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INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO – IDH

ESPECIALIZAÇÃO E FORMAÇÃO EM SOCIOPSICODRAMA

PORTO ALEGRE – RS

Luthiane Pisoni Godoy

TÉCNICAS E SESSÃO DE PSICODRAMA

O psicodrama é um método que


aprofunda o conhecimento da alma
humana por meio da ação.

Jacob Levy Moreno.

Este escrito oferece inúmeras definições e conceituações sobre


diferentes temas dentro do Psicodrama, ressalta-se a importância das obras
fundamentais para que a apropriação sobre os vários temas seja realizada de
forma contínua. Desta maneira, ao fundamentar a sessão de psicodrama, muito
terá a se discutir as técnicas, as cenas e a utilização de jogos, todos os pontos
se interligam e esse é o presente do Psicodrama, poder compreender de várias
formas uma mesma teoria.

Contextos, Etapas e Instrumentos

Estes conceitos constituem o eixo do psicodrama clássico, seja na


prática psicodramática, psicoterápica ou socioeducacional.

Contextos:

Moreno compreende o homem como um ser social. Dessa maneira, a


prática psicodramática baseia-se no entendimento de que o homem sempre
está inserido em algum contexto. Contexto, segundo Moreno (1975) é um
encadeamento de vivências coletivas e privadas, dos sujeitos que
inter-relacionam-se espaçotemporalmente. Moreno ainda dividiu os contextos
em três, caracterizando-os e diferenciando o desempenho dos papeis em cada
contexto. Segue, desta maneira, a caracterização de cada contexto:

Social: Refere-se à realidade social e suas consequências. “Como é”.


Tem características econômicas, culturais e políticas, assim como normas e leis
que coordenam as práticas e vínculos entre os sujeitos (FILIPINI, 2014). O
contexto social abrange a pessoa, sua família, sua rede ampla de relações,
cultura, religião e nível socioeconômico; também inclui sua história pessoal.

Grupal: Esse contexto, conforme Filipini (2014) refere-se às regras de


funcionamento de um determinado grupo, sendo delimitado em tempo e
espaço e, tendo uma dinâmica específica que determina e compreende as
relações do grupo. Esse contexto é mais tolerante e permissivo, permite que as
regras sejam ajustadas. Também refere-se ao “como é”, mas questionando-se
algumas regras.

Dramático: É, basicamente, o “como se”. Possibilita fantasias,


dramaticamente acolhidas, trabalhadas e reorganizadas. O aqui e agora funde
o passado e o futuro, constitui-se em tempo e espaço subjetivos, podendo ser
questionadas/quebradas/modificadas as regras sociais e, consequentemente,
novas regras podem ser criadas.

Etapas:

Conforme Filipini (2014) a sessão psicodramática além de ter seus


contextos e instrumentos possui etapas, que são: aquecimento, dramatização e
compartilhar.

No aquecimento, que configura-se como a primeira etapa, constrói a


passagem de um contexto a outro. Prepara o protagonista para atuar no “como
se” – será abordado mais profundamente no próximo tópico – Moreno
estabeleceu o aquecimento por entender que era necessário, para representar
papeis e liberar a espontaneidade e criatividade, aquecer o protagonista e o
grupo para esse exercício.

A segunda etapa é a dramatização. Conforme Moreno (1975) “a


magnificação da realidade em drama liberta o indivíduo da realidade,
ajudando-o a combater a doença e curar-se de si mesmo”. A dramatização é a
ação onde o protagonista desempenha papéis e vive no “como se” suas
questões internas. É uma oportunidade para que examine o os papéis e o
sentido profundo dos mesmos. Portanto, permite o reconhecimento e a
libertação de papéis idealizados que estavam bloqueando a ação espontânea
no dia-a-dia do sujeito.

