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ANÁLISE DO GÊNERO RECEITA SOB A PERSPECTIVA DE

BAKHTIN

Geazi Savogim Batista – Letras (Português-Inglês)


Universidade Federal de São Paulo

Resumo: A intenção desse artigo é utilizar os conceitos do filósofo da linguagem russo


Mikhail Bakhtin (2017) e do autor Sérgio Roberto Costa (2009) para analisar o gênero do
discurso “receita”. O objeto analisado é uma receita de bolo de cenoura, e esse objeto foi
analisado através de um estudo de caso com referências bibliográficas e analíticas.
Palavras-chave: Bakhtin; gênero do discurso; receita de bolo.

Introdução

Utilizando os conceitos teóricos do filósofo russo Bakhtin (2007), propõe-se aqui uma
análise do gênero do discurso receita. De acordo com a corrente teórica desse autor, a Análise
Dialógica do Discurso, os gêneros são determinados a partir do campo de atividade humana
ao qual eles pertencem. Como o gênero a ser analisado aqui é uma receita de bolo (vide
anexo), o campo de atividade humana é o culinário.
Para Costa (2009), a receita é um gênero que se divide em duas partes: uma que lista
os ingredientes, e outra que instrui o interlocutor a respeito do que deve ser feito com cada
ingrediente. Essas características podem ser relacionadas, de acordo com o pensamento
bakhtiniano, aos conceitos de estilo e construção composicional.
A estrutura desse artigo conta com uma fundamentação teórica e com uma
metodologia, as quais servirão de base para serem feitas a análise e também as considerações
finais.

Fundamentação teórica

Para o filósofo da linguagem russo Mikhail Bakhtin (2017), pensador da Análise


Dialógica do Discurso, os gêneros discursivos se manifestam nos diversos campos das
atividades humanas. Bakhtin também aponta que a variedade de gêneros se deve à variedade
desses mesmos campos. Para ele, os gêneros se dão a partir de discursos, os quais são
formados por enunciados realizados concretamente na realidade, seja ela oral, seja escrita.
Dessa forma, o autor russo argumenta que os discursos são sempre promovidos através de um
gênero, o qual, por sua vez, representa “tipos relativamente estáveis de enunciados”
(BAKHTIN, 2017, p. 12, grifos do autor).
Em seguida, ao tratar da heterogeneidade dos discursos, Bakhtin afirma que a aparente
abstração vazia dos gêneros adquire esse caráter porque nunca antes se estudaram os gêneros
da maneira multifacetada como eles aparecem. Para o pensador, o que mais havia se estudado
desde a Antiguidade eram os gêneros literários, de maneira que todos os gêneros presentes na
oralidade não eram devidamente colocados em questão.
Após isso, o autor também relata que a minimização da característica heterogênea dos
gêneros discursivos decorre da “dificuldade daí advinda de definir a natureza geral do
enunciado” (BAKHTIN, 2017, p. 15). Em decorrência disso, ele estabelece que os gêneros
sejam divididos da seguinte maneira: entre gêneros primários e secundários — nos quais os
secundários se consolidam a partir da incorporação e recriação dos enunciados dos primários
em sua construção.
Para Bakhtin (2017, p. 15), é justamente pelo fato de os enunciados serem uma
unidade e “um elo na cadeia da comunicação” (concreta) e não da língua (abstrata) que eles
possibilitam que sua composição permita uma posição responsiva e dialógica — i.e., que
ocorra troca de ideias entre e através da alternância dos sujeitos do discurso. E é através dessa
maneira que os gêneros também adquirem o dialogismo.
Os gêneros discursivos, destarte, possuem características presentes nessas condições
concretas de uso em enunciados específicos e, de certa forma, padronizados. Depreende-se
então que, por essas características, os gêneros também se valem de uma construção
composicional, de um estilo e de um conteúdo temático (ou finalidade) no qual um gênero
pretende atingir.
Dessa maneira, ao colocar a questão dos gêneros nos diversos campos de atividade
humana, o filósofo da linguagem também leva sempre em conta a infinidade, a
heterogeneidade e o lado da alteridade na utilização concreta e real dos gêneros discursivos.
E, portanto, desprende essa área de estudo da linguística da terminologia usual dos livros de
gramática.

