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minuoreca ne csens soca Texto Qf. fee anole veh nas CARLOS RODRIGUES BRANDAO cet PLANTAR, os COLHER, nia Comet Um estudo sabre 0 campesinato goiano Diretos adguisidos para a tingua portuguese por [a Hesmenetde do Barros, 31-4 — “Gia 29241 — Tho de Janeiro — ves Brands ho DeasliPrantd te Bratt MAX DA COSTA SANTOS CAPA: Sonia Marla Géulert CIP.Braslt, Catstogacsona tonte Sindicato Nacional dos Bakores de Livros, Ro Brandio, Carlos Rodrigues, Praniar, other, comer : win estudo fampesinato "golaso “/ "Carlos Redeigues ‘tio.’ alo de daneira : Bdiebes Creal “aibioteca. de" citncias socials Série ovo a gotano, "2 As Tegras da’ mulher, Seupaio’ famiar ‘aibtogratia Reseitas de comidas do Brasil — ois 2 weses "Brasil Twi Te Tita, ato golano IIT Se Gotie —"onigoes ‘Estudo sobre cs copanisses S01 Te0o9y79 BAe count si2a9e173) rose ‘nna 90 Squadra te Brasil ~- Golds “= Alimestagho” 3 Catope: ‘inten: mana} INDICE 1. INTRODUCKO 2. A ALDEIA DE SAO JOSH DE MOSSAMEDES 3. A FRODUGAO, A CIRCULACAO # 0 CONsUMO DE ALI MENTOS "ENTRE LAVEADORES UnnANToanee We CIDADE DE MOSsAMEDES © Lavrador em Mossimedes Qs Modos de Acesso ao Allmento © de Consumo da Comida 4 AMATA E 4 ROCA: A IDROLOGIA DAS RELACOES ENTRE © PRODUTOR DE ALIMENTOS E AS CONDE COBS NATURAIS DA PRODUGAO Da Mata & Fazenda ‘A Pasenda: Produpio e Gonstane ‘A Forca da Naturena Da Pazenda 3 Cidade A Trajeldria da Carénci 5. A ROCA E 4 MBIA: a ippoLoGia bo rRoDuTOR BE ALIMENTOS SOuRE AS CONDIGOES SOLES DA PRODUGAD. [A Produgéo Solid [A Produgdo Dif Ee 6. CRENGAS DE USO B RESTRICOES DE CONSUMO: A IDEOLOGIA DAS RELAGONS ENTRE © CONSUMIDOR: BO ALIMENTO ‘A Order dos Alimentos © Valor ea. Commida ‘ © Peitfio @'0 Arroa: O Forte 6 o Fraca A Lavania ¢ & Lima: © Quente @ 0 Frio © Porco © a Vaca: © Reimoso & © Semeima A Banha e 0 Gleo: © Gostoso eo Sem Gosto . O LUGAR DA COMIDA E A COMIDA DO LUGAR. (© Lugar da Comida ‘A Comida do Lagat BIBLIOGRARLA ANEXOS 2. A Gomide de Mosssmnedes: Recoites do igor 1. As Regras da Mulner” treenos de enteesickes 1. Quadros" co Capitals 14f ue 12 rc im “A vida do peao, o senhor veja: € plantar na meia, cuidar da lavoura, colher, comer. € vender © pouquinho que sobra do gasto da familia. € plantar de novo ‘no outro ano, calher, comer. E nessa lida a vida vai"” Um tavvador em Mossdmedes Capitulo t INTRODUGAG Quando convidado a falar sobre a sua vida, 0 la vrador de Mossimedes fala sobre o seu trabalho.’ Quan- 1 Larador seré sompro considerado aqui 9 prodtor rural stra ‘6s de trabalho diveto, nto proprietario Ge terra em shicaras (ur em fazendas A categorie lavrador. envelve 0 trabaihador ural parcetro(*meelro"), 0 assoleriedo ‘rural diary 4ssim Come Yodo 0 "peda" (home local comum para. cate: forla iaerador) que combine = allerativa sccocites de Sces S0'b'terra ea veda Ge sun forga de tratalo. Fozendeiro, proprietérto ox “dono”, sho 08 produtores surats Pocouidores do terra; trabalhadores rurale Aaoexslasivos, Ot Plotrebalhedores rurale (atuanteisiae nn eede ao mumiipie fu fore dele) apropriadores permanentes ow perladicos "dd rca de teabah, Camponds ou pequeno proprietério & o produtor agricola don: de porgoes de terra de pequenas cimensoes (as "fazendinnas (04 as Nchécaras"); trabalhador direto em regime de prodigso familar em gral mio spropriador de Torea do rabmo. {Camponesas dence, de propriecases muito peqienss elo poe 5 produlivas, podem ear também "mectios" ou Tavradores rant, pelo meno, peioden anal "da ciclo groin tos © tavrador urbanizado é squete euja (amie reside, hove na ea do runic em agin ti stn. pari Iterator ele se epee a0 agrepado, uni tabattador ears nie proprletario e nine resident, cam sua farilia em tervas de do ele fala a respeito de seu trabalho, esti falando sobre como e onde produz, adquire e eonsome alimentos? Entre as muitas ¢ complexas atividades e relacées da produgdo direta de alimentos de origem vegetal e animal; entre esforgos por fazer circularem tipas de “mantimento” os momentos de consumo da comida, © lavrador emprega a maior parte do seu tempo de cotidiano e organiza 0 nucleo mais motivado de Fepre- sentagdes sobre © seu mundo? A economia de Mossimedes esteve sempre dividiaa entre a pecuaria e a agricultura de cereals’ arroz, ini- Iho e feijao, associada, no passado, a0 cullivo de fumo, algodio e cana, Quando fala de todos os tipos de agentes sociais alguma vez presentes na regio, 0 lavradot eoshuma ex. cluir 09 governadores ¢ outros funciondrios "da. cores que, durante alguns anos entre fins do séeulo XVII ¢ © século XIX, usaram a pequena ““Aldela” como resi. dencia de verdo. Ble faz referéncias ligeitas, e de co- nhecer limitado, aos indigenas reunidos em séculos pa sados pelas autoridades portuguesa em dois alden- (Os momes lorais uaados para designar: eategorias de prods lorem rurais, lipos de reldpbet de teabaine, locals de edbaiho { atvidades de producto, quando usados saul com froqllenci ‘arreario au aspeados spenas na primelta yeu Seo sem sacrlas entre asp ae expressdes locus ¢ ae pecuehas Ines ‘te ontrovistas olbides corso Hust Steet ade Ae ei) eae asta coe ate ea ee Aes eta SEAT ol a ate alan te No capitulo € sto fetes consideragGes 4 respeito de aiteren- {7 Tocals entre as delay ee" alimento, mraptiments, soda Sung sub visas ‘mentos préximos & antiga capital do Estado — a Cidade de Goids — e vizinhos entre si: a Aldein de Sao José e @ Aldea Maria. Assim, para 0 lavrador de hoje, as pessoas do pas: sado de sua regio — as do comego de um “tempo antigo” — vieram atras das primeiras boiadas e foram 9s ‘construtores das. primeiras grandes tazendas. Os fazendelros, entao poucas e donos de grandes extensdes de terra, e a sua “peonada”, sao as eategorias de sujeitos ue fazem maior Volume nas pequenas sagas locals das histérlas da regiao, A eles — fazendeiros e seus “va- queiros"’ — associam-se, como personagens de epoptia as conversas do cotidlano, 0 “boiadelto” e 0 "pea de boladeiro."* Quando fala de um tempo de pastado a9 qual multas vezes incorpora partes de sua Biografis, © Javrador de Mossimedes fala poueo de seu proprio tipo de produtor agricola, Durante todo o tempo da conquista da regiao e até oucos anos atras, grandes florestas cercavam a cidade por todos os tados e escondiam as “‘triihelros” entre as oucas fazendas e os “‘caminhos” entre Mossimedes ¢ @ Cidade de Golds, Esta matas foram ricae em cagas de grande © médio porte. Tanto os mamiferos quanto a8 aves (“os bichos”) e como também os peixes do Rio Fartura (“a Fartura” como o rio 6 chamado até hoje) 40 vaauciro era sempre o emprogado de um fazendelro, Cu 3 de parte do seu gado e podia ehegar a sero otenter ak Imlnistrador ‘da ‘fazends. boiadelfo. era 0. cofaptador Mb guantldades, matores de gado Toes! para’ yenvla ter merce 05 do ‘Gos, Minas ‘Gerais, Bahia e Sa Paulo. Folate oi alaquesro” como" um pequeno comprader te tede mace, venda em, mereatos prdximon. Opes de botaddire ete fare regis do oiadeiro. ele 0 ‘jet Principal das taSakey Serlanelas ‘de Golas, tal como oe cangaes locus Cmte ae lola. Entre os pequenos mitos goianos, 0 peto de bovsasivg, ‘posto ao lavrador por ser esceniaimente errante, sltsiee & ‘Runcn abrigado ao trabalho “no cabo Ga thaada” <- fs tes to culturaimente concebido como um “herci" da. tegiaoe A ele "pode estar aasoclado 0 Vaquoito, sempre. populaeenis lee eet sein Tica fon pela soqusncia de pequenas aventuras amoroses eujos te. Inores finais estto fos vereas de casamento cont aa fies ie fasendelros. : foram parte complementar de alguma importancia na ieta dos lavradores agregados de fazendas, Por outro lado, muito pouca referéncia é fella a cacadores e/ou pescadores profissionais, A caga ¢ pesca ndo foram nem sio alividades de acesso ao ali- Mento, consideradas como um tipo de trabalho e, 10g0, constituldoras de uma categoria profisslonal, Cotocando-se quase sempre fora dos limites das ea- tegorias de profissionals ocupades no trato do gado de fagendeleos , exclulndovse, em sua pti, da simples coleta (eaga, pesca, “cata” de vegetals da mata, do cam: po, do cerrado, ou de mel), 0 lavrador se apresenta como lum cultivador de cereais e dos outros vegetais da sua dleta, Ao se pronunciar sobre o seu trabalho, sobre as suas alternativas de allmentacao ¢ sobre as relagoes com ue se enyolve para obter “mantimento”, o lavrador ex- ica coma: em um tempo de passado; na'trajetoria deste ‘tempo antigo” para os “dias de hoje” e, em um mo- mento atual de trabalho dificil e privagio erescente, ele observou principios locais de produgio, cireulagao ¢ con sumo de alimentos A maior parte dos estudos de comunidades rurais no Brasil descreve © analisa reuniées de dados sobre forma de posse e de trabalho entre sujeitos de socie- dades e de economias “de subsisténeia", Esta idéia de uma atividade humana produtora “da subsisténcia esta sempre assoclada a produtores rurais (camponeses, lnvradores, “‘risticos", caipiras, sertanejos, ete.) que ) out colhem comida’e nao produzem exeedentes para lum mercado, entretanto existente; b) ot conseguem obler os sous alimentos ¢ até algum excedente para um. imereado, no entanto, ndo-existente.® eos estudos, mals conhecidas, @ de Antonio Céndido ism telala &\ praties econommica eas condigbes de vida, do neni a'rabain contuecs erage ae cines's 28 ROUGE Ientog." Butte todas describes de" comunidades. ‘Faris Iiasileras tera 9 que mais se aproxima do: que procure! Taset ‘ Moretedes 0 Neste estudo, feito entre lavradores urbanizados de tuma sociedade rural do Mato Grasso Goiano, procure! deixar que fale o produtor de subsisténcia, Portanto, nao € objeto de descricao, aqui, o conjunto de fatores deter minantes da atual estrutura do sistema de posse © Uso da terra na regio. Algumas explicagses a tespeito po- dem ser encontrados no relatérlo de pesquisa feito por José Ricardo Garcia Pereira Ramalho (Brandao ¢ Ra malho, 1975). A estrutura de relagdes entre produtores de gado e de cereals nio 6 sequer descrita aqui neste estudo, a no ser quando ela emerge da versio ideclo- gica dos lavradores de Mossimedes, No capitulo seguinte, a antiga Aldeia de Sido José de Mossamedes ¢ apresentada ao leitor, As informagoes sobre o local da pesquisa foram restritas ao que se cons siderou como essencial para um conhecimento direto de quem sio os seus produtores rurals e, entre eles, quem 6, especificamente, 0 sett lavrador. A vinda de algum “rancho” na fazenda para uma “casa” na cidade obrigou a familia lavradora a alterar alternativas e habitos de produce e outras formas de ‘acesso aos alimentos. Ao longo de uma rotina mareada por mudancas freqitentes de uma fazenda para outra, chegada a cidade de Mossiimedes representa o comego de uma série de rupturas e de redefinigées tanto na pratica econémica quanto na pritica allmentar. © capitulo dedicado aos habits de comida do la- vrador urbanizado procura deserever condigdes concretas dos seus usos atuais de alimentos. Assim, no eapitulo TI, © lavredor urbanizado € objeto de deserigdio em dois momentos. No primeiro procuro explicar quais as suas Condigées abuals de presenca na eidade e de trabalho “na roca’! a organizaeao da familia para o exereicio do trabalho produtor de alimentos e 0 seu regime atual de contratos com outros produtores rurais, Hm um segundo momento, procuro explicar a. si tuagio da familia lavradora urbanizada, com respeito 8) fs varingdes de possibllidades de produgio e cultive (inclusive doméstico) de alimentos; 8) & eireulagao da u comida