Você está na página 1de 2

STF abre brecha para morte no trnsito virar ''crime sem inteno''

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu, na tarde de hoje (6), Habeas Corpus (HC 107801) a L.M.A., motorista que, ao dirigir em estado de embriaguez, teria causado a morte de vtima em acidente de trnsito. A deciso da Turma desclassificou a conduta imputada ao acusado de homicdio doloso (com inteno de matar) para homicdio culposo (sem inteno de matar) na direo de veculo, por entender que a responsabilizao a ttulo doloso pressupe que a pessoa tenha se embriagado com o intuito de praticar o crime. O julgamento do HC, de relatoria da ministra Crmen Lcia Antunes Rocha, foi retomado hoje com o voto-vista do ministro Luiz Fux, que, divergindo da relatora, foi acompanhado pelos demais ministros, no sentido de conceder a ordem. A Turma determinou a remessa dos autos Vara Criminal da Comarca de Guariba (SP), uma vez que, devido classificao original do crime [homicdio doloso], L.M.A havia sido pronunciado para julgamento pelo Tribunal do Jri daquela localidade. A defesa alegava ser inequvoco que o homicdio perpetrado na direo de veculo automotor, em decorrncia unicamente da embriaguez, configura crime culposo. Para os advogados, o fato de o condutor estar sob o efeito de lcool ou de substncia anloga no autoriza o reconhecimento do dolo, nem mesmo o eventual, mas, na verdade, a responsabilizao deste se dar a ttulo de culpa. Sustentava ainda a defesa que o acusado no anuiu com o risco de ocorrncia do resultado morte e nem o aceitou, no havendo que se falar em dolo eventual, mas, em ltima anlise, imprudncia ao conduzir seu veculo em suposto estado de embriaguez, agindo, assim, com culpa consciente. Ao expor seu voto-vista, o ministro Fux afirmou que o homicdio na forma culposa na direo de veculo automotor prevalece se a capitulao atribuda ao fato como homicdio doloso decorre de mera presuno perante a embriaguez alcolica eventual. Conforme o entendimento do ministro, a embriaguez que conduz responsabilizao a ttulo doloso refere-se quela em que a pessoa tem como objetivo se encorajar e praticar o ilcito ou assumir o risco de produzi-lo.

O ministro Luiz Fux afirmou que, tanto na deciso de primeiro grau quanto no acrdo da Corte paulista, no ficou demonstrado que o acusado teria ingerido bebidas alcolicas com o objetivo de produzir o resultado morte. O ministro frisou, ainda, que a anlise do caso no se confunde com o revolvimento de conjunto ftico-probatrio, mas sim de dar aos fatos apresentados uma qualificao jurdica diferente. Desse modo, ele votou pela concesso da ordem para desclassificar a conduta imputada ao acusado para homicdio culposo na direo de veiculo automotor, previsto no artigo 302 da Lei 9.503/97 (Cdigo de Trnsito Brasileiro).

Você também pode gostar