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A estimulação precoce em pré-escolares*

Andréa Maria Costa Penna1*; Tatiana Vasques Camelo dos Santos 2


1
Acadêmico do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Neuropsicopedagogia Institucional e
Educação Especial Inclusiva da Faculdade Censupeg 1; 2Professora Orientadora dos Cursos
de Neuropsicopedagogia da Faculdade Censupeg 2.
*andreamcp14@yahoo.com.br

Resumo
Através da investigação de artigos científicos relacionados ao tema, este artigo pretende
investigar a importância de uma intervenção neuropsicomotora em crianças da pré-escola. O
período da infância é fundamental para o desenvolvimento do indivíduo. Através do brincar,
ela adquire habilidades essenciais para seu bom desempenho escolar. A criança usa seu corpo
como instrumento de relações, de aprendizado, apreende noções de tempo, espaço,
lateralidade, equilíbrio, coordenação motora, simbolização, experimentos afetivos, capacidade
de se expressar ,concentração , maturação do sistema nervoso, esquema corporal, processos
cognitivos, que fornecerão as bases para sua interpretação de mundo, sua maturação
neuropsicomotora, como também todo o seu aprendizado escolar. Uma intervenção
neuropsicomotora precoce torna-se importante para que este desenvolvimento ocorra da
forma mais adequada, lúdica e carregada de afeto. Seguindo por este caminho, há grandes
possibilidades de que a criança adquira maior segurança, autoconhecimento e motivada para
prosseguir nesta fase tão importante que é a vida acadêmica.

Palavras-chave: Psicomotricidade. Estimulação Precoce. Pré-escola. Desenvolvimento


Neuropsicomotor. Imagem Corporal. Motricidade. Desempenho Psicomotor.
Desenvolvimento Infantil. Educação Infantil.

1. Introdução
A pesquisa sobre a qual se pretende desenvolver teve como mola propulsora duas
premissas.
A primeira premissa foi a definição de Psicomotricidade trazida pela Sociedade
Brasileira de Psicomotricidade [1]:
“Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o
homem através de seu corpo em movimento e em relação ao seu
mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de
maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas,
afetivas e orgânicas. É sustentada por três conhecimentos
básicos: o movimento, o intelecto e o afeto.”

*Template estruturado Coordenação do Núcleo de Neuropsicopedagogia da Faculdade Censupeg, com apoio do