dentro de sistemas que envolvem, desde as mo- dalldades locais de trocas nao remuneradas de “manti mento” entre parentes, vizinhos e amigos, até as com- pras de comida, feltas dentro e fora dos limites da cidade edo municipio; ¢) ao consumo da comida pela famili seja na medida atual do alimento componente da dieta familiar, seja nas varlagdes reconhecidas desta dieta, desde a’ vinda “da fazenda para a cidade", seja nas ‘mudangas "dos ditimos anos pra &", Os capitulos seguintes sfio dedicados ao desdobr mento da ideologia e das crencas locais de producao, acesso, circulagao e consumo de comida* AUS haver iniciado os trabathos de campo, pensava dividir o estudo em duas partes: as representagées das condigSes sociais da producao e as erengas relativas a0, consumo de alimentos. Inicialmente eu pretendia ex- plicar como o lavrador fala a rospeito da cadeia de Felagées em que precisa se envolver para conseguir a “comida da familia”, Buscaria depois descrever 08 as pectos mais relevantes de medo como, transformado em lum consumidor, o “peio” classificava e considera o unl- verso do comestivel e as regras locals do uso € restrigdo Depols das primeiras entrevistas, tomei conseiéncia dle que, em todo a Mato Grosso Golano e, sobretudo, en. lire os’ profissionais proletarizados da agricultura’ das cidades ‘mais antigas, falar sobre ““o de comer”, compro- relia combinagdes entre pelo menos trés ordens de relagies: as duas primeiras quando @ Iavrador define paulas de sus experiéneia como um agricultor de ce- ‘nupeitadas dem sistema de. tepresentaeio octal em. sua f iva A prdtica allmentar, acreditadas, como ‘ease silicates commplementaree.atraves de tim compiexo sistema “iverengas, 0 Iavrador define: a ua elassfioagao de catego ‘ite Sonentiveisy ae qodalidades de mamtpulagio © uso aa ‘x uineiplos e'metivor de restrigbee de pos de co nor toe’ de sufelon. © avidente: que crengne decom Ss tlt um sien de epresentagSes neice ma reals: a tereelra quando se apresenta como um dos consumidores da comida do lugar © primeiro par de relagées combinadas considera fas trocas entre a sotledade produtora © a natureza, detinida como um primelro amplo e efetive espace de produc3o. A importancia da natureza no discurso do Iayrador — possivelmente muito grande no caso de Mos- sfimedes — pode ser compreendida apis a descricio dus torras das dreas atuals do munielpio (capitulo TV} (© segundo par de relagdes coloca em contronto, nos limites entre um puro espago de natureza e os da sociedade constituida sobre ela, categorias de produtores Vistos através da mediacao de trocas na esfera da agri- cultura como sujeitos em algum tempo solidérios e, hoje, antagonizados (capitulo V) Finalmente, 0 terceiro par considerado, devolve o estudo as transagées entre as pessoas do lugar e a na- tureza, aquelas agora consideradas como eonsumidores e esta, através da comida consumida, ‘Um mesmo sistema de coisas vistas como aproxl- ‘adias e opostas, estabelecido entre um espago dominado pela natureza; tim outro intermediario e ristico, domi- nado pelo mundo “da roga”, nas fazendas e, finalmente, Jum espago novo de relagées tido como recente, ¢ dese- quilibrador, na sociedade urbanizada e moderna — per- corre e aproxima as trés faces de relagses que o lavrador invarlavelmente esclarece ao falar sobre seu trabalho sobre as condigdes dos seus alimentos. # a busca da ordem ¢ do simbolismo deste sistema 0 que domina as preocupacdes da pesquisa, Niio sendo este um estudo ao mesmo tempo mals restrito e mais preciso, dentro dos limites de uma Antro- pologia Cognitiva, nao deveré escapar ao leitor que nio houve aqui a predcupasio de sistematizar em dominios rigorosos 0 conjunta dos componentes do discurso do lavrador urbanizado, quando ele se ocupa de estabe- lecer o seu modo de perceher of geus iguais como agri 13 cullores e a sua familia, como um conjunto de consu- midores difrios de alimentos.” Sem a ajuda de um pequeno e muito eficiente con- junto de colaboradores o trabalho teria se alongado no tempo e reduzido em suas possivels contribuiedes para © comhectmento do assunto, Desejo agradecer inicialmente a Matilde Saddi Brandio e a seus filhos: Carlos, Divino, Luis, Silvia ¢ Leticia — todos nascides ¢ eriatlos em ‘Mossimedes, ¢ hoje residentes em Goiinia. A primeira assumia a tare fa — talvez mais apropriada para o fogio do que para tum relatério de pesquisa — de reunir o reeeitudrio das comidas mais usadas no cotidiano dos moradores das favendas e da cidade. Os seus filhos responderam. pela aplicagéo de um pequeno questionétio, etjos dados fa- zem parle do material ineluido no capitulo TI. Silvia Brando foi também a encarregada de desgravar tum niimero apreciével de fitas_magnéticas com as entre- vistas fellas pelo autor, iniciadas no més de janeiry de 1975 e Lerminadas no mesmo més, em 1976. Uma pequena equipe de atunos da Universidade Pe- deral de Goiés participou de uma pesquisa introdutéria & problemas como os estudadas aqui, feita na cidade de Nova Veneza. Algumas idéias foram obtidas em did Jogos com estes altinos. Dentre eles, trés alunas do curso de Ciéncias Sociais completaram a colaboraeao consul. tando artigos e livros a respeito de tabus alimentares, organizando 0s dadas do questionario aplicado em Mos: simedes discutindo com o autor problemas de pesqtl- sa ¢ analise dos problemas abordados: Marcia Ferreira, Célia Maria Ribeiro Pimentel e Mariida silva Ramos. 7 Rapes nar no eno de Aarea Gomes Soute Pesaro Cin cule letra, felts poueos diss antes de Raver inclodo, hos primetros dios da dedembro de 1915, fase fina dos Ce bplhos de campo fol, a0 mesteo tempo, extremamente prod Liva'e desafladora, Multo embora née’ tana assuride, qui "unt mesmne’ponto- de ubordagern metodalogic, Lago" continy, tts eeferénclas an seu trabaiso, Mio e6 pola convergence Ge wearin, como Dela bronimigade ininetivel de oa. ‘Tereainha de Jesus Coelho vem trabalhando comi- fo, na regido, desde comegos de 1974. Muito embora es- teja ocupada em outra pesquisa, sobre formas de atti. culagao entre religido e sotiedade, ela soube arranjar tempo e dedicagio para, sob muitas formas, prestar uma ajuda indispensivel no estudo do uso dos alimentos, As pessoas de Mosstimedes — sous lavradores “dla roca” e do coméreio" (residentes na cidade), alguns camponeses e raros fazendeiros — todos Ja amigos, de- pois de tantos anos de vindas e prosenga entre cles, ‘so os maiores responsévels pelo trabalhio feito. Para realizar um estudo sobre seus costumes e a stia ideo logia alimentar estive em suas easas, na cidade e¢ em fazendas, comi entre eles a “comidinha de todo dia" ¢ aprendi, entre uma garfada e outra, quase tudo 0 que justifica este trabalho, ‘A pesquisa fol realizada entre janeiro de 1975 & ‘marco de 1976, com periodos de campo concentrados nos primeiros mesés e em julho de 1075 assim como em ja. neiro de 1976. 0 seu apoio financeiro fol felto através de um programa nacional de estudos de alimentagao realizado por convénio entre a FINEPE e a Universi. Gade de Brasitia. Desta iltima devo registrar ainda 0 Iinteresse de Aldayr Brasil Barthy, chefe do Departa- mento de Ciéncias Sociais, assim como o frequente apolo © 98 conselhos de Klaas Worttman, responsavel pelo programa de pesquisas, em nome da Universidade de Brasilia, Gotdnia, 21 de margo de 1976. 15 Capitulo W A ALDEIA DE SAO JOSE DE MOSSAMEDES (© inunicipio de Mosstmedes fol emancipado no ano de 1953. Assim, de sua historia de 202 anos, a cidade fol um dos distritos de Golis, antiga eapital do Estado, por um periodo de cerca de 180 anos. A antiga Aldeia de So José fol erlada pelos portu- gueses para servir de local de aldeamento de mdios da regido. Pelas qualidades de seu clima fol também sada por governadores da Provincia como residéneia de ye- Yio, Depols de abandonada por funciondrios da coroa por seus primitivos habitantes, a regiio fol repovoa- da por frentes ganadeiras e de agricultores de cereals, primeiro de golanos, alguns saidos das antigas “cldades {do ouro” apos a decadéncia da mineragio e, depols, pot levas de mineiros.* “Os agregados que se instalaram nas casas da aldeia_ sio smulalos pobres sos quals ‘0 yovernador permitia estabele- ergo entre os indiony encontraram ein Sag José no £6 lima moradia'que taida thes custa, com ainda, viveres ba ‘las, e podem sultiear se terrae’ Gos Celapes, © agine " Chegase a Mossamedes, saindo de Golénia, pela rodovia GO-4, Poucos quilémetros antes da Cidade de Goiés toma-se a estrada municipal que vat do “entron. camento” & sede do munteipio, depols de 35 kin de es: tuada de terra. Duas vezes por dla passa por Moss modes, a caminho de Sancreriandia, um énibus que sai ale de Golds. No passado iase & "Velha Capital” peto mesmo caininho, ow através dos ataihos abertos na Serra Dourada, Apenas ha menos de 12 anos fieou mais fiiell chogar a regido. Sequer a estrada entre Goiania © Golis era asfaltada e a de Mossimedes era uma es- treita e muito sintosa estrada proxima a serra e cheia R sive estes times foram aubmictidas pelos porlugueses Undo odie ras ven voy Sacer ta cong fm por casio do'minna vagem. A adininisteache erat tis aldein @ contiads funn corenel, que reside tin Vila Bos (ome anterior da Cidade de Colas “'CH),e\6 diretor de lorie! aldeias da provincia. Oe Caipée estio, em Sto Jost sob a tulela tmediata do im destacansento militar que fs rompoe eum eabo, teido @'tiulo de comardarta, oe Simpies dragao, ammbos de compantie de ‘vila Boa, ede laine pedrestes, dois dos qunie 280" oficiaissuballernoe Entre os simples etresices contam-se urn gerralheira. & pm cupinteiro, © primeiro encarregade de reparat os ins trumenfos dos’ cainpas, © ultimo de conservar 0s edifice lpia 0 cabo comandante tem autoniduae ‘pars Cast os dio, pono os homens no’ tronea’ dando fer fis 'atheres © ettanpas "Os Caiapds,Iaveamn a terra em ‘omum durante ino Wiss nn semana’ sob 9 inspegto: des Poiesires; ‘depositase ‘a colhelta dat plantagbes, comin Nos armtgéns’ da aides, ¢, om seguida 6 distributda. pelo ‘i comandante ‘entre’ as famine indigenas, segunda ijt de adn uma. © stocdenle vende quer ma iad, quer aos pedestres, que sh Oorigados tester 0h prtpria eusta e, como" dinhelro ue ratalea see Vendy 0 diver géral compra sal, tabeed, tecdo do algo. si stamente de orro gut enn ono conan (ima) toda diagua que move ao mesmo tempo uh ho estinado’a. mer toi uma maquina pare dee sit 0 algodgo, e, por fim, vinte quatro fuses, wna, ii rece, nor “in, s0s000 "para enkinar” ae rmuiberes flat @-teeee aigodao, eo resultado dos seus hertenee i comunidade ‘come os pradutos do as dite a semana, de que a8 indice podem dis. smprogamno pain Dlantagses particulate ae * (Saintes, 1Seei0. " de pequenas pontes sobre varios los que descem dela em direcao ao Rio Fartura Depois que, por sua vez, © municipio perdew terras Para outros, mais novos como Sancrerlindia, fico com tama rea de 994 kin? e com uma popillagao de 12921 habitantes, 2.439 na sede e o restante disperso entre os Gistritos ¢ “‘patrimonios” (Mirandépotis, Buriti, Ade india, Campo das Perdizes e Centrolandia) e ‘as fa zendas e chécaras “da toga" Somente nos tltimos 6 anos a cidade modernizou-se, At6 entio ela diferia em muito poueo do antigo aldea. mento de indios da regio, © coneentrado urbano de ‘Mossimedes é dominado pela Praga Damiana da Cunha (“india Calap6” cristlanizada etida ‘como ‘uma das Principais mulheres da histéria do Estado). Até 6 anos atrés praca era ainda o grande “largo” onde, em ume das