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PODER ECONOMICO: A MARCHA DA ACEITACAO Nao parece possivel estudar o poder de controle e definir a forma como 0 problema deve ser abordado sem ter uma perspectiva um pouco mais ampla a respeito da influéncia do poder nas ciéncias sociais. Essa perspectiva mais ampla é capaz, sobretudo, de influenciar 0 enfoque e 0 método a ser utilizado na andlise do poder de controle. Evidenciaré também, de maneira particularmente destacada, a importancia do tema. Pois bem, nao 6 exagerado descrever a evolugao da reflexao sobre o poder nas ciéncias sociais como uma marcha da aceitagao. Uma rapida descrigaio de concepgdes recentes na filosofia, economia e direito demonstra uma — sem diivida peculiar — convergéncia no sentido da aceitagéo do poder como um dado da realidade, com 0 qual é possivel conviver, mas que nao pode — e o que é pior, em muitos casos, sequer deve — ser combatido ou eliminado. Isso 6 feito por vezes de forma clara, tratando do poder; outras vezes, de forma tacita, simplesmente ao desconhecer a sua realidade. Apenas para ilustrar o primeiro grupo, basta mencionar duas obras de importantes pensadores da atualidade, que trataram do tema poder. A referéncia é respectivamente as obras Macht und Gewalt (Poder e violéncia) de H. Arendt e Macht (Poder) de N. Luhmann. E verdade que ambas adotam uma concepgao bem genérica de poder, como qualquer forma de coercao individual. Mas também é verdade que ambas chegam a conclusdes que aos olhos de um observador inocente sao no minimo surpreendentes. Para H. Arendt, poder e violéncia sao conceitos antagénicos!. A violéncia aparece quando desaparece o poder. E bem verdade que a autora tem em mente o poder politico democratico, que depende do consenso de muitos. Mas ainda assim a sua conclusao é bastante benevolente e até elogiosa do poder. Como vé antagonismo entre poder e violéncia, busca as raizes da violéncia. Encontra-as, entdo, na burocratizacao do poder estatal. A violéncia contra o sistema advém do fato de que no Estado burocratico nao se pode identificar 0 responsavel pelos problemas. Daj 0 uso da violéncia. Salta aos olhos que essa andlise, talvez dirigida aos especificos problemas dos paises desenvolvidos no momento em que foi escrito (especialmente a violéncia dos movimentos de protesto estudantil, a que faz referéncia varias vezes), deixa de lado toda uma série de preocupagdes com as organizagées em geral. Trata-se das relacées de poder dentro das organizacées, inclusive as democraticas como o Estado Contemporaneo, que fazem com que grupos econémicos mais poderosos tomem conta e se utilizem da organizagao em seu proprio beneficio2. O trabalho de Luhmann parte de pressupostos diversos, mas chega a conclusées parecidas as de H. Arendt. Assim, para Luhmann poder é constitutivo da sociedade, € um importante meio de comunicacao, determinando comportamentos. Dessa forma também vé distingdo entre poder e violéncia (ou usurpagao), a ligacéio entre ambos os conceitos s6 seria tipica em sociedades primitivas, dotadas de diversidade de formas de comunicagao social?. Reconhece a necessidade de limitar 0 poder, ainda que apenas na esfera civil da sociedade (incidindo, portanto, no mesmo problema identificado no pensamento de H. Arendt). Mesmo ai, no entanto, acaba por concluir que deve haver poder. Isso porque nas organizacées (instrumentos que, dentro de sua classica teoria dos subsistemas, sio a melhor forma de controle do poder na sociedade civil) é preciso haver poder. A razéio para isso? S6 pelo exercicio do poder pode-se produzir verdadeiros ganhos tecnolégicos advindos de sua capacidade de inovagdo, que inexiste na comunicacio social’, A justificativa titima do poder parece ser, também aqui (tanto quanto na obra de Arendt), quase uma peticao de principio, um ato de reverente admiragao ao poder. Na verdade, a razao nao é assim tao simples e nao se poderia imaginar que fosse em obras de tao relevantes pensadores. O que ocorre é que essa postura reverente vem sendo construida ha séculos na historia das ciéncias sociais, o que influencia muito o pensamento dos modernos. @) A visao filosofica a.1) Os filésofos unitdrios: Kant e Hegel A tensao entre ideal e realidade é talvez o traco mais marcante da filosofia moderna. Essa tensao é particularmente rica para a andlise dos fendmenos de poder. E 0 que se nota nos dois grandes polos da moderna filosofia unitaria. O mundo ideal, do conhecimento a priori de Kant, abre as portas para o positivismo cientifico e para o cientificismo do mundo moderno. Particularmente util na filosofia Kantiana para essa visao técnico-cientifica em relacgao aos fendmenos sociais e de poder sao os conceitos sintéticos a priori, i. e, aqueles conceitos que, apesar de nao puramente analiticos (dedutiveis a partir da légica) e que, portanto, requerem uma anilise e comprovacio na pratica, podem ser