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REVISTA DO INSTITUTO BO CEARA 215 Antigas Familias do Sertao MONS. FRANCISCO COUTO © titulo curioso que encima a presente crénica, deve-se & descoberta nossa de um instrumento histérico precioso, datado dos principios do século 18, Trata-se de um térmo de assentamento de Batisado da Paréquia do Icé, a segunda em terras cearenses, criada que foi nas eras de 1720. No seu conteddo, como logo mais constataremos, hd noticias positivas de patriarcais Familias sertanejas, pioneiras, que foram, da nossa civilizagéo oriental, O interesse, que temos, de publicar fatos de nossa génese sécio-cristé e a colaborag3o, que devemos dar & Historia do nosso querido Cearé, sfo os motivos principais déste répido eshégo cronolégico. Queremos, de inicio, transcrever, ipsis litteris, na grafia co- lonial, 0 documento, em aprégo: — “Antonio filho legitimo de Francisco Pais e de sua mulher Mariana Pais todos déscravos do Sargento Mor Manoel Peyxoto da Sylva, morador que foy no Lu- gar da fazenda Curralinho: nasceu em doze de Fevereyro do anno de mil setecentos e doze, e foy baptizado em vinte e dous do dicto mes de Fevereyro e do mesmo anno no Lugar do Curralinho pello Padre Jodo de Mattos Serra, Vigdrio que entéo era no Ciara: fordo Padrinhos 0 Coronel Jodo da Foncequa Ferreyra e sua filha Sicilia da Foncequa, do que para constar fiz este asento em virtude dehd dyspacho do Muyto Reverendo Doutor Vigario da Vara, que assi- na // Padre Domingos Salgado Mota, Cura e Vigario da Vara do Icé // """(LIVRO DA PAROQUIA DO ICO, N° 6, FOLHAS 90) O documento é de Fevereiro de 1712. Sob as luzes déste térmo de Batisado e de outras fontes histé- ricas, paralelas, coevas, iremos abordar as personagens coloniais, suscitadas. PADRE DOMINGOS SALGADO MOTA. Exercia, ent3o, além das fungdes de Péroco, as de Vigério da Vara, terminologia. esta que equivale & de Vigério For&neo de nossa atualidade. Por despacho, ordenou ao amanuense da época, Junho de 1767, a fazer o langa- mento do Batisado, realizado, em Fevereiro de 1712. 216 REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA PADRE JOAO DE MATOS SERRA. Era 0 famoso Cura e Vigério da Vara da Freguesia de Sio José de Ribamar do Aquiraz. Também, © Prefeito das Misses dos INDIOS da Capitania e Vigério Geral. Portugués. Sua nomeagio para tais fungdes pelo Bispo de Olinda. Recife, D. Frei Francisco de Lima, Carmelita, deu-se em 1698, No decorrer dos anos de seu Paroquiato, andou, diversas ve- zes, pela hinterlandia cearense. Assim é que pacificou e situou os Tapuias Quixelés e Icés e outras tribos, nas eras de 1700 e 1707. Em 1701, por ocasigo de suas continuas jornadas missiond- rias, ele e mais alguns sécios tornaram-se titulares de Fazendas de Gados, no Riacho das Pedras, onde os Gentios Icés e Cariris, confe- derados, mataram os Homens do Rio de Sdo Francisco, Tal Riacho é 0 antigo Oriabebt do Tapula, hoje Riacho do San- gue. Os Homens do $80 Francisco foram os primeiros desbravado. res do sertio do Médio e Alto Jaguaribe, imigrados, aqui, nas eras de 1682, sob a égide da célebre Bandeira do Capitao Bartolomeu de Nabo Correia. Em 1712, Fevereiro, de novo no interior, em funcéio de seus encargos eclesiais, e, entre éstes, o de fundar Missdes de Aldeias de {ndios. Comprova-nos a sua presenga, 0 assentamento paroquial, coevo. Em Abril de 1717, andou As trelas com os Tamaristas da Vila de Aquiraz, por motivo da mudanga da séde da Freguesia. A C4- mara do Aquiraz fez, entao, a0 Govérno do Bispado de Pernambu- co, uma representac3o contra o Vigdrio Jo3o de Matos Serra, que, 4 reclamacio feita para vir residir no Aquiraz, respondeu que lhe parecia ridiculo andarem as Relfquias Sagradas atrés do Pelourinho. E, assim, 6 que o ORATORIO dos Solcados do Forte de Nossa Senhora da AssungSo (hoje Fortaleza) servia de Séde-Matriz da unica, ent&o, Freguesia do Ceara. Convém notarmos que até 1720, no Ceard, sé havia uma Pa~ réquia, a de Sd José de Riba-mar do Aquiraz, com sede de Ma~ triz, em Fortaleza. Garantem-no-lo os melhores historiadores e cro~ nistas cearenses, entre éles, Anténio Bezerra, Bardo de Studart, Jo&o Brigido, de quem nos servimos, no presente estudo. SARGENTO-MOR MANOEL PEIXOUTO DA SILVA. Tronce da Familia Tévora. Foi um dos pioneiros da colonizago jaguaribana, ao