Você está na página 1de 136
Um dos anseios mais prementes que 0 Concilio Vaticano IT nos deixou, foi o desejo de volta as fontes E percorrendo este caminho que as varias ciéncias teol6gicas po- derao se purificar, eliminando a poeira dos séculos e conservando o essencial da prépria estrutura. E com essa finalidade que o pri: ‘meiro volume da grande obra littirgica ANAMNESIS foi elaborado. Oesforco dos Autores, mestres da ciéncia teol6gico-littirgica, foi oferecer uma visdo global hist6rica da Liturgia como Evento. Este livro, fundamental para um estudo sério da Liturgia, alicer- ¢a com sua visdo historica esta disciplina teol6gica e abre cami- nhos para os volumes seguintes. Pe, Joo Luis Mérgano, IMC Assessor de Liturgia dar CNBB ANAMNESIS Introduedo hist6rico-teologica a Liturgia Plano geral da Obra: * A Liturgia, momento hist6rico da salvagdo + Panorama historico geral da Liturgia ‘+ A Eucaristia, teologia e histéria da celebracdo '* Os Sacraments, celebragSes da histéria da salvacio ‘As Liturgias orientais * Liturgia das Horas 0 ano litargico * Os Sacramentais e as Béngios FR ANAMNESIS DIVERSOS - A LITURGIA, momento histérico da salvagio B. NEUNHEUSER S.MARSILI M. AUGE R.CIVIL ee Jos de Cetaloeagto na Publicagto (CIP) Internacional Dados dcr Beside Livia, SP, brash |A Liturgia: momento histérieo da salyagio / B, Neunheuser .. (et tas1 als "tadugio Anaeleto Alvarez; revisto.Joto Luis Morzano,” Jose Jeagtim Sobral). Sto Paulo: Paulas, 1988, (ANAMNESIS; 1) Biblografia, ISBN 85.05.005562 Ccatlice — Lituraia — Histria 2, Igeja Catia — Litur log 3 Salto": Neunheuse, Butkhard 1908 11, See cpp-264.02 234 86.1995, 264.0208 Indices para eatélogo sstemético: Coleco ANAMNESIS Inirodueto historico-teoldgica a lturgia liturgia, momento histérico da salvagao ‘Panorama histbrico gera da Liturgia A Eucarstia, teologia ehistéria da celebragto © Os sacraments: teologia ehistéria da celebragdo = Ocano litirgico - Histéria, eologia e celebragio Obra organizada pelos professores do Pontificio Instituto Litirgico S. Anselmo, de Roma, sob a coordenacio de Salvatore Mars B. Neunheuser - S. Marsili M. Auge - R. Civil A LITURGIA momento histérico da salvacao 28 edig&o Edicgdes Paulinas PAULUS. Ted mamenio ola storia dail slersn ‘Sarto edn, Turin, 1978 Tr Po sce Are, 8A Revisio Pe, dogo Lats Méegan, IMC 4os6 Joaquim Sobral © Fase ut te om [© EDICOES PAULINAS - SAO PAULO - 1867 Apresentacaio © Vaticano II apresentou, de maneira verdadeiramente nova a Liturgia & conscincia da Igreja, redescobrindo-a como “o cimo (eul- men), para o qual se dirige a aco da Igreja e, ao mesmo tempo @ fonte (fons) de onde emana toda a sua forca” (SC 10). Com esta afirmacao, que supera de uma s6 vez toda visio tanto de ordem puramente externo-rubrical, quanto de valor predominante- mente juridico-jurisdicional, a Liturgia € situada, junto com Cristo e como é claro — diretamente dependente dele (Ap 1,8:22,13), como “o alfa ¢ 0 6mega, o principio e o fim” de toda a vida da Igreja. Com feito, estamos diante de uma elevacéo da Liturgia & categoria de componente essencial da obra de salvacao, e precisamente numa linha “cristol6gica”, Isto significa que nfo se pode ter um conhecimento verdadeiro da Liturgia detendo-se na simples pesquisa cientifica ‘no plano hist6rico das origens, das fontes, da evolugo ou da involugéo das formas ¢ dos ritos, mas que, pelo contrério, é necessério, com vistas a uma compreenséo auténtica da Liturgia em si mesma ¢ com referéncia & sua fungéo na Igreja, enquadré-la e aprofundéla na sua dimensio “teol6gico-econémica”, isto 6, na “teologia do mistério de Cristo”. Liturgia, realmente, deve revelar-se como 0 momento atuan- te da histéria da salvagio, criando assim “o tempo da Igreja”, ou seja, 4 extensio da salvacao no ambito da comunidade human: Encamagéo havia sido o momento atuante da mesma salvacdo em Cristo. Penetrar neste discurso teolégico da Liturgia — pelo menos em nivel inicial e introdut6rio — quer ser a tarefa que se prope esta nossa obra, feita em colaboraco entre professores do *Pontificio Instituto Litargico” de S. Anselmo (Roma), fundado em 1961 sob 0 patrocinio do papa do Vaticano II, Joao XXIII. Ao dizermos “colabo- ragio”, pretendemos nfo s6 indicar que a obra nasceu da contribuigaio de muitos, mas também queremos sobretudo accntuar o fato de que Apresentosto 6 rela existe a confluéneia de uma idéntica visto teolbgica, 0 que se realiza de tal modo que no ¢ ¢ nem resulta como elemento aditivo 8 matéria de cada um dos autores tratada segundo as exigéncias ¢ 0 mé- todo que ela requer, mas que aparece, ao invés, como a razdo mais {ntima e profunda da sua pesq Esta unidade teol6gica foi manifestada no proprio ti Andmnesis, que em grego representa 0s nossos “meméria” e “memo- rial”, Ainda que este termo seja conhecido como particularmente expressivo da Eucaristia (Le 22,19; 1Cor 11,24-25), nfo € atributo exclusivo dela, porque na realidede toda a Liturgia, tanto no seu aspecto global, como nos seus momentos particuleres de “sacramen- tos” e de “louvor”, nada mais ¢ que presenga do mistério de Cristo realizado através da “meméria” dele obietiva ¢ concreta. Na verdade, considerando que a Liturgia nfo € obra que parte do homem, mas é 0 mistério proprio de Cristo posto em aco entre ‘os homens por meio de sinais cultuais, para neles confirmar a realida- de salvifica, ndo teria ficado fora de lugar nem teria sido dificil fazer aparecer no titulo a palavra “Mistério”, que teria declarado de modo ‘mais imediato a linha teolégica da obra. Mas os autores. preferiram perder esta vantagem, no para negar — 6 dbvio — a intima ligacdo existente entre “Mistério” e “Liturgia’, mas porque tencionavam, colocando em primeiro plano a Andmnesis, acentuar logo o fato impor tantissimo de que a Liturgia é presenga real do mistério de Cristo, antes de tudo por ela ser 0 seu “memorial”. Atingia-se, desta forma, duplo objetivo: Nao ficava lesada a linha’ teol6gica que descobre na Liturgia a continuacio da hist6ria da salvacao realizada em Cristo, , a0 mesmo tempo, ficava ela completada, quer porque se anuncieva 9 *modo” como 0’ mistério continua, quer porque se introduzia o “sujeito” agente da celebracdo litargica, isto ¢, a lgreja. A ela, com feito, foi entregue a “tradigao do mistério do NT”, a fim de que o “anuncie em si mesma fazendo meméria dele” (1Cor 11,24-26) No alvorecer do décimo ano da promulgecdo da Constituicto itirgica que, nas stias proprias palavras iniciais — Sacrosanctum Con- cilium — transmitiré para todos os séculos vindouros a mais grandiosa reforma litdrgica da hist6ria no Vaticano II, os autores sentemse felizes por poderem oferecer este trabalho: Como homenagem e em reconhecimento dos méritos dos grandes mestres do “movimento littirgico”, como aqueles que colocaram as primeiras pedras da nova visio teoldgica da Liturgia, visio que, da prépria Liturgia, fez um elemento de primeira e insubstituivel impor- tncia na aed pastoral, Como utilidade para todos aqueles que, hoje, seguindo nao s6 as pegadas dos pioneiros, mas sobretudo “o Espirito Santo que passou 7 Apresentapto sobre a Tgreja com a renovagio litirgica” (Pio XII, AAS 48, 1956, 712), ¢ 0 Coneflio Vaticano II que de maneira téo eficaz © promoveu, pretendem “encontrar Cristo nos seus mistérios” (Ambr6sio, Apol, roph. David 12, 58), ou seja, na celebracao litérgica. Salvatore Marsili, OSB abade de Finalpia Roma, Ponti Introducio _ O movimento liturgico: panorama histérico e linhas teoldgicas (B. Neunheuser) Para termos uma compreensio adequada do grandioso aconteci- ‘mento, que se sintetiza na reforma litérgica do Vaticano II, parece- nos necessério tomar conhecimento daquilo que se costumou chamat “movimento litirgico”, assinalando, num breve panorama hist6rico, os principais protagonistas dele ¢ os momentos mais significativos, © ‘a0 mesmo tempo, fazendo ressaltar as linhas teoldgicas que constitui- ram 0 seu componente essencial. I. O Tluminismo na préhistéria do movimento littirgico 102” E uma pergunta que repetidas vezes surgi nas discusses dos iltimos decénios.! Houve sempre periodos histéricos impregnados de profundo ape- a que na sua forte carga espiritual contribuiram para dar 2s & Liturgia, até o ponto de condicionarem épocas inteiras ‘no campo litirgico. Um perfodo desta espécie sem diivida aquele, to profundamente criativo, que vai do século IV ao VI, ¢ que corres: ponde ao tempo em que tanto no Oriente quanto no Ocidente nas- ‘com as grandes “familias litirgicas”, isto é, agrupamenios particula- Ch. W, Trapp, Vorgeschichte und Ursprung. der litrgachen Bewegung. vor wiegend in Hinicht aa! das deutsche. Sprachecbet, Reger or 0. Rous eeu, Histoire du mouvement itunglque, Pais, 190 weaing, Acchaffenburg, 1964, A. L. Mayer, Die. pistesgeschiel tutgochen Emeuerung im der Gegenwart, in AL 41, 195, 1 ie Litweie tn der europtixchen. Gestexgeschichte, Darnstel, ‘Wagner, #3. *Liturgische Bewegung”, in LTAK 6, 2 edy 1961, i reimpreso fn ori, E58; 057-1698. Introdugao iz res conhecidos como rito alexandrino, antioqueno, romano, galicano etc. Outro periodo, liturgicamente importante, 6, para o Otidente, 0 franco, dos reis Pepino — Carlos Magno — Alcuino, seguido nos séculos X-XI pelo franco-germanico, que age sobretudo na regio que se estende a partir de Mogincia até S. Galo. Outros momentos de reforma litirgica observam-se, embora de modo diverso, tanto no mo- vimento cisterciense, nos seus comeros, quanto nos esforgos que se manifestam, através de Aimon de Faversham (Inglaterra), na_jovem ‘ordem franciscana, para chegar depois aos propSsitos e as realizacdes, de reforma que se encontram antes.e depois do Coneilio de Trento. E ainda se poderia prosseguir na lista? Apesar disso, o “movimento litdrgico” & um fato bastante mo- deo, néo apenas no termo? mas também no contedido. Com efeito, entendido como corrente que associa ambientes mais amplos na busca de uma renovagio, quer, antes de tudo, da prépria vida espiritual pela forca da Liturgia, quer, num segundo tempo, da propria Liturgia partindo de uma compreensio mais profunda do seu espirito e das int mas leis que a governam, 6 um fendmeno histOrico-cultural de nos- so tempo.* Todavia, percebeu-se com evidéncia e certeza cada vez maiores, ‘que 0s primeiros impulsos e as primeiras realizagées deste programa de renovacio liérgica jé existiam, de maneira surpreendente pela clareza de visio e pela tenacidade de propésitos, na época do Tur rnismo. Mas também 6 verdade que estes propdsitos no se realizaram, mais ainda, a tal ponto ficaram frustrados que & possivel afirmar {que nao existe realmente qualquer relacao direta entre as aspiragées Titdrgicas do Huminismo, daquela época, ¢ as do nosso tempo. Nao se veja 0 ultimo motivo disso no fato deo Iluminismo, tanto em suas tendéncias manifestas, quanto em suas correntes de fundo, deixar-se sobrecarregar ou guiar demasiadamente por elementos heterodoxos. E ‘as conseqiiéncias disso foram que a “restauracdo”, por um rigido fato de reagio conatural, rejeitou precisamente toda ‘reforma Jitdrgica ¢ polarizou-se num conservadorismo tradicionalist 2.Cl. B, Neunheuser, “Liturgies geplante Schipfung oder Zufslesblde?”, in Miscellanea itrgica in onore del card Lercaro, vol. Ib, Roma, 1961 3345 Segundo AL. Mayer, De Liturgy op. cit, 388, 1, oe pulses de lingua aig do. Vey ia no semtido de “ites sapradon’ I, e-nos. documentos clestatcae ‘leadiante,p. G8; M: Righet, Manuae df storia litre Indieduetio in Liturgiam occidenalem, Ro ee, 2 ed Ml tse, oe vaiisCh SC 45 dizendo: “A preocupacio pelo incemento e renovagéo da Litutga ¢utument intend cote wae ce pode de Des sobre 0 $0 temo, com ume passagem do, Espirito Santo pela sus grea retomas paleras eo Ril neldes So congresses de Assis 1956, WAS Sar 55H Tze 6 © movimento lisirgico: panorama histrico © linkas teoléicas A reforma littirgica do Iluminismo. Damos como pressuposto que se conhega 0 fendmeno do Huminismo na sua universalidade, abran- genco o Iluminismo antimetafisico © anticristio dos ingleses, como Locke e Hume; o da filosofia alema que se relacionava com o Leibniz da maturidade e que se exprimia, por exemplo, em J. Chr. Wolff, € no Kant dos anos juvenis; aquele, enfim, dos enciclopedistas franceses, que influem no Huminismo italiano, mas que se distingue pela sua opo- sigdo ao racionalismo cartesiano, a0 anti-historicismo e antiespiritualis- mo, declarando-se a favor de uma concepeao religiosa e teista, com recuperagdo de valores do passado. Nao sem razfo, apenas na Itélia se realizaré uma tentativa, como aquela do Sinodo de Pistéia, de que falaremos em seguida. Mas junto a este existia também um Iuminismo catélico, que em si proprio nao pode “ser considerado como destrutivo € hostil & Igreja e muito menos superficial e insipido, como seria 0 caso se nfo se levasse em consideracZo aquilo que o precedeu e aquilo que de positi- ‘vo, construtivo e de impulso para a frente nasceu daquelas perturba- goes, daquele pensar e experimentar, em resumo, daquele estado de transigGo, talvez historicamente necessério, mas, em todo caso, nao me- nos condicionado pela histéria”? No Ambito do Iuminismo religioso © especialmente do catélico podem ser distinguidos quatro grupos: 1. Os partidérios de um ceticismo radical que chegava a uma hostilidade manifesta. 2. Clara acentuacéo de contraste entre o cristianismo positive € a chamada religido natural, mas sem chegar a um rompimento. 3. TeGlogos de mediagdo, que pretendem sustentar o edificio dog- rético, mas explicando os dogmas num plano de religiio moral, 4. Tedlogos ¢ leigos “que, partindo de um conhecimento profun- do e honesto dos males da época, esforcavam-se por mudar a situagao, Eles defendiam uma reforma no pensamento teoldgico na praxe, con- tudo sem tocar no dogma, até talvez com as melhores intengdes de por em evidéncia a sua pureza € clareza e em todo caso sustentados por um propésito expresso de avaliar de novo aquilo que é essencial na doutrina e na vida crista”.” No Ambito destas categorias deve ser incluidos os seguintes gru- pos ou personalidades ou tendéncias programéticas dotados, para nés, de especial importincia: Pistéia e 0 seu programa de reforma de 1786; José Ie as reformas defendidas no congresso de Ems (1786); L. A. fms", in JLw 9, 1930, 76; i, Introdugao 4 Muratori (1672-1750); 08 livros litdrgicos neogalicanos dos séculos XVII e XVIII; J. M. Sailer (1741-1852). Nao podemos demorar-nos em cada um deles.* Todos os que temos lembrado deveriam reentrar no grupo 4; uma excegio € constitulda por Pistia, que talvez se escravizou demasiado a tendéncias heterodoxas e por isso deveria ser colocada melhor no grupo 3. O bispo Sailer é uma figura santa, a tinica cuja influéncia se estendeu de maneira bastante ampla até 0 presente’ O Sinodo de Pistéia representa, sob ponto de vista da histéria da Liturgie, o acontecimento sem duivida mais interessante no seio do uminismo. Infelizmente, falta ainda um estudo sério e em condigées de esclarecer acertadamente as tendéncias litirgico-reformadoras. do Sinodo; de qualquer maneira, é verdade que uma exata avaliagdo dele no € possivel obter limitando-se a leitura da Constituigdo Auctorem fidei de Pio VI (1794), sem recorrer diretamente as Atas e decre- tos do Sinodo, que sio facilmente acessfveis na coletanea de Mansi." s votos de reforma, manifestados naqueles documentos, estio hhoje quase todos realizados, por exemplo, a participagso ativa dos fi€is no sacrificio eucaristico (Mansi 1040); a comunho com as hés- tias consagradas na prépria Missa (ib.); uma menor estima da Missa Privada (ib.); unicidade do altar (Mansi 1039); uma limitagéo na exposicdo das reliquias sobre o altar (i6.); significado da oragao litdr- gica (Mansi 1074s); @ necessidade de reformas do breviério; a vera cidade ¢ historicidade das leituras; a leitura anual de toda a Sagrada Escritura; @ lingua nacional a0 lado do latim nos livros litérgicos; a supressao de numerosas novenas ¢ formas similares de devocao; a im- Portincia dada & comunidade paroquial contra todo fracionamento (Mansi 1074-1079). Mas néo se deve esquecer que estas reformas estavam inseridas numa teia de concepedes dogmiticas duvidosas ¢ discutiveis, pelo que nio puderam desenvolver-se nas suas justas exi- sgéncias centrais. A instdncia central na reforma titdrgica do uminismo catélico era sobretudo “a tendéncia para a simplificacio (...), para o cardter comunitério (..), para a compreensao e edificagio” *Simplificacao” 8 Para o Sando de Pati, ef Ante decretldel cnc dellanno 1786, 2 ed., Florenca, 1788; Mz i ea 26200 roma as denen igo dada 'na'bula de Po Vi" Pata Marsch ct, Baha eS ese do. Marel Ey iy SSS cio gone de na tL schoues, "Zur ‘Guhiche de! Exes Ratt! a Iigorches Jahrbuch der Goreeslichels 38° ste G6 Pa wT hee, ena Han Back Sits Toa me BAL HERS en naa 4. Itmbin LTC 8,2 ed, 1963, 524, 52. (L. Wier) 12 A. L. Mayer, op. cit, 97, respect, 215, ae eee ano di Pistoia 538, 989-1282, em particular 1011-1086, epBee do Sinodo na interpretacso-onde 15 (© movimento litirgica: panorama histérico © linhas teoldgicas wueria significar “a eliminacdo de todo 0 supérfluo, de todo enfeite au ipso linet edo rt ae simplificagdo radical, que era aliés uma falsificagio da Liturgia euca- ristica, a qual se tornave uma simples lembranca, “um égape que, de ‘acordo com 0 espirito do seu instituidor e também segundo as normas da razio, devia tender principalmente para valores morais”." A gran- de maioria porém, levada por um desejo perfeitamente legitimo do essencial, pedia apenas uma simplificagao exterior. Neste sentido sublinha‘se, antes de tudo, “a Iuta contra os exageros a respito de sdes, peregrinagées ¢ confrarias”, “contra os abusos relativos I bengs‘cexoresmos" sobretudo na demasiada frequénca da ben 0 eucaristica. E preciso sublinhar particularmente “a Tuta contra 0 fracionamento na piedade que tem como finalidade Cristo”.” ‘A tendéncia para a simplificagdo ampliou-se num esforgo pastoral continuo para realizar uma comunidade litirgica, principelmente na liturgia paroquial.