cabeceitas os indios construiram a velha Tgreja de Sao José e plantaram as paimelras imperiais derrubadas hh menos de 4 anos, Em uma das laterais do “largo” foram construidos prédios piiblicas hoje transformados fem residéncias. De um dos Angulos do largo sal a Tua do coméreio local (vendas, bares, pequenos armazéns ie roca", agéncia do correio). Desta rua sacm cinco ou seis tranversais, ocupadas com casas de residéncia. A rua do comércio se interrompe em uma oultra pequena praca e, depois, transforma-se em uma eurta avenida de duas'pistas por onde se chega & cidade onde recen- temente foram edificados os novos prédios putblicos (prefeitura, forum, grupo escolar ¢ gindsio) e se trata de construfr a “parte nova" da cidade. Justamente no lado oposto ao do prédio da prefeitura, foram doados lotes a migrantes pobres, multos doles’ os lavradores Uurbanizados, sujeitos desta pesquisa. O Toteamento to- ‘mou o nome de “vila” ¢ eresce muito depressa. Também algumas das antigas “familias de posse” mudaram @ sua residéncia para as torras prOximas aos prédios pilblicas, Até cerea de 8 anos passados, a antiga Aldeia nio contava com mais dé que uns 2.000 habitantes, quase a9 todas, como hoje ainda acontece, ocupados em uma das alternativas locals do trabalho rural, z Depols de haver-se transformado em uma regio de “lavoura e eriatério”, tal como sucedeu também com fas proprias “cidades do’ ouro”, apés a quebra da mine- acho, Mossamedes encontrou’ uma populagdo dispersa pelas poucas grandes fazendas de economia eoncentra- dda sobre a criagdo de gado de corte onde, sob as ordens de uma familia de proprietarios rurais, viviam ¢ traba- Ihavam, euidando de seu gado ou plahtando pequenas Tavouras de cereals em "rogas de toco", intimeras fa: millias de lavradores agregados? Durante quase toda a sua historia, néo houve para Mossimmedes soquer um mercado local ou regional de venda dos produtos da agricultura, a ndo ser o da “praga de Gols", pequeno e para onde convergiam lavradores de toda a regiao. Também ali, na “ponta da Linha” (perto de Leopoldo de Bulhdes, 0 antigo ponto terminal da Estrada de Ferro), em cidades de Minas Gerais, de sd Paulo e da Bahia, era comercializado em efellva escala de mercado, 0 gado criado nas fazendas e perten- ceente aos poucos ériadores de entio# _Bste prolongado periodo de uma economia de sub- Kéneia a que se condenavam todos os pequenos pro- Gutores de cereals, s6 muito recente e progressivamente foi sendo substituido por uma economia dirigida a0 mereado também para‘o srroz. (hoje prinelpal produto do municipio), de milho e de feijao, Hoje, menos gado 2 AW hoje algumas regibes de fazendas sie denominadas pelo hhome ‘de ‘suas primeltas grandes facendas, ‘Ha mals de. 50 Indias © pequetias propriodudes nas terrae da agenda Paral aire otto tanto nas da “Fazenda Conceigho". ale hoje hi Iitioe Tor problemas de velidade ae propricdades ‘ntigas 8. “Antigamente © sal vinha para Golds por estrada de. ferro ste Ubaraba "ual pra ed, &m carro de hole. Mais tarde Celaya ‘im Arne ids cn Stowe, Be Arava ale Ce ronitne mil rein © desnorava.em ida © volls, as tenipo inde meses, normairaente: Durante as uni, ence 8 ‘tie meaee"" COrtemeso, 1081 7). 20 (sobretudo depois da tltima “baixa'" do prego “da cria- gio") e mais cereais, sao os ocupantes dos pastos, das “terras de cultura”, dos “campos” e dos “cerrados” de fazendas menores e com menos quantidade de “manchas de terra boa", devido a sucessivas repartigdes entre hierdeites © vendas a tercelros — confrontantes ou nao = de partes de fazendas originals. Embora 0 munleiplo esteja situado nos contra- fortes da Serra Dourada, Mossimedes & considerada como uma regio de inumeras “manchas de terra de cultura”, aptas para o plantio do arroz mesmo sem qualquer uso de fertilizantes, O uso de adubos e de mé- quinas agricolas amplia as possibilidades de uso de terras para a lavoura de cereais. Por outro lado, a di- visio de fazendas, 0 “fechamento dos pastos” (diviso ‘de pastagens com cereas de arame farpado) © a ndo {introdugao de eapineiras produtivas e resistentes 20 pro- Jongado periodo de secas anuais, reduz as alternativas de eriagao do gado, Considera-se que devido & qualidade ddos pastos atuais somente com uma fazenda com pelo menos 50 alqueires golanoe (pouco menos de 250 ha) comeca a ser compensadora a criagio de gado bovino para a venda de lelte © de care, De 645 propriedades rurais cadastradas pelo INCRA alé 1973 — niimero que no inclui todas as chécaras e fazendas do municipio, estimadas em pouco mais de 1.000 — 313 tém entre menos de 30 © 50 ha; 115 entre 50 @ 120 ha; 85 entre 120 © 200; 0 entre 200 © 800 ¢, finalmente, 8 entre 500 e mais de 1.000 ha {apud Ramalho, in: Brandio e Ramalho, 1975: 14 4008 tips de terran sio clasificados em toda a regio da. se (uinte mnabelea: cultura, cerrado campo. As ferras de cull Faoriginadas da. cerrubada Ge matss e germimente make PIO ‘ins aoe ties, #90 saboivididas em “eulbura Ge primelra”, "ce Fogunda’ e-até'ace tarcetray, soiuo Ja-quace ieuais as terrae Sieerrado. 80 como uso de adubo linica, de tntrouusse Il erie en Monin © comm oer [ujoes agricola, comegouse a “abrir roga”™ ow 8 "abrir Suef fora pobres Go cervndo © de campo. parle).* Os némaros traduzem, em outra linguagem, parte do que 0s lavradores contam quando descrevem © que aconteceu no municipio, Algumas poueas enor- Ines fazendas de criatério foram desmembradas até uma omininncia de inimeras propriedades camponesas, ‘cujos donos, nao raras vezes, em pouco diferem suas vidas eo seu trabalho dos de lavradores nao-propric: Lilas, Grandes e mesmo médios proprletirlos somente ayora modificam a diregio de seus Interesses ¢ iniia- hu evinyio de gado, reservavam as pastagens quase toda A terva existente, Pequenas manchas de terra de cultura cram ocupadas com lavouras de cereais de que as maio- Fes quase nunca excediam a 4 alqueires (hoje, um dos maiores fazendeitos da regiao planta 320 alqueires em lovras ‘de sua propriedade © em terras arrendadas) sons lavouras, feitas em “rocas de toco” (sobre terras We matas derrubadas e quelmadas e sem o uso de tra- loves) pertenciam ao préprio fazendelro ou eram entre- a tereciros sob a forma de “terra eedida”. Por cle sistema antigo de trocas de servigo o lavrador plan- ava set obrigagoes de repartir com 0 faaendeito, parte ile sua colhetta de cereais. © “trato” previa a devolucao las terras usadas sob a forma de “pasto formada” para gad do “dono”, depols de dois ou trés anos de plan Miorde artoz, feiJa0 e milho, Abandonando um local de 5 Alnus dudes sobre as medidas, rurais entxe 98 goianos, pos tient tls a engo so tnaiho, 0 alee tana ede ‘ihaoo'ont, tradvida.geralmente em “bracss (120 Th) pelos lnvradores, ‘O-siqueize € uma. rea de terra que comporta ayronnaaene strode somntes aon A “guna tnira medida usual, tem dois sentidos. & dita como ac quasta parte do algheire (assim, das quartas olanas Pestana in Algueire paula). tanibm 9 tmedida “de a0" Hivos, tomade fomo una lata de querenene’chela de sementes Ge arror Ae Sim, em Mossamedss, tanto 26 “plata uma quatts de roe? on se pode comprar "una quarta de farina da mandioce” Guando nterrogado sobre as ‘imensGes de sua “roex deo Tou';'n lavrator nfo responds aunea em medidas de, meito ‘Qvadratn ou se hectares Ble use expressdes ‘como, “quase: thm wiqueire‘de cho" “umn aiquotte’@ mals 10 Stroe”; “dune fauoetas" ete. [ver Orteneto, ISH 2 ravouras 0 agregado no abandonava. necesarlamente ‘jasenes, Bie ra gutoriado a derrubar mals uma utea Sparta de mata" e feniear outro contrat de ser oie bac proprictaro. Bra tambern previa. «jude Tin detdaal ao lavrador para com 0 oew fazendeto, Depols do. surgimento de um mercado cada. vez mals ebmpensador para @ venda de cereals, o sistema etre teaiga” fol subsituido por sistemas de parce: flag" “arrendo” ea "mei, este ultlmo o regime quase finteo para o caso dos trate entro lavradores e fazen- Acie "Assim, o ivredor de bainn rend “planta mela o que significa que, em (roca da "terra. arada”, de algund insuimos e, em certes casos, da doagao de femektescbriga-se & repariir a eolhelta do azzor em partes iguale cor 0 propeelirio* | Introdugéo de maquinéso rural (financiado por dances ace fazendelros ou alugado pelo Goiasrural) © 0 Geo eatendido de fortlizantes, fez estenderem-se a terras fe campo e de cerrade, como. vimos, as Tavouras de Sercals, sobretudo as de arrou. Decorrente disto um mic fnero crescente de fazendeiros reduz ou elimina 0s con- tte de lore na mela Uma das The bree tidas para a negarto da pafearia e az consequentes pressbes atuals de salda de agregadas dao terras do fa- Einaas é a de que, do pasado para ef, quace todas as Sntigas proptiedatesrurais foram divgidas mais de uma fez e, hoje, néo ado para o gado ¢ a5 Tavouras do Tazendeiro"” No entanto, mesmo os poucos grandes pro- Deleitios tendem a preterie a ccupagéo de suas terras Fine prelerido entre o lavrador.¢ 0 tazendelro 6 a mel © Dua e"Gphce cobsetuto part 0 caso do, orvou, Vale também Fate's clos domino onde, no entento, na também tratos de ange na bate Ge 20 2-407 da, colhelta pagn 0 iasendeto, ‘Ea'foral’o lite plantado pelo-"peto” no €-preseito comme Evoura de pareeria'e entendese Gue o'lavrador pode lear om toda olny even ue a plane er taras J¢ Dre ertdae para mitho. viendo. suas prcprias sementes, "Ex. Eaotos’ricos wenaon a shogarsiqutires. de eras. quando seeteCrmpiter suas lsvourss ou, tandem ‘fazer arrendos Sere a Poenas evrterrh brute” ao outro proprietario, = weaned. anne Wovtaitagern de 30 8 30% da cathete. 23 Mratonmtes ¢ tocas préprios, jé que podem obter Tucros tmnt 0m ws tocursos moderntzados da lavoure nes than ant trabalho indizeto de um “metro” Uren. Mun uuitenle de lavradores-agregados tende 9 abot, fonersaarnitadtia em ranchos cedidos em fazendag (aaytiaudo o trabatho rural, aglomeracse pelee dict ina ttttleipio ou nas casas ¢ areas mak pobtes ws § anos para cé, pequencs ¢ médios lem suas terras e “seguem pro Norte Gols © Sul do Para) em busca de novas pes, run tte ado de corte em grandes fazendas de Coe, vie aisimy me regiéo povoada com tovan de goles Tint hus le mineiros, por dectarada falta de taker nes Mnunnatres de origem, comeca agora a ver sane wuineipi, i ae i woe’ gado; os Ultimes, vaqueicos da faced: Hous feralmente “na sorte” ou mt "agement, i aor” era tito da soguinte maneira 0 vi * do fazendelro um em eas eu ce Se 400 colorado so ga’ 268 Via'de Fore 9 vaquelrs wendcira 0” gado Tecthide mm Agtegados, nao assalariados e, pelo menos iniclalmente, ndo-parceiros, Treo, iatistas", empregndos asalariades cua Ble-deobra € apropriada mediante remuneragio “por dia de trabaiho". 