definidos a priori, ou seja, antes mesmo da realidade que lhes cabe interpretar®. Essa ideia Kantiana 6 sem diivida 0 fundamento filoséfico Ultimo de toda a construgéo tedérica classica e neoclassica, e em consequéncia, de boa parte da construgao econémica atual, glorificadora do poder econédmico. Com efeito, sé um conceito a priori, definido puramente no mundo das ideias e que possa ser comparado (mas néo confrontado) com a realidade (como é 0 conceito sintético a priori) é capaz, por exemplo, de justificar o marginalismo na microeconomia, apesar de suas premissas sabidamente no realizaveis. Como é sabido é este marginalismo que esta por tras do neoclassicismo e de sua visio indulgente do poder econémico. Em Hegel, ao contrdrio, a realidade parece autoexplicativa e suficiente. Hegel procura fazer dessa realidade algo ideal e idealizado, que se conforme sua regra dialética universal®. Essa regra dialética universal tem como principio a oposigao das partes ao todo. E Hegel identifica esse todo, que tende a prevalecer, exatamente ao Estado, que concentra o poder. Ainda que no se referindo ao poder privado, Hegel faz uma verdadeira apologia do poder (estatal) como forga organizadora da sociedade. Aqui é importante observar que, nesses classicos da filosofia moderna, 0 poder (econdmico) ainda que presente nao é imanente. E isso por uma razio muito simples. Na filosofia unitaria, que procura reconstruir 0 mundo como unidade global, nao ha espaco para distincdo entre ser e dever ser. Caracteristica importante em outras ciéncias, a perda dessa unidade na filosofia tera consequéncias bastante nocivas. Explica-se. Em uma ciéncia preocupada com a justificaco ultima dos fendmenos, é preciso que exista certo controle ético das visdes de mundo. O que se quer dizer é que os fundamentos ultimos nao bem se explicam sem as finalidades. Um exemplo simples é bastante esclarecedor: perguntas metafisicas basicas como por que existimos nao podem ser bem respondidas sem uma visdo de causa que além da causa tiltima também inclua a causa final. Nao é possivel entender por que existimos sem termos consciéncia de para que existimos. Essas observagées bastante intuitivas sugerem que ética e anilise da realidade nao se devem separar, ao menos na filosofia. & exatamente essa caracteristica que faz a grandeza de sistemas globais como os de Kant e Hegel. E exatamente essa caracteristica que é criticada por utilitaristas e pragmaticos de um lado; e por filésofos do poder, de outro. A prevaléncia desses criticos e de suas ideias conduziré 4 decadéncia do movimento filoséfico contemporaneo. 4.2) Filosofia moderna: cisdo entre ética e realidade Desde o desaparecimento de Hegel, tiltimo dos grandes fildsofos unitarios, disposto a apresentar explicagdes unitdrias da realidade, os movimentos filoséficos passam a distinguir mais claramente entre 0 ser e o dever ser. Escolas filosdficas passam a ser relevantes como teorias éticas ou como modelos de explicagao da realidade. Nao é tampouco de espantar entao que as escolas éticas (dever ser) passem a se caracterizar por um absoluto individualismo metodolégico e a filosofia preocupada com a explicacdio de fendmenos ontolégicos (ser) seja invadida pelo técnico-cientificismo tipico das ciéncias naturais. Do lado da ética o individualismo metodolégico tem suas origens nos utilitaristas classicos (Locke, Bentham). Para esses autores, sendo o paradigma do desejo individual fundamental na explicagao das agées do ser humano, o individuo deve orientar suas acdes neste sentido. Consequentemente, passam a se justificar teorias (econdmicas) que determinem o dever ser (direito) a partir de maximas (econémicas) de bem- estar. Ainda relevantes para a ética — 0 que nao é de se espantar — tornam-se teorias que colocam o individuo e 0 poder de sua vontade ao centro da reflexdo sobre o dever ser. E. o que ocorre com Nietzsche, para quem os princfpios éticos s4o aqueles derivados para o comportamento de seu super- homem. Essa ética individualista, que glorifica o individuo e sua vontade, é apenas mais um passo (eticamente bastante extremo) no sentido de individualismo metodolégico’. O terreno esta preparado nao apenas para o poder econémico, mas também e, sobretudo, para o poder politico totalitario. No aspecto ontoldgico a evolugao nao é menos preocupante. A anélise do ser 6 na filosofia contemporanea predominantemente baseada em estudos técnico-cientificos. Seja na teoria analitica de Wittgenstein, que poe ao centro da investigago filos6fica a analise das formas de expresséio tanto por meio da légica dedutiva® quanto da teoria da linguagem, seja na filosofia da andlise légica®. Em ambas, a presenga da légica e de critérios légicos de andlise de linguagem da o tom da investigacao. O estudo dos porqués tiltimos e a perspectiva de anélise critica da realidade, para a qual a conjugagao entre causa Ultima e causa final ou