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I CURSO DE ECOGRAFIA

MUSCULO-ESQUELETICA BÁSICO
PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE
Ângelo Ferrão, DO, MSc

Modulo I. Ecografia Básica


Ecografia Básica I.
• Aspetos gerais da ecografia;
• A física da ecografia e o efeito piezoelétrico
INTRODUÇÃO PRINCIPIOS DA PRODUÇÃO DE ULTRASONS

Este manual de estudo do curso de ecografia musculo As ondas ultra sónicas são produzidas pelo efeito
esquelética foi elaborado com o objetivo de apresentar uma piezoelétrico, isto quer dizer que quando se aplica uma
síntese desta modalidade de diagnostico. corrente elétrica de alta frequência a um cristal de quartzo
obriga-o a vibrar produzindo ondas mecânicas.
O emprego generalizado das ondas ultrassónicas no meio
médico e paramédico incentivou-me a apresentar a minha Ora: o efeito contrario também existe, isto é quando se
experiencia nessa matéria. Os inúmeros trabalhos de submete um cristal de quartzo à ação de ondas mecânicas ele
investigação neste domínio demonstram que é um método de vibra e emite uma corrente elétrica equivalente à frequência
diagnóstico por imagem muito útil no meio clinico desde que e intensidade das ondas recebidas.
os seus princípios sejam corretamente assimilados pelo
É nisto que se baseia a ecografia.
profissional.
Com o evoluir da eletrónica, as laminas de cristal de quartzo
foram substituídas por um tipo de cerâmica ( normalmente
Revisão Histórica Zircónio de chumbo com titânio) que produz as ondas
mecânicas (sonoras).
Os ultrassons são ondas mecânicas que se situam no espetro
acústico para alem do limite audível, o qual é inferior a 20.000 Os geradores de ultrassons em ecógrafos funcionam de modo
Hz para os seres humanos e 25.000 Hz para os cães. duplo, não só produzem os ultra sons como também os
recebem, isto é os cristais neles instalados são submetidos à
Estas ondas foram descobertas em 1794 por Spallanzani que
Acão de correntes elétricas de alta frequência, entre os 2 e 28
era ele próprio surdo. Ele reparou que o simples facto de
MHz. Eles vibram na mesma frequência emitindo ondas
tocar as cordas de um sino fazia os morcegos fugirem do
sonoras que penetram nos tecidos sofrendo várias ações
campanário, pelo que ele concluiu pela existências de ondas
físicas tais como: absorção, refração, dispersão e reflexão. São
que só os morcegos ouviam.
estas ondas refletidas, a que chamamos ecos, que são depois
Foi a seguir pelos trabalhos de LANGEVIN (1872-1946) que a captadas pela mesma sonda que os emitiu transformando-as
ação biológica (sobre os peixes) dos ultrassons foi em corrente elétrica que é medida pelo aparelho.
compreendida.
Então agora chegamos aquela fase que vos falei no vídeo em
VOSS em 1933 foi o primeiro utilizador dum gerador de que as sondas são chamadas de TRANSDUTORES.
ultrassons de modo piezo elétrico ( descoberta feita por
Isto porquê? Porque um transdutor é um dispositivo capaz de
Pierre Curie) para fins terapêuticos.
transformar ou converter uma determinada manifestação de
Douglas Howry e Joseph Holmes desenvolveram um sistema energia de entrada em outra diferente saída. Portanto
de ecografia por imersão num tanque de água em 1957 e transforma a energia elétrica em energia mecânica (som) e
obterem imagens em 2 dimensões de estruturas orgânicas. O vice versa transforma a energia sonora refletida pelos tecidos
inconveniente era que as pessoas tinham de ser submergidas em energia elétrica.
numa banheira mas eles foram os precursores dos ecógrafos
Como certamente já perceberam, para interpretar
que temos hoje.
corretamente o estudo da ecografia é necessário ter
A evolução continuou com um grande interesse pela classe conhecimentos, embora básicos, sobre os princípios físicos
cientifica que levou à publicação de vários artigos científicos que envolve a produção de imagens por este método.
até que em 1972 foi publicado por McDonald and Leopold o
primeiro exame de uma articulação humana seguindo-se,
entre outros a publicação de um trabalho de Gompels e
Darlington em 1981 sobre a aspiração articular eco guiada.