Metodologia

O gênero escolhido para análise foi o de receita, o qual, de acordo com Costa (2009), é
um gênero que conta com instruções para que o leitor possa preparar passo a passo um prato
ou uma “iguaria”. A impessoalidade é uma marca deste tipo de enunciado, e o indicativo e o
imperativo são as formas verbais que geralmente são usadas. Costa (2009) estabelece que a
receita culinária costuma ser dividida em duas partes: a parte que lista os ingredientes
necessários para a confecção e a parte que instrui como se deve confeccionar a iguaria (essa
última parte se chama Modo de Preparo).
A receita a ser aqui analisada é a de um bolo de cenoura. O local de veiculação e
extração foi feito via internet, em junho de 2022, no site “TudoGostoso”, e a receita é de
autoria do próprio site. O conteúdo desse objeto de análise conta com as características
apresentadas por Costa (2009) no que diz respeito à estrutura de divisão em “duas partes”
(ingredientes e modo de preparo). Além dessa divisão comum, a receita de bolo de cenoura
ainda se divide entre outras duas partes dentro dos ingredientes e do modo de preparo, de
modo a listar as instruções necessárias à massa e à cobertura do bolo. De acordo com Bakhtin
(2017), esses elementos da estrutura de um gênero são denominados de “construção
composicional”.
Para esse estudo de caso com pesquisa bibliográfica e analítica, os outros conceitos
teóricos bakhtinianos a serem adotados também são os de “estilo” e “conteúdo temático” (ou
finalidade). Outros conceitos da linha de pensamento da Análise Dialógica do Discurso são os
de “campo de atividade humana” e “enunciado”.

Análise

Primeiramente, para melhor adequar o gênero do discurso “receita de bolo de


cenoura”, é necessário que se explicite a qual campo de atividade humana este gênero
pertence. Afinal, para Bakhtin (2017), o conteúdo temático do gênero — i.e., a finalidade do
gênero — é a mesma do campo.
Dessa forma, como essa receita objetiva a confecção de um bolo, evidencia-se que
essa receita pertence ao campo culinário, e não ao farmacêutico — caso a receita fosse de um
remédio para tosse, por exemplo. A partir disso, depreende-se também que o conteúdo
temático almejado é a de ensinar o interlocutor a preparar um bolo (nesse caso, um de cenoura
com cobertura de chocolate).
Como os gêneros, para Bakhtin (2017, p. 12), são “tipos relativamente estáveis de
enunciados”, a próxima etapa dessa análise é identificar quais são as estabilidades do
enunciado do gênero aqui estudado. A isso, soma-se o conceito de “estilo”, pois ele permite
que se enxergue os recursos linguísticos que o enunciador se utilizou ao produzir o enunciado.
Costa (2009) afirma que a impessoalidade é bem comum nesses tipos de enunciado, e
isso se confirma nessa receita de bolo. Nela não há registro de uso de primeira pessoa, tanto
do singular quanto do plural. Além disso, observa-se o uso do imperativo na segunda parte da
receita, porquanto o enunciado se propõe a dar ordens ao seu interlocutor.

Considerações finais

Retomada do objetivo do artigo e da constatação do que foi analisado. Devem ser


destacados os principais resultados da análise.

Referências bibliográficas

BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: Os gêneros do discurso. Trad. Paulo


Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2017. p. 11-69.
BOLO de cenoura. TudoGostoso. Disponível em:
<https://www.tudogostoso.com.br/receita/23-bolo-de-cenoura.html>.
COSTA, Sérgio Roberto. Dicionário de gêneros textuais. 2. ed. rev. ampl. São Paulo:
Autêntica, 2009.

Anexo

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