entre ser e valor séo fundamentais, retrocede cada vez mais para um segundo plano. a.3) Contraponto Dentro dessa perspectiva filoséfica bastante sombria merece destaque uma linha de pensamento critica. O interessante é que essa linha tem sua origem e até hoje se mantém de certa forma presa as formas classicas de pensamento filoséfico. As origens esto no pensamento dialético de Hegel. Forma de anélise global da realidade, envolvendo futuro e passado, traz consigo duas facetas muito particulares: o determinismo e a critica. Ambos sao utilizados pela andlise Marxista. A critica reumanizadora, sobretudo nos trabalhos iniciais de Marx (0 chamado jovem Marx) e o determinismo, em sua vertente econémico social, consagrados nos trabalhos posteriores de Marx (sobretudo em O capital)!°. © iiltimo pode ser criticado e 0 & hoje em dia, sobretudo, pelo seu determinismo e cientificismo. O conceito de marcha inexoravel da historia parece desumanizar as relacées politicas e sociais, dando ao poder (econémico e politico) e A sua tomada valor tao grande quanto o atribuido por seus rivais da filosofia moderna. Muito mais rica e muito mais estudada neste século tem sido a perspectiva de critica social oferecida pela dialética e pelos estudos iniciais de Marx. Grande parte da construgao neomarxista em torno da chamada Escola de Frankfurt objetiva essa revisio!!, Essa revisio critica dos fundamentos filos6ficos e sociolégicos do comportamento humano apresenta duas linhas bastante interessantes e ricas de contetido. A primeira seguida por Horkheimer e mais tarde por seu discipulo, Habermas, que a aprofundou e desenvolveu. Horkheimer retira da dialética, sobretudo, a perspectiva critica em relagdo as ciéncias sociais positivistas. Para ele, o estudo interdisciplinar e critico é fundamental. Dai a sua insisténcia na criacao de um instituto interdisciplinar!2, em torno do qual viriam a se reunir os principais filésofos e socidlogos que formariam a tendéncia de pensamento posteriormente denominada Escola de Frankfurt. Para Horkheimer, o verdadeiro discurso dialético e critico sé poderia ser atingido por meio da interdisciplinaridade. A segunda grande linha é a de Adorno, que utiliza a dialética, sobretudo, para criticar as relages sociais burguesas, desumanizadoras, na linha dos estudos do “jovem Marx”. Interessa-se pelos microssistemas, pela vida cotidiana da classe operdria e sua riqueza — se comparada a decadéncia do cotidiano burgués. Habermas, principal discipulo de Horkheimer, amplia em muito as reflexdes a partir da ideia da interdisciplinaridade. Em primeiro lugar, é preciso lembrar que para Habermas, contrariamente a Kant, as condicdes transcendentais do homem em relagéo com o mundo haviam nascido em condigdes empiricas. Elas situavam sua base na histéria natural da espécie humana que defendia sua existéncia trabalhando, comunicando-se e sofrendo relagdes de dominagao. Segundo Habermas, os homens haviam se levantado acima da natureza ao se tornarem seres falantes. Ocorre que, com a primeira frase, 6 a inteng&o de um consenso geral e sem coercéio que se exprime sem ambiguidade. O autor introduz ai a ideia de existéncia humana como conversacao e solidariedade, que retine todos os conhecedores de uma mesma lingua’, Em um primeiro momento, essa teoria adquire um cardter bastante reformista. Unida a ideia de microssistemas de Adorno, propugna por uma verdadeira revolucio das relagdes sociais por meio dos parametros cooperativos das relagées das classes proletarias. Em trabalhos mais recentes (sobretudo Teoria e Pratica), defende formas de institucionalizagao da comunicagio social, abrindo as portas para construgao da comunicagao social em moldes mais conformes ao sistema!4, Essa meia-volta nao faz com que em Habermas nao se possam encontrar ideias (raras nos dias de hoje) muito titeis para uma construgio filoséfica critica das relages sociais e especialmente das relacées de poder. Rica é, sobretudo, a ideia de cooperagao entre individuos pela comunicagao. E ma Habermas identifica na agdo comunicativa uma forma de construgao de conhecimento, mas nao necessariamente de aco. Isso como se vera justifica formas de estruturagao social e juridica que permitam a aquisigéo de conhecimento e deem liberdade de agao a partir de entao. Essas formas sao, como se verd, via de regra procedimentais — econémicas, exigindo uma postura firme e um combate estrutural ao poder econémico. E exatamente a partir da refutagao dialética dessas teorias ou realidades preestabelecidas, inclusive e principalmente das situades de poder, que é possivel afirmar que sobrevive na Escola de Frankfurt uma postura critica e faz nela entrever uma luz de esperanga no sombrio quadro da filosofia cientifica contemporanea. b) A visio econémica b.1) A marcha do pragmatismo Na histéria das ideias econémicas é que se pode identificar a evolugao mais clara e mais linear no sentido