Na década de 90 com os avanços tecnológicos conseguiram


melhorar os aparelhos permitindo a digitalização completa do
processo e a visualização das imagens num ecrã de
computador.
Como disse antes, a possibilidade do aparelho emitir e Tecido Velocidade Densidade
receber ultrassons faz com que o posterior processamento
eletrónico dos ecos ( som refletido) seja transformado em
imagens das distintas interfases tecidulares e estruturas Ar 20º 334 0,0013
corporais. Gordura 1470 0,97

DEFINIÇÕES Agua a 35º 1498 0,99

Alguns parâmetros utilizados frequentemente em ecografia Musculo 1568 1,04


são: Osso 3600 1,7

Frequência; material que atravessam sendo a velocidade inversamente


proporcional à compressibilidade do meio. As moléculas nos
Velocidade de propagação; tecidos que se conseguem comprimir mais estão mais
Interação dos Ultrassons com os tecidos; afastadas umas das outras pelo que o som se transmite com
menos velocidade.
Angulo de incidência-atenuação;
Daqui concluímos que no ar as moléculas estão tão afastadas
Frequência de repetição de pulsos.
que ele tem uma capacidade de se comprimir muito grande
logo a velocidade de propagação é lenta e as estruturas que o
Frequência contém não podem ser avaliadas por ultrassons.

A frequência é o numero de repetições por unidade de tempo


de qualquer processo periódico. Interação com os tecidos
Uma onda sonora é um fenómeno mecânico caracterizado Quando uma onda de ultrassom atua sobre um tecido do
pela vibração das moléculas do meio onde se propaga. As corpo as suas moléculas são estimuladas e como disse antes,
moléculas sofrem pequenas mudanças de pressão chocando a energia transmite-se de uma molécula a outra adjacente.
entre si e transmitindo a sua perturbação.
Como sabemos a estrutura molecular difere de tecido para
Imaginemos que atiramos uma pedra para um lago calmo, o tecido e portanto a velocidade do som é diferente em cada
efeito é uma criação de ondas que se propagam uma atrás um, esta propriedade é chamada de impedância acústica e é
das outras como consequência de um efeito mecânico definida como a multiplicação da densidade do tecido pela
provocado pela energia da pedra a cair na agua. Nesse caso a velocidade de propagação nesse tecido (Z=DV).
frequência dessa onda será o numero de ondas que passam
Por aqui já imaginamos que quando juntamos dois tecidos
por um determinado ponto num tempo definido (por
com impedâncias acústicas diferentes acontecerá alguma
segundo ).
coisa quando a onda sonora passa de um tecido para outro e
A frequência de uma onda de ultrassom será portanto o isso acontece na linha que os separa a que chamamos de
numero de ondas em um segundo ou hertz (Hz) e ela interfase.
depende da distancia entre o topo de uma onda e outra que
chamamos de comprimento de onda. Tecido 1 Tecido 2

Velocidade de propagação

Como disse a propagação da onda sonora deve-se à vibração


das moléculas do meio onde se propaga portanto essa
velocidade deverá variar conforme a quantidade de moléculas
numa determinada área do meio, portanto a densidade e a
capacidade dessas moléculas se afastarem umas das outras, Quando ambos os tecidos têm a mesma impedância acústica
isto é a compressibilidade do meio. não há alteração dos parâmetros da onda e portanto não
haverá reflexão da onda isto é não se produz eco. Se a
Portanto concluímos que a velocidade de propagação do som diferença for muito grande na interfase, toda a onda sonora
varia em função da densidade e compressibilidade do
será refletida.
Como é lógico entre as duas situações limite haverá uma de propagação.
grande quantidade de variações da intensidade do eco.