LIEENP e Supervisão Técnica do Curso de Neuropsicopedagogia Clínica.
A segunda premissa surgiu pelo fato de algumas crianças, ao ingressarem na escola,
apresentarem quadros de desatenção, coordenação motora inadequada para a sua faixa etária,
distração, dificuldade em participar de atividades coletivas, agitação e problemas relacionados
ao desenvolvimento motor e que, por sua vez, interferem no aprendizado escolar.
Diante dessas duas colocações, o que esse artigo propõe é investigar se uma
intervenção psicomotora aliada aos conhecimentos da Neurociência que se tem na
atualidade, poderia influenciar de forma positiva o desenvolvimento de crianças da pré-
escola, a ponto de gerar benefícios em seus futuros processos de aprendizado escolar. E se
tal mediação seria capaz de gerar alguma mudança positiva nos quadros descritos acima,
tornando as crianças mais capacitadas para obterem um bom desempenho escolar.
A importância de desenvolver um estudo sobre os benefícios de uma intervenção
psicomotora em crianças da pré-escola se dá pelo fato da psicomotricidade estar diretamente
relacionada ao aprendizado escolar, além de ajudar no desenvolvimento ou mesmo
aprimoramento de habilidades necessárias para que o processo de leitura e escrita ocorra de
maneira adequada. Relacionar a psicomotricidade com o aprendizado é pensar em sua
influência no desenvolvimento integral da criança, o qual envolve habilidades cognitivas,
motoras, maturação do sistema nervoso, noção corporal, capacidade de se expressar, lidar
com seus afetos, concentração, raciocínio abstrato e concreto, autodomínio, orientação
temporal e espacial, lateralidade e tantas outras habilidades que fundamentam as
aprendizagens ulteriores na vida acadêmica da criança1.
Ao aprender e utilizar as várias habilidades motoras, a criança trabalha os elementos
psicomotores e as estruturas funcionais que se ligam também às funções mais globais como
concentração, memória, formulação de conceitos, planejamento, raciocínio, imaginação e
outros2.
Nessa transição entre a mobilidade biológica para a motricidade, o ser humano vai
adquirindo habilidades que o transforma em um ser social capaz de obter experiências cada
vez mais complexas na interação com o ambiente no qual está inserido ou interagindo.
O desenvolvimento intelectual ocorre a partir do momento em que a criança adquire as
habilidades motoras para desenvolver o pensamento. A neurociência afirma que o
aprimoramento motor gradativo implicará na corticalização progressiva do sistema nervoso
central e no consequente desenvolvimento cognitivo. A maior parte das dificuldades
relacionadas ao aprendizado escolar decorrem de falhas no desenvolvimento da coordenação
motora, podendo ser observadas já nos primeiros anos escolares1. O primeiro modo de
comunicação do bebê com o mundo que o cerca se dá através de movimentos reflexos
interligados (movimentos controlados por uma ligação neurológica a partir da medula
espinhal) que não passam pelo sistema nervoso central e, ao longo do tempo, vão sofrendo
influências de seu meio sociocultural e do processo de maturação do sistema nervoso (a
mielinização de determinadas vias nervosas –maturação- que passam a ser controladas por
vias nervosas subcorticais: cerebelo, vias extrapiramidais, formação reticular e outras) como
também da qualidade e quantidade de estímulos recebidos. Os movimentos vão se tornando
involuntários e, por sua vez, as conquistas desses movimentos em conjunto com os estímulos
do ambiente possibilitam o desenvolvimento da linguagem e, a partir do momento que essa é
internalizada pela criança, os movimentos involuntários darão lugar aos movimentos
voluntários. A linguagem nasce pelo gesto.(motricidade e aprendizagem)
A evolução psicomotora é indissociável do processo de maturação do sistema nervoso,
já que a regulação do tônus muscular (tensão que possibilita o funcionamento de um músculo
ou grupo muscular) estaria ligada à medula espinhal (especialmente a formação reticulada), ao
tronco cerebral, ao tálamo, ao hipotálamo e ao cerebelo. Essas estruturas são responsáveis
pelo estado de atenção, alerta e pelas conexões existentes entre o sistema nervoso central,
músculos e receptores nervosos. Já a lateralização (assimilação da unidade corporal tanto em
relação às sensações advindas dos órgãos sensoriais - telerreceptores - quanto as advindas dos
