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EM TORNO DA GENEALOGIA CEARENSE POMPEU P. DE SOUSA BRASIL Na distribuigéo das monografias componentes do tratado de Histéria do Ceara que o Instituto desse Estado se propés es- crever, coube ao seu erndito membro Raimundo Girdo, entre outras, a sobre genealogia Nao podia ter sido confiada a melhor espirito. R. Girdo, doutor em direito pela Faculdade do Ceard, se- cretério do Instituto, j4 publicou varios livros de incontestével valor, entre os quais Histéria Econémica do Cearé, outra mono- grafia do referido tratado, e diversas dissertagées genealdgicas. Dada sua grande operosidade, talvez néo demore a ofere-. cer-nos sua nova contribuigéo para’ essa monumental obra. No tomo LXI, de 1947, da Revista do Instituto, num artigo ~— Notas para uma Inirodugdo & Genealogia Cearense, esboga, embora vagamente, o seu futuro trabalho. . Vou examiné-lo em alguns de seus pontos e depois delinear certas sugestées sobre esta matéria. * No cap. 1, R. Girdo expéenos seu juizo sobre genealogia. Orientado por Battaglia, adopta, a esse respéito, 0 conceito dos cientistas alemaes, que a identificam com a genética ou, me- jhor, a consideram uma aplicagio dessa & humanidade. Fazendo um resumo da critica ¢ dos dados mais impor- tantes apresentados por esse eseritor em seu artigo O Renasci- mento da Genealogia, transcreve-lhe os trechos mais caracte- risticos. REVISTA DO_INSTITUTO DO CEARA _ 179 Em seguida, desenvolvendo esse ponto de vista, aduz al- gumas referéncias 4 genética. Mas, baseando-se em livro brasileiro de divulgagéo cien- tifica — nao raro inexacto, como os seus similares quando se ocupam de nogées menos simples —— incide ao meu ver em al- guns breves equivocos. Assim, diz: “Nenhum deles (bidgrafos, médicos, antro- pologos) pode esquecer a equacgéo de genética:.Genétipo + Am- biente Fenétipo ou, em linguagem mais comum, Hereditarie- dade + Meio = Individualidade...”. Os termos gendtipo e fendtipo foram empregados no co- mego do século, por ocasidéo do ressurgimento da genética, com significados varios e confusos, alé como sinédnimos. Mas, de certo tempo para cd, adquiriram sentidos precisos, muito bem delimitados. Genétipo é 0 tipo genético de qualquer das combi- nagées possiveis de seus elementos. E fenétipo é o tipo gené tico de qualquer dessas combinagées, mas s6 das visiveis. Estas, pois, séo em menor niimero do que aquelas. Donde as fér- mulas que lhes déo as quantidades, respectivamente: G = 3 n, F = 2n (n, ntimero de pares de genes). Ambos sao heredi- trios. Enquanto que as qualidades comuicadas pelo ambi- ente se ndo transmitem aos descendentes. O conjunto dessas é © que Siemens designa pardtipo. Isso ndo imteressa 4 genética. Entretanto, tem importfincia, mas s6 para a biologia, que estuda também as variagées. Individuo, antes do organismo sofrer a influéncia do meio, equivale a fenétipo; depois, corresponde & soma: fendtipo + pardtipo. Outro tépico: “Das variagdes genotipicas ao contacto com os factores externos fisicos e sociais, saem as variagdes indivi- duais, em forma de génios, de normais, de mediocres, de infe- riores, conforme 0 cas”. O génio, como qualquer grau da mentalidade original, nado provém, mesmo parcialmente, do ambiente. Nao se enquadra mais nem no conceito de Buffon (uma grande paciéncia), nem no de Moreau de Tours (uma psicose), nem no de Lombroso {uma epilepsia). Consiste em determinado fenétipo, sendo o resultado de certas combinacées génicas e da interferéncia de 180 REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA dominineias e recessividades. Pode ser transmitido aos descen- dentes, porém sob condigées