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TEORIA DA COR AULAS Prof. Ed Marcos Sarro. ‘ntpsfunivitus.ninter.com/avaiwebsroal 2arosr2023, 11:12 UNINTER CONVERSA INICIAL Nesta aula, trabalharemos aspectos que dizem respeito a mecdnica da cor do ponto de vista fisiolégico e de como a luz se transforma em cor dentro de nosso cérebro. Também trabalharemos questées de referencial e relatividade, posto que, ainda que o ser humano seja o mesmo em todo lugar, as cores podem nao significar a mesma coisa em diferentes culturas e contextos. Essa relatividade também pode estar ligada a questées de gosto e preferéncia pessoal, ou mesmo étnica, que podem ter maior ou menor valor expressivo. Ou ainda, pode estar delimitada pelos limites da deficiéncia visual, o que requer um olhar diferenciado. CONTEXTUALIZANDO © trabalho com a cor requer, entre outras coisas, a compreenséo do seu uso como simbolo. Para isso, o designer precisa desenvolver repertorio cultural minimo de modo que conheca as nuances ¢ as particularidades de significado que uma cor ganha em diferentes contextos. Com a globalizacdo e a diversidade que caracteriza 0 nosso tempo, ndo s6 as demandas de mercado tém se tornado técnica e culturalmente mais complexas, como também tem sido mais frequente profissionais criativos de origens muito diferentes trabalharem em projetos comuns. De certa forma, isso desafiara a competéncia técnica e 0 potencial expressivo de um designer. Cabe a ele se preparar com conhecimento. TEMA 1 — O SIMBOLISMO DAS CORES 1.1 COR COMO INDICE Como vimos em aulas anteriores, a cor é, entre outras coisas, informagao, podendo conter em si mensagens cujo significado pode ser objetivo ou arbitrério, Se olharmos uma fruta como a banana Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 229 2aroaz02., 1:12 UNINTER (Figura 1), por exemplo, a aparéncia esverdeada pode significar que ela ainda nao esteja de fato madura e adequada para o consumo Figura 1 - Banana verde Créditos: Kaband/Shutterstock. A essa potencialidade de lermos uma mensagem na qual nao ha de fato uma vontade, chamamos de comunicagao visual néo intencional (Munari, 2005). © verde, aqui, ao contrario do que vimos no caso do sinal verde de transito, conota uma proibigo. Nao no sentido de lei ou de regra moral, mas sinalizando para o fato de que a fruta nao est boa para se comer. Aqui dizemos que a cor tem uma fungao indicial, ou seja, ela aponta para alguma caracteristica que é tomada como uma mensagem. 1.2 COR E SIMBOLISMO O verde pode ter outras conotacées e significados de acordo com o contexto, a cultura, a época € 05 usos e costumes. Na cultura popular, o verde é associado a esperanga, possivelmente devido a algo que Jung chamava de arquétipo: um objeto ou personagem usado para representar um conceito universal. Séo ideias que acabam se tornando parte do inconsciente coletive apés sua repeticao de geracao em geracao (Jung, 2008). Talvez o verde esteja relacionado & ideia de chegada da primavera, estagao das flores, das frutas e do ressurgimento das folhas nas arvores e da vegetagéo verde apés os rigores do inverno, Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 3129 2aroaz02., 1:12 UNINTER principalmente no hemisfério Norte. O verde representaria, assim, a esperanca de que, apés uma estaco cinzenta de frio, chegaré a primavera com o sol e 0 colorido das flores (Figura 2). Figura 2 - Campo de tulipas Créditos: Odd-Add/Shutterstock No mundo islamico, 0 verde é considerado uma cor importante e visto por alguns como um simbolo da religido (Figura 3). Figura 3 - Bandeira da Arabia Saudit OU —_—_——a Créditos: Loveshop/Shutterstock. O verde @ citado varias vezes no Alcorao, livro sagrado dos muculmanos, como a cor das vestimentas que sao usadas no Paraiso Islamico. Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 429 2aroaz02., 1:12 UNINTER J no futebol, o verde pode ser a cor do gramado ou a cor principal ou uma das cores de um time: Palmeiras, Coritiba, Chapecoense (Figura 4), Guarani e Goids, por exemplo, sao times do futebol brasileiro que tém o verde como cor-simbolo em seus brases, bandeiras e uniformes. Figura 4 — Bandeira do Chapecoense a, Créditos: CP DC Press/Shutterstock. Complementar ao verde, o vermelho tem sido uma cor muito popular ao longo da histéria e plena de significados e simbolismo. Vermelho é a cor da parte interna do utero (Figura 5) na qual ficamos submersos por aproximadamente nove meses da gestacao. Figura 5 — llustragao de feto no titero Créditos: Adike/Shutterstock, Ea cor do sangue e do planeta Marte, coincidentemente o deus da guerra dos antigos romanos. Cor associada 4 luta, a violéncia e ao impacto. Tradicionalmente, tem sido usada como a cor simbolo Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 5129 2arosr2029, 11:12 UNINTER dos partidos mais 4 esquerda do espectro politico, aludindo as lutas histéricas e revolugdes (Guimaraes, 2001). Mas & também a cor do Partido Republicano, a direita conservadora norte- americana, que tem por mascote um elefante (Figura 6) Figura 6 - O burro Democrata e o elefante Republicano Créditos: Handies Peak/Shutterstock, Também era, junto com o preto e o branco, uma das cores do Nazismo na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial (Figura 7). Figura 7 - Desfile na Alemanha nazista " Créditos: Everett Historical/Shutterstock Ficamos vermelhos de vergonha ou de raiva (Guimaraes, 2001) quando nossa conta fica no “vermelho", ou seja, sem dinheiro ou no cheque especial. Vermelho é a cor do cartao que expulsa o jogador do campo de futebol, mas o amarelo é para as faltas menos graves. O amarelo pode ser Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 8129 2aroaz02., 1:12 UNINTER indicador de fraqueza fisica, fome ou doenca (como a hepatite ou a ictericia) ou de desnutricdo. Mas pode ser também a cor do ouro, da riqueza (Petit, 2003), da realeza e do papado (Figura 8) Figura 8 - Bandeira do Estado do Vaticano Créditos: Millenius/Shutterstock. Por falar em papado, a cor complementar do amarelo, 0 roxe, est associada & espiritualidade e, no caso do carmim, sua variante, é a cor do episcopado na igreja Catélica (Figura 9), na Igreja Anglicana e na Igreja Metodista, por exemplo, Figura 9 - Bispo catélico Créditos: Alexandros Michailidis/Shutterstock. O azul é a cor do dito “sangue nobre’, do céu e das aguas, e, como ja citamos, a cor do planeta Terra quando visto do espaco. £ a cor do Partido Democrata nos Estados Unidos da América, E de marcas ligadas a Tecnologia (Petit, 2003), como a Microsoft. Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 729 2aroaz02., 1:12 UNINTER O preto conota sobriedade, descrigéo e, em alguns casos, elegancia (Negrao; Camargo, 2008) Cor muito usada em trajes de gala de algumas celebridades no Oscar. E a cor de forcas de elite, dos carros oficiais e de uniformes de algumas empresas de seguranca privada. Mas também é a cor do luto, associada & morte no Ocidente (Petit, 2003). J4 no Extremo Oriente, em paises como a China, por exemplo, é 0 branco que tem esse significado (Schmid, 2005). O branco é reconhecido universalmente como a cor da paz e da pureza (Petit, 2003). Até a Era Vitoriana, ndo era costume as noivas usarem vestidos brancos no casamento (Figura 10), mas a cor que quisessem. Figura 10 - Noiva em vestido branco Créditos: ATeam/Shutterstock Como parte do ambiente moral da Inglaterra sob os 64 anos do reinado da Rainha Vitéria, 0 branco passou a ser a cor dos vestidos de casamento, possivelmente por aludir a virgindade. A rainha inaugurou o habito ao se casar ela prépria de branco, numa atitude inovadora para a época (Malva, 2018), 1.3 COR E INDIVIDUALIDADE As cores so associadas a faixa etéria, estilo de vida e ao gosto individual. Eventualmente, tém a ver com percepcées internas, repertério pessoal e a maneira de cada um sentir 0 mundo e a realidade. Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 8129 2aroaz02., 1:12 UNINTER Em artigo do jornal A Fotha de Séo Paulo, o publicitario Lincoln Seragini, citando Rainer der Schulenberg, conta uma lenda segundo a qual Santa Rosa de Lima (Figura 11), numa tarde com um pér-do-sol muito bonito, teria encontrado pelo caminho uma mulher cega. Figura 11 - Imagem de Santa Rosa de Lima Créditos: Jairo Rosales/Shutterstock. Condoida pela situagéo, a santa teria curado a mulher da cegueira para que ela pudesse contemplar a luz e as cores daquele dia, No entanto, insatisfeita com o milagre, a mulher Ihe teria retrucado que, se aquelas eram as cores que Santa Rosa tanto prezava, ento que lhe devolvesse aquelas que ela, como cega, podia “enxergar" dentro de sua mente (0 lado..., 1988). TEMA 2 — A COR NA COMPOSICAO Como veremos mais a frente nesta aula, compor e combinar cores é uma tarefa que deve estar de acordo com o impacto emocional, psicolégico e simbélico que se pretende que as cores tenham sobre as pessoas que interagem com elas. € algo que esta além do gosto pessoal tanto do designer quanto do usuério final e envolve responsabilidade e profissionalismo (Figura 12), por se tratar de um assunto que diz respeito ao bem-estar de outras pessoas. Figura 12 - Designers trabalhando com cores Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 929 2arosr2023, 11:12 UNINTER Em projetos de design (ou outro tipo de trabalho criativo que implique 0 uso da cor) dizemos que a aplicacao da cor tem de ser feita com base em um objetivo claro e definido. A isso, damos o nome de composigae (Tai, 2018). Nesse processo, a cor deve se harmonizar nao sé com cores entre si, mas também com os outros elementos visuais(1] (Figura 13). Figura 13 - Composigao com tons de azul Créditos: Africa Studio/Shutterstock. Em geral, as formas de composigio envolvendo a cor dizem respeito a adequagio ao uso, & sua atratividade ao olhar do usuario, ao seu grau de visibilidade (por contraste) e a ilusdo que ela proporciona em termos de sensacées: distancia ou proximidade, extenso de area, temperatura (ja vimos), peso, consisténcia e expressdes subjetivas de alegria, leveza etc. (Tai, 2018). Na aula 4, comentamos sobre eventuais conflitos no uso da cor em combinagao com fontes inadequadas ou em situacdes em que a relago da figura com o fundo nao é favoravel em termos de cores. Além das questées sensoriais em si, que esto relegadas ao nivel mais objetivo da percepcéo Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 10129 2aroaz02., 1:12 UNINTER humana (com pequenas variacdes de pessoa para pessoa), ha também os impactos subjetivos da cor no Ambito das emocées e da mente. E, 8 vezes, até sobre a satide fisica e emocional. 2.1 EFEITOS PSICOLOGICOS DA COR Diz-se que a cor preta em roupas tende a afinar a silhueta de quem a veste, talvez porque © preto absorva a energia luminosa em vez de expandi-la. £ divulgado também que o vermelho excita (Silveira, 2015) e que tons pastéis tendem a acalmar. Tons pouco saturados de azul, amarelo, verde e rosa séo associados a bebés e tendem a ser usados em artigos infantis (Figura 14). para bebés Créditos: FamVeld/Shutterstock. Os uniformes de profissionais da satide j4 foram em sua maioria brancos e, ha alguns anos, foram substituidos por outros em um tom de azul ou verde azulado (Figura 15). Figura 15 -O azul no jaleco acalma o paciente Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 129 2arosr2029, 11:12 UNINTER Créditos: Pressmaster/Shutterstock Isso, segundo alguns, teria diminuido a incidéncia do efeito *jaleco branco", no qual uma pessoa tende a ter sua pressao arterial aumentada pela simples viséo de um médico ou enfermeiro vestido de branco. Como parte de um esforgo de humanizar a medicina pela cor, hoje ja se permitem tocas coloridas e com desenhos em pediatrias, na obstetricia e nas salas de parto de hospitais maternidades. Mesmo assim, os tons de cinza, bege e alguns tons de azul sao as cores mais comuns em paredes de hospitais (Figura 16). Figura 16 — Projeto de sala de espera de consultério Créditos: Alhim/Shutterstock. As relacdes entre cor e satide nao sao novas. A cromoterapia (Figura 17) é uma pratica que nao tem reconhecimento cientifico, mas que desde a Antiguidade é cultivada como recurso terapéutico Figura 17 — A cor em terapias alternativas Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 12R9 2arosr2029, 11:12 UNINTER Créditos: Kzenon/Shutterstock. Acredita-se, em alguns circulos alternativos, que dados os supostos efeitos benéficos da cor sobre o corpo