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E DESENVOLVIMENTO MATURACAO @ LYDIAF. CORIAT ALFREDO JERUSALINSK Y. ymo “o de- Piaget define o desenvolvimento psicogenético come |e ccnvolvimento a0 mesmo tempo organico ¢ mental, dU * do nascimento a adolescéncia, ou seja, ao ponto de jinserg40 do 963, p-12). Individuo na sociedade adulta” (PLAGET et alii, 1 Por isso, devemos distinguir Desenvolvimento de Maturs: into aos processos relativos 0, ja que 0 primeiro termo refere-se ta ceriistema nervoso como aos processos psicolégicos, enquanto que segundo conceito centra-se no ponto de vista organico. Com respeito a essa questio, Saint ‘Anne Dargassies S. aponta que “estes dois conceitos costumam confundir-se. No en- tanto, sio muito distintos, pelo menos em seu aspecto estritamente neurolégico... Esta dualidade de forgas, idade e meio, € a mesma definigdio do desenvolvimento, cuja organizagio flutuante se opoe ao determinismo estrito da maturagio ... “ (DARGASSIES, 1974). “Maturagdo € 0 conjunto de transformagées que sofrem os organismos ou algumas de suas células até alcangar a plenitude”. Por sua vez, devemos distinguir crescimento dos dois termos j& mencionados, porque fica claro que este se refere aos aumentos de tamanho, peso e volume. ‘Assim, crescimento, maturagdo e desenvolvimento referem- se desde trés perspectivas diferentes, aos processos evolutivos da crianca: enquanto crescimento alude as mudangas péndero-estatu- . BouToDAcRANGA_O7. Lydia & Coriat ¢ Alfredo Jerusalinsky rais e maturago assinala a conclusio das estruturas biolégicas e sua mais acabada articulagao, o termo desenvolvimento vem a ser, entre os trés conceitos, o mais abrangente, j4 que remete as trans- formagGes globais que, incluindo o crescimento, a maturagio ¢ as- pectos psicolégicos, conduz a adaptacdes cada vez mais flexiveis. Dentro dos processos maturativos, na finalidade de nosso trabalho, interessa-nos descrever com precisiio 0 que entendemos por maturaco neurolégica. A maturag&o neurolégica abrange os processos de completu- de das estruturas do SNC e neuromusculares, que incluem os proces- sos de crescimento e maturacdo bioquimica e, conseqiientemente,o aperfeigoamento ¢ enriquecimento dos sistemas de interconexio que resultam em coordenages progressivamente mais complexas € abrangentes. Embora exista um determinismo geneticamente estabelecido que regula o ritmo e a diregao destes processos, pode-se observar que as condigées do meio, tanto no sentido fisico-ambiental, como no sentido da estimulago, podem influenciar modificando a fungo e, ainda, a estrutura dos mesmos. Resulta dbvio que esta influén- cia pode atuar no sentido negativo, interrompendo ou distorcendo a normal evolug&o. Mais discutida resulta a possibilidade de uma influéncia positiva que, entretanto, nossa experincia clinica nos induz a colocar como possivel. Por exemplo, I. Essente menciona 0 melhor nivel de ma- turidade visual que apresentam criangas nascidas prematuramen- te quando chegam a 41 semanas de idade gestacional, comparado com 0 menor nivel visual de recém-nascidos a termo. Ainda que a vantagem desapareca aos poucos dias, isto nos demonstra uma certa flexibilidade no ritmo dos processos maturativos (ESSENTE, 1957). Em tal sentido, 0 processo de maturagdo neurolégica, ou a conclusdo das estruturas anatomofisiologicas do sistema nervoso € sua capacidade funcional, est intimamente ligado ao intercémbio entre organismo e meio. Hoje sabemos que 0 comando genético do processo de maturago precisa do alento funcional dos estimulos adequados (v. MINKOWSKI, 1936 e 1969). Também sabemos da plasticidade funcional e da capacidade compensatéria deste siste- ma nervoso central. A respeito, podemos citar as referéncias de J. 68: BSCRITODA.CRIANCA._ senvolvimento e Watrragio Eee Ajuriaguerra aos diferentes efeitos que, sobre o desenvolvimento da linguagem, produzem as lesGes nas zonas cerebrais compreen- didas nessa fungo, dependendo se estas produziram-se no periodo pré ou pés verbal (AJURIAGUERRA, 1973) Também Barrique Bordas diz. que: “... observa-se que esta intervengao (a hemisferectomia) no modifica habitualmente a capacidade para falar naquelas criangas cuja lesto inicial havia ocorrido antes dos dois anos, embora tivessem mostrado jé indicios de preferéncia manual direita e comegado a falar antes da lesio. Isto permite