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PENSAMENTO IV:
FENOMENOLOGIA
EXISTENCIAL E
HUMANISTA
Fundamentos do
psicodrama
Gilmar Antoniassi Junior
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A teoria psicodramática de Jacob Moreno apresenta uma possibilidade de
união dos processos terapêuticos com práticas dramáticas, ou seja, propõe
a união entre a psicologia e o universo da dramatização, a partir da vivência
de representações. Moreno foi ousado em considerar que o exercício de inte-
rações dramáticas, a alternância de papéis e outros recursos da dramaturgia
poderiam ser usados como formas de desenvolvimento humano. Essas práticas,
como ele percebeu, podem produzir insights importantes, promovendo, assim,
desenvolvimento humano. Com essa metodologia, Moreno conseguiu atrair a
atenção de muitas pessoas e estabelecer uma robusta teoria, principalmente
no que diz respeito a intervenções em grupo.
Neste capítulo, você vai estudar o papel da criatividade e da espontaneidade
de acordo com a visão moreniana. Também verá como a matriz de identidade é
compreendida por ele e qual seu papel na teoria. Para finalizar, você estudará
a teoria dos papéis sociais.
2 Fundamentos do psicodrama
O psicodrama
O psicodrama tem como foco a intervenção com grupo, por meio da repre-
sentação vivencial. Seu criador, o médico Jacob Levy Moreno, de origem
romena, quando jovem cursou dois anos de filosofia. Já na infância, Moreno,
ao brincar com grupos de crianças, utilizava-se do jogo de improviso com o
objetivo de favorecer a espontaneidade e a criatividade; na adolescência criou
o seinismo — a ciência do ser. Moreno empregou o teatro como metodologia
para favorecer a representatividade e, por meio dele, discutia os dilemas
sociais envolvendo o encontro de pessoas, observando as interações grupais
e as características psicológicas (CONSERVA, 2014).
Nessa perspectiva é preciso compreender que o movimento psicodramá-
tico se sistematiza a partir dos aspectos da socionomia, ciência que estuda
as leis sociais, as quais conduzem o comportamento interpessoal, apoiada
na observação das relações entre as pessoas (denominado de sociometria),
entendendo a dinâmica do grupo (sociodinâmica) e as relações com o contexto
(as ações sociatriais). Fundamentada nesses conceitos associados, a metodo-
logia da representatividade do teatro de Moreno estabelece, no psicodrama,
a ciência que explora a verdade, por métodos dramáticos, a partir dos papéis
desempenhados na sociedade, elaborada pela capacidade de agir e interagir
entre as pessoas, por meio do encontro (AMATO, 2002).
O termo encontro, para o psicodrama, parte da compreensão filosófica
de Moreno (2011) de que é a experiência essencial para vivenciar o momento,
capaz de promover um evento único (considerado o ato psicodramático — o
aqui e agora) e/ou fazer-se um representar à parte de um conjunto (o que seria
o processo psicodramático). Esse termo seria, então, um convite, espécie de
convocação ou apelo para a sensibilidade do próximo.
Portanto, a dramatização é o ponto vital do psicodrama. Ele usa a repre-
sentação dramática como núcleo de abordagem e exploração do ser humano
e seus vínculos; tem uma linguagem que lhe é particular por meio da qual
trata de sensibilizar o espectador a respeito daquilo que está sendo indicado;
utiliza-se da improvisação, do próprio espaço físico e de recursos auxiliares
que possibilitam ao sujeito vivenciar e experimentar os diversos papéis nos
quais está inserido na sociedade e os dilemas que tem vivido (CONTRO, 2004).
O desenvolvimento da ação dramática possui três momentos importantes.
O primeiro momento realiza o aquecimento, em que o grupo é preparado
por meio da escolha do tema proposto e de quem vai ser o protagonista. No
segundo momento, acontece a representação da cena dramática, entrando os
egos auxiliares encarregados de apresentar os personagens reais ou simbólicos
Fundamentos do psicodrama 3
Espontaneidade e criatividade
Como já dito, o psicodrama é um processo psicoterápico em que a repre-
sentação dramática é usada como ferramenta para explorar a psique e seus
laços emocionas utilizando como pontos básicos de sua teoria o conceito
de espontaneidade e criatividade. Para Moreno, todo homem é ser espon-
tâneo — criativo — e, a partir de sua espontaneidade e criatividade, ele se
relaciona na sociedade, estabelecendo os vínculos sociais e representando
seus diferentes papéis que se interagem.