25 Capitulo tit A PRODUCAO, A CIRCULACAO E 0 CONSUMO DE ALIMENTOS ENTRE LAVRADORES URBANIZADOS NA CIDADE DE MOSSAMEDES Quando o lavrador deixa de residir em uma das fazendas onde foi um agregado e vem morar na cidade com sua familia, todos os seus integrantes sto obrigados a alterar parte da combinacao de alternativas e habitos de acesso € uso de allmentos Anterior a eapitulos em que séo descritas versées de crengas alimentares entre lavradores eitadinos, este capitulo tem por finalidade explicar quem so, como trabaham atualmente; como reorganizam o sistema familiar para produzirem alimentos e como, finalmente, manipilam recursos locals para o cesso ¢ 0 consumo de comida, © Lavrador em Mossimedes Como regra geral, os lavradores hoje residentes na cidade de Mossamedes nasceram “na roca" e viveramt luma vida totalmente ligada a agricultura, havendo muitos deles chegado & cidade ha menos de 5 anos A vinda para a cidade é uma “derradeira” mudanca. epois de a familia havér passatlo por algumas ou por a wirlas fazendas da regio, Como um agregado de fa- venta, o lavrador fol um trabalhador assalariado a set vivo do fazendeiro, ou um agricultor pareeito em suas lotras, © fazendeiro cede temporariamente uma casa para ‘a familia do lavrador, um rancho de madeira, iw ou, mals raramente, de tijolos, quase sempre rit com folhas de capim ou de alguin tipo de co. ‘uneito, A casa do pedo pode ser também a propria sede tla fazendta ow una easa vicinha, melhor que a de outros uuteridos, quando © empregado € o gerente de uma (aenda de um proprietario residente fora. ‘Alem de suas “rogas na meia”, o lavrador usa terras tw reilor da easa para fazer a “plantagdo" de outeos ‘manlimontos". No passado ele podia usar até mesmo ws pastngens da fazenda (ainda nao separadas por arame Hupado) ¢ podia cultivar vegetais permanentes ou sem! permanentes, Nao he era proibida a eriaeao de aves ¢ orees ¢, tanto uns como outros, faziam parte de sua slieta. Hoje em dia o uso de terras adjacentes & resi: lenela do pedo ficou restrita ao cultivo de plantas sazo- hats e, nos melhores casos, ao plantio de mandioca ¢ A eriagéo de galinhas, ‘A progressiva restri¢Go do acesso a recursos imedia- ox de obtengio de alimentos familiares, fore os das 1a. vonras associadas, é considerada pelo lavrader como uma ‘ins taOes mais decisivas para a certeza de que “no rompensa’” mais morar nas fazendas, ntve os motives usados para justificar a vinda para Mossidmedes esto, pela ordem de sua freqiiéncia. a) 0 ‘mento, agora muito vertiginoso, das dificuldades de (rabaiho e de obtengio direta de alimentos nas fazendes, ' @ procura de um trabalho “melhor”, como o de di tisla ow © de um assalariado urbano; c) a preocupagio com p estudo dos fills: d) a expectativa do encontro das “facilidades", de ascisténcia na cidade (servigos de alendimento médico, religioso e de eomercializario) © Iavrador e os seus familiares se reeonhecem ini- claimente despreparados para a vida eo trabalho na 28 cldade. Criados “na roa", os adultos so analfabetos ou, no méximo, pré-altabetizados. Quando muito 0 la vrador consegue executar algum ofivio urbana com um desempenho insufieiente para competir com os profs. sionals j& urbanizados, Ele pode ser um “carapinia” ou um “pedreiro de meia colher”, assim como um auxitior e olarla (poucas em Mossdimedes, inimerus em Golds) Depois de chegar & cidade, quando procura abandonac 9 trabalho rural, o lavrador é ocupado como um ope Fério nio-qualifificado ou como um sub-empregado de servigos esporddicos (um “"biscatelro” ou tune “eaves ueito” para servicos de llmpeza de quintais, de corte de lenha ou de “batecio de pastos” peritérieos & cidade). lu Porque mio consegue se imaginar fora do rigola, ou porque nao consegue se ocupar gomo um trabalhador urbano, 0 lavrador tigrante rede fine-se profissionalmente dentro dos limites do trabalho Tural e, como umn assalariado, passa de empregado de um fazendelro a diarista de ‘varias, ocupado intense, mente durante os periodas de preparo do terreno, plane tig € colheita; sub-ccupado durante periodos de erie. salra, Também a esposa do lavrador raramente passa a se ocupar de uma atividade urbana remunerada, 2 ‘muito pequeno o mercado de trabalho na cidade, mesmo para empregadas domésticas ¢ para lavadeiras, Por outro Jado, a vinda para a cidade obriga a mulher a atengoes maiores para com a casa — sobrettido com respeite as estratégias para a obtengio eo aproveitamento de ali. mentos —e para com o culdado dos filhos Na fazenda os tithos eram auxiliares dos pats: as meninas nos cuidados da casa ¢ do quintal; os Meninos fem pequenos servicos ligados & lavoura, quando menores (como @ tarefa de levar comida “pros homens", nas Foeas) © como lavradores efetivos, quando maiores em Idade. Na cidade, as espectativas ‘da familia voltamse ara o estudo dos Jithos que, tal como na fazenda, con tnuam ocupados em pequenas servicos auxiliarés na casa e no quintal, mks com uma participagdo multo 29 Hhisidi nos trabalhos de layoura, sobretude quando a cit na nucia’* do pai fica longe da cidade e née permite idas © vindas'didrias.! A» aia mais pobres da parte velha da cidade so veuipulis com feequencia por lavradores migrades para Mossiunedes, alguns ainda em exeroieio, outros recens temente aposentados (INPS-FUNRURAL}. Os que che: fiwron de tins & anos para ch esto quase todos espas undos pelag easas e ranches da “vita”, onde se coral, ern que mara e vive “a pobreza do lugar” e avordo com a distancia de suas rogas em parce: 119 on dus lwcals onde o lavrador esta trabalhande para Mm Tusendelro, ele ou se desloca diariamente pata o Ido trabalho retornando & nolle para a casa; ou ‘a familia na cidade © reside em alguma fazenda pol sim perfodo que pode ir de uma semana. Gil Ge, torna sempre nos fing de semana, depois de “'receber", (Wanda ¢ um diaristay a espagos'de um meés ou mals, pHineipalmente quando & um’ parceiro em épocay de ‘mis tntenso trabalho Tura’ m momentos de plantio e de eolheita néo rato que todos os adultos da familia sejam deslocados para Wwnlo das tuvourss. Com muita treqiéncia, os thos wires, depois de completado © eurso primatio, asain ‘hon o mesmo ritmo de vida e de trabalho de seus Pals, lorando-se novamente seus auxiliares efetives (com dediengio exclusiva, quando nao prosseguem oo. lwutos na ginisio local), iniciando ou dssumindy. fun. (ie rites" por conta propria alquer que seja a vaziacSo familiar ocorrida na vinda para a cidade e mesmo que o marido ea muther (enham conseguido tornar-se trabalhadores urbanos, ss ‘upngies © as alividades diarias da familia estad cy yu gt pein, foram tos eta we A onuniiagao da tamil camponese: pare a preaese enon em uma pequend eociedde Hirsh ily amesmia’regiko. (Diolandiay no munitipis. Ge Tamera (Constr Brandzg ‘Ramathon ise ainda dirigidas com prioridade & obtengdo de alimentos, Quando reconhece que muito difiellmente conseguiré melhorar © seu nivel de vida, morando na cidade, 0 lavrador considera que todo o’seu trabalho deve cum. brir pelo menos duas fungoes: a) trazer comida pare a casa (= nao delxar faltar o mantimente); b) produzit condigdes de um futuro melhor para os seus. filhos fazé-los estudarem e obterem um trabalho urbano, ‘8 possivel, profissional) Os Modos de Acesso ao Altmento e de Consumo da Comida? © Ciclo de Plantar-Comer A comida didria de quase toda a populasio de Mos. simedes @ produzida no proprio municipio. Assim Populagao das fazendas e, em menor proporgae, ada cidade, ‘obedece em sua dieta a uma varlacao de ali: mentos que segue os periodos de plantioeesthelta, deo rodutos agricolas locals, ‘Ao final do prolongado perfodo de seca anual (de abril-maio a setembro-outubro) comecam os preparativos ara o plantio do arroz e do milho, Este ultimo, quando. lantaclo logo depois das primeiras chuvas, comeca a ‘er eolhido do meio para fins de dezembto ¢, em quan. tdades maiores, em janeiro, Milho plantade nos quit tals (o “milho de hortaliga") pode ser cothide antes, © milho verde gera um periodo curto e muito Intenso de alguma fartura alimentar. # durante sua colheita que ak amonhadas”, tanto nas fagendas como 2 Usel mais de umn procedimento da pesquisa para a coleta dos {fads desta parte’ do capita, Gime peguend east coe usta te ttle om entre on um rae ido guestiondrio sabre formas de produsi, Socoaghe Ca ae alimentos entre lavradores (mesitos ¢ diarineny en los, Fiz varias entrevisies'¢ complomental vs duos ner oe 4ervacdes ha eldade a.m aiguenge Areas mis tistantes to muhlcpte has casas da eldade* Dele s80 obtidos outros tipos de comida, como o curau e outras formas de creme de tnltho, consumidos como alimento doce ‘ou salgada nyt eixado sem eother & aproveitado depois de séco, sobretudo para o sustento de poreus © ove © arror comeca a sex colhido a partir de janetro (rartor do trés meses", no muito usado na regio) ¢ sua colheita estende-se’ até malo, com momentes mais tmareados em marco e abril. Ao éontrario do miho, que se come “verde” e que ndo pode ser guatdado nevstee que por alguns poucos dias, 0 atroz éensacade enankee te (ser “pilado” (passar pela maquina de ‘benetige Mento), pode ser conservado durante muitos meses, Sip Faras as residéneias urbanas onde nio haja pele sence quemas sacas de atroz teservadas a0 consurne familos duaante todo © ano, quando a “safra fol boa” eo pen dutor cultivou uma area de plat {te qualquer outro produto da terra, o arror € “durence todo © ano”, o alimento de base em’ toda a regiag Gate siderase que uma familia 6 muito pobre quedo try cousege guardar sequer arroz para todo ano, nen possuindo também dinhelro suticiente para’ compres quando o “da roca acaba na tutha A foc das pamonhas 6 esperada sm Mossimedes como ne Plume outra Durante © Fequeno period de seease Tei {ants ag milo verde, em aigumas cass feiss Saree ye ile 6a. tesa fa for; Dentro do ciclo sazonal de uso de alimentos iersas mt beila do miiho verde e'o uso de pamnonas saree Rice, tra" Depois a provongsas ertodo do Seon e de esyotarnante des tiltinas reece Bene mento om ‘varias casts, a colheita: do. milan Seni al Primeiro momento de aprovedtamento doe prods ae sett 32 | | | | | | © Ultimo alimento vegetal colhido nas lavoura é 0 felldo. Ele & semeado nos mesmos lugares de onde so tetho ("novo a gente coloca na panela e ele vira paste’): Peittlae € Preferido quando ainda “novo” ("velho ele flea duro ¢ nao cocina”). Em Mossamedes 0 feija0 & comido camo um com- Plemento do arroz e em muito menor quantidade aia, Ha do que este, Assim, nao hd para tle as sacs Expectativas em torno a colheita reservadas a0 mille s ‘A mandioca ndo obedece os mesmos ciclos sazonais de milho, do arroz ¢ do feijao. # também plantada pou. "mpo das Aguas" e se comeca a arrancar ‘suas raizes por volta de um ano apés. Ela far tanker, Parte do prato didtio do lavrador e, a0 contrdcie oy, Gutros trés alimentos de base, 6 comida mais durante © tempo seco do que durante és meses de chuva, Dine gue @ mandioca cothida “nas aguas” ndo cozinha bore ¢ (desmancha na panela”, Ao lado do milho, a mandices éjambém moditicada em casa e, além de ser eomiae cozida junto com 0 atroze-feljao,' preparase dela ae tinha (usa-se muito ainda a “farinha de milho") “eo Poritho. Este ultimo serve para o preparo de pies ¢ Biscoltos de queljo, além de outras doves e salgadee ue constituem as “quitandas” da regiao, Os quatro alimentos dlétios do lavrador podem ser opostes dois a dois: a) O arroz e 0 feijao sao comida Coridos e deles praticamente nao sio obtides outres all, mentos; 0 mitho ¢ a mandioca, comidos cozidos vu am. sados, sio usados também sob a forma de farinhas ¢ de produtos transformados em massas de doces ou salgados 5) © arroz ¢ o feijao sto comidos durante todo o ano © so considerados Coma o alimento “com que se con a {u", © mitho ¢ @ mandioca so mals consumides em {hoeas determinadas do ano: 9 milho em pleno periodo "das diguas”, a mandioea, “na seca”, Outros vegetais plantados na regio slo alimentos complementares na dieta do lavrador e dificilmente awalquier um deles fard parte da mesa didtia: «abs. bora, © card © o inhame, o quiabo, a couve, a taioba, @ batata doce © 0 chuchu. Verduras. sao piantadas ¢ eonsumidas com muito menor freqiiéneia, ‘mesmo de. pols de campanhas de agentes elvis ¢ religiosos para ‘Sumento do uso de hortas