Você está na página 1de 15
MIGUEL TEDESCO WEDY PAULO THIAGO FERNANDES DIAS + Organizadores + PRISOES E MEDIDAS CAUTELARES NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO Alana Locatelli Lazzari Arima da Cunha Pires Augusto Tarradt Vilela Eduardo Caetano Lemos, Elizane Santos da Cunha Gabriela Ruschel de Lia Pires, Guilherme de Mattos Fontes Maria Eduarda Vier Klein Miguel Tedesco Wedy Paulo Thiago Fernandes Dias Pierre Augusto Fernandes Vanderlinde Sara Alacoque Guerra Zaghlout Suellen Cristini Basitio TTafate Viana Dias Vilela 33.4329 454 Hasitus PAC Florianépolis 2022 Conytight© 2022 by Miguel 100 Wedy & Paulo Thiago Forandes Dias Prodopdo Eltrat: Habitus Sttora Etor Ros Capa e Di A idias 0 opinions expraseas nest io sto do exclusiva esponsabilidado sponsiva: sao! Vita lagramaglo: Conrado Estoves dos Autos, rdo rele, secessariamonta.aapiniao desta Elio. (GONSELHO EDITORIAL: ‘toni Cais Bes Po fn masvom) lane Horacio Wanda Rockies ito Macedo de Souza org ule Vita Sis eaten Difta Esco Prune ose Sepia Sve cetera Eemunde Jord do Sastor Jin ‘an Gain Veszula Gao eaves Wa rene Educ do Catalogo ‘iano Kater do Valo se ‘Uinwresnonice ‘las Rocha Gongavos aure Sstoee IPoutb-cresPentacoutecunpacremn cute | tn famando in tx Gama Lobo SEs ercie Gomes Sve Baar Vr eusctack areleGuzope Dantas Fronetee Bisel Fhe Naareno Marcio tee Urse-relouimaaruse yon Goncalves Prato Treo Brandi Eelisc-esneanse tra ‘wage WED. Mu Tes, eR: OS, Pao Togo Fans, Pisses ¢MadiesCoutlres no Pocass0 Pena Bratato 1 Aea LeesiliLaaza etal: Orgazaderos: gua, Tedasz0 Wody o Pato Thag0 Frnendes 8s ‘ed, lindo Habs, 2022 1089: 14x21 om ISON: 97665.60806-60.0 1. ProceseoPana!2 ses 3. Mosdae Cates - Bast, Tus covets probiaareproaio ttl ou purl por quiquer malo ouprocost, neste auto serios. Avoueio ce dts sutras canst cena 261 660,206 90, Lae” 10.608, 8 OU/Z005, ejlanso-e9 poaredooindoagds eres LalePO.St0i00. w Tedos os dratoe costa ocgdo reservados a Habitus Eatora. hablusadtora conbr = hebluzadtora@gral com son? Franelchoto SUMARIO APRESENTACKO... 1. A ORDEM PUBLICA COMO FUNDAMENTO DA. PRISAO PREVENTIVA NOS CASOS DE TRAFICO DE DROGAS wvannsn 11 Miguel Tedesco Wedy Alla Locatelli Lazzari 2. APRISAO DOMICILIAR E A JURISPRUDENCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL... Arima da Cunha Pires Pierre Augusto Fernandes Vanderlinde 3, AS CAUTELARES ALTERNATIVAS A PRISAO £ SEUS LIMITES.... Augusto Tarradt Vilela Tafoue Viana Dias Vilela 4, 0 ARRESTO E 0 SEQUESTRO COMO MEDIDAS ASSECURATORIAS. Gabriela Ruschel de Lia Pires Eduardo Caetano Lemos 5. A SINTONIA FINA ENTRE A PRISAO TEMPORARIA E UM ARQUETIPO DE ESTADO POLICIAL: A TORTURA CONTINUA? 127 Paulo Thiago Fernandes Dias Sara Alacogue Guerra Zagilout RISDES EMEDIORS CAUTELARES NO PROCESSO PEHAL BRASILEIRO dos%20Tribunais/44818/informativo-789-do-st-2015. Acesso em 18 de jan, 2022, DOTTI, René Ariel. Bases ¢ alternativas para o sistema de penas. 2. ed, Sio Paulo: Revista dos Tribunais, 1998. GOMES, Maus Alun de Melu, Principio du proporcionalidade ‘extingao antecipada da pena, So Paulo: Lumen Juris, 2008. JAKOBS, Giinther. A imputacZo objetiva no direito penal. Sio Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. LOPES JUNIOR, Autry, Diteito processual penal. 17. ed, Sio Paulo: Saraiva Educagio, 2020, MIRABETE, Julio Fabbrin Paulo: Atlas, 2005. NUCCI, Guilherme de Souza. Cédigo de Processo Penal Comentado, 13 ed. Rio de Janeiro: Forense: 2014 oe OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisio: um paradoxo social. 2. ed. ver. ampl. Florianépolis: Editora da USC, 1996. Processo Penal. 17. ed. ver. e atual, Sio ROSA, Alexandre Morais ds. Guia do processo penal conforme teoria dos jogos. 6. ed. ver., atual. ¢ ampl, Florianépolis: EMais, 2020. RUDOLFO, Fernanda Mambrini. A dupla face dos dircitos funds mentais. Petr6polis: KBR, 2012, SALIBA, Marcelo Gongalves, Justiga restaurativa paradigma puni- tivo, Curitiba: Jurus, 2009. STRECK, Lenio Luiz. Se Supremo deve obedecer i voz das ruas, qual & o valor da Constituigio? Artigo publicado no portal Consul- tor Juridico, 28/04/2018. Disponivel em: https//www.conjur.com. 'b1/2018-abr-28/observatorio-constitucional-stf-obedecer-vor-ruas~ ~qual-valor-constituiesotimprimir=1. Acesso em 22/09/2021. % 3. AS CAUTELARES ALTERNATIVAS A PRISAO E SEUS LIMITES Augusto Tarnadt Vitela Tefate Viana Dias Villa? INTRODUGAO ‘As medidas cautelates no processo penal softem com cestas defici- éncias sobre sua regulamentagio s, consequentemente, sua aplicabilidade, pois, em regra,sio validadas sob c discurso amenizador de que o réu nfo se tencontra preso, permitindo-se o emprego de medidas desctiteriosamente, mesmo sem a presenga de elementos autorizadores para decretagio de prisio cauzclar, Em razio de tai crcunstincias, propos-se o presente texto a fim de enfrentar alguns dos pontos envolvendo as medidas cautelares diversas da prisio, especialment: 0s limites de sua aplicaglo. Mestre em Diteto pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS}; _Especialista em processo penal pelo Instituto de Direito Penal Econémico uropeu da Universidade de Ccimbra (IDPEE) ¢ pelo Instituto Brasileiro de (Citnciss Criminais (BCR IM); Coordenador dos Cursos de Dircto da FTEC, tunidade Novo Hamburgo/RS, ¢ Instituto Brasileiro de Gestio de Negécios (IBGEN); Professor de Direito Processual Penal ¢ Direito Penal Econémico ds FTEC/NH ¢ IBGEN, Professor de Dieito Processual Penal e Diteto Penal _Econdmiico da FTEC/NH ¢ IBGEN. Professor do curso de Bspecializagio em Direito Penal e Processual penal da Unisinoss Advogndo criminalista, 2 Especialista em Ditcito Penal eProcessual Penal pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS};ex-servidora piblica da Defensoria Pablica do Rio Grande do Sul; Advogida criminalista, B PRISOES € NEDIDAS CAUTELARES NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO A partir deste diagnéstico, tem-se como problematizagio nior- teadora do estudo aqui claborado: “quais os limites para aplicago de medidas cautelares diversas da prisio?”