,principalmente o sulco intraparietl esquerdo). {As caracteristicas principais incluem: ‘© Néo hé uma compreenséo do caréter simbélico dos nimeros e sinais mateméticos. + Déficits bésicos na contagem, na percepcéo de quantidades e de est mmativas numéricas (por exemplo, pode mostrar mais dificuldade do em que criangas normais para estimar o nGmero de bolinhas apresentadas na tela de um computador) + Problemas na meméria matemética para fatos e procedimentos, por ‘exemplo,dificuldade para memorizar a tabuada e os passos pare reali- zar uma divisdo. . Dieudades de Aprendzado: Manual pare Paso Professores 2 ‘= Déficits na tinguagem matemética ¢ na compreenséo de conceitos rmateméticos. ‘= Déficits na computagéo bésica, Necessita fazer célculos contando nos dedos, ‘© Lentido na realizagao de célculos. Sintomas As dificuldades mais comumente encontradas em criancas com provével iiiscalculia sfo: Em pré-escolares: + reconhecer nimeros ou aprender o seu nome; + escrever os nmoros; * contar objetos em vor alta; + entender que 0 nimero de objetos 6 fixo, independentemente do ‘tamanho ou forma dos objetos, por exemplo, entender que trés bo- las pequenas séo iguais atrés bolas grandes em quantidade numérica; + entender que a contagem é correta, independentemente por onde se comece a contar; por exemplo, que numa fila de moedas, tanto faz comecar a contar pelo inicio, pelo fim ou pelo meio (principio de irele- vncia da ordem); *+ entender que o ditimo ndmero a ser contado representa o nimero total de cbjetos presentes (prnofpio de cardinalidade). De primeira a terceira série: + realizar operacées mateméticas bésicas (criangas com discalculia precisam contar nos dedos ou fazer risquinhos no papel; + dominar cétculos bésicos (por exemplo, 3 + 5 = 8); + reconhecer corretamente os sinais mateméticos (mais, menos, vezes, diviso}; + conhecer os concetos de medida, tempo, dinh aplicélos; + multiplicagéo ttercera série). De quarta a sétima série: + memorizar ¢ lembrar a tabuada com faciidade; + compreender as relagdes e solucionar problemas com fragées, deci- mais e percentagens; * entender os valores dos niimeros de acordo com sua posigéo; >, quantidade e saber au Jordan Copet + compreender e resolver problemas mateméticos verbais; + fazer célculos com mais de uma etapa; + ter habilidades computacionais desenvolvidas e lembrar os procedi- imentos matemiticos nacessérios para a solugéo dos problemas, + Do citava série e anos postoriores: + utilizar de forma adequada 0 pensamento abstrato, ou seja, sair da interpretagdo literal e concreta para uma compreenséo mais abstrata dos conceitos e problemas mateméticos; + lidar adequadamente com a maior variedade de f6rmulas, equagdes e problemas mateméticos; + usar corretamente calculadoras e computadores; + realizar problemas complexos, com miitiplas etapas, monitorar seu desempenho e corrgir eros. Caso clinico ‘Amanda tem nove anos, adora a escola e é muito popular entre os coleges. Ela & boa na letura e escreve muito bem. Por outro lado, matemiética tem sido um proble- ma sério. Amanda tem muita dificuldade em entender os conceitos de matemética Na pré-escole, desenvolveu muito lentamente a capacidade de reconhecer os nime- ros e a hablidade para contar. Fica confusa quando sua professora explica muttiplica es simples em aula, Ela néo consague memorizar a tabuada e néo sabe explicar 0 (ue significa a mutipicagdo. Amanda tem tentado aprender os procedimentos necessé- Tios para resolver problemas nas aulas de ratemética, mas, de algum modo, estes procedimentos parecem nao fazer sentido para ela; por exemplo, ela se confunde nas divisdes mais longas ou nas subtragdes com empréstimos. Sous pais e a professora observam que Amanda fica muito ansiosa quando tenta solucionar problemas de matemética Como Amanda, mithares de estudantes enfrentam diariamente ume batatha, Para eles, as aulas so um tormento e uma fonte de angistia. E 0 pior de tudo que ainda so acusados de “no quererem estudar’, de preguigosos e coisas do gBnero. ‘Quando os pais e professores entendem que @ crianca tem problemas no eprendizado porque tem dificuldades reais, e ndo porque é preguicosa,ficam de méos amarradas, Primero, porque néo sabe o que fazer, segundo, porque 0s profissionais procurados, fem sua grande maioria, também ndo oferecem respostas convincentes. 0 que estd por trés dos transtornos do aprendizado? Fiz uma descrigéo dos transtornos do aprendizado como séo recontiecidos nos manuzis de classificagao diagnéstica, mas no basta sabermos que a crianga tem Dicudades do Apondzao: Manusl pra Pas Professores 6 dislexia ou discalculia, temos que ajudé-la a vencer suas dificuldades, Temos que saber por que ela néo aprende. Dislexia, dsgrafa @ discalculia séo r6tuls, ou, no ‘méximo, diagnésticos dlnices, entretanto, néo explicam as razées que fazem a crianca néo ler fluentemente, ter dficuldade para elaborar um texto ou do automatizar 0s Bciculos matemiticos. Por tris destes diagndstioos encontram-se as fungées cogni jodesonvolvimento, Para o aprendizado ocorer deforma ofica, varias fungdes mentaistrabelham onjuntamente. mais ou menos como fazer um bolo. Vérios ingredientes e etapas i540 necossérios e se um deles fata, ou néo sai o bolo, ou sai por do que o esperado, No aprendizado escolar as fungSes cognitivas séo os ingredientes do bolo e precisam Bstarintegras para que tudo corra bem. Entretanto, 0 cérebro 6 téo complexo, que jo 6 ro que acorram problemas em suas conexdes. Centenas de motivos podem ar ou fazer que ocorra um desenvolvimento anormal de pequenas porgdes ou exes cerebrais. E al, como @ receita do bolo jé est incompleta, o resultado serd erente do esperadol ‘A primeira vista, um bolo aparentemente ruim ou feio pode parecer mé vontade fs cozinheia, © ogo a culpamos. Mas, ao contrério do que parece, os problemas que Béusaram o estrago no bolo estéo longe do controle volurtri da cosinhera, Ela nada Pode fazer se os ovos estavam estragados, se a farinha era de mé qualidade ou se 0 Brno esquentava demsis. Embora a crianga pareca ser culpade, ela, na verdade, no controle sobre seus défcts cognitivos que causam os problemas no aprendizado, Eu néo sei dizer o que saiu errado num bolo, mas minha avé diz com preciso ‘que ocorreu. “Faltou agdcar! A farinha néo prestal Ficou mal batido!”, ela grita hora. Nos problemas de aprendizado somente um profissional treinado a lidar com Stes problemas pode gitar (néo na hora, como minha avé, mas depois de um exame falhado|: “E uma incapacidade de realizar as computecées mateméticas bésicas por as na meméria para fatos mateméticosi!!". Ai j& comegamos a diagnosticar mentee estamos no caminho para uma solugéo. ,___€ 0 que comecaremos a falar a partir de agora: O que esté por tis dos pro- ghas de aprencizado, fas ou do net

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