® Tratava-se, principalmente, de eriar entre os. par- ticipantes da Liturgia uma assembléia; de dar centralizagéo objetiva & celebragéo litirgica (por exemplo: evitando rezar 0 tergo durante a Missa); de levar os figis @ participarem, de maneia objetiva e subjeti va, na’Liturgia.” O elemento positivo e correto destas aspiragées fot infelizmente obscurecido pela preocupacéo, tipicamente “iluminista”, da compreensio e da edificacao.” Como conclusio, podemos dizer com A. L. Mayer: Com a sua luta contra a exuberdincia do barroco, ‘que no decurso do tempo se tornou puro vazio, o Tluminismo prestou ‘grandes servicos também no campo da Liturgia. “Antes de mais nada (..) 0 Tuminismo catélico — pela primeira vez depois de muito tem- po — fez do problema litirgico um acontecimento que dizia respeito 2 Igreja; a Liturgia torouse (...) um movimento litdrgico popular”. Bla nao mais deveria ser apenas mero “ato oficial”, refletindo-se somente sobre a sua origem e sobre a sua natureza. Infelizmente, no centanto, dela apenas se viu a forma e nao foi percebido 0 seu espi- 10 — no que se refere ao que de positive existia na sua ago — intuiu e compreendeu o sentido intimo.da Liturgia; abriu e nivelou o caminho para o seu santuério através de espinhos € escu- Wio; chegou mesmo até o limiar do proprio santuério e se animou 13 Ib 14 Th, 98, respect, 216 15 Th, 104, respect. 223. 16 Uh: 103, respect. 225, 17 Ih. 107, respect. 225, 18 Thy 111114) respect. 229252. 19 Th) 1EE117, repect. 252255. 20 Tb, 117-122; respect. 235-240. 21 Th, 125, respect. 241. Introdugto 16 nna contemplagao da sua beleza; mas nfo teve nem encontrou a chave para penetrar até a parte interna dele .."* _ | ‘Sem diivida, so muitos os pontos do programa litdrgico do Humi- rnismo que hoje so retomados € realizados. Mas efeitos positivos, no verdadeiro sentido da palavra, somente os teve aquele grande espirito que, com uma auténtica espiritualidade, superou interiormente o Tu minismo: J. M. Sailer, cujo influxo sobre a liturgia pastoral de nossos dias € realmente extraordinéio.” II. O século XIX Chegamos agora aos verdadeiros precursores e aos comegos do movimento litdrgico moderno. A reacdo imediata contra o Iluminismo, isto é 0 Romantismo, “nada diz sobre a Liturgia” * Mas, 20 lado dele € como sua conseqiiéncia, formam-se varias correntes, Forcas sadias do Iluminismo, como as que se acham no ‘spirito de Sailer, ampliam o seu influxo, por exemplo, na Alemanha, principalmente com J. B. Hirscher (1788-1865) e M. A. Nickel, em ‘Mogtincia (1800-1869). Mas independentemente destas, surgem ou- tras forgas, como as da “Tubinga catélica” com J. A. Mohler (1796- 1838) © F, A. Staudenmaier (1800-1856)” o chamado “Movimento de Oxford”, na Inglaterra, com Keable, Pusey e J. Newman Uma incidéncia ainda mais imediata ¢ efetiva deve-se a todo aquele com- plexo que, também no plano religioso-eclesiéstico, costuma-se indicar como “restauragio”, a qual se, de um lado, é — principalmente na Franea® — reagao necesséria contra os erros do tempo e com freqiién- cia dinamicamente criativa, tem no entanto a culpa de ter sufocado outras forgas mais originais, Kolbe, op. cit, 16s, que, referindose a Siler, diz que “cle ¢ uma das figuras mais simpdtics que a grea slemf je exibia (.) Uma pessoa que vivis ner ramen, no seu tempo ¢ nas corentes exprtuals do ‘mesmo, experimentando Cuda: dosumente tudo e conservando, a fim de o'redlzar,aqulo que ers bom". Cl. também a bible repens in LK 9 eta, 25 Mayer, "Liturgie, Aufkiérung tnd Resta 1a, Di tle op a8. "a ime Breve notes’ @ respeito, in cit 2 ie ore me 21 Ib, 19; mis profixamente . Rousseau, op. ct, 6791 28 Kolbe, op. city 20s; Roussenu, op. city 111-28. Na ampla bbliografia rela a0 movimento de Onford™ nio. se demonstra sts agora exiniem eftados que mde ancy ere, a uae ou gu infin reciroc ei © meni nada “movimento” ¢ o “movimento {iirplco" em sg80. no continent. 329 Estamos na Syoca de personelidades como J.'de Maisre, Chateaubriand, Le seanas,Montalember, Lacordaire ©. Ozansm, ton", in JL, 10, 1913, 104; 18 7 © movimento litirgico: panorama histrico ¢ liskas teoléicas A propésito dos elementos estruturais da época restauracionista, A. L. Mayer afirma que “no eram ainda capazes de se introduzir no intimo da Liturgia (..). Com efeito, 0 que interessa no sio estes valores tomados separadamente, mas principalmente a atitude religio- socultual no seu conjunto, que precisamente naquele tempo (como de resto acontecia com a cultura) parece ter encontrado na massa dos figis, em medida cada vez maior, a sua forca portadora ¢ dinami mente orientada, Pois bem, no que se refere & natureza e a0 cont do mais intimo e profundo da Liturgia, a sua centralidade com finali- dade comunitéria ¢ a stia universalidade espiritual, esta massa ecle- sial ache-se diante dela numa espécie de absentefsmo solene, feito de respeito ou intimo desejo, ¢ talvez também de certo interesse, mas como se encontra diante de ‘uma agdo oficial e burocrética’, que se julga dotada de poder e de significado seus, s6 pode ser vista ¢ sentida de longe. E tudo isto, apesar do Tuminismo ¢ mais ainda, talvez pre- ccisamente por causa do Tuminismo e das suas tendéncias na aparén- cia, ou também na realidade, demasiado democréticas, que se propu- nham rejeitar em bloco”.”” ‘Mas naturalmente esta mesma época, sobretudo em virtude da forma cientifica e da fecundidade do historicismo, levava dentro de si germes vélidos para 0 futuro préximo." “Neste terreno cultural e nesta esfera religiosa mergulham as suas raizes Dom Guéranger © a sua obra. O historicismo (...) faz dele um pesquisador e um divulgador de antigas fontes religiosas, que pela sua originalidade © a sua forca haverdo de constituir um valor para o presente e para 0 futuro, Nele, aquela interioridade e profundidade teol6gica, que j se encontravam em J. A. Mohler © em Deutinger, conjugavam-se igualmente com 0 entusiasmo roméintico-hist6rico € com o pensamento racional-hist6rico; © € a partir daqui ¢ através deste canal que se inicia aquela corrente sutil, mas ininterrupta, que chega até os nossos dias, até o despertar da Igreja e da sua Liturgia nas almas” III. A tenovacio monéstica como ponto imediato de partida do movimento litdrgico © movimento litdrgico de nosso tempo encontra a sua preparacdo, a sua forca basica e as suas primeiras tentativas de realizagao nos 30 AL. Mayer, “Litursie, Autklirung..”, 137, espect. 506 31 Th, 138, respect. 308, 52 IB. 1406s, respec. 508, Introdugao 18 ambientes monésticos, ¢ sobretudo em Solesmes (Franga) com o aba- de Guéranger, e em Beuron (Alemanha) com os dois irméios monges, Mauro e Placido Wolter. A primeira vista, trata-se de simples dado de fato, ainda que cle naturalmente tenha, para quem o olhar em profundidade, um sen- tido seu bem preciso. Com efeito, ele quer indicar por si préprio uma rientagio determinada, a qual, embora com seus limites negativos, exprime de mancira bem maior riqueza ¢ vitalidade. Onde realmente, a nao ser em ambientes deste tipo, o delicado rebento de uma nova mentalidade litérgica poderia ter encontrado o sew primeiro e vilido reftigio se nfio no fechado Ambito contemplative do monaquismo? © séoulo XIX fora qualificado, com um termo muito apropria- do, “o século desprovido de graca”,® enquanto século do romantismo selvagem e naturalista, da restauracio historicista, da técnica ¢ da ‘méquina, do liberalismo e do ateismo. Nessa época, na qual estranha- ‘mente se entrelacam todas as tendéncias: a da reacdo contra todo dese- jo de reforma, sobretudo se provinda do Huminismo, a da admiracao entusiasta pelas tradigdes que nos advinham dos bons ¢ antigos tem- pos, como podiam ser a Idade Média ¢ também o Barroco; a restaura- cionista que, num cansago destituido de toda criatividade, tende ape- ras para a imitagdo, num tempo assim assiste-se a um fato: na cele- bracdo litdrgica 0 povo, “mais uma vez e de um modo mais proposi- tado do que nunca, fica rebaixado ao papel de mero espectador...”, para ser entregue a si mesmo numa piedade de fundo puramente indi- Vidualista, enquanto o sacerdote, também entregue a si mesmo, “Ie” @ sua Missa’ ou “faz” a solene funedo-espetéculo. f realmente para ma- ravilhar-se que, mesmo em ambientes pequenos ¢ restritos, se che; se a celebrar uma Liturgia que era viva apesar de todas as suas limi- tagdes. Uma renovacdo no monaguismo beneditino no século XIX é inconcebivel sem Préspero. Guéranger (1805-1875), fundador pri meiro abade de Solesmes. “Os méritos de Dom Guéranger no que se refere ao ressurgir do antigo espirito mondstico s4o imorredouros, Com efeito, numa época em que os elementos fundamentais do mo- naquismo beneditino quase haviam desaparecido da meméria, ele os viu € 0s propés com uma clateza que se poderia dizer verdadeira mente carismética”.® Pois bem, um dos elementos por ele redescober- 35 B 0 tule de,um breve escrito retrospectivo de Mayer (1948), citado no seu tstudo mals amolge “Die Stellung der Liturgie von der Zeit der Romantk Gis zur Jahthundertwende”, in ALw 3, 1, 1984, 1e fespect. {9 Die Liturle. 31 347A. Tungmann, Missarum sollemmia, I, 4* ed, alemi, 203, 535 St. Hilplch, Geschichte des Bonodittinischen’ MGnchtums, Friburgo, 1929, 269.573, em particular, 572. 9 © movimento liirgico: panorama histérico © linhas teolégicas tos como essenciais para uma vida contemplativa, como é a monéstica, era exatamente a Liturgia e precisamente a Liturgia na sua forma romana. De espitito inflamado como era, tudo isto Guéranger viu, pregou empurrou vigorosamente para a frente, naturalmente de uma maneira conatural ao seu tempo. Vindo do ambiente de Lammennais, a quem se achava profundamente ligado, ele era inimigo declarado de toda forma de galicanismo e, vendo na unidade litargica com Roma, a pre- missa indispensével para toda vida eclesial verdadeira, combateu, fre- aqiientemente com cega unilateralidade, ndo s6 as Liturgias chamades neogalicanas, mas também todo pequeno residuo proveniente da anti- ga ¢ veneranda tradi¢do galicana. Numa palavra: era — como naquela época se dizia — um “ultramontano”, e tal como nfo se poderia ter desejado de mais declarado nos anos anteriores ao Coneilio Vaticano I de 1870, isto é, um “ultramontano” com todas as suas fraquezas, mas também com todos 0s seus lados positivos, considerada.a situacao his- t6rica do momento, Neste contexto histérico-espiritual ele tornou-se, e isto j4 a partir do primeiro momento, altamente benemérito da Liturgia, como se pode ver jé no ano de 1830 nas suas “Considérations sur la liturgie eatholi que” que apareceram no Mémorial catholique Lamennais,® © nos volumes, publicados a partir de 1840, das sues Institutions liturgiques, que adotam uma forma cada vez mais polémica e dura.” A respeito desta obra ninguém com certeza poder negar os limites e os delinea- ‘mentos unilaterais; mas apesar disso nela se encontra um bem esbo- sado ¢ auténtico programa para renovacdo e retomno litirgico. “Se este nosso livro, atraindo a atengdo daqueles que tém como missio velar pelas Igrejas, contribuisse, mesmo em forma muito pequena, para reprimir abusos muito grandes e para preparar, de alguma mancira, tum retomno aos prineipios validos, em cada século, na maiéria litir: gica, seria tio grande assim nosso crime?”™ De resto, nada The é mais alheio do que o exoterismo, e com efeito — escreve ele — “o objetivo principal do seu livro € o de iniciar os mais jovens de nossos irmios no estudo dos mistérios do culto divino e da oragio: duas coisas que devem constituir o principal alimento da sua vida”, e por isto — con tinua dizendo Guéranger — “pensamos em publicar, além destas Inst- tutions... também um Année liturgique, volume destinado a por os figis em condigées de se beneficiarem com os imensos auxilios que a compreensio da Liturgia, no sucederse do ano eclesiéstico, oferece & piedade crista”.” 36.Cl. (P, Delatey Dom Prosper Guéran ns, 38 Gf. @, Delate) Dom Prosper Guranger, 1, Le Mans, 1901, 54s 38 P. Gugraiger, Institutions lu 7 3 F Gutter, iurgiques, 1, Le Mans, 1840, XI Introdupio 20 esta, com raziio famosa obra de Guéranger, que € publicada pre- cisamente sob o nome preanunciado de Année liturgique, apareceu 0 T volume (Advento) no ano de 1841, e 0 prefécio geral da obra, ainda que escrito em grande parte no estilo romantico do tempo, permanece ainda hoje uma “magna carta” do auténtico espfrito litérgico.”” ‘A obra do mosteiro de Solesmes teve importéncia decisiva tam- ‘bém para a fundacio mondstica alema de Beuron, ainda que os seus fundadores, os dois irmlos Mauro e Plécido Wolter, mergulhem as suas raizes num terreno cultural diferente."' E certo, porém, que desde a sua fundagio (1863) 0 mosteiro de Beuron recebeu a profunda influéncia de Solesmes." e portanto devolver junto com a Regra, tam- bém & Liturgia o lugar central “na ascese do monge ¢ na prépria vida do mosteiro”,® foie razo de ser da grande obra de Mauro Wolter com 0 titulo de Elementa monastica,* como também da outra obra de comentério aos Salmos, em mais volumes, Psallite sapienter.® ‘Também em Beuron, nfo menos do que’em Solesmes, permanece decisiva uma absoluta admiracdo pelo caréter cléssico da Liturgia romana ¢ a vontade — no momento certo no contestivel — de a manter encerrada nos limites do mosteiro, mas com o propésito de que ela fosse vivida até definirlhe a vida, A este respeito, porém, Mauro Wolter, desviando-se de alguma maneira da orientagao soles- mense, principalmente no que se referia & sua posico sobre 0 pro- blema’da atividade pastoral dos monges, nfo queria que “a vida litdr- gica se limitasse ao coro, mas que penetrasse de santidade toda a vida no seu conjunto”.* ‘A florescente vida de Beuron ¢ das suas fundagdes — devidas em parte também & pressio do “Kulturkampf”, este tendo-se desen- volvido na Alemanha — que levaram 0 seu monaquismo para a Bél- gica (Maredsous), para a Checoslovaquia (Ematis-Praga) © para a £0 0 Jute to sever ¢ nguna que sobre Gueangr pronuncia I, Bases Le vie de la Liturge, Paris, 1956, 2628, deve ser considerado injusto e unilateral, Por ‘ue no eve om consideraedo muita coisa valida e duredoura que a obra de’ Gul finger contém, ainda que 0 delineamento ‘ela. por vezes dacitivel, Cf os fuizos fais atenuados de Jungmans, op. ei, 210ss; Kelbe, op. ct, 22; ¢ scbretudo Mayer, Die Stttung., 66s, respect. Die Liturgie. 376s; Roussesi, op. cit, 143, Sobre 0 mesmo, Guéranger ef alem de Delatte, op. city; I. Cabrol, ig DACL 6, 18751879; © estudo ertico da E. Sevrin, Dam Guéranger ct Lamennats, Essai de critique histo Figue sur ta junese de Dom ‘G., Paris, 1985 (yer tambem a apreciagto de A” Schnue fen, in. Lv 15, 1985, 442448)! A. Manser, in LTAK 4, 1982, 732s: A Nocen, in ET's, 2" ed, 1960, 1265; A. Gencstout, in EncCatt 6, 1951, 1226-1227, at Gf, P. Wenzel, Der Freundeskrels um A. Gunther und die Grandung Beurons. Bin Beitrag sur Geschichte des dt. Katholiztinis im 19. Jokelundert, Essen, 1965. 42 Ib, ct além disso, Hundert Jahre Beurox, Beuton, 1968. 45 lipsch, op. cit, 383, 44M. Wolter, "Praccipua orinis monastct elementa, Bruges, 1880. 45 Id, Psalite sepiemer, 5 vol, Feiburgo, 1871-1890. 46 St Hipisch, op. lt, 382, a © movimento lisinglco: panorama histérico ¢ Hinhas teoliicas Austria (Seckau), representou em toda parte, mesmo sendo sempre no {quadro das possibilidades da época, um forte impulso em direcéo & thentalidade livirgica, cujos componentes eram: a redescoberta de ‘auténtica celebragdo realizada em honra de Deus, a grande preocupa- {qdo por considerdvel canto gregoriano € 0 esforeo por dar vida & arte sacra de acentuada expressividade.” ‘Mas apesar disso, “tudo isto — mesmo que seja como acréscimo a outras coisas que se poderiam dizer — néo deve desencaminhar-nos ‘até o ponto de reconhecer aquele tempo como a época de um ‘movi- ‘mento litdrgico’. Com feito, tudo isto nao deixou o seu sinal de reco- mhecimento sobre aquele tempo, ¢ mais ainda, permaneceu como um fato esporidico, te6rico e, pelo menos no momento, ineficaz”,* ainda {que comecem a identificar-se centros litdrgicos e saiam publicacSes importantes (no ano de 1882 0 Missel des fideles de dom G. Van Caloen, monge de Maredsous, ¢ em 1884 a 1* edigio do alemio Messbuch de A. Schott, monge de Beuron), Mais ainda, vé-se aparecer até a denominacdo de “movimento litdrgico” na edigao alema (1894) do Vesperal feita pelo supracitado A. Schott. Mas, repitamos, “isto no nos deve iludir, Tudo aquilo — e era muito — que naquela época se fazia e se planejava, se realizava e se publicava, era — ¢ em toda parle — nada mais que preparacdo do terreno ¢ semeadura, nada mais que um periodo de incubagao e de pré-historia (..), ainda que sem esta ‘pré-hist6ria’, que além de tudo nem sempre caminhava numa linha rigidamente ascendente, fosse inconcebfvel a ‘renovacao litirgi- a? posterior”. IV. A nova idéia de Igreja (© movimento littirgico de nossos dias comera, na realidade, mui- to mais tarde. Anton L, Mayer demonstrou de maneira magistral que © seu inicio caracteriza-se por duas coordenadas: uma eclesial, a 47 As malores realizagées efetuaram-e naquela que foi chamada *Beuroner Kunstchule" da. qual a obra mais madure se enconeava em Monte Cassino, e que infelizmente fol destrfda, nas suas melhores pepss, no’ bombardeio angloamericano fefido pelo mostera em fevereiro de 194s, Nossa sensibiidade estilitice moderna ‘iferente (ct. as aprecagses de Bouyer, op. city 35s) no deve fazernos eaquecer ‘quanto fol esimulanteo esforgo arisico de Desideriuns Lenz ¢ da sua escola beuro nen. CI. a respelto: Maurus Wolter um 100. Geburtstag: Hundert Jabre Beuron: 1 Hervegen, ‘Lumen Christ, 91106, Munique, 1924; ¢ sobretudo M. Dreesbach, P. Besideriue Lens. Theorie end Werk, Munighe, 1956. 48 Mayer, op. city 70, respect. 