Para Filipini (2014) esse é o momento em que cenas que mais tomam
conta e provocam impasses possibilitam ser dramatizadas. Com intuito de
buscar ações renovadas, o grupo pode criar e experimentar diferentes
possibilidades do desempenho de papel. Em 1928, Moreno trouxe o conceito
de acting out (passagem ao ato) para o contexto do “como se”. Tem seu
significado em atuar para fora aquilo que está dentro do paciente”
(GONÇALVES, 1988).
Para ele existem dois significados de acting out: o prejudicial e irracional
que toma lugar na própria vida e relações do sujeito; o outro (acting in) é o
terapêutico e controlado, que é vivido no contexto dramático pelo protagonista,
e que o indivíduo a expressar e a organizar esses atos que estão o
atrapalhando em sua vida. Dando lugar ao acting in na dramatização
esvazia-se e diminui a chance do indivíduo de fazer o acting out em sua
realidade social.
O compartilhamento, a última etapa, é como uma participação
terapêutica do grupo. Esse momento permite que cada integrante do grupo
possa expressar como sentiu-se durante a dramatização, os sentimentos
vividos e vivências das quais se lembrou. É importante que cada participante
fale de si mesmo e não do protagonista, por isso o Diretor deve atentar e não
possibilitar que surjam críticas, conselhos ou julgamentos direcionados ao
protagonista, visto que muitas vezes o analisar e falar do outro é pura
resistência por parte do grupo de também se expor (BUSTOS, 1974).
Há ainda duas etapas que podem ocorrer no Psicodrama: a elaboração
e o processamento. A elaboração é sugerida pelo Diretor, após o compartilhar
ou no início da sessão seguinte. Relembra o ocorrido durante a dramatização
para auxiliar o protagonista a compreender o conteúdo expresso
relacionando-o com seu processo terapêutico. O processamento ocorre apenar
em grupos didáticos de Psicodrama, onde se busca, após o compartilhar,
analisar e registrar os conteúdos e passos técnicos realizados durante a
dramatização ou jogos. O processamento também inclui rever a dinâmica do
protagonista, analisando o tema protagônico e seus referenciais teóricos
(BUSTOS, 1974).

Instrumentos:

Sendo grupal ou individual, esses instrumentos estão sempre presentes


na sessão psicoterápica (FILIPINI, 2014).

Cenário: é o lugar onde ocorrerá o “como se”. Para Moreno (1975), o


contexto dramático precisaria ter um palco, sendo no formato teatral ou um
tablado ao redor do qual o grupo estaria. Quando uma cena inicia, o cenário é
demarcado pelo diretor por meio de objetos e espaços específicos que
organizem o contexto psicodramático.

Protagonista: porta-voz, o representante, aquele que contém o conflito a


ser trabalhado. Conforme Moreno (1975), o protagonista atua livremente, uma
vez aquecido, relata sua vida cotidiana, sua problemática. Lhe é concedida
liberdade para expressar-se, o processo de representação é catalisador da
espontaneidade, ou seja, passa-se do nível verbal para o nível de ação.

Diretor: coordenador da ação dramática, o próprio psicoterapeuta, visto


ser psicoterapia. O diretor assume três funções no momento da sessão, a de
diretor da cena, mantendo plateia e protagonista aquecidos, dirigindo a ação.
De terapeuta, atentando aos sentimentos, pensamentos e emoções do
protagonista e da plateia e, de analista social, ao referir-se a pontuações e
comentários compreendidos durante a dramatização (MORENO, 1975).

Ego-auxiliar: auxilia o diretor e o protagonista, no caso da terapia


individual, o psicoterapeuta ocupa também este lugar. Este tem a função de
ator, representa papeis e viabiliza a cena. Em grupo, auxilia o terapeuta a
captar sentimentos e representar papeis complementares que facilitam o
desenvolvimento da cena (MORENO, 1975).
Plateia: todos os indivíduos que se fazem presentes na sessão
psicodramática, contudo não fazem parte do “como se”. A plateia constitui-se
por todas as pessoas presentes que não estão incluídas na dramatização.
Funciona como uma caixa de ressonância e, segundo Moreno (1975) ajuda o
protagonista e é ajudado por ele. É painel de opinião pública e vê-se a si
mesmo no protagonista.

