Contexto histórico ➢ A segunda metade do século XIX é marcada pelo cientificismo e o racionalismo. ➢ Movidos por um descontentamento em relação a essa preocupação com o racionalismo, o simbolismo questionará o momento Realista e Naturalista para direcionar seu olhar no sujeito – homem. A poesia seria, mais uma vez, em elemento da subjetividade humana com caráter espiritual, místico e transcendente. ➢ Segundo o historiador Alfredo Bosi, o movimento inicia em 1893 e mantém influências até a Semana de Arte Moderna. ➢ É um movimento marcado por extremo pessimismo sobre a vida. Contexto histórico ➢ O movimento simbolista brasileiro incorporou, grosso modo, os procedimentos composicionais do simbolismo francês. No entanto, as cenas noturnas de boemia e o epíteto de malditos são substituídos por uma literatura de tons mais religiosos e litúrgicos. ➢ Principais autores: João da Cruz e Souza (1863-1898), Aphonsus de Guimarães (1870 – 1921), Augusto dos Anjos (1884 – 1914). Características temáticas ➢ Resgate aos símbolos; ➢ Contra a superficialidade material (descrição e objetividade); ➢ Foco na subjetividade – sujeito; ➢ “Estar”, “fazer” no mundo; ➢ Mergulha o espírito em algo maior, supremo → transcende. ➢ Temáticas voltada à interioridade humana, ao êxtase do espírito; ➢ Imagens sombrias, lúgubre e decadente; ➢ Poesia com sentido existencial; ➢ Presença de religiosidade; Características linguísticas ➢ Uso de pausas, reticências, espaços em branco e rupturas sintáticas para representar o silêncio metafísico; ➢ Sinestesia: construção de versos que descrevem sons, aromas e cores, pois os cinco sentidos são instrumentos de captação dos símbolos ao redor; ➢ Vocabulário rebuscado e que remete ao Nada e ao Absoluto; ➢ Presença comum de antíteses e oposições, graças às tentativas de encarnar o que é divino e espiritualizar o que é terreno: o poema é a forma de conciliação entre os planos material e espiritual; ➢ Descrições crepusculares (claridade no céu entre a noite e o nascer do Sol ou entre seu ocaso e a noite, devido à dispersão da luz solar na atmosfera), presença simultânea de luz e sombra; ➢ Afrouxamento do rigor métrico: metrificações irregulares e versos livres; Ironia de Lágrimas Ironia de lágrimas Vem revestida em suas negras sedas Junto da morte é que floresce a vida! E a marteladas lúgubres e tredas Andamos rindo junto a sepultura. Das Ilusões o eterno esquife prega. A boca aberta, escancarada, escura Da cova é como flor apodrecida. E adeus caminhos vãos mundos risonhos! A Morte lembra a estranha Margarida Lá vem a loba que devora os sonhos, Do nosso corpo, Fausto sem ventura… Faminta, absconsa, imponderada cega! Ela anda em torno a toda criatura Disponível em: <www.poesiaspoemaseversos.com.br/ cruz-e-sousa-poemas/>. Acesso em: 9 jun. 2016. Numa dança macabra indefinida. Artes Plásticas
As Vaidades da Vida Humana, c.1645, óleo
sobre madeira, 39 x 51 cm, Harmen Steenwyck, National Gallery, Londres. Artes Plásticas
Rodolfo Amoedo, O último Tamoio,
1883 Exercícios - atividade complementar Analise o poema abaixo de Alphonsus de Guimarães: E, no desvario seu, Ismália Na torre pôs-se a cantar... Quando Ismália enlouqueceu, Estava perto do céu, Pôs-se na torre a sonhar... Estava longe do mar... Viu uma lua no céu Viu outra lua no mar. E como um anjo pendeu As asas para voar... No sonho em que se perdeu, Queria a lua do céu, Banhou-se toda em luar... Queria a lua do mar... Queria subir ao céu Queria descer ao mar... As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par... Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar... Exercícios - atividade complementar • Quais elementos marcam o movimento presente nessa obra? • Qual a temática central da poesia? Principais Simbolistas Principais Simbolistas Os escritores simbolistas buscavam compreender diversos aspectos da alma humana, compondo obras que exaltassem a realidade subjetiva. De tal modo, que em suas obras a fuga da realidade é uma característica manifestada por uma linguagem expressiva, imprecisa e vaga. Surge em 1893, com a publicação de “Missal” e “Bróqueis”, de Cruz e Souza (maior autor do movimento). Característica desses autores brasileiros: ✓ Não-racionalidade; ✓ Subjetivismo, individualismo e imaginação; ✓ Espiritualidade e transcendentalidade; ✓ Subconsciente e inconsciente; ✓ Musicalidade e misticismo; ✓ Figuras de linguagem: sinestesia, aliteração; Cruz e Souza (1861-1898) O poeta João da Cruz e Sousa, que nasceu em 24 de novembro de 1861, em Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis (SC). Em sua obra, é possível perceber, de maneira sutil, já que os simbolistas não eram afeitos à precisão descritiva, a dor pela discriminação racial que sofria. Dono de uma retórica lírica requintada, Cruz e Sousa é, até hoje, considerado um dos maiores poetas de nossas letras. Antífona Ó Formas alvas, brancas, Formas Indefiníveis músicas supremas, claras Harmonias da Cor e do Perfume... De luares, de neves, de neblinas!... Horas do Ocaso, trêmulas, extremas, Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume... Incensos dos turíbulos das aras... Formas do Amor, constelarmente Visões, salmos e cânticos serenos, puras, Surdinas de órgãos flébeis, De Virgens e de Santas vaporosas... soluçantes... Brilhos errantes, mádidas frescuras Dormências de volúpicos venenos E dolências de lírios e de rosas... Sutis e suaves, mórbidos, radiantes.. Alphonsus de Guimarães (1870-1921) Um dos principais poetas simbolistas do Brasil, Afonso Henrique da Costa Guimarães, possui uma obra marcada pela sensibilidade, espiritualidade, misticismo, religiosidade. Sua temática é a morte, a solidão, o sofrimento e o amor. Sua produção literária apresenta características neo- romântico, árcades e simbolistas. Suas.principais obras: Setenário das dores de Nossa Senhora (1899), Dona Mística (1899), Kyriale (1902), Pastoral aos crentes do amor e da morte (1923). Gilka Machado (1893-1980) Foi a maior figura feminina do Simbolismo brasileiro. Dois de seus livros, Cristais partidos e Estados de alma, são repletos das marcas da poética simbolista: a presença de aliterações, musicalidade (marcada pelas abundantes reticências), imagens sinestésicas, vocábulos sugestivos de atmosfera etérea, inversões frasais; No campo dos temas, é frequente o apelo aos devaneios, à espiritualidade e ao amor erótico. Ser mulher Ser mulher, vir à luz trazendo a alma talhada para os gozos da vida; a liberdade e o amor; tentar da glória a etérea e altívola escalada, na eterna aspiração de um sonho superior...
Ser mulher, desejar outra alma pura e alada
para poder, com ela, o infinito transpor; sentir a vida triste, insípida, isolada, buscar um companheiro e encontrar um senhor...
Ser mulher, calcular todo o infinito curto
para a larga expansão do desejado surto, no ascenso espiritual aos perfeitos ideais...
Ser mulher, e, oh! atroz, tantálica tristeza!
ficar na vida qual uma águia inerte, presa nos pesados grilhões dos preceitos sociais!