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SL arsianos, Seu objetivo é0 de estimular a leitura ea compreen- ae sopeacas do autor em seu context, o que é apenas um pri- meiro passo para um retorno critico e abrangente 3 sal paso pa brangente a economia Nota bibliogritica Por ndeago da fone, contend niga ar eae a amanda i poring 0 © pin, conforme as s- a Marx e a economia ingels, F. Est te una critica de la econontia politica. Kt itic ssica: Ende i cdl pli In Engels, FEsrtes. Ediciones Politica classica: Marx, K. Manuscritos econdmico-filoséficos. i uM kof Mar K. xr de te Mosc trabalho e propriedade Fondo de Cull s Econmic, 1908 (a) ie deme: Mile et sc: Fondo de Calta Eee (cee fils Bae Aves: Siglo Vian, 994 ea tment fndanevals a rtd ten (Grunérisse). Mé * Preficio de Paraa Critica da Economia Politica, Marx relata que seu Be hia laste Cee ee pes interesse pelos estudos econdmicos foi despertado pela necessi- ates somone aca ree cee ees 1; Sio Paulo: Nova Cultural, 1986 (Livro II} (K). wee materiais”, bem como de emitir opinides a respeito do entao emergente movimento comunista francés: In: Mars, “Nos anos de 1842/43, como redator da Gazeta Renana, vi-me pela primeira vez em apuros por ter de tomar parte na discussao sobre os chama- dos interesses materiais. As deliberagdes do Par- lamento renano sobre © roubo de madeira e parcelamento da propriedade fundiéria, a polé: haper, entéo gover mica oficial que 0 Sr. Vor nador da provincia renana, abriu com a Gazeta Renaria sobre a situacao dos camponeses no vale do Mo- sela e finalmente o debate sobre o livre-comércio e protecio aduaneira, deram-me os primeiros | ‘motivos para ocupar-me de questdes econdmicas. Além do mais, naquele tempo em que a boa von- tade de ‘ir frente’ ocupava muitas vezes o lugar do conhecimento do assunto, fez-se ouvir na Ga- 15 zeta Renana um eco de fraco matriz filoséfico do Socialismo e comunismo francés” (PCEP, 134), A necessidade de fundar as relagdes juridicas nas “relagdes materiais de vida” teria condicionado sua aproximagao aos tex. ips econdmicos, jé que “(..) a anatomia da sociedade burguesa deve ser procurada na Economia Politica” (PCEP, 135). Por essa azio, e bem antes de se ver inteiramente absorvido pela temati. ca econdmica, em Londres na década de 1850, Marx —-entao um fi6sofo radical crescentemente atento a critica social — despon fava como leitor sistemitico de textos de economia politica Os cadernos de apontamentos de leitura correspondentes ao perio. do de sua primeira estada em Paris (de 1844 ao inicio de 1845) denotam um conhecimento bastante variado dos escritos de are tores econdmicos como Boisguillebert, Destutt de Tracy, Lauder. dale, List, Mac Culloch, James Mill, Say, Smith © Ricardo, Os trabalhos dessa época que chegaram até nés — Extratos do Livre de James Mill Elementos de Economia Politica ¢ mic Manuscritos Econé- Filosdficos — revelam boa familiaridade com jematica econdmicas. O mesmo pode ser dito de Engels, cujo Es. boeo de Uma Critica da Economia Politica (1843) indicava ji uma aprecidvel ambientacao na economia politica inglesa Os especialistas costumam referit-se a essa aproximacio A eco- nomia politica como uma trajetéria que vai da rejeicao a aceite. Sa0'. Nos Manuscritos Econdmico-Filosificos e no Esboco haveria uma hostilidade aberta, ao passo que n‘A Miséria da Filosofia, de 1847, terfamos uma adesao plena a economia politica. A rejeicao € a adesio, no caso, sdo habitualmente referidas a teoria do va lor: os primeiros textos recusaram a teoria do valor-trabatho, en. a literatura ea "Com certas nuancas esa opinia ssh presente em Mandel, A formacie do pensamentoeconbmico de Karl Mart. Rio de Jancin: Zaha, 1968, ae ‘Ghima, M. & Catephores,G. Var, explradoeereimenta, Rio de Janene, sary 1980; Evans, E. “Karl Marx’ First Confrontation with Political Economy: the 1844 Nanuscript”, Economy and Swcity, 132), 1984. Para uma boa comprenneso dio on biente intelectual que influenciou os textos de juventude (eambén os de manera do) de Marx, € recomendavel a leitura de uma biografa intelectual, cones oe Metellan, D. a! Marx — vida e pensamento. Petropolis: Vozes, 1990 ou Rubel Mt Karl Marx — ensayo de biogrfia intelectual. Buenos Nires: Peidés, 197 16 {quanto que o Marx de 1847 ja estaria, sob esse prisma, plenamen- jdentificado com Ricardo, ; rot BBR opinito de que, mum curt lapso de rs anos, Marx Engels im da rejeigdo & aceitacio seria autorizada pelo espitoe Bolo dos textos, que abundam em frases tranepitando hostlida de veemente ou adesioincontda.O primeiro Sale de Engels contém opinides como: “A economia politica — a inca de como fazer dinheiro — nasceu da inveja mtua © d wareza dos mercadores. Leva a marca do mais repugnante tegofsmo” (ECEP, 150), Marx ndo ficara aris, e nos Master Ezondmico-Fllosfcosafiemava que “A economia politica, esta Giéncia da riqueza,€ assim também a0 mesmo tempo a ciéncia a rerinca, da privago, da poupancae chega realmente a pou jar aohomem anecessidade dear puree movimento fsco” (MEF £28) NaMiseriada Filosofia, pelo jcantrsio poder ver umn Marx siasmado com a versio rcardiana do valor-trabalho comen- da vida econdmica atual (..)” (ME, 60) ae Mais adiante examinaremos com maior detalhe o propalado trinsito da rejeigio &aceitagdo, procuranco qualificélo, De ime- Blato, fundamental 6 resaltar que Marx se havia aproximado, nda na década de 1840 e de modo definitivo — vale dizer, ‘on6mica e da ciéncia da economia politica. A “ciéncia da rique- Ba privada” re assim a colocar-se de modo destacado no ho- Fizonte de um pensador cujo ponto de partida fora desde cedoa fejcicdo radical do regime de propriedade privada e a objegdo a formas de sociabilidade a tal ponto subjacentes aos textos dos cite gc inécuo pretender separar a nova economistas que se tornaria P area Giéncia da defesa da ordem social. Se, como ee afrmava no Pre- fico de Para a Crit da Economia Plt, seu intuito era de estudar a ‘anatomia da sociedade burgues”, essa aproximacio a ciéncia que a expressava necessariamentenos coloca a tarefa de sclarecer em que termos se deu a absorcioda economia politica pelos dois crftcos de primeira hora da soedade burguesa que foram Marx e O estudo da ‘ pia mistas pode contribuir para a compreensao das relagdes sub Engels. scone. Primeiras reflexdes marvianas sobre os ec Gentes entre a economia politica e a critica da economia polit a. Mais do que efetuar um exercicio arqueolégico, o objetiva deste capitulo é 0 de mostrar as razdes pelas quais Marx acabou ado- tando a economia politica como campo de referéncia necessério Para a critica social. Por outro lado, a obra de Marx contém um Permanente confronto entre a “ciéncia da riqueza privada” e a critica a riqueza privada, e sua apresentacao nos quadros de uma stitica da economia politica ainda néo madura pode contribuir Para 0 esclarecimento do contorno geral, dos propésitos e do ambiente intelectual de seu sistema. 