ea mente (0 lado..., 1988) a exposicdo a luzes coloridas poderia trazer equlibrio e harmonia ao organismo como um todo. 2.2 AS PALETAS DE CORES Um conceito importante quando se considera o uso da cor numa composi¢éo (dados os impactos psicolégicos ou emocionais) é 0 de que as cores devem representar uma unidade com os demais elementos visuais da composigao. Essa unidade deve transmitir uma mensagem nao verbal, uma narrativa em termos de tema geral, ao qual damos o nome de paleta. © termo paleta faz referéncia direta & peca de madeira fina e chata, geralmente semicircular, em que artistas colocam pequenas por¢ées de tinta nas cores escolhidas e que vao misturar ou usar puras na tela que estdo pintando (Figura 18). Figura 18 — Artista com sua paleta Créditos: Kuznetcov_Konstantin/Shutterstock Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 13129 2aroaa023, 1:12 UNINTER, Normalmente, essas cores so coerentes com a temética da composigéo na qual o artista trabalha. No caso do design, a paleta é 0 conjunto de cores que, quando colocadas lado a lado na composigio, de modo estratégico, expressam estimulos uais de acordo com o discurso que se espera ser percebido ou recebido pelo observador (Figura 19). Figura 19 - A "paleta’ do designer — J ei = — — Créditos: Indypendenz/Shutterstock. — Podemos atribuir caracteristicas a cada paleta: uma paleta de cores frias (um arranjo de azuis, violetas e verdes) ou uma paleta de cores quentes, com tons de amarelo, laranja e vermelho. Uma paleta de tons terra, com variagdes de marrom, laranja e ocre. A isso chamamos também de esquemas de cores, e eles podem contemplar também temas: “chamativo’, "tranquilidade”, “jovial” etc. (Tai, 2018). No design de moda, as colegées de cada estacao (primavera, verao, outono e inverno) tendem a se organizar com base em paletas de cores da estaco (Figura 20) do ano ou a seguir as tendéncias da moda, da cultura, dos movimentos culturais e das preferéncias estéticas de uma época ou simplesmente do marketing. Figura 20 - Colecao outonal Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 14229 2arosr2023, 11:12 UNINTER Em épocas da Copa do Mundo da FIFA, é esperado que as confeccées lancem coleges que aludam as cores da Selecao Brasileira (Figura 21). Figura 21 - Mochila do torcedor Créditos: Reel2Reel/Shutterstock. Isso vale para outros setores que tém a cor como elemento de trabalho. Uma novela de televisao que tenha grande audiéncia pode langar tendéncia quanto a determinada paleta de cores. Nas empresas aéreas, por exemplo, desde os uniformes dos mecanicos, passando pelo balcéo de embarque e pelos crachas dos comissarios de bordo, até a pintura da fuselagem das aeronaves, tudo deve seguir a paleta de cores escolhida para transmitir 0 conceito da marca (Figura 22) além da mensagem comercial que a companhia quer passar aos clientes (Petit, 2003) e aos concorrentes, claro. Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 15229 2arosr2029, 11:12 UNINTER Figura 22 - Cores da tripulagdo Créditos: Mascha Tace/Shutterstock. TEMA 3 — ASPECTOS FISIOLOGICOS DA COR Compreender os aspectos fisiolégicos da cor é importante para o designer porque, em tiltima instancia, ele projeta para outras pessoas que nao sao ele proprio (apesar de supostamente ele também compartilhar das mesmas caracteristicas anatémicas e biolégicas de outros seres humanos). ‘Aqui sao levadas em conta as questées de experiéncia do usuario, uma vez que hé uma diferenca entre a cor do objeto em si (quando é uma fonte primaria da cor) e a percepsio da cor refletida pelo objeto. Considera-se, aqui, que aspectos fisiolégicos inerentes 4 sensacdo das cores influenciam a construcéo de sua percepgao cultural, como veremos mais adiante quando tratarmos de deficiéncia visual e cor. 3.1 A DINAMICA DA FISIOLOGIA DA VISAO CROMATICA A dinamica da visdo das cores esta intimamente ligada ao funcionamento de células dos olhos (Figura 23) altamente especializadas e que, em conjunto com o nero ético, transmitem para o cérebro a sensagao e a percepcao das cores (Guimaraes, 2001). Figura 23 — Corte do olho humano. Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 16129 2arosr2029, 11:12 UNINTER Créditos: ilusmedical/Shutterstock. A rigor a luz entra pela cérea e é captada pela retina, uma pelicula que envolve todo 0 globo ocular € em cujo fundo esto complexas terminacées nervosas que se conectam ao nervo ético (Guimaraes, 2001). No fundo da retina, encontram-se dois tipos basicos de células: os cones e os bastonetes (Figura 24). Os cones séo responsaveis pela percepcao das cores primérias, no caso, o verde, o vermelho ¢ o azul. Ja os bastonetes sao células que captam variagdes de claro e escuro (Silveira, 2015). Figura 24 — Detalhe dos cones e bastonetes CoE Rolla tole e) ce 1¢ de bastio Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 179 2aroaz02., 1:12 UNINTER Para vocé entender melhor o funcionamento do olho humano, tire um tempinho para ver seguinte video: . Na histéria recente da pesquisa no campo da éptica, alguns pesquisadores foram particularmente importantes na descoberta dos mecanismos que produzem a percepgao da cor pelos 6rgaos da viséo, como veremos. 3.2 YOUNG, HELMHOLTZ E KONIG, PIONEIROS DA OPTICA FISIOLOGICA Em 1801, 0 médico inglés Thomas Young (1773-1829) concluiu que a visdo da luz colorida é baseada em trés érgdos humanos fotossensiveis diferentes. Sua teoria foi batizada de Teoria Tricromatica da Visio das Cores e deu inicio aos estudos da Optica Fisiolégica modema (Silveira, 2015). Sua teoria foi posteriormente retomada pelos alemaes Hermann Ludwig Ferdinand von Helmholtz (1821 - 1894) e Arthur Kénig (1856 - 1901) seu colaborador. Helmholtz e Kénig concluiram que, de fato, trés tipos de células da retina (as fibrilas nervosas, também chamadas de cones, que veremos mais a frente) eram responsaveis pela percepcao das cores vermelha, verde e azul, consideradas aqui como cores primarias e que dariam origem a todas as demais (Silveira, 2015). 3.3 HERING E A PERCEPGAO PSICOLOGICA DA COR As teorias da Optica Fisiolégica sofreram oposicao de estudiosos que entendiam o fendmeno da percepcao da cor como também um fendmeno psicolégico, como Karl Ewald Konstantin Hering (1834 - 1918). Hering afirmava haver uma diferenca entre as cores-luz percebidas e as cores- pigmento opacas primdrias que estimulam a percepcao cromatica. Enquanto as cores-luz seriam de fato o vermelho, o verde e o azul, seus equivalentes pigmentos seriam o vermelho, o azul e 0 amarelo, traduzido para o verde na retina (Silveira, 2015). Com o passar do tempo, as teorias de Helmholtz e Hering passaram a ser vistas como duas facetas da mesma realidade: enquanto o primeiro trabalhava a percepgao da cor, 0 segundo se ateve mais a aspectos da sensa cromatica, ambos com base na fisiologia da visdo da cor (Silveira, 2015). 3.4 MAXWELL E A JUNCAO DE TEORIAS Em 1859, 0 escocés James Clerk Maxwell (1831-1879) demonstrou algo nessa linha ao obter uma imagem em cores por sintese aditiva, ou seja, a partir de cor-luz, O proceso tricromético de Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 18229 2arosr2023, 11:12 UNINTER percepcao/sensacao das cores pela visio se da pela selecdo das cores percebidas por meio de sua decomposicao em cores primérias (Silveira, 2015). 3.5 COR E VISAO: INSEPARAVEIS? Como vimos até aqui (salvo alguns casos em que supostamente a percepgao sensorial da cor tenha se dado por outros sentidos adaptados), os érgéos humanos responsaveis pelo registro da cor sdo os olhos e o nervo ético. Isso implica dizer que, geralmente, os seres humanos (e alguns animais) precisam da visdo (Figura 25) para incorporarem a informagéo de cor ao seu repertério funcional. Figura 25 - A cor “esta” nos olhos Créditos: Kuttelvaserova Stuchelova/Shutterstock Como veremos adiante, ainda nesta aula, em anos recentes ocorreram iniciativas por parte de designers no sentido de proporcionar meios de incluséo e acessibil idade para que pessoas com deficiéncia visual experimentem a sensagao de cor, por meio do tato e de sistemas de codificagéo que utilizem outros recursos que nao a visio. TEMA 4 - CONFORTO VISUAL A aplicagao adequada de um arranjo cromético em determinado suporte ou no espaco também diz respeito ao nivel de conforto visual que ela pode trazer ao observador (Figura 26) Figura 26 — Conforto também no que e como se vé Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 19129 2arosr2029, 11:12 UNINTER Créditos: Fizkes/Shutterstock. Além dos aspectos relativos cor que dizem respeito ao funcionamento explicito dos érgaos da visio, ha também questdes praticas e funcionais no uso das cores quanto aos efeitos que a organizacao ou © posicionamento de cores entre si e destas em relagéo ao contexto que incidem sobre 0 observador (Schmid, 2005). 