Dado isso, entende-se como espontaneidade no psicodrama a capacidade
do homem de agir de forma natural, congruente em dado momento de forma
criativa diante das situações e das relações entre as diferentes pessoas,
por meio de sua capacidade empática de se colocar no lugar do outro em
diferentes situações e contextos.
Já a criatividade para o psicodrama dar-se-á por meio da revolução criadora
definhada por Moreno a partir dos obstáculos ambientais e emocionais de
se interagir socialmente por meio de sua espontaneidade. Então, pode-se
dizer que a criatividade é o que adenda a capacidade espontânea do homem.
Segundo a Federação Brasileira de Psicodrama (2021), o trato entre cria-
tividade e psicodrama é uma ligação simbiótica de coexistência intrínseca e
essencial para manter a espontaneidade. O psicodrama estimula a prática
da execução da criatividade, promovendo no homem insights que permitam
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de identidade pode ser distinguida pela rede convívio que envolve o homem
desde o nascimento (enquanto criança) quando o casal deslumbra uma relação
afetiva enamorada, incluindo mutuamente fatores biológicos, psicológicos,
culturais, sociais e ambientais.
Logo, o homem sem memória não tem perspectiva de futuro e lembranças
que possibilitem resgatá-las para recriá-las e vivenciá-las de modos dife-
rentes ajustados à realidade por meio da fantasia. Sendo assim, a matriz de
identidade é desenvolvida no homem a partir de dois momentos denominados
universo. No Quadro 1, a seguir, é possível compreender como se dá a dinâmica
da matriz de identidade nos seus diferentes momentos e seus universos.
Matriz de identidade
Matriz de identidade total
total diferenciada
(Continua)
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(Continuação)
Os papéis no psicodrama
A teoria dos papéis de Jacob Levy Moreno é o elemento teórico central no
psicodrama, representada por uma visão bastante otimista de desenvolvi-
mento humano, e se refere a um modelo pluralista da mente, em que cada
indivíduo exerce muitos papéis que podem ser desenvolvidos, alterados,
jubilados e modificados durante a vida (ŽURIĆ JAKOVINA, 2017).
Os papéis são uma convenção de elementos singulares e sociais, em que
cada pessoa é definida por suas experiências individuais e pelas conservas
culturais de uma assentada sociedade. Eles combinam comportamentos e
emoções que são expressões da identidade de uma pessoa e são inseparáveis
de seus contextos. Desse modo, Moreno afirma que o self emerge dos papéis
que desempenhamos (MCVEA; REEKIE, 2007).
Portanto, Moreno acreditava que a criatividade é resultado da necessidade
de mudança, sendo um processo de cooperação entre pessoas que aprimoram
conceitos conservadores e criam novos. Moreno afirmou que a criatividade
está no núcleo do psicodrama, como uma forma de energia inspiradora que
ajuda a sociedade a tomar consciência dos problemas e ajuda o indivíduo a
tomar consciência dos problemas da sociedade, enquanto a espontaneidade
é um processo físico, mental e interpessoal, orientado pela criatividade. A
criatividade é uma forma de ação, o ato da criação, enquanto a espontanei-
dade é a prontidão para criar, operando no aqui e agora (SAROL-KULKA, 2004).
Moreno argumentou que a teoria dos papéis poderia ser a ponte entre a
psiquiatria e a sociologia. Mais particularmente, ele viu a teoria dos papéis,
com seus fundamentos nas ações dramatúrgicas como um poderoso instru-
mento para orientação psicológica, sendo mais inclusiva do que os conceitos
sociológicos ou psiquiátricos, permitindo o crescimento mental e o bem-estar
pessoal, como aspecto terapêutico (MORENO, 2011).
A teoria foi concebida por meio do formato grupal de psicoterapia, com
origem no teatro, na psicologia e na sociologia. Entretanto, enfoca as par-
ticularidades do indivíduo como a interseção de vários papéis relacionais.
Por esse motivo, é uma terapia com foco no individual em formato grupal,
centrada no protagonista, e a ação pode se dar em torno dos diversos papéis
que ele assume ao longo da vida.
Por conseguinte, Moreno atribui a inspiração de sua teoria dos papéis
dando destaque à ação e às funções sociais. O papel é o modo como o ho-
mem assume em dado momento específico de ação e reação na qual outros
homens e objetos estão envolvidos; sendo assim, os papéis podem ser psi-
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Referências
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Leituras recomendadas
FONSECA FILHO, J. S. Psicodrama da loucura: correlações entre Buber e Moreno. 3. ed.
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