1.1 Engels e a primeira critica da economia politica Foi Engels quem inaugurou a critica aos econo- mistas, com seu Esbogo de uma Critica da Economia Politica (redi- giclo em 1843 e publicado nos Anais Franco-Alemides em 1844). Marx sempre teve grande consideragao por este trabalho pio neiro, mas a sua opiniéo nao impediu que muitos comentado- zes viessem a consider4-lo um texto primitivo, ou ao menos pa- radoxal, por externar simpatias em relacio ao critério da utili- dade na determinacdo do valor das mercadorias. Essa ani- mosidade tem impedido que se dé a devida atencao a um traba- tho ndo somente original, como portador de muitas chaves para © entendimento da aproximagao de Marx e Engels a economia Politica, bem como de diversas idéias ainda presentes nas obras de maturidade. O ponto de referéncia de Engels, como o de Marx nos )s critos Econémico-Filosoficos, & a CASES Petes ‘Privada. Uma declarada simpatia pelas idéias socialistas (em es- pecial pelo socialismo inglés) inspira o artigo que, quando me- Ros por essa trivial razdo ideol6gica, ja é manifestamente anta- g6nico ao pensamento dos economistas. O fundamental, porém, € que essa animosidade em momento algum impediu o entendi- mento preciso do significado histérico e ideol6gico da economia politica. Engels tomo — que descreve o ethos da economia politica classica e identifica sua natureza : ‘ia e do papel dos ajust s “naturais” (nos Perce don) RESTO METAR EPTRenta, Seus pais formuladores — Cantillon, Quesnay, Hume, Smith — mais partcularmente os economistasingleses que os sucede- ram, desenvolveram a economia politica como uma rede de ar- {gumentos contratios ao mercantilismo, também e principalmente no que se refere A doutrina do superavit no comércio exterior e seus desdobramentos protecionistas. 3 : ‘A tematica utilitarista do interesse e 0 corolario dos beneficios materiais coletivos advindos da busca de ganhos privados, a se- guir destacada por Engels, também definia o esqueleto da cién- ia econ6mica liberal. A economia politica teria sido, conforme o Estoco, uma antitese da pregacéo mercantilsta a favor de politi- ‘eas particularistas, em um movimento de negacao de privilégios que, embora retumbante, foi apenas parcial, por haver-se detido Bssseponto,em vezderealizara critica completa a0“‘nicograre de monoplio bisico” (ECEP 156) — oda propriedade privada Em conseqiiéncia, “(..) a nova economia s6 representou um leve € parcial passo adiante” (ECEP, 152). Esse “leve e parcial passo adiante” apontava tanto para os ddemeéritos como para as virtudes do pensaento liberal. De acor- o.com Engels, 0 “sistema de Adam Smith’ foi necessério para “por a nu as verdadeiras conseqiiéncias da propriedade priva- da” (ECEP, 152). E de se destacar que a propriedade privada e seu movimento sao os demiurgos da exposicao eo foco especial do interesse para um autor que se colocava na perspectiva de rejeité-la n conttibuiglo dos economistas no desvendamento das leis de propriedade é um ponto nao totalmente esclarecido pelo Es boco. Os economistas teriam superado a ingénua defesa dos pri- ‘Os economists ndo pensaram nem por um instante em por ‘em diivida a validade da propriedade privada” (ECEP, 152). 0 unico avanco positive feito pela economia liberal fo are velagio das leis da propriedade privada” (ECEP, 152) 19 vilégios, feita pelos mercantilistas, enaltecendo e exacerbando 0 papel da concocrencia Transformaram o egofsmo em um fator enévolo de sociabilidade, mas, simultaneamente, criaram as bases para um novo humanismo (também parcial, como vere- mos), a0 derivarem o valor do trabalho humano. Essa derivacio, conforme Marx viria a esclarecer nos Manuscritos, representava uma introjegdo da propriedade no trabalho (0 trabalho como “es- séncia subjetiva da propriedade”), sendo de certo modo um elo- gio ao trabalho e a seus poderes criativos. Enfim, ao tratarem do trabalho, os economistas de fato pene- traram na tematica da propriedade e da riqueza. A teoria liberal da riqueza é uma teoria da riqueza em geral e em abstrato, e nao da riqueza agréria, ou argentaria. E uma teoria na qual a pro- Priedade se separa de suas formas particulares, apresentando- Se, por inteiro, tal como existe na sociedade burguesa. Trata-se de uma dessacralizagao, com a contrapartida de também forne- cer argumentos econémicos para a legitimagao social da pro- priedade. Através da doutrina do interesse, os economistas fizeram com que “(...) a hipocrisia protestante substituisse a in- genuidade catolica” (ECEP, 155). O que antes era uma exclusio (monopélios, privilégios, protegio), tornou-se um beneficio. A concorréncia, que subentende a propriedade privada, passou a ser vista como causa de bem-estar. Em uma analogia com a reli- Bido, Smith é denominado no Esboco “o Lutero econémico”. Esse Paralelo entre o protestantismo e a economia politica continua~ ria‘a estar presente em toda a futura obra de Marx "u ponto de referéncia era a contestagao a idéia de que 0 egoi mo é compativel com a harmonia. A concorréncia e 0 comércio — manifestagoes do egoismo econdmico — sé poderiam gerar rupturas, ao expressarem conflitos e situages em que prevalece a lei do mais forte. O comércio, decorréncia imediata do regime de propriedade privada, revelaria as conseqtiéncias nefastas deste. Engels atinha-se aqui a diviséo do trabalho inevitavelmente im. Posta pelo regime de propriedade privada, bem como a ruptura da sociabilidade humana natural, advinda do afastamento entre © homem e 0 produto de seu trabalho. A satisfagio das necessi- 20 dades passa a ser mediada pela troca, mas a moderna troca — 0 comércio — representa apenas uma fonte direta de lucro para o comerciante. Na compra e venda confrontam-se “homens com ) [uma] desconfianga uma “categoria por ele estabelecida” 37), 0 valor, nao poderia fundar-se em bases cientificas, Engels, nessa questao, contrastava as duas escolas que se digla- diavam na temética do Valor, a inglesa (eustoside produgdo) ¢ a francesa (Utilidade), concluindo que nenhuma'delas:poderia.re- (Os economistas ingleses, por estarem erredados na contraposi- so entre valor real (“abstrato”’)e valor de mercado (“comercial”) Sea um valor abstrato, qual é o papel da concorréncia (do comér- io)? E, se ha um valor de mercado, qual é0 papel da abstracio? ‘Os economistas franceses, por sua vez (principalmente Say), por se basearem na utilidade, uma apreciagao subjetiva inteira- mente distorcida pelo regime de propriedade. “Enquanto existir a propriedade privada s6 se pode chegar a uma decisdo mais ou ‘menos objetiva (e aparentemente geral) scbre a utilidade de uma mercadoria tendo em conta a concorréncia... Se se aceita a exis- téncia da concorréncia deve-se ter em conta, também, os custos de producao, porque ninguém vender um artigo por menos do que Ihe custou produzi-lo" (ECEP, 159). A conclusao de Engels eraa de que a escola francesa pensou, com a utilidade, ter-se des- cartado dos custos de producao, mas nao conseguiu sem eles fun= dar uma teoria geral da t Na opinido de Engel “ le inter cambio” (ECEP, 159) € objetivamet a. Apenas nessa sitta- ‘ao “poderemos suprimir a oposicao entre a utilidade real e ine- rente de um artigo e a determinacio desta utilidade. 