. Em resposta preliminar, & possivel afirmar que os limites na aplicago das medidas cautelares sio impostos pela prépria legislagio, devendo o juizo criminal, para tanto, observar os requisitos e pressupostos autorizatives da prisio cautelar, bem como os postulados epistemolégicos do processo penal, concentrando-se em principios insurgentes & prisfo e impostos pela ordem constitucional de um Estado Democritico de Diteito. Assim, como objetivo geral, busca-se identificara existéncia de limites aplicdveis as medidas cautelares diversas da prisfo. Para tanto valer-se-i de objetivos espectficos, como (j) diagnosticar as medidas cautelares € seus requisitos; (ii) verificar suas espécies (ipicas ¢ atf- pica); (if) identifiar seus limites em concomitincia 20 poder geral, de cautela, A partir de tais objetivos é possivel extrair os elementos necessirios para conclusio da presente proposta. Ainda, na intengao de desenvoiver 0 estudo, utilizou-se, para tanto, do método fenome- nolégico-hermenéutico’, alindo ao bibliogeifico, conciliando anélise doutrinaria ¢ de julgados do Supremo Tribunal Federal e Superior ‘Tribunal de Justiga. Coneretizando-se as fises delineadas acima, fora possivel ava- liar que as medidas cautelares diversas da prisio possuem concreta imitagio, sendo possivel seu emprego de forma substitutiva & prisio (vedada a aplicagio autGnoma), aplicando-se critérios limitadores a0 poder geral de cautela, a pattir de uma interpretagio controlada de tal mecanismo, viabilizando a utilizago de medidas atfpicas sem > Out do referido méodo ocorre em um contexto em que os investigadores info extio distantes do cbjeto pesquistd, 20 contritio, encontram-se na csfera pragmatica e de vivéncia dos problemas diagnosticades no presente trabalho, Essa conexto, com consequéncia, viabiliza uma proposta concreta, vineulando-se a uma realidade vivenciads, alcangando a cangibilidade dda “etséncia do fundamento” (STEIN, Ernildo, Introdugio a0 método fenomenolégico heideggeriano. In: Sobre a exténcia do fundamento: cconferéncias e escrits filosdficos de Martin Hiidegger. Traduglo de Ernildo Stein. Si0 Paulo: Abril Cultural, 1979), % 2. AS CAUTELARES ALTERNATIVAS A PRISKO EUS UMITES ‘que se tenla a afronta & taxatividade legal, principio que s6 pode ser flexibilizado em favor do éu. 4. A PREVISAO DAS MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISAO E SEUS REQUISITOS A aplicabilidade de medidas cautelares diversas da prisio & cir- cunstincia trivial nos tribunais, entretanto, ¢ indispensivel ao estudo identificago dos refecidos institutos e seus requisitos na legislagio, pois, jé em sua origem, o emprego das medidas cautelares possui divergéncia quanto 20 seu cabimento, slcangando, assim, a neces- sidade de circunscrever-se os requisitos para seu uso. E, em razio dessas idiossincrasias, que se vé a necessidade de identificar como a prépria legislacio processual penal regulamenta as medicias cautelares diversas da prisio. ‘As medidas cautelares diversas da prisio foram institufdas em 2011 pela Lei n. 12.403, com a reforma processual, ¢ estio previstas nos arts. 319 ¢ 320 do Cédigo de Processo Penal, nos quais constam ‘medidas especificas — denominadas medidas cautelares diversas tipicas = para que sejam aplicadas de maneia substitutiva& prisio, esa dltima uma medida extrema no processo penal, Contudo, inobstante o rol expresso no texto legal, entende parte da doutrinat e, especialmen- te, as Cortes Superiores? que hi possibilidade de se adotar medidas AVENA, Norberto, Processo Penal. Barueri: Grupo GEN, 2021. 9788530992767. Dispontvel em: https://integrada.minhabibliotece com.br/#/books/9788530992767/. Acesso em: 2021 set. 04, 5 Aexemplo, tem-se os seguintesjulgados que reconhecem 0 poder geral de cautela em matéria penal: BRASIL. Supetior Tribunal de ustiga. AgRg no RMS 63.492, Rel, Ministco RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, Jjulgado em 25/08/2020, Dje 03/09/2020; BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Pet 8312 MC, Relator(a): EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 07/08/2019, DJe 09/03/2020; BRASIL. Superior Tribunal de Justiga, REsp 1853580, Rel, Ministro NEFI CORDEIRO, Rel. p/ Acérdio Ministto RIBEIRO DANTAS, TERCEIRA SECAO, julgado © Rexempl 7 PRISOES E MEDIOAS CAUTELARES NO PROCESO PENAL BRASILEIRO cautelares diversas da prisio denominadas atipicas (ou inominadas), circunstincia que sera objeto de anilise no préximo t6pico. A legislagao processual penal brasileira preocupou-se em estabe~ Jeceras medidas cautelares como institutos prioritirios em detrimento da custédia penal, isto &, antes da aplicago da medida extrema da Prisio, deve o julgador avaliar, como determinado pelo art. 282, §6°, do Cédigo de Processo Penal, o cabimento das medidas cautelares diversas, devendo, somente apés a fundamentagio expressa de que incabiveis ao caso, a imposigio do circere provisério, Assim, a partir dessa verificagio, entende-se — ¢ agora aden- trando aos requisitos para emprego das medidas cautelares — que essas no podem ser aplicadas de maneira auténoma, mas tio somente quando estiverem presentes os requisites para prisio proviséria. & imprescindivel destacar que a legislagio, a0 determinar que se analise previamente a adequacio das medidas cautelares diversas da prisio™ Para, somente na impossibilidade de aplicagio dessas, permitir a de~ cretagio da custédia, impée, em consonancia com o que disciplina a Constitui¢io Federal quanto & presungio de inoeéneia, que estejam presentes os requisitos para prisfo para que medidas cautelares sejam aplicadas, Portanto, a circunstincia que influencia o uso da medida cautelar diversa da prisio é a necessidade da custédia, isto é, havendo 6s requisitos autorizadores da prisio, deve haver a anilise da neces- sidade da medida extrema, devendo 0 julgador identificar se no hi medida que possa substituir essa necessidade, Parece ser essa a interpretagio mais adequada, nio s6 aos pre~ ceitos constitucionais, mas também ao diditico escalonamento inau- gurado pela legislagio processual, quando analisado 0 texto do art, 310, inciso IT, que trata da conversio da prisio em flagrante em prisio preventiva, Expressamente explicita a lei que poder ser decretada a pristio preventiva — presentes os requisitos do art. 312 ~ se nfo for adequada a aplicagio de medidas cautelares. em 24/06/2020, DJe 20/08/2020; BRASIL. Supremo Tribunal Federal. HC 109728, Relator(): RICARDO LEWANDOWSRI, Segunda Tarma, Julgado em 15/05/2012, Dye 04/06/2012. 