caselras e seus produtor Ao final do periodo da seca, a populagio da cidade colle nos campos ¢ nos cerrados, 0 pequi. Esta ruta oleaginosa existe ainda com fartura em toda a reg! nunca @ plantada, sendo considerada como “cols da natureza” e, durante um més ou mais, torne-se um dos alimentos de uso quase didrio na cidade. © pequl é eorido e sempre acompanha o arroz. Tal emo no caso a pamonta, algumas pessoas da regido "passam a pequi” durante 9 seu tempo. i também entre o final da seca e o inicio das chuvas — justamente quando hé menos reservas ‘de alimentos sazonais e quando ha menos dinhelro. em irculacao — que os lavradares de Mossdmedes olher © consometn alimentos “do cerrado e da serra’ como © equi, © caju (umn tipo nativo no cerrada), x man faba eo muriei. Também no inicio das aguas as man. Fas amadurecem e sio multo consumidas. Camo a cide. de € muito antiga, sao raros os velhos quintais onde tao foram plantadas intimeras mangueiras Os alimentos unimais sio consumidos durante todo © ano. Nos trés agougues da cidade vendem-se toucinho © carne de porco quase todos os dias e ‘carne de vacn™ elo menos trés vezes por semana (até poucos anos atrés, apenas uma vez na semana). Os acougues favor © revezamento semanal desta venda, O lavrador urbe, nizado consome muito mais 0 porco (banha ¢ carne) © as aves (frangos) de sou proprio quintal, do que x 4 carne de gado, considerada como “cara demais” para poder ser usada com frequléneia. © grifico da pagina seguinte procura dar conta de Gistribuir a0 longo do ano, os cicles de plantar-eomer em Mossamedes. & necessArio considerar que algunas ‘modificagées comegam a ser odservadas no consurno de alimentos. Assim, a batata ("batatinha” ou “batata inglesa”) é consumida agora com uma freqiiéneia quase igual 4 da mandicca, Bla continua sendo, no entanto, muito Pouco cultivada na regiio e quase senipre ¢ comprada fa cidade, Aumenta também 0 uso do macearao eum Telativo uso de legumes © verduras, (© quadro dos cictos anuais da “comida do lugar" inclu apenas os alimentos que sio cultivades em Mos. ‘simedes¢ que todos consideram como sendo, ainda, = base de sua dieta, 38 pee do ming Emre” Comida do. mitho verde: Parsons Fev, Colhelta do arron Final das “pamo. hadae™? “= ho io Foyt Bar. Period. mais in temo de cothelta — toundincts Geng? abundancia de a fo arroe entos Tdo'arrog Ue Cottelta do tet 4M. Gotheitas de man. Comego. do. perto Aiea. 420 anal de aioe Mreparo don ‘Mo. Coletas de prow — Brentse? 9 raster tos do “cerrado: lant tn govenit Peau caja, mush cin manget, Torrowos, prrpars: Set. Abrovettament to hadnt {ptenao de alte toe tha fs" netureea”™ Monti do arvux 0 Out rnin ‘Des, Coletas do mangas Primelras _cothet fend wer primera 2 ‘monhagast tora ae Prieza Iavoura eum) seghnda Plano aire nc (09) Nv torn de cultura af so necessétias de 3. 4 limpas do itor e pelo Imenos uma pars o milo, Now am a poe ‘trios timpuse © atton de inna’ a ae Sones 0 1 | ! A Produgdo da Comida Mais de uma ver foi dito aqul que o lavrador mi- grado para a cidade tends a continuar como um pro- Gutor rural parceiro (meeiro) ou se transforma em’ sim Siarista a servigo de apropriadoree periédices de forga de trabalho na agricultura. A combinago das duas modalidades de participagao no trabalho Tural também @ regra geral Entre os lavradores meeiros a maior parte aproveita fs terras sob o seu uso para o plantio de arroa, milho € feijao. O terreno usado é, entdo, ou dividido em duas partes plantando-se s6 0 arroz em uma delas eo millto ‘seguido do feijao na outra; ou aproveltado intelro para lum dos vegetais de cada ver. Esta segunda forma de uso da terra ‘ina mela" menos freqliente hoje em dia, Porque as chuvas reduzem o periodo de efetivo aprovel famento do solo para o arroz e 0 milho (o feljao ¢ multo menos exigente de agua e por isso mesmo, é plantado no final do tempo de chuvas). A redugio do perfodo de chuvas obriga alguns lavradores ao plantio de apenas © arroz. Entre 68 lavradores urbanizadas que, em 1975, “formaram roca” de cereais, 38 plantaram mitho, arroz ¢ feijao; 18 plantaram s6 arroz, 6 plantaram artoz ¢ milho e'1 plantow apenas milho, Algumas vezes partes dos terrenos cedidos sto aproveitados com lavouras complementares, como a da ‘mandioea, 2 do amendoim, do café da banana" Ha ume queixa comum entre os lavradores de Mos- samedes. & a de que a cada ano torna-se mais dificil © acesso a terras cedidas eni patceria. Os fazendeiros reservam pores maiores de suas fazendas para as suas Proprias lavouras ou para a formagéo de pastagens, © destinam a produtores sem-Lerra areas cada ver meno- res ¢ de plor qualidade de terreno, Na verdade o lavra- dor meeiro nao tem condigses de cultivar, com o set trabalho © a ajuda transitéria de familiares, mais do que dois ou trés alquelres de cerenis. aT Pima lavoura maior exige © uso de maquinério Hai, “gastt®®, £80 acesstvel a0 lavrador "one ane ret fantlariado de diaristas, 0 que o mecico procuiss Mrouiizatituelwe de ceréais “(de 10a 40: ltros) vanes mals de 2 alqueires de ‘cereals Guest Sempre a lavoura de cereais ¢ cultivada: a) mnceeuatHo sozinho durante todo 0 tempo (38 mech, msirons, Cnl¥evistados); b) pelo’ marido.e filhos tee Imecitos), e) pelo maride favo emprogados ‘apenas fs obrigagses com a casa com os eeudes alert formas fariices de patcpagio no tate ea pequeno 9 numero det tunes tear ABE seitrmente seus maridas ns lavgure tong ge Mores), mo a presenga de tines oa ta ee a ser monce fneduente ¢ segustads” atepetes nde nen “Me aperto™ Qusnde us aie eae oe de i, proern format ae suas ee ial “na mela, "mgs quando sind acheter a nvaUtae ta esglavtador reconhece em Mossimedes que Manta exclusivamente para a eomercialisarse ate 88 Avcireulagio gratuita de allmentos entre parentes fof muito toma emothe-t Tega Ashe Re BEE que pode, o TaWrRGOr dering pate Ge oe arroz para o uso de parentes mais pobres ou part pat ina i, pein ort mae ee ead ale rt te, tne & ane ame te tayo ete amiga Serva ainda dentro de padrdes simbélices Tso ara “pamonhadas” ou nas tocas de pratos de oui tandar ou de doces caselros de uma casa para Wout ES iio 6 iis asa para @ outra$ © que a familia do lavrador obtém de lavouras “na meia” completa-se com as pequena plantacto casein © com a criagio de animais dométieos no quintal, Entre 85 lavradores de Mossimedes, 13 moram em casas pro Prias, 2 ocupam casas cedidas por parentes ¢ 10 ahigam suas residénelas. Os moradores da “vila” vivem em casas mals novas, muitas delas os ranchos da populagie de ©) nas festas raligloeas'—<'a de Ste tee ttt dee at Pole) ag esta Nay ae tHtimas situagtes 0 costume 0 de te distrib eat esr ees 48¢ comida. granvies quantidades de alntening es ioebe oes sentes. Em i918 acompanhet um ‘erupo de “foliges de Sane Seiden te gata epereda ae eo a to dlrio'nos locals de "almoga* « det pouso™ aa Fala gies se sempre sedes de feventaa mals baixa renda, e com quintais muito menores do ‘que os das casas da parte vetha da cidade. © so do quintal como um espago. complementar de obtengio dealimentos 6 feito por tense ae eae 5 ease Teservam um espace minim pate: pees Jatdins frontettigos, fsso quando nao sib suka Partie ‘da’ propria linha da calgada ‘rodeo aceataeas Barie de tris da residéncia ¢ alviido enteet ay tices de servis dbméstics para a lavagem ea pecagen a oupa, a coainha ristita (“ogto eaipina) ares fatura de produics de uso casero sabxor forint ‘lensiios);'b) drens de planiagbes, de arvored erence tals de Pedueno pore,” reas de cing’ de anime otcos presoe ein chlguelzon e gallahas, gers etladas soltas “no tercelra?).) © EMUMAS, geralment Em 15 casas visltadas foram encontrados porcos tm engorda ‘eapadog") e, em 43, trangie aah {tia soltos ou presos em galinheltornistiee aes 49 quintais plantaram pelo menos um dos tis gen de produedo dotinante'"na roga’s milho em #8 Cesta de hortalien”); attun om dase fejfo em ten 5m 45 residencias pacte do quintal ¢ aprovelnna Finalmente em 11 casas entre 85 estéo_ plan frvores fruliteras de-que as Thais comune oie a eee fuelra, a laranjciea, olabncateto ea Cann, dilate Mang Shr wae aay hme sith rh pe a et A 4. Tracos de uma falsa consciénela modernizadara so vistos no 1 aie cts cee fi ey fe ao, tae op Holbein See blcien aes fe 40 lavradores estariam nesta categoria de uso de recursos diretos para a obtencio de sous alimentos na cidade Em 19 casas ha um aproveitamento intenso. Ali falta lum dos elementos incluidos no quintal da categoria anterior. Em 22 casas hé um aproveitamento moderado em geral distribuido entre 2 criagio de aves, 0 plantio, de cereais © 0 uso de algumas Arvores frutiteras. Em 25, easas 0 quintal tem um aproveitamento redusido: nao hha criagio de animais nem plantio de arvores ot @ existincia de nortas, Finalmente, em 14 0 aproveitamento & minimo e, ‘algumas vezes no ultrapassa a existéncla de um ou outro tipo de arvore frutifera. Os quintais destas duas lltimas categorias so todos cles de Tesidéncias novas da “vile” Na produeio doméstica de alimentos, ajuda dos fihos continua diminuida, como no caso da partici: aco no trabalho das lavouras. Por outro lado, a esposa. tende a se colocar como a principal responsivel ‘pelo que se planta e se cria no quintal. A presenga do ma- Fido € mais intensa no caso do mulho, do artoz edo feijdo, assim como da mandicca e das érvores frulife. as. A esposa responde com maior intensidade pelos euidados dos animais, das hortas e das pequenas plan tages de legumes isclados, Muito mais do que com os alimentos obtides “na toga", 0 lavrador destina o que consegue em seu quin. tal para o consumo doméstico, Sio excesses os casos de vendas de aves e ovas, de carne de porco ou de vegetais, Reunidas as alternativas de acesso av allmento, elas se dividem entre o que o lavrador produa em suas Togas “na mela”, o que a familia obtém do quintal e 0 que é ‘comprado em MossAmedes * 5 Someie um lavrador entrevistado destarow facor_compras fora de Mosshimedes, na cidade. de Goiss Todos os ‘outros compram nas verdes « nos armardne da eldae, ou comprare Alretarent’ tn fends ern chacarae din patfetin da cide fe, Nip saro que parte do pagamento do um alarste nia ffetuado sob a forma de alimento para tarts, sobretade bo otto ce sneer dare, 41 hia cidade. Verduras e legumes so pratleamente ohiiies es auintais ou comprados na eldade. Os outros alimeg: na idade. Rntio neste caso a “earne de vaca’ ede purco, a banha, a batata (“batatinha”). 