386. ‘elslesgeschichliche Situation... nota 2, 4s, respet. Die Liturele. Introdupao 2 outra cultural.” Dessas coordenadas, a decisiva é dada pela mudanca nna idéia de Igreja. “O movimento litérgico iniciou-se numa situacao hist6rica bem determinada, isto é quando os catdlicos, e mais preci- samente os leigos, comecando a submeter a um exame os vinculos que tuniam a sua existéncia, concreta no espaco ¢ no tempo, & Igreja € & hierarquia, foram capazes, ao realizarem este exame, de’reconhecer ¢ diferenciar as urgéncias religiocas, essenciais, absolutas ¢ absoluta- mente vinculadoras inseridas na idéia de Igreja por urgéncias cultu- rais, temporalmente condicionadas e relativas, que sfo apenas expres- ses de uma época historicamente passada.” Ainda: “O movimento litdrgico comecou quando 0 catolicismo e os catélicos do século XIX, saindo da atitude de defesa da posigao juridico-organizadora que lev ‘vam no fintimo, foram capazes de novamente retomarem consciéncia do organismo que, em sentido verdadeiro e proprio, eles eram, e 20 ‘mesmo tempo da interioridade dele” >» Mayer, que precisamente aco! panhou, em numerosos € importantes estudos, a transformacao da idéia de Igreja através dos tempos, desta maneira vé neste contexto a im- portincia do movimento litirgico: “Quando j4 a idéia de Igreja do século XIX, que aliés era a de uma Ipgteja social, organizadora e pedagdgica, tinha esgotado a pré- pria vitalidade, foi precisamente o movimento litirgico que contribuiu, de modo decisivo e profundo, para criar uma idéia nova de Igreja. E isto realizou-se no sentido de que, aos homens libertados das estru- turas ficticias das concessdes passadas, 0 movimento litigico apresen- tava nao um rosto novo da Igreja, mas sim um rosto que ficara muito tempo na sombra; com efeito, procurava aproximé-los 0 mais possivel daquilo que a Tgreja era na sua natureza mais profunda, isto é, do seu ser sacramental ¢ das suas celebrages littigicas, enquanto Ihes ensi- nava que a Igreja & 0 “corpo mistico” de Cristo, on seja, 0 mistério do Cristo que profonga a sua existéncia humana. E desta nova comunida- de eclesial redescoberta nos circumstantes, que so precisemente os participantes da celebracdo, ponto central € novamente o altar”, Esta nova atitude interior serd ja 0 terreno preparado para rece- ber tudo aquilo que — também como fruto do trabalho de preparacéo lizado por Solesmes, Beuron e por outras forcas — tornarseé ‘efetivo, comegando pelas reformas do papa S. Pio X em matéria de 50 45 rept. « Mayer, Lituraie und Loientum, Wiederbescqnang von Kirche und Kultur {pe peusci. Pesci fr ke Math 1827, 25; cf neta pt, op ce reget = 32 Id, “Der Wandel des Kirchenbildes in der abendlindschen Kulturgeschich \e" in Litraie und MOnchturs 17. 1958, 5064 respect in Die Litrgen, 435453. 55 Id, Die geistesgeschichliche.., 48s, spect Die Liturgies 45, 2 (© movimento lisirglco: panorama istrico € linhas teolégicas reformas da vida eclesial e especialmente litingica,* até 0 progressive estenderse destas idéias a ambientes cada vez mais amplos. V. Os comegos do movimento litiirgico 0s primeiros ¢ decisivos passos nesta nova linha foram realizados sobretudo na Bélgica, e eram passos que, provindos do ambiente mo- nistico de Maredsous ¢ de Mont’César (Lovaina), tiveram a sorte de fe deparar com um monge de perconalidade marcante, como era dom Lambert Beauduin,” com um mundo leigo catélico favoravelmente dis- posto, como era aquele representado pela nobre figura de Godefroid Kurth.® Deste encontro, momento feliz ctiativo, conhecemos o dia e @ hora: foi o dia 23 de setembro de 1909, durante © Congres National des Oeuvres Catholiques. Com efeito, é aqui — caso extremamente raro — que “se pode fixar, se ndo exatamente 0 inicio, mas com certe- za o momento feliz em que o movimento litdrgico deixa de ser uma corrente, por assim dizer, subterrdnea, e de repente abre-se um cami- rtho na superficie, mostrando-se logo visivel ¢ reconhecivel a vista de todos”? Pode-se com razio dizer que tudo quanto se seguiu (até perto da deflagragdo da Primeira Guerra Mundial), nao foi mais do que o desenvolvimento coerente daquele feliz comeco, que se afirmava com forte atividade na Bélgica com a inauguracao das cada vez mais céle- bres “Semaines et Conférences Liturgiques” promovidas pelos mon- ‘ges de Mont-César® ¢ com aparecimento das grandes revistas littr- gicas.” 56 Trataze antes de tudo do ecbre Motopréprio Tra le sollectudint (1903), do decreto sobre a comunhgo freqdente (1903) e da Constituigdo apostlica Divine Sila sobre 0 novo ‘altro. do Brevario Romano “J911), que muito significative. tiene se encetra com estas palavras: nemo non vdet per ex, quae a Nobis decre. Ii sunt, primum nos fscise radum ad Romani Breviril et Missal emendationen SANK: RIG "Boneia ponies a toate Uric spent emg, 1938, 1026: 3558; 47-5, 3 Ch. 'A. Hngsin, Dom L. Beauduln et le renown iturgique, Gembloux, 1970, L- Bouyer: Dom 'L. Benudam, un homme de Pgs, Pars, ci ts 8 ise, “Bas Mechcier Eri op 25 Sen 08, ln Bet mx iokte der Iturischen Bewegung, in Lit, Jahrbuch 9, 1939, 214, nota Sr ib, 205. Sobte e meno evento ct LP 4, 1953, 5241; Th Boge, “Lita slache Bewegung nach 50 Jahren, In Litraie und MOnchtum 28, 1938 '38-A primera semana” tee higar em 1912, es ligoes foram ‘publicadas anal mente, contegendo desde 1915, cm volumes sucesives, com 0 titulo: Cours et confé: ‘oto dev semaines ltarglgues, Moni Ceset, Lava 55 Ta Vie urge (Mont-Ceaar, Lovsina) desde 1909 até 1915; com 0 mesmo tiulo, mas como. Bolleino.inerdicesana reaparecerd desdr 1924 até 1938. Let Questions iurglques (Mont César, Lovaina) desde 1910 at 1518, para depois trent Introdupto 4 (© movimento propagou-se para a Alemanha, onde se encontra- vam, num anélogo momento feliz, a riqueza da vida monéstico- -litirgica da ordem beneditina beuronense com uma atitude de aber- ta disponibilidade por parte dos leigos, sobretudo do ambiente univer- sitério, que voltam a encontrar-se, primeiro num pequeno grupo, em Dilsseldorf no ano de 1912, e depois em 1913 e 1914, em verdadeiras proprias jornadas litirgicas, durante a semana santa na abadia de Maria Laach (Rennia), e nelas encontramos, em 1913, nomes que se tomnaram depois famosos, como Robert Schuman (Metz), que seré um dia chefe do goyerno na Franca; Heinrich Briining, também ele depois chanceler da Alemanha; Paul Simon, futuro abede capitular da cate- dral de Paderborn, ¢ Hermann Platz, que seré depois catedritico na universidade de Bonn. VI. O movimento litirgico entre afirmagées e contrastes E exatamente neste tempo que se assiste & primeira grande “cri- se”, que se polatizou em torno da discussio & qual tinha dado origem dom M. Festugiére, com um interessante ensaio seu sob o titulo de La Liturgie catholique, levantando uma violenta oposicao por parte da- queles que desejavam manter-se nas antigas posicbes® e provocando a0 ‘mesmo tempo a magistral sintese conclusiva de dom L. Beauduin com formarse em Questions liureiques et porcisalee (19191969) ¢ volt depois a ‘Questions turgigues a pet de 1970, Reva 2 Namur) de 1981's 1514, que recomeard 1949 até 1939. como Revs Tiurggue et monastique Bulletin porosallturggue (St. Andre, Bruges) de 1313.4 19 ae conar eels om oe Pret Lilet perth de Tidichri ‘voor Litrgie (Abadia 8e.Afligem) ‘para ® part fiamenga da Belg, Inncrepttie par de aii” NUD) De @ ste I. FAusganaspunto und Anlegen der rliisen Kturgichen Exneuer tung in then Anngen", in Litre und Monch 24, 1955, 27. 0 que ae acaba ett sla sere seexer de in, do panies dre, Hat, rte Beeegnong mit ach, Ein ‘rom Beginn der it Bewegung i Deutschand! in Liurguches Lebar 1, 198, Boze, * 1 Braniag e Schuman aio pertonagens iniverslmente conhecids. R. Schuman se sefera ainda em 1999 exprestamente aqueles comegon stantes mama. carte, "in Liturglsches Jahrbuch 9, 1995, 194. 'Simon, menos concede no: etangse, g,consetheiro de Brining, prmaneccu sempre ‘ums das pertonslideder ds pr flan no eailiimo aleméo entre as. dose guerre. Hi lst, expoente de alta sibilidede da cultura francesa ‘na universidade Ge: Bonn, fomouse grande beneme to da reconctlagto franco tema, Pare ot eventos d0 1913194, ct, Ebel, oe et aévlppeinets in Reve de Bospi 161s, G22886"S nonce aS lio A parte el Mareious, 191). 0” OSS © Peston me imeiro protarensta’ da oolémica: 1. Navatel Sf, “L’spostolt titurique et 1a pte personne, in Etudes 157, 1913, Paes ms 2 © movimento litrgico: panorama historco € Unhas teolépcas © seu escrito sobre La piété de W’Rglise.# A deflagracdo da Primeira Guerra Mundial pés fim & polémica; mas esta tinha mostrado, com a rapidez de um relampago, de que modo naquelas aspiragdes littirgicas vivia um novo espirito ¢ a que conseqiitncias ele podia e devia levar ro decurso do tempo. Tudo entretanto resumido, nem mesmo @ guer- ra teve condigdes de deter o movimento, Enquanto ele continuava a espalhar-se ¢ a desenvolver-se na Bél- gica, na Alemanha vai assumindo proporgdes cada vez. mais amplas, fazendo convergir, sempre no momento oportuno, em encontros alta: ‘mente significatives, novas correntes ¢ novos homens. Na abadia de Maria Laach, com a finalidade de organizar e de iniciar uma triplice obra, se reencontram unidos 0 abade I. Herwegen 08 seus monges K, Mohiberg e O. Casel, com o jovem sacerdote {talo- -alemao R. Guardini ¢ os professores Fr. J. Délger e A. Baumstark,* desta forma j4 em 1918 tém inicio as trés colecdes: Ecclesia orans, Liturgiegeschichtliche Quellen ¢ Liturgiegeschichtliche Forschungen.” Em 1921 aparece o primeiro volume de Jahrbuch fiir Liturgiewissen- schafe: Esta estreita colaboragdo de ciéncia e de objetivos pastorais no decorrer do tempo tornou-se muito importante para a atividade litér- gica na Alemanha, e com certeza nao foi um prejuizo, ainda que num 64 L, Besuduin, La plété de IEglie, Principes ot fit, Lovaine 65 Sobre a conieovérsia uma bos bibliogral Liturgiam occidentale, Roma, 1960, 8890; Guardia, "Das Objektive im Gebetsle ben, Zu Festugitres “Liurgle catholique’ *, in Lw 1, 1921, 1174125; C.. Vagaggin, Probleme ortentament! ii spirtualta biblea, monasica & liturgice, Roma, 1961, Soest. ‘8 Sobre a primeira fase, predominantementecienifia, desta colaborasd, ef. K. Mohlberg, "Die Aufgaben der liurgachrn Forschung in Deutschland, Vorchlage ‘Anregungen” in Theol. Revue 17, 1918, 145451. Mas com a fundasfo da coleczo fae se apresenta! com seu primeiro volume de R. Gvardinl, Vort Geis der Lituge, se passa ditetamente a0 abpecto pastoral ainda que caraterzado sobretudo pela persectiva teoloyice 'o7-A colesto "Ecclesia orans", da pelo abade I. Herwegen, sel em 1918 come volume’ de Guardintver note ante), ete toina com que To rat" Golo o movimento itirico na Alemanhes A. clecdo sara a edibes des fotes: “Titrpegcahictiche Ouelien*, sob a depo de K: MohlbergA. Rucker, salu com ols rn volume Ke, Mabe, Baw nk Suomen Geta. Junko de Taig; colegto partes “Litarglegeechichiche Forschunsen* aperece ol 2 diecto de Mobiber. Je Bolger como volume K, Mobloerg Ziel und. Aula der der hturglegechichtchen Rorchung em, fan de 1918, As das cole juntas Enriqucceramseraté0 ano de 199% com nada menos que 31 volumes: passages po ‘iormente fob a-iteto de, O, HSming com a Goica denaminio Ge *Liturge. Wcnichatiche ‘Guelen und Porchungsh‘, siya, em 1973, 0 nde 38 @ diudo sob a dnesto de 0. Cast em colaborasio com A. Baumsark © R Guat esr timo porém retvouse loro aps 0 Il volume e wueedauthe. coms tosdretor AL. Maver. No imponente cojunto dos 13 volumes publiador até 961 Sebresaem sobre oy estudos de Case, aus nlesspresena en bases clenicar & Sua concepelo do miséio ula, isto, da prsenge mistérice da obra da slvagdo | Introdugto 2% primeiro momento pudesse aparecer como uma limitagio com vistas a tuma influéncia de mais vasto raio de aco. Com efeito, propositada- ‘mente tinham-se proposto dirigir-se, em primeiro lugar, a0 clero e a0 ambiente culto, no certamente com a finalidade de manter os outros, Tonge da Liturgia, mas apenas porque aqueles eram de imediato atin- giveis, principalmente gracas & obra clarividente dos monsenhores F. X. Minch e Landmesser e da sua “Associacao dos universitérios cat6- licos” (*Katholischer Akademiker-Verband*)? Em breve, porém, outros ambientes se abrem, sobretudo gragas 20 “movimento juyenil”,® particularmente aquele do “Quickborn”, que com Guardini tinha sua base de operacdes no Burg Rothenfels" ¢, de- pois, gracas iquele da “ Associacao juvenil masculina” de Mons. Wol- ter. Aqueles primeiros dez anos foram, sem diivida, anos de riqui experigncia, de movimentado desenvolvimento e de grandes espe- rangas. Ao lado das formas solenes da Liturgia cléssica, que era cele- brada de maneira tio cativante nas grandes comunidades mondsticas, comecavam jé a aparecer novas formas, e entre elas especialmente aquela da assim chamada “Missa comunitéria” (Gemeinschaftmesse), na qual, com todo respeito pelo direito litirgico vigente, mas também valorizando ao méximo as possibilidades que ela oferecia, havia a possibilidade de realizar uma verdadeira participagdo ativa dos fitis, que cram, naturalmente, em primeiro lugar os préprios jovens. Esta breve vista panorimica decerto que no esgota de modo algum a grande quantidade de trabalho, que era feito em toda parte com fervor e vivacidade por tedlogos eminentes, por pastores de almas ms ates do culo. Ao Jarbuch fr Lureinwsencatt segue sob a dso de Centades mais jovens do. que. Catel (primeira H Enonds" dopsis E. . Severs), {pa de'10"0 Aro flr Lurgieeschal” que wt com lames cae on 0 tata, amocino, ge sob esi de Miche ‘Landmeae capone lugar nie inert 'na vid epistual do cilelon Slende ents ac ds wa cfeecie os meamo Tepe tattoo anblete cane furore Suse Gols nflver vortade'nepitualiadsittrgcn qt tacon a ea aloe doi, de clos intelaaleesprualsents Bas be frrase etd k, ee rani rvs hte te FH, BIC Be latolictr [weriteegte ve Heating fr de angie und echt ewer, Agus reuna R_ Guardia com o seu gro para organizer pratcamente ‘exlebrapSes lidegeas, especialmente por couslo das grandes solnidader, "ETT: Wolter peal o meso Canto por te totale en weal as aves os cates ven come procaine ore fits fla hein tnd esa oma tana pots Se sent ext cabienea ines Ree weeks este fb. Neahesel "Dia "Rrpta Nee in Mata’ Date Ee baa ar Tete 06 chal’ Lingua Wd, Bel flag mas no men eas enon in Placid. padding), Me Lei ee i decir, Cecchi und. urechn Lebo Blt ie Hau 18512 HS SOLS cv Toma ns come In Manse aS Bont 186, 2 (© movimento litirgico: panorama histérico © linhas teoldgicas abertos &s novas perspectivas, e enfim também pelas comunidades p: roquiais mais ativas. Algumes daquelas figuras, porém, merecem parti- cularmente ser lembradas, Lembremos destarte, em primeiro lugar, Pio Parsch, dos cnegos regulares de S. Agostinho em Klosterneuburg na Austria (1884-1954) * Estimulado pelas urgéncias programaticas do movimento litérgico ante- rior 4 Primeira Guerra Mundial, mas ao mesmo tempo feliz por ser capaz de apelar de modo especial para o pensamento teolégicolitargi- co de Maria Laach e particularmente por aquele de O. Casel, ele se propés realizar um apostolado declaradamente litirgico-popular. E nele obteve pleno éxito, chegando a exercer, através de riquissima obra literdria, uma influéncia muito ampla e profunda nfo s6 nos paises de lingua alemi, mas também em outros paises, quer com o seu Das Jahr des Heiles, um * Ano litdrgico” de comentétio ao missal e ao bre- vidrio, que a partir de 1923 foi-se enriquecendo cada ano, quer igual- menie, a partir de 1926, com a sua revista Bibel und Liturgie, para nfo mencionar outras obras dele, muitas das quais permanecem ainda hoje vélidas. Em 1950, foithe possfvel resumir deste modo os grandes objetivos do seu trabalho: “Aproximar do culto da Igreja as camadas mais simples do povo, possibilitando-thes sobretudo uma participacao ativa na Liturgia”, e — em segundo lugar — “devolver a Biblia &s mos do povo”.”” Uma atividade muito eficaz e — se nao de grande aleance, pelo taenos no comego — muito intensa no Ambito das comunidades ‘paro- quiais vivas, até estender-se depois além destas, foi iniciada pelos sa- cerdotes do ‘Oratério, primeiro em Lipsia e mais tarde em Munique, em Francoforte e em outras partes. Muitos destes oratorianos, entre eles sobretudo Th. Gunkel, J. Giilden, H. Kahlefeld, K, Tilmann, A. Kirch- gissner, trabalharam ativamente, também no campo do canto litdr- ‘gico, para Ihe dar uma forma digna ¢ ao mesmo tempo possivel para uma comunidade paroquial. Alguns livros de pastoral litérgica, como Volksliturgie und Seelsorge, Parochia® e outros, dos quais eles foram 6s autores ou os inspiradores, no tempo da Segunda Guerra Mundial, para muitos foram alimento e meio de sustentar a prépria “resistencia” interior. 74 Sobre 4 pessoa e obra de Parsch falta ainda uma informasso complet Cf. ‘enurctanto, no memento: LTK 8, 2 ed., 1965, HIT (N. W. Hestinger); in Lit. Jahr buck a. 3. 75 Wagner. Zachringer, Eucharisteeier am Sonntag, Tréveros, 1981, 183) rn ooo da confer Bll wed [tle 195, Si. es 76 Edltadoe por Borgmenn (cdigies AlsilaColmar). ‘Tanto dele como Rosé, ditcior responsival pele Editora.“Alsiela", felizmente “nunes. foram fulfclentemonte epreclados os mérltos adquirides no trabalho de resisténcia no inte. Hor do espirto nosivo do momento. (I94019#8); cf. P- Duploye, Les origines dis Centre’ de pastorate liturgique 1945-1949, Mulhouse-Paris, 1968. Introdupto 8 Entretanto, nestes mesmos anos, 0 movimento littirgico nao cessa — mesmo vagarosamente — de propagar-se cada vez mais.” E mesmo se ele era muito evidente primeiro na Bélgica ¢ depois na Alemanha, também nos outros paises nao se dormia neste campo, Assim também a Franca, & qual se atribuia a honra de ter dado o primeiro impulso ‘a0 movimento, ainda que ndo participasse 8 primeira vista em amplo nivel das iniciativas da Bélgica, tinha 0 mérito de ter comunicado vida a trabalhos cientificos de valor reconhecido ¢ sempre valido, como eram os trabalhos dos monges de Solesmes,”* as grandes publicacdes do tipo do Dictionnaire d'archéologie et de liturgie,” dos catélogos dos manuscritos dos livros litirgicos de Leroquais,” dos estudos de Duchesne de Batiffol® ¢ outros. Nem faltava ao mesmo tempo 0 empenho rumo a valorizagio, no plano prético, dos proprios estudos litdrgicos, como o testemunham as obras do abade F. Cabrol™ ¢ da enciclopédia Liturgia de R. Aigran.