Aquecimento

O aquecimento é a base do trabalho psicodramático, visa situar o


paciente na sessão, focando a atenção em si mesmo, sentindo o lugar,
fechando os olhos, entre outros (CUKIER, 1992). Para Filipini (2014) o
aquecimento para uma ação é parte de um processo natural dos seres
humanos, esse processo é estimulado por dispositivos físicos, de arranque e
dispositivos psicoquímicos. Desta forma o sujeito põe em movimento corpo e
mente, atuando física e mentalmente. Para Moreno (1975) o aquecimento tem
expressão somática, psicológica e social, sendo capaz de libertar emoções
simples.

O aquecimento logo se incorpora a todas as técnicas utilizadas


na dramatização. Não se pode pretender que uma mudança de
papéis aconteça com uma simples mudança de lugar: é preciso
que se dê certo tempo para que realmente um entre na pele do
outro (...) é ir do superficial ao profundo, mediante um
aquecimento adequado (BUSTOS, 2005, p.83).

O aquecimento é a expressão operacional da espontaneidade (Moreno,


1975). Isso indica que, não somente o protagonista, mas também o diretor e
ego-auxiliar devem estar aquecidos para a ação dramática. Numa sessão
psicodramática há o aquecimento inespecífico: que se realiza por meio de
iniciadores físicos, mentais, psicoquímicos e simbólicos, preparando o sujeito
para a ação (FILIPINI, 2014). E, há o aquecimento específico, que - segundo
Cukier (1992), traz objetivos mais específicos, aquece o paciente de forma
focal para que o mesmo consiga se acalmar, desligando a atenção do mundo
externo e mergulhando em seu espaço interno e em suas questões. Permite,
segundo Filipini (2014) a passagem do “como é” para o “como se”.

Níveis de Dramatização

Conforme Bustos (1974), os níveis de dramatização são estágios


diferentes que a ação psicodramática pode ser desenvolvida. São três:

No nível real a dramatização situa-se pela experiência. Exterioriza-se


intuitiva ou emocionalmente sobre o tema. Esse nível carece de
espontaneidade e é exercido no “como deve ser”. É carente de profundidade,
de vida, temeroso de modificações.

No nível simbólico é elaborado conceitualmente o sabido. Simboliza-se o


conhecimento. Utilizam-se imagens ou vinhetas. Esse momento é importante
pois possibilita a sintetização e distinção da ação psicodramática.

Por fim, no nível de fantasia, aplica-se a situações novas, é a prova e o


treino de um tema. Dessa forma garante o compromisso com a ação
psicodramática.