8 {LAS CAUTELARES ALTERNATIWAS A PaUsKO SEUS MITES Denota-se, portanto, que as medidas cautelares diversas da prisio devem seguir os mesmos requisitos da prisio cautelar, devendo-se observar a existéncia do periculum libertatis © do fumus comissi delit, aliados, evidentemente, aos postulados norteadores da prisio, os quis, de acordo com WEDY’, sio os principios da jurisdicionalidade, instrumentalidade, provisioridade, provisionalidade, excepcionalidade e contraditério, aém & claro, da presungio de inocéncia, proporcionalidade, «da razoabilidade e de outros principio que possam vir a ser considerados. Mas nio sio apenas esses os requisitos para aplicabilidade das medidas cautelares diversas da prisio, pois divergindo do posiciona~ mento que flexibiliza, ainda que especialmente, a possibilidade de aplicagio de medidas cautelares diversas da prisfo a delitos cuja pena méxima seja inferior 2 4 anog, indispensivel a anilise dos critérios objetivos de prisio, previstos no art. 313 do Cédigo de Processo Penal, nio sendo possivel, assim, a aplicagio de medidas cautelares em qualquer caso penal, o que jA traduz parte do objeto do presente estudo, que é a identificagio de limitagio no emprego de medidas cautelares diversas da prisio. Claro que, em razio do posicionamento da inaplicabilidade de medidas cautelares em delites cuja pena méxima seja igual ou inferior a 4 anos, surgiri a diivida quanto a cficiéncia coercitiva do processo no caso cesses delites, como, por exemplo, no crime de perseguigio (stalling), recentemente tipificado no Cédigo Penal coma inclisio do art. 147-A.A {questio que surgiria seria o fato do autor do delivo permanecer praticando tal conduta, ainda que o processo criminal jé tenla sido inaugurado. corte que, nessa circunstncia, faz-se uma analogia 20 enten- dimento de PACELLI, o qual compreende incabivel 2 aplicagio de © WEDY, Miguel Tedesco, Eficiéncia ¢ prises cautelares. Porto Alegre: Livratia do Advogado Editors, 2013. P. 63-77. 7 Acxemplo: JUNIOR, A. L. Prisdes Cautelares. Sio Paulo: Editora Saraiva, ‘2021. 9786555595253. Disponivel em: . Acesso em: 2021 set. 05. "PACELLI, Eugtnio. Curso de Processo Penal, Barueris Grupo GEN, 2020, 9788597023763. Disponivel em: . Acesso em: 2021 set. 05. 80 1. AS CAUTELARES ALTERNATVAS APRSKO € SEUS LITES 0s requisitos dessa, pois, se aut6noma fossem as medidas, poderiam ser aplicadas a qualquer caso penal ¢ nio apenas Aqueles que possuem ppenas privativas. = Importa referir que as medidas cautelares diversas da prisio necessitam de atengio acurada, pois vem sendo aplicadas de mancira cexcessiva pelos tribunais, quase 2s tornando a regra no processo penal, tanto que jf em 2007, SOUZA’ alestava sobre 0 “abuso do direito no requerimento de medidas cautelares tipicas ¢ atipicas no processo penal”. Embors 2 visio do autor alcangasse todas as medidas cautelares (inclusive reais), é pertinente sua adverténcia 10 mencionar que: [.] Mas referidas medidas acautelatiss, independentemen- te de serem consideradas, ou nifo, como verdadeiras agbes ppenais cautelares, se sujeitam ao manejo abusivo pela partes da relagio que se forma em juizo. Com eftito, a exemplo do que jé se atestou na érbita processual civil, os provimentos + eautelares processuais penais também se prestam a postu- lagdes temeririas, desviadas de sua finalidade, inspicadas nna m&-f infundadas ou para as quais néo coneorram 05 requisitos legais. Atitudes desta monta ndo devem ser admi- tidas pelo érgio jurisdicional, o qual deve envidar esforgos ‘em coibi-las, ou mesmo em sancioné-las [.. Em linha 20.aqui proposto, tem-se que as medidas cautelares diver- sas da prsio esto estabelecidas nos ats. 319 ¢ 320 do Cédigo de Processo Penal, existindo dspositivos de mesma natareza em les esparsas, como no caso do Cédigo de Transito Brasileiro, que prevé a suspensio provisétia do direito de dirigir, e na Lei Maria da Penha (Lei n, 11.340/06)*, que Tater Ata. Abus do dito no equrinento de edie cutter pens spe no prot peta Revs ds Tura vl 85 Ur O02 © Em relagio ao rol de medidas previstas na Lei n, 11,340/06, nee Pilate dose ace um plonaleg de oe miso, ou Rem dosti cc ecm ue cone petac 8 PRISOES £ MEDIDAS CAUTELARES NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO ossui outras tantas medidas, devendo ser aplicadas exclusivamente de _maneira substitutiva a prisio e respeitando os requisitos dispostos no art! 312 e 313 do Cédigo de Processo Penal, nio se compreendendo como adequado emprego dessas medidas de maneira auténoma. 2. AS MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISAO E © PODER GERAL DE CAUTELA DOS TRIBUNAIS: ENTRE (© EXCESSO DE PODER E A DEFICIENCIA PROCESSUAL No processo penal, além das medias cautelaes tipicas diversas jo, como anteriormente referido, boa parte da doutrina e a ordem majoritéria da jurisprudéncia reconhecem a possibilidade de aplicagio de medidas eautelares diversas atipicas da prisfo (ou ino, minadas), isto & medidas cautelares fora do escopo do previsto na legislagio. Este entendimento advém do chamado “poder geral de cautela” dos Tribunais, circunstincia que possui alta repercussio na doutrina, com parte reconhecendo tal poder como inerente & toga, parte afirmando que este instituto fora importado do direto processual civil e nfo possui amparo nas normativas do processo penal. Na cortente que compreende como inapliciveis as medidas cautte~ ares aripicas de forma substitutiva (ow até mesmo auténoma) das prisées, tem-se a discussio acerea da ausncia de dispositive legal que assim © permita. A discussio acerca do poder geral de cautela surgi antes da pri ccpecazado pars wat de mutrias penis cv, Dads ex siagfo ‘ny enor ee i vee pone resent ese pea determina anatueza de eada medida previa magula 1 om Has geri € postive sagerir que, no que cones a metider causes que pose cei einentemene