4.1 CONFORTO VISUAL E A COR NO AMBIENTE FISICO Conforto visual aqui diz respeito, na maior parte das vezes, 4 escolha e 4 combinacao de cores no ambiente fisico, desde as cores de paredes e outros elementos arquiteténicos, de portas, vidros de janelas e da iluminagdo, além da textura e da superficie de méveis e objetos: "[...] uma cor quente como 0 laranja, aplicada em mais de uma parede, pode tornar-se sufocante. O couro e madeira, nos seus tons naturais, reforcam a sensacdo tatil e calor visual” (Schmid, 2005, p. 311) A iluminacao do espaco pode tanto valorizar quanto prejudicar a percepgao das cores de objetos e do ambiente, tornando-os cansativos ao olhar e pouco atraentes (Idem, 2005). A cor das coisas e dos espacos pode ser manipulada pelo manejo proposital da luz ambiental de modo a criar sensagdes nos usuarios (Tai, 2018), como na iluminagao de centros culturais, exposicdes, eventos e espetaculos. Sobre isso falaremos mais na aula 6, especificamente na aplicagdo da cor em ambientes construidos, atividade afim ao Design de Interiores. 4.2 CONFORTO VISUAL E A COR NO AMBIENTE VIRTUAL Acreditamos que, no que diz respeito ao conforto visual, normalmente o que vale para o espaco fisico, também vale para o ambiente virtual, o ciberespago. Talvez com mais severidade posto que a tela do computador, tablet ou smartphone esteja mais proximo do usuario do que o ambiente Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 20129 2aroaz02., 1:12 UNINTER circundante, aumentando sua exposigdo ao que de bom ou ruim certa paleta de cores pode trazer (Figura 27). Figura 27 - A tela como desconforto, Créditos: Leszek Glasner/Shutterstock. Além disso, a temperatura da cor pode ter efeitos de maior ou menor conforto (ou até mesmo desconforto) para os olhos do observador e isso esta ligado, em tiltima instdncia, a questées de Ergonomia (Tai, 2018). Falaremos mais sobre esse assunto na aula 6. Como auxilio ao processo de escolher cores que se harmonizem de forma integrada e tornem confortével a experiéncia do usuario, existe um site chamado Coolors () no qual vocé pode gerar suas paletas de acordo com o projeto. 4.3 CONFORTO VISUAL E ESCOLHAS Como complemento a tudo o que vimos até aqui, inclusive quanto aos impactos da cor sobre o usuario final, entendemos que o conforto visual proporcionado por determinado arranjo de cores pode influenciar as suas decises de compra e de uso (Figura 28) Figura 28 - Escolha de cores “confortaveis” Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 21129 2arosr2029, 11:12 UNINTER Créditos: Leszek Glasner/Shutterstock. Aqui nos referimos nao s6 a questées de gosto ou preferéncia pessoal, mas como a cor influencia a decisio de compra por conta do nivel de conforto visual que ela proporciona ao usuario ou consumidor. No caso do projeto grafico, isso envolve a compreenso e a aplicacdo coordenada dos contrastes simulténeos e consecutivos (Tai, 2018). £ 0 caso, por exemplo, de quando se usa o preto com 100% das outras cores CMYK na composicao de um texto impresso. As outras cores tendem a se sobressair criando ruido na leitura, principalmente se o texto for em fonte pequena. O ideal é zerar as outras cores e deixar o preto puro. Vocé poder entender isso melhor vendo este video: . A questao nao se restringe as fontes e outros elementos graficos, mas também a prépria cor do papel, sua textura ou se ele tem brilho ou & fosco, influenciando o impacto da cor impressa. Em embalagens, por exemplo, isso é particularmente importante por conta da concorréncia com outros produtos na géndola (Negro; Camargo, 2008) e também por causa de estimulos advindos