56 desta maneira poderemos superar a oposigao entre a determinacao da utilidade e a liberdade do comprador e do vendedor” (ECEP, 159- 60). Mas, nesse momento, “(...) deixarao de existir a compra e a venda em sua forma atual” (ECEP, 160). 21 Em suma, 0 preco deve levar em conta os custos de produgao e cummmtach, mas esta tiltima é uma expressio.dayfraude. O “valor real” é um artificio para esconder-se a imoralidade do co- ‘mércio. A possibilidade de se reconciliarem o valor, o trabalho, a Utilidade e a justica na troca passa pela supressio do regime de propriedade privada. Os comentarios de Engels, como ¢ facil perceber (e deixando-se de lado por enquanto sua incompreensao da teoria do valor-traba- Iho) eram elucidativos na demonstracao de que a totalidade de sua critica & economia politica passava por uma concepcao de natu- teza humana colidente com a propriedade privada, entendida como um fator de ruptura dos nexos naturais entre os homens. Essa ruptura da comunidade natural exacerbaria as assimetrias nas relagdes humanas, fazendo com que na sociedade moderna prevalecesse o poder dos proprietérios, contrario por definica qualquer harmonia. Caberia ao homem a tarefa de recompor a so- Giabilidade natural, extinguindo a propriedade privada Por outro lado, a propriedade privada — e a concorréncia — também impediriam uma determinacdo objetiva do valor e da distribuicdo. Os trés fatores da produgao, uma vez separados pelo advento da propriedade privada, nao possuiriam denominador comum, 0 que impediria uma fixacao justa das parcelas distribu tivast Uma das caracteristicas marcantes do texto de Engels consistia na tentativa de fundar suas proposigdes na rea- lidade social imediata. Esse aspecto é um tanto curioso, porque, como foi visto, o ponto de partida e os objetivos finais eram “fi. loséficos”: a rejeicdo ao regime de propriedade privada era para ele uma preliminar baseada na propria caracterizacio da nature- za humana, € 0 comunismo que propunha era conceitual, um es- tado de reconciliacao entre o fazer humano ea natureza humana. Apesar disso, o “movimento da propriedade privada” revelaria *(.) nas atuais conde, o hs uma medida comum que ‘nos permitaatribuir terra, a0 capital e ao trabalho, suas respectivasparcelas. Na realidad, a decisio sobre isto abe & concoreéncia, vale dizer, a uma medida total. mente alheia e fortuita” (ECEP 155. leis, e essas nada mais representariam do que alguns dos resulta- dos palpaveis da industrializagio. Dois dos resultados nos interesam aqui particularmente. Um diz respeito & populagao trabalhadora: 0 que se vé na Inglaterra —afirmava Engels — ¢ a criagdo de uma classe trabalhadora que se eterniza na miséria. Nticleos familiares dissolvidos, mulheres e menores no trabalho e fome so as conseqtiéncias da industria- lizagdo. A miséria, em meio a riqueza, falava por si. Era impossi- vel conciliar tal quadro com quaiquer tipo de harmonia. Além disso, e em meio a uma critica vigorosa a lei malthusiana da po- polacio, Hagetmatirtinn gue aenocicadedimhaeialidadenand' ida, e nao natural. © outro resultado do regime de propriedade privada estava na ocorréncia de crises ciclicas. A lei da concorréncia impediria o equilibrio entre a oferta e a procura, processo que “(...) da lugar a uma situagdo permanentemente insana” (PCEP, 167) no entanto considerada pelos economistas um perfeito mecanismo de ajus- tamentos: “Os economistas agitam esta maravilhosa lei de oferta e demanda e demonstram que ‘nunca se pode produzir em excesso’. A pratica retruca com as crises comerciais, de aparicdo tao regu- lar como a dos cometas. Agora temos uma crise a cada cinco ou sete anos. Nos tiltimos oito anos estas crises foram tao regulares como as grandes pragas do passado, e causaram mais miséria e imoralidade que elas” (ECEP, 168) Es Engels ndo conseguia conformar-se com uma lei “(..) que 56 pode se afirmar por hecatombes periédicas” (ECEP, 168). Pro- punha uma nova forma de organizacao da sociedade e da produ- so, na qual pudesse prevalecer a “verdadeira concorréncia”, ou a “relacio entre poder de consumo e poder de producao’ (ECEP, 169). Assim, os dois resultados mais palpaveis do movimento da pro- priedade privada, pobreza e instabilidade econémica, apontavam para o carater antinémico e autodesagregador do regime social 23 Engels jé tinha em mente uma dialética do conffito inteiramente referida as condicdes sociais e as conseqiiéncias econdmicas da industrializagao. Se no futuro seu ponto de vista em relagio a0 pensamento econémico iria mudar, nem por isso a critica da eco- nomia politica deixaria de ter como horizonte o conflito e como Ponto de referéncia os resultados concretos da industrializagio. 1.2 Trabalho alienado e propriedade privada ___ Aexemplo de Engels, Marx acreditava que a eco. tionar ou ao menos explicar sua natureza e, em conseqiiéncia sem compreender suas leis’. Uma das notas distintivas dos Ma, nuscritos Econémico-Filosdfcos estava justamente na tentativa de aprofundar a investigacdo sobre a natureza da propriedade pri- vada, como meio para efetuar a critica 4 economia politica. Foi nessa trajetéria que Marx desenvolveu as suas conhecidas digres- sdes sobre o trabalho alienado ja que, segundo cle, ABROprade lava dos economista na proprie: : 1m a propriedade pri- sada como um estado, como um dado isttacional. Ele a ‘con. derava o resultado do movimento do trabalho alienado — este sim, o verdadeiro prin ee ° : pio integrador da exposicao e o pélo de referEncia na rt sociabilidade burguese, ojo carter dimi. nutivo resultava do fato de levar o trabalho a seu grau ma de alienacao. ad O conceito de trabalho alienado contrasta com o de comunida- de humana natural. A naturalidade diz respeito a relagao entre homem ¢ objeto, & exteriorizacao do ser humano, que, para Mare constituia uma generalizacio. O género — o ser humano — era logrado pela exteriorizacao, eo trabalho vinha a ser, sab esse pris pa processo material da propriedade p vada, que esta toma na realidade, em fc ced ae elecomo leis Mas ndocompreene ests leis ou so no deanateg one batons da esséncia da propriedade privada” (MEE 333) "4 ma, o vinculo da individualidade 8 generalidade, ao universal. Nada se interpunha entre o individuo e 0 género, e o sistema de carecimentos miituos de que se compéea sociedade humana equa- cionava-se através do intercdmbio natural (ou humano): aquele em que as necessidades comandam a apropriagao® ‘Apropriedade privada rompe a comunidade natural, pois nela © trabalho se torna progressivamente aquisitivo. As necessida- des sio satisfeitas mediante o intercimbio monetario e 0 passa a representar, para o ser humano, trabalho alhieio. O trabalho aquisitivo seria imediatamente alie- nado porque envolvia, segundo Marx (e na sua enumeracao das ‘caracteristicas do trabalho alienado): 1. “a alienagio e 0 caréter fortuito do trabalho em relacao ao sujeito trabalhador”; 2. “a ~alienacao e 0 carater fortuito do trabalho em relagéo ao objeto dele”; 3. a determinacao absoluta do trabalhador pelas necessi- dades, ja que o trabalho “(...) ndo tem para ele outro significado que ser uma fonte de satisfagao de suas recessidades, enquanto ele 56 existe para elas como escravo de suas necessidades”; 4 resumir o trabalhador a luta pela subsisténcia, fazendo com que ele (0 trabalhador) “(... destine sua vida a adquirir meios de vida” (EEEP, 530). Para Marx, o trabalho alienado — cujas caracteristicas foram acima apontadas — nao descrevia somente uma/Visao filos6fica do homem e do trabalho humano em sociedades nao-comunita- rias. Ele constituia um fendmeno modemo e vivido, tipico das sociedades industriais. Manifestava-se nas conseqtiéncias mais contundentes da vida fabril, e simultaneamente as explicava, Basta partirmos “(..) de um fato econémico atual” (MEF, 596) uirmos que “ (MEE, 596). "Uma apresentacio detathada danatureza da concepcio de tra batho alienado em Marx pode ser encontrada em Giannoti JA. As oiges da dil thea do trabalho. Sto Paulos Difusso Europeia do Livro, 1966. 