penal, ou sg reeingem 2 iberdade de locomoeio.docidadioscusado, pr expo, pest aplcagiedevem estar presente or oqusitosehjeives apis even, a medidas de carter civil, como a fixagio de alimentos e mesmo 6 afistamento do la ~ medida presente no dito civil conhecids come sepaago de copos”~ em rio da natreza prvad oe equereiam prstengs ds erro par pio preven, 82 2. S CAUTELARES AXTERNATIUAS A PRISAOE EUS IITES do disposto na Lei n. 12.403/2011 (a qual trouxe medidas cautelares taxadas na legislago processual pens), pois antes da referida legislago defendia-sea tese de que, com 0 uso do art, 3° do Cédigo de Processo Penal, o juizo criminal poderia aplicar medidas cautelares na forma do art. 798" do antigo Cédigo de Processo Civil (CPC/73), reeditado nos arts. 297 e 301! do atual Cédigo de Processo Civil (CPC/15). ‘Assim, com a reforma de 2011, parte da doutrina reforgow a tese de que as medidas cautclares diversas da prisio s6 poderiam ser ‘empregadas quando da sua existéncia legal, sob pena de violar preceitos bisicos do processo penal, especialmente o principio da legalidade. Dentre autores que se opdem A existéncia de um poder geral de ccautela tem-se PACELLI, o autor esclarece que a aplicagio de medidas cautelares diversas da prisio que no estejam previstas em lei: pode abrir um perigoso leque de alternativas a0 ma~ gistrado, dificultando, sobremaneita, 0 controle de sua pertinéncia e oporcunidade, ficando em mios do magistrado de primeiro grau a escolha de providéncias cujo controle de pertinéncia e de adequagio (além da proporcionalidade) seria muito mais dificil (."*, PACELLI ainda reforga que tal medida seria ainda mais gravosa, pois, em sua interpretagio, nio seria cabivel a impetragio WA. 798. Além dos procedimentos cautelares especificos, que este Cédigo regula no Capitulo 11 deste Livro, poderi 0 juiz determinar as medidas provisorias que julgar adequadas, quando houver fundado reccio de que ‘uma parte, antes do julgamento da lide, eause ao direito da outra lesio grave e de dificil reparacio. "2 Are. 297. O juiz podert determinar as medidas que considerar adequadas para efetivacio da tuiela proviséria. 1 At. 301. A tutela de urgénca de natureza cautelar pode er eftivada mediante arresto, sequesto, arrolamento de bens, egistro de protesto contr alienagio de bem e qualquer outra medida idénea para asteguracio do ditito. PACELLI, Buginio, Gurso de Processo Penal, Baruetis Grupo GEN, 2020. '9788597023763. Disponivel em: . Acesso emi: 2021 st. 05. 3 PRISOES E MEDIOAS CAUTELARES 10 PROCESSO PENAL BRASILEIRO de habeas corpus contra ato que impde medidas cautelares diversas da prisio!, LOPES JR. também defende a impossibilidade de reconhecer © poder geral de cautela no juizo criminal, o autor expe que no rocesso penal a forma € garantia e no hi espago para que se defenda um “poder geral”, justamente por ser 0 processo um instrumento limi~ tador do poder punitivo do Estado, portanto, reconhecer a aplicagio de medidas cautelares no previstas em lei prejudicaria frontalmente uum dos principais instrumentos limitadores do Estado, o principio da legalidade ‘CAPEZ" também segue mesma orientagio e faz duras criticas 30 afirmar que: (O juiz, no processo penal, esté rigorosamente vineulado is previsées legislativas, azo por que somente pode decretit™ 4s medidas coercitivas previstas em lei e nas condigdes por la estabelecidas, nfo se adiitindo medidas cautelares ati~ picas (sto & nfo previstas em lei) nem o recurso 3 analogia com © processo civil. No processo penal, portanto, no existe 0 poder geral de cautela, A doutrina, portant, & muito firme quanto & impossibilidade ago de medidas cautelares atfpicas no processo penal, fin~ damentando na relevante limitagio do poder do Estado~julgador na condugio do processo penal, sendo a superagio desses argumentos, de apl Discorda-se do entendimento de Pacelli, p “omy i pose comprenderque qualquer sedative sel de tacae mee bes eo {0b pena de mite gaanis individuals emblecns na Como Feder por interpctardo mala paren, LOPES Ary, Dito Pec ea Sto Pas Bon Si - 9786555590005. Disponivel emt: htrps://integrada.minhabiblioteca, com.br/##/bocks/9786555590005/, Acesso em: 2021 set. 11. iste CCAPEZ, Rodsge.Noprocsito penal nf existe o poder grad eau Ie Conltrien Dp ny occas ar Osfodigo-capensrsco-pena-ao- crise poder pe. e Acesso em 2021 set. 11, pedeegent - 84 5. AS CAUTELARES ALTERNATIVAS APRSKO E SEUS LUITES ‘ou mesmo sua relativizagio, de diffcil manejo, Entretanto, hé autores ‘que entendem ser possivel o emprego de medidas cautelares atipicas no proceso penal, os quais compreendem que tais institutos nfo violam 0 regramento processual penal AVENA' concorda com a aplicagio de medidas cautelares atipiess, sendo que jé vinha defendendo, antes do scréscimo do art. 320 a0 Cédigo de Processo Penal, a possibilidade de apreensio de passaporte quando necessério, ainda que a jurisprucéncia do Superior ‘Tribunal de Justia fosse conteiri (Outra acurada anilise acerca da possibilidade de aplicar o poder geral de cautela no processo penal é de CRUZ®, o autor utiliza-se do argumento ji tratado acima, acerca da viabilidade de se aplicar 10 dispositivos acautelatérios do processo civil no processo penal por forga do art, 3° do Cédigo de Proceso Penal, contudo, argumenta aque os processos cautelaces, de mancira geral, surgiram justamente para a aplicabilidade de medidas cautelares atipicas ¢, se se observar Lei n, 11.340/06 (Lei Maria da Penha) poder-se-d identificar que © legislador permitiu a aplicagio ampla de medidas apés estabelecer sum rol (act. 22, §1° da Lei n, 11.340/06). Percebe-se que a doutrina & extremamente dividida sobre 0 reconhecimento do poder geral de cautcla do juizo criminal, di- vidindo-se em extremos em que se tem de um lado aqueles que compreendem pela incompatibilidade do poder geral de cautela 20 processo penal, acabando por viabilizar a prisfo de pessoa quando haveria a possibilidade de aplicagio de medida cautelar atipica menos gravosa, e do outro aqueles que defendem um poder amplo e geral de cautela, que permitiria um abusivo poder judicial contra o cidadio, com aplicagio de medidas cautelares, ainda que minimas, mesmo AVENA, Norberto, Processo Penal. Baruerit Grupo GEN, 2021. '9789530992767. Disponivel em: hteps://integrada.minhabiblioteca.com, bi/##/b00ks/9788530992767. Acesso emt 2021 set. CRUZ, Rogério Schieti.Prisfo cautelar: dramas, prinlpios ealternativs. 