particulares, regidas pelas leis da genética. Vejam-se o trabalho de Philiptschenko sobre a apti- dao musical e o de Hurst sobre a capacidade intelectual. ‘Ao fim, R. Girdo, com grande alcance, chama a atengio para a importéncia da genealogia em relagdo 4 histéria e & sociologia, particularmente entre nds. Lembra que, para Capistrano de Abreu, a histéria do Brasil € a de suas familias. Toda ela, sobretudo em seus primérdios, se desenvolve sob o influxo dessa mentalidade grupal, reflectindo suas vantagens (solidariedade nacional, etc.) e maleficioe (Iu- tas, etc.) Os senados de camara por toda parte manifestam esse familismo. Etc. E comprova-o com Gilberto Freyre. Segundo este sociélogo, a colonizagio por individuos aqui quase nao deixou vestigios. Os degredados, cristéos novos, traficantes de escravo, nfo nos impuseram seus maus hébitos. No cap. II, R. Giraio sustenta que o Cearé se manteve quase despovoado, sem familias, durante o século XVII. E confir- ma-o com os testemunhos de dous capitdes-mores do fim desse perfodo, E’ uma verdade, sem divida, mas que me parece apenas aproximada, mesmo muito exagerada para menos. Até o meado daquele século as tentativas ineficazes de asse- nhoreamento da terra pelos portugueses, lutando néo s6 com os selvagens mas também com os holandeses, nao-permitiram a fixagio de familias na Capitania, nem mesmo em sua orla ma- ritima. : As duas racgas brancas, em suas conquistas alternativas, quando. néo exterminavam o inimigo, expulsavam-na. Mas, apesar disso, mantiveram convivéncias longas com os aborigines. REVISTA DO INSTITUTO DO €EARA 181 “Uma guarnigéo de 45: soldados, no fortim de Nova-Lishoa (Santiago), depois designado N. S. do Rosdrio, deixada por Pero Coelho de Sousa, permaneceu ano e meio, a partir de 1603. Abandonado por seis anos, foi depois re-habitado. Entre 1613 e 1637, ocuparam-no sempre cerca de trinta tantos soldados, quase ininterruptamente. Daquele ano até 1653, salvo um lustro, ficou sob o dominio holand@s, com 40 soldados, mais ou menos. Fm 1654 0 capitio-mor Alvaro de Azevedo Barreto levou para 14, afora indios e negros, quatro companhias de soldados. Fm 1660 comegam a tomar 6 mesmo destino também mu- Theres brancas, Poucos anos depois, em 1678, iniciam-se as concessées de terras, que logo se tormam muito frequentes, as vezes feitas, numa mesma data, a trinta ¢ tanos pretendentes. Ao mesmo tempo, ao longo do litoral, desenvolvem-se outros fortins e surgem novos. Em 25-3-1696, o préprio P. Lelou constréi um presidio na Ribeira do Jaguaribe, assistide por 500 homens. Enfim, aos 3-2-1699 eleva-se 0 povoado da Capital a vila, com oficiais de cimara e juiz ordinario. Ora, esses militares ndo se conservaram absténios sexual- mente. Apesar das proibigdes, aliés mais formais que reais, amigavam-se e casavam-se, seguramente na totalidade, com mu- Iheres indigenas. Sendo os lusitanos muito sensuais e as ame- rindias muito fecundas, de certo produziram mestigos em grande quantidade (1) | (1) Os portugueses, no decorver da eolonizagiio, em todo o pats, sempre deram preferéncia 4s mulheres indigenas ¢ suas descendentes mis- tigas. Os primeiros, que vieram para a nova terra, em virtude das difi- cutdades de transporte, podia-se supor que foram forcados a isso, | Assim © fizeram Jodo Ramalho, Antonio Rodrigues e Diogo Alvares Correia, qne constituiram familias ‘com filhas dos caciques locais (guaianazes, tu- pinambés). Mas quase todos os outros, depois, os imitaram. Os casados deixavam na patria as esposas ¢ os solteiros vinham se consorciar aqui, nae com as conterraneas emigradas, mas com as aborigines ou mame- 182 REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA Esses primeiros cearenses heterogénios talvez ndo tenham sido estranhos As sucessivas aliangas com os conquistadores todos se encorporaram A nova gente A populagio do Brasil no meado do século XVII ja orgava de 150 a.200 mil habitantes. A vista de tudo isso, ndo merece muito crédito 0 cémputo demografico de‘Lelou, sobretudo sendo ele de moralidade muito falha, a ponto de ter sido demitido do cargo. Thsisti nesta questéo, ndo- por espirito de divergéncia, mas por conviegao sincera, Desejo que aquele conceito s6 seja admitido com a devida restrigdo, afim de, por comodidade, néo impedir novas pesquisas. Considero os séculos XVII e XVIII, mormente o primeiro, os mais interessantes para a genealogia cearense, porque sao os vinicos que podem nos informar sobre o caldeamento étnico com os aborigines, . Cumpre-nos estabelecer com seguranga o genétipo de nosso povo. E seremos muito felizes se conseguirmos provar que possuimos, como se me afigura, cerca de 40% de amerindio, pelo facto de ser uma raga inteiramente adaptada ao meio. x ueas. Ja no meado do século, em 1535, Jerénimo de Albuquerque (cunhado de Duarte Coelho, donatirio da Capitania de Pernambuco) ‘uniu-se com uma filha do chefe tabajara Arco-Verde (afora com outras), tendo & filhos, entre os quais, Jerénimo, 0 conquistador do Maranhio (1615) e Catarina, que se casou com Filipe Cavaleanti, fidalgo de Flo- renea. ‘Também as descendentes de Paraguacu, Bartira e A. Piquerobi, wmatrimoniaram-se com os melhores fidalgos Iusitanos e espanhdis que se intidaram para o novo meio. E’ certo que vieram para aqui mulheres portugisesas, desde o primeiro século, mas relativamente poticas. No meado do XVI chegaram 4 Baia familias e donzelas do mosteiro das érfas, mesmo algumas da rainha D.. Catarina, No comego do XVII, Jorge de Lemos trouxe para Per- nambuco 200 casais acorianos. $6 no meado do XVII se incrementou a importagio feminina, quando José Alvares ‘Torres contratou com o Estado do Maranh@o o transporte de “casais das ilhas”, num total de mil individuos, nos denominados “navios dos casais”. REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA 183 A genealogia cearense tem que ser feita progressivamente. Agora, nesta primeira fase, ird se limitar a um conhecimento histérico preliminar, mera geneografia inicial. S6 poderé consistir numa condensagao e coordenagao dos tra- balhos existentes sobre drvores de costado e biografias. Deve, pois, compreender os dados provenientes das fontes seguintes: a) Obras avulsas de genalogia cearense. Poucas tem sido publicadas. (2) b) Artigos de genealogia cearense, em revistas e jornais. Encontram-se sobretudo nas revistas do Instituto Genealégico Brasileiro (3) e do Instituto do Cearé (4). (2) Mons. Vicente Martins — Diocese de Sobral, 1 v. (16 paré- quias, 83 familias). Mario Linhares — Os Linhares. 1939, Rio de Janeiro, Irmios Pongeti. (3) Na Revista Genealdgica Brasileira: Raimundo Girio — Esboco de uma Genealogia: I, Os Montes (Sem. 2, da p. 297 a 301). R. Girfo—Idem: Os Rodrigues Machado (ano 3, sem. I, da p. 17 a 20) Armando de Alencar — Familia Alencar (ano 6, sem. I ¢ 2, da pa- gina 31 a 37). Dom José Tupinamba da Frota — Relagdo dos Livros de Batismos, Casamentos ¢ Obitos da Diocese de Sobral (ano 6, sem. I ¢ 2, da p. 42 a 46) Mons. Vicente Martins — Famflias da Diocese de Sobral (Araijo, Gil Tomés, Gongalves, Lotzada, Moura Ferreira, Sales, (ano 7, sem. I, dap. Ha 19). Mons. Vicente Martins — Idem: (Pereira Passos, Fernandes, Carneiro, Valério, Lopes, Fonteles Silveira, Rodrigues, Rocha, Silveira, Navarro, Leitio, Cavaleanti, Morel, Veras, Bezerra, Collyer) (ano 7, sem. 2, da p. 383 a 408). Geraldo Mantedénio B. de M. — O Cap.mor Joaquim Antonio Bezorra de Meneses (ano 9, sem I ¢ 2, da p. 49 a 59). (4) Na Revista do Instituto do Cearé, afora biografias: Soares Buleio — Padre Mororé (ano XXVIL, p. 158) Soares Buledo — S. José da Uruburetama (com Notas Genealégicas) (a LIL, p. 237). Redacgio — Ascendentes Paternos do Dr. Leonardo Bezerra Mon- tewo (a. XXIX, p. 69). 