da comunicagao visual ambiental e das cores internas da loja TEMA 5 — ACESSIBILIDADE, INCLUSAO E COR Nos ultimos anos, tem aumentado no mundo e no Brasil o nivel de atengao para com as questde envolvendo a acessibilidade e a inclusdo de pessoas com deficiéncia a produtos e servicos (piblicos privados) por meio do design inclusivo ou de acessibilidade (Figura 29). Figura 29 - Simbolo internacional de acessibilidade Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 22129 2arosr2029, 11:12 UNINTER Créditos: lvsanmas/Shutterstock. A partir da assinatura da Lei Nacional da incluso, em 16 de julho de 2005 e apoiadas nas Normas 9050 da ABNT, que tratam da acessibilidade, intensificaram-se a¢ées e iniciativas no sentido de usar 0 design como ferramenta para a incluso de pessoas com deficiéncia a processos, espacos € eventos antes restritos a pessoas sem deficiéncia. Essas agdes contemplam individuos com dificiéncias diversas: motoras, visuais, auditivas, intelectuais; permanentes ou momentaneas (ABNT, 2015). Em alguns casos, acreditamos que isso possa abranger também o analfabetismo funcional, que apesar de nao ser uma deficiancia de fato, é um fator de exclusdo porque limita a pessoa ao acesso de importantes aspectos do mundo letrado por conta do nado dominio pleno do sistema de leitura e escrita. 5.1 DEFICIENCIA VISUAL E A COR No caso das pessoas que tém disturbios de visio das cores, a construcéo de mundo subjetiva relativa as cores esta baseada na maneira como fisiologicametne elas apreendem a informacao cromatica e a processam em seus cérebros. Na verdade, nao se trata de de uma questéo de inferioridade, mas de uma forma diferente de ver as cores do mundo (Silveira, 2015). Numa cultura ou em um contexto em que o azul hipoteticamente fosse a cor para o sinal de “Pare” (ou por conta das dificuldades com viséo da cor vermelha, em certos tipos de daltonismo) toda a construgao simbélica relativa a associagdo do vermelho com o conceito de proibigéo deveria ser repensada por alguém vindo de outro principio normativo (Silveira, 2015). © design inclusivo, no que diz respeito & deficiéncia visual, tem buscado incluir a pessoa cega, com baixa viséo ou com daltonismo no universo da cor, por meio de solugdes que envolvem a sinestesia entre visdo e tato ou, no caso da nao viséo ou viséo parcial de cores, 0 uso de cédigos de equivaléncia Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 23129 2arosr2023, 11:12 UNINTER 5.2 A COR PERCEBIDA POR OUTROS SENTIDOS Em alguns museus e espacos culturais do Brasil, o Museu Oscar Niemeyer (MON) em Curitiba (Figura 30), como a Pinacoteca do Estado de Séo Paulo (Figura 31) ou o Museu da UFRGS, em Porto Alegre, existe a preocupacao de tomar os acervos téo acessiveis quanto possivel & pessoa com deficiéncia. Figura 30 - Museu Oscar Niemeyer, Curitiba-PR Créditos: RM. Nunes/Shutterstock. No caso dos deficientes visuais, isso se da por meio de solugées que envolvem audio descrigao, as legendas em Braille e 0s objetos didaticos acessiveis em que, por exemplo, sao reproduzidas em escala reduzida obras de arte de escultura para serem tateadas com a mao e os dedos. Figura 31 - Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 24129 2arosr2029, 11:12 UNINTER Créditos: Cifotart/Shutterstock. As pinturas sao reproduzidas por meio de texturas tridimensionais que tentam se aproximar do efeito e da expressdo que o artista queria ori inalmente criar pela combinagéo dos elementos pictéricos, inclusive a cor. 5.3 A COR CODIFICADA Uma maneira de tornar a percepgao de cores acessivel 4 pessoa com deficiéncia visual associar cada cor ao toque da textura (Figura 32) de objetos ou materiais que séo de uma cor especifica (entender a cor marrom, por exemplo, ao tocar a terra ou o tronco de uma arvore) ou relacionar cada cor com uma sensagao fisica ou emocional (Wikihow, s/d). Figura 32 - Cascas de arvores sao riisticas e marrons Créditos: Sutham/Shutterstock Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 25129 2avoar2029, 11:12 UNINTER Recentemente, professores e alunos do curso de Engenharia Mecénica da UFPR (Universidade Federal do Parana) desenvolveram