23* eda tev, atual, eampl, Salvador: Editora Jus Podivm, 2017 p. 228-231, 85 PRISOES E MEDIDAS CAUTELARES NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO quando nio presentes requisitos de prisio, permitindo, inclusive, a tal ojerizada prisio de oficio. Esses posicionamentos sempre acabario conffitando episte- mologicamente ¢ incompatibilizando-se entre si. A exemplo disso, tem-se o julgado do Min, Celso de Mello, HIC n, 186.421, que, em distinta exposicdo, reconheceu a impossibilidade da prisio de oficio, ppor seu catitet inconstitucional e por ser, o poder geral de cautela, incompativel com os preceitos constitucionais, Apés fazer extensas consideragées acerca da doutrina que nfo reconhece a possibilidade do poder geral de cauitela no processo penal, reforgou que: [..] De igual modo, em que pesem argumentos nessa linha, © poder geral de cautela nfo justifica a conversio da prisio preventiva de oficio pelo Juiz. Diversamente do processo civil em que existem cautelares inominadas, no process —- penal, quando em detrimento da liberdade, nfo se pode impor medidas cautelares sem amparo ia k Isso porque a persecugfo penal nio é apenas instrumento para o legitimo exercicio do poder de punir do Estado, mas também instrumento limitador do direito de punir estatal que devers ocorrer, sem arbitrios, estritamente com base na lei, sobretudo, na Constituigéo Federal. Noutros termos, © processo penal é instrumento de legitimagio do direito de punir do Estado ¢, para que a intervengfo estatal opere nas liberdades individuais com legitimidade, & necessitio ‘ respeito a legalidade estrita e as garantias fundamentais. Dessa forma, um dos pressupostos de qualquer medida cautelar penal & tipicidade ou legalidade (art. 5°, inc. Il, 8 CP). [-] A pattir do posicionamento constitucionalmente fandamentado do Min. Celso de Mello, observa-se que seu entendimento nio € ® BRASIL, Supremo Tribunal Federal, HC 186421. Relator(s): CELSO DE MELLO, Relator() p/ Acérdio: EDSON FACHIN, Segunda Turma, Julgado em 20/10/2020, De 16/11/2020. 86 2. AS CAUTELARES ALTERNATIAS A PRISAO E EUS LMITES favordveld aplicacio do poder geral de cautela no processo penal, por haver a necessidade do cumprimento da estrita legalidade no instituto que visa limitar o poder estatal. Tnobstante ao acima exposto, em outro julgado de relevincia impar, 0 Min, Celso de Mello afirmou ser inconstitucional a execu- gio provis6ria da pena, no mencionado voto proferido no ARE a. 1.226.891, a0 corroborar seu entendimento, argumentando que a ptisio daquele que gera efetivo risco pode ser decretada dentro dos limites das prisdes cautelares, 0, & época, decano da Corte Constitu- cional expés, aparentemente, reconhecer a existéncia do poder geral de cautela. Contudo, para tanto, explicow o seguinte: Em uma palavra: o sistema juridico brasileiro, 20 disciplinar ‘© instituto da tutela cantelar penal, outorge a0 Estado po- . ‘Acesso em 18 set. 2021. 88 {LAS CAUTEIARES ALTERNATIVAS A Piso SEUS UTES da matéria e coneretizagio de um processo penal voltado as garantias individuais € uma eficiéncia constitucional®. Consoante fora exposto, © posicionamento aqui langado & pela impossibilidade das medidas cautclares diversas da prisio serem aplicadas de forma auténoma, ou seja, sem que sua aplicagio esteja vinculada a substituigio direta da prisio cautelar, Aliés, compreende- “se que seria mais adequado dizer que a prisio preventiva 6 medida subsididria & aplicagio das medidas cautelares, guardando plona rela Gio com o cariter de ultina ratio do Dircito Penal. Esta interpretacio esti imbricada com a limitagio do agit do Estado-julgador, que, para a intromissio na esfera privada do cidadao ¢, especificamente, na limitagio de seus direitos individuais, deve ter a atuagio filteada com critétios que afunilem a0 maximo a sua esfera de atuagio, Des- tarte, no que tange as medidas cautelares, que sio, nada menos que Jimitagio de direitos do indivfduo, imprescindivel assentar, ento, a necessidade de estarem presentes os requisitos do artigo 312 para que de tais medidas, nio se possibilite a ampla e descomedida aplic: sejam essas tipicas, sejam atfpicas, Portanto, 0 primeiro requisito que se deve observar, com base no att. 282, §6°, do Cédigo de Proceso Penal (CPP), € a aplicabili- dade de prisio cautelar ou nifo 20 caso, isto & 05 requisitos abjetivos do art. 313 ¢ os pressupostos do art. 312, ambos do CPP, Em razio do entendimento aqui descrito de que s6 & possivel a aplicagio de medida cautelar de forma antecedente 3 prisio, nfo hi como deixar de verificar se essa € ou no cabivel 20 caso. 3 Sobre a efcitncin consttucional no processo penal: "Na ideia de eficitnci, bhi dluas questdes a serem levadas em consiceragdo para que haa verdadeiro controle na aplicagfo da eficitncia como meio de otimizagio do procetio penal. A primeira € que se delimite a legitimagio da eficiéncia pelos principios constivucionais e pela Constituigio, fezendo justiga dentro dos Times da Carta Politia; jf 0 segundo € que aeficiéncia deve ser aplicada tem sua hélice tiplice, respeitando o préprio instivuto da eficiéneta, as gatantias ea jusiga, a fim de que fja um equilfbrio® (VILELA, Augusto “Tarradt; WEDY, Miguel Tedesco. Exccuslo Proviséria da pena: eftciéncia resposta corsets. Posto Alegre: Livraria do Advogido, 2020. p. 98-96). 