184 REVISTA DO_INSTITUTO DO CEARA. Outras devem té-los: Revista do Instituto Histérico e Geo- grafico Brasileiro e revistas dos Institutos dos demais Estados, particularmente do Nordeste. ce) Diciondrio Bio-Bibliografico Coarense pelo Bardo. de Studart, 1910, em 3 v. d) Catdlogos dos ultimos censos, sobretudo o de ‘1950. e) Livros e artigos de histéria cearense. Dentre estes sobressai o Datas e Factos para a Histéria do Ceard, pelo Bardo de Studart, 1896, em trés volumes. Impée-se aqui, para facilitar 0 trabalho, organizarem-se pré- viamente indices dos nomes des personagens de nossa histéria, quer pelo prenome, quer pelos nomes de familia. £) Catalogo Genealégico (das principais familias que pro- cedem de Albuquerques e Cavaleantes em Pernambuco, e Cara- muru na Baia...) por Frei A. de S. M. Jaboatao, em 1768. Deste conhego trés edigées, sendo uma pela Rev. do Instituto Histérico ¢ Geogréfico Brasileiro (v. 52, em 1889); as outras duas pela Rev. do Instituto Hist. e Geog. da Baia, reordenadas e ampliadas por Afonso Costa, a primeira sob o titulo de Achegas Genealégieas, em ordem alfabética (v. 61, em 1934); a segunda, de 1946, De “Uni R. Toreapi (a, XXXVI, p. 237) Leonardo Feitosa + Histéria e Genealogia (a. XLVI, p. 126). Jofic Nogueira Jaguatibe — Alencares de Saugue e Afins (a. LIV, pagina 99). R. Gitio — O Comendador José Anténio Machado e sua Descen- déncia (a. LIV, p. 13). R. Girio — Nolas para wna Introducdo é Gencalogia Céarense — (a. LXL, p. 130). Edgar Cavalcante de Arruda — Nolas para a Genealogia das Fa- milias Cavalcante e Arruda (a. LNT, p. 226). Pe. Azarias Sobreira — Minka Arvore de Familia (a. LX, p. 20; correcgdes no 2. LXI, p. 429). Murilo Bezerra Si'—- Familias Cearenses — Estudo Genealdgico da Reserva dc Meneses (a. LX, p. 215). 0” — Os Xerez (a, XXXII, p. 59). — Algumas Linhagens de Familias do Sul do Cearé REVISTA DO :INSTITUTO DO CEARA 185 EF livro de muito valor, pois foi um dos primeiros que nos deram as estirpes das familias nortistas que, como se sabe, deri- vam da Baia e de Pernambuco. - Infelizmente tem muitos senées. ‘A seu respeito diz A. Costa: “...catélogo sem método, e pelo qual nem se sabe quando est4 no meio... Sobre isso, as fafhas so imensas, as contradigdes numerosas, as iteragdes incémodas 4 vista da frequéncia; os nomes incompletos, errados, mal revis- tos...” Além dissd, pelo facto de chegar apenas ao comeco ou meado do século XVIII e como os dados de nossas linhagens geralmente nfo descem abaixo do principio do século XIX, presentemente ainda nao pode nos preslar grandes servigos. ‘Apesar das deficiéncias, a obra de Jaboatéo, em alguns casos, fornece-nos informacées preciosas. Como exemplo, si muito interessante, vou tentar obter dela a ascendéncia de Jo%o Correia Arnaud, um dos patriarcas mais antigos do Estadp, registado pela tradigio como o iniciador do seu povoamento no interior, fundando Missio Velha. Sua drvore genealégica quanto a Alvares Correia: Diogo Alvares Correa, Caramuru, de: Viana, nebre, casado com Cata- rina (ou Luisa, segundo frei Vicente do Salvador, que a conhe- ceu), exParaguacu ou Guaibim-paré (mar ou tio grande) ; Apo- lénia Alvares Correa, c. ¢. Jodo de Figueiredo Mascarenhas, Boatucd, de Faro (Algarve) fidalgo; Mécia de Figueiredo Mas- carenhas, c. c. Manuel Correa (ou Garcia, segundo Borges da Fonseca, v. II, p. 313) de Brito; Catarina Correa de Brito c. c. Fracisco Pereira de Abreo, de Viana; Izabel Correa de Brito (ou Pereira de Abreo), c. c. Jo&o Correa Arnao, de Coimbra; Joio Correa Arnao (jiinior), ¢. e...