receptores nervosos provenientes do interior do corpo –proprioceptores- ligados a uma
resposta motora); noção de corpo (junção de várias informações corporais como sensações de
dor, calor, prazer, tônus muscular, noções de movimento, entre outros, com impressões táteis
e visuais surgidas em contato com o meio e integradas em imagens no córtex do lobo parietal)
e a estruturação espaço-temporal (a relação do indivíduo com o meio é ligada à noção de
integração de seu corpo em determinado espaço e tempo, que o possibilita lidar com questões
de velocidade, trajetória, locomoção e outras) estão relacionadas às áreas corticais dos lobos
occipital, temporal e parietal, responsáveis pela recepção, verificação e armazenamento de
informações. Por fim, tem-se a praxia global (envolve movimentos realizados pelo corpo
como um todo) e a praxia fina (movimentos mais especializados) ligados ao córtex do lobo
frontal2.
Embora as ações dos bebês sejam, de início, ações reflexas que vão se organizando de
acordo com a maturação céfalo-caudal e próximo-distal3, partindo do tronco para as
extremidades, ele já nasce com a aptidão sensorial básica que vai se aperfeiçoando no
decorrer da infância. Ao nascer, o bebê vai buscar estímulos provenientes do meio social para
se desenvolver. Toda aprendizagem ocorre quando se tem uma informação nova e ela chega
ao sistema nervoso central4. Ao nascer, o bebê consegue reconhecer a voz da mãe por já estar
habituado a esse som mesmo antes de seu nascimento e é capaz de reconhecer seu rosto no
meio de estranhos. E consegue, desde muito pequeno, distinguir as mais diversas expressões
humanas, fator de grande importância para as interações sociais4.
Em seguida, ocorre o controle oculomotor, o equilíbrio da cabeça, o controle dos
músculos do tronco que possibilitarão esse bebê se manter de pé e, posteriormente, caminhar
e correr. Há, em todas essas fases, ganho de força, domínio e autonomia dos movimentos. A
evolução do bebê culmina na tomada de consciência de seu corpo e automatização de seus
movimentos que o leva a uma adaptação satisfatória ao meio3.
Aos 18 meses, ele começa a perceber que suas opiniões, percepções e sentimentos são
divergentes dos de outras pessoas e começa a assimilar as diferenças entre o real e o
imaginário4. As mudanças que ocorrem no sistema nervoso central nos primeiros seis anos de
vida têm influência no processo de aprendizagem. Aprendizagem que se inicia desde a
terceira semana de gestação e, ao nascer, a criança precisa desenvolver mecanismos de
adaptação ao ambiente. Tal adaptação está diretamente ligada à maturação do sistema nervoso
como também às respostas motoras do indivíduo, determinando sua capacidade de aprender.
A base dessa aprendizagem se encontra no primeiro ano de vida da criança, período esse de
aquisições motoras importantes4 além de ser a fase na qual a plasticidade cerebral é intensa,
assim como a ascensão cognitiva e a sensoriomotriz, agentes fundamentais para o
desenvolvimento das potencialidades infantis5. O período anterior ao ingresso escolar é o
período de grandes aquisições motoras e da realização de atividades relacionadas ao domínio
corporal6. As aquisições estabelecidas nessa época têm uma relação estreita com o
desenvolvimento motor, memória espacial, simetria, simbolização, noções de distância,
tamanho e quantidade e estão diretamente relacionadas com a construção do raciocínio
lógico-matemático, a alfabetização, além de serem facilitadores do conhecimento do meio no
qual o indivíduo está inserido como também, a sua compreensão e interpretação de mundo3.
Daí surge a necessidade de se conhecer o funcionamento cerebral devido à sua
importância primordial na aprendizagem e no ensino. O conhecimento e a inteligência
humana resultam do dinamismo e interconectividade neuronal capazes de comandar e levar
informações a qualquer parte do corpo, formando o chamado neocórtex que recobre
praticamente toda a superfície dos dois hemisférios cerebrais. Devido a essa imensa
interconectividade, o cérebro sofreu modificações importantes ao longo do tempo,
principalmente no córtex de reconhecimento formado pelo lobo occipital (responsável pelo
processamento visual), lobo temporal (processamento auditivo) e o parietal (processamento
tátil-cinestésico), como também expansões no córtex estratégico que engloba o lobo frontal
anterior e motor além do córtex pré-frontal. Todo processamento de informação e