25 A economia politica fala a linguagem do trabalho alienado Porque fala a linguagem de um mundo dominado pela produ- a0 de mercadorias. Sob esse Angulo, a sociedade industrial 6 a ‘sociedade por exceléncia da alienagao; e o trabalho alienado um conceito que nos leva de uma descrigao ontolégica do trabalho aos pincaros da critica social moderna Em decorréncia disso, a alienacio nao significaria somente exclusdo, ou rompimento do vinculo entre trabalho e produto do trabalho (entre 0 individuo e a generalidade), ou falta de reali- zacao do trabalhador no trabalho. Significava dominagao e hos- tilidade, jé que “(...) a vida infundida por ele (trabalhador) ao objeto se Ihe enfrenta agora como algo alheio e hostil” (MEE, 596. 7). Significava um rompimento entre homem e a esséncia huma- na (atividade vital), um rompimento entre 0 homem e seu ser genérico, acabando por cindir © homem do préprio homem, se- parando trabalhador de capitalista. Enfim, 0 trabalho alienado produzia a propriedade privada: “A relacio entre o trabalhador e o trabalho en- gendra a relacio entre este trabalho e o capitalista ‘ou como quer que se chame ao patrao, ao dono do trabalho. Portanto, o produto, 0 resultado, a con- seqiiéncia necesséria do trabalho alienado, da ati- tude exterior do trabalhador ante a niatureza e ante simesmo, é a propriedade privada” (MEF, 603). 1.3 Marx e a economia politic trabalho e propriedade Ainda que nao tenha compreendido inteiramen- te as leis da propriedade privada, a economia politica “capta 0 processo material da propriedade privada”. Os jufzos de Marx e Engels a respeito da economia politica ndo eram em absoluto des- merecedores de suas contribuig6es a compreensio do funciona- mento ¢ estrutura da sociedade burguesa. Consideravam, no entanto, que os economistas eram parciais e que viam como tra- balho o que na verdade era trabalho alienado, entendendo o con- flito como harmonia, nao dando a devida atengao ao carater 26 distuptivo do movimento da propriedade privada (do trabalho alienado); enfim, nao levando as tiltimas conseqtiéncias as leis xr eles mesmos descobertas, por desconaecerem sua origem. Examinaremos mais adiante a contraposicao entre Marx e os ‘economistas. No momento, limitar-nos-emos a retomar um pon- toanterior —os avangos contidos no sistema dos economistas — gute nos possibilita o entendimento das razées e das caracterist- cas da aproximacao de Marx e Engels a ciéncia da riqueza priva- ade privada, por ela estabelecida através da teoria do valor trabalho. Nao dificil perceber-se que os ecos da doutrina lockiana do direito a propriedade pelo trabalho, que ressoam na Riqueza das Nagoes, pareceram a Marx uma retomada da tematica do tra- balho capaz de permitir finalmente, por meio da dessacralizagao, da nogio de riqueza, uma verdadeira critica ao regime de pro- priedade privada, tendo como ponto de referéncia o homem. A alienacio estaria colocada nela nao mais como um estado es- pecial; por exemplo, como alienacao do trebalhador rural em face da propriedade fundiéria e do produto da terra. Tratava-se de um estatuto da existéncia humana, dada a definitiva separagio entre o homem e o que é exterior a ele. ‘A questao aparece de forma aberta em uma passagem dos ‘Manuscritos Econémico-Filoséficos que retoma a analogia entre eco- nomia politica e protestantismo. A importancia do tema ea cla- reza da exposicao nos autorizam a fazer uma citagao mais longa: “Aeesséncia subjetiva da propriedade privada, a propriedade privada como atividade que é para si, como sujeito, como pessoa, é 0 trabalho. Com- preende-se, pois, que s6 a economia politica que reconheceria como seu principio trabalho — ‘Adam Smith — e que porianto jé nao via na pro- priedade privada somente um estado de coisas exterior ao homem; que s6 esta economia politica, digo, tivesse que se considerar como um produto da energia e do movimento reais da propriedade privada (..), como um produto da induistria mo- 7 derna e que, por outra parte, tenha vindo a acele- rar ea exaltar a energia e 0 desenvolvimento desta indtistria, ao converté-la em um poder de con: ciéncia. Os partidérios do sistema monetério e mercantil, que véem na propriedade privada sim- plesmente uma esséncia objetiva para o homem tém, pois, que parecer adoradores de fetiches, ca- t6licos, a esta economia politica ilustrada que abri- g0u—dentro da propriedade privada—a esséncia subjetiva da riqueza. Por isto Engels tem razao ao chamar Adam Smith’o Luteroda economia politi- aaa da religiosidade a esséncia interior do homem, e como negou o cura existente fora do leigo, ao por © cura no coracio do leigo, assimv-tambértse'st= ‘marsedeummodoexterno= quer dizer, é supe- rada esta objetividade sua externa e carente de pensamento, ao incorporar a propriedade privada 40 Pr6prio homem ¢ reconhecer a’este"como'sua- jprio homem, = esséneia, ma mem no conceito de propriedade privada, como. Lutero'o poe no conceitode teligido’ ao” (MEF, 612) E importante assinalar que a doutrina do valor-trabalho, que introjeta no homem a propriedade privada como “esséncia sub- jetiva” é, preliminarmente, uma contraposicao as doutrinas feti- chistas da riqueza, como 0 mercantilismo. A critica ao mercanti- lismo 6 uma reabilitagéo do trabalho humano mas, conforme Marx, uma reabilitacéo parcial, pois “sob a aparéncia de reconhe- cimento do homem” (MEF, 612) interioriza a alienacao do homem ‘Temos, assim, dois movimentos: 0 primeiro, efetuado pelos economistas, dissolvendo o fetiche da riqueza exterior ao homem, dessacralizando a riqueza, mediante o trabalho; o segundo, efe 28 tuado por Marx, criticava a concepgao mercantil e aquisitiva de trabalho subjacente a economia politica, pois ela sacralizaria a propriedade privada genérica como valo: universal, a pretexto de reabilitar o homem. ‘Ao superar as modalidades naturais de movimento do traba- Iho, ao dissolver a naturalidade do trabalho, ao converter o tra- balho humano em geral em principio, a economia politica re- conheceria apenas o trabalho alienado.e — mais ainda —a for- ma burguesa de trabalho alienado, ou trabalho industrial. Marx nese ponto transita do trabalho alienado para o trabalho