™ De maior importancia, tanto no plano teolégico quanto no pasto- ral, foi o movimento littirgico daqueles anos na Itélia? E aqui em primeiro lugar cumpre mencionar a Rivista Liturgica, que saindo, a partir do ano de 1914, do mosteiro beneditino de Finalpia (Savona), introduzia oficialmente © sustentava na Itélia a ago da renovacdo ea. {Jot ode docs a tame» sg do movin yarpe oe etude Sec tu ambadenets sty meting eco ie eg de ore Uma oe ee ie re comes shares fas rs Conroe Un BSA, BABCREE WMACHM Gtan 9 geet ami Het ae aes BLO LINE pa oe, si nea Ls A Ticotaat sen Panes ae caroLecleng, Moniment ete tare el Bac Bs, ag! Sake reeds ipa ati a ce ne: eect Bei ene ee al rts bore, es wo ee Se eT, aS cule TOES SPP Acts Ladera 2 Clase pote oles (SRS) ee Saale Ui. sri enka, spies Peps, Le Sara cals i em ta em a St ant i nama its Se Mil en ane ee ee 9 apart chine dt nites ee ar aman, monies de 1889, ‘ed. em 1925). cone oa Park, Ten te Meum, Pat, 1916 oa 192), Hoe art ote aT es fi, 16 @ em 180: tao Ee Deane, Pit 194 ‘1a masse en Occident, Paris, 1932. ms cme ee: ar nerd den coment, Pat, 195 fs Bien arse ey centlemen regs Pas 5, Mar "at alan es Menge, la, 3, Sie nt Fein Sgn ,0, Roe, lo mo Bee ee ay A Mladen, i Th Der, Li Se Te ga lattes SS » (© movimento largo: panorama histdrico € linkas teoléicas litdrgica, em direeo da quel jé se vinha orientando a atenezo de alguns bispos como Marini de Norcia (depois de Amalfi), Filippello de Ivrea, ‘Tasso de Aosta." Produto da tenacidade e sustentada pelo humilde trabalho do abade Bolognani,” a Rivista Liturgica conseguiu a sua me- hor confirmacio por obra de dom Caronti, seu primeiro diretor,” e foi enriquecida pelos estudos de dom I. Schuster (futuro cardeal de Milo), {que vinha publicando nela aqueles que depois seriam os capitulos fun- damentais da sua grande obra Liber sacramentorum. Entre 0s outros pioneiros é preciso lembrar Pe. Moglia de Genova, que fundaré a Obra do Apostolato liturgico sobretudo com vistas a uma formacéo Titdrgica dos meninos e dos adolescentes,” Pe. Righetti, que se dedi ca sobretudo 20 estudo cientifico;® dom Tdnolo, célebre pelas suas iniciativas litirgico-paroquiais,™ os salesianos Pe. Grosso © Pe. Vis- ‘mara, que, inspirando-se primeiro em Solesmes e depois sobretudo na Bélgica, haviam iniciado uma intensa atividade de renovagio litdrgica rno Ambito do seu instituto, e que poderiam ter sido os verdad« iniciadores e portadotes do movimento na Ttélia, se certa mesqui- nhez. de ponto de vista, infelizmente comum em alguns ambientes ecle- iésticos responséveis principalmente na Itélia, nao os tivesse impe- ido” Numerosfssimas serao na Itélia as publicagdes de propaganda as tradugSes de livros littingicos "Também a Espanha fard sentir a sua presenga no movimento litir- ico, tanto com o trabalho cientifico como com uma intensa atividade , 1 ey 287288, ay 189 CE, (dem), “D. Bonifacio M. Bologuani”, in Rivista Litugica 18, 1951, 13tss; 8. Maral, Le, 286, ‘30 E, Carcnti, monge da abadia de Praglia (Pédua), depois abade em Parma, foi nto 28.0 primeico dirctor da Rivita Liturlew, mes Tol também 0 maior pionetto fe divulgador da fda litergica ‘Alem de ter fundado e diigida por muitos ‘anos 0 Bolfettino Liturgic, de tom mais popular do que a Riviss Litueica, publica Ta pletd lturgica, Turin, 1920; 11 sacrficio cristiano, 1922, ¢ 0 Mesale quotidian, Viegas, 1928 ‘SL, Schuster, Liber sacramentorum. Note storiche e lturgiche sul mesale romano, "9 vol. Turim 1918-1928, 92 Cf. S. Masi 1, c, 297, 314; 518 83M. Righott, La sctimana sania, Monza, 191%; I ciclo lturico nataliio, Monza, 1916; Le origni della liturga romana, Monza, 1917; 1! tempo pasquale, Mon: 23, 1919; Stora lturgiea, 4 vols, Milto, 19441950 9¢-CS. Mars I: c., 2977 308; 314 ete. 5 EM, Viera, al partcpaion dl popolo, ale url, Viena, 1920. Scbre Vismara, cf, S. Maral, ib, 289; 297; St. Kuncherakatt, The Origns'of the Liturgical Renewal in the Society" of St- Francis of Sales from its Pounder tl 1916, Roma 1971 (dissert—a0 doutoral apesratada ao Pontificia Tnstiteto Litrgico), Uma ‘eavaligfo péstuma do Pe. Vismara, no Interior do, Instituto salesiano, deu.se com ‘© publicaeto exigida polos sous confrades; A. Cuva, Fons vivus, Miscellanea lturgea in'memoria di Bor EM. Vismara, Zuique, 1971. "96'S. Maral, 1. €, 288; 306307; 316320. Inirodupa0 30 de renovagéo, que culminaré sobretudo no mosteiro catalio de Mont- serrat.” ‘Também nos Estados Unidos da América 0 movimento litirgico, ‘que encontrou seu primeio centro no mosteiro beneditino de St. John (Collegeville), Minnesota, nao demoraré a difundir-se ¢ a encontrar partidarios.” Mas nao se pode dizer nem se deve acreditar que todo este desen- yolvimento se tenha sempre verificado em paz. Pelo contrério, nao hao de faltar no interior da Igreja nem discusses nem ataques, & assim véer-se bispos que nfo raramente se mostram céticos e reserva- dos com relago a0 movimento litrgico em geral e, com mais freqiién- cia ainda, diante de algumas atitudes suas, como se verifica, por exem- plo, a respeito das “missas dialogadas e comunitérias”™® ou da cele- bragdo sobre “altares voltados para 0 povo”; nfo diminufa a oposigio, em nome do método inaciano, aos exercicios espirituais e aos retiros de fundo ¢ tema litirgicos. Mas a polémica de maior importancia e de conseqiiéncias, contudo, as vezes muito positivas, foi a que se desen- rolou, tanto no plano da teologia como da espiritualidede, em torno da visio “mistérica” da Liturgia, como havia sido proposta e defendida pelo beneditino alemao O. Case." Este discurso se desenrolava naturalmente sobretudo na Alema- nha, onde pouco antes da deflagracéo da Segunda Guerra Mundial alguns escritos altamente polémicos levaram a situagGes eriticas muito profundas. Referimo-nos aqui antes de tudo 20 pequeno volume de M. Kassiepe, Inrwege und Umwege im Frommigkeitsleben der Gegen- wart, que exerceu fungdes de farol de orientacio; mas também 20 87 CE. 0 relatéio de A. Oliver, mais retisnte do que seria necesstio, in Th Bogle, ep. city 8250, i antes de meis nada a revista Oratefratres,iiiada spe relia Vir Neel de Coke got pr de 1 ma ul pra Fron Quin Mel, ar, the liturgical Movertert, SP'Cr'arelagdo de H. A. Reinhold in The Bose, op. cit. 104-114 00 Cia" deveriso de vist de um cardesi a Maria Lasch segundo B Ebel in url et htach 34, 8, Sa 4 it, Bie Kondrovere iber die Mystrienltre, Warendot i. W 1947 (ea, francesa: La thdologie des mystre, Bari, 1054). Una eontisuaglo. Gist eq B. Newsheuser,*Mysteengegenwat Ein Theologumeion inmiten des, Geos thes” In AL, 5,1, 1985, 102102, Td, “Ende des Ceapriches'um de Myssrcnge seit i AL 8.298, 353358 V- Werach, “Eintrag de Thess sels, in: ©. Cul, Dab ohrisiche Opfermysiviam (pate) Gre, 1968, XVIFLY; J. ool, Die Mystrienlave 0. Case’ Ein Beitrag sum kumetischen Gesprich der Kichon, Neasadt a. d. Asch, 1568) A. Goer, Dom Cael Pars, 1988 AA conirovéa atvalenie-acabou ¢ 88 poigdes,do fund’ de Covel sb0 em feral sels dots ae o rents Vata Ip fer de slguna mana sus, na ¢ ce para que a disussto fique ainda aberta princpaimente sobre aspeeos parte ‘ieee out aia hole s lela cries resol dels. Sree oa sued? Fed: Keveler; 2 ed: Varaburge, 1940. Cl aexte respite, Kolbe, op cit, Ft (© movimento litrgico: panorama histirico ¢ Unhas teolégicas outro livro de A. Doerner, Sentire cum Ecclesia,” de aparéncia me- hor, mas substancialmente mais rude, Ambos estes escritos desperta- ram um alarme geral e estiveram a ponto de dividir em dois todo 0 lero, sem distingdo de jovens e anciéos. E preciso dizer no entanto que, tudo avaliado, o aspero contraste também teve 0 seu ado bom, gragas ainda a reconhecide autoridade de R. Guardini, que com 0 seu Ein Wort zur liturgischen Frage,” escrito em forma de carta ao bispo ‘de Mogdncia, em tom calmo, mas ao mesmo tempo como grande mes- tre, reestruturava todo 0 problema. Com efeito, foi ento que, sobretudo na Alemanha, os bispos comegaram a assumir a direc3o do movimento litirgico, estabelecendo tum “grupo litargico” no sefo da Conferéncia Episcopal Alemé e crian- do uma “comissao litirgica” de especialistas, representantes dos diver- 508 centros operantes em Beuron, Maria Laach, Klosterneuburg e Lip- sia. Mas que, mesmo assim, a situaco nfo se normalizou acalmou totalmente, deduz-se pelo escrito acusador do arcebispo Groeber de Friburgo (Alemanha), Beunruhigungen.® Na realidade, era mesmo Roma, ¢ exatamente 0 papa pessoalmente, que desejava que © mo\ ‘mento litirgico tivesse orientacdo bem definida. De fato, em janeiro de 1943, os membros da Conferéncia Episcopal Alema receberam do Niincio pontificio a comunicagdo, segundo a qual uma comissao cardi nalicia, para este fim incumbida pelo papa, fazia notar as proprias preocupagdes com relagao as novidades litérgicas que iam se multipli- cando, O texto da comunicacao dizia o seguinte: “A Santa Sé, preo- cupada por alguns riscos que poderdo correr a disciplina eclesidstica © a f6 (...), deseja receber dos bispos noticias detalhadas sobre 0 movi mento littirgico (...), quer que os bispos investiguem cuidadosamente fo que se deve promover naquilo que 0 movimento litirgico tiver de bom. Sejam interrompidas ulteriotes discusses sobre estes problemas, ‘enquanto a Santa Sé garante estar disposta a vir a0 encontro dos bis- pos em matéria litdrgica sempre que se afastem perigos para a fé e para a unidade da Igreja..." Ao documento o cardeal Bertram de Breslau respondeu com um prolixo *pro-memoria”, que continha uma resoluta defesa do movimento littirgico."* {95 Ballade “como mansserto “em Munigueludbsch, 191. Ct. Kolbe, 0p. it, 68, 10¢ Este “polavra sobre o problema litirgico” pode lerse em R. Guardini, Liturgie und Uturgische Bildung, Vurzburgo, 1966, 195213. Tomads pébliea pelo proprio bispo destinatio, havla sido Ja retamada em frances por LMD 3, 1943, 7-24 105 Ct. Wagner, “Liturpsches Referat — Liturgische Kommission — Liturgaches Institut”, in Lturgcches Jahrbuch 1, 1951, 8-14. 106 Cf, Kolbe, op. eit, 72.74; ume teadusio francesa in La pensée eathlique 5, fons Tei = GT Ci. Kolbe, op. cit, 7155 108 th, 7539, Introdugao 3 Uma primeira, embora genérica, tomada de posi¢o do papa foi a enciclica Mystici corporis de 1943; a ela seguiu-se uma carta do car- deal secretdrio de Estado Maglione em resposta a0 “pro-memoria” do cardeal Bertram (dezembro de 1945), na qual, embora com reservas, se dava prova da validez das intengdes do movimento litirgico..” Por fim, em 1947 foi publicada a enciclica Mediator Dei, na qual se mis- turam, de maneira estranha, reconhecimentos e censuras, num esforgo muito claro de remover todo perigo de extremismo.! A este solene documento pontificio preciso que se reconhega o mérito — embora no respondendo a todas as aspiragdes do movimento litirgico, e mes- ‘mo tendo-se tornado hoje superado em muitos pontos pela Constitui io litirgica do Vaticano 11 — de ter sido o primeito reconhecimento ial dos valores do movimento littrgico em nivel de Igreja universal, tornando-se deste modo, de fato, a “magna carta” da renovacio que ele pretendia trazer.t A. promulgacio da Mediator Dei seguiu-se na Alemanha maior coordenacdo dos diferentes centros de atividade litdrgica, até se chegar & fundagio do Instituto litdrgico de Tréveros,"? cujo primeiro éxito foi o I Congresso Litirgico Alemao celebrado em Francoforte, no ano de 1950, _ Também na Itélia o movimento se fortaleceu, agrupando as pr6- prias fileiras. Jé em 1947, um més antes da aparigio da enciclica Me- diator Dei, Rivista Liturgica havia lancado em Parma, num restrito congresso de amigos, as primeiras bases do Centro di Azione Liturgica (CAL), que em 1949 foi apresentado a todo o episcopado italiano por meio de uma carta circular de seu presidente Bernareggi, bispo de Bérgamo, ¢ que, comegando a partir do mesmo ano, organizou toda uma série de Settimane Liturgiche Nazionali, com 0 objetivo eviden- te de aprofundar a problemética litdrgica & luz da Mediator Dei no plano doutrinal e no pastoral.! 109 th, E084; ver texto engine! da resposta romana in H. Schmidt, op. elt, 176176 ein A. Bugaii, op, Gs iss : 110 cr: a exterexpetB. Neunbeser, “Der positive Sinn der plpelichen Grenz- setzng in der Ensen Hiediavr Dei" nA” Mayer ~ J, Guastn = he Neate Sex, Vom christichen Mysterium, Dissident, 1931, 44305 LIN" rfpio para “tm mas” da Enicten’é a posibikdade de interpretecto {prseniade pelo parirafo lai” so ano Ihre. ‘ama ited hasine. its’ Yavar ‘de’ Cass, propenta pelo abate B. Recs no Klewubla de Sebburto oe 2p6s, com carta do acebapo Rahracher daqvele cidade, 0'S. Oicoyapelande para Uteral de Enea, C.o tex dS, Oflelo. em Bugaini op ce IGG, 8 Neuhaus, Mmterengesavart. at ity demons, qu 0 tcldo Go 60 tevento do 8"Ofito nso & a condcnolo de Cosel, an pana ut con 103 Cr Kole, op. ot, Rs: ana, trices Relea at rmouyementtiturique om Allemagne!" in LMD. 33 Tost sae 13°CE, Andvianopol, fa Th Bogle, op. ek, 17; 8. Mars pare id, "Le Le, 3385, 3s © movimento litrgice: panorama histérico e lnhas teoléieas Mas também por outros caminhos, diferentes do supremo magis- ‘ério papal — € ndo menos providenciais do que estes — 0 movimen- to litirgico mostrava a sua capacidade de penetracao, Com efeito, jé as dificuldades ¢ as necessidades da Segunda Guerra Mundial, com seus campos de concentracdo ¢ de trabalho © com a prépria persegui- ‘qdo religiosa nazista, haviam revelado a vitalidade inerente a uma iturgia vivide;!* mas também se descobrira de que modo ela tinha 0 poder de superar as fronteiras nacionais." Neste sentido reveste par- ular importéncia o aparecimento na Franca, em 1943, do Centro de Pastoral Litirgica (CPL), onde converge homens de acentuada per- sonalidade e experiéncia, provenientes do clero secular e do regular € animados por um fecundo dinamismo. Com efeito, eles serdo os que dao origem a iniciativas muito valiosas, como a revista La Maison-Diew, que logo adquiriu fama mundial, a colecdo de estudos Lex orandi, os Encontros CPL ¢ as Semanas Nacionais de Versalles;" 0 Congresso Litirgico de Liao (1947) foi o primeiro encontro, em novo nivel e com nova orientacdo, entre os maiores liturgistas da Franga e da Europa.” # em nome da Liturgia que agora freqiientemente se achario unidas a Franca ¢ a Alemanha, duas nagSes com demasiada freqiién- cia inimigas entre si, e da sua recfproca colaboracéo e acio comum nascerao os encontros litirgicos internacionais, que adquirirdo impor- éncia cada vez maior a partir do ano 1951: Maria Laach, Lovaina, St, Odilienberg, Montserrat, até se chegar no ano de 1956 ao grande I Congresso Littrgico-pastoral de Assis. ‘Também este congresso com certeza nfo podia ignorar o passado remoto ¢ recente; mas sob muitos pontos de vista ele foi realmente algo de grande novidade, A numerosa representacao da hierarquia, que 114 Cf. uma cexmant les eetvids erie 28, 946, 361208. oe 13 Esa “superagdo de frontciras” deve ser entendida nfo «6 pelo que a0 fmbito diretamente cultual (como, p. ex. quando sucedia. que soldados {pasar das proibigses do regime nezista, celcbrwvam a Eucsrstia com un polonés), mas também como fao gral e de principio. Desta forma se dava 0 Cis, or exeinplo, que as Lnhas’ de realizso liGrgica estabelecidas de comumn acordo sles bispos da “Grande Alemanha", eses se comprometiam a observa também Gepois tanto na Alemanha quanto na Austie, sla qual fosse o fim da guctra. A ‘sma “superagio de frontelras” se verfiave, por exerpl, qoando.acontecia que pedes francescs, que faziam parte da resisténcla, no evitavem entrar em conto, fnguanto a guerra ainda continuava, com, os cenor litérgccs alemes! um exempo das “edigoes Alsicia™ de Colmar, J. Rosse e de futros alsscianos que, por usufruirem as vantagens de habiltar num territro. bli ‘cio lrgiea de» um pals para outro. Cf. Do- 1968, 2435) culos, imei «Lex jorno del Signore” teve lugar refere fur, tornaramse ot mediadores lose, cit. nota 2, p. 22 (ver recension ALW 6 Za Maison Dieu, tundade em 1945, al em fa orandi, inieiada um ano antes, entiquece-e continuainent i7 AT semana de Versailles sobre o tema! “ll em 1948, 2A Weurgia, Introdugao a demonstrava deste modo como era grande o seu interesse pela causa litGrgica; a ampla participagdo de extensas zonas de interessados vin- ddos de todas as partes do mundo; e, enfim, o fato de que o congresso fosse coroado pela audiéncia do papa Pio XII em Roma," enquanto mostravam a gratidéo pelas grandes inovagdes © reformas littrgicas dos tltimos anos (restabelecimento da “vigtlia pascal” em 1952°¢ a conseqiiente reforma de toda 2 Liturgia da Semana Santa em 1955), punham & mostra também a j4 imprescindivel necessidade de ulterio. es passos no mesmo sentido. Com efeito, preparava-se precisamente gm Assis, abrindo para ela o caminho, a grande reforma litirgica do Vaticano’ 11° Uma etapa neste caminho, embora em sentido decerto menor, apesar da importdncia revolucionéria que parecia assumir no mo. ‘mento, foi o novo Codex rubricarum publicado em 1960. VIL. O movimento litirgico entra no Vaticano II Numa extensdo de tempo, que abrange perto de 50 anos, um grande trabalho fora realizado, tanto no plano prético das realizagdes & das possibilidades, como no plano da reflexio teolégica a respeito da natureza e do significado da Liturgia. Todos aqueles que se interes. savam pela Liturgia, em todas as direedes, mantinham estreitos lagos centre si num suceder-se de semanas, de encontros e de congressos, Este estado de coisas sem divida fez com que o trabalho da Co- missdo litdrgica preparatoria, reunida com vistas ao concilio Vaticano I, fosse a tal ponto avangado, que esquema relativo a reforma da Liturgia no s6 foi o primeiro @ ser discutido no Coneilio, mas tam. 'bém pdde logo encontrar, depois das discusses conciliares, a forma de uma Constituicao litirgica, conhecida pelas palavras inieiais como. 118 Para a slocugio de Pio X11, copi ingests, deo, XI, cio em lowores, mas replea tabén de reserves mult erica. 