« A grafia Arnao (Arnaldo), de Jaboatio e também de B. da Fonseca, constitui mero abrandamento latino do holandés Arnaud (t) conservado pelos cronistas cearenses. Esse ultimo Jodo pode ser o bandeizante que foi para o Cariri, em 1707, ¢ 14 faleceu em 1771 (sendo o derradeiro acon- tecimento admitido pelo Barao de Studart, em Datas e Factos para a Historia do Cearé, p. 330) ov seu pai. 186 REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA Nascido no fim do século XVII ou comego do seguinte, havia tido 5 ou 6 geragdes até Caramuru, inclusive. Quanto & drvore de Arnao, é muito confusa e omissa. &) Nobiliarquia Pernambucana por A. J. V. Borges da Fonseca, em 4 volumes manuscritos, 1748, publicada parcial- mente pela Revista do Instituto. Arqueolégico e Geogréfico Pernambucano e integralmente pelos Anais da Biblioteca Na- cional, em dous volumes, em 1935, Encerra os mesmos defeitos que a obra de Jaboatéo, mas . em muito menor escala, Prefaciando-a, R. Garcia, a despeito das lacunas, diividas, repetigdes, incongruéncias, reconhece-lhe “um imenso préstimo pelas noticias histéricas e genealégicas”. Tem muito mais valor do que aquela para a genealogia cearense, pois, afora conter bem maior material, refere-se fre quentemente aos que se deslocaram para a nossa terra (No vol. I: pgs. 49, 77, 78, 81, 96, 146, 172, 174,178, 193, 203, 252 257, 329, 330, 331, 343, 354, 359, 360, 391, 392, 397, 399, 409, 410, 445, 455, etc. No v.II: 77, 80, 83, 95, 101, 106, 137, 138, 139, 229, 232, 282,292, 296, 438, 443, 444, 468, 480, etc). Nao consegui por aqui, também, a linhagem Arnao de J. C. Arnaud, salvo alguns indfcios. Deve ser origindrio de Arnao de Holanda, de Utrech (filho de Henrique de Holanda, barao de Rhencburg, e Margarida Flo- véneia, irma do papa Adriano 6°, falecido em 1523), e Brites Mendes Vasconcelos, de Lisboa, que vieram com Duarte Coelho para Pernambuco, em 1535. Mas tem-se dificuldade de articular algum ramo da prole desses com o primeiro Arnao da érvore dada por Jaboatéo, atendendo em parte & sua patria. (5) (5) Informa B. da Fonseca, em: seu estilo algo precioso, gongérico, que, tanto de Tnés como de sta irma Isabel, hé “ilustre”, nobilissima”, sucesso, quer em Pernambuco. quer em Portugal. Também de Ana (v. II, pagina 191). REVISTA DO INSTITUTO DO-CEARA 187 Provém ele de Arnao com Correa (nome muito comum em Portugal), talvez entéo sem parentesco com Caramuru. Arnao é, pois, um prenome da familia Holanda que se tor- nou nome. Os parentes e descendentes desse bandeirante baiano inter- vieram, embora modestamente, nos acontecimentos politicos lo- cais do fim do século XVIII e comego do seguinte. Arnaud de Holanda Cavalcante, na inauguragéo da vila do Crato, foi esco- lhido para capitio-mor (1764) (6). O sargento-mor José Ale xandre Correa Arnaud, possivel neto ou filho de Jofio C. Arnaud (descendente, para J. Brigido), obteve a elevagio do Jardim a vila, em 1814, e foi rival do capitao-mor José Pereira Filgueiras, protegendo os policiais Calado, que fusilaram arbitrariamente um sobrinho daquele (Bernardino G. de Araijo, J. Brigido). Dous: outros Correia Arnaud foram vigdrio de Missio Velha (José Alexandre, em 1824, provavel filho do homénimo; e Félix Aurélio, em 1853). Em face de tudo isso, apesar de certos argumentos, ndo se tem o direito de impugnar o que The conferiu a tradigio (A. Be- zerra, etc). (6) Descende duplamente