um sistema baseado no Braille que ajuda cegos a identificar cores (UFPR, 2017). Ele € complementado por um “reldgio” triangular que relaciona as cores do circulo cromitico com a posigao das horas no sistema analégico. Veja mais em: . riadoras-d odigos-de-cores-para-deficientes-visuais-palestra Para os daltdnicos (pessoas que nao veem cores ou que as veem alteradas), o sistema ColorADD, criado pelo designer portugués Miguel Neiva (Costa, 2016) se baseia nas cores primérias (azul, vermelho e amarelo): cada cor tem seu simbolo grafico especifico e por meio de combinagdes dos simbolos entre si se faz a indicacao de diferentes cores. Veja mais em: Ambos os sistemas podem ser titeis em situacdes do dia a dia, como comprar uma roupa numa loja, por exemplo, uma vez que tornam a pessoa com deficiéncia visual menos dependente da ajuda de um vidente. Também & uma maneira de tornar mais eficaz a ajuda que se venha a dar ao deficiente. TROCANDO IDEIAS Neste Trocando Ideias, voc usaré o forum on-line para discutir com os seus colegas os resultados obtidos nas atividades do Na Pratica desta aula sobre as cores dos times de futebol, sobre © uso da cor nos sites e sobre o livro Flicts do Ziraldo. NA PRATICA Vamos fazer alguns exercicios para fixar os contetidos vistos nesta aula: 1. Vocé sabe o significado da cor do seu time do coragao? Pesquise na internet ou converse com amigos e descubra mais sobre isso. 2. Visite pelo menos trés websites de internet diferentes e avalie o uso da cor em cada um deles. Faca uma comparacao, analisando aspectos positivos e negativos quanto ao conforto visual. 3. Vocé conhece a livro Flicts, de Ziraldo? Juntamente com O Menino Maluquinho (também de autoria de Ziraldo) ele j4 se tornou um classico da literatura infantil no Brasil, tendo varias edi¢des. Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 26129 2aroaz02., 1:12 UNINTER Procure na biblioteca da universidade ou mesmo na biblioteca publica de seu bairro ou de sua cidade um exemplar de Flicts ¢ leia a histéria da cor que nao tinha um lugar no mundo. © que sera que Ziraldo quis dizer com essa metéfora? FINALIZANDO Concluimos mais esta aula esperando que vocé tenha aproveitado bem o contetido apresentado quanto a simbologia da cor do ponto de vista subjetivo e a importancia de compor as cores de uma maneira objetiva, de acordo com os requisitos de um projeto. Também vimos um pouco sobre como se processa a percepgio da cor por meio de nossos olhos e do nosso cérebro e como a cor pode influenciar nossa sensagéo de conforto visual e afetar nosso bem-estar como um todo. Por fim, aprendemos que mesmo quem nao vé de forma plena pode ter acesso a cor por meio de outros sentidos e que o design tem um papel importante nesse proceso de inclusao. REFERENCIAS ABNT. NBR 9050. Acessibilidade a edificacdes, mobilidrio, espacos e equipamentos urbanos. 3. ed. Rio de Janeiro: ABNT, 2015. CANAL DO VERONESE. Olho humano, a super maquina. Disponivel em: . Acesso em: 23 jan. 2020. COLORADD. Color identification system. Disponivel em: . Acesso em: 23 jan. 2020. COOLORS. The super fast color schemes generator. Disponivel em: Acesso em: 23 jan. 2020. COSTA, |. C. Miguel Neiva: mundo colorido. Disponivel em: . Acesso em: 23 jan. 2020. DS TUTORIAIS, Cuidados no uso das cores em impressos/producdo gréfica. Disponivel em . Acesso em: 23 jan. 2020. Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 278 2aros2029, 11:12 UNINTER GUIMARAES, L. A cor como informagao: a construcao biofisica, linguistica e cultural da simbologia das cores. Séo Paulo: Annablume, 2000, IQARAISLAM. Simbolos do islamismo. Disponivel em: . Acesso em: 23 jan. 2020. JUNG, C. G. © homem e seus simbolos. S40 Paulo: Nova Fronteira, 2008. MALVA, P. Como a Rainha Victoria influencia os casamentos até hoje. 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Acesso em: 23 jan. 2020. hitpslunvitus.unintr.comfavalwebiroa! 28129 2arosr2029, 11:12 UNINTER [1] Nés ja trabalhamos um pouco isso quando tratamos da harmonizagao de cores por meio de contrastes. Hitps:lunivitus.uninter.comfavalwebiroal 29129

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