indus- trial, da riqueza genérica para a riqueza especificamente burgue- sa (ou industrial), mostrando como sua critica & propriedade é, na verdade, uma critica a moderna sociecade industrial: “Toda riqueza se converte em riqueza indus- trial, em riqueza do trabalho, ea indhistria é 0 tra- balho acabado, do mesmo modo que o regime fabril éa esséncia desenvoivida da industria, vale dizer, do trabalho, e o capital industrial a forma objetiva acabada da propriedade industrial “Bassim vemos como agora, pela primeira vez, pode a propriedade privada levar a termo sua ‘dominagao sobre © homem, converter-se, sob a mais geral das formas, em uma poténcia histé- cersal” (MEF, 615), \ rica ui Essa constatagao iria ser de grande importancia para a carac- terizacao do comunismo como projeto de ressocializagao naturat do homem, pertinente a sociedade industrial e ao trabalho es- pecificamente proletério, e também para a definicao davcriticaa ‘manas, desde sempre referidas ao moderno mundo fabrilea suas Deixaremos de lado o primeiro tema (comunismo), mas nao o segundo, iva comes Ambos trans- pdem-se do trabalho alienado para o trabalho fabril, tido como a forma acabada de trabalho alienado. Ambos se reportam ao “ato 29 econémico atual”, o qual, no entanto, nas obras de juventude es- tard referido ao “movimento da proptiedade - 1 y it 1.4 O estatuto da economia politica Ao analisar a doutrina do salario de subsisténci Marx proferiu 0 comentarios mais écidos a economia politica. Por meio dessa doutrina, “o economista converte o trabalhador em um ser carente de sentido e de necessidades...” (MEF, 628), a Ponto de considerar-se luxo tudo o que ultrapasse as necessida- des mais elementares. A ciéncia da riqueza passa a ser também a ciéncia da avareza, vindo a moral do ascetismo a ser transposta do s6 para o empreendedor, como para o trabalhador. O verda- deiro ideal dessa ciéncia do ascetismo, conclui Marx, “(..) € 0 avaro ascético, entregue a usura, e 0 escravo asceta, mas que pro- duz” (MEE, 628), Na teoria da populagéo, o principio de identidade entre ne- cessidades e subsisténcia minima atingiria sua expressio mais cruel. Nela, segundo Marx, a producdo de vidas humanas é con- siderada um mal ptiblico. A venalidade, afinal, romperia defini tivamente os vinculos entre a moral e a ciéncia. Num mundo em que a mercantilidade é uma contingéncia e também um ideal, ndo se pode mais falar em moralidade econdmica’: Ta que“ iti Poupanga, a'sobriedade...” (MEF, 630), a economia politica é ver- dadeiramente estranha a moralidade humana. Esse nao seria, entretanto, um defeito da ciéncia. Ao defender Ricardo contra tum critico que 0 acusava de fazer caso omisso da moral, Marx responde: “(...) 0 que Ricardo faz 6 deixar que a economia politi- ca fale a linguagem que Ihe corresponde. Se esta linguagem nao € precisamente a da moral, nao culpemos Ricardo” (MEF, 630). A ” *Deves tomar venal, quer dizer, til, tudo 0 que te pertence. ‘Quando pergunto a0 economista se obedeso a leis ecandmicas ao abter dinheiro ‘mediante a entrega eo trfico de meu corpo para 0 prazer de outros--o economia me responde: quando faze isto ndo infringes as normas, mas deves preocuparte ‘com o que dizem a senhora moral ea senhorareligido (.)” (MEF, £30) 30 venalidade, raiz de todos os males, é um fato social decorrente alho alienado. SE x cconomia politica, ciéncia da venalidade, é a verdadeira ex- pressio de um mundo em que pontificam as mercadorias, ou me- Ihor, de um mundo onde a riqueza privada assume forma ‘mercantil, e onde o préprio trabalho, por ser mercadoria, visa & vvenalidade. Essa é uma visdo parcial do trabalho humano, na ele s6 é entendido como atividade aquisitiva, pensava Marx; contudo—o que é decisive — uma visdo que corresponde a vida real nas sociedades fabris. Isto Ihe permite sustentar a tese de que, a seme- Ihanga de qualquer cavalo, necessita ganhar 0 in- dispensavel para poder trabalhar. No momento em que nao trabalha nao existe para ela, nio é considerado por ela como um ser humano (..) (MEE, 565). Pois bem, este homem que s6 existe como trabalhador, 0 pro- letario (cavalo) a que se referem os economistas é um produto da Sociedade industrial, tao real quanto a méquina a vapor. A economia politica, ciéncia da venalidade, seria a legitima expresso da sociedade burguesa. Marx combate nao tanto a eco- nomia politica, quanto seu fundo filistéico. A doutrina do inte- esse retrata a sociabilidade burguesa, mas ndo trata da esséncia humana, ou do homem em sua integralidade. Além disso, como vimos em Engels, os economistas nao teriam conseguido tirar todas as conseqiiéncias do fato disruptive do trabalho alienado. No entanto, Marx nao deixa de conferir a ciéncia da riqueza pri- vada um cardter revolucionério, em nenhum momento deixa de considera-la descritiva da vida real e em nenhum momento colo- ‘ca em questdo seu estatuto cientifico (j4 que, quanto ao papel ideol6gico da economia liberal, ndo tinha duividas) 31 ‘finda assim, Marx ndo concordava com a metodologia de for- mulagdo de leis, pelos economistas. O erro consistiria een propor leis abstratas, sem levar em conta as mudancas. Leis que se can- celam nao sao les. Ja vimos que Engels se debatia com oc nan, mas quest0es, ao contestar o principio do valor “real”. Nos seus tema ntérios ao Elementos de Economia Politica, de James Mill, ¢ tana aParecia: “Se é uma ei constante que, por exemplo, o cus, fo de producao determine em tiltima instancia (.) 0 reso (va- (22) & também uma lei néo menos constante que os duis res dia relacdo nao coincidam e que, portanto, naa haja uma relacao ria ssati@ entre o valor e o custo de producdo” (EEEP. 522), S 5 lei € uma abstragao do movimento real lutuagdes entre dave, de oferta, desproporcao entre custo de produgioe valor deter £2) Por que considerar o movimento como algo nao eseencial? Em suma, como desconsiderar a realidade na caracterizagao de Sua abstracio, a lei? Ou como determinara lei pela auséncia dela, a falta de lei (as flutuacdes)? Isto s6 ocorre, de acordo com Marx, Porque “ itica EP, 522), O acaso, a falta de lei, sio a lei de um sistema que so pode afirmar-se através de embates: a sociedade mercartil, E st oe Cate mie Politica — como o movimento real — parte da relagao proprietario privado” (EEE. 528), ou seja, se s6 se reconhece no homem a relacio de venalidade, seu mediadot —o valor tae de ser expressio da propriedade privada alienada, Seré uma ov pressio de Poder, de engano mito (concorréncia, dria Engels), za qual “A intencao do engodo, da fraude, fica necessarianvonig Posta no fundo, jé que, sendo nossa troca uma troca egoista tanto dle tua quanto de minha parte, posto que cada egoisio teats do imPor-se ao outro, o que necessariamente pretendemos é muta, mente nos enganarmos” (EEEP, 535). Se a relago humana é mediada pelo produto do trabalho sua venalidade, se “Nosso valor muituo é para nos o valor de Rossos muitos objetos (...) © homem, para nds, carece muta, mente de valor’ (EEEP, 536). Nesses termos, alei ndo €o homem, Sendo a mercadoria (a propriedade privada) enquanto poder 32 Gio) ea