9 RISOES E MEDIOAS CAUTELARES NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO Assim, estando presentes os requisitos autorizadores para prisio cautelar, deve-se passar a anilise da necessidade da cautelar segregat~ tia, isto & se a decretacio da prisio ¢ imprescindivel ou se, nos termos do art. 282, §6°, do CPP, seja possivel sua substituigio por uma ov mais medidas cautelares diversas da prisio, sendo a resposta no sentido de haver medidas substitutivas, dever-se-A observar, inicialmente, a anilise de adequacio das medidas tipicas 20 caso. To somente constatada que as medidas elencadas na legis lagio sto insuficientes ou inadequadas, deveri ser Jangado mio de medidas atipicas e, aqui, surge a proposta de um “poder controlado de cautela”, e nfo geral, como utilizado atualmente e justificado na aplicagio analégica 20 processo civil. Isso porque, nio se pode, no Processo penal, viabilizar um poder “geral”, algo que permita uma interpretagio generalizads, tampouco se pode aceitar que se utilize, de analogias a0 Cédigo de Processo Civil para estabelecer obrigagdes © por consequéncia, uma interpretagio in malau partem a0 réu em. proceso penal. Por forga dessa interpretacio, compreende-se que o juizo cri- minal pode utilizar-se de medidas atfpicas, desde que fundamente 0 motivo de sua substituigdo & prisio, para que se evidencie a efetiva existéncia de tais requisitos e sta proporcionalidade ao caso, respei- tando o preceito de emprego de medida mais favorivel a0 réu do que 2 propria prisio. © que se pretende com isso é petmitir 20 Estado que, entre a prisio e a aplicago de medidas substitutivas a essa e no previstas especificamente em lei, privilegie-se as medidas atipicas, sendo, consequentemente, uma decisio pré-réu. Poucas foram as discusses sobre essa interpretagio interme- difria, tendo CASTRO proposto, para este assunto, a aplicabilidade de uma “taxatividade mitigads"™, contudo, a partir da proposta aqui langada, nfo se esté sugerindo a possbilidade de mitigar a taxatividade ™ CASTRO, Pedro Machado de Almeida, Medidas cautelares pessoais, poder geral de cautela e taxatividade mitigada. In: Revista Brasileira de Direito Processual Penal. Vol. 03, n. 2, p. 691-716, mai-ago. Porto Alegre, 2017, 90 |. CAUTELARES ALTERNATIVAS A PRIsiO EUS LATES no Ambito penal quanto as medidas tpicas, 0 que viabilizaria, de qual~ quer modo, ainda que dentro da proporcionalidade, novas medidas iifo previstas na legislagdo, mas sim a possibilidade de flexibiliza-Ia, em beneficio do réu, utilizando-se de outras medidas, desde que mais favoriveis 20 imputado. Assim, o julgador no teria essa liberdade de trafogar pelas medidas atipicas empregando-as como bem entender, pois, ainda sim, permaneceriam sendo excepeionais ao processo penal. Entio, os limites para aplicabilidade das medidas cautelares diversas da prisio, devem seguir o seguinte método para seu emprego: 1. | Por serem medidas apenas aplicadas em antecedéncia & prisio, devem estar presentes os requisitos objetivos do art 313 € 05 pressupostos do art. 312 do CPP. Presentes os elementos autorizadores da prisio cautelar, deve 0 juizo avaliar a necessidade da aplicagio da medida extrema, 3. | Para verificar a necessidade da prisio, deverd apurar se as medidas cautelares tipicas estabelecidas no art. 319 do CPP, separadas ou cumulativamente, satisfazem a substituigio da prisio. 4. Nio havendo medidas satisfatdrias 4 cautela, dever © juizo criminal fundamentar os motivos pelos quais adotari medida(s) atfpica(s), esclarecendo sua proporcionalidade, razoabilidade e adequagio concreta 0s fatos do caso penal. Ressalta-se ainda, que a medida atipica deve guardar relagio como fato penal apurado, ou seja, deve estar relacionada aquilo que faz com que o pleno exercicio da liberdade do cidadio processado coloque em risco, por exemplo, estando presentes os requistos para a prisio preventiva de um administrador de uma empresa que esteja sendo processado pela utilizago da pessoa juridica para lavagem de ” RISOESE MEDIOAS CAUTELARES NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO dinheizo, poder-se-ia determinar a suspensio temporiria da admi- nistragio da empresa pelo individuo, ‘Tem-se, portanto, que estes limites tornam-se suficientes, no Ambito de um processo penal constitucional’, para que se garanta sua instrumentalidade sem que se prejudique os inabaléveis direitos fndamen- tais do cidadio, viabilizando proporcionalidade, razoabilidade e medidas mais benéficas do que o cizcere, estabelecendo-se as matrizes garantistas a “[.] punicio dos culpados juntamente coma tutela dos inocentes"™, Por fim, verifica-se imprescindivel, inclusive para justificar a impossibilidade do emprego auténomo da medida cautelar diversa da prisio, isto é, a aplicagzo dessa sem a necessidade da presenga dos requisites do cicere provisétio, esclarecer sobre exemplos que a dou- trina fornece para elucidar a necessidade de medidas atipicas ¢, por vezes, compreendidas como imprescindiveis ao caso, mesmo quandg, niio presentes os requisitos da prisfo. Para tanto, dialogar-se-4 com o exemplo oferecido por CRUZ, 0 qual traz a seguinte premissa “[.] imagine-se que alguém seja preso em flagrante na posse de arma de fogo de uso restrito, infragio que permite a decretagiio de prisio preventiva, visto que 0 tipo penal (art, 16 da Lei n, 10.826/2003) comina pena mixima de 6 anos”. © autor segue explicitando que possuindo o réx condigées favoriveis, detendo primariedade, auséncia de antecedentes, possiiin~ do emprego com carteira de trabalho, residéncia fixa e auséncia de indicios de envolvimento com bandos e organizagdes criminosas, no haveria necessidade da prisio, contudo, em sua interpretagio, deveria ser aplicada medida de proibigio de portar ou manter arma de fogo, inobstante no houvesse os requisites para prisio. FERNANDES, Anténio Scarance, Procesto penal constitucional. 6* ed. ‘Sio Paulo: Revista dos Teibunais, 2010. p. 22. FERRAJOLI, Luigi. Direito razio: teoria do garantismo penal. 4? ed. rev,, Trad. Ana Paula Sice, Fauzi Hassan Choukr, Juarez Tavares e Luiz Flivio Gomes. Sto Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. p. 556. CRUZ, Rogério Schieti Prisio cautclac: dramas, prinefpios ¢alternativas. 3* ed, rev., atual. e ampl. Salvador: Editora Jus Podivm, 2017, p. 230. 