conhecimento ocorre através da conexão entre esses dois córtex levando a redes
neurofuncionais consideradas as mais superiores e refinadas que são a cognição, a conação e a
execução. A cognição significa ato ou processo de conhecimento. Envolve atenção, memória,
percepção, processamento, raciocínio, visualização, planificação, resolução de problemas,
execução, expressão de informação. A conação está diretamente ligada à autopreservação,
motivação, emoções, relacionamento social e a execução, ligada ao lobo frontal e ao córtex
pré-frontal, responsáveis pela elaboração e organização de estratégias, sustentação da atenção,
flexibilidade e plasticidade do comportamento, inibição e autocontrole, decisão, execução,
raciocínio indutivo e dedutivo, gestão de tempo, entre outros. Sendo assim, o aprendizado está
diretamente ligado ao amadurecimento biológico do indivíduo e se apoia nas funções acima5.
Ligado a isso, cabe citar estudos recentes sobre a importância de se trabalhar as
funções executivas em crianças da pré-escola, já que estão diretamente ligadas aos processos
de planejamento, execução, memória de trabalho, controle inibitório, flexibilidade cognitiva.
Habilidades que começam a se desenvolver entre 3 e 5 anos e prossegue até a adolescência8.
Treinar as capacidades de memória e inibição em crianças da pré-escola é oferecer as bases
das capacidades cognitivas, conativas e executivas e assim, colaborar para que o aprendente
atinja um bom desempenho escolar6.papel das funções executivas...
As funções executivas são básicas para o aprendizado da leitura, da matemática, do
ensino formal como um todo6. Elas perpassam todo e qualquer aprendizado e atuam em
conjunto, formando sistemas autônomos e interconectados, permitindo melhores adaptações
às situações cotidianas e às novas. As funções executivas bem apreendidas e fortalecidas
sustentam os processos de aprendizagem. Partindo do complexo para o simples, do
pensamento à ação, do conceito à imagem, do abstrato ao concreto, do verbal ao não verbal.
Transformam o aprender em algo prazeroso, como deve ser todo o aprendizado humano7.
O período considerado como pré-operatório pela teoria piagetiana é o momento no
qual a criança passa a realizar suas ações de maneira mais planejada e consciente. A partir
desse período, que normalmente é compreendido dentre as idades de 2 a 7 anos, a criança
começa a ter contato com ideias mais abstratas, que são aquelas que permitem a organização
de seus pensamentos e ações sem que ela literalmente(ou intencionalmente) os faça. Isso
significa uma grande mudança, já que, até os 2 anos de idade, a mente da criança é voltada
para os aspectos puramente motores – aspectos esses que contribuem para o desenvolvimento
neurológico e pedagógico e permite que ela entre em contato com um amplo plano de ideias e
de possibilidades. É também nessa época que os infantos começam a fantasiar e brincar de
faz-de-conta tendo como auxílio essa nova abstração, essas imagens mentais. Sua linguagem
passa a ser usada agora para expressar sua nova imaginação, tão mais fértil e que surge a
partir das imitações, dos desenhos, da atuação8.
A separação entre a realidade e a fantasia abstrata, no entanto, só começa a se
manifestar a partir dos 4 anos e vai até os 7 anos, quando a criança amplia seu vocabulário
linguístico e aprimora suas capacidades de abstração e imaginação. O processo de
socialização da criança também começa a se aprimorar aqui. Além disso, é fato que o
processo de desenvolvimento dos infantos é distinto entre eles, uma vez que são vários os
estímulos recebidos provenientes do meio7.
Por outro lado, pode-se dizer que a relação estabelecidada pela criança com o seu
próprio corpo também é estruturante das bases de seu aprendizado, situando-a no tempo e no
espaço, interferindo em sua capacidade de perceber o mundo e possibilitando experiências
relacionadas às suas socializações2. O corpo é o primeiro objeto social10. Além de ser a
principal ferramenta utilizada nas experiências e aprendizados da criança9, o corpo é o
receptáculo de aprendizagem e internalização destas experiências10.
É através do corpo que se expressa e manifesta a afetividade no contato com o outro.
Afetividade essa que se inicia com a agressão, estranhamento de outro corpo, disputas de
objetos e lugares e vai desencadeando outras manifestações afetivas como as de aceitação das