de Arnao de Holanda: Inés de Géis (neta materna de Joana Géis de Vasconcelos), c.c. Luis do Rego Barreto; Atnao de Holanda Barreto. c. c. Lusia Pessoa; Madalena de Gois, «. c. Joao Correa Barbosa, falecido em 1707 (v. IT, p. 167); Arnao de Ho- Janda Correa, falecido em 1690, c. c, Bernarda de Albuquerque; Arnao de Holanda Cavalcante, que veio para os sertdes dos Inhamuns e foi o 1° capitao-mor do Crato, c. ¢, uma filha do Cel. Francisco Alves Feitosa. Por sua vez, Bernarda de Albuquerque, ainda viva em 1751, deriva de outro filho de Brites M. Vasconcelos: Ctistovio de Holanda de Vas- concelos, falecido em 1614, ¢. ¢, Catarina Cavalcanti de Albuquerque (filha ce Filipe Cavaleanti, fidalgo florentino, que conspirara contra 0 duque Cosme de Médicis, ede Maria do Espirito Santo, que era irma do conquis- tador do Maranhao, filha de Jerénimo de Albuquerque (pai) e neta do cacique Arco-Verde) ; Crist6vio de Holanda de Albuquerque, c. ¢, Catarina da Costa Calheiros Rodrigues; Joo. Cavalcanti de Albuquerque, 0 Bom, c. ¢. Simoa de Albuquerque Fragoso, 2a, esposa, j4 consorciados em 1662. Bernarda e Arnao nio deram nenhum filho denominado Jo&o. Mas, seu fiho Arnao deve ser primo de J. C. Arnao, 188 REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA h) _ Inéditos da genealogia cearense. A geneografia cearense s6 numa segunda fase poderd com- pletar a sua construgdo, ac menos na parte mais essencial, Para mais de-pressa e melhor consegui-lo, devia o Instituto pedir ao Exmo. Sr. Arcebispo encarregar dessa incumbéncia o Clero, que dispée dos registos antigos, e pedir aos Exmos. Srs. Presidentes do Estado e do Tribunal da Relago facilitarem ao mesmo 0 accesso nos cartérios civis Ao mesmo tempo que formos obtendo o conhecimento his- térico da filiagio do povo, com os documentos escritos, eumpre aperfeigod-lo com os recursos cientificos. E’ a fase propria- mente dita da genealgia. Mas essa no comego deve ser sobretudo retrospectiva. A genealogia é, como j4 0 disse, a aplicagdo da genética & espécie humana. Para isso, necessitamos recorrer & biologia, porém na parte desta que mais se aproxima do individuo, que é a biotipologia. Preliminarmente, o Estado precisa, directamente, ou, me- lhor, por meio do Instituto, organizar um servigo de hiotipologia e tornar obrigatério, mediante lei, a anexagio do produto de seu exame & ficha dactiloscépica, para conceder a caderneta de identidade. Assim, teremos 0 conhecimento cabal, quanto ao organismo, da maioria dos cearenses actuais, Com isso corrigiremos, por meio dos principios da here- ditariedade, as informagées biograficas sobre os antepassados ¢ mesmo as sobre parentesco. Em resumo, a biotipologia fornece-nos os dados seguintes: a) Morfolégicos: (segundo Viola) medidas fundamen- iais, simples e compostas, do trax, abdémen superior, abd, in- ferior, membros; relagées fundamentais e indices sintéticos (va- . REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA 189 lor somatico, tipo morfolégico, erro especifico e erro genérico) ; medidas e complementares, quer de segmentos e outros conjuntos menos importantes dessas partes, quer de outras (cranio, face, pescogo, maos, pés). As medidas sao dimensdes e volumes, sempre calculados em graus centesimais, para tornar compardveis as heterogénias. Outros biotipélogos tam preferido medidas e relagGes dife- rentes, mas sem vantagem. Baseado nisso, faz-se a classificagdo morfoldgica: brevi- lineo, longilineo e tipos intermedidrios (normolineo, etc). Essas quantidades, sobretudo as fundamentais, sfio sempre muito valiosas para o conhecimento do individuo sob 0 ponto de vista patolégico. Mas sé interessam & genética