0 café eG Agen a fazenda para uma casa na “vila”, a familia do luvrador completa um cleo de relagbes de neeae ace ulmentos que comega com a produgdo de todos ww ait Wieuitos consumides, quando o lavrador € agregeo de fazendas da regio; e termina com a compra toda a comida familiar, quando 0 lavrador, altente na cidade, 6 um produlor rural assalariaas, no produz come parceito ¢ reside na ‘vita ow ace, ww 'com quintal pequeno € em terreno “de serraat A Comite do Lavrador A com Populagio de Mossamedes ¢ Hinples © multo pouco vatiada. Modificagses ne ste wmpre consideradas como muito reeentes @ tages luenela de comerciantes vindos de fora, ten hnvirels pelo abastecimento de vendas e de ariwancs i oldade a © café-da-manha ¢ tomado multo eedo e se compée de leite (nao raro engrossado com farinhe de milho OU de mandioca) e biscoites ou paes de queijo tomadas com café. © almoco, assiin como a "Janta combinam o arroa & 0 feljéo (mutto mais o arroz do que 0 feljao), a man- ioca ou a batata inglesa, ovos e, pelo menos uma ou outra vez na semana, a carne de poreo ou de frango. Sio ainda relativamente freqiientes os usos de legu: mes (quiabo, couve, gilé, chuchu, tomate) ¢ de macar Yio, A carne de gado & consumida em muito menor Quantidade que a de porco, mas tende aumentar o seu uso em relagio & de aves eriadas no quintal, © costume allmentar das fazendas é 0 de se tomar um desjejum pela madrugada, antes da safda para as Topas; fazer o almogo antes das 10 horas da man! Janchar por volta das 12 horas, jantar antes das 4 horas ¢ fazer uma ceia leve por volta das 7 ou 8 horas da noite, antes de dormir, A vida na ciddde modifica esta seqiiéncia e este hordrio de slimentagao com tendéneias a proporeacs semethantes as dos centros urbanos: trés ou quatso rofeigdes feitas mais tarde, com a eliminagdo do lanche ('merenda") © da cela. A variagéo da dieta allmentar entre sujeitos de classes sociais diferentes esté mais na freqli¢ncla de alimentas de mais alto custo (carne de gado, doces ma. Aufaturados) do que na variagéo de tipos de comida, ‘Bm todas as casas visitadas durante o periodo de tra: batho de campo observe} refeigses constituidas de arror. com-feijao, mandioca, alguma carne, uma salada pobre (tomate e alface, por’ exemplo) e, no melhor dos easos, vos e legumes, Esta dicta do cotidiano modifiea-se por ocasiio das colheitas de milho verde © pequl. Na casa de todos os Tavradores ha uma seqiténcia anual de uma alimentagao suficiente no periodo ‘das colneitas (janeito a abril} e hos primeiros meses da seca, até uma alimentagao pro. Eressivamente carente, do meio do “tempo secn’” para © das colheitas (setembro e dezembro) 43 Quando, nos capitulos seguintes, o lavrador de M simedes fizer referéneia a um tempo de "mesa fart. Wurante todo © ano, ele estar opondo ideclogicamente lima época de vida nas fazendas em uma regio isolade dle ‘mereados para a produgéo agricola, a'um tempo tecente, de residéneia forcada na cidade, de produgso Plogressivamente dificultada e de sua passagem @ um consumidor de alimentos eomprados. © lavrador reconhece que sua alimentagio é, noje cm dia, uma forma enfraquecida daquela de que’ todes ie servinm no passado. A qualidade da comida € consi, | como “mais fraca” de ane para ano, com relagio a lidas as pessoas da cldade, No entanto, aceilase aule ‘0s mals ricos puderam compensar um progressive enfva ‘quecimento da alimentacao, na passagem do “regime lias favendas para o da cidade, tom o uso de recarees complementares © de alto custo, como 0 acess facil a rare de gado vendida em Mossimedes. Por sua ves o¢ lavradores, assim como outcos “\pobres” da eldade, per eebem-se Consumindo uma comida resumida a0 ‘aver f seus comptementos, logo, uma allmentagio que nse sustenta e que no pode ser complementada com o que "cidade oferece, devido ao seu custo, 4 devuabada dos eerrados e dos campos para a aber- turn de novas areas de lavoura ou de pastagens res: onde por uma redugéo muito acentuada de produtos veetais complementares da allmentagao em épocas se. quentes, como 0 pequi, o caju e a guaritoba (um tipo le palmito amargo, de consumo muito treqente ho pasado © hoje quase desaparecido na cidade} ‘A anilise de como 0 lavrador representa ideologica- mente suas relagées com a natureza e com a sociedade, come um produtor e um consumidor de alimentos, 6 foco de estudo dos capitulos seguintes Capitulo IV A MATA E A ROCA: A IDEOLOGIA DAS RELACOES ENTRE 0 PRODUTOR DE ALIMENTOS E AS CONDIGOES NATURAIS DA PRODUGAO Por onde quer que tenha inieiado uma entrevista ‘a respeito do trabalho rural e da producéo de alimentos, encontrel respostas que nunca deixaram de comecar por ‘uma comparagao entre as condigées dadas em um “tem- po antigo” © as dos “dias de hoje”.* As respostas vinham sempre marcadas, também, por explicacoes de modos de elacionamentos passados © atuais entre as pessoas de Mossimedes e a natureza da regia Da mesma maneira como Roberto Da Matta fala de Iti — uma comunidade amaainica descrita por Eduardo Galvao — também é possivel montar para ‘Mossimedes dois eixos de relagSes: um horizontal, pas- sado entre o homem ¢ a natureza; outro vertical, entre 1. Tambiim em outras pesquge sets na regio, inclusive em lum estiao de rlagoee intarcinieas entre negra® e brazios na a ci Spr ramen arnt pale ondighs stunis de tataina © sorovchenests Se beat rot ier cecieges fron oro 9 homens Sate tine pons "de faXua" pasudarocenlomente "Castalat Brandio, 19750" onp. 45 {ialewerins We produtores de bens. agentes da socte- [rar a eas de Mossamedes, 2s relagses do elxo \eiileat deadobram troeas de posse e use da terres Reus Modulos com o sistema ‘de poder vigentene ae quan elie derivadas. Para o lavrador ds tegiao, . fla quitical fol e segue sendo determinado emt neste ole lu ororreu nas troeas do elxo horizontal, na eee iis ametida em que as relagses soctais de seu selon ney {, (tincipal determinante das alteragoes de trosee exes onumem e/a natureza processadas’ no elxo hecloeses (ha Matta, 1073288) 2 attiteza em MossAmedes 6 considerada como tan Sito, Host quanda ainda nao dominada: peng ge? inst gendo entio epasta a uma primeita seeds, rrniuremelee e Pauperizada, Bla tornou-se, depen eee tanai"@%a Controlada pelo homem e a principal aligde at una agiledade rural em equillbrio ¢ tartar Hole eae tna natureza destruida pela agio do havent eaelicr exemplo da tajetéria & também o mais Vatural, @ agua. A agua existente na natures na mi produtividade do solo e que, quando “Togreta es ‘Auente de equilibrio nas trocas entre os primelros ne, * ene Moberte Da Matta: “A comunidade amasonica 6 cortada Bey ats tos um orignal e ouise wereeen Scotia reheat Sgastes epi Comundae's ee HEjg comunidade © o mundo naturale (Deere Bees? O Fara os eteitog do presente trade urn Panes o alg el 2 mojmeato om ue sua expleache cometar eioi Femneira dernimante, as pasades no Seow 46 ‘mens das fazendas” e a natureza; era também um fator ge isolamento ¢ destruigdo quando ultrapassava os limi tes do equitfbrio exigido pela sociedade, tal como ocortia Gurante’ os prolongados “invernos” de dezembro ¢ je. nelro, Os primeiros lavradores e fazendettos “podiam. con- tar com a chuva” que garantia anuaimente @ qualidade da renovagio das pastagens e das “rogas de taco’ apts as grandes e intensas queimadas de matas feitas no més de agosto, Blas eram temidas quando em excesso, hhas enchentes des rias da regigo. Hoje em dla as chuvas sto insuficientes assim como todas ‘as outras fontes de égua. “Perderam a regra” dizem os lavradores e agora sao insuficientes para “sal. Yar 0 artoz”, Os rios slo menores e mals tases, insutl. Gientes também para a_proliferacdo. de peixes, “As pessoas de Mossiimedes, criadas em uma regiao de “far fura de agua", acham’inacreditével que hi menos de 20 km, em Sancrerlindia, “o povo esteja sem agua pro Danho, porque, mesmo em fins de Janeiro (ae 1995) as eisternas estio ainda quase secas. pelo fato de aus a umidade do solo “ainda nao sublu", 0 que era espe rado com certezas para setembro/outubro, hi poucos ‘anos atras, Bsta seqiléncia de momentos de caracterizagio da natureza local esta no niiclea do modo como 0 lavrader explica formas e efeitos de trocas locais entre 0 homen Feputeebldo sempre como um permanente produter, Gepredador atual ¢ consumnidor —e a natureza, Bla 6 indefinida para o seu primeiro momento © marcada- mente definida para os outros dois Da Mata a Fazenda Para quem chega de Gosinia, Mossimedes fica “do Jado de cd da Serra Dourada” onde os rios, Inumensy ¢ eristalinos, nunca produziram ouro como ee. "do tase de 14”, nas clreunvisinhangas da Cidade de Golds. a Depois de haver deixado de ser ao mesmo tempo lum aldeamento indigena ¢ a residéneia de verao dos kovernadores da Provincia de Gotis, a eldade foi ainda, durante muitos anos, uma “aldela” (este € 0 nome com que a cidade é tratada pelos mais velhos, até hoje) en: etnvada entre a serra eos seus rios, e cercada por todas os lados de matas espessas e muito proximas a0 eqeno concentrado urbano. Situada em" piano mais elevado que o da Cidade de Golds, toda a regizo de Mos. wimedes 6 considerada como um lugar de agua e cllma ‘widiveis com inumeraveis manchas de boa terra Os primeiros povoadores da regiéo viveram, quan- lo lavradores sem terra propria, de modo nao muito Aiferente ao dos indigenas aldéados: plantavam pe favenas Tavouras sazonals em “rogas de toco” abertas em terras de cultura sobre espagos de matas derruba s; engavam animais encontrades com muita abun. Manela nas florestas e nas belradas dos cérregos (vea- ‘Jos, antas, pacas, capivaras, caltitus, queixadas, tavus, Jas, mutuns, emas, perdizes}; pescavam ttn peixe farto, sobretudo nas aguas do rio Partura, que eorta boa parte «la regido e era um dos mais piseosos de todo 0 Mato Grosso “Goiano até poucos anos atras (matrinchis, pacts, plaus e até pintadas, entre os mais procurados) Pas mnatas ¢ dos cerradas ezam ainda tirados por eoleta ficil, trutos e outros yegetais além do mel, também en. tantrado com alguna facilidade. Nas primeiras grandes fazendas, riistieas ¢ isola- las, de etiagao de gado, o lavrador agregado eriava os us proprios animais de corte e lelte, © podia cultivar praticamente qualquer tipo de vegetal de sua slimen: tagio on de usos domésticos (algodao, mamona). Nao podendo ser, como os poucos grandes fazendeiros, cria- lores de gado de corte para a venda em mercado regio. al, os lavradores de Mossimedes foram agricultores e cereals, cotetadores, cacadores e pescadores. Ao con: tririo do que possa parecer a primeira vista, mesmo endo atividades complementares ao trabalho sobre a. lorra, as trés ultimas eram efetivamente praticadas no an cotidiano e forneciam uma parte relevante da dieta familiar, Depois da saida de indios, agentes da Coroa e pa rey Sette etait tm Moshmeden er cone Hares ot nos Quando um lavrador de hoe fia doe lrimclrs temper, procure scentuar que tna fegito ainda nao dominada por seus habltantes era um “se fo" noth e Teo e que cs atus primetros povoadores Fras foram carenios em boa media daguo que repre: Eentou a vfartura” de. tempor posterores, porque de- endiom ainda da coleta, da caja, de pesia'e de ume eneuleora muito rodiméntar 1m pate, é 0 reconhecimento de uma dependéncia originale creta dos recuses da naturezao que fa com {ue o laveador avaie seu ambiente segundo eres Shuto defniges'de utiidade pars sussstencia Uma regido é avaliada pelo lavrador, em primeiro lugar, segundo a qualidade de suas terras e, om sogun- do, por ser ou néo “sadia” para pessoas ¢ animals (clt- ma e tipo de agua) Em uma ocasifo percorti trechos de uma floresta com um lavrador do lugar. Enguanto sugeria observa- 5 Aye ets tnt spt RUE ec ce er tee ofa ie erste hae smite: Glee Sen Peters ate tine DEIURES Gt atacicrno ia Situ eldeamento de Indios che principal atiidade coast girs aa igen aaa oro ee ay ett el it de aaa a eis Steen ee et eae ee Se pola pode 49 Mle Beleza de vores ¢ de trangilidade do tocal, Wy contre-avallava ag minhas idéias com alributee de Wilidades diretas. Uma “arvore” era sempre chamacc UW "bau" ¢ conferida com outras segundo. suas aplions ‘wn "isso aqui é um paw bom demals pra eeres, pra Kiuer poste de cerca. Agora, este ali serve € pra denies needs nieces ros 0 passeios de puro lazer pelas florestas, nea se val se nao se tem "o que fazer ali" {ann raros os usos de rios como locals de diversie, Wy Ser por eriangas, Neles as pessoas "banham™, ando é preciso, obtém alguma agua e pescam O vig (bon potdue & bil para servigos Imediatos, aasimn coms (i