92 2S CAUTELARES ALTERNATIVASA PRISAOE SEUS LTE Neste ponto, diverge-se do posicionamento do Min. Rogério Schietti Cruz, pois, de fato, nilo poderia 0 juizo criminal aplicar tal medida, por nio estarem presentes os requisites da prisfo. Veja-se que a “proibigo de possuir ou manter arma de fogo” jé € determinada pela propria legislagio, nfo estando a decisio judicial acima dessa, tanto que por essas razdes 0 individuo do exemplo esti sendo res- ponsibilizado criminalmente, assim, se novamente vier a inftingir a legislagio, responder a novo processo-crime ¢, ai sim, poderia se cogitar na aplicagio de medidas diversis tipicas e/ou atipicas, pois @ reiteragao delitiva poderia ser elemento considerivel para eventual prisio, além dos demais requisitos, E preciso reforgar que nfio compete ao julgidor a condugio de ‘um processo penal constitucional para “advertir” o xéu ou “compro ‘missa-lo” fora das previs6es legais, mas sim para exercer a importincia constitucional de um processo guiado pela imparcialidade e presungio de nio culpabilidade, nfo sendo possivel proferir decisdes obrigacio- nals (positivas ou negativas) apenas para se fazer presente, quando a propria legislago exerce tal fuungio. # por essa razio que tanto as medidas cautelares diversas quanto a prisio proviséria devem estar fundamentadas nos critérios legais que sio as razdes justificiveis ¢ autorizativas para a imposigio de .5es As liberdades individuais de forma cautelar. Hi de existir, para implementagio de tais restrigées, um motivo fundado no risco concreto a ordem piiblica, & ordem econdmica, 3 instrugio criminal ou aplicagio da lei penal, nfo competindo 20 judicidrio, como dito acima, a utilizagio de tais medidas para reprovar moralmente a su- posta conduta do cidadio, Para a reprovagio da conduta criminosa a lei prevé a sangio, que seré aplicada tio somente apés 0 transito em julgado da decisio penal em um devide processo. Portanto, toda e qualquer margem Limitadora na aplicagio de medidas cautelares diversas da prisio sempre deveri passar pelo ctivo constitucional, no podendo se permitir a inversio de valores processus, realocando as garantias processuais em segundo plano, sendo imperioso o estabelecimento de uma eficiéncia no processo penal que alie prinefpios basilares do direito penal e processus penal, 93 PAISOES E MEDIDAS CAUTELARES NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO os valores constitucionais ‘ hélice triplice da eficiéncia, garantias © justiga*, sendo 2 Constituigo Federal o epicentro delimitador do agit do Estado-julgador, afastando-o da discricionariedade para preencher “zona de incerteza"® da maneira que Ihe aprouver. Estabelecidos 0s pontos centrais da proposta langada no pre- sente texto, tem-se que existem limites efetivos para a aplicagio das medidas cautelares substitutivas & prisio, nfo podendo esse instituto ser aplicado sob égide de um decisionismo, sob pena de afrontar no apenas as disposigdes legais-processuais, mas, especialmente, 2 propria Constituiglo Federal, a0 argumento de uma eficiéncia utilitdria sem amparo, CONSIDERACOES FINAIS Propés-se, inicialmente, debater acerca da limitago no emprego de medidas cautelares alternativas & prisfo, a partir da seguinte pro~ blematizagio: “quais os limites para aplicagio de medidas cautelares diversas da prisio?”. A hipétese inicial foi de que os limites seriam aqueles determinados pela propria legislagio, observando critérios epis- temolégicos do processo penal, a partir de objetivos geral —consistente em identificar os limites para aplicagio das medidas -, e especiais, relacionaclos a () diagnosticar as medidas cautelares e seus requisitos; (i) verificar suas espécies (ipicas e atipicas; (i) identificar seus limites em concomitincia a0 poder geral de cautela, para tanto, utilizou-se do método fenomenolégico-hermentutico, aliado ao bibliogrifico, conciliando anilise doutrinéria e de julgados do Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiga, Dedicou-se 0 primeiro tépico & identificagio do surgimento das medidas cautelares ¢ 3 exposigio acerca da existéncia de medidas ™ WEDY, Miguel Tedesco. A eficiéneta e sua epercussio no diceto penal © procesto penal. 1" ed., Porto Alegre: Elegantia Juris, 2016. p. 294. STRECK, Lenio Luiz. Verdade e consenso: constituigfo, hermenéutica « teorias discursivas, 4* ed, SG Paulo: Saraiva, 2011, p, 586-587. 4 5.AS CAUTELARES ALTERNATIVAS A PRISKO ESEUS LIATES tipicas e atfpicas, Neste t6pico aprofundou-se a anilise sobre os re~ quisitos trazidos pels legislagio e como deveriam ser interpretados a luz da Constituigio Federal, © segundo tépico do presente artigo fora destinado a discutir o poder geral de cautela dos juizos criminais, isso porque as medidas cautelares esto umbilicalmente relacionadas com a extensio do poder acautelatério dos tribunais, em especial 20 se tratar de medidas cautelares atfpicas, observando-se que a doutrina ¢ jurisprudéncia detém posicionamentos polarizados. Por fim, em tetceito item, retomou-se as circunsténcias dos requisitos das me- idas cautclares relacionando-se com 0 proposto “poder controlado de cautela”, pretendendo-se estabelecer objetivamente a limitagio na aplicagio das medidas cautelares diversas da prisio. Extraindo-se, assim, 0 que fora analisado, observa-se que as medidas cautelares diversas da prisio ndo sé possuem limitag5es em sua aplicagio, como devem haver meios que impegam o Es- tado-julgador em agir de maneira arbitriria, para fora dos limites constitucionais de sua conduta, Entretanto, justamente em respeito 208 dircitos individuais cunhados em nossa Constituigio Federal, deve-se viabilizar que o magistrado manipule medidas cautelares atipicas para que nio seja 0 cidadiio compelido 3 prisio, por deficién- cia legislativa em prever outras medidas cautelares mais abrangentes ou adequadas 20 caso concreto. ‘As medidas cautelares diversas da prisio, infelizmente, vém sendo aplicadas descriteriosamente, ocorrendo sua aplicagio mesmo sem qualquer probabilidade cabivel de prisfo a0 caso, sob o pretexto de compromissar 0 cidadio que se encontra como su em processo penal a comparecer em juizo, esclarecer suas atividades, manter en- derego informado ¢, inclusive, proibi-lo de tomar alguma medida, ‘como a propria aproximagio de testemunbas, mesmo sem qualquer noticia de prejufzo a essas. Em processo penal, o Estado detém o dever de comprometer-se coma imparcialidade