deduzir que, Aquela idade, ainda pode ocorrer uma boa transferéncia das fungdes da linguagem, desde o hemisfério esquer- do 20 direito... “ (BORDAS, 1963). Isso ndo ocorre somente em relagdo a fungio da linguagem. ‘Também na motricidade pode-se apreciar 0 caréter dindmico dos processos, inclusive no ambito anétomo fisiolégico. Assim apon- tam Barrique Bordas, L. J. Ponces Vergé, J. Corominas Vigneau, E. Torras de Bea e L. A. Noguer Rodriguez quando dizem, referindo- se a paralisia cerebral infantil, que “... a lesio existe ¢ nfio como tum fato isolado que somente se manifestaré quando ponham-se a funcionar algumas determinadas éreas do sistema nervoso, sendo que condiciona este sistema nervoso a uma nova situagio anéto- mo-funcional que modificara a maturacdo fisiolégica, a evolugo sensitivo-motora e psico-afetiva da crianca desde 0 primeiro mo- mento” (BORDAS, 1966). ‘Também, pela natureza da tarefa que nos propomos, assume importincia a compreenstio mais profunda do conceito de desen- volvimento. Dois grandes campos podem discriminar-se neste tema: o desenvolvimento desde 0 ponto de vista cognitivo e, por outro lado, o desenvolvimento da personalidade. J. Piaget menciona quatro fatores determinantes do desenvol- vimento cognitivo: 1) heranga, 2) experiéneia, 3) transmissio social 4) equilibragéo (PIAGET, s/d). ‘Menciona, no duplo sentido de, por um lado, 0s inconvenien- tes funcionais ligados & heranga geral da substincia vivente, e cer- tos érgiios ou caracteristicas estruturais, ligados & heranga especial do homem e que servem de instrumentos elementares para a adap- tagdo intelectual. ‘Neste sentido, amplia Piaget: “os reflexos ¢ a propria Lidia P.Coviat Alfredo Jersainsky morfologia dos érgfos a que estio ligados constituem uma espécie e conhecimento antecipado do meio exterior, inconsciente e total- ‘mente material, claro esti, indispensével para o desenvolvimento posterior do conhecimento efetivo” (PIAGET, 1972), Experiéncia, no no sentido de acumulagio passiva de infor- ‘magdo, porque para Piaget“... experiéncia nfo € recepgdo, mas sim ago e construcao progressiva” (idem). Jam Smedslund, baseado nas investigagdes de Piaget, Inhel- der e Karplus diz, em relagdo & transmissao social que: “a ocorrén- cia de conflitos de comunicagao é uma condigio necesséria para a descentragao intelectual” Antes disso, assinala que: “E bem conhecido que os interes- ses da crianga (e por conseqtléncia a maioria de suas experiéncias) esto concentrados nos principais aspectos da vida social, especial- mente as regras, os papéis, os valores e os simbolos. Até quando ‘uma crianga brinca sozinha o jogo faz intervir os papéis, simbolos € produtos sociais. Por esta razo, hé que se admitir que a intera- ‘0 social deve ser um fator capital no desenvolvimento cognitivo” (AJURIAGUERRA et alii, 1970). Jé nos primeiros anos, a transmisso social tem um papel importante no desenvolvimento da orianga. A respeito, Dean R. Spitzer diz que” .. a estimulagdo ambiental precoce s6 terd efeitos pPositivos enquanto um dos pais estiver sempre perto para promover © apoio do elemento humano nesta etapa priméria da aprendiza- gem” (SPITZER, 1978). Quanto a equilibragdo, trata-se de um processo interno que mobiliza as transformagdes dos sistemas de ago e pensamento Para compensar as perturbagSes produzidas no intereémbio do su- Jeito com o meio. Fala-se de equilibragao e nao de equilibrio porque no se trata de um estado, mas sim de um processo interior aos mecanismos de desenvolvimento, tal que “... as estruturas cogni- tivas podem ser interpretadas como 0 produto ou o resultado de um processo auténomo de equilibrago” (PIAGET et alii, 1957), tendo-se presente que “um estado de equilibrio nfo é um estado de repouso final ¢ sim constitui um novo ponto de partida” (PIAGET etalii, 1963, p. 20). Este enfoque do desenvolvimento cobre, evidentemente, os aspectos da confrontago da crianga com 0 real e encara sua evo- 4» ZO_sscnrTo Da cUANGA | Desenvolvimento e Mlaturagao lugdo desde 0 ponto de vista das conquistas adaptativas. Do outro lado destes fendmenos, que englobam a regido onde o sujeito con- tacta com o mundo em que vive, estende-se a zona do fantasma, através do qual o sujeito estrutura seu préprio desejo. ‘Aqui comeca a polémica acerca de por onde passa o eixo da

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