igualdade; o poder e om conc o poder (aproprigio) es igualdadeo poder ger encaminhada mais satisfatoriamente n’O Capital, passaos Pirios anos. Para ojovem Marx, como para ojovem Engels, ps wvarios anos. Para manecia o paradoxo da economia politica como.umsistema-cien- 1.5 Dinheiro e poder éum “mediador estra- Para o homem, 0 dinheito éu i i I, as relagdes entre os a ele” (BEEP, 522). No mundo mercantil, ae i a imemaneana relages de propredade priv ada Bropricdade Privada, ou, mais propriamente, desumanizam se cia estranha ao homem, e significa uma pera de v se tos. O valor transmigra para o dinheiro que, ta consuma 0 empobre- ? ‘esséncia da propriedade privada alienada, cons mpol **G problema er menos ode caracterizaro dihiro —o repre problema er sentante da venalidade universal — que o de demonstrat por eo dinheiro necestariamente decor do trabalho alenado, roc que propriedade pereasten Boe oa lve até che me monetirio?” (EEEP, 524) A cespost ten Gio por ser exatamente andloga & formulada, n’O Capital, rm er ee ee lo a relacao necessétia entre a merca oni, eed *Porgie o homer, enguanto ser soil, tem que se desenvolver até chegar a troca e porque a troca — partindo d remiss da i jem que se desenvolver até cheg: riedade privad 7 Tor" (EEEP, 524). O valor, nesse quadro, é a “relagao abstrata en- tre uma propriedade privada e outras” .” (EEEP, 524) 3 alho alienado (proprie- emos, portanto, uma relagao entre trabalh o(prop dade pivads), dinero valor O dinheito 6a expresso da aie fnagio da propiedad privada e'6 valor a relago ene coisa ostas pelo trabalho alienado: uma relagio entre prop Omovimente é odo trabalho alienado, 0. A mercadoria deve desenvolver-se até a forma dinheiro, e 0 valor passa a aa entendido como atributo da mercadoria (um atributo social, que denota intercambiabilidade). Neste caso, 0 movimento Soda ne cadoria, que carrega em si a forma da intercambiabilidade. im ambas as situagdes, no entanto, e guardadas as diferencas, © dinheiro (mediador) é resultado do movimento de algo ante, Hor a ele. Ao exteriorizar-se, converte-se em poténcia indepen. dente: representante da propriedade, rompidos os nexos eniec Propriedade e a esséncia subjetiva (Manuscrtos); expressio dle riqueza objetivada, tenclente a autonomia (O Capital) ‘A exteriorizagdo e a tendéncia a autonomizagio aproximam a "pedo de dinheiro dos Manuscritos da concepsio de capital das obias de maturidade do autor, pelo menos no que diz respeito a indiferenca em face da materialidade dos objetos que comanda, Nejarse como a questio esta posta, em uma passagem dos Ma, nuscritos em que Marx vincula dinheiro a alienacao € a auto. nomia “Com odinheiro, que é total indiferenca tan- to face a natureza do material, como face 4 natu. teza especifica da propriedade privada, e face a Personalidade do proprietario, manifesta-se o Poder total da coisa alienada sobre o homem. O gue € 0 poder da pessoa sobre a pessoa, é agora © poder geral da coisa sobre a pessoa, do pro- duto sobre o produtor. Se jé no equivalente: valor, ia implicita a nota de alienacao da pro- Priedade privada, o dinheiro é a existéncia sen- sivel, objetivada em si mesma, desta alienacio” (EEEP, 531), rata-se, ainda nos Manuscrites, do “poder da coisa alienada sobre o homem”. N’O Capital, o dinheiro que funciona nao sé como meio de intercambiabilidade plena, como também enquanto Poder é capital, Nesse ponto, Marx desenvolveré a percepcao mith tem da rit tudo-poder.sobre-trabalhoralheio - : 34 jue dizer do capital,, nas obras de juventude? Ele tem xistencia real e trata-se de uma categoria central da exon politica, que aparece aos economistas como coisa. Nos Ma+ E sta do trabalhador, por do. E 0 produto que se afasta A \de privada. E 0 ponto io concebido na relacao cle propriedade p viaisrrelacdo da propriecade privada e, portanto, do inculos naturais do homem. Ainda néo constitui Rs, come wires oct mais tarde pore Marve ors em outos termes) para econonia politic mas guar agumas das suas caracterstcas — extriorizago, inite- em face da exiténcia natural e socal —intrnsecas pos or situacao em que o capital, e nio a propriedade privada, jito da analise 4 I canon: Menaecriosreterenese (=) producto Bjeto da atividade humana enquanto capital, no qual se dis toda determinabilidade natural esocal docket enon ede privada perdeu sun qualidade natura e socal — j= em que 0 proprio capital permaneceo mesmo através das s diversas existéncias natuirais e sociais, de todo modo ind ente a seu contetido real (..)" (MEE, 607) ‘ie Maps sinha em vista a generalidade da categoria capital na Eonomiapotica,e stn contraposiio aun teaalho também nic, porque despido de toda paticulardade natural. Aire sidia, segundo ele, a diferenca entre o capital ea terra, entre 0 deo ea ena da tera, entre o trabalho ree o taba gre fa em suma cistalizacio do capital como comando sobre o sale lho, edo trabalho como dispénio generico dete 0, tipicos da atividade industrial : : cial incfereros em relagho 4 seu onteid €o capital “emancipado’,¢ "0 desenvolvimento necsrio do trabalho 2 indkistria emancipada” (MEF, 608). O capital é propriedade pi Yada jf desenvovida, bert das determinagiesnaturais Dee se assinalar que os textos dejuventude ainda note BP fram o capil como capsciae de prprasio de excdente A tematic do excedenteestava ausente do pensamento do jo Vem Marx, 0 que aponta para uma aproximagao ain pleta e parcial a economia politica. Voltaremos a ess pletaey Pe faremos a esse ponto mais, 1.6 Miséria da Filosofia: um Marx ricardiano? Na Miséria da Filosofia (1847) teriamos jé um May gunta ndo é descabida, se nos basearmos no entusiasmo eect © Autor acolheu as proposigdes dos economistas e em particular a versio ricardiana da teoria do valor-trabalho. Marx nao apenas ressaltava a adequacio do sistema ricardiano ao mundo contem- pordneo — “A teoria do valor de Ricardo € a interpretacao cient. fica da vida econémica atual” (MF, 60) — como afirmava residir ai, na capacidade de unificagao teérica em torno da categoria valor, o cerne de sua cientificidade’ “ © ponto culminante da adesao a teoria ricardiana do valor re- sidiu, certamente, na integral aceitacdo de sua extensdo ao traba Iho. A doutrina do salério de subsisténcia e a percepgio de que 0 trabalho no capitalismo ¢ ele proprio mercadoria marcam o texto de Marx, que conclu, exatamente como os economistas: “Resumamos: 0 trabalho, sendo ele proprio mercadoria, 6 medido como tal pelo tempo do tra- balho que ¢ preciso para produzig o trabalho-mer- cadoria. E 0 que é preciso para produzir traba- Iho-mercadoria? Justamente aquilo que é preciso de tempo de trabalho para produzir os objetos indispensaveis 4 manutengao incessante do trabalho, ou seja, para fazer viver o trabalhador € colocé-lo em condigdes de propagar sua raca”” ae ondicdes de propagar sua rac: sua doutrina um sistema cientifico” (ME, 60). * “ 36 Nos Manuscritos Econémico-Filosdficos e no Esboco de uma Criti- z ca Economia Politica, ainda causava estranheza a Marx e a En- gels que o trabalho pudesse ver-se reduzide a mercadoria, e desse modo subordinado