mala 6 “hoa” para eagar, para extrait madelta 8 pore f fide, quando na seca, De forma semelhante, yeiee ferra Dourada {para ‘onde chegam turistas’ vides ite Tonge) quando ge quer chegar a Golds por um aaa nnio mats cutto, ou quando se quer colher murlel, saat ‘yn ow pega. ‘As primelras fazendas e a pequena eldade do pas- ilo sao percebidas como lugares cercados de ume yea {iatcra thestit'e, aos poucos, dominada. A. transigao de Ina situagio a outra fot resultado do trabalho dec Nee ‘mens dag Tazendas, A Pacenda: Produgdo © Consumo com 0 estabeleclmento das primeiras grandes fa- Wwe & socledade local comega a aleangar tum tonltrole efelivo, ainda que sobre termos rUstives, ae alureza, A favenda esté para o lavrader a meio caminho tnlre 9 natureza © a cidade. Fol nelas que o mens \lo lugar eriow um primeizo espago de controle eat ila ‘tego, (A partir delas produziu-se © exceddate eee, 4 sua sociedade urbana foram edificadee ‘As primeiras grandes fazendas representam um. lugar ideal de plantio e cotheita, de tratamento e con sumo de alimentos ¢ de todos os’ outros bens de consis mo que, fora produtos como o sal e 0 querozene, eran obtides dos préprios recursos do lugar. esta manera: ¢ lavrador atual compreende a fazenda como ume uni. dade completa de trabalho e vida; produtora e beneth. cladora de praticamente tudo a que preeisavamn con, sumir os seus habitantes, Pentro da fazenda era criado 0 gado de corte para Pequeno consumo interno e para a comercializagdo. bra griado 9 gado de lelte, para consumo solidatio, porque era costume o fazendeito conceder um acesso facil ao lelte, para as familias de lavradores que o tonaven com fartura, davam-no acs seus “eapados" ¢ faziatn dele © queijo (tipo “de Minas") e 0 requeljéo. golane Para a venda e para 0 consumo de carne, ovos e bana, gram eriados porcos e aves em (relativa) grande quanti, Gade, inclusive pelos agregados que podiam vender em Mossimedes, em arclas ot Golés, "‘balaios de galinha” panha e podia durar até um ano em uso. Da ‘mesina forma eram guardadas earnes de eaca, como a paca, aanta eo tatu, Em Pequenas rocas de toco era produsido © arroz Tp Bllado” e consumido durante todo o ano, 6 inline € 0, felido. Mais junto aos terrenos do “rancho” ‘6 le, Wrador cultivava @ mandioea, o eafé (torrado © moto aim casa”), 0 {umo (Mosstimedes. produz até hoje ure os melhores fumas do Estado) e a eana, de que eram iversos‘upos de mantimento ots ahaa ees SCTE ee ah inn vale’ er fo cerrado, de barrettoe ou de pesucnas lave aan (ae Toupa useda ern de slgodto plantada no qumtals ieaer es 5 Ao falar sobre este tempo de dominio da. fazenda ie 1 galutera, o lavrador o desereve como une stnee re etaautra” (expressio muito freqiente) onde tiny produmant®s eonsiderades como necessaries crams cy A fartura de alimentos do lavrador néo.¢ percebida que a do fazendeira, Tudo 0 que ST pe sat Scan et Heel 2 dics Goma i be sedi dt de Pa a euiatda Rodia ser abtido “denice ds fasara PD he, 38 Berar, rOeas cut por Sompres ‘no mereade da Gaus coo ecient "de ing paamagem’ yeoman Sue Cas Bene a nauaren, pare necees ge aa mob méreia’ oma 52 8s produtos de pequena horfa de legumes, as frutas ¢ os tuberculos, a eae de poreo, de aves, de caca e de peixes? ‘A Forca da Natureea Quando perguntado sobre porque havia uma tio grande fartura de slimentos no passade, quando as Condigdes téonicas do trabalho rural eram reconhecida, mente mals rudimentares, o lavrador apresenta, dois motivos © primeiro motivo envolve uma série de atributos de relagdes entre produtores rurais, objeto de estudo no préximo capitulo, O segundo faz'a série de explicas Ges sobre as condigdes da natureza eas relagées enive (8 homens ela, No passado, toda a reglio foi “sadia e forte” © as- sim eram tambem todas as coisas obtidas delas © uss. {das pelos homens! As lerras usadas na lavoura eram muito fértes, Rogas de toro de no maximo 3 alqueires. produzian Guantidades exageradas de allmentos. © trabalho do homem sobre a terra era o de derrubar as matas, quel. mar galhos e troneos de drvores (ndo erain fellal as “destocas”, dai o nome de “toa de toco"), plantar os Gereais, fazer as limpas necessarias e colhélb, Dols oa trés anos depois, quando diminuia a “orca da terra © lavrador “jogava capim e formava pasto pro gad: 5, Uma forma muito comum de o, avrador acentuar em seu discurso @tartura de alimentos no “tempo Sitar, 5 Esta palavra, “sacio", € muito comum no discurso de todas as ossons do Tigar. Veremos texes eaguides ~~ Inclusie eat ts itu 0 Gl ah capt a pode itn nascentero arog o Gin We ihe seda Bc 5a A Ww consideradas came: ‘4s, Comecavam invariavelmente no did 8 ae 'v flia da Festa da Natividade de Nossa Se. fermavam “invernos" regulares’ (longos. ps. lellidade da terra é 0 principat atibuto daa qu "mutes de produto exectertes db pastane > SO Para a tavowra de cereais e, tor sequelro (no plantade ern pits), a regtlaridade ‘regradas s dle até 30 ou 40 dias de anil 0 artoz estava em ponte nudo rat interrompidas. por sobretudo para a do brejos come no Sul das chuvas 6 essencial. Blas © fartas” até poueos chuva.ininterruptay de crescimento eriti- lum tempo capaz de Tmehtpineter a colnelta (veranicos) e diminuiner Co ste nado, muito ‘embora re hatinile quando o arroz “estay por volta’ vt In forte e sadio (sem as doengas ispens (oes poriédtens de sal) "al como 0 gado, os animais inte sadins e mais fortes, Como uma conseqitneia das to tempo da cate nas proxlinetee sto de So Jost em 19 de taateay, oRemaes a qualquer culdado dos vaqueiros, forgo te condigées anteriores, uit atureca, todo 0 alimento obtide mo luge fmbém forte, sufleiente e sadio. Finalmente es, ‘ww diy ligar eram também, mais resistentes ¢ fase ia tomarse arredio € fotos § fame ado a0 gato que “eriado sotto no pos ‘0 contados inimeros lp gue para ser capturado tinhe que eer ees to mais sadias e se opdem as dos “dias de hoje” porque: 4) consumiam alimento farto durante 0 ano, sem pe- Hodos de privagao de alguns deles; b) comiam uma wmida sadia” (sem doencas e sem produtos prejudi- ciais & satide); e) podendo escolher entre tudo o que se cothia, comiam alimentos considerados fortes”, Opostos aos de hoje em dia, definidos como. “fra. 03" (sem sustanca}* A base da explicagio dos atributos de forca ¢ de satide da natureza, da produgio agricola, da “‘eriagao’ dos alimentos .e das pessoas, esté no réconhecimento de que o “tempo da fartura” foi um periodo de trocas essenclaimente rurais, onde as relagdes entre produto. tes e a natureza — emersas de um tempo anterior de Gependéncia daqueles com relagéo a esta — eran equi. Mbradas: a) pela existéncia de uma proparcao tide como adequada entre as pessoas eo espaco de naturera uutllizado (“muito mato, powea toga”, "muito paslo, pouco rastro"); b) pela inexisténcia de atitudes devas! ladoras dos homens sobre a naturesa, até mesmo nas Gueimadas “de agosto”, consideradas’ como uma. a Widade necesséria, nao ‘predatéria e, em parte, forla: Jecedora do terreno sobre o qual seria plantada @ la. voura, Da Fazenda a Cidade © equilibrio entre © homem e a natureza perdeu-se ‘40 Tongo dos anos. A natureza tornow-se aos poucns ca. 8. A ela de uma natureza forte © sadia de onde eram obtidos Produtor ‘ae consumo. bons e,duradauses, Cranseande ¢ wok Yerao allmentar” Una mulber *naselda e triads na teges Set reve @ sun propria tesidercla atual na cidade em irinos Ge ‘terencas a qualidade co material empregado ap ieee Ge onsirugao e um outro, usado mais recerterenie: SA'caee tha ‘tliat 90 anos) de madeira bos a esta peHeltinie Eset parte mais nowa 6 do madeirs fraca © 0 bibho Us ae, sando ela todinha. Nao dura nada A outta parte val thet ova rulto tempo e essa nova val acatar logo Ow eee es repetom exempios de difereheas entre easks, Cercas te ‘els, oupas easel por dante 55 Jenle © doentia, ¢ o lavrador expée uma ordem de mo- \ivon 'e ‘eonseqliénelas nas explicagdes que oferece no lewerver uma atuagio cada vez mais destruldora sobre fontes naturals de alimentos que inaugura um cielo ile enfraajuecimento do ambiente e a passagem da “fan una” para a privagao, © surgimento de um mercado regional para os ce- frais 0 feljao modificou o quadro de reladionamento julie a natuteza eos produtores locals. © lavrador le, tnllza w inicio deste tempo entre “uns trinta anos: pia 4", Into 6, alguns anos depois da canstrugio de exe hla ¢ de ut prolongado periodo de abertura do. noves (eiiadas, que eating com o asfaltamento da que liga 4 hove a antiga capital, em 1968. Ele reconheee que’e omecn de novos tempos de mereado coincide comm 6 Iwetesso inals acentuado de migrantes de Minas Gerais para a regito, © evescimento de condigSes de yenda para o gado ® Ania de ui mercado favordvel pata 'e wecdenae tullto, aru e teljso: a) valorizow muito depresse ac alls'o progo da tetra; b) provocott o aumento da yee, ln de tazendas e pattes de fazendas 0 que fee croeie. jt mopsiedades entre vios dono tedund no Haclonamento da terra; c) provecau 0 comego do. Te, tne de patcetia entre “donos"e meeitos; ) eakabolecen sy antagdnica entre categoria de prodloves, lapel aibigbo sidade de ocupar novas areas para pasta: Kons e lavoura aeclerou a agressio sobre ‘a natures ‘om a derrubada de um mimero muito ‘mais elevado de sane %, com a destruicdo de cerrados ea queima de ara a abertura de novas Areas de erialério © icullura, Pequenas rogas de toco de 1 a3 alquel. ms dau Ingae a lavouras de arroz que com trequéuela (hegim a 20 © 60 alqueires e que, no caso dos thalores Foeniteitns, podem ir de 100 a 800 alqueires (ha uve frendeivo do municipio plantando attaz para G" satea {ir tute em 340 alqueires, entre terras de ain fazenda fe lorray ayendiadaa) 60 Por outro lado, a introduedo rhulto recente de fer- titizantes ¢ de maquindrio agricola (facilitado tos. pro- prietarios pelo Golds Rural) ¢ vista pelo lavrador como lum passo final em uma trajetoria de maximo aprove! tamento das condigées naturals de producdo, com 0 reco da destruiggo dos recursos ambientais anteriores € a perda conjunta de um equilibrio de trocas entre o homem e a natureza. Chega a parecer inacreditavel ao Javrador que com méquinas e adubos os fazendeiros “esto porido pasto na terra de cultura e abrinds la: voura no campo e no cerrado”, Os dots motives encontrados para explicar a situa- go atual de um vazio ecolégico sobre uma drea antes fértil sao compreendidos como sendo um de procedéncia econémica (a valorizagio da terra e de seus produtos) e outro, de procedéneia tecnolégica (a chegada de ma: quinas e de fertilizantes). Ao Indo deles 0 lavrador coloca um terceito fator, de ordem demografies, uma eoncentragéo hoje muito facentuada de pessoas © de animais de criacdo, assim como de rocas, em um espago mais pobre e reduzido “muita gente em pouco espago, muito gado em pouco pasto, mutta ropa em terra ruime pouca” Esta cadeia de fatores ¢ inevitavel e devastadora, Se as condiges de clrculagao de alimentos melhoram, 4 posigso de trocas dos fazendeiros, coma produtores € vendedores, os seus efeitos sobre a naturena pioram, Para todas, as possibilidades de uso de reeursos locals Pata o acesso ao alimento — antes facil e sem merca- do, hoje difieil e com facilidades de vendo. 