da aceitacao e até mesmo valorizagao do poder econémico. Ao contrario da filosofia, caracterizada por idas e vindas, tipicas da natureza especulativa do raciocinio filosdfico, a economia tem um desenvolvimento muito mais linear, que desemboca em um forte pragmatismo. O aparente cientificismo que a envolve desde os liberais classicos e que se exacerba com a metodologia matematica introduzida pela microeconomia marginalista faz com que a evoluciio das ideias econdmicas seja linear e até certo ponto previsivel. Marco inicial do estudo econdmico moderno é sem dtivida o trabalho dos liberais cléssicos Adam Smith, Jeremy Bentham e John Stuart Mill!5. & importante destacar nao sé os ressabidos defeitos, mas também as qualidades do pensamento liberal. De um lado, a ideologia fortemente liberal que fundamentava essa teoria fazia com que seus autores desconsiderassem por completo qualquer possfvel falha no funcionamento do mercado. Ainda que Smith e Mill facam expressa referéncia a insuficiéncias e/ou até diferencas de informaco dos varios participantes do mercado, nao consideram que esses sejam problemas aptos a afetar minimamente o modelo!®, Ha, no entanto, na economia classica, especialmente em Adam Smith, algo de positivo que seria completamente perdido nos “desenvolvimentos” posteriores da teoria econémica. Nao ha entre os classicos qualquer preocupacao em definir os resultados do processo econémico, Nao ha a tentativa de formulacao de modelos de equilibrio até porque, a época, faltava o instrumental para tanto. A propria parabola da mao invisivel demonstra que nao ha pretensio de predizer os resultados do processo econdmico!”, O problema é, evidentemente, que também nao ha grande preocupagaio com os instrumentos de funcionamento do mercado, em funcao da crenga de que ele pode se regular sozinho. Os movimentos que se seguem ao liberalismo classico sao todos fortemente deterministas, procurando antever os resultados do processo econémico ou entéo da _histd: A evidéncia, a referéncia vai aqui respectivamente ao neoclassicismo e ao marxismo econémico. O termo neoclassicismo é ainda hoje um termo bastante equivoco em economia. Foi adotado em diversas épocas, por diversas tendéncias. Mesmo Keynes e os Keynesianos chegaram a ser denominados e a se autodenominar neoclassicos em certa época, por darem nova interpretacéio (bastante modificativa) ao classicismo. Nao é esse o significado da palavra hoje. Neoclassicismo é hoje reconhecidamente a denominag’o que se da ao movimento que teve sua origem no marginalismo microeconémico, e dominou a microeconomia e macroeconomia com a Escola de Chicago. Sua ideia central é bastante simples. Existem tanto nas relagdes microeconémicas como para as varidveis macroeconémicas pontos de equilibrio para onde essas relacgdes devem necessariamente tender. O centro da formulagao neoclassica encontra-se, entdo, na formulacao de modelos de equilibrio e na previséo de resultados futuros. Dai o determinismo acima destacado. Dentro dessa perspectiva nao é dificil entender a postura existente em relagdo ao poder econémico. Sendo possivel definir uma situagao de equilibrio para o agente monopolista, a tnica real tarefa é comparar essa situagao de equilibrio com a da concorréncia perfeita. No momento em que for possivel dizer que a primeira situagao gera maior (ou igual) valor agregado que a tiltima, serd possivel justificd-la. Assim, quando a Escola de Chicago revaloriza o papel das eficiéncias produtivas realizadas pelos monopélios, contrapondo-as a pequenas (e, segundo os préprios tedricos, dificilmente mensuraveis) ineficiéncias alocativas por eles produzidas, o cenario esta pronto para uma verdadeira “deificagéo” do poder econdmico. £ 0 que ocorre na doutrina e nas cortes americanas a partir do final dos anos 70!8, dai difundindo-se para boa parte do mundo (inclusive, desafortunadamente, para o Brasil). E quase cedico ressaltar o determinismo da outra grande corrente econémica do século XX, o marxismo. O determinismo histérico é talvez uma de suas maiores fragilidades. Faz com que hoje as obras econémicas de Marx nao sejam consideradas seus trabalhos mais relevantes (como visto acima, os trabalhos filoséficos do jovem Marx sobre a natureza humana sao muito mais importantes). Desse determinismo histérico decorre a postura no minimo tolerante de Marx e da maioria dos marxistas ortodoxos em relacéio ao poder econémico. Exatamente por entenderem que o capitalismo monopolista ¢ o ultimo estagio antes da Revolucao proletéria que certamente vird, consideram iniitil (por ineficaz) e até contraproducente o combate ao poder econémico. Essa concepgao, s6 logicamente compativel com uma concepcao revolucionaria, acaba resultando em posturas incoerentes entre os chamados socialistas democraticos (que nao sao partidarios da solucao revolucionaria). Em alguns casos, a tolerancia com o poder econémico levou a resultados sociais e econédmicos desastrosos, com a destruic¢&o da prépria ideologia social construida. O caso paradigmatico é sem diivida o da Republica de Weimar!