5 THA735; Bugniniy op. eit Hy 4568; LM 4748, 1956, 52 —_ ss 119 Pata texto dos relatrios do Congresto de Assis ef. LMD 47.48, 1956 tums acertads avaliagio do congresso em Kolbe, op, ct, 107.111 sia tanto @ importincia quanto as raqucass ea Iinliagges {iusissme dos partiipantes, de intervengoes corsjoses de homens. conse ede Lerearo eos i kun, (para liturgia nos palses de missio) Spilbeck : las para além de “cortine de fervo"); sem contudo omit seus dlaaues, its de ecusasses © de surpetas, que a reagto, lerminade © cokes, 120 Para ‘uma svliasio do novo, Codex rubricarim em relag§0 com 0 ‘Ghangado Programa de relorme tiigics auc devia rcallatie Moore eee nc, fH. Schmid, ‘La costusione alla S. Lira, Toso, wen Soe dlocureriacion, Roma, 1966, 105.107 ss © movimento tisirgico: panorama histrico © lines tclbyices lium (SC). Esta, refletindo muito bem as idéias fun- setts do ro rforan om cad Liturgy, Sao havin 85 ‘vistas pelos padres conciliares conforme a perspectiva que no Conci- fio fora proposta pelo papa Joao XXIII, tinha condigdes de exprimir de modo quase que perfeito tanto a dimensdo teolégica da Liturgia, ‘como também as realizagdes prticas com vistas & sua reforma. ada e promulgada pelo papa Paulo VI, no dia 4 de dezem- tro de"1963; 2 Sacrownetum Condlium™ pode ser considerada — a0 menos no momento — a dltima pedra daquele edificio & construgio do qual o movimento littrgico se dedicara, durante 50-60 anos (come- gando, isto é, pelo Moto proprio de Pio X, em novembro de 1903, pelo congresso de Malinas, em 1909), tendo compreendido a sua importancia espiritual, sob ‘muitos aspectos, verdadeiramente extra- ordinéria. oa ities Destarte, aqueles que outrora eram projetos audacissimos viam realizados sob a suprema autoridade da Igrejas propésitos e metas que ja a Reforma protestante se havia proposto, que o Iluminismo havia perseguido © que © movimento litirgico vagerosamente e com grande modera¢do preparara, hoje so, por decreto da Igreja, do papa e do Concilio, realidades de valor decisivo para toda a Igreja. Endo € ques- tio, em primeira linha, de deterse a considerer aquelas que poderia- mos definir como reformas espetaculares, como a comunhao sob duas espécies, a concelebragio e a aceitaco, no uco litérgico, da lingua na- cional, Mas trata-se principalmente de uma visdo mais profunda e de ‘uma idéia mais completa daquilo que a Liturgia é e de que maneira ela, de conformidade com este melhor conhecimento que dela se tem, deve encontrar a forma que mais Ihe convier no nosso mundo de hoje. Precisamente nestes dois aspectos é que se revela concretamente, no mbito do problema litdirgico, 0 novo mundo em que s¢ move 0 Coneflio: é preciso que a Igreja, com vitalidade sempre nova, adapte a propria imutével natureza e misso aquelas que so as exigéncias do presente. Da realizagio deste magnifico programa foi incumbido 0 Consi- lium ad exsequendam constitutionem de s. Liturgia, que, j6 instituldo em 1964, ¢ colocado sob a sibia dirego do cardeal G. Lerearo e do seeretério A, Bugnini, reuniu no seu meio de 30 a 40 entre cardeais e 121 Dos muitos comentéris recebidos a partir da SC, mencionamos: LMD 77, oer, Enh 78, 1904, Bost EI, Leng Die Kontuton den 2. Vat. Kor if ite de ite Litarel ta colesto Mlabeadges Gonwdionn® 3.6, Minter W, 1966; G: Barauna, Las Liturgia rhmovata dal conellio, Turi, 1964; F. Antonelli R.'Falsni, Costitzione conciloresulla'S. Liurgla, Milgo, 1964; M. Nicolau, Const- ‘cin Whrgica del Vat, Il. Testo y commentarto teldgice;pactoral, Mads Introdusto 36 bispos, como representantes de todas as partes do mundo, ¢ a eles ofereciam a sua colaboracao de peritos aproximadamente 200 estudio- 05 de Liturgia, escolhidos igualmente em nivel internacional. E aquilo que este organismo, absolutamente novo no ambito da Céria romana e da Igreja, tem feito com um trabalho intenso, repleto sempre de res- ponsabilidade e com freqtiéncia dificil e nfo isento de sacrificios e de fadigas, e as vezes também perturbado por erros e por derrotas, tem sido uma obra realmente grandiosa. Quando depois de cinco anos, em 1969, foi erigida a nova Congregatio pro Cultu Divino, os trabelhos de realizacio da reforma litirgica confiados a0 Consilium estavam substancialmente conclufdos. E deste modo, numa sucesso répida, apareceram os novos livros litirgicos, nos’ quais se exprime © s¢ ‘condensa a nova Liturgia da Igreje latina, de conformidade com aquilo ‘que era 0 mandado eo espirito do Vaticano II. Esta reforma litdrgica, que junto ao nome do Concilio Vaticano I, traz 0 do papa Paulo VI, atingiu o seu ponto culminante e mais espléndido, com a promulgacdo do novo Missale Romanum (3 de abril de 1969, isto é, a quatro séculos da publicagao do missal tridentino, feita por S. Pio V) e da nova Liturgia Horarum (1 de novembro de 1970), que substitui 0 brevidrio tridentino, publicado igualmente por S. Pio Vem 1568.2 122 Tamio para se datas do progresivo desenvolvimento ¢ de relizgSo da form lirik cone para er ut prinlto iar amen de gc ee informecio do grande trabalho que nate campo fol levado s cabo pelo. Corslum dn Ltugia, f.& ovata Notas fundada jae 1904 com esta Tinldade Prose primeira parte a Liturgia, momento histérico da salvacdo (S. Marsili) capitulo primeiro “Liturgia” Bibliografia ©. Casel, “Leitourgi ", in Oriens christ. 1932, 289302; Ph: Oppen- heim, “Name und Inhalt der Liturgie bel den Alten”, in Theol. Quar- taischr,, 1932, 3553; R. von Frentz "Der Weg des Wortes ‘Liturgie’ in der Geschichte”, in EphLit, 1941, 74; Strathmann-R. Mayer, “Leitourgéo” in THWENT 4,'221-238; A. Romeo, “Il termine ‘leitourgia" nella grecith bie blica”, in Miscellanea Mohlberg, vol. II, Roma, 1949, 467-519; 8. Daniel, Recherches sur le vocabulaire du cuite dans la Septante, Paris, 1966, 56 117; St. Lyonnet, “La nature du culte dans le NT", in Jossua-Congar, La Liturgie apres Vatican 1 (Unam sanctam, 66), Paris, 1967, 357-384. 1. Nome ¢ a sua etimologia. O termo “Liturgia”, que hoje & usado exclusivamente em sentido cultual, tem uma pré-histdria, que esté ligada & sua etimologia na lingua grega clissica, & qual perience. “Liturgia” (grego: leitourgia-letourgia-leitourgia-litourgia) € pala- yra groga da raiz leit (de leds-lads = povo), que significa geralmente “piiblico — pertencente ao povo” ¢ érgon (ergizomai = agir, operar) no sentido de “aco — obra”. O termo assim composto significa dire- tamente: “obra-agio-empresa para 0 povo”; mas poe em relevo também — mesmo como significado secundério — o valor “ piblico” da agi pelo que a palavra pode ser traduzida também como “ago-obra-empre- sa piblica”. Daqui 0 uso do verbo leifourgein no sentido de “suportar encargos piblicos” na cidade (Estado), 2. No uso do termo “Liturgia”, descobrimos uma sensivel evol sto de significado, evolucao que coincide sempre — a partir da an guidade até hoje — com aqueles momentos histéricos, em que a pala yra adquire, por um motivo ou por outro, um relevo particular seu. Conseqiientemente, ainda que nosso objetivo seja o de pesquisar 0 uso A Uturgia, momento hietéico da. salvagdo 0 © o significado da palavra no plano do culto cristéo atual, néo pode- ‘mos deixar de assinalar — nem que seja de maneira breve — esta evo- lugdo que, como ja se disse, se identifica com determinados momentos hist6ricos. I. “Liturgia® no uso civil No grego cléssico, “Liturgia” significa originari 60 paiblico”, isto é, “a favor do povo”, por parte de determinadas pes. soas que, ou livremente ¢ de cada vez, assumem esse compromisso, ‘ou que se sentem obrigadas a este tipo de “servigo” pela propria posi. So social particular e sobretudo econdmica. Estas “Liturgias” sf tuma caracteristica das “democracias” helénicas, onde aparccem como Obrigacdo imposta as classes sociais superiores e — no émmbito da clas. se — a determinadas pessoas ou familias dotadas de um patrimonio Particular, ou aparecem como prestagGes livres e generosas, que alguns se impdem impelidos por seu amor especial & patria ou, talvez, movi- dos por desejo de gléria e por ambicao. q:pistinguiam-se duas espécies de “Liturgias”: as “cfclicas”, atri- buidas por *tumo” a determinadas familias e destinadas ou a toda a cidade ou ao proprio demos e se concretizavam quase sempre no pre- aro de jogos e de festas; © as “extraordindrias”, isto 6, provocadas Por situagdes particularmente graves em que a cidade podia encontrar-se, © comumente tinham em vista o armamento-equipamento de um desta. camento militar ou de um navio de guerra, enquanto durasce o con to. Aristteles (Politica 5,8) observa acertadamente que as “Liturgias iclicas”, ao passo que mostravam claramente a magnificéncia do doa, dor, com muita freqiiéncia eram causa de um inti fraquecimento das riquezas de uma familia, cern’, “00H helenistica, 0 termo “Liturgia” serve para indicar o servigo obrigat6rio do trabalho”, a que deviam submeter-se determ} nnadas comunidades ou categorias de pessoas, tanto em troca de direi- {os ¢ vantagens particulares a elas reconhecidas pelo Estado, como em castigo de eventuais revoltas contra a autoridade do Estado. Desen- Yolveuse o sistema principalmente no Egito, na época dos Ptolomeus (Século II a.C.), mas posteriormente permaneceu em vigor também nna poca imperial romana.! 4 Fr Octtel. ie Litrge, Studion zur polomdischen und kaserlichen Verwal re Aetrotens, 1917, Pe. Bekok: Workbulh dene nerlichen Verwal- inesdaeerens 17: Fe Heth, Woerbth der grchichen Papprnde a a *Litrsa® inal, 0 termo “Liturgia” bem cedo adquire também o significado mais amplo de servieo em geral, {quer oneroso (por exemplo, de servo para com o patrao), quer amisto- 50 e voluntério (0 favor que se presta 2 alguém). Aqui, como se vé, se abranda, até perder-se, o cardter “piblico”, que, no entanto, é com- ponente essencial da palavra “Liturgia’. IL. “Liturgia” no uso religioso-cultual © termo “Liturgia” aparece contudo tam- igioso-cultual, embora com menor freqiiéncia do que no uso politico-ivil, e serve para indicar em geral 0 “servigo” que se deve prestar aos deuses por pessoas para isso designadas. Deve-se notar que o termo ocorre preferentemente nas informacdes — sobretudo ins- crigdes — relativas & assim chamada “religigo dos mistérios”? Este uso cultual poderia talvez estar relacionado com o significa- do técnico original de “acdo piblica”, préprio do termo “Liturgia® ¢ por isso serviria para acentuar o valor “piblico” do rito religioso. Mas é preciso observar que: a) antes de mais nada, os textos relativos nunea sugerem — pelo menos em linhas gerais. — tal preocupe- do “pliblica” ou “oficial”; pelo contrério, tanto 0 verbo leitourgein como o substantivo lzitourgia ttm o significado comum de “servigo ordenado” como ceriménia determinada ou com respeito a certa divindade no sew templo; 5) em segundo lugar, 0 mesmo apareci- mento do tetmo, com freqiiéncia mais marcada, no culto “mistérico” = que era culto de “grupos” e nao “oficial” do Estado — poderia indicar que “Liturgia” € usado no plano cultual mais no sentido co- mum de “servigo oneroso-voluntério”, que adotara no emprego vulgar. Por outro lado, o fato de firmar-se a palavra no Ambito cultual e sobre- tudo 0 seu emprego em posicéo absoluta (0 substantivo s6 acompanhe- do do artigo definido, ou o verbo sem objeto direto), sugerem com bastante clateza que o termo vai adquirindo um novo sentido técnico, Depois que se perdeu — como jé no uso vulgar — toda referéncia 20 “pblico” (primeiro sentido técnico), ¢ conservando, ao contrério, 0 outro componente de “servico devido-oneroso”, “Liturgia” indicaré cada vez. mais e — finalmente — de maneira exclusiva, 0 “servigo de eulto que € devido a Deus”, E seré precisamente neste novo sentido técnico que “Liturgia” aparecerd na traducdo grega do AT © que depois se firmard no cris- tianismo, 2 Para muitas destas insrigées ef. ThW2NT 4, 224s, nae: A tra, momento Wtbleo da savagto ® IIL. “Liturgia” na Sagrada Escritura 1. No Antigo Testamento © termo “Liturgia” (nas suas diversas formas: leitourgta-leitour- gein-leitoirgema-leitourgésimos-leitourgikés-letourgés) repete-se fre- Giientemente (cerca de 170 vezes) na Sagrada Escritura do AT, natu- ralmente na sua versio grega (LXX), ¢ serve para traduzir tanto’0 ver~ bo sherét como 0 verbo ‘abhdd ¢ o substantive homénimo ‘abhoddh? ‘Ambos os termos no hebraico esto ligados a idéia de “servigo” pres- tado a alguém, mas enquanto sherét exprime mais os sentimentos que se acham na base do “servigo”, — e sio sentimentos de “dedicagao afetuosa e incondicional” por parte do “servo-famulus” (familiar) e de “enflanga” por parte do “patrfosenhor” — ‘abhdd ¢ principalmente imo de “servigo onero:0”, muitas vezes proprio do. “escravo” (escravidio), e em geral “trabalho”; de fato, & deste radi ‘ vva.a palavra ‘ebhed = escravo-servo. ea que der Ambos os termos na Escritura hebraica empregam-se indiferente- ‘mente tanto para indicar o “servigo” em sentido profano, como 0 “ser religioso", mas & evidente que os LXX na versio grega do AT ram escolha propositada e consciente entre as muitas palavras com que podiam traduzir os dois termos hebraicos. Desta forma, enquanto traduzem com grande variedade de termos — e quase sempre com muita propriedade de interpretaco — tanto sherét como ‘abhioddh quando se referem ao assuinto profano, toda vez que os dois termos hebraicos dizem respeito ao culto prestado a Iahweh pelos sacerdotes ¢ pelos levitas no seu templo, sao constantemente traduzidos pelo ver- bo e pelo substantivo grego leitourgein-leitourgia. Quando, pelo contré- rio — sempre no referente ao culio de Lahweh — os mestnos termos hebraicos (¢ isto se aplica especialmente a ‘abliodah) servem para indi. Caro culo prestado a Tahweh pelo povo, foram traduzidos pelos LXX 1m 0s termos latretein-latrela; douledein-douleta, inca com leitourgein-leitourgia, ee Portanto, na inten¢lo dos LX, a palavra “Liturgia” adquiria 0 isto 6, uma forma cultual determinada por um cerimonial proprio fi do nos livros da Lei e reservada a uma categoria particular de pessoas.* Lx lilo ofato indubitével de uma escolha lingustica feta pelos , escolha que lhes permitiu revestir a palavra “Liturgia” com todo 5 Embore espradiament,“Liturgla™ aparece tam a ‘ermgs abalone, soma mec each “MOS He OS 4S. Daniel, Recherches sur le vox seri © Datel Recherches sure’ vocabulaire du cute dans ta Septante, Pars, 1966, * “Lituriat 6 esplendor que brotava de um culto cujas normas se julgava terem Sido estabelecidas por Deus mesmo, fazendo dela, desta forma, 0 termo técnico absoluto para indicar'o culto hebtaico oficial, néo € facil descobrir os motivos disso. A este respeito, talvez seja possivel dizer — a modo de hipstese — o que se segue: 1. Nada leva a supor que os LXX quiseram referir-se as “Litur- gias” das antigas democracias da Grécia cléssica, porque no termo "Titurgia” por eles empregado nfo desempenha mais papel elgum ‘a primeira parte da palavra (composta), no aparecendo — pelo menos de modo evidente ou comprovado — na *Liturgia” levitica o sentido {de uma “ado para o povo”. Se uma vez (Nm 16,9) certamente se diz {que a “Liturgia” feita pelos levitas na tenda é um “culto” prestado a Deus “para os israelitas”, deve-se notar que este complemento dativo de interesse nao esté ligado ao termo “Liturgia”, mas ao verbo la- tredin, que, como veremos, foi propositadamente usado de modo distin- to de leitourgein. 2, Na escolha de “Liturgia” para designar 0 “culto levitico”, nao ‘pode nem mesmo ter influido o fato de que a tradugio da Biblia tenha sido feita em Alexandria do Egito, isto é, num ambito territorial onde ‘vigoravam, enraizadas ¢ censuradas, as “Liturgias”, entendidas como “servigo obrigatério do trabalho”. Como prova disso, bastaria lembrar que no relato da escravidio dos hebreus cob os farads, o “servico” de Construgéo obrigatério, a que foram submetidos os hebreus, € deno- minado ele também ‘abhodhdh (cf., por exemplo, Ex 1,14;2,23:5,9.115 66.9 etc.), ou seja, com um termo que tinh a sua tradugéo — naque- Ia época inteiramente natural no Egito — em “Liturgia” entendida precisamente como ‘servico obrigatSrio do trabalho”. Mas os LXX i tinham feito a sua escolha e por isso, se para exprimir esta ‘abho- dhéh forcada dos hebreus no Egito nfo se servem de “Liturgia”, é por- que cles reconhecem neste termo um significado religioso jé de certa forma espectfico. 3. De outro lado, néo 6 imagindvel que os LXX tenham recor do ao emprego de “Liturgia” para imitar e assimilar 0 “sentido técni- co cultual”, que a palavra naquele tempo ia assumindo, no plano religioso, no Ambito pagio. E mais provavel que semelhante motivo teria Ievado os LXX @ evitar o termo. Seja como for, nio se pode demonstrar que 0 uso de “Liturgia” em “sentido técnico cultual” se tivesse a tal ponto imposto no ambiente religioso helenistico, que pu- ddesce ter influenciado a escolha dos LXX. Com efeito, a maior parte dos testemunhos escritos nesse sentido, quanto a0 paganismo, néo remontam além do século I a.C., isto é, numa época em que a tradu- gio dos LXX jé era obra acabada pelo menos hé um século. Esta obser- A Titurgia, momento histérico da salvapto “ vagdo adquite maior importincia quando referida ao Eclesidstico. Escrito por Ben Sirac na época da traducao dos LXX e traduzido para ‘© grego pouco depois, no Egito, pelo neto do proprio autor, é um livro, pela orientagGo, claramente hostil a toda penetracio helenista no hebraismo, Pois bem, “para o tradutor de Ben Sirac, leitourgein (que corre em Eclo 4,14;7,29-30;24,10;45,15;50,14.19) nao tinha outra aplicago, na esfera da linguagem religiosa, além da fungéo cultual do sacerdécio israclita e, sem diivida, era, aos seus olhos, o tnico ver- bo especialmente adequado a este uso”: Considerada a posigio tio antichelenista do autor-tradutor do livro, como pensar que se tivesse utilizado de uma palavra que jé fosse empregada como termo *técnico- -teligioso” para definir 0 culto pagio? 