Técnicas Básicas

As técnicas básicas do Psicodrama têm sua base nas fases do


desenvolvimento da Matriz de Identidade. São três momentos do
desenvolvimento da matriz de um indivíduo:
A primeira fase, Estágio de Identidade total ou Identidade do Eu, a mãe,
o mundo e a criança constituem uma identidade inseparável. A criança
depende do outro para sua sobrevivência, de um ego-auxiliar que faça por ela
o que ainda não consegue fazer por si mesma. Visto isso, Moreno denominou
essa fase como a fase do Duplo.
A técnica fundamentada nesse estágio é a Técnica do Duplo, onde o
ego-auxiliar ou Diretor aponta, no momento oportuno, aquilo que o protagonista
não está conseguindo constatar. Para isso, o ego-auxiliar/diretor toma a
postura idêntica ao protagonista, buscando uma sintonia emocional. Surgem
então sentimentos, perguntas e ideias, com as quais o protagonista se
identifica.
Na segunda fase da Matriz, de Reconhecimento do Eu, a criança foca
em outra pessoa e difere partes de si mesmo. Ao se olhar em uma superfície
de água ou espelho fica atraída com o que vê, ainda não se reconhece
totalmente, mas percebe que o espelho a repete e, então, se dá conta de que a
imagem é ela mesma.
Esse momento é fundamental no processo de desenvolvimento e
individuação da criança, desta forma a Técnica do Espelho foi construída.
Nessa técnica, outro indivíduo toma o lugar do protagonista, no lugar e com o
mesmo comportamento, o ajudando a se ver de outra forma. Desta maneira, o
protagonista vira espectador de si mesmo.
Na fase de Reconhecimento do Outro, a terceira, o sujeito possui mais
segurança e reconhecimento de si mesmo, sendo capaz de se colocar no lugar
do outro. Assim a técnica de Inversão de Papéis pode ser utilizada, ou seja, o
ego assume o papel do protagonista e vice-versa, propiciando o
reconhecimento do outro (YOZO, 1996; BUSTOS, 1974).
Estas são as técnicas básicas e, a partir delas surgem as outras, sendo
princípio destas. Por exemplo, a Técnica do Solilóquio, sendo uma técnica
verbal que auxilia a expressar níveis mais profundos do protagonista. É a fala
do protagonista consigo mesmo, dando voz ao que está se passando por
dentro (sentimentos, pensamentos relacionados a alguém ou a situação
vivenciada). Também, a Técnica de Interpolação de Resistências, que é
realizada a partir de uma modificação inesperada da cena exposta pelo
protagonista, como um embate, um confronto de ideias.

Cenas – Montagem e Desenvolvimento


Este subtópico é baseado na obra de Bustos (1974):

A dinâmica da cena é, então, todo esse conjunto operativo no


manuseio da cena psicodramática, a movimentação – força
externa e força interna – que produz a ação dramática; o
entrelaçamento entre etapas, técnicas, funções do papel de
diretor, iniciadores, instrumentos; os construtos teóricos que
fundamentam a ação dramática e o suporte filosófico que
alimenta o “encontro” psicodramático (BUSTOS, 1974, p.222).

Montagem: para iniciar uma dramatização, o primeiro passo a ser dado


é a montagem do cenário, construção e colocação dos elementos constituintes
da cena. Sugere-se que alguns aspectos abstratos sejam questionados, tais
como espaço e tempo da cena. Questionamentos para compor esse cenário:
Onde ocorre essa ação? Quando a ação transcorre? Qual a idade do
protagonista? O que está acontecendo com você e sua família nesse
momento? Como está vestido? Essas perguntas possibilitam a recriação, no
espaço dramático, do tempo e espaço, sendo presente e real ao protagonista.
Para Bustos, a cena está para a dramatização como a bola está para o futebol,
não existe um sem o outro.
Investigação: essa etapa busca a pesquisa e o início da produção da
cena, este é o momento de entender e definir o assunto trabalhado. Assim, é
importante que coloque-se os participantes da cena – egos-auxiliares - em
seus papéis. Para que a cena inicie: quem é que inicia a ação?
A partir desse ponto, o protagonista conduzirá, pois o protagonista é
sempre autor e sabe até onde ir e sabe o seu limite. O Diretor, portanto,
organiza e deixa que o protagonista desenvolva o iniciar da cena, do diálogo. O
ego-auxiliar precisa manter-se atento e focado ao que está acontecendo na
cena para realizar a troca de papéis.
Através do solilóquio, aprofundam-se as características do personagem,
podendo surgir sentimentos e expressões contidas, a entrevista no papel pode
ser uma ferramenta neste momento, possibilita a compreensão da história e
vínculo entre protagonista e outros participantes da cena. Nessa etapa o foco
de trabalhado é localizado e dá-se o próximo passo na dramatização.
Elaboração: o surgimento de sentimentos e elementos imaginários
possibilita a evolução da cena. Para isso a partir da investigação e
desenvolvimento da cena, é possível verificar se as dificuldades do
protagonista e, se consequentemente, o fato presente liga-se a uma questão
anterior, ou seja, na matriz de identidade.
A percepção das dificuldades e defesas, da problemática e emoção, vão
sendo conscientizadas pelo protagonista, através de concretizações. O objetivo
dessa etapa é abrir a possibilidade de alternativas.
O aqui-agora é o tempo real. Vamos para a primeira cena que
surge, mesmo que nos pareça sem sentido e um tanto pueril.
Vamos do superficial ao profundo. Para isso necessitamos
delimitar o contexto, o argumento – roteiro -, a queixa e para
onde esta nos leva. Protagonista e diretor são coprodutores da
cena (BUSTOS, 1974, p.228).