quando se expurgam das interferéncias paratipicas. Nao as tiremos, pois, de corpos deformados pela gordura. b) Fisiolégicas: dosagens de substancias nao horménicas (potassio, calcio, glicose, colesterina, protefnas, etc) e de hor- ménios (da hipédise, tiredide, glandulas sexuais, supra-renal, etc); relagdes (potdssio-célcio, metabolismo basal, neuro-vege- tativa, endocrinica). Também, medidas directas das fungées (pressio arterial, pulso, ete) ou apenas sua observagio quali- tativa. Com isso estahelece-se a classificagio fisiolégica: simpé- tice-ténico, vago-tonico, neuro-lébil (conforme o nervo predo- minante e o grau de estabilidade do sistema); eu-endécrino, hiper-endécrino, hipo-endécrino (para cada glandula, segundo sua produgdo) esténico, hiper-esténico, hipo-esténico (consoante o nivel do tono vital). Esses dados ainda se interpretam dificilmente. c) Psicolégicos: medidas e relagées, segundo Capone. Mas ainda imperfeitas. De diferentes pontos de vista, ha varias classificagdes. Mas, também, insuficientes. A mais aceitavel é a de Kretschmer, extraida de estruturas imentais mérbidas hereditdrias: esquizotimico e ciclotimico. d) Genéticos. Alguns dados da hiotipologia sio parati- 190 REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA picos, mas a maioria conceme ao genétipo. Nesta seceéo de- vemos pesquisé-los somente quanto & origem. Tentaremos identificar sucessivamente os diversos conjuntos de caracteres hereditérios, localizedos potencialmente em grupos de genes, que provém dos pais, avés (em seus varios graus), nacionalidades, ragas. Assim, descobrivemos a proveniéncia, nao sé das normali- dades, mas também das anomalias, sobretudo as patolégicas, na maioria provocadas pela consanguinidade. Ao mesmo tempo, devido a interdependéncia desses carac- teres, iremos corrigindo as biografias dos antepassados, até a respeilo de paternidade e de etnia. A genealogia cearense deve atingir uma da, fase, em que se ocuparé, nio mais com o passado, mas com o presente ou 0 futuro, visando ao melhoramento do povo. FE’ a genalogia pros- pectiva ou, melhor, eugénica, empregando o termo criado por F. Galton, em 1885, para individualizar a secgao, concernente ao homem dessa parte da biologia, que tem por objecto o aper- feigoamento dos seres vivos. A genealogia alids como conheci- mento baseado na histéria, investiga o pretérito sobretudo para desvendar © porvir. Mesmo a ciéneia em geral tem por fim precipuo a previsio dos factos. A mentalidade, como o organismo, sé se interessa real- mente com o prosseguimento da vida, A genealogia entéo aplicard aqui o que a genética reco. menda a humanidade. Nossas leis, como as dos paises civilizados, j4 prescrevem em parte essas providéncias. Mas em nossa patria, como no resto do mundo, impée-se tanto corrigi-las.e estendé-las como empre- gé-las em todos os casos REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA 191 Isso, como se compreende, sé serd possivel quando tivermos a genealogia em sentido amplo da maioria dos individuos e uma legislagdo pertinente eficaz. Com esse alvo a genética propée as medidas seguintes: A) Negativas: a) Restrigéo matrimonial. Proibigio de casamento aos portadores de enfermidade hereditaria grave, sobretudo psiquica. bh) Segregagio: em hospital —- quando passiveis de tratamento, ou em prisdo, quando depredadores ou perigosos A sociedade. c) Esterilizagdo —— por ligadura e sec- cionamento dos canais veiculadores dos gametes. Nao exclui nem a libido nem os caracteres sexuais secunddrios. Torna dispensdvel a castracio, Esses recursos devem ser adequados: 1) & maneira pela qual se herda o cardcter indesejavel (por um ou mais