®, Esses problemas explicam-se. Esté nos dias de hoje mais do que comprovada, inclusive do ponto de vista empirico, a relagdo direta entre concentragéo do poder econémico e ma distribuigdo de renda?°. Nao ha, portanto, possibilidade de construgio de sociedades desenvolvidas economicamente e justas socialmente sem um combate estruturado ao poder econdmico”!, b.2) A sintese Schumpeteriana Os determinismos marxista e neoclassico tém a sua mais elaborada sintese no trabalho de Schumpeter. Em seu classico livro Democracia, Socialismo e Capitalismo, Schumpeter funde a ideia marxista do determinismo histérico com a ideia neoclassica do determinismo de mercado. O resultado nao poderia ser outro. O novo determinante de todo o desenvolvimento capitalista passa a ser o desenvolvimento tecnolégico22, N&o é aqui o local para analisar e criticar com profundidade a tese Schumpeteriana. Importa apenas destacar que essa conclusao faz o poder econdmico ganhar em relevancia23, Ganha forca a convicgdo sobre a importancia dos monopédlios para as inovacées tecnolégicas*+. Tudo se centra em tomo da ideia de um processo econémico que tem seu motor do lado da oferta, necessitando de empreendedores fortes e capazes de desenvolvé-lo. Para o desenvolvimento da oferta, toda a tecnologia é bem-vinda, inclusive aquela capaz de deslocar quantidades macicas de mao de obra. Do outro lado, © consumidor ou o individuo (por vezes excluido do processo econémico) parece um ente cada vez mais passivo e descartavel. Nao por acaso a consequéncia dessa visio, cada vez mais difundida (em torno da hoje chamada economia evolucionista), é a criacdo de gostos no consumidor que nao correspondem necessariamente as suas preferéncias. O resultado final é a estruturagdo da sociedade em torno de dois grupos bem distintos: os consumistas e os excluidos. b.3) Tendéncias criticas As ideias acima expostas, neoclassicas, marxistas-dogmaticas e evolucionistas, ainda que ideologicamente opostas, tm um ponto muito importante em comum. De formas opostas ambas pretendem teorizar a realidade econémica, estabelecendo modelos e identificando modos necessarios de evolugao do processo econémico. Ocorre que um dos resultados mais importantes do pensamento econdmico moderno é exatamente pér em diivida a possibilidade de teorizagéo do comportamento econdmico. A principal azo para tanto é a convicgao de que o conhecimento encontra-se disperso entre os individuos e que, consequentemente, em cada relacéio econdmica os diferentes individuos vém com diferentes parcelas, frequentemente dispares, assimétricas, de informagao. Isso faz com que todo e qualquer modelo sobre o funcionamento do mercado que pretenda indicar resultados esperados ou a serem atingidos com base em ampla difusio de conhecimentos e informagées esteja necessariamente fadado ao fracasso. Os modelos acima descritos tém por base estudos de teorias econdmicas contemporaneas, em especial a teoria do conhecimento?® e a chamada Economia da Informagio2®. Interessante é notar que ambos os modelos, quando bem compreendidos e desenvolvidos, acabam por levar a ideias profundamente reformadoras das estruturas e nao conservadoras, como por vezes seus proprios idealizadores acabaram por transmitir. Todas elas indicam no sentido de uma mesma conclusao. O raciocinio econémico nao mais pode ser voltado 4 busca de resultados econémicos baseados em modelos tedricos. Seu objetivo é muito mais procurar garantir que os agentes adquiram conhecimento nas relacées econdmicas, 0 que ndo ocorre com os tradicionais instrumentos de mercado. Acrescente-se, nao ocorre sobretudo em presenga do poder econémico, que cria imensas distorgdes. As distorgées decorrem basicamente, de acordo com a doutrina acima citada, das assimetrias de informagao e conhecimento. Essas assimetrias sao mais ou menos acentuadas em diversos mercados, mas — e isso é extremamente importante — nao decorrem sempre e nem predominantemente de assimetrias naturais de informagéo. Na maioria das economias, especialmente em economias em desenvolvimento, decorrem de dificuldades sociais de acesso A informacao e de dificuldades impostas em funcao do diferente poder que tém no mercado os agentes econémicos. Outra importante tendéncia critica ao neoclassicismo, da qual se podem retirar importantes subsidios para o estudo do poder econémico, é o estruturalismo. Seu fundamento e peculiaridade maior estao na crenga na existéncia de diferencas estruturais nas economias subdesenvolvidas, decorrentes do processo histrico de evolugéo econdmica internacional, que tornam seus problemas peculiares. Segundo seus defensores € impossivel, portanto, imaginar que a mesma teoria econdémica aplicdvel aos paises desenvolvidos seja adaptavel aos demais, O subdesenvolvimento nao é uma fase do desenvolvimento, mas uma estrutura determinada pelo processo do desenvolvimento industrial do sistema capitalista?”