4, Considerado 0 fato de que os LXX unificaram na palavra * turgia® dois termos sheréi‘abhiodah, que so parcialmente sinénimos (“servigo”) ¢ 0 primeito dos quais indica sobretudo a atitude interior do servigo” ¢ o outro prineipalmente a agdo de “servi”; e levando em con- sideragdo que cles empregam o termo “Liturgia” néo em sentido de ‘culto” genericamente entendido, e nem mesmo como expresséo pat cular do “culto de lahweh”, mas’ como termo especialmente adequado para indicar o “modo de culto” praticado pelos sacerdotes e pelos levi- {as hebreus, devese concluir que eles viram em *Liturgia” uma luz particular. Foi esta que os levou a considerar 0 t mo di ccapaz de exprimir tudo de uma s6 ver: © ferme como dena ¢ 4@) @ agio do culto com que “se serve” a Tahweh, e a hr rrE—EEhEhLELELLLLl 5) os atores deste culto, isto é homens especialmente des dos para isso pela eleicdo divina; eceimente desiane: ©) @ unicidade de um culto que, dirigido a Lahweh, tink ue, iahweh, tinico verda- deito Deus, € também de tal forma tinico ¢ verdadeito que deve ser regulamentado por normas divinas impreteriveis. Em outras palavras: “Liturgia”, no texto } ia, no texto grego da Sagrada Escri- tura, foi escolhido porque ele — dada a nobreza original do termo no uso eléssico — podia representar da melhor maneira o culto de Iah- woh, segundo um forma exferior divinamenteestabelecda e confiada icerdécio levitico, isto é, & categoria mais “alta” e mais “nobre” Se secre lev categoria mais “alta” e mais “nobs $$ Dani, op. ce 11 g mesmo Tendtieno ‘vesifcéel, sempre nos LX) terme lags para Indies “pevo> de Israel. Numa poe le termo muito antigo comm na linguagen ee Porque subtuide por dete, er LAX oplam elo terms {citc, proprio pare indent natures ‘¢'a'pobrees pa Deus", gut sed chumada sempre lade 6 nunca ddmos, 8 respelto da escotha do Thelenistea — ne qual tormara. muito Tteralmente art: res do. “povo de 6 *Lituria” 2. “Liturgia” ¢ culto no Antigo Testamento Para saber o que € “Liturgia” no AT era necessério percorrer 0 texto grego da Biblia, e foi possivel observar: 1a) que, dos dois termos cultuais sherét e abhodah, o primeiro sem- pre € traduzido por “Liturgia”; no segundo, a0 contrério, faz-se uma Fistingao, no sentido de que com muita freqtiéncia é traduzido por *Li- turgia”, mas também por latretieinlatreia e douletein-douleta; 'b) que por “Liturgia” entende-se sempre — salvo os poucos ca- 508 que nao refletem o plano religioso — 0 servigo de culto como feito polos sacerdotes leviticos; ¢) que latrediein-latreta ¢ douletiein-doulefa servem, a0 contrétio, para exprimir tanto a idéia ou 0 fato do culto em geral, como 0 culto do povo enquanto distinto do culto sacerdotal, considerado no seu de- senvolvimento concreto ritual e cerimonial Verifica-se desta forma 0 fato de que, no interior dos dois termos hebraicos, mais ou menos sindnimos (sherét e ‘abhdd-abhoddh), os LXX efetuam ume distincao, de conformidade com os sujeitos agentes do culto (leitourgia para os sacerdotes-levitas ¢ latreta-douleia para 0 povo). Evidenciou-se, enfim, a diferenca entre “rito” (Ieitourgia) © Nculto” (latreta-douleta) e, infetizmente, com toda vantagem para primeiro, porque “na perspectiva dos tradutores alexandrinos (LXX) 6s sacerdotes e os levitas eram os tinicos que tinham propriamente a ‘vocagdo para exerver uma atividade cultual”? © fato de que existe uma distingdo entre “culto” ¢ “exercicio exterior do culto”, € um fato de que nao se deve duvidar. Mas sim € para se duvidar se esta distinglo podia e devia ser a tal ponto radica- lizada, que criasse dois termos cultuais diferentes conforme se dese- jasse indicar a atitude inferior e pessoal com respeito a Deus ou se quisesse identificar o culto nas praticas externas do seu exercicio. Para compreender como isto possa ter acontecido, néio se deve esquecer que a traducéo dos LXX coincide com a época do segundo templo (pésexilico), no qual se repetia, infelizmente, aquela experié cia cultual-sacerdotal da época imediatamente pré-exilica, que identi- icava 0 “culto de Iahweh” com uma magnificéncia externa, que era tio “espléndida ¢ inéitil” como aquela das antigas (civis) “Liturgias” hielénicas censuradas por Arist6teles (Politica 5, 8). Em outras palavras: a traducio biblica dos LXX faz de “Litur- gia” 0 termo técnico do culto do sacerdécio levitico, que desta forma se torna o sujeito-expoente do culto de Iahweh. Isto porém realizou-se a custa daquele sentido indiferenciado de culto, que aparece no texto 7/8, Daniel, op. city 105. A liturga, momento histérico da salvapto original (hebraico) da Escritura e tudo Brande parte, isto nfo foi provocado fica, mas pela ignorncia da concepea talmente“espiritalisa” moe sentada na Tord! e poste Profetas. p 6 leva a crer que, pelo menos em or falta de ‘clareza lingiis- original do culto, fundamen- que — como veremos — ja estava bem repre. riormente serd retomada pelos Salmos e pelos 3. “Liturgia” no Novo Testamento © termo Liturgia” bal (leitourgein), no subs de pessoa (leitourgds), cisamente desta forma: a”, tomado cumulativamente na sua forma ver bstantivo de coisa (leitourgla) © no substantivo parece ao todo apenas 15 vezes no NT e pre. leitourgein: At 13,2; Rm 15, e 25 27; Hb 10,11 leitourgia: Le 1,23; 2Cor 9,1 0; F E 125 Fl 2,7.50; Hl i leourgs: Ron '15,6;1516; #1 225) Hb LT Loe O sentido em que estes tetmos sf = trés categorias, de onde resulta uma “Lite los, pode ser resumido so ca “Liturgia®: Hao 0 “Liturgia” em sentido projano, t mmo, tomado da lingua {Deus Rn 19.27, papoerito deve rear sg con et rn 0s judeu-cristios, como que em compensaca e que destes & que Ihesveio © poder pariciper novcistanwwees evo 22530 Epafrodivo, tazendo a Paulo as ofertas dos filpenses respelto 80 Apventaa de {Servi atencioso” (letourgla) dos fis com Tape Ansa forma revelou-se para ele um “auxilio, 2Cor 9,12: recolher es tarthes un “Liturgies talvez “devido” (cf. antes beneficio dos ofertantes; las para os eistfos de Jerusalém é pres Sela, umn “servico por si mesmo onerose 6 Rm 15,27), mas que depois reverte em Hb 1.7.14: embora se fe entendida em sentido “eultual" nes tam a Deus a favor dos homens, “Liturgia_angélica”, esta no € mas de “servico” que os anjos pres- 2. “Liturgia” em sentido ritual-sacerdotal do AT: Le 1,23: fala-se do tumo de “servigo” i Baia, no templo de Jerusalém (Litre leviicay nn” PA 8 JOR 8 Ver adiante, pp. 64s, “Litargia” + Cristo Pontifice j4 esta sentado & direita da majestade divina, porque é “Liturgo” do verdadeiro santuério e portanto exerce Gina “Liturgia” superior. Embora 0 sujeito do discurso seja Cristo, Uontudo os termos “Liturgo-Liturgia” devem ser entendidos em fun- Sho do termo de comparacio, que € o pontifice hebraico, e conseqtien- femente os proprios termos’ permanecem na perspectiva veteroteste- ‘mentéria. E preciso dizer, no entanto, que ptecisamente pela linha de ana Iogia sobre a qual o discurso se move, entrevé-se uma idéia nova de “Titurgia”, precisamente aquela “superior” de Cristo, porque esté em relagéo com uma ‘nova” (Hb 8) e “melhor alianga, garantida por ‘melhores promessas” (Hb 6); Hb 921; alusio aos objetos “littirgicos” do culto hebrai "7 Hb 8, Hb 10,11: comparacdo entre a repeticdo didria da “Liturgia” sa- cerdotal hebraica e a do tnico sacrificio de Cristo. 3. “Liturgia” em sentido de culto spiritual: Rm 15,16: Paulo se declara “ministrociturgo” de Cristo, que desenvolve o seu “sacerdécio” (agdo litirgico-sacerdotal) com o Evan- gelho, de modo que os pagios, santificados no Espirito Santo, sejam sacrificio agradével a Deus. ‘Aqui o termo “liturgo”, colocado como equivalente daquele que realiza uma “aco sacerdotal” com vistas a um “sacrificio” que deve ser oferecido, insiste evidentemente no “sentido téenico-cultual”, que “Liturgia” possui no AT: “aco de culto sacerdotal”. Por outro lado, a vitima que Paulo deve oferecer “em sacrificio” néo é um animal jrracional — como fazia o sacerdote hebraico — mas os pagdos, que “se tornam sacrificio agradével a Deus, por obra do Espirito Santo” através do Evangelho anunciado pelo Apéstolo. Portanto, mesmo ser vindo-se da terminologia técnica do culto sacerdotal hebraico, Paulo transport os termos para o plano de um “culto espiritual”. FI 2,17: Paulo manifesta estar disposto pata “ser derramado em libago no sacrificio e na Liturgia da £6” dos filipenses. “Liturgia” é tomada novamente em sentido estritamente “cultual- -sacerdotal” (“sacrificio”), portanto segundo a linguagem téenica cul- tual do AT; mas ao mesmo tempo é transferida para um plano “espi ritual”, A “Liturgia” dos filipenses, com efeito, é constituida nao pela oferta (‘sacrificio”) de uma vitima animal, mas pelo seu cristianismo (“fides vivido e pelo qual Paulo esté disposto a dar 0 proprio san- ‘gue “como libagao” conclusiva da oferta deles, jé iniciada, pela obra de Paulo, com a conversio a Cristo, A liturgla, momento histrico da salvapio “8 4, “Liturgia” em sentido de culto ritual cristao: At 13,2: traducdo literal: “Enquanto eles faziam Liturgia ao Se- hor e jejuavam, disse o Espirito Santo”, E 0 inico texto biblico do NT no qual se poderia reconhecer jé © nome daquela que sera depois chamada “Liturgia crista”. Nao ¢ que ONT ignore a existéncia de um “Liturgia crista” (ver adiante Il Par. te), mas € um fato que jamais — a nao ser talvez aqui — aparece o nome de “Liturgia” para indicar 0 conjunto do culto cristéo, F natural, Portanto, que 0 texto tenha suscitado o interesse dos estudiosos, os quais no entanto oferecem, a este respeito, solugdes sensivelmente diferentes entre si. Alguns? julgam, sem divida, que no nosso texto “Liturgia” repre- senta a nova “Liturgia crist@” e principalmente a celebracio euce ristica. Outros,” contentam-se em afitmar que se trata verdadeiramente do primeiro testemunho — quanto ao nome — de uma especifica celebragdo litirgica erista, embora nao se possa afirmar com certeza que se trate da Eucaristiai* Na opinido de outros,” encontramo-nos diante de algo muito novo em relagdo & linguagem biblica recebida dos LXX através da sua tra. Gucdo grega do AT, e a novidade consistiria no fato de que “o termo Liturgia é aplicado & oragio comunitéria” e precisamente no sentido de que “um conceito cultual téo importante no AT, como é Liturgia, é twansferido para indicar o culto puramente espititual cristéo, ainda que aquela de que se trata seja uma pequena comunidade de poucas pessoas particularmente autorizadas (‘profetas ¢ doutores’)”. E provavel que estas diferentes inte estas diferentes interpretacées tenham todas um Ponto de verdade. Ainda que o texto néo especifique em que consistia 4 “Liturgia” em aprego, o importante esté no fato de que a celebra- set i mt rt in dhe 2, seo Aas Seca pets por Den 2 ut. GAS oan Tate ae Senor, Mas pela priira vex vEse clramente gue tsa tela Jo Seohor ad qe ea pape ge beta acc igre Spr a 1p hts dase rece ean get un Gust “Lituraia” est indicando as fungées que substtufram o culto judaice: oragso, cipalmente a cea cucersiea, 0 secrificio da noya allen Hi 5, MaRS cr pt ky ga et id A 8 om ae Pain ma 35 0 “Liwria® ‘gio cristd é chamada “Liturgia”. Se este é um dado positivo ou nege- fivo para o culto cristo, deverd ser posteriormente verificado; 0 que mormente importa é constatar que uma reunigo cultual erista, celebra- dda na primeira comunidade antioquena e na qual com toda probabi- Tidade nio estavam presentes “sacerdotes” hebraicos, é chamada con- tudo com o nome tecnico que designava o “servigo cultual levitico”. Polo menos, € possfvel descobrir nisto a vontade de apresentar 0 “culto eristio” como a continuacio do “culto sacerdotal” hebraico ou como um culto em analogia a este. At 15,2 estaria, portanto, na mes- ma linha de Hb 8,2.6, que para identificar o valor cultual da morte de Cristo, coloca como modelo a ardo cultual do sacerdote hebraico, dando a uma e a outra o mesmo nome de “Liturgia’, ainda que Aquela de Cristo reconheca “superioridade absoluta”, 4. A “Liturgia”, do Antigo ao Novo Testamento Que “Liturgia” apareca uma s6 vez no NT para indicar uma eelebracdo cultual da comunidade cist ndo € casual nem sem sig ficado. J4 vimos como a “Liturgia” é a forma levitica do culto ¢ como ela ndo se emprega nunca para indicar nem o culto em si mesmo — como atitude interior — nem o culto do povo como tal. ‘Também foi dito que é principalmente gracas & traducdo-interpre- tagdo dos LXX que a “Liturgia” alcanca este cardter especifico ¢ re- servado da casta sacerdotal. De outro lado, a interpretacdo discriminadora que os LXX, tra- duzindo a Tord, introduzem no termo ‘abhdd-‘abhodéh, com certeza no é arbitréria. £ uma interpretacao propositads, mas fundada sobre dado agora real: com a criacdo do sacerdécio levitico (hierérqui 0), 0 culto de Iahweh havia passado a ser prerrogativa da tribo de Levi, que se tornara casta sacerdotal, e como toda prerrogativa, se fundava e se sustentava sobre a forma institucionalizada. Portanto, os LXX mesmo sabendo que ‘abhidd-‘abhoddh, no sentido geral de “ser- vigo religioso”, envolve mais particularmente o “sacrificio”, que € por exceléncia “agdo sacerdotal”, nunca traduzem esta palevra por “Litur- gia”, ainda que claramente ‘se refira ao “sacrificio”, se 0 texto no supe ituigdo do sacerdécio hierdrquico. F precisamente 0 que se dé no Exodo (durante 0 qual nfo existe ainda — instituido — 0 sacerdécio levitico), onde s6 uma vez. (Ex 38,21) ‘abhodah € traduzi- do por “Liturgia”,'e precisamente ao terminar a descri¢ao da edifi cago da tenda, & qual se destina “a Liturgia dos levitas”. Todas as ‘outras vezes, e so muitas, em que, no Exodo, o termo ‘abhodah clara- mente se refere ao “culto-sacrificio” que os israclitas devem prestar a Deus no deserto (Ex 3,12;4,2557,16.26;18,16;9,1.13;10,3.78511,24. 26 etc.) ¢ em particular ao “sacrificio pascal” (Ex 12,25-26;13,5), A Uiturgia, momento Histérico da. salvagdo 0 nunca traduzido por “Liturgia”, precisamente porque esta, para os LXX, indica o “culto de um corpo sacerdotal determinado” (levitico), que ainda ndo estd constituido.” ‘A razio intima desta interpretagio reside no fato de que os LXX nao ignoram que todo o sentido do Exodo consiste justamente na libertagdo de Israel da escravidao da idolatria do Egito e na pas- sagem (= Péscoa) para a fé no amor de Iahweh, a fim de o honrar e Ihe prestar servico (culto) da maneira propria e particular da religizo revelada: “Ouvindo a sua voz e guardando a sua alianga” (Ex 19,5), isto é, “amando ¢ dando culto a0 Senhor seu Deus com todo 0 cora: go e com toda a alma” (Dt 10,12). Somente fazendo assim, de fato, todo Israel teria sido “povo de Deus, reino de sacerdotes e nagao con: ‘sagrada (20 culto de Tahweh)” (Ex 19,6). Desta forma, Israel sabe que foi chamado para um culfo espiritual (que 0s LXX representaréo com 0s termos — que em diferentes épocas se equivalem — de latreta e de douleia),* em outras palavras, a um culto que embora admitindo os “sacrificios” de vitimas animais (SI 49,5-8), nfo era constituido por eles, no sentido de que Deus “no falou de sacrificios aos pais, quando os trouxe do Fgito, mas deushes uma pres. aquela de escular @ sua voz, porque s6 dessa maneira ele teria sido 0 seu Deus € eles 0 seu povo” (fr 7,22-25; Am 5,25). __ A relacio de culto que Israel teria tido com o seu Deus devia, Pois, consistir num amor que se manifestasse no “escutar a sua vor € fem guardar a sua alianga”. As ceriménias exteriores e os numerosos sacrificios teriam sido agradéveis a ele — caso os quisessem ofetecet — apenas enquanto eram expresso de sentimento intimo de agra decimento pelos beneficios recebidos (SI 49,14.23), ou de arrependi- mento € de conversio pelo pecado (Si 50,18-19; Is 1,10-20; Jr 7.5 11; Os 6,6;8,11-13; Am 6,21-25). Mas, excluido talvez algum momen- to do perfodo do deserto (Jr 2,2-5; Os 2,17), este ideal néo se realiza- 1a; Israel ndo mostrou ser realmente aquele “povo sacerdotal” que era por eleicao, porque nao era fiel ao seu Deus e, sob a influéncia das culturas e das religides circunstantes, renegou, na prética, sua vocacao 4 um culto espiritual, que, nascendo de uma conversio, devia expr. mir-se na obedigneia & Palavra e em manter-se na alianca de Deus. De fato, vindo da idolatria, onde 0 uso dos sacrificios no somen- te era universalmente difundido, mas constituia o todo do ato Israel — mesmo admitindo que tivesse necessariamente que abando. nar aquilo que era o uso de todas as religides do tempo — de entio 15 A mesma observagto, com idéntiea conclusio, pode fazer sobre o lira de osu Jamal, sparece “Liga”, porque ainda ni’ existe a casa saccdotal cf $. W'S. Daniel, op. cit. 6567 e 102-104 3 “Liturgi® em diante devia servirse dos “sacrificios” animaisvegetais apenas enguanto eles eram “sinal” da propria fidelidade a Palavra e & alianga de Deus. Sem isto, os “sacrificios” ¢ toda @ sua “Liturgia” podiam exprimir a religiao de Iahweh. Desta forma, aconteceu que também a instituicao do sacerdécio levitico (Nm 16,9), destinado precisamente a0 culto sacrifical “exte- i de vitimas “substitutas” daquilo que deveria ter sido o culto ” a que Iahweh chamava o seu povo — culto feito de atitude de amor e de fidelidade, que os LXX denominardo latrefa-douleia € nio leifourgia!” — tomou-se um sacerdécio exterior e material. Deste modo, a “Liturgia”, ou seja, a agdo externa de culto exer- ccida pela casta sacerdotal, torna-se em’ parte 0 “simbolo”, mas, infe- lizmente, também a “substituigio” do “culto”, que o “povo” havi sido chamado a prestar a lahweh com a santidade da vida. Esta falsa concepedo “littrgico-sacerdotal”, que no decorrer do tempo se identificara com o templo de Jerusalém, em parte havia sido destrufda pelo longo periodo do exilio. Com efeito, muitos haviam compreendido o apelo dos profetas, resumido por Os 6,6: “Quero amor @ nao holocaustos”, e na falta forcada do templo, de sacerdotes ¢ de sacrificios, encontravam ocasiao de oferecerem a Deus “a contri¢fo da alma e'a humildade do espfrito como um sacrificio que fosse mais agradavel do que holocaustos de touros e de cordeiros, porque obriga- va a seguir a Deus, a temé-lo e a procurar a sua face” (Dn 3,39-41). Desta nova atitude, que através dos profetas encontra novamente © “culto espiritual”, so entre outras coisas prova elogiiente os Salmos. Coin efeito, alguns destes enfrentam diretamente o problema, como se pode ver no SI 39,7-9 (Deus ndo aprecia nem sacrificios e oferendas, nem holocaustos e sacrificios de expiacio, mas quer que se faca a sua vontade, porque nisso se resume o livro da Lei); SI 49, que nada mais € que um “processo” feito aos mesmos Pais antigos (“santos”) que “do sactificio quiseram fazer o sinal da alianca”; mas Deus, que é quem fala no salmo, declara que “sacrificio agradavel a ele € o louvor e nfo as cames de touros e 0 sangue de cordeiros”; SI 50,17-19 repete ainda que “0 louvor do espirito purifieado e do coracio humilde vale m: do que as oblagées e os holocaustos” (cf. Sl 68,31-32); $1 140,2 colo: ca a prece no lugar da oferta do incenso e do sacrificio vespertino ‘A mesma importncia € dada ao “culto espiritual” no livro do Eclesidstico, que em 