Resolução: muitas vezes o protagonista tem dificuldade em encontrar


uma resolução, ou não sente-se pronto para que isso ocorra. Desta forma,
volta-se a essa questão ou mesmo o grupo sugere alternativas. Finalizar uma
dramatização não significa que ela encerrá-la. Muitas vezes mantê-la aberta é
a própria resolução, sem forçar saídas trabalhando essa questão no processo
terapêutico ou em outras cenas.
Esta etapa não caracteriza-se como um final feliz ou resolutivo. Quando
é necessário realizar uma finalização de um desejo que não é possível, há a
possibilidade da criação de uma realidade suplementar, porém isso deve ser
avaliado pelo Diretor se de fato para o protagonista será terapêutico.

Jogos Dramáticos – expressão de liberdade

Os Jogos Psicodramáticos buscam explorar os ritmos e o


reconhecimento dos sujeitos. Estes, em situação relaxada e tranquila, se
tornam mais acessíveis. Os Jogos permitem explorar as tensões presentes nos
indivíduos, permitem a livre expressão do mundo interno, concretizando
fantasias e atitudes (LEITE, 2014).

Depois de criado e incorporado pela sociedade, o jogo também


passa a fazer parte de seu acervo cultural. Dentre as muitas
características, os jogos têm funções extraordinárias. Além de
estarem fortemente ligados à aquisição de conhecimento e à
aprendizagem, através deles é possível viver quase tudo: “(…)
criam-se personagens, compensam-se limitações, resolvem-se
impasses e resgata-se o equilíbrio da natureza de si mesmo e
do ambiente.” (MOTTA, 2002, p.82)
Para Cukier (2002) os jogos caracterizam-se como uma brincadeira, que
possibilitam o autotratamento junto à terapia de grupo que entende a
espontaneidade e a criatividade como fatores ímpares para o desenvolvimento
do jogo. Yozo (1995) apresenta os jogos como propiciadores de atos
terapêuticos, do vínculo terapêutico e da liberação de tensões dos participantes
do grupo. Os jogos vêm, então, para ultrapassar limites pois “a sociedade criou
conceitos (conservas culturais) que refletem no ser humano e muitas vezes não
são questionados ou repensados” (YOZO, 195, p.42).

Conforme Treteski (2014) o jogo faz parte da história da humanidade.


Mesmo em formas simples, os jogos perpassam aspectos físicos e biológicos.
Huizinga (1971) afirma que o jogo é função vital, não podendo ser definido
lógica, biológica ou esteticamente. O jogo em seu conceito exato é distinto de
outras formas de pensamento, para Monteiro (1993), o sujeito joga buscando
satisfazer sua curiosidade, usando a identificação, a imitação e a
representação para expressar-se, ou seja, por meio da ação.

Moreno (1975) afirma que sua primeira sessão psicodramática foi aos
quatro anos e meio de idade, quando se aventurou brincando de ser Deus com
os seus amigos. Segundo ele, muitas de suas ideias a respeito da sua
metodologia surgiram dessa experiência do jogo infantil. Desta forma, é
possível afirmar que o Psicodrama nasceu de um jogo. Além disso, Moreno
costumava reunir crianças pelos jardins de Viena e formava grupos para que
elas representassem teatros de improviso com assuntos de seu mundo infantil.

O jogo se insere no Psicodrama como uma técnica que propicia


ao indivíduo expressar livremente as criações de seu mundo
interno, realizando-as na forma de representação de um papel,
ou por determinada atividade corporal. Assim, a produção
mental de uma fantasia é objetivada (MONTEIRO, 1993,
p.210).