. Note-se que essa afirmagao, de cardter fortemente determinista, é reflexo da origem economicista da teoria. Ainda que ideologicamente completamente afastados dos neoclassicos, e bem mais atentos a realidade do que aqueles, compartilham com aqueles a plena crenga em esquemas légico-formais de raciocinio econdmico. Dai por que o determinismo e o pessimismo na crenga da imutabilidade das estruturas (historicamente determinadas e invaridveis). Apesar das dificuldades criadas por esse determinismo, a saida que se pode entrever das barreiras estruturais ao desenvolvimento sao eminentemente instrumentais. Com efeito, seus criadores veem na criagao de demanda interna um fator essencial para o desenvolvimento. Ora, essa depende de variaveis instrumentais, como a diluicio do poder econémico (sem a qual nao ha a possibilidade da formagao auténoma da demanda interna). O mesmo se da, como demonstra a experiéncia europeia, caso 0 instrumento para rompimento das barreiras estruturais ao desenvolvimento seja o regionalismo econdmico. A funco do raciocinio econémico parece recobrar sua caracteristica instrumental. O contetido desse instrumentalismo é, no entanto, diametralmente oposto do contetido do instrumentalismo Smithiano. E preciso reconhecer as diferencas de informacao e poder de atuar no mercado. & preciso intervir e no deixa-lo livremente se desenvolver. Essa atuagao nao deve ser passiva e nem sequer se limitar a reprimir comportamentos abusivos. FE preciso intervir diretamente nas estruturas que concentram o poder, estrangulam os canais de comunicacao e limitam a informacées dos agentes. Fungo central do funcionamento do sistema econdmico é, entao, garantir a interacéio dos agentes no mercado em igualdade de condigées, i.e., proteger algo que se poderia denominar de devido processo econédmico. Exatamente por seu potencial de exclusio e de criaco de desigualdade nas interagées sociais 6 que um dos pontos essenciais para a criacéo de um devido processo econémico é o combate as estruturas de poder no mercado. Mas nfo é s6 por esse aspecto por assim dizer de negagao do poder econémico que a diluigao dos centros de poder deve ser estimulada. Também por seu aspecto positivo. E ressabida e ja foi alhures discutida’® a importancia. da concorréncia (diluigio do poder econémico) como instrumento de formagao do conhecimento econémico. Afastado o dogma essencialista do conhecimento, sé a comparacaio pode indicar em sua diregao. Conclui-se, portanto, que tanto pelo seu potencial criador como distribuidor de conhecimento, 0 combate ao poder econémico pode e deve ser um dos primeiros itens da ordem de preocupagdes dos estudiosos do “devido proceso econémico”. ¢) A visdo juridica Talvez de todos os ramos do conhecimento social mencionados até agora 0 direito seja o que mais de perto e com mais intensidade venha sentindo e sofrendo com a marcha da aceitacaio do poder econémico. Até porque aqui os movimentos de critica as concepgdes dominantes siio ainda mais esparsos e periféricos. c.1) Do racionalismo juridico ao positivismo Para a breve noticia histrica que aqui se quer trazer 6 possivel fazer um profundo corte histrico e iniciar a andlise a partir da era moderna, em especial a partir da grande ruptura interna da ciéncia juridica. Essa ruptura interna ocorre com o racionalismo juridico, em especial a partir das obras de seu representante mais influente, Samuel Pufendorf. A ruptura a que se faz refer€ncia é a que se da entre moral e direito. A partir especialmente de Pufendorf, o fundamento do direito passa a ser identificado nado em algum elemento imanente 4 natureza do homem (seja ele religioso ou ético), mas na ldgica, i.e. na existéncia de um sistema racional e autointegrado de disciplina das relagdes sociais. So exatamente essas duas caracteristicas, busca da racionalidade cientifica e autointegracgao, as que acompanharao a maioria dos ordenamentos juridicos ocidentais (de direito codificado) até os nossos dias. A partir de entao o método de criagao e interpretacao do direito deixa de ser exegético- hist6rico, passando a visar primordialmente a demonstragao légica*®. Estabelecido 0 racionalismo como método de construgao e explicagio do direito e afirmada a autossuficiéncia do sistema juridico, pavimentado esta o caminho para o chamado positivismo dogmiatico que se estabelecera sobretudo na Alemanha no século XIX por meio da Pandectistica. A tendéncia 4 concentragao em torno de esquemas ldgicos e 4 autointegragao leva ao fechamento do sistema em torno se si mesmo. A consequéncia é uma protecao da doutrina e do direito contra demandas sociais e éticas. Em um sistema fechado como o racionalista-pandectista a légica substitui o conceito de justiga, determinando-o°°. Dai