genes, dominan- tes ou recessivos, ligados ao sexo ou ndo); 2) a frequéncia do gene ou genes correspondentes; 3) a idade em que o cardcter surge; 4) & oposicéo do meio & manifestagio do gene. B) Positivas: 2) Regulamentaggo da imigragio. Impe- dir a entrada de ragas pouco civilizadas e atrair as europeias, so- bretudo ibéricas. b) Protecgdo aos mais aptos. Esses sio os que possuem mais recursos genéticos para produzir génios. “In- centivar-lhes a procriagdo com progressiva e considerdvel isengdo do imposto sobre a renda, etc. ¢) Educagio genética. Ensino dessa ciéncia e sua divulgacdo por todos os meios (escolas, im- _prensa, radio, teatro, igreja, etc), a bem duma orientagdo ra- cional do casamento, d) Facilitar a fecundagéo das mulheres casadas com estéreis pela inseminagio artificial. Ja nos Es- tados Unidos da América do Norte certos laboratérios dispéem de baby-stock, para fornecer sémen humano, origindrio de indi- viduos dotados de fisionomias muito diversas, de maneira a permitir uma semelhanga grande com o infecundo, mediante a escotha de um retrato. ¢) Promover pesquisas genéticas, ex- tensiva e intensivamente. f) Melhoramento das condigdes do meio, Dar ao povo, com a maxima rapidez, uma assisténcia 6ptima, capaz de suprirthe as necessidades mais importantes 192 REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA (alimentagéo, etc) (eutenia), Porque se herda menos o cardc- ter do que a tendéncia para manifesté-lo. (7) Afora essa 4a. fase da genealogia, pode-se prever ou aspirar outra, final, inspirada pelas iiltimas conquistas da genética. Como é facil imagind-la e de realizagio muito remota, basta aqui apenas sugeri-la. Sabemos seguramente que os caracteres humanos sdo- deter- minados por certas particulas ultra-microscépicas, chamadas genes, cuja natureza fisico-quimica lembra a zimase,. vitamina, o horménio, virus. E jé comegamos a aprender como modifi- cé-las em animais infericres, por meio de certas radiagées (raios X, rddio, raios ultra-violetas, etc). Ora, tudo isso é muito significative e promissor Em resumo, a genealogia cearense, mera aplicagio da ge nética, alids como a de qualquer pais ou regiao, tem que ser construida evolutivamente: 1) sintetizando e reunindo biogra- fias e drvores de costados j4 conhecidas; 2) buscando as outras, sobretado em cartérios do Clero e civis; 3) corrigindo os dados, quer biografices, quer de filiagdo, pela biotipologia e pelas leis da hereditariedade; 4) indicando aos individuos e ao Estado as medidas de eugenia, tanto as negativas como as positivas, para cada caso; 5) apontande aos mesmos as futuras providéncias. eugénicas, néo mais apenas simples, mas sempre activas e com- plexas (radiagdes), para desenvolver as aptidées dteis na descen- déncia de cada individuo ou classe de individuos, auxiliando por antecipago, pois, quer a criagdo, quer a selecgdo naturais, (7) Para obter-se o aperfeigoamento da genealogia e da genética, como das demais cigncias, € necessirio 0 auxilio do Governo, quer federal, quer estadual. J os Estados Unidos da América do Norte 0 dao entusias- ticamente. Mas 0 nosso nao o imitaré enquanto permanecer assim, sem real democracia, mal orientado. Parece-me que se poderia corrigi-lo sufi- cientemente por meio de duas medidas, dependentes duma reforma da Constituicio: 1a) Voto gradual, como seja de 1 a 5, baseado na cultura e na fortuna, aferidas pelos titulos escolares e pagamento do imposto sobre arenda, 2a.) Reducagio do fumeionalismo ao estritamente indispensavel, cunfiando-se 0 resto do servigo estatal 2 empresas particulares, mediante concorréncin ptiblica.

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