Jogar tem uma significação importante no desenvolvimento humano,


permitem que o sujeito expresse seu pensamento, durante o jogo, de forma
espontânea e criativa. O envolvimento que a atividade promove faz com que o
sujeito esteja inteiro na atividade, despertando seu potencial (TRETESKI,
2014). Para Motta (1995), o jogo possui a ludicidade, mas não semelhante a
brincadeira, que viabiliza o divertimento sem compromisso ou contexto,
contrário ao jogo, que tem objetivos.
O jogo vai se formando de forma surpreendente dentro de um
determinado grupo, e busca, então, resgatar o ser criativo e espontâneo que
existe dentro de cada indivíduo. Considerando o próprio jogo e o contexto e a
maneira com que for executado e proposto, pode se tornar invasivo ou
desestabilizador, para isso o clima lúdico é proporcionado, fazendo com que
temas que se fossem abordados verbalmente seriam difíceis de serem
discutidos. No jogo, há um nível maior de intensidade, de brincadeira, de
fascinação e alegria que fazem com que se crie uma satisfação e realização ao
jogar. Os jogos auxiliam, portanto, na adequação dos comportamentos dos
sujeitos ao mundo (LEITE, 2014).

O jogo, em um sentido mais geral, pode ser definido como


divertimento, recreação, passa tempo, no qual estão embutidas
regras de funcionamento a partir dos limites de tempo e
espaço. Mas sabemos que ele é muito mais do que isso.
Muitos autores concordam com a função social do jogo, isso
porque, além de organizar, divertir e entreter os grupos, os
jogos captam a dimensão imaginária, na qual estão contidos
muitos conteúdos culturais de uma sociedade (TRETESKI,
2014).

Motta (2002) afirma que o jogo vai além do plano objetivo, ou seja, há
uma separação espacial da vida cotidiana. O jogo possui, além de seu
ambiente de alegria e de suas características, outro traço fundamental: a
consciência de que se está “fazendo de conta” (HUIZINGA, 1971). A essência
do jogo, desta forma, está na capacidade de ir em direção à liberdade e a
permissão do trânsito entre o imaginário e o real.

Referências:

ALMEIDA, W. O que é Psicodrama. São Paulo: Brasiliense, 1998.


BUSTOS, D. M. O Psicodrama: aplicações da técnica psicodramática. São
Paulo: Editora Ágora, 2005/1974.
CUKIER, R. Palavras de Jacob Levy Moreno: vocabulário de citações. São
Paulo: Editora Ágora, 2002.
FILIPINI, R. Psicoterapia Psicodramática com Crianças. São Paulo: Ágora,
2014.
GONÇALVEZ, C. S.; WOLFF, J. R.; ALMEIDA, W. C. Lições de Psicodrama.
São Paulo: Ágora, 1988.

HUIZINGA, J. Homo Ludens – O jogo como elemento da cultura. São Paulo:


Perspectiva, 1971.
LEITE, P. P. Jogos Dramáticos em Sociodrama. Retirado do:
http://globalherit.hypotheses.org/1698., 2014.
MONTEIRO, R. Técnicas Fundamentais do Psicodrama. São Paulo:
Brasiliense, 1993.

MORENO, J. L. Psicodrama. São Paulo: Cultrix, 1975/2003.

MOTTA, J. (org.) O Jogo no Psicodrama. São Paulo: Ágora, 1995.

MOTTA, J. M. C. Jogos: Repetição ou criação?. São Paulo: Ágora, 2002.

TRETESKI, G. A arte do improviso no desenvolvimento do papel de


psicodramatista. Trabalho de Conclusão de Curso. Especialização em
Sociopsicodrama. Porto Alegre: Instituto de Desenvolvimento Humano, 2014.

YOZO, R. Y. K. 100 Jogos para Grupos. São Paulo: Editora Ágora, 1995.

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