a caracteristica bastante formalista ainda que rigorosamente légica de trabalhos de grandes pandectistas como Windscheid. Ora, é facil ver que a tinica efetiva diferenca entre o positivismo dogmatico e o positivismo juridico esta na existéncia de um Codigo. Nao por acaso, basta que a Alemanha promulgue seu Cédigo Civil para que o positivismo juridico, j4 estabelecido em outros paises (principalmente na Franga através da Escola exegética) dominasse a cena dos paises de Civil Law. Autores como Kelsen dao a partir de entio e até hoje, inclusive nas escolas brasileiras, o tom da teoria geral do direito. Representam na teoria geral do direito doutrina tao estabelecida quanto o marginalismo na microeconomia. Note-se que esse positivismo aparece reforcado. Nao se compée de uma mera exegese formalista de cédigos, integra-a também uma doutrina pronta a grandes elucubragdes légicas e racionais, cada vez mais distante de valores e seus principios. Pronta esta a cena para a submissao do direito aos designios técnicos de outras ciéncias. c.2) Positivismo e poder econémico A afirmagao e prevaléncia do movimento positivista tam enorme efeito sobre a afirmacio e prevaléncia da ideia do poder econémico no campo do direito. E com efeito o autocentramento do positivismo aliado a sua exacerbada racionalidade que permite ver no direito instrumento para objetivos econémicos*!, Sendo a ciéncia do direito positivista, totalmente avessa 4 discussao de finalidades das normas, qualquer ciéncia que o faca apresentando uma certa coeréncia racional em sua apresentacao (ainda que, como demonstrado, essa coeréncia seja apenas aparente) facilmente serd capaz de dominar sua interpretacao, entre doutrinadores ¢ aplicadores do direito. Repita-se, para uma mente positivista, a discussdo “cientifica” a respeito de métodos interpretativos, que proponha uma finalidade pré-juridica (como a eficiéncia), que possa por sua generalidade ser identificada em qualquer norma e que seja capaz de deixar intacto 0 autocentramento do jurista e o cerne da teoria positivista a respeito das formas possiveis de producio legislativa, mais do que aceitavel, é até bem-vinda. Transfere para o economista a tarefa de formulagao das politicas econémica e legislativa e atribui ao jurista uma tarefa de escriba ou no maximo intérprete dos objetivos fixados pelos economistas. Ora, em um quadro assim descrito € facil entender 0 porqué da aceitacao do poder econémico. Dentro da analise econémica do direito de marcada influéncia neoclassica, 0 poder econdmico é, como visto, algo a ser, na maioria dos casos, estimulado®2. d) Perspectivas Dentro de um quadro tio sombrio, parece a primeira vista dificil imaginar alternativas juridicas para movimento tao penetrante, capaz de invadir tantos ramos das cién' ociai Existem, entretanto, saidas vidaveis. Como com frequéncia ocorre nesses casos, 0 Unico raciocinio libertador é o antissistémico. Para escapar do racionalismo é necessdrio conjugar diversos raciocinios criticos e ser capaz de aplica-los a campos especificos. Assim, da Escola de Frankfurt, nascida de uma heranca histérica to triste em relagao ao poder econdmico, como é da Reptiblica de Weimar, pode-se emprestar a ideia de racionalidade comunicativa da relagao intersubjetiva por oposicao a racionalidade finalista das instituigdes do sistema. Da economia do conhecimento e da informagao e do estruturalismo é possivel retirar as reflexes centrais, difuséo de conhecimento e assimetria de informagao, delas concluindo por uma teoria econdmica procedimental, cujo objetivo é criar condigdes de um devido processo econémico, permitindo a inclusio mais ampla possivel de agentes econdmicos e que permita aos agentes formar suas proprias escolhas com o nivel de informacées mais equilibrado possivel. Ambas as ideias, da ago comunicativa e do déficit de conhecimento ou informacional, implicam e requerem o combate ao poder econdmico. Um dos maiores empecilhos A transmissao de informacées e 4 troca comunicativa é 0 poder econémico*, Concentrador de conhecimento e de informagées, nao sé desequilibra as relagdes instantaneamente como ainda permite a perpetuagao da relacdo de desequilibrio, j4 que impede que a parte sem poder adquira informacaio ou conhecimento. Consequéncia direta é entdo o desequilibrio das relacées do ponto de vista econémico e entio o desequilibrio de distribuigéo de renda. A relagao entre poder econémico concentrado e subdesenvolvimento é, nessa perspectiva, de implicacio necessaria. Saidas para esse problema, aparentemente de tao dificil solugao na histéria das ideias, podem ser exploradas. Todas elas exigem a rediscussao estrutural das relacées sociais ¢ inter-individuais. E interessante notar que até a propria teoria dos jogos, cujos pressupostos individualistas sio bem conhecidos, acaba por indicar esse caminho por meio de um raciocinio interessante. Em trabalho