diferenças e obtenção de satisfação. O corpo é o lugar de prazer, de reciprocidade de contatos.
Ao brincar, essas reações se manifestam de maneira natural e os objetos (independentemente
de quais sejam) usados durante as brincadeiras, transformam-se em mecanismos facilitadores
a fim de que as relações e a socialização entre dois ou mais seres aconteçam. Pode haver, a
princípio, uma disputa por esse objeto para que se estabeleça, em seguida, um acordo entre as
partes, dando lugar à harmonia e à criação de vínculos sociais. Os objetos se tornam, ao
mesmo tempo, os causadores de conflitos e a solução desses. Eles podem também vir a
ocupar vários lugares na construção simbólica durante sua permanência no brincar, facilitando
a compreensão, resolução de conflitos e elaboração de mundo que cada criança traz consigo e
sua forma de estar nele. Como também interfere na construção da fantasia, tão essencial nos
processos de aprendizagem e maturação11.
As experiências sensoriais de tato, olfato, gustativas e audição, enfim, experiências
sensoriais motoras que propiciam à criança desenvolver o processo de se auto-organizar e se
constituir como um ser humano, têm também uma fundamental importância na constituição
de seu psiquismo. Para que a criança construa sua autoimagem, é necessário que ela tenha
passado por essas experiências. Isso vai estruturando suas relações, sua capacidade de
adaptação e remodelação10.
O corpo é tido como zona de conexões consigo mesmo e com os outros, de
sensibilidade e efetividade. Quando não se explora essas relações de maneira apropriada, ou
seja, essas formas de movimento organizado e integrado em função das experiências vividas
pelo sujeito, pode ser que a criança encontre dificuldades e ocorram desajustes ao longo de
seu desenvolvimento. Isso porque as experiências motoras fornecem ferramentas essenciais
para que a criança consiga elaborar, estruturar e resolver conflitos de ordem sócio-
emocional12.
A psicomotricidade é relevante para a construção simbólica, pois ela ajuda a criança
em sua construção da imagem corporal, esquema corporal, aquisição de habilidades
psicomotoras fundamentais que serão de extrema importância na evolução da vida escolar,
principalmente quando houver questões de raciocínio, percepção, interpretação, lógica,
inteligência e afetividade. E para que isso aconteça, faz-se necessário que essas noções citadas
acima, junto à temporo-espacial, estejam bem internalizadas pela criança. Tais noções
envolvem ações e atividades progressivas que partem do sensório–motor para o perceptivo–
motor e, em seguida, tem-se o simbólico e o conceitual levando a criança a um aprendizado, a
se auto educar. É todo um conjunto de fatores que, juntos, levam a um movimento
coordenado, presente em todas e quaisquer atividades realizadas pela criança. E esse
movimento é o que proporciona uma adequada maturação do sistema nervoso, pré-requisito
para que a aprendizagem escolar aconteça. Juntas, essas aquisições moldam as relações
sociais que a criança vai estabelecendo ao longo de seu desenvolvimento. Essas transições de
fases se dão através do lúdico, da estimulação da criatividade, do convívio social. E, sendo
assim, essa forma de aprendizagem pode ocorrer até a fase adulta e se constitui como um
pilar emocional, motor, cognitivo, afetivo e de desenvolvimento pessoal11.
A tomada de consciência do próprio corpo, a acumulação de experiências que
influenciam de maneira positiva o desenvolvimento do sistema nervoso fazem parte de um
conjunto de fatores essenciais e são pré-requisitos para a alfabetização. Sendo assim, uma
educação psicomotora precoce, ou seja, na pré-escola, fase em que a criança começa a ter
independência sobre suas ações, consciência de si própria, desenvolvimento de habilidades
de interação e intervenção9, ela, a educação psicomotora, pode ajudar na aquisição, na
repetição e no treino de todas as habilidades que serão pré-requisitos do processo de
aprendizagem, melhorando a adaptação e influenciando o desempenho escolar do infanto e
em seu aprendizado como um todo3.
Acredita-se que a falta de estimulação em crianças com idade abaixo de três anos
interfira de forma negativa no desenvolvimento cognitivo e também em algum distúrbio que
possa vir a se manifestar. É de grande importância a estimulação psicomotora em crianças
desde o seu nascimento até os oito anos de idade por ser a fase de surgimento de possíveis