4,14, jogando com as palavras latreia e leitourgla firma que verdadeira “Liturgia” € 0 “culto” da Sabedoria; © em 35,14 diz que “sacrificio 6 observar a Lei, oblagao € o agradecimento, © holocausto é a miserieérdia”, 15 Td, op. cit, 9697. A liturgia, momento histrico da. salvagio 2 Por fim, o profeta Miquéias 6,1-8 anuncia o processo de Deus 20 seu povo, e quando Deus pede uma resposta de Israel, este respon: de dizendo que quer aproximar-se de Deus com sacrificios de bezerros ¢ de milhares de cordeiros, Deus, por sua vez, responde: “Jé desde ha muito tempo foie dito o que Deus quer de ti: apenas que caminhes diante dele e 0 ames profundamente” Depois do exilio, uma manifestacdo deste reencontrado “espiritua- lismo cultual” é precisamente 0 surgir das Sinagogas, chamadas tam- bém “casas de oragio” (Bet-hatefilléh) ou “casa da doutrina” (Bet- hamidrdsch). Nelas, com efeito, se rednem “as assembléias” (= sun- agogé) dos fitis para se dedicarem & audigo da Palavra de Deus ¢ & oracio, fora de todo regime “litirgico” levitico-sacerdotal. E neste ambiente que Cristo se move, apresentando-se como o ‘iltimo na série dos enviados por Deus ao seu povo (Mt 21,33-43; ef. Jr 7,25-26), torna a apresentarse também com a concepcio cultual dos profetas, & qual apela expressamente (Mt 9,15;12,7 fazendo refe- réncia a Oséias 6,6; Mt 15,7-9 aludindo a Is 29,13; Mt 21,13 aludin- do a Is 56,7 a Jr 7,11), Daqui 0 seu discurso sobre a destruigo do templo (“sinal do templo” Jo 2,1821) ¢ sobre 0 fato de que enfim chegou @ hora do cullo espiritual, nfo mais ligado as instituigées “sa- cerdotal-templérias” de Jerusalém ou do Garizim (Jo 4,19-26). A afirmacdo do culto spiritual, isto é, no manifestado numa “Liturgia” nem templiria nem sacerdotal no sentido antigo, assim como levou & morte de Cristo (Mt 26,61; Me 14,58), também decidiu a mor- te do didcono Estévao (At 4,47-53) e provocou a primeira perseguicio contra 0s discipulos de Cristo (At 8,1). ‘Neste clima, compreende-se logo como as fontes neotestamenté- rias guardam siléncio a respeito de “Liturgia”, quando falam sobre © culto cristo, ¢ preferem de longe falar de latreta, douleta ainda onde © contexto exigiria, no espi ingo dos termos criada pelos LXX, a palavra “Liturgia”. Os autores inspirados no mais se encon- frariam comodamente se tivessem que servirse de um tetmo como “Liturgia", que 6 demasiado desprovido do “espirito” e demasiado rico na “exterioridade” do culto. ‘Nota: & preciso, porém, advertir que jé muito cedo na Tgreja pésapostsi 2, a palavra "Liturgia” perde grande parte do seu aspecto negative serve bara dsigat oF ritos do cult erst, Talve no se cm retsonnci de exctamente hebraica — pelo menos no plano de formulasio 0 aperecl ae da palavra “‘Liturgia” em Didagué 15,1; “Elegei para vés bispos e iaconos ; também eles, de fato, cumprem nisso-a propria “Liturgia”™ dos doutores (do NT)". Mas posteriormente, embora 0 “'sa- ierérquico cristio nada tenha em comum com o hebraico, 0 para- 16 Strahtmann, in ThWzNT 4, 62566: s “Liturga” Ielismo entre os dois tomase cada vez mais chegado, como se pode ver laramente em 1 Clementis ad Corinthias (wer depois), ¢ portanto também 6 termo “Liturgia” serve para indicar sobretudo a acto cultual do Bispo, Go presbitero © do didcono, e também o rito em si mesmo, prescindindo daquele que o exerce ou o preside, Desta forma fala-se de "divina Liturgia’ (2 Bucaristia), de “Liturgia do batismo”, de "Liturgia vespertna” 'No Oriente grego,,“‘Liturgia” sempre tem permanecido em vigor, com servando o sentido de “acdo sagrada ritual” em geral; hoje, porém, na ree Iidade serve para indicar, antes de mais nada, a “celebragio cucaristica’, de acordo com um rito’ perticular. Assim diz-se “Liturgia” de S. Joao Crisostomo, de S. Basilio, de S. Tiago, de S. Marcos, dos 12 apGstolos, etc 'No Ocidente latino, diversamente de’ tantas expressoes ‘éonicas do vocabulério eristao, que foram simplesmente transliteradas do grego para o latim (por exemplo: Episcopus, presbyter, diaconus, ecclesia, synagoga, apos- tolus, propheta, baptismus, eucharistia, evangelium), o termo “Liturgia” foi completamente jgnorado. © fato no deixa de causar surpresa deda a extra- ordiéria freqiiéncia e 0 valor declaredamente técnico que ‘Liturgia’” possui nas mais antigas fontes criss, que, como € sabido, estdo escritas em prego. Talvez. ndo seria isso um indice do significado negativo — enquanto cexpressio téenica de um conceito demasiado hebraico do culto — que os tradutores latinos da Biblia grega dos LXX notaram no termo? O ‘nico autor latino que conhece “Liturgia” em sentido cultual, mas que, no signie ficado, a identifica indevidamente com latrefa, é S. Agostinho: 'Ministerium vel servitium religionis, quae gragce liturgia vel latia dictur”.” 'Na Tinguagem ceidental latina, durante muitos séculos, em lugar de ‘Liturgia" foram empregados termos como officia diving, sancta, eeclesias- tica; celebritas (celebratio) sancta — ecclesiastica; ministeria sacra — divi- na — ecclesiastica; opus — opera Dei; opus divinum; munus; observation nes sacrae — ecclesiasticae; sacri ritus; ritus ecclesiastici; agenda — divina agenda ‘A partir do século XVI, pelo contato que © Renascimento criara nova- ‘mente com as fontes gregas, devolvendo um elemento que se julgava de imitagdo dos cléssicos & cultura do tempo, comeca a reapareeer também no Ocidente o antigo termo grego de “Liturgia”. Desta forma, nos primeiros estudos ou exumages de antigos formulérios de culto aparccem obras, que no titulo trazem o termo “Liturgia” na forma adjtival (neutra substan- tiva): G. Cassander, Liturgica de rit et ordine dominicae caenae, quam celebrationem Gracci liturgiam, latini missare appellarunt, 1358. J. Pamelius, Liturgica latinorum, Calénia 1371. (Um volume de “Lt turgica graecorum’” estava em projeto, mas nio foi publicado). J. Bona, Rerum lituigicarum libri 11, Roma, 1671. Apés alguns anos, porém, aparece ceriamente o termo “Liturgia”, mas sempre — como nos autores acima eitados — no sentido de rites ou for ‘mulétios da Missa (portanto segundo 0 uso grego): 17 S. Agostinho, Enarrat, in Pe. 155: PAL. 37, 1757. 18 Agenda €o fermo au permanace vivo no protetantsmo lemdo para dei nar os fivts ritusisTuteranos A litargia, momento histérico da salvapto 3 J. Mabillon, De liturgia galticana libri IIT, Paris, 1685. J. Grandeolas, Les Iturgies anciennes ou’la maniére dont on a dit ta sainte’ Messe dans chaque siecle, 3 vols, Patis, 1967-1704. D. Giorgi, Liturgia romani pontificis in celebratione missarum solem- ni, 3 vols., Koma, I/S1-1744, A. L’Muratori, Liturgia romana vetus, 2 vols., Veneza, 1748. Quando, pelo contrério, a matéria de estudo se amplia‘além de Missa, continuam as antigas denominagées, também em obras contemporineas das precedentes. Assim por exemplo: M. Hittorp, De catholicae ecclesiae divinis officiis ac ministerlis, Co- Henia, 1568. E, Martine, De antiquis ecclesiae ritibus, 2 vols., Rouen 1700-1702; De antiquis monachorum ritibus, 2 vols., Antuérpia, 1736-1738. Mas jd 0 termo comesa a superar os préprios limite, © 0 eslebre aba- de de S. Brés na Floresta Negra, M. Gerbert, além da sua Vetus liturgia alemannica, 2 vols., Sankt Blasien, 1776, © os Monumenia veieris lturgiae ‘lemannicae, 2 vols., Sankt Blasien, 1777-1779, obras nas quais “Liturgia” Fepresenta unicamente “Missa', escreverd também Principia Theologiae iturgicae quoad divinum officium, Dei cultum et sanctorum, Sankt Blasien, 1759, onde “Liturgia” adquire o sentido mais geral de “culto”, referindo-se ‘também aquilo que mais particularmente se chama “Oficio divino”” Na linguagem eclesidstica oficial latina, o termo “Liturgia” comeca a aparecer somente na primeira metade do séeulo XIX com Gregsrio. XVI Inter gravissimas, 1852; Studium pio, 1842) e Pio IX (Nom medioer, 1864; Onmem solicitudinem, 1874), mas tomna-se usual a partir de S. X (Tra le sollecitudini, 1903 etc.) até elevar-se a0. papel de palavra que define toda uma atitude espiritual, caracteristca da obra iniciada e da época aberta pelo Vaticano II capitulo segundo Rumo a uma teologia da Liturgia Bibliografia J.A, Jungmann, Gewordene Liturgie, Innsbruck, 1941, 1.20; A. Stenzel, *caitus publicus. Ein Beitrag ui Begriff und ekilesiologcchen, Ort der Liturgie", in 2FKTh 7, 1953, 174219; L, Bouyer, La vie de la Liter zie (Lex orandi 20), Paris 1986; M. Schmaus-K. Forster, Der Kult und der heutige Mensch, Munique, 1961: J. A Sungmann, La liturgie des pre iniers sites (Lex orandi $3), Paris, 1963; IA. Dalmals, Inidacione alla Eiturgia, Tarim, 1964; C. Vagaggini, 11 senso. teologico della Liturgia, eds, Roma, 1985; A. Verheul, Introducione ola Liturgia. Saggio dt too: togia del eulio, Roma, 1967. 8. Mare, Il problema litargico'*in Rivista Hilurgica, 26, 1939, 1619; d. Il mistero wi Cristo, op, cit, 7378; Id “Litungia", th Diz’ del Conctio Vat. 1, Roma, 1963, 19981542; Tay "Li turgia i Diz. En. di Teotogia Morale, Roma, 1973, 333541, E- Cotter neo, Introduzione alla storia della Liturgia occideniale, 2 e., Roma, 1968, No capitulo anterior, o termo Liturgia mostrou-se-nos como uma palavra tacitamente contestada pelo NT, e isso com certeza em razio do contetido “judaizante” nela contido pela escolha que dela fizeram os LXX, quando a introduziram como expressio téeniea do culto le tico da ‘Tenda e do Templo. Apesar disso, ela reaparece, como jé se disse, bem cedo no ctistis- nismo primitivo, recuperando para si gradativamente um direito de nacionalidade, que jamais vai desaparecer. Isto se deve, incontestavel- ‘mente, a0 fato da sua presenca no texto oficial da Biblia (versio gre- ga dos LXX), tomado fora de uma leitura suficientemente refletida € comparada do texto hebraico — no tipo de leitura feita por nés mais acima — e que sozinha teria podido colocar de sobreaviso revelando © sentido verdadeiro e exclusivamente ritualista do termo. A liturgia, momento histérico da salvacdo 56 Mas a esta razio acrescenta-se provavelmente outra mais pro- funda e, cremos, mais penetrante, sempre em fun¢ao de dependéncia da primeira, Queremos aludir & posigo da 1 Clemente a propésito dos “ministérios” do NT. Nela aparece 0 termo Liturgia repetidas vezes.! Geralmente, 0 seu significado nao vai além daquele de “ministério-ser- vigo” em geral — mesmo no plano religioso — ainda quando os suje- {05 sejam 0s apdstolos ou os sucessores que eles nomearam? isto é, os Dispos, os digconos, e em sentido mais genérico, os presfbteros.’ Toda- via, 6 suficientemente claro que “ministério-Liturgia” dos bispos, por exemplo, identifica-se com a agdo sacrifical Isto 6 tanto mais evidente considerando: 1) que falando do “ministério-Liturgia” do: sacerdotes do AT, este se identifica com sacrificio,® com ago sacerdotal sacrifi- cal e com a oferta feita pelo sumo sacerdote e pelos outros ministros (leitourgoi),? 2) que 0 “ministério” cristo dos “bispos-presbiteros. ‘conos” do NT é claramente paradigmatico — referindo-se a uma supe- Flor “gnose"® — sobre 0 “ministério” do “pontifice-sacerdotes-levitas do AT, e isso exatamente para atribuir também 0 ministério-Liturgia do NT aquela origem divina 8 qual se referia a instituigo anéloga do AT. Este fato hé de contribuir, por meio de relacionamento da pal vvra “Liturgia” com a idéia e a fun¢ao “sacerdotal”, para trazer ine tavelmente também 0 culfo cristdo para aquelas posigdes ritualistico- ~clericais, que eram peculiares da Liturgia veterotestamentéri Naturalmente, este processo, fruto de uma aproximagio to super- ficial quan‘o fécil, mas de resto bem compreensivel num escritor de provével origem hebraica,” como ¢ 0 autor da 1 Clemente, néo tera, felizmente, tao cedo um prosseguimento, pelo menos no até 0 ponto de que a identificacdo de Liturgia-culto cristo venhe a eriar logo um “problema teol6gico”. Com efeito, precisamente por nao ter reconhe- cido em “Liturgia” o equivalente daquela forma cultual determinada, que conforme temos visto, se identifica com aquela legal e particula: ta do ritual levitico, poder-se- vetificar que também lé onde e pela 1 1 Clements, 81; 825: 20,10; 3856; 365; 4025: 41,12: 4545, 2 Te aati a choreaies ib, 462.5: ignos reeeberam o ministério Ueitour i dos peso "Tletos jn fear oso monn rg) sels ie, cncarregados (.) com a aprovagéo da Ireja presim o seu miniteio (eiour Bei). febunho de Cratos, > S* Teen ‘ ‘4 Cl. iba 4434: “Julgemes injusto afastidos do seu minstério. Com efeito,seia lo peaieno'peiado aftr do epscopado agucles que santunente ofeecoam os tb, 402. 6 Ibs asa. 7 Ibs a2 8 Tbs 404; 414, 9 18, 4048, 10 J” Qussten, Patrofoga, vol, 1, 2 ed, Turim, 1971, 52. ™ 7 Rumo a uma teologio da. Uurgia razio em que o fermo entra no uso cristfo, ele durante muito tempo dinda serviré para indicar sobretudo um contetdo cultual, que seré fudo menos oda “Liturgia” sacerdotal hebraica € que se exprimiré, portanto, com uma peculiar *teologia do culto”. I. Antiguidade crista 1. Espiritualismo cultual © “espiritualismo” do culto no pode ser visto, no cristianismo, como simples resposta polémica diante do exteriorismo e da materia. Tidade da Liturgia hebraica, porque, pelo contrario, ele forma o elemen- to-base do cristianismo no’plano cultual, Com efeito, o “culto espi tual” & atestado universalmente e conseqiientemente também — e com certeza ainda de modo mais violento — em relagio ao paganismo. Basta ver, a este respeito, como sao interpretados aqueles que, sempre e em toda a parte no mundo extra e pré-cristéo, haviam sido os ele- rmentos essenciais do culto, isto €, 0 templo, o altar e 0 sacrificio. E sabido que a Igreja primitiva teve que defender-se, entre outras coisas, da acusagio de “atefsmo” e de “impiedade” (“irreligiosi- dade” no sentido de “falta de culto”), exatamente porque nele nio existiam nem templos nem altares nem sacrificios com os quais_ se hhonrasse a Deus.!! Para os cristaos, aqueles termos haviam adquirido uma dimensio completamente diferente, porque eram expressivos de calfo que age em plano inteiramente distinto, e desta forma, ao passo {que 0s rejeitavam no significado comum que tinham tanto junto aos pagios como junto aos hebreus, sentiam-se estimulados a manté-los no sentido de “culto espiritual”. Com efeito, depois da nova visio que cles tinham do culto, que consistia ndo tanto em préticas externas de adoragao, quanto no sentirse chamados a ser eles mesmos uma pro- clamagio de louvor do amor de Deus, que desde a etemnidade os escolhera para a santidade em Cristo (Ef 14-6), os cristios coloca- vam na santidade interior 0 culto que se devia prestar a Deus. A res- peito deste “culto no espirito” (FI 3,3), ele decerto é descrito também om os termos acima mencionados de sacrificio (thusta-prosjord), altar (thusiastérion), templo (nads), mas que agora se apresentam carregados do sentido particular a eles atribuido pelo NT. 11 Ct, por exemplo, Justina, Apol 1.6: 15: PO 6336: S45: Atenégres, Legato ro Chiat" 4 100 13; 27 (op, ct, 896s 908; 916; 952); Taclene, Adv. Grascos, EF (op. eke, $52); Orlgenes, C- Celsm, 8,172 PG 11, 1340, A Htareia, momento bistérico da. salvagao 38 Desta forma, sacrificio ndo € mais a vitima animal, mas 0 pré- prio Cristo que se oferece para a remissao de nossos pecados (Ef 5.2; Hb 9,14;10,11-12), num_sacrificio espiritual (Hb 9,14). De modo semelhante a Cristo, que “oferece 0 seu corpo” (Hb 10,11), também 0s ristios “oferecem no seu corpo” a si prdprios como “sacrificio vivo, santo e agradavel a Deus” (Rm 12,1) realizando assim um “culto de sacrificio espiritual” (Rm 12,1; 1Pd 2,5). Assim como este sacrift- cio em Cristo encontrou expresso num ato de vontade interior (Hb 10,7.10) que se manifestou como “sacrificio de prece e de siplica” (Hb 5,7), assim também os cristdos “oferecem em Cristo o sacrificio do louvor, como 0 tinico agradavel a Deus” (Hb 13,15-16). A este sacrificio que de si préprios fazem tanto Cristo como 0s cists, so Paulo dé o titulo de “Liturgia” (Hb 8,2,6; Fl 2,17), sem naturalmen- te pretender de modo algum sublinhar 0 aspecto exterior e cerimo- nial ligado aquele termo. Esta nova colocacao continua @ afirmar-se nos primeiros séculos da Igreja, e assim vemos que é “sacrificio” a morte do mértir,? slo “sacrificio” as preces unidas & caridede do préximo. “O sacrificio copléndido ¢ grande” — diz. Tertuliano — “que os cristaos oferecem, © que foi ordenado por Deus, € a oragio que brota de um corpo puro, de uma alma sem culpa e do Espirito Santo”. Nesta tradicao instituida pela nova teologia cultual cristi, move- -se ainda no século IV $. Agostinho, quando para explicar que “o verdadeiro sacrificio consiste numa obra boa que se faz para unir-se em comunhio com Deus”, apela para Rm 12,1. Desta forma, ele fala do “sacrificio” do corpo, colocado a servico de Deus; do “sacrificio da alma”, na qual a presenga do amor de Deus expulsa toda forma de concupiscéncia mundana, de modo que, “consagrando-se a Deus”, todo © homem se torna um “sacrificio”, até que “toda a cidade e comuni- dade dos Santos redimida se tome’ um sacrificio universal oferecido a Deus por meio do sumo sacerdote Cristo (...) porque o sacrificio dos, cristfos consiste em formarem todos um s6 corpo com Cristo”. No seu “culto espiritual” o cristdo oferece um “sacrificio incruen- to" sobre um allar que é Cristo,” mas que é oferecido também por todos quantos estiio unidos na oragdio comum.!* 12 «Matiro de Policarpo", 1, ip Ruinart, Aco Martyrum, Verona, 1731, 37 15 Clemente Alex, Siromaa, VIL, 63115 324, Pastor de" Hermes, mand, 103, 25; Meare Flore'3, in Sourer el 8; Jasin Dade 1 Teren, Apelog, 30% EB Resa 20 io: La, 5. 