plena, nfo devendo intervir na esfera individual do cidadio para compromissa-lo fora dos ditames legais. Por isso que 2 posigio tomada no decorrer do presente texto fora de enaltecer a exist@ncia de limites & aplicagio das medidas cautelares diversas da 95 PRISOES E NEDIDAS CAUTELARES NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO prisio, impondo-se a0 Estado a necessiria aplicagio da lei, podendo feexibiliza-la, fundamentadamente, em beneficio do séu, permitindo a aplicagio de medidas atipicas quando presentes os requisitos para prisio, mas evidenciada sua desnecessidade. Por conseguinte aos estudos aqui abordados, tem-se que as me= didas cautelares diversas da prisio possuem efetiva limitagio, estando vinculadas i exist@ncia dos elementos autorizadores da prisio cautela~ res, zesguardando-se, sempre, a possibilidade de se empregar medidas cautelares atfpicas, de forma proporcional, razodvel erelacionada com 65 fatos apurados no processo, a fim de impedir a adogio da medida ‘extrema da prisio, sempre em uma interpretagfo juridico-hermenéu~ tica da Constituigo Federal, respeitando os valores epistemolégicos do diteito penal substantivo e processual. REFERENCIA BIBLIOGRAFICA AVENA, Norberto, Processo Penal, Barueri: Grupo GEN, 2021. 9788530992767. Disponivel em: , Acesso em: 2021 set. 04. BRASIL, Supremo Tribunal Federal. HC 186421. Relator(a): CELSO DE MELLO, Relator(a) p/ Acérfo: EDSON FACHIN, Segunda Tara, Julgado em 20/10/2020, DJe 16/11/2020. BRASIL, Superior Tribunal de Justiga. AgRg no RMS 63.492, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgaco em 25/08/2020, Dye 03/09/2020. BRASIL. Superior Tribunal de Justiga. REsp 1853580, Rel. Ministro EFI CORDEIRO, Rel. p/ Acérdio Ministro RIBEIRO DANTAS, ‘TERCEIRA SEGAO, julgado em 24/06/2020, Dje 20/08/2020. BRASIL. Supremo Tribunal Federal, ARE 1226891 AgR, Relator(): CELSO DE MELLO, Segunda Tarma, julgado em 04/05/2020, DJe 18/05/2020. BRASIL, Supremo Tribunal Federal. HC 109728, Relator(a): RICAR- DO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 15/05/2012, DJe 04/06/2012. 96 {AS CAUTELARES ALTERUATINS A PRSO € EUS LIMITES BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Pet 8312 MC, Relatox(@): EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 07/08/2019, DJe 09/03/2020. CAPEZ, Rodrigo. No processo penal nio existe 0 poder geral de cautela, In: Consultor Juridico. Disponivel em: , Acesso em 2021 set. 11. CASTRO, Pedro Machado de Almeida, Medidss cautelares pessoais, poder geral de cautela ¢ taxatividade mitigada. Int Revista Brasileira de Direito Processual Penal. Vol. 03, n. 2, p. 691-716, mai-ago. Porto Allegre, 2017. CRUZ, Rogério Schiet. Prisio cautelar: dramas, principiose alternatives. FF ed, rev, atual. e ampl. Salvador: Editora Juspodivm, 2017, p. 225-251, DE SOUZA, Alexander Araujo. Abuso do direito no requerimento e medidas cautelarestipicase atfpicas no processo penal. In: Revista dos ‘Tribunais, vol. 856, fev. 2007, p. 470-492. FERNANDES, Anténio Scarance. Processo penal constitucional. 6* ed, Sio Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, FERRAJOLS, Luigi. Dircito e razio: teoria do garantisme penal, 4 ed. rev,, Trad, Ana Paula Sica, Fauzi Hassan Choukr, Juarez Tavares € Luiz Flivio Gomes. Sio Paulo: Revista dos Tribunais, 2014 LETBLIER LOYOLA, Enrique. Los principios del proceso penal relati~ vos al ejecicio de la accién y la pretension: reflexiones y critics ala luz de algunos ordenamientos vigente. In: Revista de Derecho - Universidad Catélica del Norte, vol. 16, nim. 2, 2009, Coquimbo, Chile. P, 195-228. Disponivel em: . Acesso em: 2021 set. 05. PACELLI, Eugénio. Curso de Processo Penal. Barueri: Grupo GEN, 2020. 9788597023763. Disponfvel em: . Acesso em: 2021 set. 05. 7 RISDESE AEDIOAS CAUTELARES NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO STEIN, Emildo, Introducio 20 método fenomenolégico heideggeriano. In: Sobre a essncia do fandamento: conferéncias ¢ escritos flos6fi~ cos de Martin Heidegger. Tradugio de Ernildo Stein. Sio Paulo: Abril Coleural, 1979, STRECK, Lenio Luiz. Verdade e consenso: constituigio, hermentutiea teorias discursivas, 4* ed, So Paulo: Saraiva, 2011. VILELA, Augusto Tarradt; WEDY, Miguel Tedesco, Execugio Pro~ visdria da pena: eficiéncia e resposta correta, Porto Alegre: Livratia do Advogado, 2020 WEDY, Miguel Tedesco. A eficigncia e sua repercussio no direito penal e processo penal. 1*ed,, Porto Alegre: Elegantia Juris, 2016. WEDY, Miguel Tedesco. Bficitneia e prisdes cautelares. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2013, 98 4, 0 ARRESTO E 0 SEQUESTRO COMO MEDIDAS ASSECURATORIAS Gabriela Ruschel de Lia Pires! Eduardo Caetano Lema? INTRODUCAO. (© presente artigo visa a expor os instrumentos de cautela que ‘0 Juizo penal dispée para efetivar a tutela judicial, seus respectivos limites e suas implicagdes no sistema processual penal, af incluida a utilidade e eficiéncia 4 luz da legislaglo, doutrina e jurisprudéncia apliciveis. Nao hi aqui nenhuma intengio de esgotar os temas, mas sim, apenas expor as particularidades de cada uma das medidas, so- madas de uma pequena proposigic de reflexio. 7 Bspecialista em Direito Penal e Dieito Procesval Penal pela Universidade do Vale do Rio do Sines (UNISINOS); graduada em Direto com distingio académica pela Pontificia Universidade Catética do Rio Grande do Sul ‘Advogada atuante no Dircito Penal, com formagio complementar em Direito Penal Tributério pelo Instituto de Estudos Tributirios (LET). 2 Mestrando em Direto pela Univeusiti degli Studi di Genova (UNIGE); capecialita em Direito Penal e Dircito Processual Penal pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS); especalista em gestdo empresarial pela Fundagdo Geutilio Vatgas (FOV) especilista em Direito Tributirio pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributirios (BET); graduado em Diteito pela Pontificia Universidade Catélica do Rio Grande do Sul (PUCRS). ‘Advogado atusnte no Direito Erpresarial e Penal-Empresarial, com diversos cutsos de extensio e complementares em Instituigbes Brasleras ce estrangeitas. 99

Você também pode gostar