dificuldades relacionadas à fala, escrita e leitura. Reforçar as aquisições motoras, oferecer
estímulos os mais diversos possíveis e criar um ambiente propício para que isso ocorra é
fundamental. E é justamente nessa fase, ou seja, do zero aos três anos, que se tem melhores
resultados em relação à estimulação, principalmente se for feito em um ambiente no qual a
criança se sinta segura, aceita e valorizada. Ao brincar, a criança lida com suas habilidades
cognitivas, sensoriais, motoras, imaginativas, afetivas, sociais, culturais e maturacionais11.
Esse dinamismo existente nessa evolução maturacional que evoca a formação do
humano, reflete no ambiente escolar14. A escola, além de ser um lugar de grande importância
para fornecer estímulos de toda espécie, é também um lugar instituidor do desenvolvimento
maturacional de seus alunos. Ao ingressar na escola, a criança passa por experiências novas e
amplia sua vida social. Isso interfere positivamente em seu comportamento, em sua forma de
pensar e agir e, consequentemente, em suas respostas frente a tantos estímulos11, já que o
ambiente escolar é o meio social no qual se encontra espaço adequado para se trabalhar a
motricidade, o intelecto, o emocional, estimulação do desenvolvimento e maturação
neuromotora e, principalmente, as relações humanas que formam o conjunto de todos esses
fatores fundantes da constituição desse ser em desenvolvimento.
Além do mais, ela participa do processo de fortalecimento da ideia de que o corpo é o
mais importante instrumento de comunicação que a criança possui e tem um papel
fundamental para que essa criança esteja melhor preparada para o enfrentamento dos desafios
escolares e dos processos de aprendizagem11. Psicomotricidade e praticas...)
A escola representa uma nova forma de aprender: a passagem de uma aprendizagem
que ocorre através da observação para uma aprendizagem formalizada, estruturada e
sistematizada. Todos esses fatores fazem com que o cérebro dessa criança aprenda e se
remodele a cada novo estímulo que lhe chega11.
Assim, para que haja um adequado desenvolvimento pedagógico na pré-escola, ou
seja, a criação de práticas pedagógicas saudáveis e bem aproveitadas pela comunidade
escolar, deve haver um entendimento sobre a complexidade e diversidade presentes no
desenvolvimento infantil, assim como suas especificidades que envolvem a relação da criança
com seus pais, com o mundo e com os objetos à sua volta. Cada uma dessas peças e etapas é
capaz de gerar consequências gigantescas para a inteligência social da criança no futuro, o que
pode impactar sua vida adulta e a de tantos outros à sua volta.
É fundamental a estimulação psicomotora aliada ao amadurecimento do sistema
nervoso da criança desde o seu nascimento até os oito anos de idade, fase primordial para que
se possa detectar dificuldades relevantes relacionadas à fala, escrita e leitura e assim, planejar
possíveis ações de intervenção9.
Faz-se necessário, portanto, um trabalho intenso, sistemático, para que a criança, em
seu processo de desenvolvimento – que pode também ser chamado de infância – atinja seu
potencial como pessoa e, ao ingressar na fase de aprendizado da leitura, tenha apreendido da
melhor forma, todas as habilidades necessárias para tal.
São questões sérias a serem tratadas e que se faz brincando. Ou seja, é através do ato de
brincar que a criança adquire várias ou quase todas as suas habilidades, grande parte de seu
conhecimento como também se constitui como pessoa e como ser de relações com seu
semelhante e com o ambiente no qual se insere. O brincar permite o movimentar-se no tempo
e espaço de forma consciente e intencional, além das sensações geradas pelas percepções,
memórias, projeções, afetividade, raciocínio, como também respostas a estímulos, ações
planejadas e formas de interação2. Permite experiência, criatividade, repetição, assimilação,
memória e aprendizado. O desenvolvimento neuromotor cumpre um papel de fundamental
importância e influencia todo esse processo. O brincar requer o lúdico, a repetição e é através
deles que o processo de aprendizagem acontece de forma prazerosa. É o brincar que
possibilita e facilita a criança desenvolver uma interpretação própria de mundo, além de ser a
ponte para o aprendizado desde a tenra idade. O brincar também atua como um facilitador na
interação entre o adulto e a criança. E entre o adulto e sua criança.