Com a aplicação da tecnologia digital estas variações


Frequência da repetição dos pulsos
apresentam-se no ecrã como vários níveis de cinzento
formando-se uma imagem monocromática, bidimensional da Como disse anteriormente o transdutor funciona como um
intensidade do eco e em qualquer ponto corresponde ao gerador de ultrassons e como um recetor, ou seja: num
brilho da imagem naquele ponto normalmente 256 níveis de momento chega eletricidade de alta frequência aos cristais e
cinza. fá-los emitir US, depois cessa essa emissão e recebe os ecos
transformando-os em eletricidade que é analisada pelo
aparelho. Portanto o transdutor não gera US de forma
Quando se emprega esta escala de cinzentos , as reflexões continua mas pulsada trabalhando assim em dois ciclos: emite
mais potentes isto é os ecos que se recebem no transdutor, US—recebe os ecos—emite US—recebe os ecos.
são vistos no ecrã como um tom branco intenso
A quantidade de impulsos elétricos enviados aos cristais para
(hiperecoicos), os mais fracos variam nos diversos tons de
emitir US, durante 1 segundo chama-se frequência de
cinzento sendo denominados, conforme o grau, em
repetição de pulsos (PRF). A “PRF” determina, portanto o
isoecoicos, hipoecoicos. Quando não há reflexo aparecem em
intervalo de tempo entre as duas fases, isto é o tempo entre a
preto e denominam-se anecoicos.
emissão e a receção do eco. Isto tem de ser muito bem
coordenado de modo que um pulso de US seja emitido e
alcance um determinado ponto numa profundidade
Angulo de incidência.
pretendida e volte sob a forma de eco para ser analisado pelo
Tentemos apontar a luz de uma lanterna para um espelho. aparelho.
Verificamos facilmente que conforme o angulo que os raios
Então já podem imaginar que o PRF não é igual para todas as
luminosos alcançam o espelho são refletidos de vários modo e
situações pois depende da profundidade da imagem.
se os fazemos incidir exatamente de modo perpendicular ao
Normalmente varia entre 1000 e 10000 kHz.
espelho eles refletem exatamente para a lanterna.

Quando pensamos nos ultrassons acontece exatamente o


mesmo, a intensidade com que o feixe de ultrassons reflete TIPOS DE IMAGEM ECOGRAFICA.
nos tecidos e é captado pelo transdutor depende do angulo
Existem três modos básicos de apresentação das imagens
com que os fazemos incidir nos tecidos. A reflexão é máxima
ecográficas:
quando a onda sonora incide perpendicularmente à interfase
entre os tecidos. Se o eixo da onda se afasta alguns graus da Modo A– De amplitude foi o utilizado inicialmente para
perpendicular o som refletido não regressara ao transdutor e distinguir estruturas quisticas mas atualmente só é empregue
não será detetado ou só o será em pequena quantidade. É excecionalmente para exploração oftalmológica.
muito importante ter em conta este fenómeno e conseguir um
método fino e preciso de avaliação.

Atenuação

À medida de os US se propagam pelos diferentes tecidos


passam pelas varias interfases e vão perdendo potencia
diminuindo de intensidade progressivamente conforme vão
incidindo em estruturas mais profundas, este efeito é
conhecido como atenuação e é dependente da absorção e da
dispersão.

Na absorção a energia mecânica do US é transformada em


energia sob a forma de calor.

Na dispersão a energia mecânica do som é desviada da linha


Modo M—De movimento utilizam-se para criar imagens de y lesiones en el deporte. Barcelona: ed: Masson
estruturas moveis e para avaliar os batimentos cardíacos
(2005).
fetais e na maioria das imagens cardíacas pois permite
analisar alterações valvulares. -Barceló, P. Iriarte, I. Ecografía musculoesquelética.

Atlas ilustrado. Sociedad española de médicos de

familia Madrid: Ed. Panamericana (2016).

-Bradley, M., y O´Donell, P. Atlas of Musculoskeletal

Ultrasound Anatomy (2ª ed.). New York: Ed.

Cambridge University Press. (2010).

-Bueno, A. del Cura, J.L. Ecografía musculoesquelética

esencial. Madrid: Ed. Panamericana (2013).

-Jiménez Díaz. Nivel 1 Iniciación. Eco

Modo Musculoesqulética. Ed Marbán. 2017


B—De bidimensional, é o mais utilizado e apresenta-se como -Martinoli, C. y Bianchi, M. Ecografía
uma imagem anatómica bidimensional que diferencia as
estruturas em varias variações de cinza (256). Musculoesquelética. Madrid: Ed: Marbán. (2011)

É a ecografia em tempo real que utilizam a maioria dos


aparelhos.

É uma imagem que se obtém pela análise da soma dos ecos


detetados em duas direções, é uma imagem dinâmica pois o
aparelho obtém várias imagens por segundo.

Bibliografia

-Balius, R. y Pedret, C. Lesiones musculares en el

deporte. Madrid: Ed: Panamericana. (2013).

-Balius, R. Y Salas J. Ecografía Musculoesquelética

Badalona: Ed. Paidotribo. (2007).

-Balius, R., Rius, M., y Combalia, A. Ecografía muscular

de la extremidad inferior. Sistemática de exploración

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