4 Algunias entrevista feltas com velhos ¢ joven propritérios Furais contirmara a versio Go tevrador. © fayerdeio nunca ‘eg a evidéncia de um "prograsso para regiea” quanto. be gondigees de produgto, ab lado de um mereade, bajo: mato favordvel pata & venda'de error, milo Teljao, Mas; mesma fo maiores fazendeizae ainda reidantes em Rlossamedes acet, farm aue como resultado das moditioagbes navidas: fot detint {Hvamente encerrado umn perio de tartare geral dealer to 5 dadtes de tonte farta e sadia di Bde ends empobrecimento © de perda das qual le produeao de alimentos Pela natureza, pode ser eneadeado assiin a) * compensador ») 58 Autettubada de matas, eerrados © a devastardo dos Gambes. com o uso intensive das ‘nfanchay de tec, Ge altura, reduziu a fertiidade natural de (ne Seria, fertilidade € ‘considerada como multe make To ue 8, QUE Pode ser obtida com o uso de fortine antes “de fora’ do fazendetro” & menos solicitado ‘nen teytoducto de recursos tecnolégicas ‘aplicadcs oot Go7as lanas — a todas as tases da culture seagny fe cereals (plantio, limpa e cotheitay. © trv wae rogas de mela” tende a ser cada ver matte Deslocado das terras "de cultura Plone povrigado a plantar mais alqueires’ enn tty Fire Pagando pelo aduto e com os mesmos recwrns Gacies Para a Tavoura (tertiizantes e inselicday® parimento do tempo necessirio para plantac i! uma reduggo da produtividade, do ghuvas sio agora mais necessérias na cultura fe atton. Nos campos © nos eerrades 0 vegetar ge gerenlta as mesmas “terras freseas” dost teensy tmatl*aGes, na belra dos tos, espago de antes mats: Fora de terra de cultura a arror vastees Ging pias Sem a chuva” (um veranico de de soe Gee, pote Por a perder toda ‘uma lavoura) “ie Heo mist chuvas tendem a comecar mals laroe i do irregulares (grossas " 9 @ Gages sumentadas de enberas de gado, soore ie aetiiat oars dear G0, 0 gado.€ “mullo reunido,tsaco'e dosntio" Bet eum cuidado constante também com produtos ae fora”, mesino submelido a tratamentos, Pre lugar 6, hoje, “mats Tao oo de alinento do apse oj, mae custeso” para ser produsido: menos aoessvel par tim consumo dari vari, Como conde delat ‘Fide menos aa por ext mn mene, a tidade para o uso e ser produzido em condigoes m nos naturals, ” = re hd hoje nas Mesmo 0 resonhecimento de q 7 fase = ma ide una vase malo de al menis om cculaan no ier a mania eo giewadordepreciasa dapensa« se mesu quan do at eoloea comparadas-com as que acrotita Poesuldo em anos. Pastades. ‘A “mistura" (a combinago no prato dos all: mentos mais essenciais) se-alterou muito. Ela. se mantém sobre uma base de cereals; os tubérculos, especialmente a mandioea; algum legume; a carne de poreo ou de aves e, com treqiéncla menor, a “eane de vaca”. Sobre esta trllogia da dicta —ce- meals, runes came — 0 lavrador We uma pases. mn itreversivel da farlura para a_privagao, em fiuave nada compensa com 0 acesso comida por compra nas vendas da cidade, coma pequena pro- dugdo de quintal e com o acesso a. produtos "de fora’, tais como o macarrao, & batata inglesa e tipos de ddces industrializadas™. Seay Sa gsr aan mae privagaa, como tambemn o fim da sailde @ 0 comes: 50 ©) As Pessous de hoje sio menos sadias e mais fracas, o porbassaram de uma diete forte e farte, repulse Trgrmanente durante todo o ano, para ume Sere fraca, carente e irregular, segundo & époce ao aes uo a carte, especiaimente a. aeraaae [pote ser Gio gostosa a {G0 eadin gs io. hole passa a vida na base dae ilo € completo, G que é nin ta remo" oh Waid pala natures Com 0 préprio flomem ocorrem efeitos some- Mantes eos dos espagos de natureza ede seus pro. dutos. A possibilidade de acesso ao médica e ‘aos remédios "de familia” ndo reequllibra uma perda de forca ¢ de saiide dadas pelos alimentos de pas sado © perdida com o enfraquecimento deles’ no presente com a diminuiedo da quantidade dispo- nivel para a familia lavradora, © progressivo enfraquecimento das pessoas pro- Yoea um ciclo completo de passagem para a pri Yagio. Tornando-se mais fracas por comerem “um mantimento sem sustanga”, as pessoas, ““acostu. iam" com uma “comidinha fraca” e aeabam fican. do doentes quando comem "comida forte” (eap. V1) A Trajetiria da Caréncia © estado atual de trocas homem/natureza, como 0 resultado direto da passagem de um’ sistema adequads de relagdes para um sistema cada vee mais inadequado, percebido como um momento de desequilibrio dentro de uma trajetéria de pioras para eujo curso o lavrador nao encontra mais sollgses. “Onde ¢ que isso ttido vai parar?”, ¢ uma pergunia que fazem com {reqiténcia, Para tetminarem uma descrigdo pessoal das dificulda: ‘des atuais, nas entrevistas, A sociedade “do tempo antigo” é definida como farta de recursos locais obtidos sobre condigoes nati ais. A Sociedade “dos dias de hoje” € definida como carente, multo mais na cidade — 0 espaco-conseqden, cia dos efeitos do desequilitrio homem/natureza ~~ do gue nas fazendas, onde o lavrador ainda deseobre a, resenca de trocas em equilibrio ¢ a existéncia de alg. ma “tartura’’ A natureza do lugar foi iniolalmente hostil, quan- do ainda nao dominada por seus produtores-piongins ‘Sendo inieiatmente um lugar ehelo de perigos¢ de die, tanelas, tornou-se aos poucas em fonte de alimentos o bens de consumo riistico, A sociedade dos primeiros fa. 6 vendelros, carente por um curto perfodo de tempo, tor~ howtse logo nunea rica (nao se fala em “riquees” ‘em testy ar eattarament fe "Asda | BREBEE tnlee‘umm Sociedade dag fundus en naturest enrol, By gE OEG vente fran atta page ee on ae ean Pree ists cles winder “de fol’ ap eRe fates seineread para ox produce aa toes) eee im Inoue de ues ede asin dee | peo ola e pastoril;c) demograticos, na introdugio de feeas | ria fae eae | gee A soma das interferéncias de uma outra sociedade, | ald cured ate ie Rags pees a ici stpaugumme/mati tomen/nomen ke | SERSEYR YESEGRER — GugEEERG i \erotias de produtores, como veremos ‘no’ capitulo se. i bea, b5e eee eo egere # ftuinte) epebgie pogkssee = pgedseds ef a (Fee ben | Gye see. Fae Sage ‘As oxplicagies locals a respeito do desgaste da na- a2oee gzodg0°% Beeed. aa turer cn fonte de aimenas poten oS rewmiae | 52 BEgE eegtige gFoSpcgd i tal como no quadro da pagina 63 igalstte ctibesg fot astag lagegdes «= gdtecd | "angel : [Es PEREEGS as 5 g gay NH i ap : eae # pe é 2 airs os laeadore gota bere Eye 8 seo oe 1 gage He i = rpimaemneamcom = |g PPE i & ’ arate, de, tetra cede pelo! "de- meta: “ramen { 38ee & Be nnd pene eats Stet not seedy des eaten | BERT ggugagiue egggnesupe> ruin vate ein tiie, | BEE BGS ees gettgred rnindea ete peetiemaence i eeacumn, | ERE a Bo Uelboh Paiglib ree § Ieee cies ee tao sar cas Bote g be BeBe ee & re apa ees ae gon para feel tplisee CS bizeosy = © un to de Sane Su thee ae # Pureeehe gedsee® 2 a an ru in corpo" « quo hoje tb facades Hehe a. es Pgeaghe Abetece ge E slut alguns vos in mals eae peoeeletene z cet) Gos) ty a Poeeeeere BESEEE Stes 63 Tipo de Aten ede ASjoitade pos10 Da PAZENDA nisms Peete ayes casas 5 oe we Re Mandioca comida coin feman Denefiiamento, comprader Posicto Tipo de atimento © e ‘0 ae ‘Tratemento coma um complemen fo" aimentar atada para consertar 4e por longos periodos Carne de “capado” pre- AMteragéo.ocorrida Reduglio do espago tér- Ateraedo corre aumento intensiva da imo. de Vaqueros © fextingio sistema de Sorte beta preauice en Sstuop60 atuat Consume ainda intenso, ‘sul emt ge fidage sure omer um comprador 4 rearne de vaca" 6 at tenia dope bo ‘e*poueo regen mee tho has gees Ne dae ia € comptads ce poradicamente em Be ‘loner quanidade. Hl AS ENTREVISTAS DO CAPITULO IV goin a forca. © pé de mitho era desta grossute secon ug Be et Sonsiga botar com os dait Ful eu que plawiny 0 acudit com o remédio, acaba, (ENTRE- © senior ve esses trgoriticas ai? Os gados que eles tnntnn, Udo € pasado pelo veterinério, porque’ se Hwsnisse pela miko do veteringti, pela mge do medio, his eomla acne doente, Porgue o senor vey © asso Hitls Ut infeetado. De primelro 0 sujeito nascia. Crlava nu que? Com v tempo! Dava uma gripe, tirava uma tale de feegoso, feria e bebial O'remedie era cise, E hijo? A popuagio ja masee em elma do médieo Ai € ‘locnte. O'menino }é nasee e cam dois, trés dias de nas- vido a mae 40 com ele ld no médico, Ta la tratando ‘ele, jorge se nao tratar morre mesmo. Porque cs re. inedion qu ta valendo os do médieo. Ferve uma ralz de tim pat, dia ele endo adianta. Flea do mesmo Jeito vit plot." Pro senior ver. (no passado) © mening nase ay comegava’ficar geande, arcastandg af fa lama, ha ‘hbva, ¢ era uin meninée forte e gr0sso, sadio. Comia ‘mandiocw coulda, milho assado, ciseuz, tomava tel, Hapauira, carne assadae nada fazia mal, Hoje a crlan: iu depois que ‘eomega.s ‘atastar assim, & comidisha thant, 6 uma verdura, € ume comiditiha mais eve Vorue se der uma comida forte ela nao agdenta, O in: teslino nao resiste. De primelzo no. De primelto a gente wordiira, comia manteiga mesmo. pra, Vales eo. Una comida temperada, fore, e nao fazia’ mal 0 meat pat, quando Bs vezes matavam um gado. assim, fle comprava um quarto e salgava aqueles*oss0s Udo © wocinhava no feljio. Batia aquele tutano fa Sopa lnhia. K'nssas era a comida forte que sustentava apes: “iys. Nao eram uma Tolha e tomate nao e colsinha fon heir mao, Pots é,€ essas ecisas" carne ge gado cosine: " nv feijto, a manteiga de poreo, toleinho conde mo (eljao, eabega de gado mesmo Botado pra eozinhar no feito, ra rapadhira com farinha, era ¢ cuseus com Iie rao requeljao, era-o queljo. Nao tina eave ne. orn de bobaginhia'de verdurs nao, (ENTREVISTA ") ene de caga tinka, né? Néo ¢ toda a caga (que «© comla) niio, B hoje até eles comem quase toda'a caga. 0 Mas era escolhido: carne de Yeado, carne de paca, essas colsas usava mullo, Mas, outros, matava ¢ jogava pra 16, Anta cles comiam s6 0 lombo, Tirava o lombo, o mais ficava lé. Os boi que fam 14 comer. ... ‘Tatu nao comin todos. Era tatu-veado; tatu-folha. Mas essa tatucrabe, duro ninguém comla.’ Hoje ninguém perde. #, porque Gila que o tatu-peba tém um almisco, Mas nid 6" O. macho tem mesmo, pouquinhe, Mas hoje no, eles pre, Param win tatu al que some aquilo tudo," Hoje é Muito dificil. Nao se vé mais bieho nenhim, susnia tudo, Por acaso se ve numa fazenda ai um veodinhe velhaco 1é, correndo, Peixe diminulu demals. Aqui qual, Quer hora que 0 senhor ia no rio 0 senhot peseava. Eur acho que esse rio tem esse nome é por isso mesmo, Tinha Peike demais, #, quando entrou ease negicio de bombs, 56 uma bomba (o pescador) vinha cartegado de pel QO, remédio do gado era sd 0 sal e nao tinha essus moléstias que da hoje no gado. O gado era sadio, comin muito barro. Muita mata. Parece que tinha o| Acurt Porque o Acuri salga a terra. Ai o gado fazia barreine ¢ Ja roendo a terra, ¢ era muito sadlo 0 gade. Hoje eles nao comem barro, ‘0 senhor no vé mais barteito, A planta erescia porque eles procuravam a melhor terra, balxada, Se fazia roca naquela terra de primeira, belts cbrrego, no precisava adubo de jeito nenhum, O'milne vinha forte, (ENTREVISTA 10). Antigamente 0 terreno era mais comportado, por que derrubava era mata. agora tao arando é cerrado Antigamente, no tempo da cultura, 0 trem era bem male favoravel. Com uma quarta o senhor titava o mant mento da despesa do ano inteizo, Hoje em dia nio da, Se brinear, um alquelre nao dé. O senhor ara o campo © cerrado é fraco, € na base do adubo. Eu nio dou uma Quarta de terra de cultura em troca de um alqucire de terra de adubo. A terra de cultura dé um contort, senhor entia a enxada e vé que a terra ajuda, O cerrado nao. O cerrado, o campo 6 felto com capim. Agora tas tirando o pasto da criagio pra plantar mantimento, Nio da, Dé muito mantimento, mas é na mela: um 59

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