a regra do valor minimo. Por outro lado, até mesmo 0 carater cientifico da teoria do valor fora impugnado por eles, ou a0 menos posto entre parénteses, na presenga de uma situagio em que prevalecia a auséncia de regras, Vale a pena advertir que airrestrita adesio ao valor-trabalho e a.aceitacio integral da formulagao ricardiana tinham muito a ver om 0 intuito polémico do texto. A Miséria da Filosofia atacava, na figura de Proudhon, um tipo de socialisme que pretende derivar da proposigao de que o trabalho determina o valor, a chave para afirmacao da igualdade. Teriamos assim um socialismo peque- no-burgués que, segundo Marx, desconhecia as verdadeiras de- terminagées do capitalismo. A medida do valor relativo pelo tempo de trabalho, pelo contrario, constituiria a “(..) f6rmula da ‘escravidao moderna do operdrio” (MF, 63),e nao de sua emanci- ‘pacio. Ao valorizar Ricardo, Marx desejava reforcar a argumen- tagao de que o socialismo proudhoniano brande as formulas da exploracio sem conseguir explicar por que nao se pode obter, da sociedade onde rege 0 valor, a igualdade. Enfim, mostrar-se ul- tra-ricardiano fazia parte da logica e da ret6rica de um texto cujo intuito polémico era marcante. De qualquer modo, parece que A Miséria da Filosofia marca a definitiva aceitagao por Marx do valor-trabalho e, por meio deste, do ponto de vista da economia politica. O que ha de verdade nesta ‘firmagio? Até que ponto vestiu Marx o figurino ricardiat 0 ‘expressando melhor, em que medida o critico da sociedade bu guesa é também um critico da economia politica em 1847? As res” postas a essas perguntas permitem um melhor contato com a verdadeira natureza da apropriagao da economia politica por Marx. Para qualificar as relagdes entre Marx e a econo- mia politica é necessario, em primeiro lugar, levar em considera- Gao o predominio da visdo materialista de histéria. A exposicio mais detalhada desse aspecto pertence &Idcologia Alem (uma obra contempornea), mas a concepgao da interacao entre o desenvol- 37 vimento de forcas proclutivas e as relagdes sociais de produgdo ocupava um lugar destacado na Miséria da Filosofia. O pensamen. to de Marx a respeito pode ser condensado em uma frase —“O moinho a braco resulta na sociedade com o suserano; o moinho a vapor na sociedade com o capitalismo industrial” (ME, 119) — 9 qual é tanto concisa quanto emblemética na caracterizaco do homem e do fazer humano a partir de suas dimensdes histérico. temporais. Os modos de produgao impéem-se como sinteses de relagdes sociais e de forcas produtivas, Nessa maneira de considerar o homem, que enfatiza 0 papel do desenvolvimento material e subordina 0 movimento histéri- 0 tensao entre grupos sociais antagénicos e caracteristicos dos modos de producio, vai implicita uma critica aos procedimentos da economia politica. Os economistas eternizariam e naturalize, tiam as relacdes sociais. Teriam o costume de transformar em “leis naturais” os principios prevalecentes nas sociedades bur. Buesas’. Para Marx, as “leis naturais” nadia mais sio do que os Prinefpios da sociedade burguesa, retirados do contexto. A natu, talizagéo do homem e das relagdes sociais suprime o devir histo. ico. Para os economistas “(..) houve historia, mas nao ha mais” (MF, 130); suas leis sio revolucionarias tendo em vista o pasado € conservadoras em face do presente e do futuro. A opiniao ¢ definitiva e os trabalhos subseqiientes s6 viriam a consolicé-la. Talvez.a sua exposicdo mais sintética possa ser en- contrada na Introdugao a Critica da Economia Politica, na qual Marx qualifica as “robinsonadas” da economia politica (por exemplo. © cagador e o pescador isolados, de Smith e Ricardo) como um fetorno apenas aparente ao passado e A natureza, pois temos ne~ las “(..) uma antecipacio da sociedade burguesa, que se prepa. rava desde o século XVI, e no século XVIII deu larguissimos Passos em direcdo a sua maturidade” (PCEP, 109), naturais independents da infuéncia do tempo, Sio leis eemas que devern sempre ‘ger a sociedade” (ME. 123) 38 Contudo, sea critica envolve uma nova soncepgéo do homem cia istri, presente na Miri da Filsofs mas ausente ros Ma os Eamtice-Filefies, no € menos verdade que ela veo complement um ponto de vst onto nos textos de 1844 ede do pouca importancia, segundo o qual as categorias da ia politica representa a moderna soiedade eas novas desocibildade pogressivamenteemergentes dom ais: do mundo feudal. G capital resume a forma genérica de riedade e de riqueza que se impde a partir dai. A teoria ri iana retrata a quintesséncia da vida econdmica atual —nao lo de uma abstracao das relagbes sociais burguesas — por- ‘subordina a dinamica da renda da terra a formacao da taxa fia de lucro, e converte a oposicao entre luctos e salérios no econémico dominante. Os economistas suprimem a histori- ide de suas leis, mas estas revelam 0 miicleo das relagdes 50- is burguesas. Ya os “Temos aqui, portanto, no apenas uma critica & a-historicida gue as catogoras econdmicasrefletem um “fato econdmico al”. Nessa medida, o valor aparece como uma relagao soc tua pela sociedade mercantile ¢ este exato contexto faz sentido a apropriagio dale do valor por a ome iabilidade, constituida pelas relagdes sociais burguesas (a Ian cronorstas roo erm peresbidocaramente} INa Misti da Foo, a vida econdmiceconcreta sobrepde-se @ determinagio natural do homer. Talver essa aqui a verda- Aira mudanca de pontos de referencia, ramo a uma concepsio Iaterialista de histria. Quando as forgas produtivas sio a8 da Indstria moderna, ohomem éo proto. A concorrénca in- Euumbese de impor a todos, como regra da vida social, as leis ‘micas. Esse ponto focal aparece de maneira muito niti tempos de trabalho e a formagdo do “trabalho simples” ci abstracdo real no capitalismo: © “Ricardo nos mostra o movimento eal da producto bungue- 5, que constitu o valor (.)” (ME, 60), 39 “Esta redugao de jornada de trabalho complexo a simples nao supe que se tome o propria taba. Iho simples como medida de valor? A quantidade de trabalho, servindo somente ela, sem relagao a qualidade, como medida de valor, supde por sua vez que o trabalho simples tornou-se o pivo da in- dliistria. Ela supe que os trabalhos sejam equipa rados pela subordinagao do homem a maquina, ou pela divisdo extrema do trabalho; que os homens desaparecam diante do trabalho; que o movimen- todo péndulo tenha-se tornado a medida exata da atividade relativa de dois operdrios, como o 6 da velocidadle de duas locomotivas (..\” (ME 61). Nestas condigdes — as condigdes da sociedade fabril — 6 Marx pode concluir: “O tempo é tudo, o homem pea lee quan do muito a carcaca do tempo” (ME, 64). O homem reduzido a nada (0 proletario) e o trabalho reduzido a tempo (trabalho fa- bril): eis as circunstancias em que se afirma a lei do valor. 