bastante relevante sobre o poder, K. Dowding demonstra como, na verdade, visto da perspectiva da teoria dos jogos o poder esta muito mais na estrutura das relagdes individuais que no proprio desequilibrio de forcas entre as partes. Essa estrutura acaba por determinar 0 comportamento do individuo (€0 caso, por exemplo, do dilema do prisioneiro)*4. Trata-se, evidentemente, de uma boa noticia, pois confirma aquilo ha pouco aventado, no sentido de que modificages estruturais s’io formas vidveis para a limitagao do poder na sociedade. Particularmente, dentro das organizagées sociais, é preciso estar atento aos determinantes estruturais que fazem com que individuos se comportem de maneira cooperativa ou estratégica. A Ultima forma de comportamento gera particular preocupagao em face dos abusos que podem dela decorrer. E preciso, portanto, incentivar o primeiro tipo de atitude, desestimulando o segundo. A anilise juridica do fendmeno do poder dentro da sociedade anénima insere-se dentro dessa linha de preocupagdes. Se é a organizagao que estrutura as relacées societérias e, portanto, cria e disciplina o poder, ela, e s6 ela, pode limita-lo. Fazé-lo é fundamental para reestruturar as relagdes societarias, estabelecendo formas de comunicagao entre acionistas e meios de informago que levem a um comportamento cooperativo*>. E preciso discutir, entio, com realismo, mas também idealismo, os limites estruturais e comportamentais ao exercicio do poder de controle*®, Afinal, 6 em torno da grande sociedade anénima, elemento fundamental da economia capitalista, que se deve estruturar parte importante de uma agenda reformista de nosso sistema econémico?”. Ocorre que a concentragao do poder econdmico, dentro e fora da empresa, é um 6bice extremamente relevante para o estabelecimento de agendas progressistas e transformadoras na sociedade, representando de fato instrumento de manutengao das estruturas reinantes e de suas vigas de sustentagao. Experiéncias histéricas relevantes demonstram essa relagao. A mais importante e tragica de todas 6 0 desaparecimento da Reptiblica de Weimar e 0 subsequente aparecimento do nazismo. Nao ha muita diivida entre os historiadores que estudaram o periodo que os fatores mais relevantes para o desaparecimento da experiéncia transformadora da Reptiblica de Weimar foram exatamente a tolerancia havida com o poder econémico (que, alids, s6 fez crescer nessa época) e com as estruturas de poder militar (que nao sé se mantiveram mas também se reforcaram)**. Ambas as instancias, poder econémico privado e poder militar, vieram mais tarde a fornecer as bases de sustentagao para o aparecimento do regime nazista. Tal fenémeno (entrelagamento entre poder econémico e militar) nao é estranho @ historia brasileira. Poder econémico e poder militar se unem a partir de 64 para garantir um longo perfodo de dominacao e, paralelamente, de retrocesso em termos sociais. Ora, a génese da lei societaria brasileira se da no periodo militar. Nao deve espantar, portanto, a relevancia dada por esta ao reforgo do poder no interior da organizacao societéria (0 poder de controle) visto como instrumento de fortalecimento da grande empresa privada nacional. O subscritor dessas linhas é de profunda convicg&o que a relevancia dada ao tema do poder de controle na lei societaria, ao reforcar e institucionalizar do ponto de vista juridico um fenémeno econémico que deveria ser limitado e regulado, sé contribuiu para distorcées e retrocessos econémicos, conservadorismo e dificuldade de reforma social e, ao contrario do que muitas vezes se afirma, atraso no nosso mercado de capitais*9. Uma visdo critica, disposta a oferecer elementos estruturais de limitagao do poder de controle parece, portanto, indispensavel. Calixto Salomdo Filho 1 “Macht und Gewalt sind Gegensatze: wo die eine absolut herrscht, ist die andere nicht vorhanden” ~ H. Arendt, Macht und Gewalt, 15a ed., Miinchen, Ziirich, Pipen, 2003. 2 Essa relacdo é particularmente bem ilustrada por B. de Jouvenel, na importante obra Du pouvoir: histoire naturelle de sa croissance, Genéve, Constant Bourquin, 1947, p. 140 e ss., para quem, ao contrario, a histéria demonstra que todo o poder leva a formacao de elites que tendem a agir em beneficio préprio. Basta que os objetivos sociais e democraticos deixem de ser continuamente perseguidos em comum e por todos e sua persecucao passe a ser atribuida a um grupo definido, ao qual a sociedade tem acesso apenas em_intervalos predeterminados, para que se forme uma elite, que adquire interesse préprio. Trata-se do exato oposto de H. Arendt, ou seja, de um raciocinio bem pessimista sobre qualquer forma de democracia nao direta, mas que sem diivida tem base fatica e no minimo clama por limites estruturais, dentro das organizacées, ao exercicio do poder por essas elites em seu interesse préprio.

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