lado de Joao da Fonseca Ferreira, Domingos Paes Botéo, Fran- cisco de Montes e Silva, Manoel Pinheiro do Lago. Déste ultimo e de sua descendéncia, por pedidos de ilustres membros da Famitia Pinheiro, estamos, no momento, fazendo coleta de dados genealé- gicos. A crénica sesmeira e eclesidstica da época 6 rica de refer8n- cias, que comprovam a historicidade dessas respeitdveis figuras co- loniais do Ceard. REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA 217 © Sargento-mor Peixouto, Paes Botéo e Fonseca Ferreira, con~ forme documentacéo d’antanho, achavam-se ligados por parentes- co de afinidade. Alguns documentos, para elucidagéo do nosso as~ serto, vamos citar linhas abaixo, na grafia e estilo da atualidade, para melhor compreenséo das presentes geragGes: 6 DE JANEIRO DE 1738: — Néste dia, o Padre Cristovéo Fa~ rias da Fonseca, Capelfo da Igreja de Nossa Senhora das Can~ deias de Jaguaribe-Merim, batizou uma crianga, cujos Padrinhos foram: — O Tenente Coronel Miguel de Melo e Maria da Fonseca, filha do Sargento-Mér Manoel Peixoto da Silva, (Livro Paroquial do Iced, n2 12, folhas 35). 25 DE DEZEMBRO DE 1763: — Batismo, nesta data, de JOAO, na Capela do Rosério, Cidade do Icd, feito pelo Reverendo Padre Frei José do Rosdrio, da Reforma de Nossa Senhora do Carmo, Car- melita de Pernambuco, PAIS: — Q Licenciado Miguel da Silva, natural da Freguesia de Santiago do Castelo da Viana, Arcebispado de Braga e sua mulher Teresa de Jesus, natural da Freguesia do Icé. AVOS PATERNOS: — Domingos Alvares e sua mulher Joana da Silva, naturais da Freguesia de Santiago do Castelo da Viana, Arcebispado de Braga. AVOS MATERNOS: — Manoel Peixouto da Silva, natural de Portugal (Cidade de Tévora) e sua’ mulher Ge- noveva de Assungac, natural do Rio de So Francisco. NASCEU aos 1 de Setembro de 1763. PADRINHO: — © Reverendo Doutor Pa- dre Verissimo Rodrigues Rangel”” // Padre Donfingos Salgado Mo- ta, Cura e Vigdério da Vara do Ieé // (Livro Paroquial, N.° 44, f6- thas 301). © Padrinho do Jo&o exerceu as altas funcées de Visitador Dio~ cesano na Capitenia do Ceard, de 17601767, Possufa © titulo de Doutor em Cénones pela Universidade de Coimbra, E era, na data, Vigério Colado na Matriz de Nossa Senhora da Conceigéo, das Ala~ goas FAZEMDA CURRALINHO. Chantada em terras, do Municipio de Jaquaribe ainda existe. E foi o berco primevo da ilustre Fami- lia TAVORA. radicada. hoje, em diversas Estados da Unido e a quem dedicamos 0 vresente estudo genealdgico, Sua génese positiva, Corene! Joo da Fonseca Ferreira. Domingos Paes Botdo. Cel. Francisco de Montes e Silva. A crénica dessas simpdticas e herdi- cas figuras do nosso sertao colonial acha-se, amplamente, relatada na “MONOGRAFIA HISTORIA DO XCO, de 1682 a 1728", publicada em 1962, Mesmo assim. eis alguns fates da vida do Corone! Fonseca, de quem nos fala o termo de Batisado de Fevereiro de 1712, na Fazen- da Curralinho-Jaguaribe. O Fonseca fez CASA FORTE no Sitio Ja~ guaribe-Merim, para defesa sua e dos habitantes contra ataques @ 218 REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA pilhagens dos [ndios Tapuias. Assistiu sempre, com sua pessoa, com muitos homens 4 sua custa, nas guerras contra os [ndios revolta~ dos e confederados contra os brancos. Perdeu muitos gados roubados pelo Gentio Barbaro. Foi o fundador do Icé de Baixo (o Velho), edificado na passagem da Fazenda Bom-Sucesso, uma légua abaixo do atual cd, fundado, em 1708, pelo Coronel Francisco de Montes e Silva. Em 1696, 0 Fonseca recebeu uma Carta Régia, aceitando e agradecendo a oferta que fizera de suas terras para uma Aldeia de Tapuias no Jaguaribe, O Rei prometeu, também, uma ajuda para a construgéo de uma Igreja e auxilios aos Missiondrios, que se empregarem na dita Missio, Foi amigo dos Feitosas contra os Montes, na célebre quest8o familiar, de que tanto nos fala a cré- nica alencarina, © presente relato de eventos primeiros de nossos pagos ser-~ tanejos acha-se fundamentado nas Sesmarias Cearenses, na Do- cumentagéo Eclesidstica e Fontes outras da nossa querida Terra da Luz. Concluso: — O patriménio histérico, que temos, com todos os seus efes-erres, custou aos nossos antepassados, suor e sangue. Conservé-lo, aprimorando-o, 6 um dever nosso. IGUATU, 13 de marco de 1967.

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