1.7 Valor e capital na Miséria da Filosofia _ Aadesio ao principio de que o valor relativo das. mercadorias é determinado pelo tempo de trabalho eee do iria, naturalmente, alterar a opiniao de Marx acerca da con. corréncia. Agora, “A concorréncia realiza a lei segundo a qual o Nalor relativo de um produto se determina pelo tempo de taba © necessério para produzi-lo” (ME, 75). A concorréncia impde a norma. Ela nao é mais entendida (apenas) como disruptiva, Mais ainda — e fundamentalmente — a lei social s6 pode afirmar-se mediante a concorréncia; os valores s6 podem prevalecer me. diante um sistema de dferenciago entre prose valores, obi rio nas sociedades em que as deci ir sa fetorio na les em que as decisées de produzir sio Em tais sociedades, os mecanismos de diferenci tamento entre custos individuais de producao e valores sociais sao comandados pelo capital. A concorréncia, em suma, é basiea. mente uma concorréncia entre as fragdes individuais e genéricas 40 riqueza social, os capitais. Marx aproxima-se bastante da vi- fo de Ricardo sobre a concorréncia, interpretando e defenden- ‘com muita agudeza a teoria da renda diferencial que, como tbe, foi sobretudo uma peca légica no sistema ricardiano de ideterminacao da taxa de lucro e da formagio dos pregos rela- 08. "Na medida em que tanto a teoria do valor quanto a concep- ide riqueza e de capital passam a ser marcadamente ricar- as, cabe perguntar se é razodvel afirmar-se que na Miséria Filosofia a critica a economia politica estritamente hist6rico- jal. A mais decisiva (e quase tinica) critica marxiana de 1847 ia entao a de que a economia politica “naturalizou” as rela- ‘sociais burguesas, suprimindo a hist6ria? O papel dos cri- ,,nesse caso, seria o de advertir quanto ao carter conserva- do pensamento econdmico, advindo de sua desconsidera- jo da superacao histérica? ‘Acreditamos que seja dificil, e de resto pouco elucidativo, dar- luma resposta taxativa a essas questdes: sim ou nao. Na reali- dade, a Miséria da Filosofia representa na obra de Marx um ponto de transigao na critica a economia politica, no qual — a meu ver =devem ser menos enfatizadas as conquistas (aceitacao do va- Jor-trabalho, concepgao materialista) do que as insuficiéncias. Essa transigao caracterizava-se ainda, no fundamental, pela auséncia da nocio de capital, que viria a desempenhar papel central na madura critica marxiana, Na verdade, ao tomar 0 va: Jor como principio tesrico fundamental, Marx — como Ricardo = deixou-se levar por uma das dimensoes da sociabilidade bur- guesa, a da igualdade. Embora o valor seja uma categoria consti tuida pela economia burguesa — porque a economia burguesa constitui o produto do trabalho como mercadoria — ele nao es- gota 0 sentido profundo das relagoes sociais no capitalismo, que tem tanto de igualdade quanto de désigualdade. ‘Ater-se ao valor significava render-se a0 principio teérico da igualdade, e, nessa medida, a critica marxiana de 1847, ainda que contundente, permanecia confinada a um foco restrito. A acusa- ‘do de que os economistas “naturalizam” as relagies sociais bur- guesas era forte, porém incompleta. Baseava-se inteiramente numa concepgao historica e materialista das sociedades huma: 41 fas, sem contudo oferecer nenhuma alternativa tedrica, ou qual- quer alternativa econdmica, ao valor (a igualdade). Enfim, des. conhecia a possibilidade de propor um principio econémico al- ternativo, capaz de explicar a tendéncia a assimetria social vi. gente nas sociedades burguesas. Tal principio viria a ser 0 do capital, e as leis de movimento da economia (leis do capital), leis de reiteragao da desigualdade, em sua forma moderna. Embora esse argumento adote o angulo pri- vilegiado do que viria a ser a critica marxiana madura, pode-se Por enquanto prescindir dele. O leitor atento da Miséria da Filoso fia nao deixar de encontrar nessa obra uma lacuna flagrante, mesmo se tomar a economia politica classica como exclusiva re. feréncia. O problema residia, novamente e ndo por acaso, na no- sao de capital. Com efeito, a visio que Marx tinha do capital em 1847 era qua- se paradonal. Por um lado, ele reconhecia no capital a forma gené- rica de riqueza, correspondente ao capitalismo; vinham dai suas criticas aos mercantilistas,fisiocratas, e quaisquet pensadores que tivessem de um modo ou de outro particularizado a riqueza so- Cial. Jd reconhecia, no par opositivo tipico nas sociedades burguie- 85, capitalistas e proletarios, ambos subprodutos do mundo fabril, a expresso moderna das forgas produtivas. Identificava, outros. sim, no trabalho proletdrio indiferenciado 0 verdadeiro pélo opos- to ao capital. Contudo, ainda desconhecia, ou ao menos deixou de ressaltar, aquilo que torna o trabalhador 0 verdadeiro criador da Tiqueza capitalista: sua capacidade de gerac3o de excedente, ou seja, trabalho além do requerido para a sua subsisténcia, A conseqiiéncia nada ocasional da falta de entendimento do capitalismo como uma economia excedentaria era a pequena aten- sao dada a categoria-chave da economia clissica,a taxa de hicro. A determinagao da taxa de lucro, expressio e medida do carter expansivo do capitalismo, nao parece ter chamado a atencio de Marx, a despeito de seu apego a teoria de Ricardo, Um aspecto talvez revelador desta omissio reside na ambi- Bilidade das referéncias a Adam Smith. Na Miséria da Filosofia, Marx aproximava-se de Smith ao discutir a divisao do trabalho, mas dele se afastava ao discutir a acumulacao do capital. Carac. teristicamente — e como é sabido — a teoria smithiana da acu- 2 Jo € ac jue de modo mais aberto remete a estruturay, dade da temstica da tansferénca do exedente exndmico {Em suma, Marx nao soube ainda na Miséria da Filosofia en te dar o capital como uma forma priméria esa de exeagio de dente econdmico em consents, no pode converter 0 pital em principio consttutivo, Decorria dat que apenas con- com o valor como principio fundamental constituido plas ages sociais burguesas. A historia esta presente (ha or al a a) as noo capital. Ou —se desjaemes suaviza firma fo apenas havia um capital entendico como Fiqueza genéric, no como relagio social de criagio deriqueza genética, me- {te um sistema de produgio e transferéncia de excedente e ressaltam tanto a igualdade quanto a assimetria. pene Nessa perspectiva, a propalada adesao ao principio do ana Iho representa ao mesmo tempo um avango e uma ~ fe ciéncia. Marx aderiu a Ricardo porque ainda nao een a um sistema tedrico alternativo ao de Ricardo. Na. ‘Miséria = a fia ele& um citico do capitlismo, mas um critic incompleto¢ ante parcial da economia politica, a0 menos pela auséncia de clara compreensio do capitalismo enquanto regime espe jugao de excedente. : ‘iam acolo a economia politica como um ponto de vista pri- ¥ilegiaco para o conhecimento da sociabilidade burguesa, 0 que forna parcial e condicional a afirmacio de que rejetavam o pen Samentoecondmico clissico. Na Misra d Flos, por sua vez @adesao de Marx ao sistema de Ricardo esta condicionada a um oncepcioimaturaeincompleta de capital O estudo dessa pros Ximacio complexa a economia politica serve como introducdo 8 ‘obra de Marx: uma tentativa de construcio da critica da econ mia politica como reflexao cientifica sobre o capitalismo B aiqos sejON xIeYT 1 OHNILNOD NIZTVHD O1DIUNVIN 3 PIOUS planejamen

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