2. Metodologia

A tipologia de estudo utilizada no sentido de contribuir para se assegurar à consecução


do objetivo deste artigo foi de um estudo exploratório, pois os estudos exploratórios permitem
ao investigador aumentar a sua experiência específica, buscando antecedentes, para, em
seguida, planejar pesquisa descritiva ou do tipo experimental.
Para se operacionalizar técnica e instrumentalmente este estudo, se optou por realizar
na presente pesquisa uma revisão de literatura integrativa, através das etapas de Cooper
(2010) acerca dos sete estágios de planejamento de uma meta análise. Ressalta-se que a busca
e análise dos estudos foi feita por pares, atendendo a recomendação de que cada artigo seja
revisado, independentemente, por mais de um revisor (Medina & Pailaquén, 2010).
Dessa forma, no mês de março a abril, do ano de 2021, foram realizadas buscas por
textos que abordassem argumentos sobre os possíveis benefícios que uma estimulação
neuropsicomotora em crianças da pré-escola teriam em relação à sua aprendizagem, nas
bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e
do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Biblioteca Virtual em Saúde - Psicologia Brasil
(BVSPSI), Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PePSIC), nos periódicos disponíveis na
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) e no site da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Foram utilizados, com base nas diferenças dos descritores reconhecidos por cada
mecanismo de busca textual, os seguintes descritores: “Motricidade. Psicomotricidade.
Desempenho Psicomotor. Desenvolvimento Infantil. Desenvolvimento Neuromotor.
Neurodesenvolvimento. Estimulação Precoce . Educação Infantil. Pré-escola”.
Os critérios de inclusão utilizados para a seleção dos estudos foram textos que:
1) apresentam referência direta ao tema “Estimulação Precoce em Crianças da
Pré-Escola “
2) publicados entre os anos de 2010 e 2020;
3) disponíveis em português/inglês;
4) apresentam a realidade brasileira;
5) possuem referencial teórico da área de estimulação neuropsicomotora em
crianças da pré-escola e seus prováveis benefícios no desempenho escolar; e
6)trabalham o processo de estimulação neuropsicomotora em crianças da pré
escola e seus prováveis benefícios no desempenho escolar.
Foram desconsiderados estudos em que tratassem de:
1) crianças com desenvolvimento atípico;
2) crianças com atraso no desenvolvimento;
3) crianças que não se encaixassem na faixa etária, ou seja, da pré-escola:
4) que não tratassem de desenvolvimento infantil;
5) textos que não apresentaram o estudo completo e disponível.
Ressalta-se que estudos coincidentes em duas ou mais fontes foram
considerados apenas uma vez.

3. Revisão de Literatura, resultados e apresentação de dados.

Os resultados obtidos foram possíveis através da construção teórica embasada por


recortes de artigos científicos relacionados ao tema. Estabelecer uma relação entre a
estimulação psicomotora em crianças da pré-escola levando-se em conta a maturação do
sistema nervoso como fatores de interferência no aprendizado escolar dessa criança. Ao
estabelecer esta relação, vê-se que se define a motricidade como sendo inerente ao ser
humano2. A princípio, os movimentos do bebê são reflexos, interligados e sofrem influência
do meio sociocultural e da maturação do sistema nervoso para, em seguida, evoluírem para os
chamados movimentos involuntários, aquisição da linguagem e, por fim, os movimentos
voluntários. Processos indissociáveis ao processo de maturação do sistema nervoso .
Em “Psicomotricidade no contexto da neuro aprendizagem: contribuições à ação
psicopedagógica”, é citada a tomada de consciência da criança em relação ao seu próprio
corpo, as experiências vividas influenciam o desenvolvimento do sistema nervoso e, todo esse
conjunto fornece as bases fundamentais para uma boa alfabetização e desempenho escolar.
Ideia reforçada no artigo Psicopedagogia, Educação e Neurociência quando remete a
representação da escola como lugar de experiências novas, formalização da aprendizagem,
cooperando para uma remodelação cerebral.
Se faz necessário, portanto, falar sobre a psicomotricidade como outro fator de grande
importância para que todo esse percurso de desenvolvimento infantil ocorra de forma
apropriada até se chegar aos processos de uma aprendizagem formal e que se mantenha o
desenvolvimento adequado durante as fases seguintes.
No artigo “A Psicomotricidade relacional como propulsora do Desenvolvimento
Psicoativo e da socialização em alunos da educação infantil”, o autor retoma o conceito de
psicomotricidade construído pela Associação Brasileira de Psicomotricidade como “um termo
empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das
experiências vividas pelo sujeito, cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem
e sua socialização”.
A psicomotricidade é relevante para a construção simbólica já que se apoia nas noções
temporo-espaciais, esquema corporal, coordenação motora e todo esse conjunto de aquisições
moldam as relações sociais que a criança vai estabelecendo ao longo de seu desenvolvimento.
Ela parte do sensório-motor para o perceptivo–motor, o simbólico e conceitual.
A falta de estimulação em crianças com idade abaixo de três anos interfere de forma
negativa no desenvolvimento cognitivo, segundo o artigo “A importância do brincar no
desenvolvimento psicomotor: relato de experiência”.
O corpo é a principal ferramenta utilizada nas experiências e aprendizados da criança e o
brincar está vinculado ao desenvolvimento infantil e ao processo de aprendizagem. É o que
traz o artigo “Psicomotricidade e práticas pedagógicas no contexto da educação infantil e
o processo de aprendizagem”.
O mesmo texto nos dá embasamento para pensar sobre a importância da
psicomotricidade no período da educação infantil, fase em que a criança começa a ter
consciência de si própria, independência, desenvolvimento de habilidades de interação e
intervenção, levando a uma maturação socioemocional.
A psicomotricidade é importante para que a criança se auto organize e o esperado é
que, na fase de alfabetização, ela já tenha adquirido toda uma organização neuropsicológica.
As principais dificuldades de aprendizagem relacionadas a problemas da fala, escrita e leitura
se instauram até os oito anos.
Devem ser retomadas as etapas de desenvolvimento infantil aliadas às aquisições
elucidadas pela Neurociência, tema reforçado por Guimarães et al. ao falar sobre o rápido
desenvolvimento cerebral, plasticidade e avanço cognitivo intensos que ocorrem nos
primeiros anos de vida. A pré escola é a fase de grandes conquistas psicomotoras que
possibilitam a criança ter domínio e conhecimento de seu corpo. Estimular precocemente a
criança é proporcionar estímulos de forma adequada a fim de facilitar seu processo de
desenvolvimento.
Vitor da Fonseca traz considerações fundamentais em relação às áreas funcionais do
cérebro ligadas ao aprendizado. Esse não ocorre sem as devidas aquisições e, quanto mais
cedo forem estimuladas, maiores serão as chances de se obter ótimo desempenho escolar.

