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A ocorrência e a frequência de indivíduos de 9 espécies de dossel foram testadas sob três tipos

de solo, classificados por seu tipo de formação (residual, aluvial e de vales de rios),
pertencentes a terras altas onde o gradiente é menos extremo do que quando comparado com
as transições entre terras secas e alagáveis (Clark et al 1998). Os autores classificaram a escala
geográfica desse estudo em mesoescala da paisagem. A área de floresta tropical em La Selva,
Costa Rica, de 200 há, foi dividida em parcelas de 100 x 50 m e em cada uma foi coletada uma
amostra de solo, a inclinação e a elevação do ponto. Das 9 espécies estudadas, encontraram
que 7 estavam altamente correlacionadas com o tipo de solo, apesar de nenhuma delas ser
restrita a apenas um tipo de solo. Para as 3 espécies correlacionadas com o tipo de solo
residual foram feitas correlações com a posição topográfica (planos, inclinação alta, inclinação
média e inclinação na base), o que revelou preferências por terras planas e repulsão por base
de elevações. As mesmas 3 espécies foram testadas por preferência a ângulos de inclinação do
terreno e mostraram associação com terrenos mais planos. Esse resultado mostra que vários
fatores edáficos em conjunto podem influir na agregação espacial em hábitat preferido.

Outro estudo desenvolvido também em La Selva (Clark et al 1999) utilizou as mesmas variáveis
edáficas para observar a distribuição espacial de todas as espécies 10 cm de DAP e com mais
de 5 indivíduos amostrados, em uma área de 11,7 há. Nesse caso dividiram os solos aluviais
em antigos e recentes e consideraram as áreas alagadas. Através de análise multivariada,
considerando apenas o tipo de solo, foram encontrados alguns grupos distintos
significativamente separados por preferências por tipos de solo e outra espécies formando um
gradiente. As palmeiras formaram um grupo de espécies que ocorreu principalmente em áreas
alagadas. As características topográficas também separaram grupos de espécies com
preferências. Foi calculado um índice de preferência de tipo de solo para cada espécie que
mostrou que 33 das 132 espécies mostraram essa preferência a um tipo de solo. Também
encontraram preferência por posição topográfica dentro dos tipos de solo. Os autores
acreditam que o resultado encontrado é uma estimativa mínima da distribuição das espécies
relacionada a características edáficas, já que o tamanho das parcelas e o tamanho total da área
usados no trabalho podem não ser suficientes para abranger a distribuição de espécies raras.
Na utilização de parcelas, o seu tamanho pode influenciar a conclusão, devido à relação entre
o tamanho do indivíduo e o tamanho da parcela e a escala espacial da distribuição (Hay et al
2000), isto é, neste caso a área amostrada (aproximadamente 12 há) pode ter sido pequena
para abranger grandes variações das condições edáficas que refletissem as preferências
edáficas. Em uma abordagem de partição de nicho entre as espécies, a divergência de habitat
deve ser um dos mecanismos que permite a coexistência das espécies (Ashton 1969) e a
preferência a diferentes fatores edáficos pode ser um dos fatores que determinam a
coexistência das espécies. A coexistência de espécies congenéricas simpátricas é uma relação
que pode indicar quais os mecanismos que permitem a coexistência das plantas de florestas
tropicais que têm requerimentos muito similares (Itoh et al 2003), pois espécies congenéricas
possuem grande similaridade genética. Em um teste dessas previsões foram amostrados todos
os indivíduos de DAP 1 de duas espécies congenéricas simpátricas ocorrentes em uma área de
50 ha do Parque Nacional Lambir Hill, Malásia, em dois tipos principais de solo e com
topografia caracterizada por montanhas de encosta íngrime (Itoh et al 2003). A textura do solo
foi utilizada como variável edáfica, pois estaria ligada a fertilidade do solo. Utilizaram também
3 variáveis topográficas: inclinação índice de convexidade e elevação. As duas espécies não
foram distribuídas aleatoriamente em qualquer das variáveis e as duas espécies ficaram
claramente segregadas, exceto os indivíduos menores. Uma das espécies apresentou
preferência por grandes elevações, terrenos convexos e arenosos e a outra apresentou
preferências por terrenos mais baixos e com menores concentrações de areia. Isso sugere que
a topografia e o solo são importantes para determinar a distribuição espacial, já que
interferem na concentração de água e nutrientes do solo, e podem ser os fatores que
permitem a coexistência das duas espécies (Itoh et al 2003).

Em um trabalho um pouco mais recente desenvolvido em floresta tropical africana (Reserva de


Floresta Densa Dzanga-Sangha, República da África Central) os autores não encontraram
associação entre a distribuição de 4 espécies congenéricas e a topografia em uma parcela
única de 50x2000 m . Apesar disso 3 espécies apresentaram associação com pelo menos dois
parâmetros químicos do solo, dentre eles: concentração de cátions trocáveis, disponibilidade
de fósforo, pH e textura do solo. Foi observada uma hierarquia na associação das
características do solo com a distribuição das espécies, em que as três espécies ocorriam em
áreas com baixa disponibilidade de fósforo, mas possuíam preferências diferentes às
concentrações de diversos cátions. Os resultados desse trabalho mostraram que as plantas são
agregadas em determinadas concentrações de nutrientes, entretanto, diferente do trabalho
de Itoh et al (2003), os resultados não foram suficientes para demonstrar a importância de
propriedades químicas do solo para a coexistência das espécies. A análise de concentração de
nutrientes e pH do solo também foi utilizada para caracterizar a associação entre solo e
espécies de planta em um estudo em mata ribeirinha do interior de Minas Gerais, Brasil
(Olilveira Filho et al 1994). Em uma área de 1,2 ha, dividida em 4 parcelas, foram obtidas as
concentrações de fósforo, potássio, cálcio magnésio e carbono orgânico, e também a
capacidade de troca catiônica e a caracterização topográfica. Obtiveram como resultado a
maior abundância de várias espécies relacionada a uma característica topográfica ou química.
Os resultados indicaram que as variáveis foram suficientes para explicar a variação florística
entre as parcelas (Olilveira Filho et al 1994), apesar de a área amostral ter sido pequena (1.2
ha).

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