17 CE HD Bi‘go comenarie dec. 5s, Inst Magn 93 Ta Glam Alk, Soma, VIL, 638; Poleapo, Ad Philip, 4 5; Crono, In To. hom., 13, 4: PG 59, 90. “ eee 316) tre aux Hébreue, vol. W, 425; - Rumo «uma teologia da tturgia ‘Também 0 femplo, outro elemento cultual bésico € que sobretudo no hebrafsmo era o ponto focalizador de todo 0 culto visto em nivel de “ Liturgia” levitico-sacerdotal, alcanca no cristianismo uma posigdo Gque é cerlamente de primeiro plano na nova feologia do culto que © caracteriza. ‘A primitiva tradigfo crista, ainda que com nao pequena dificul- dade por parte dos figis provenientes do judaismo, demonstrou logo ter absorvido profunda e fundamentalmente 0 valor e o sentido das declaragées de Cristo a respeito do templo de Jerusalém (“sinal do templo™ Jo 2,19-22; Mt 26,61; Mc 14,58; At 6,14), cuja destruigao esté ligada diretamente & “espiritualidade do culto”’ (Jo 4,19-24), ié prometida para o tempo da nova alianca (MI 3,1-5) e manifestada por Cristo no “sinal” da chamada “purificagao” do templo (Mt 21,12-13; Me 11,1517; Le 19,45-46; Jo 2,14-16; cf. Is 56,7; Jr 7,11). Este culto “espiritual”, fundado sobre’ a destruicdo-purificacdo ‘do *tem- plo”, envolvia nao s6 0 abandono das formas sancionadas pelo eédigo Tintirgico mosaico (At 6,14), mas também o aparecimento precisa- ‘mente de um novo culto, que se concretizaria num templo “nao feito pela mao do homem” (Mc 14,5-8; Hb 8,2;9,11-24), € que por isso mesmo seria “espiritual” (1Pd 2,5) ¢ “santa’habitagio de Deus no Espfrito” (Ef 2,21-22). O prot6tipo deste “templo”, fruto de uma *res surreigao”, devia ser Cristo mesmo, cujo “corpo é 0 templo” (Jo 2,21), conde *habita em plenitude a divindade” (Cl 2,9). Nesta visio, morte ressurreigao de Cristo no adquirem s6 0 valor de “sinal” do’ poder, por Cristo reivindicado, de estabelecer um novo culto (Jo 2,18-22), mas constituem diretamente em Cristo — Cordeiro imolado — 0 novo “templo” da “nova Jerusalém” (Ap 21,22), isto é, precisamente 0 templo “ndo feito pelas méos do homem?, o que implica “a presenca, no NT, de uma vitima igualmente nao feita por mos do homem’,* isto é, diferente do sacrificio material de animais substitutes. “Com efeito, Cristo entrou no Santuério, ndo feito por mios de homem, pot meio do préprio sangue, oferecendose a si mesmo como vitima ima- culada no Espirito Santo” (Hb 9,11-14). Desta maneira, o NT designava ao mesmo tempo o “sacrificio” © 0 “templo” do AT como figura destinada a desaparecer, para cedet lugar as‘novas realidades cultuais instauradas por Cristo’ (Hb 10,1), 0 novo culto, com efeito, teria no “corpo de Cristo” tanto 0 seu "sa crificio” como também o seu “templo”, porque, o “corpo-realidade de Cristo” pode fundar, em oposicao aos ritos do AT (CI 2,17), um *culto fem espfrito © em verdade” (Jo 4,25.24). Ey 19 CE, At 151.5; 212128; 254 267 onde aparece clramente que se trata dos norma evisasiellgies do nowaanc- ms . 30 Epistole Barnaby 28 A liturgia, momento histérieo da salvapdo Py ‘Mas enquanto Cristo se apresentava como “templo”, também se apresentava como “pedra angular e fundamento” (Mt 21142; Me 12, 10; Le 20,10) do novo “templo”, visto na “torre” que Deus recons. tr6i na sua “vinha", servindo-se de “Cristo-pedta rejeitada pelos cons. trutores” (SI 117,22; cf. Mt 21,42 e par., acima citados), Os cristéos, cedificados como outras tantas “pedras vivas sobre a pedia viva que € Cristo, rejeitada pelos homens (morte), mas glorificada por Deus (res- surreigio)”, formario uma casa de Deus espiritual (1Pd 2,4-5), ou seja, “o templo santo ¢ a habitagao de Deus no Espirito” (Ef 2,21-22; 1Cor 3,16-17; 2Cor 6,16-19). Com efeito, também eles so, depois de Cris to, “vinha e construcéo de Deus” (1Cor 3,9), “templos, sacerdotes ¢ Vitingsespiituas” oferecidas eapradaveis a Deus (ef. 1Pd 24-5; Rm Sobre esta nova realidade iniciada por Cristo e continuada pela Igreja insiste a primitiva tradicdo crista, que tanto na polémica antiju- daica como também na apologia antipagé menciona e desenvolve as afirmagées do NT para justificar e explicar 0 espiritualismo cristo em fungdo de uma nova teologia do culto. Com efeito, nesta perspectiva odemos ler que “os homens, tornando-se espirituais, tornamse um templo perfeito de Deus’? Isto vale no plano individual, “dando a Deus um culto ininterrupto no templo do préprio corpo”, isto €, na oferenda de si mesmos a Deus cumprindo a sua vontade. Antes da conversio, cada qual tinha coracéo cheio de idolatria, como se fosse “casa de deménios © templo verdadeiramente construido por aos de homem”,* mas depois, através da “remissao dos pecados e da regeneragdo, Deus habita verdadeiramente em nés e nos introduz no templo imortal € espiritual, construido para o Senhor*,” que nao € Outra coisa que, “a igreja dos irmaos e dos santos, na qual se louva e se canta a Deus” De fato, a prépria comunidade & “a casa da oragio a comet on mie gute 0 Hemlocrs dCs pee pedi § et le t's re aks ae eae ule ota sce em inne oT Edimburgo 1958, 90), erguido por Crst'com @ aia eons (ae ae, et tS 6 Rumo a uma teologla da tturgia culto" e “a assembléia dos eleitos (= cristaos) é o templo mais, ee neal aa ateguada psa cell a grandeza e a dignidade de Deus”, ¢ nele “o altar revela-se ser a reunigo dos santos unidos na voz e na alma” * Os figis sio “outrs tantas pedras que devem cons- titair o santudrio e a casa do Pai";” ¢ esta realizase na assembléia comum.” Este é 0 templo que Deus, em oposigao aquele “feito por mos humanas” de Israel, constr6i para si mesmo “no fim da semana isto é, depois do sébado, dia-sintese do culto hebraico. Como se pode ver, a nova teologia do culto, que o eristianismo fundamenta toda ela nuima visio inteiramente “espiritual” do. préptio cailto, a0 passo que ignora qualquer forma de ritualismo, envolve toda a vida num clima cultual, devolvendo ao fato religioso uma tarefa de coordenacéo completa de toda a atividade humana, Ao realizar isso, a primitiva tradiglo cristi constantemente apela para a interpretacSo “espiritual” que jé os profetas tinham dado a respeito do culto,” esta- belecendo desta forma uma continuidade, nem que seja diferenciada, na revelagao dos dois Testamentos. Com efeito, & preciso prestar aten- ‘glo para no pretender descobrir, nas posicGes neotestamentérias, uma interpretagdo “alegSrica”, segundo a qual, embora conservando ter- ‘minologia anterior — no caso, aquela jé examinada de “sacrifico-altar- -templo — julga-se que estes termos perdem 0 seu significado direta- mente cultual uma vez que sao “transferidos para outro plano” (= ale- 4oria), dissolyendo-se num sentido moral genérico, como se dé 0 caso, por exemplo, nos escritos filos6fico-religiosos de Filon com respeito 20 AT. Aqui achamo-nos, pelo contrério, num ponto de vista completa mente diferente, e é 0 que acontece entre coisas que estio, entre si, numa relacdo de tensio recfproca interior, que se pode definir como preparacao e cumprimento, antincio e realizagdo, sombra (figura) realidade. f essa justamente a relacdo que existe entre o culto do AT: “ preparagéo-antincio-sombra (figura)”, e culto do NT: “cumprimento- -realizago-realidade”. Isto significa que os supraditos termos cultuais do AT (e com mais razio isto vale pata 0 ambito extra-tevelacio), adquirem todos 0 seu valor de realidade plena no NT, no sentido de que somente neste, 0 seu significado — sio de fato “sinais” — recebe aquele “contetido” real, sem o qual ndo existe autenticidade de rele ges com Deus. 27 Justine, Dial, 86: PL 6, 631 28 Clemente Alex, stromata, Vii, 6, 318. 29 Inicio, Eph 9,1 30 Td Ad Man 7,2. 531 Bole. Barnabee, 16, 67. 532 Cf. por exemplo, Epist. Barnabae, 2, A litrgia, momento histérico de salvaeto a S. Agostinho, entre outros, a0 dizer que deve haver necessaria- ‘mente uma diferenga entre “o tito profético que anuncia coisas futuras © 0 rito evangélico que proclama coisas cumpridas”.” nao faz senso interpretar no seu justo valor Hb 10,1 que nota de que modo “a lei possufa a sombra das realidades futuras, néo a imagem (verdadeita) das realidades acontecidas”, Portanto, se na teologia do culto cristio, 0 “sacrificio” € a santidade interior da vida e a oracdo que a exprime, se, “0 altar” € Cristo enquanto recolhe a oferta comum da oragio; se © “templo® & 0 “corpo de Cristo” na sua dupla dimensao: pessoal (pes soa de Cristo) e comunitéria (Igreja), isto no quer dizer que estcja. ‘mos numa linguagem puramente alegdrica ou que se fale em termos de analogia, segundo a qual, apenas de maneira imprdpria, “sactificio. -altar-templo” podem ser considerados ainda como termos verdadeira. ‘mente cultuais. Ao invés, somente no cristianismo estes termos atin gem nivel verdadeiramente cultual. Com efeito, estando identifica, dos com a vida, cessam de ser apenas ‘sinais” de uma “realidade™ diferente deles, porque envolvem finalmente aquela “realidade”, sem 4 qual sio “sinais” vazios, Isto nao quer dizer, que : lo seu caréter de culto “espiritual”, 0 sristianismo nao devesse possuir — e ndo tenha, na verdade, possufdo desde o comego — um sistema “ritual” préprio. Existiam com certeza ritos, © nome dos quais aparece desde os escritos apostolicos (batismo, frac2o do pio ou ceia do Senhor-Eucaristia, imposi¢ao das mios ete, mas eles nao eram contudo uma “Liturgia” no sentido do AT e muito menos da religido pagd. Com efeito, nao eram gestos ou ages “cer, oniais” entendidas como meios capazes por si mesmos de hontar @ Peus. Os ritos cristaos jé desde o comego eram a expresso perfeita © nica do culto “espiritual”, porque cram “sinaissintese” de um mo. mento salvifico, rg ginal os quas se eondensava ao mesmo tem. Po a presenea santificadora do mistério de Cristo ¢ a presenea santifi, cada dos fis. O rito cristdo sempre teve realmente v objetivo dingo de consagrar © sentificar o homem, a fim de que este ficasse doses ‘mancira na sua prépria pessoa — junto com Cristo e para Cristo = ¢ Zi por um simbolo substituto, “sacrificio-altar-templo” de Deus, isto &, realidade ¢ local espiritual do culto de Deus. Com efeito, os rites Grstios eram propriamente sacranientos e mistérios. Em outnas pala: Wras: os. ritos cristéos eram verdadeiramente uma “novidade” gm matéria de culto, porque este néo se revelava uma ago organizada 20 lado da vida, mas consttuia a propria razdo de ser eristfos, ito va homens que viviam em Cristo. 35 fess, Conte Faust, 19, 16 PL 4, 356 HH Par uma magnlica since teolefice ‘de Sttniimotirga ct, yor xem, Euntio de Cetra Demons evang, io: HO 28° eae tare Por exemple, 6 Rumo a uma teologia da liturgia 2, Sintomas de involugao © culto cristio, mesmo sem deixar nunca de ser um culto “espi ritual”, no escapou contudo as situades concretas do ambiente histé- rico, social e cultural no qual se achava integrado. A Epistola a Diogreto escrevia no século IT desta forma: “Os cristdos nao se dis- tinguem do resto dos homens nem pelo pais, nem pela lingua, nem pelos costumes. Com efeito, no € que morem em cidades particulares ‘ou se sirvam de uma linguagem diferente ou levem uma vida distinta... ainda que mostrem possuir maneira de viver admirdvel no préprio comportamento. Pata dizer numa s6 palavra, os crist@os sao no mundo © que a alma é no corpo”. Mas hé uma coisa pela qual se diferen ciam de todos, ¢ esta é “o seu culto que é invisivel”,* porque ele ndo 86 no é uma “disposigao de mistérios humanos”,” mas antes, o mis tério do seu culto nem mesmo se pode aprender dos homens. Estas afirmagSes, a0 passo que mostram a inseredo cristé em todo 6 tecido da vide civil e cultural, excetuada apenas a religiao,” subli nham as diferenciagSes dos cristdos justamente no plano religioso, referindo-se nfo a diferencas rituais, exteriormente controléveis, mas 20 carter “invistvel” e “ndo humano”, ou seja, a0 aspecto “espiritua- lista” peculiar € ‘nico do *mistério do culto cristo”. Mas enquanto esta insergéo no ambiente envolveu uma confrontacao critica e dialé- fica tanto com 0 hebraismo — ef. o significado das cartas paulinas ‘203 Romanos, aos Gélatas, aos Hebreus — como com 0 paganismo, © {qual mesmo com a sua perseguicdo contribufa para manter vivas estas diferencas, nfo houve nada que temer. No século IV, as coisas comecaram a seguir outro caminho. 0 cedito constantiniano do ano 313 deu a paz & Igreja, mas abriu a Igreja ‘a0 mundo adjacente ¢ ao Império, provocando nao 36 conversbes fi ceis, sobretudo nas cidades, mas também um contato inevitével com alguns elementos culturais, que até entdo haviam ficado mais ou menos exclufdos do émbito cristo ‘A mesma severa organizaglo tanto do catecumenato quanto da eniténcia, que precisamente no século 1V-V atingiré as formas mais expressivas ¢ mais eficazes, com certeza demonstra a vontade da Igre- ja de néo se tomar vitima de uma cOmoda facilidade tanto no acolher como no manter os convertidos num yerdadeiro compromisso cristo, quer no plano geral da vida como também naquele particular do culto, 535 Epist, ad Diognetum, 5, 14 e 6, 1 38 The, 4 3 West 38 bt 4 39 Tertuliamo, Apol. 37, 4: “Somos de ontem, mas temos enchido © mundo € todas as vosas initwigdes (.) deleando para vés apenas 0s lerplos A litrgia, momento histérico da salvagdo o Com efeito, este continua a ser apresentado — como demonstram prin- cipalmente as numerosas “catequeses” que daquela época chegeram até nés — como um culto espiritual. Mas a forma deste culto comeca a sofrer a influéncia — mesmo apenas no plano “formal” — do tem- po e do lugar. O fato de que, deste modo, o culto cristéo adquiriu as caracteristicas peculiares, isto € 0 “genio” de um determinado povo,”” deve ser julgado em sentido altamente positivo; isto, no entanto, nio deve impedit-nos de olhar criticamente as coisas. A passagem, realizada em Roma pelo fim do século III, da lingua grega para a latina na Liturgia no aconteceu por mera tradugdo dos textos anteriores — se existiam (ver adiante) —, mas foi uma adapta fo e freqiientemente uma verdadeira criagdo, com vistas as exigéncias préprias da mentalidade latina e romana, Isto podia néo comportar luma aproximacio de /érmulas cultusis mais congeniais com o "énio” romano tanto no plano lingiistico-stlistico® quanto, infelizmente, no plano da mentalidade e por vezes do contetido. Para o conteiido, pense-se apenas no cinon romano, no qual a linha original “eucaristica” ou de “prece de acio de gracas” cedeu o lugar aquela diretamente “sacrifical” que se tornou dominante,” ¢ 6 contetido “anamnético”, que antes compreendia toda a “historia da salyagdo” a partir do seu momento “césmico” até 0 cumprimento do ‘mistério de Cristo” na sua totelidade desde a Encarnagdo até a Pa. rusia, ficou restringido s6 ao “memorial” da “paixao-ressurreicio. -sccensio”, onde precisamente 0 momento “sacrifical” aparece com maior evidéncia, Mas se 0 contedido se revela, sob estes aspectos, defi- ciente, ele acresceu-se de um elemento novo, fornecido pela mentali. dade juridico-formal, que o romano traz também para o culto, Neste tempo, cai cada vez mais em desuso 0 principio e a prética da “impro- Visagio” littrgica, que até entao era tipica do culto cristo néo s6 por causa dos primitivos pretextos *carisméticos”,# mas porque refletia um 40 A exe rape tomause famoto ¢ 6 sempre insutvo — embors oj escubram as suas limiteedes ~~ 0 exert do ingles. Bho ens of the Roman Bie’ ia Liturgica Historica, 1918, F9. mliehs Pa Guo rest de tedo'p problem in J, A. Jungmann. La Lituraie des res dls 196, 181.282 CF Th Kinser, Lure Nee Cake ee Sintesi e riflessioni, Turim, 1971. pele : 22 S."Marsil, Test iret per Twoma. modemo", in Conetum 19601972, 4h Bulmer ete Mea ors 8, SoS at EY ut eae dade eter en ferred fiver ma prose longa selene io ve protbe a alguém fazer um prese mbleade imports € que’ Sua prece seja de atordo com a af oriodonie®, Tee © sue importa & aus 6 Rumo a uma teologia da tturgia sréter proprio da oragio “no espirito”, ou seja, do. culto espiritual: Saseimento.espontineo da oracio pela presenca do Espirito em nés, sem formulagoes estudadas e fixas (Rm 8,15.26). © fato, que, com certeza, no se deve explicar como um desfalecimento do Es também adaptacéo a uma mentalidade precisa, que era corrente no mundo romano a respeito da oracdo desenvolvida na acéo cultual, ¢ que correspondia & idéia segundo a qual a oracdo devia ser expressada fo apenas “solemnibus verbis”, mas também "conceptis, certis ver- bis", isto €, com solenidade de expresso ¢ mais ainda com palavras adequadamente pensades e precisas no seu significado.” Era a menta- lidade juridica — ligada, no fundo, a0 valor “magico” da palavra — ‘que julgava vélido, também na relacdo cultual, o prinefpio estabelecida pela “Lei das XII Tébuas” romanas: “O direito esté ligado & palavra hha sua expressao™® e que levava, conseqtientemente, ao uso de fixar por escrito as férmulas cultuais, talvez com 0 resultado de que, no decorrer do tempo, continuassem sendo recitadas oragSes que ninguém entendia.” Esta fixidez das fSrmulas, a tal ponto rigida no campo juridico que “vel qui minimum errasset, litem perderet”,* era. apl da escrupulocamente também na oragio cultual, até 0 ponto de ¢ que o celebrante do sacrificio tivesse que ser assistido por um “apon- tador” (praeco), 0 qual “de scripto praeiret’.® Jé Tertuliano observara que esta dependéncia do culto pagio da palavra escrita nao era compartilhada pelos cristdos, os quais ora- vam “sem apontador, precisamente porque a sua oracéo brotava do {ntimo”.® Mas jé no século III, ndo se continua mais no mesmo plano, Hipolito, relatando na sua Traditio apostolica toda uma série de for rmulas litirgicas, adverte decerto que isto no acontece para que elas sejam repetidas “de cor” no entanto, o fato mesmo de as {6rmulas terem sido fixadas por escrito, € significativo. Existe a preocupacio de conservar uma “tradigdo”, que se sente ameacada de possiveis infiltra- ges de erro, fruto da ignorincia,” e deste ponto de vista, certa- ‘mente que estavam bem longe de ter que dar, a este trabalho de fix fo redacional da prece crista, aquele fundo musical mdgico que exi- fia, na religido paga, 0 uso de “libelos”. Entretanto, um fato € inegé- 45 CF. K. Latte, Romische Religionsgsschichte, Monique, 1960, 62. Sobre as (Gr rmutas: *sllemnibus, concepts, certs veris” cf. B. Brisson, De formulis ef soll tibus tri VI, Fransoforte, 1952, 61°94, 108114, 46 Tab. 6,1: "Uti lingua muncupaset, ta ls est, cit. in Latte, op. ct 47 Quintliano, Inst. ovat, 1, 6, 40 48 Segundo 0 jurista romano Galo, cit. in Latte, op. 49 Plinio, His. nat, 28, 11. Outros exemplos in Bis cp. cit. que temete’s multas passagcns do historiador Livio. 50°Tertuliana, Apel, 30, 4 "Sursum suspicientes chrisilanl manus expansis ‘ia nnoctis.» sine motors quia de pectore oramu, precantes Sums.” ‘St Ver nate #8 52 Hilt, op. cit, 1; 43, 1. e258. © 102. ls, op. elt 6; ef. Latte,

Você também pode gostar