4. Conclusões
A psicomotricidade está diretamente relacionada ao aprendizado escolar, além de
ajudar no desenvolvimento ou mesmo aprimoramento de habilidades necessárias para que o
processo de leitura e escrita ocorram de maneira adequada.
Estabelecer essa relação entre o neurodesenvolvimento, psicomotricidade e
aprendizado escolar é pensar no desenvolvimento integral da criança, o qual envolve
habilidades cognitivas, motoras, orientação espacial, temporal, lateralidade, maturação do
sistema nervoso, noção corporal, capacidade de se expressar, concentração, abstração,
autodomínio, afetos e tantas outras habilidades fundamentais para que a criança atinja seu
adequado desempenho escolar, assim como estabeleça relações favoráveis no campo
emocional, social e afetivo.
Todo movimento corporal que a criança faz, seja ele no momento do brincar ou em afazeres
básicos de seu cotidiano, são experimentos fundamentais para que o sisema nervoso alcance o
nível de maturação esperado para a idade na qual a criança se encontra. A intervenção
psicomotora em crianças da pré-escola passa a ser uma importante ajuda para que esse
processo de maturação ocorra de maneira adequada, além de atuar de forma global em todo o
seu desenvolvimento. Tudo isso se torna a base que possibilitará a criança passar pelas fases
de aprendizagem, ir prevenindo, corrigindo e até amenizando problemas que possam ser
detectados ou suspeitados. Sendo assim, a criança chegará melhor preparada para a fase
escolar, fase esta de grandes desafios emocionais,motores,cognitivos,sociais e culturais. Além
de se tornar um ser humano mais bem preparado e com maior flexibilidade cognitiva e
emocional diante dos futuros desafios.

Referências
1. Associação Brasileira de Psicomotricidade. O que é psicomotricidade. Acesso em: 9 jul. 2020.v
2.Lemos EB, Neves RF, Carvalho ST.Significados e práticas sobre educação psicomotora na pré-
escola. Temas sobre Desenvolvimento2010: 17(99):121-6.
3. Moraes, Sonia; Maluf, Maria Fernanda de Matos. Psicomotricidade no contexto da neuroaprendizagem:
contribuições à ação psicopedagógica. Rev. psicopedag., São Paulo , v. 32, n. 97, p. 84-92, 2015 .
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